sexta-feira, 28 de outubro de 2016
quinta-feira, 20 de outubro de 2016
“AS BESTAS VOLTARAM”
Gilberto A. Saavedra – Rio de Janeiro
Uma reflexão atual sobre o destino do nosso
mundo; os receios e incertezas da humanidade de si ver novamente, envolvida em
um novo conflito de proporções gigantescas e, que o homem pensasse, refletisse
com sabedoria jamais haveria.
Eu não sei o significado da vida (Nunca procurei saber)
Não sei de onde eu vim (Jamais saberei)
Também não sei quem eu sou (?)
E nem para onde eu vou (?)
Mas uma coisa eu sei afirmar categoricamente:
A vida é fantástica
Viver é muito bom
Os estranhos e misteriosos enigmas do céu,
não são para mim.
Eu sei também que não sou dono de nada
Nem minhas pernas conseguirão em levar-me ao
túmulo.
O poder, tirania e arrogância
Na hora da morte, caiem por terra sem ser
preciso fazer nada.
A terra é do espaço, somente um grãozinho de
areia só,
Um micro feixe de luz, perdido na imensidão
Da grandiosidade e espantosa formosura do
Universo.
Eu sei com convicção
Que a nossa amada terra em tamanho
Nada representa para o infinito Cosmos
Com suas gigantescas e imensuráveis bilhões
de Galáxias.
Neste mundo ninguém é dono de nada
O homem nunca colocou a cabeça para pensar
Refletir e avaliar com sabedoria, a
importância
De que nem mesmo a Terra é eterna e segura no
espaço.
Tudo que foi construído tem início e fim
Nossa vida, é somente um piscar de olho
Comparada com os decorridos bilhões de anos
E os outros bilhões que virão, se o homem
deixar.
Como se vê
A nossa vida é minúscula
Quase que não há tempo para nada
Uma correria num apertado espaço.
Mas nós humanos não sabemos viver em harmonia
De aproveitarmos essa ínfima luz, que nos foi
dada uma única vez
Unindo os povos da pequena terra, sem as
guerras
Com muita felicidade, alegria, amor e paz
mundial.
Desde o início da história
Do homem na terra
Que o mundo terra
Jamais teve paz.
O homem prefere se matar nas batalhas
Desde que o mundo é mundo;
O homem prefere viver assim
Ao lado das Bestas.
Todas as histórias mundiais que conhecemos
São lindas contadas nos livros
Mas na realidade todas elas
Foram feitas com muito ódio, ganância e
extermínio.
Eu vejo o tempo passar, o tempo voar.
Eu vejo guerras, guerras e mais guerras...
E as bombas continuam caindo e caindo...
Mas o homem finge ignorá-las.
Eu vejo as lágrimas que escorrem em rostos
tristonhos,
Em choros em silêncio dos filhos risonhos,
Já sem pátria, sem comida e sem orientação;
Mas o homem finge ignorá-las.
Eu vejo olhares inocentes sem percepções,
Ofuscados pela luz sem brilho na escuridão,
Eu vejo um mundo cruel e bestial;
Mas o homem finge não vê-los.
Eu via um planeta todo azul mas, é só miragem
lá do céu.
Eu sei que, se houvesse somente, uma ínfima
gota de
Compreensão, o homem traria soluções;
Mas o homem finge ignorá-las.
As bombas continuam caindo...
Transformando o azul celeste
Num amanhã de cinzas negras;
E o homem finge ignorá-los.
Sou feliz,
Mas ao mesmo tempo não sou;
Tenho paz,
Mas ao mesmo tempo não posso ter;
Na minha mesa há fartura,
Entrementes, quantos estão morrendo de fome;
Sou alegre de bem com a vida,
Mas quantos choram de tristeza;
Sou livre,
Mas quantos são sacrificados pela tirania;
Sou criança, um período maravilhoso da vida,
Eu sou um menino órfão sem um amanhã;
Eu tenho os meus pais juntos a mim,
Os meus padeceram nas guerras;
Eu tenho uma pátria,
Eu sou apátrida, não tenho nacionalidade.
Um sonho cruel. Quero acordar para acabar com
o pesadelo.
Mas não consigo compreender o mundo
O ser humano enlouqueceu
Quanto mais ao passar do tempo
Mais bestial se transforma
A humanidade reza, ora e pede paz, pois:
“AS BESTAS ESTÃO SOLTAS NOVAMENTE”
APOCALIPSE TENEBROSO
Erlan Nogueira de Moura
Há tempos a ferrugem que destrói a visão
A água que se descontrola na drenagem
Os hospitais que fazem do leito seu próprio
chão
Tiroteio no presídio não é mais novidade.
Nas ruas a solidão é outra vez atormentada
O caminho de volta é um cenário oculto
A segurança atual é uma grande cilada
E ainda tem Polícia parando depois disso
tudo.
Escolas falidas na mesma gravura
Semáforo queimado na curva fatal
Disciplina cortada que incentiva a cultura
Plano de aula agora é tudo virtual.
Sistema estranho que eterniza o “patrão”
Olhos abertos no bom samaritano
A coragem de um santo não é medida pela ação
Às vezes o óbvio não é visto neste plano.
Aqui o progresso é o crime sofisticado
Internautas do ministério em conflito moral
Recrutamento de pacto chega em carro blindado
O silêncio da
sociedade é um triste sinal.
quarta-feira, 19 de outubro de 2016
NA ILHA, DA LIA DE ITAMARACÁ
Eliana
Ferreira de Castela
Pés saltitantes na areia,
Mãos que sacodem e se juntam
Saia rodada, colar a dar voltas,
Corpo que dança, serpenteando no
ar.
É roda, é ciranda.
É Lia de Itamaracá.
Sentimento inebriante
Os corações abrandados
Voz, que ecoa distante,
Gente que encanta ao cantar
É roda, é ciranda.
É Lia de Itamaracá.
Nas praias da ilha, a lua
levanta,
Tudo reflete com pleno fulgor
O suor dos corpos tece u’a manta
Contracenando com as ondas do mar
É roda, é ciranda.
É Lia de Itamaracá.
A visita à ilha de Itamaracá,
não tinha outro propósito, senão conhecer, Maria Madalena Correia do Nascimento
- Lia, figura pública, a cirandeira mais famosa do Brasil, e quem sabe do
mundo. Requisitos estes que nos fez ver tudo com curiosidade, atenção e imaginação
equivocada, pelo fato de pensar que ela não seria encontrada num lugar tão
simples e com tanta facilidade. Grande engano, porque foi numa rua estreita,
com esgoto a céu aberto, onde em alguns momentos, tivemos que saltar, para não
afogar o pé na lama, em uma casa simples que se destaca apenas pela decoração
peculiar, onde encontramos a artista.
Sem ter o endereço de sua
residência, saímos andando pela ilha e perguntando por ela, todas as pessoas
sabiam onde ela morava, quando perguntávamos, diziam – quem a Lia da ciranda?
Numa demonstração de extrema popularidade junto aos moradores. No bairro do
Jaguaribe, descemos do trenzinho de madeira, que faz o transporte entre os
povoados/bairros da ilha de Itamaracá. Seguimos a rua indicada cheios de ansiedade,
que acabamos passando sem perceber, que a casa dela já havia ficado para trás
alguns metros, quando uma transeunte nos orientou. Somente quando paramos na
frente da casa dela pensamos - que ousadia… Dizer o que para ela ou para quem
abrisse a porta? Será que havia alguém na casa? E se ela não quisesse nos
receber?
Todos os questionamentos caíram no chão,
quando ela mesma abriu a porta, não havia dúvida que era ela! Aquela mulher
grandiosa, na altura e na expressão, vestida de bermuda jeans e camiseta que
trazia sua própria foto, na cabeça havia um lenço ou uma toca que escondia seus
cabelos, semblante sério e olhar penetrante. Abriu o portão, com o olhar
circulando nossos corpos de cima a baixo, perguntou do que se tratava, com
palavras que já nem lembro mais. Nossa resposta foi a mais honesta possível –
queríamos conhecê-la!
Na casa da Lia de Itamaracá
Foto: Oliveira de Castela,
2015 |
Diante de nossa resposta,
firme e sem rodeios, ela foi aos poucos abrindo um sorriso e nos deixando à
vontade. Falou que estava sem o espaço da dança, que tudo estava no chão,
referindo-se ao processo de retirada de barracas construídas ilegalmente na
praia e que só retomaria às danças, quando houvesse uma definição e disse - “eu
gosto de tudo certinho” - referindo-se ao fato de não querer construir em área
irregular. Descontraída diante de nossa alegria por estar com ela, posou para
algumas fotos conosco e nos presenteou o catálogo de uma exposição multimídia
de fotos e objetos sobre o seu trabalho, que foi aprovado pela Caixa Econômica
Federal, no ano de 2013.
Depois de conhecer Lia, já
podíamos ficar à vontade para conhecer a ilha, visitar o Forte de Santa Cruz de
Itamaracá, popularmente, Forte Orange, contemplar o mar, passear pela praia…
Foi assim que soubemos que o forte encontrava-se fechado para reforma, sem
previsão de data para reabrir, então ficamos circulando aquela estrutura
imensa, construída pelos portugueses, para proteger a colônia da invasão
holandesa. Graças a inquietude, desobediência às regras, normas e proibições,
atitudes tão próprias do Jorge, ele empurrou a porta, onde constava uma placa
com aviso proibindo a entrada de pessoas, que não fossem os trabalhadores da
obra, ele entrou e fez algumas fotos no interior do forte. Sempre avalio que
forte, é o que os muros dos Fortes escondem, pois muitos deles serviram de
prisões, para presos políticos na época da ditadura militar.
Pérolas
Sob
o sol escaldante,
Sobre
a areia ardente,
Na
atmosfera do labor,
Mulheres
coletam ostras
Incrustadas
nas pedras.
Dos
rostos corados,
Brotam
gotas de suor
Escorre
madrepérola.
Chamou a nossa atenção um grupo de mulheres,
no horário de sol a pino, com pequenos instrumentos, martelando e raspando
pedras na praia. Mesmo chegando próxima a elas, não identificamos o que faziam,
para matar a curiosidade, o jeito foi perguntar. Elas coletavam ostras. Seus
rostos suados tinham uma particularidade, estavam maquiadas, usando sombras
azuis nos olhos. Aquele toque feminino, no trabalho duro, dava leveza à
paisagem, na praia do Forte Orange, em Itamaracá.
Mulheres catando ostras na praia do forte Orange
Foto: Oliveira de Castela, 2015 |
Uma das trabalhadoras falou
que não coletava ostras para vender, pois não compensava, era muito trabalho
para pouco dinheiro, porque no final, quem de fato ganhava, eram os donos dos
restaurantes. Elas preferiam dar para os filhos comerem. A queixa da coletora é
a mesma dos extrativistas e dos pequenos produtores rurais que dão o maior
duro, enquanto o atravessador obtém o maior lucro.
Deixamos a Ilha de Itamaracá
com a alegria de haver conhecido a cirandeira Lia e passar cinco dias
balançando na rede, ao som das ondas mar, comendo tapioca, bolos, sucos de
frutas e outras guloseimas regionais, numa pousada de baixo custo e excelente
acomodação.
Ó
cidade linda
“Nessas
terras do Sul ele nasceu, amiga.
Aqui,
nesses campos que se estendem em busca do infinito,
Correm
livres os animais e as lendas”.
Jorge Amado
As ruas, ladeiras, largos e
as casas de Olinda, exibem um ar festivo. As sombrinhas coloridas do frevo
estão sob o “guarda chuva” do talento, que é próprio do povo nordestino, que
deixa a alegria gritar mais alto que qualquer dificuldade. Muitos são os
espaços que abrigam a arte daquela gente de criatividade intensa, na poesia
presente na música, pinturas, danças, e na maneira de lidar com a natureza e
dela tirar o sustento da vida.
Dentre os espaços de cultura
de Olinda, um é muito especial para nós,
o Terraço de Olinda. É o casarão que oportuniza diversos artistas de
diferentes áreas, com apoio e incentivo da Marisa Reis, que é responsável pelo
espaço, local onde os artistas podem produzir e comercializar os seus
trabalhos.
No Terraço de Olinda, em
2013 realizamos o lançamento da Folhinha Poética. Naquele ano, o espaço abrigou
o evento, Alt Fest, de responsabilidade de Tuppan Poeta. Oportunidade em que
pudemos conhecer um pouco mais do rico universo de poetas pernambucanos.
Em 2015, o Terraço de Olinda
estava em processo de reestruturação, de suas instalações físicas, após haver
sofrido danos no seu telhado, pelo desgaste de tempo. Embora Marisa Reis
estivesse com muitos afazeres, não deixou de nos acolher, com carinho e atenção
especial. Ela disponibilizou um cantinho, para guarda de parte de nossa
bagagem, durante os dias que fomos à Ilha de Itamaracá.
Talvez tenha sido a magia de
Olinda, que acolheu a arte culinária do português Jaime Alves, proprietário e
chef, do Restaurante Tribuna Sabores Ibéricos. No Tribuna, já estivemos outras
noites e lá sempre come-se muito bem, mas naquela noite, além do bom vinho e
iguarias como bolinho de bacalhau e bacalhau com batatas a murro, a mesa foi
servida com a experiência de vida do amigo Jaime, e no que pese a já conhecida
cozinha portuguesa, a sua história foi o prato que melhor nos alimentou, ao
longo dos cinco anos que visitamos Olinda.
Cabe registrar que, quem nos
apresentou o Jaime e o seu restaurante foi Crhistian Cunha, o pernambucano que
é personagem do livro Was Bach Brasilian, do Jorge Carlos. Crhistian é um
artista que aprisiona na caixa de fósforos imagens captadas de vários lugares
do mundo, através da técnica de pinhole, do inglês pin-hole, que é a câmera sem
lentes. Naquela noite especial de novembro, mesmo que num curto tempo, ele fez
parte do banquete, o que foi uma pena, não esperou o prato principal –
histórias e cantorias - ele precisou sair antes.
Depois
das iguarias acima mencionadas, Jaime nos serviu com maestria, fragmentos de
sua história. Contou como ele conheceu o escritor Jorge Amado, autor do livro, O cavalheiro da esperança, que Jaime
lera e despertou o interesse em conhecer a personagem do livro, Luiz Carlos
Prestes. O que veio a acontecer posteriormente, quando Prestes se encontrava em
Moscou, assim como Jaime, que também estava na capital da antiga União
Soviética. Jaime fora como voluntário, para cozinhar durante os jogos olímpicos
que viria a acontecer em 1980.
Além das histórias, Jaime
conduziu as cantorias das músicas de caráter revolucionário, como as do
português Zeca Afonso que é considerado ícone, da Revolução dos Cravos.
Revolução esta que pôs fim à ditadura de Salazar em Portugal. Não poderia ter
sido outro acontecimento, senão aquela noite em que o Restaurante Tribuna
Sabores Ibéricos ficou aberto, só para nos receber, num dia que não é costume
ser aberto e num horário em que já deveria estar fechado. Em poucas horas a
conversa atiçou a chama vermelha da esperança, de podermos um dia hastear a
bandeira dos sonhos. Olinda seria o fim da viagem, mas os ânimos despertos com
a história do Jaime Alves nos puseram a seguir viagem com a utopia, mesmo
voltando para casa.
Não
só para refletir
Ouricuri,
bacaba, bacuri,
Jatobá,
juçara ou açaí,
Taperebá,
mangaba,
Seriguela,
sapoti.
É
suco, doce, sorvete
Ou
creme.
Salada
destas frutas…
Nem
pensar!
Na
viagem pelos rios, estradas e ao sabor das frutas, o roteiro do Acre ao Ceará
foi marcado com sucos, doces e sorvetes, de frutas que povoam territórios, com
continuidades e intermitências. Ouricuri, no Acre, bacuri até Belém, taperebá
apenas em Manaus, mas em Belém, a taperebá de Manaus é cajá, bacaba e
açaí/jussara até ao Maranhão. No ceará, mangaba, seriguela, sapoti, umbu e
umbu-cajá. Tamarindo, do Acre ao Ceará, com territórios intermitentes. Mas este
não é um estudo de botânica.
Saboreamos vários frutos ao
longo da viagem, mas aqui no texto, falar das frutas é apenas a maneira de
ilustrar um trajeto que requer leveza ao ser executado, quando tantas outras
coisas estabelecem forte relação com a vida das pessoas. Mesmo assim tenho que
admitir que em muitos momentos elas deram mais que sucos e sorvetes, deram
conteúdo ao contexto de vivências importantes, como a do motorista Amaro, que
nos conduziu de Nova Olinda à Santana do Cariri, por exemplo, numa fala reflexiva
sobre a vida e dificuldades dos sertanejos.
A viagem foi a oportunidade
de dialogar com os Brasis, entender um pouco das razões da pobreza, das
desigualdades e a necessidade de enxergar o que está fora das capitais. Olhar
para as crianças, o futuro delas que na Amazônia e no Nordeste está muito
comprometido.
A
importância de sermos recebidos na casa de pessoas públicas, como Lia de
Itamaracá e Lourdes Ramalho, que sem nenhum protocolo ou prévio agendamento nos
acolheram para participar suas experiências de vida e suas artes. Uma
oportunidade de relevância.
Mais uma vez, podemos
perceber a importância que tem a tecnologia da comunicação, mais
especificamente as novas mídias, possibilitando tornar pessoas estranhas e
desconhecidas, em grandes amigas, assim como poder manter forte, os laços com
amigas e amigos que se encontram distantes. O desafio que temos com o uso dessa
comunicação que é nova, mas que requer velhas práticas, como a
responsabilidade, sem medo do que é novo.
A viagem foi a oportunidade
de descobrir lugares fora da grande mídia e pessoas que estão fora das
políticas públicas, mesmo quando elas, as pessoas, compõem as planilhas dos
orçamentos públicos, isso porque os orçamentos públicos não vão chegar a elas em conformidade com seus anseios. Viajar
é preciso para conhecer realidades outras e para conhecermos a nós mesmos.
Leiam
aqui as crônicas anteriores:
-
Primeira: O início é no Cai N’Água
-
Segunda: Capitais da borracha
-
Terceira: A “Pérola do Tapajós”
- Quarta:
Uma noite de medos e macacos
- Quinta:
Infâncias roubadas na Amazônia
- Sétima:
O Cariri que nos habita
- Oitava:
De Fortaleza à Trairí é um pulo!
- Nona: Nova Olinda e Santana do Cariri
- Décima: Outras buscas no mesmo sentido
- Décima Primeira: A feira de Caruaru
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