Nos anos setenta e oitenta a bicicleta era o transporte principal do meu grupo de amigos, que preenchiam as férias grandes com muita praia e muito desporto.
Esta onda desportiva tinha início no percurso feito de bicicleta entre as Caldas e a Foz do Arelho, realizado quase sempre num ritmo bastante competitivo, com a motivação da Volta a Portugal e também com as marcas na estrada de alcatrão, da estafeta pedestre organizada na Primavera pelos "Os Tufufos". De dois em dois quilómetros lá estava eu em ensaiar uma fuga e a ganhar mais uma "meta-volante".
A vingança estava destinada sempre para o fim, quando na entrada da vila os meus companheiros mais velhos (Vitor, Fernando, José Luís e Eduardo) começavam a pedalar e a desaparecer. Só os voltava a encontrar junto ao mar, onde deixávamos as bicicletas presas...
Chegámos a fazer estes dez quilómetros em pouco mais que dez minutos... e nem tão pouco ligávamos ao facto da estrada ser perigosa (na adolescência somos assim)...
Já na praia, além dos festivais diários de mergulhos na aberta (com uma prancha improvisada - saca de tecido cheia de areia), ainda íamos a trote até ao cais, onde mergulhávamos e regressávamos a nado até à aberta, aproveitando a boleia da maré vazante...
Também havia o futebol de praia, as raquetadas e as brincadeiras nas ondas, quase sempre selvagens do verdadeiro Mar, que desafiávamos, também com alguma inconsciência, apesar de sermos quase todos exímios nadadores...
O mais engraçado é que este quase ritual acompanhou várias gerações, que mostravam um grande orgulho em pertencerem aos "ibéricos"...
Eram tempos felizes e descontraídos...
Esta prosa está ilustrada com o óleo "Bicycle Race", de Lyonel Feininger.