A minha avó materna sempre teve alguma facilidade em inventar palavras, pelo menos eu pensava assim, quando era mais jovem.
Tenho quase a certeza que nunca a corrigia, limitava-me a sorrir.
E também não pensava muito nas coisas, muito menos na razão desta facilidade.
Agora já quase crescido, com os cabelos a branquearem, deu-me para decifrar este "enigma", que nem teve nada de complicado, apenas me exigiu alguma razoabilidade.
A sua capacidade de invenção estava ligada sobretudo à liberdade com que se comunicava (e ainda comunica...) oralmente nas aldeias.
A falta de escola, de regras gramaticais, do conhecimento formal dos verbos, substantivos e adjectivos, entre outras coisas ainda mais estranhas, tornava a sua linguagem original e autêntica.
Não conseguiam ler livros mas a oralidade oferecia-lhes um mundo de palavras, que podiam utilizar a seu bel prazer.
O óleo é de Samane Turnbull.