sábado, 29 de junho de 2013

AS MANIFESTAÇÕES - O GRITO DO BRASIL

Regina Lino 


Tá torando!!!

Seria a expressão usada lá na minha terra e em algumas outras para anunciar os acontecimentos no Brasil.

Mais explicitamente: aqui, no meu país, o pau tá torando, para resumir o que está acontecendo nas praças e ruas dos estados brasileiros.

Na verdade, do silêncio, fez-se o grito!!! E do povo entalado até a goela, de Norte a Sul, um só canto, um só eco: é preciso mudar, para melhor, o país.A voz que vem de todos os lados clama por civilidade, respeito e pela verdade e transparência dos atos políticos, que refletem na vida de cada cidadão. Apela, especialmente, pelo direito de falar por si, sem precisar de interlocutores e ser ouvida.

Por isso, e por tantas outras razões, de repente, quando tudo parecia sob o controle dos discursos, do marketing político, bóia, sem subterfúgios, a crescente indignação do povo deixando a classe política perplexa, tonta e desorientada. Em uníssono, desperta a Nação o grito do BASTA da juventude brasileira, para cutucar as mentes cristalizadas, preguiçosas e acomodadas. Essa juventude que também expressa o sentimento dos mais velhos, porque consegue captar em seus lares ou em suas andanças, a insatisfação, o imenso sacrifício e as dificuldades de viver em um país, que apesar de algumas boas mudanças, está muito longe de garantir aos cidadãos comuns os direitos a uma vida  com dignidade humana e justiça social.

Vejamos, por exemplo, que apesar do sistema de cotas, para reparar as injustiças seculares feitas aos negros e aos mais pobres, não é justo, que um número assombroso de jovens fiquem fora das universidades públicas por falta de vagas disponíveis. Afinal, um país que tem compromisso com os seus filhos trata de romper o ciclo que condena uns em detrimento dos outros. Não é justo, um pai ou mãe de família, ir ao mercado e  todas as vezes, ao pagar a conta, ficar impactado com o sucessivo aumento do  custo de vida. Não é justo, incentivar a produção da indústria automobilística, e não ampliar as ruas e a segurança das estradas. Não é justo deixar ao léu que as empresas de telefonia celular cobrem preços exorbitantes de seus clientes, quando esse tipo de comunicação é imprescindível aos dias de hoje. Não é justo assistir a desenfreada violência das cidades e não tomar providências sérias como se fez em relação ao uso de bebida alcoólica no trânsito. Não é justo, assistir e ler os jornais e tomar conhecimento que jovens inocentes são assassinados no Brasil como porcos no matadouro e ao olhar para a fisionomia de seus pais, reconhecer a dor profunda que toma conta de suas almas e a falta de apoio e solidariedade do Estado brasileiro. Não é justo o caos que se instala cotidianamente em relação à mobilidade urbana, que leva todos ao stress e muitas vezes à violência. Não é justo que tantos jovens estejam desempregados. Não é justo que crianças nasçam em vasos sanitários ou corredores de hospitais, sem nenhuma assistência. Não é justo que o Brasil deixe de destinar 10% do PIB para a educação. Não é justo que um país cujo o povo está precisando de tanto, apesar dos altíssimos impostos pagos pelos trabalhadores, ainda se pratique a corrupção.

O Brasil está tratando sérias questões que a todos afligem com profundo desdém e desrespeito e esse grito retumbante que repercute por todo o país significa que o povo brasileiro quer a atenção dos governos federal, estadual e municipal, para que se comece um novo tempo em que a civilidade, a dignidade e o respeito sejam de fato compromissos honrados por nossos governantes.

Para fazer justiça, a voz que me tocou nesse período, de um representante do governo federal, foi de Gilberto Carvalho, ao comparecer ao Senado Federal, no dia 18 de junho/2013: "é preciso ter humildade para entender o motivo das manifestações".

Finalmente, uma voz sensata! 

Brasília, 27/06/2013.


* Regina Amélia D’Alencar Lino é socióloga e escritora acreana, natural de Rio Branco. Foi também vereadora e deputada federal, e vice-prefeita de Rio Branco – AC.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

XAPURI DO AMAZONAS

Da cantora, compositora e atriz xapuriense Nazaré Pereira. Xapuri do Amazonas foi um dos grandes sucessos da cantora, e sua primeira composição (1978).

quarta-feira, 26 de junho de 2013

CLAMOR DAS RUAS NO BRASIL

Profa. Inês Lacerda Araújo 
Filosofia de todo dia



Não poderia deixar de apoiar as corajosas manifestações de rua destas últimas semanas. Junho de 2013 é um marco. Muito já se disse e com propriedade por jornalistas e pelo público em geral. Chegou a vez dos governantes.

Mas o pacote de Dilma não passa de engodo, de tentativa de defesa ao se ver acuada, sua popularidade descendo, o risco de não se reeleger.

Manifestantes voltarão para suas casas, seus locais de estudo ou trabalho, e não deixarão de se conectar, de prestar atenção aos próximos acontecimentos e de responder com novas manifestações.

A pergunta que não quer calar:
Se a presidente tem maioria ampla no Congresso, por que as necessárias reformas não saem nunca?

Porque o próprio governo criou um esquema do toma lá, dá cá. Interesses eleitoreiros se sobrepõem às necessidades do povo brasileiro.

Por medo do clamor, um pequeno grupo de estrategistas do governo se reuniu em busca de uma fórmula, mais uma, de enganar, de ganhar tempo e de apostar no arrefecimento dos ânimos. A fórmula, mais uma vez, é um pacote de intenções que silencia sobre o modo como serão aplicadas e se de fato significam melhoria para as condições de vida dos brasileiros.

Exemplo: aplicar royalties da exploração do petróleo para a educação. A qualidade do ensino não melhora automaticamente com mais verba. É preciso saber como e no que aplicar. A formação de professores comprometidos com a educação não é algo que se mede com mais computadores, construção de salas de aula, laboratórios, bibliotecas, transporte escolar entre outras medidas com visibilidade.

Formar professores e tornar a escola proveitosa e interessante leva tempo e requer compromisso, disposição, mudança. O aluno no ensino médio se desinteressa por conteúdos com fórmulas e mais fórmulas! Elas servem para que?

Não há professores suficientes para atuar nas disciplinas de Física, Química e Matemática. Sem uma revisão crítica na qual se deve dar atenção ao sentido e ao papel dessas disciplinas tanto na vida escolar como no futuro profissional dos jovens, o abandono da sala de aula só aumentará. E esse é só um dos problemas da escola e da educação no Brasil.

E o mesmo acontece com cada uma das medidas do pacote anunciado ontem, dia 24 de junho.

A governante fez vista grossa, Lula foi participante do esquema do mensalão e agora os mesmos vêm a público com cara de inocentes!

Restam instrumentos da democracia para derrotar governos corruptos, incompetentes e exploradores da boa vontade dos brasileiros.
As eleições de 2014 se aproximam, é preciso escolher bem!


* INÊS LACERDA ARAÚJO - filósofa, escritora e professora aposentada da UFPR e PUCPR.

sábado, 22 de junho de 2013

DIÁRIO DE UM BRASILEIRO

Thiago de Mello 


O brasileiro convive bem com o escândalo moral.
Os ladrões infestam os salões de luxo,
os Bancos estouram, os banqueiros
são cumprimentados com reverência,
o presidente do Congresso chama o senador
de bandido, sim senhor, vossa excelência.

O Presidente diz pela televisão
que “é preciso acabar com a roubalheira
nos dinheiros públicos”.
As pessoas das cidades grandes
vivem amendrontadas, qualquer
transeunte pode ser um assaltante.
As meninas cheiram cola. Depois
vão dar o que têm de mais precioso
ao preço de um soco na cara desdentada.

O brasileiro convive com o escândalo
como se fosse o seu pão de cada dia,
com uma indiferença letal.

Como se dormir na cama com um rinoceronte,
mas rinoceronte mesmo,
fosse a coisa mais natural do mundo,
chegando a cheirar camélias.

§. O povo, um dia.

Do povo vai depender
a vida que vai viver,
quando um dia merecer.
Vai doer, vai aprender.


MELLO, Thiago de. Poemas preferidos pelo autor e seus leitores: edição comemorativa dos 75 anos do autor. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001. (p. 218-219)

P.S. creio que ainda não aprendeu, mas que já tá doendo, ah tá!