sábado, 31 de agosto de 2013

O ACRE DOS VIANAS II


SE ME...

Se me perdoardes, Senhor
As pequenas peças que Vos preguei
Eu vos perdoarei
A enorme peça que vós me pregastes. 


FROST, Robert. Poemas escolhidos de Robert Frost. Tradução de Marisa Murray. Rio de Janeiro: Lidador, 1969. p.135

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

DIÁRIO DE UM DETENTO - Racionais MC's

O ACRE DOS VIANAS

– Conte-nos como é o Acre, meu rapaz.

– Oh, senhora. Quando o Senhor Deus criou o mundo, fez um pedacinho bem caprichado. Colocou ali a melhor terra, as árvores mais altas, os rios mais lindos, as frutas mais saborosas, o clima mais gostoso, os pássaros e animais mais variados. E pensou: vou colocar esse lugar bem longe, para amostra, quando daqui a milhões de anos os homens tiverem transformado o resto do mundo em deserto. É o Acre. Está lá, do jeitinho que Deus criou.

(BORGES, Dirceu. O talismã das amazonas. São Paulo: Iluminuras, 1988. p.109)

Pela farta bibliografia que há, sabe-se que o Acre sempre fora um estado idealizado, embora nunca almejado, por aqueles que o idealizavam, como lugar ideal para eles viverem. Quando de sua contenda com a Bolívia, de Norte a Sul do país, proclamava-se os arroubos de patriotismo dos “caboclos titânicos” do Acre. E angariava as mais diferentes simpatias do povo brasileiro. E assim fora por longos anos. Depois, a partir da década de 70, mas sobretudo na de 80, com Chico Mendes, passa a ser símbolo da luta ambiental e sua preservação. A idealização seguinte se acentuará sobretudo a partir dos anos 2000 com a ideia de sustentabilidade ou estado da florestania. Temos aí 100 anos de um tipo de idealização. Do outro lado da margem, no entanto, ficou os sem história, entre os quais, índios, migrantes, e, posteriormente, colonos, ribeirinhos e periféricos. Mas é graças a esses “sem histórias” que hoje podemos chegar a uma visão mais coerente da história acreana, desde a sua ocupação até o reino fictício dos irmãos Vianas e sua trupe. Já é tempo de olhar a história não mais pelo viés dos heróis e vencedores, quem sabe, pelo olhar nu e cru dos “vencidos”. E como poetou certa ocasião o velho Bandeira: "Não quero mais saber de lirismo que não é libertação".

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

IMPOSSÍVEL SER FILÓSOFO SEM SER JUSTO

Profa. Inês Lacerda Araújo


Diógenes de Laércio relata a seguinte passagem: “Conta-se ter dito Heráclito a estranhos que o queriam visitar e espantam-se ao vê-lo aquecer-se junto ao fogão: podeis entrar, aqui também moram deuses”. Filosofia e vida cotidiana, essa união de real e ideal é o alimento da filosofia: há duas esferas, aquela em que projetamos como ideal filosófico a sabedoria, o logos; e a esfera prática com a necessidade de pensar, avaliar e lidar com as condições históricas herdadas e as experimentadas.

A filosofia e seus objetos de análise mudam com o passar do tempo histórico e o surgimento de novos temas e problemas.  Permanece a necessidade de pensar, raciocinar, ampliar o limiar da razão reflexionante, mas sem ultrapassar esses limites, pois não há como usar a razão e, ao mesmo tempo inventar procedimentos que fogem às regras do pensar. Quer dizer, estamos sempre imersos na lógica do possível, nos signos aprendidos, nas formas significantes.  

***

A filosofia circunscreve quatro dimensões: a da atividade filosófica na cultura; a do rigor da reflexão, ou seja, o uso de conceitos próprios ao pensar de tipo filosófico; a dimensão da vida prática e as possíveis transformações; e aquilo a que a filosofia pode almejar e permite alcançar.

Como exemplo da primeira dimensão, Dewey (1859-1952) mostrou que a filosofia não pode se restringir às puras Formas, ao Ser, às Ideias como entidades em si mesmas, sublimes e superiores. Assim ela se fecha, se torna missão de experts ecom tal inacessível como bem cultural e imprestável para a tarefa educacional. Pelo contrário, as noções, as ideias, os conceitos, os propósitos da filosofia devem e podem ser abertos para um público mais amplo. O uso do vocabulário hermético, a pseudo erudição e a superespecialização, nada mais são do que refúgio de intelectuais afetados e pouco ou nada afeitos à difícil tarefa de levar a reflexão para iniciantes, para a escola, para a discussão pública de ideias.

O segundo ponto, o rigor da análise e da reflexão, a tarefa intelectual de busca da exatidão, do conceito apropriado, da noção iluminadora, podem ser ilustrados por Wittgenstein (1889-1951), com a atitude prático-teórica do uso habitual de conceitos, sempre relacional, com papel específico em nossas formas de vida. A filosofia tem a função terapêutica de reconduzir os conceitos ao seu uso normal, cotidiano.  Se alguém tem dificuldade em compreender o conceito de "essência", por exemplo, veja como este signo é empregado nos jogos de linguagem cotidianos. Exercita-se a análise e mergulha-se nas indagações, sem precisar de inúteis erudições.

O terceiro aspecto, o que a filosofia permite realizar, sua missão pedagógica, reside em capacitar à reflexão, à abstração, à apreensão da realidade, em três áreas afins: a da ética e da política; a da crítica cultural; e a dimensão do sujeito, isto é, a análise das formas pelas quais experimentamos nossa subjetividade, nossa individualidade.

Para Aristóteles (385-322 a C.), a ética e a política são co-dependentes. A sociedade política é um bem para todos, o homem é um animal social com noção do bem e do mal, do justo e do injusto. A sociedade política é uma reunião para o viver bem, possibilitar uma vida feliz e virtuosa; justo é o governante que busca a felicidade geral. 

Quanto à cultura, Nietzsche (1844-1900) critica a adesão a valores gastos, é preciso reinventá-los, como faz o poeta solitário. A cultura, diz ele, foi arrancada da simplicidade e da contemplatividade, há pressa, as águas da religião fluem e refluem, deixando para trás pântanos e poças; as nações se separam e querem esquartejar-se; nessa mundanização, as classes eruditas não são mais o farol, impera a barbárie, inclusive na arte e na ciência (cf. Considerações Extemporâneas).

E o sujeito? Foucault (1926-1984), analisa a história das práticas humanas que constituíram o sujeito moderno, o que desmistifica a pretensa essência, universalidade e unidade do homem.

E a última característica, o que se pode almejar com a filosofia? R. Rorty (1931- 2007) diz que ela não nos impele e nem obriga a um dever acima da reflexão e da crítica nem à defesa cega de uma ideologia; a filosofia não serve para solucionar problemas, para tal há governos e diversas ciências que podem oferecer soluções e novas práticas para problemas sociais, políticos e econômicos. Mas ela é indispensável para nossos projetos de vida, para transformar e apontar direções, para alcançar mais solidariedade, respeito à diferença, liberdade de crítica. A liberdade é imprescindível, sociedades com liberdade plena para refletir e agir, para valorar e criar, evitam o medo, a intolerância, o sectarismo, a cegueira ideológica.

Daí o título desta postagem: o filósofo ao refletir, avaliar, ser criterioso, ponderar, só pode e deve ser justo.


INÊS LACERDA ARAÚJO - filósofa, escritora e professora aposentada da UFPR e PUCPR.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

O ANTIGO AMAZONAS

Sobre o antigo curso do Rio Amazonas, o geólogo e paleontólogo alemão Gero Hillmer e o biólogo austríaco Sepp Friedhuber, defendem a tese de que, antes da divisão dos continentes Africano e Americano, o Rio Amazonas corria em direção ao oceano Pacífico, o inverso do que é atualmente, e sua nascente estaria localizada no que hoje é o Saara. É o que aborda o vídeo abaixo.
Ainda sobre esse tema sugiro a leitura de “Quando o Amazonas corria para o Pacífico” (Vozes, 2007), do ecólogo Evaristo E. de Miranda. 

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

ODE À AMÉRICA DO SUL

Jorge Tufic


Que o boné de Pablo Neruda 
e a lágrima fluvial de Santos Chocano,
e o grito de Allende
(enquanto os fuzis do terror e do medo
repetiam o massacre da liberdade),
venham flocar este chão consagrado
por tantos modos e cantos diferentes,
oh América do Sul.
Os cravos de tuas noites mergulham
na plumagem das Cordilheiras,
e os ramos da paz que te ilumina
e o relincho das pedras que desenham
bisontes e tempestades,
pousam como fósseis alados
em tuas crinas de esmeralda.
De Santa Marta à Terra do Fogo
tuas espigas rebentam colares de jade
e cintilam nas máscaras de ouro
roubadas aos templos do sol
e às pirâmides da lua.
E ao sopro nativo da flauta
exilada entre colméias,
um tesouro de vasos, borboletas
e animais de uma fauna imaginária,
sacode o pó da argila e do granito
em suaves movimentos.
Atlantes e Laoccontes
vigiam tuas muralhas indormidas,
mas deixam livres as fronteiras do sonho.


II


Com a espada de Bolívar
e a prosa rubra e latejante de Sarmiento;
com as vestes de Antonio Conselheiro
e a nervura semântica de Euclides da Cunha;
com a suavidade de um verso de Lugones
e os contos gauchescos de Simões Lopes Neto;
com os arcos e flechas dos incas e aimarás
e a clepsidra das ruínas de Zaculén;
com as cinzas do uirapuru do Amazonas
e os depurados muirakitãs do Espelho da Lua,
eu te louvo, América do Sul,
agora que revejo tua cerâmica do Marajó,
tuas matas e teus rios,
tuas cidades e tuas pontes,
teus barcos possantes, tuas fábricas
e tuas manchetes; e ouço a voz
dos teus regatos, as canções de teus povos
e vejo, deslumbrado,
que uma ciranda feita de arrulhos e girassóis
te enlaça, constantemente,
do Atlântico semeado de praias
ao Pacífico de pássaros
e fontes azuladas.


III


Quantos martírios e sucessos
pontilham tuas manchas ocres
em cada solo ferido ou conquistado!
Lembras-te, por acaso, dos gestos em forma de dança
de teus ancestrais caribenhos?
Do milho cor de cereja dos Aruakes?
Dos artefatos barrancoides dos Walpés?
Dos dialetos tecidos com a envira do silêncio
e a toada dos riachos verdejando os caminhos?
Da antiguidade seletiva dos tucanos,
muras e cambebas?
Lembras-te, por acaso,
da bola de sernambi que estes últimos
te deram, ainda em pleno século XVII,
e do jogo que eles jogavam
num campo sem traves e sem torcidas?
Numa rede de dormir
os brancos degustam teu massacre
mas olvidam o teu legado,
esse imenso legado que sucedera ao jugo,
impiedoso e cruel,
daqueles teus primeiros habitantes,
plantadores de sombras,
raízes da terra.
Guitarras, malária, devastação e confisco,
eles trouxeram de tudo.
Mas tomam caxiri no delicado suporte
de uma cuia rústica ou pitinga;
alimentam-se de farinha de mandioca
e têm muito de si no caboclo que se espreguiça
para não ir ao trabalho;
e têm muito de si na mestiça que se vende
por las calles y los pueblos;
e têm muito de si, também,
nessa fusão de sons e melodias
que fizeram do nheengatu das águas pretas
a língua franca dos mitos
e do lendário esquecido.


IV


Imitas um coração populoso e tranqüilo.
Tens a forma de harpa ou alaúde
com doze cordas festivas.
E ainda podes ser vista como um rosto enigmático
voltado para si mesmo.
Desigualdades e semelhanças predominam
assim, de um lado e de outro,
entre vales, planícies e altiplanos.
Em qualquer Atlas se lê, por exemplo,
que há fome na Bolívia,
que há tango, festas e greves na Argentina,
que o Chile exporta minérios e vinhos,
que o Brasil é o maior destes países,
que o Equador tem reservas de prata e ouro,
que o Peru não se expande,
que o Paraguai continua bloqueado
sem saídas para o mar.
Em teu próprio nome, oh América do Sul,
e em nome da história que te deram,
hás de entender, no entanto,
que ninguém pode ser feliz
quando está cercado pela miséria,
seja a miséria do egoísmo,
seja a miséria das guerras;
que ninguém pode ter paz
quando há golpes e matanças
do outro lado de suas fronteiras.
Hás de saber entrementes que,
por cima da fala dos caudilhos,
paira a linguagem fluida ou tormentosa
daqueles que te celebram;
inclusive daqueles que apodrecem em tuas mansardas
ou se debruçam nas torres de vidro;
ou daqueles, ainda, que se confundem
com os traços das telas que azedam em teus sótãos
e em tuas águas-furtadas.
Estes homens de letras ou picassos anônimos
entregues à corrosão que desfigura
e ao abandono que mata.


V


Quantos equívocos te cercam
antes e após a descoberta, por ti,
do torno do oleiro, da roda e do arado?
Que simpáticas figuras transoceânicas
poderiam ter-te doado,
oh América do Sul,
carrinhos votivos de cerâmica,
travesseiros de barro
e selos em forma de bujarronas?
E as tuas escritas?
Terão sido trazidas por quem
- fenícios, gregos, romanos –
se colocam na origem de teus índios?
Fascina acreditar, em vez disso,
que provenhas, isto sim,
de alguma centelha que se fez Avalon,
Atlântida ou Atlas,
segundo escrevem as aves migratórias
quando te buscam nos pélagos,
e adivinham teus ecos profundos
nas cavidades do espanto.


VI


A cidade perdida dos incas
são tantas cidades quanto as portadas
que levam à presença do sol;
e dali ao rio de espelhos e cardumes intactos,
e dali às cavernas talhadas a ouro,
e dali aos túmulos daqueles que sucumbiram
ao peso dos colossos que protegem a montanha
das patas ecoantes de Espanha.
Em cada milímetro quadrado
das alturas que saltaram de mares incalculáveis,
Amarus confundem a inteligência
dos homens de Pizarro.
Labirintos ficaram, boiunas coleiam
na ouriversaria das auroras.
E ninguém poderá decifrá-las.
Para Iucay se evadira Manco.
E uma das primeiras guerrilhas da história
consegue fazer das trilhas enganosas
o desgastante baralho das Cordilheiras.
A imagem de raios solares
com mais de cem toneladas,
em que leito de Vilcabamba
terá se consumido em miríades de estrelas?
Em Cajamarca, enfim, morrera Atahualpa.
Em Viticos, chega a vez de Manco Inca.
Sayri Tupã e Tito Cusi também foram imolados.
Tupac Amaru expira em Cuzco
levando no olhar a música do império.


VII


Grande é o solar do tempo nesta aldeia
onde um galope nunca se interrompe.
Este chão de Pizarro em Guamachucho
de lavas contraídas pelo medo.
Escarpas traçam rápidas figuras,
pousam brilhos de séculos vencidos.
E um velho terremoto, agora fóssil,
arroja um tigre do alto de um penedo.
A noite é um vinho branco. Mas o sangue
que transborda do lago, não descansa:
quer vingar a cobiça, o fogo e a traição,
estes três assassinos de Atahualpa,
daquele em cujo peito o sol dos incas
despedaça o seu último clarão.


VIII


Nos porões soterrados debaixo
das cidades, deuses animais de terracota
aparecem ao lado da serpente,
e ao lado da serpente
paradigmas antropomórficos.
Foi assim que teus nativos,
pescadores de Valdívia,
dominaram os ornatos circulares:
perfis abstratos,
bizarras entidades híbridas
sobressaem nos relevos celestes;
e ao lado destes, ardósias cônicas,
traçados olmecas.
Um portal contendo símbolos xamãs
e sarcófagos dourados,
torna visível o silêncio dos mortos
na estática de teus músculos altivos
prateados de neve.
A Quinta Era, afirmam ali,
pertence a Tonatiú, o deus Sol,
habitante dos leques das palmeiras;
e há de ser confirmada por graves,
extensos abalos.
Pumas alertam para as ameaças que sobem
das Ilhas Arqueanas.


IX (a lição dos rios)


Tentando lavar este sangue
inutilmente derramado,
de cinco mil metros de altura despenca o Vilcanota;
ele vai mudando de nomes
até unir-se às águas revoltas
do lendário Urubamba.
Este, por sua vez, se socorre do Apurimac,
quando formam, juntos,
o Rio Amazonas.
Muito tarde, porém.
Um grande exemplo despercebido.
Esses rumores até hoje incessantes,
este chamado das vertentes comuns,
somente os poetas o sabem distinguir
na diversidade que amalgama
e na dor que ensina.


X (balada enquanto seja)


Ao contrário de outras águas,
nosso rio é movimento,
serpe andina em debandada
vai ele em busca do mar;
desde que nasce de um fio
por ondas rola barrento,
vem à tona e vira vento,
é estirão que sai do nada.
Rio de lendas ficou,
matreiro, curvo e norato,
seu berço de concha e lua,
com três nomes de batismo,
três caminhos sete bocas
por onde bebe a tormenta;
mas tem mágicas, puçangas,
e a cada estória, se aumenta.
Pântano cósmico, diz-se
por quem o lê pelo avesso,
por quem ouve a queixa inata,
por quem adentra seus peixes,
por quem taboca faz beiço
e sopra o fogo da enchente,
pois este rio é começo
da febre que torra a gente.
Ao contrário de outras águas,
o Amazonas, como um todo,
pode tornar a seu fio
como náufrago do lodo.


XI (Thiago de Mello)


Por caminhos de San Tiago,
volta o poeta das angras
a quem doara o seu canto
pela causa dos humildes.
Levara o corpo sadio,
como quem leva a esperança
marcada a fogo no brigue
que, novo, se lança ao mar.
Os Estatutos do Homem
riscando o teto da noite
com seus mastros decididos,
quantos vilões não cegaram!
Mas, igual à copa náutica
das sapopemas gigantes,
que pelas vias de Tiago
desprendem flocos de sonho,
retorna, depois da luta
para o feno das raízes:
a copa – rica de estrelas,
o tronco – de cicatrizes.


XII (a Pedra do Reino)


Como então esquecer,
neste painel de teus milagres,
oh América do Sul,
a oficina armorial desse múltiplo Ariano Suassuna,
a poesia e a prosa que se deixam fundir
em seu romance d´A Pedra do Reino?
Assim também, igualmente,
como esquecer os poemas de Carlos Newton Júnior,
a cerâmica de Côca,
as lâminas e os palimpsestos de Virgílio Maia
ou a tenda agreste, mística e versátil de Audifax Rios?
E como esquecer as andanças dos ¨padeiros¨ cearenses
em busca das cacimbas,
do aboio crepuscular,
do alpendre de seus avós e da espada
de algum rei com sua túnica de abelhas?
Pois é das artes desse Ariano vulcânico
e de seus valerosos cavaleiros,
as surpreendentes iluminogravuras,
diante das quais apenas o arco-íris, o novilúnio
e as doze talhas apócrifas da Via Dolorosa,
não são réplicas inúteis.


XIII (entrefala e louvação)


Deixemos, portanto, as amoras,
o etéreo veludo celeste, o filme vazio,
a novela das oito
e as ruas por onde não passaram
bandeiras despedaçadas por um grito maior
que a esperança dos mortos.
Deixemos de lado as violetas
que ardem nos versos prematuros
daqueles que nunca percebem o gemido
das salamandras
nem a fuga dos girassóis alucinados.
Deixemos de lado o jarro de Matisse,
a gôndola que imita o cisne de Isolda,
as olheiras roxas das janelas caiadas
pelo terror dos massacres.
Louvemos Neruda que, em sorvos miúdos,
provara do vinho amassado com a terra,
o suor e as lágrimas de quantos,
no Chile, na Espanha e na Turquia,
conseguiram, em seus momentos finais,
erguer a face do entulho e da lama,
cuspir na bota dos tiranos.
Louvemos Neruda pelos gestos perenes
de salvar um carneiro da morte,
uma rosa da escuridão e muitos,
centenas de amigos,
do cárcere infecto e da bofetada humilhante.
Saudemos Neruda
com uma taça de beija-flores.


XIV (sursum corda habemus)


O giro vesperal das andorinhas
sobrevoa os transcursos das cordilheiras;
paira, depois, sobre os telhados gastos
pelo mofo dos armários vazios
e o esquecimento das chuvas.
Elas tomam as sereias de tuas falanges,
dedilham a ira dos terremotos.
Mais do que nunca teu coração vacila,
mas sente-se pleno em curtir a polêmica união
entre o Ocidente dos filósofos
e a pátria dos cardos ensolarados.
Terá sido esta a pausa dos monumentos,
o tremor que se estabiliza nos ossos,
a reflexão que se deixou cair das pálpebras de água
no enterro dos navios.
Uma sombra te acompanha desde que nasceste,
orográfico e triste,
de pais que vestiam a paisagem dos trens de ferro
com os andrajos da mulher de Bolívar,
a insepulta de Paita.
Teus versos são lições de uma geografia da alma,
rochedos floridos de ternura.
Soltos na madrugada,
eles rastreiam fragrâncias, matizes,
números e signos gravados na espuma
e no cansaço das festas.
São metáforas da hora incalculável,
a incrível marca do passageiro. 
Depois das estradas, Neruda, 
o amor te concedera uma pausa, 
um silêncio neutro que irrompe dos tanques 
cobertos pelo trigo;
uma pausa que pergunta a cada coisa 
se tem algo mais. E a cada palavra 
endereça uma rosa. Neruda épico, lírico, 
e que tampouco deixa de seguir os passos noturnos 
de Lautrèamont, de Pascal e dos Três Mosqueteiros.

Teus cantos são cantarias de luar,
pólens de ouro e neblina.
Oh América do Sul


(Publicado no jornal O PÃO de Fortaleza-CE, Ano V - No. 36, em 13-12-1996. Atualizado em 2008)
> Poema retirado do blog do poeta Jorge Tufic.

domingo, 25 de agosto de 2013

PARA PREENCHER...

Emily Dickinson (1830-1886)


Para preencher um Vazio
Ponha de volta Aquilo que o causou.
Baldado cobri-lo
Com outra coisa – sua boca vai
                                               Mais se escancarar –
Não se pode soldar o Abismo
Com ar 




DICKINSON, Emily. Uma centena de poemas: Emily Dickinson. Tradução, introdução e notas por Aila de Oliveira Gomes. São Paulo: T.A. Queiroz: Ed. Da Universidade de São Paulo, 1984. p.83

> Leia aqui outros poemas de Emily Dickinson.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

DISTRIBUIÇÃO DA POESIA

Jorge de Lima (1893-1953)


Mel silvestre tirei das plantas,
sal tirei das águas, luz tirei do céu.
Escutai, meus irmãos: poesia tirei de tudo
para oferecer ao Senhor.
Não tirei ouro da terra
nem sangue de meus irmãos.
Estalajadeiros não me incomodeis.
Bufarinheiros e banqueiros
sei fabricar distâncias
para vos recuar.
A vida está malograda,
creio nas mágicas de Deus.
Os galos não cantam,
a manhã não raiou.
Vi os navios irem e voltarem.
Vi os infelizes irem e voltarem.
Vi homens obesos dentro do fogo.
Vi ziguezagues na escuridão.
Capitão-mor, onde é o Congo?
Onde é a Ilha de São Brandão?
Capitão-mor que noite escura!
Uivam molossos na escuridão.
Ó indesejáveis, qual o país,
qual o país que desejais?
Mel silvestre tirei das plantas,
sal tirei das águas, luz tirei do céu.
Só tenho poesia para vos dar.
Abancai-vos, meus irmãos.


LIMA, Jorge de. Anunciação e encontro de Mira-Celi. Rio de Janeiro: Record, 2006. p.27-28

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

O VENENO ESTÁ NA MESA

Este documentário do competente cineasta brasileiro Sílvio Tendler nos dá uma noção de como anda a produção de alimentos no Brasil em relação ao uso de agrotóxicos. Acredito que vale a pena ver não para sair adepto da agricultura familiar, mas para perceber como tem sido a política imoral do agronegócio no Brasil. E com a bancada ruralista que se tem em Brasília, nós estamos bem servidos!...

Esta é a situação no Brasil: o pobre demora a comer, e quando come, come a própria morte!

A UMA FLORENTINA

Francisco Mangabeira (1879-1904)


Na sua carne morna se condensa
A primavera em flor com a madrugada
E das duas não sei qual a que vença
Tanto ela brilha quanto é perfumada.

É uma flor de volúpia e de descrença
Que abre a linda corola envenenada,
Trouxe no olhar a lua de Florença
E o Vesúvio na carne sublevada.

É uma ave cujo canto cheira a flores...
É deusa e me abandona... É a Traviata
Que em lugar de morrer mata de amores!

P’ra tanto amor meu coração é pouco...
Oh! maldita a loucura que me mata
E bendita a mulher que me faz louco!

                                          Sob o Sol dos Trópicos, Manaus, 1902.


MANGABEIRA, Francisco. Poesias: Hostiário, Tragédia Épica, Últimas Poesias. Rio de Janeiro: Annuário do Brasil, s/d. p.382

> Veja aqui mais poesias de Francisco Mangabeira.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

O CONSERTO DO MURO

Robert Frost (1874-1963)


Há alguma coisa que não gosta de muro,
Que incha o chão gelado por baixo dele,
E derruba ao sol as pedras lá do alto,
E faz brechas onde até dois podem passar juntos.
O que os caçadores fazem já é uma outra coisa:
Eu vim atrás deles e consertei
Onde não haviam deixado pedra sobre pedra.
Mas queiram forçar o coelho para fora da toca
Para agradar aos cães barulhentos. As brechas de que falo,
Ninguém viu, ninguém ouviu fazê-las,
Mas na primavera, nos consertos, nós a encontramos lá.
Aviso ao meu amigo lá atrás da colina.
E um dia nos encontramos para verificar
E reparar o muro entre nós mais uma vez.
Mantemos o muro entre nós enquanto vamos.
Cada um recoloca os blocos que caíram do seu lado.
Os pedaços são diversos, uns quase como bolas
Temos que usar de mágica para que fiquem certos:
“Fiquem onde estão até virarmos as costas!”
Nossos dedos ficam ásperos de trabalhar com elas.
Oh, apenas outra espécie de jogo ao ar livre,
Um de cada lado. Ou pouca coisa mais:
Lá onde está não precisamos do muro:
Do seu lado é tudo pinheiro. Do meu, pomar de maçã.
Minhas macieiras nunca passarão o muro
Para comer as pinhas dos pinheiros, digo-lhe eu.
Ele apenas responde, “Boas cercas fazem bons vizinhos.”
A primavera torna-me implicante, e lhe pergunto
Se poderia brincar com ele um pouco:
Porquê fazem bons vizinhos? Não é só
Onde há vacas? Mas aqui não há vacas.
Antes de construir um muro queira saber
Contra quem ou contra o que eu construo,
E a quem com isso iria eu ofender.
Há alguma coisa que não gosta de muro,
Quer vê-lo por terra. Podia dizer-lhe “Duendes”,
Mas não são mesmo os duendes. Gostaria
Que ele mesmo o dissesse. Eu o vejo lá
Trazendo firmemente segura uma pedra
Em cada mão, armado como um selvagem das cavernas.
Ele vai, parece-me, andando nas trevas
Que não são todas de bosques, nem de sombras
E não seguirá o que seu pai dizia
E muito contente por ter pensado nisso
Repete “Boas cercas fazem bons vizinhos.” 


FROST, Robert. Poemas escolhidos de Robert Frost. Tradução de Marisa Murray. Rio de Janeiro: Lidador, 1969. p.20

“A verdade é que Frost foi o primeiro americano que pôde ser honestamente reconhecido como mestre-poeta pelos critérios mundiais.” Robert Graves

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

SOBRE UM SUPOSTO DIREITO DE MENTIR POR AMOR À HUMANIDADE

Isaac Melo


Em um opúsculo intitulado “Sobre um suposto direito de mentir por amor à humanidade”, Kant tece um comentário de refutação ao filósofo francês Benjamin Constant que havia contestado a sua declaração de que é um dever dizer a verdade sempre. Se um assassino nos perguntasse se um amigo nosso perseguido por ele não se refugiou em nossa casa, a questão que Kant, diante dessa situação, suscita-nos é se temos ou não o direito a mentir. Certamente a maioria de nós optaria pela mentira para poupar a vida do amigo em questão. No entanto, na perspectiva kantiana, a mentira, como neste caso, não nos é permitida. Vejamos então as razões sobre as quais se fundamentam o pensamento de Kant.

Ainda no prefácio de a Fundamentação da Metafísica dos Costumes, Kant afirma a necessidade de se “confessar uma lei que tenha de valer moralmente, isto é como fundamento duma obrigação, tem de ter em si uma necessidade absoluta” (2011a, p.16). Este princípio da obrigação não deve ser buscado na natureza do homem ou nas circunstâncias do mundo em que o homem está posto, mas sim a priori exclusivamente nos conceitos da razão pura. Pois, para Kant, qualquer outro preceito baseado em princípios da simples experiência, e mesmo um preceito em certa medida universal, se ele se apoiar em princípios empíricos, num mínimo que seja, poderá ser considerado uma regra prática, mas nunca uma lei moral. Uma lei moral vale necessariamente para todos os agentes racionais, sem exceção. Assim, se princípios como “não deves mentir” são necessários e rigorosamente universais, a sua justificação não pode ser empírica – tem de ser a priori.

Na segunda seção de a Fundamentação da Metafísica dos Costumes, Kant ressalta que o dever vem do uso vulgar da nossa razão prática. Este dever, como o dever em geral, que é anterior a toda a experiência, reside na ideia de uma razão que determina a vontade por motivos a priori: “os princípios morais não se fundam nas particularidades da natureza humana, mas têm de existir por si mesmos a priori” (2011a, p.47). Desse modo, em vez de pensarmos que agir moralmente é subordinar a nossa vontade a uma lei exterior, será melhor admitir que a nossa própria razão é a fonte do princípio moral segundo o qual devemos agir. Nesse sentido, o  princípio supremo da moralidade é o imperativo categórico, que por sua vez, leva-nos a reconhecer que temos determinados deveres absolutos. Temos um dever absoluto de não mentir, (entre outros), o que significa que será errado mentir, por muito terríveis que sejam as consequências de não mentirmos. Mesmo que fosse necessário mentir para salvar a vida de várias pessoas (não interessa quantas), não deveríamos fazê-lo. Portanto, o imperativo da moralidade, segundo Kant, “não se relaciona com a matéria da ação e com o que dela deve resultar, mas com a forma e o princípio de que ela mesma se deriva; e o essencialmente bom na ação reside na disposição, seja qual for o resultado” (2011a, p.55).

Retornando ao opúsculo “Sobre um suposto direito de mentir por amor à humanidade”, em sua contestação à Kant, Benjamin Constant afirma que “dizer a verdade é um dever, mas somente com relação àqueles que têm direito à verdade. Nenhum homem porém tem direito à verdade que prejudica os outros” (apud KANT, 2011a, p.72). Kant inicia sua refutação afirmando que a expressão “ter direito à verdade” é desprovida de sentido; para ele, é o homem que tem direito à sua própria veracidade, isto é, à verdade subjetiva em uma pessoa, pois do contrário, ter direito a uma verdade significaria o mesmo que dizer que depende da sua vontade, pois a verdade não é uma propriedade à qual um indivíduo tivesse o direito e pudesse ser recusada a outro: “o dever da veracidade não faz qualquer distinção entre as pessoas, umas em relação às quais tenhamos este dever, outras para com as quais nos possamos desvencilhar dele, porque é um dever incondicionado, válido em quaisquer condições” (2011, p.76). Segundo Galvão, dizer que há um dever prima facie de não mentir, por exemplo, é afirmar que há sempre uma razão moral para não mentir, isto é, que o fato de um ato consistir numa mentira contribui sempre para que seja errado. (cf. KANT, p.XIX, 2011a).

Continuando sua resposta a Benjamin Constant, a primeira questão, ressalta Kant, consiste em saber se o homem, quando não pode se recusar a responder sim ou não, tem a faculdade (o direito), de ser inverídico. A segunda questão consiste em saber se não está absolutamente obrigado, em uma certa declaração a que o obriga uma injusta coação, a ser inverídico, a fim de evitar um crime que o ameaça ou ameaça outra pessoa. Afora isso, a veracidade nas declarações que não se pode evitar é um dever formal do homem com relação a qualquer outro, por maior que seja o prejuízo decorrente disso para ele ou para outra pessoa; e se não cometo uma injustiça contra aquele que me obriga a uma declaração de maneira injusta, faço, naquilo que a mim se refere, com que as declarações em geral não encontrem mais crédito, e portanto também todos os direitos fundados em contratos sejam abolidos e percam a força; para Kant isso constitui uma injustiça causada à humanidade em geral. Além disso, a mentira inutilizaria a fonte do direito. De acordo com o filósofo, essas ideias só fazem sentido se tivermos realmente uma vontade livre e autônoma. Só as ações realizadas por dever têm valor moral, isto é, são próprias de uma boa vontade. Contudo, nem todas as ações que estão em conformidade com o dever têm valor moral, pois uma ação pode estar conforme ao dever e, ainda assim, não ter sido realizada pelos motivos certos (cf. KANT, 2011a, p.XXVII).

No exemplo proposto por Kant, se porém a pessoa tivesse mentido e dito que a pessoa perseguida não estava em casa, e ela tivesse realmente saído (embora sem ter conhecimento disso), e depois o assassino a encontrasse fugindo e executasse sua ação, com razão, afirma Kant, essa pessoa poderia ser acusada autor de sua morte. Pois se tivesse dito a verdade,  tal como a conhecia, talvez o assassino, ao procurar o inimigo em sua casa, fosse preso pelos vizinhos que acudissem, e o crime teria sido impedido. Por conseguinte, quem mente, por mais bondosa que possa ser sua intenção, deve responder pelas consequências de sua ação, mesmo diante do tribunal civil: “porque a veracidade é um dever que deve ser considerado a base de todos os deveres a serem fundados sobre um contrato, e a lei desses deveres, desde que se lhe permita a menor exceção, torna-se vacilante e inútil” (2011, p.74).

Na perspectiva kantiana, agir moralmente implica subjulgar todas as nossas inclinações naturais, mesmo os nossos sentimentos mais nobres, de modo a que reste o cumprimento do dever como única motivação. Uma ação tem valor moral somente se é praticada por dever, pelo que não terá esse valor se tiver sido praticada apenas por inclinação. As ações moralmente valiosas são realizadas em função do dever, e não em função de fins específicos que possamos ter adotado em virtude de nossas inclinações. A lei moral consiste na exigência de agir apenas segundo máximas que possam ter a validade universal. É portanto, afirma Kant, um sagrado mandamento da razão, que ordena incondicionalmente e não admite limitação, por qualquer espécie de conveniência, o seguinte: ser verídico (honesto) em todas as declarações: “Pois o direito a exigir de outro que deva mentir para vantagem nossa teria como consequência uma exigência contrária a toda legalidade. Cada homem, porém, tem não somente o direito, mas até mesmo o estrito dever de enunciar a verdade nas proposições que não pode evitar, mesmo que prejudique a ele ou a outros” (2011, p.76).

Na primeira seção de a Fundamentação da Metafísica dos Costumes, Kant afirma que agir por dever implica ter uma concepção correta acerca do que é permissível fazer de acordo com a lei moral: “Uma acção praticada por dever tem o seu valor moral, não no propósito que com ela se quer atingir, mas na máxima que a determina; não depende portanto da realidade do objeto da acção, mas somente do princípio do querer segundo o qual a acção, abstraindo de todos os objetos da faculdade de desejar, foi praticada” (2011a, p.31). Assim, o comportamento tem propriamente valor moral quando obedece ao dever, e não às inclinações.

Para Kant, o que está em jogo ao mentir não é o perigo de causar dano, mas em geral o de cometer uma injustiça, pois embora uma certa mentira não implique uma ação injusta a ninguém, contudo se atenta em geral contra o princípio do direito. Para o filósofo, aquele que diz: não devo mentir, se quero continuar a ser honrado; este, porém, (sob o imperativo categórico) diz: não devo mentir, ainda que o mentir me não trouxesse a menor vergonha. O último, portanto, tem que abstrair de todo objeto, até ao ponto de este não ter nenhuma influência sobre a vontade, para que a razão prática (vontade) seja uma mera administradora de interesse alheio, mas que demonstre a sua própria autoridade imperativa como legislação suprema (cf. 2011a, p.92).

Quanto aquele que pede permissão para pensar numa possível exceção, tal pessoa para Kant já um mentiroso (in potentia), porque mostra que não reconhece a veracidade como um dever por si mesmo, mas se reserva a possibilidade de fazer exceções a uma regra que, por essência, não admite nenhuma exceção, porquanto esta constituiria uma contradição direta da regra com ela mesma. Em último caso, Kant vai afirmar que se pode em verdade querer a mentira, mas não se pode querer uma lei universal de mentir.


REFERÊNCIAS
KANT, Immanuel. Textos seletos. Introdução de Emmanuel Carneiro Leão. Petrópolis: Vozes, 2011.
KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Tradução de Paulo Quintela. Lisboa: Edições 70, 2011a.

sábado, 17 de agosto de 2013

O ÉBRIO (Vicente Celestino): a canção, o filme e um comentário

O Ébrio é uma das famosas canções de Vicente Celestino (1894-1968). A canção é de 1936. Em 1941, serviu de inspiração para uma peça de teatro, e, em 1946, para um filme, ambos homônimos, dirigido pela atriz e cineasta Gilda Abreu, esposa de Vicente Celestino, que fez o papel de protagonista. O filme foi um grande sucesso, e bateu recordes de bilheteria à época. Permaneceu por 20 anos em cartaz, com um público estimado em 12 milhões.

O ÉBRIO (a canção)

O ÉBRIO (o filme)

O ÉBRIO (um comentário crítico sobre o filme)

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

MÁXIMAS E INTERLÚDIOS

Friedrich Nietzsche (1844-1900)


Maturidade do homem: significa reaver a seriedade que se tinha quando criança ao brincar. § 94

O povo é o rodeio que faz a natureza para chegar a seis ou sete grandes homens. – Sim: para em seguida evitá-los. § 126

Quem combate monstruosidades deve cuidar para que não se torne um monstro. E se você olhar longamente para um abismo, o abismo também olha para dentro de você. § 146

O que se faz por amor sempre acontece além do bem e do mal. § 153

Falar muito de si pode ser um meio de se ocultar. §169

As consequências do que fizemos nos alcançam, indiferentes a que tenhamos “melhorado” nesse meio-tempo. § 73


NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. Além do bem e do mal: prelúdio a uma filosofia do futuro. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

JOSUÉ DE CASTRO – Cidadão do Mundo (filme de Sílvio Tendler)

“A humanidade se divide em dois grupos: o grupo dos que comem e o grupo dos que não dormem com receio da revolta dos que não comem.”

Josué de Castro
Geopolítica da Fome

O médico, geógrafo, sociólogo e político Josué de Castro, foi pioneiro no combate à fome no Brasil e no mundo. Há 40 anos, apresentou proposta de ações de incentivo à agricultura familiar e à criação dos restaurantes populares. Foi presidente do Fundo para a Agricultura e Alimentação da Organização das Nações Unidas (FAO/ONU) e indicado por duas vezes ao Prêmio Nobel da Paz. Escreveu o livro Geografia da fome, publicado em mais de 25 línguas.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

LEMBRETE

Michel Deguy


O que veio a ser
É preciso dizer

O que não pode ser dito...
Deve ser escrito

A parte dá no todo
Que dá a parte

Saber com que se parece
É nosso saber – não absoluto

É preciso semelhança
Para se fazer contiguidade

O poema é coisa próxima
Que é preciso ir buscar 



DEGUY, Michel. A rosa das línguas. Organização e tradução de Paula Glenadel e Marcos Siscar. São Paulo: Cosac & Naify; Rio de Janeiro: Viveiros de Castro Editora, 2004. p.157
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"A poesia de Michel Deguy é uma poesia essencialmente voltada para as questões mais prementes da contemporaneidade. Poeta e filósofo, Deguy demonstra aguda consciência das contradições de nosso tempo; sintonizado com os movimentos de que é contemporâneo, sua atitude frente a eles corresponde a um misto de afetuosa atenção e produtiva irritação com o presente."

Paula Glenadel

BEM-VINDA ESSA CATRAIA...

Olivia Maria Maia não é apenas uma escritora acreana, mas uma verdadeira alma acreana. Se a catraia não virar evoca a aventura que era a travessia do rio Acre, em Rio Branco, nesses pequenos barcos. O que Olivia nos mostrou no primeiro livro, Em rio que menino nada raia não ferra, é o que certamente encontraremos nesta nova obra: reminiscências infantis não apenas de sua cidade, mas de um tempo em que as crianças e as brincadeiras eram outras - em que se misturavam travessuras, costumes, crenças nos seres da floresta, medos, mas sem a violência latente que geralmente observamos hoje, e outras histórias e crônicas contemporâneas, preocupadas com problemas comuns dos humanos. Tudo isso com um sabor literário muito próprio, sensibilidade e humor. Bem-vinda essa catraia...


Elício Pontes, poeta
via e-mail

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

NOVO LIVRO DE OLIVIA MARIA MAIA

A escritora Olivia Maria Maia lança no dia 17 de agosto (sábado, às 19h30), no Bar do Brasil (202 Norte), o seu novo livro, Se a catraia não virar (Edição do Autor). Nascida em Rio Branco (AC) vive em Brasília desde 1972, onde se formou em Sociologia, Psicologia; teve filhos e netos. Nessa obra, como disse o poeta Nicolas Behr, a  autora, com uma prosa leve e solta,  é como um rio que começa largo e manso mas logo vira correnteza. "Fernando Pessoa disse que 'é o tempo da travessia e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado pra sempre, à margem de nós mesmos'. E eu ousei, com este novo trabalho, fazer travessia no rio da minha terra, e também em rios de palavras",  confessa a acreana, que teve o primeiro livro, Em rio que menino nada raia não ferra, boa acolhido pelos leitores e pela crítica.

Para o jornalista e escritor Mario Pontes, que foi editor do caderno Livros do Jornal do Brasil, por mais de 20  anos, Olivia em seu livro de estreia reconstitui, com notável força poética, paisagens e figuras humanas do início de sua vida em meio às terras, florestas, águas, dias e noites do Acre. "Por vários motivos, a ficção de Olívia atrai o interesse do leitor.  Primeiro, pelo modo firme como suas  narrativas são construídas, proporcionando um bom equilíbrio entre os  elementos memorialísticos e a invenção dramática. Segundo, pela qualidade do humor, que não  interfere na viagem ao interior dos personagens, mas contribui, ao contrário, para revelar sua riqueza ou pobreza interior. Finalmente, porque ela capta os movimentos da existência no âmbito do próprio ato de viver, levando  suas criaturas a entrar e sair vivas das histórias, e não apenas a circular sem propósito no interior de cada página", diz Pontes, que publicou diversos livros de ficção e ensaios, tendo ainda traduzido 30 livros, entre os quais obras de Camilo José Cela, Júlio Cortázar e Isabel Allende.

Em Se a catraia não virar, Olivia confirma e vai além do que nos brindou no livro de estreia. Nessa viagem ela não se limita a reminiscências, mas transita das saudades infantis à indignação com a violência urbana, num passeio literário que terminará no mar, ou numa praça Saramago, que a autora constrói no coração.

> Leia aqui meu comentário sobre Em rio que menino nada raia não ferra, o primeiro livro de Olivia Maia.
Leia aqui minha crítica a Se a catraia não virar.