quinta-feira, 27 de outubro de 2022

A PRESENÇA!

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Entrou na igreja com a curiosidade do costume.
Desde jovem que nada tinha a ver com a fé, nem sequer era assunto que minimamente lhe interessasse, mas gostava de visitar monumentos, sobretudo igrejas antigas, e ver as suas maravilhas.

Parou no corredor central e reparou que por cima do altar estava um “objecto” que parecia de ouro e prata e no seu interior tinha uma “rodela” branca.
Isso trazia-lhe alguma reminiscência de memória sem, contudo, conseguir identificar especificamente o que era.
Viu diversas pessoas na igreja sentadas, ajoelhadas ou de pé, mas o que lhe fez mais impressão foi o silêncio que se “sentia”, e que não era constrangedor nem incómodo, era um silêncio de … amor!
Sorriu interiormente quando pensou nesta coisa de um “silêncio de amor”.

Para não incomodar ninguém, sentou-se num banco disposto a ver dali os quadros, imagens, e outras peças de arte, que estavam na igreja, pois esse era o motivo principal da sua visita.

Passado pouco tempo percebeu que havia uma pergunta que não lhe saía da cabeça: O que é isto?
Obviamente a pergunta tinha a ver com o tal “objecto” que estava em cima do altar.
A pergunta era insistente e não lhe saía do pensamento.
Baixou a cabeça para ver se se conseguia concentrar na finalidade da sua visita, mas a única coisa que aconteceu foi que a pergunta que o “atormentava” mudou para: Quem é isto?
Caramba, pensou ele, “quem” já envolve pessoas ou pessoa, o que quererá isto dizer?

Sem perceber muito bem porquê, deu consigo de joelhos a olhar fixamente o tal “objecto” sobre o altar e para grande surpresa sua a pergunta agora era bem mais especifica: Quem és tu?
Não teve dúvidas que a pergunta era dirigida ao tal “objecto” e que era ele próprio que a fazia.

Fechou então os olhos e deixou de se incomodar com a pergunta que continuava, no entanto, bem presente na sua cabeça e curiosamente parecia-lhe, também, no coração.
Perdeu a noção do tempo e quando reabriu os olhos reparou que um sacerdote estava a retirar o tal “objecto” e a guardá-lo, (nesse momento lembrou-se do nome), no sacrário.
Estranhamente apeteceu-lhe pedir para que o deixasse um pouco mais de tempo sobre o altar.

As pessoas começaram a sair da igreja, mas ele sentado, com a cabeça entre as mãos, de olhos fechados, ia deixando passar o tempo.
Sentiu um toque no seu ombro, abriu os olhos, e viu o sacerdote que, sorrindo, lhe perguntou se estava bem e se precisava de alguma coisa.
Ouvi-o perguntar se ele se queria confessar, ao que ele admirado perguntou - confessar? - e seguidamente o sacerdote disse que talvez quisesse apenas conversar.

Disse que sim e o sacerdote sentou-se a seu lado perguntando sobre o que quereria conversar.
Naquele momento ele pensou que não tinha nada para dizer, mas a verdade é que começou a contar a sua vida, como em criança tinha sido obrigado a frequentar a catequese e tinha ido a algumas Missas, e como se tinha afastado totalmente de Deus e da Igreja, mas o que mais o espantava é que à medida que falava, a memória trazia-lhe nitidamente tudo o que tinha aprendido nessa altura e teve repentinamente a resposta à sua pergunta “quem és tu?” que surgiu muito claramente num nome, Jesus!

O sacerdote ouvia-o atentamente com uma cara que parecia estar reflectir profundamente em tudo o que ele dizia, mas ele olhando para o relógio percebeu que tinha um compromisso importante e deveria sair dali quanto antes.
Disse então ao sacerdote que tinha de ir embora mas perguntou se poderia voltar noutro dia para continuarem a conversa.
O sacerdote, com um sorriso, respondeu-lhe que sim, que ele estava sempre por ali, por isso que ele estivesse à vontade e o procurasse quando regressasse à igreja.

Uma paz muito grande envolveu-o.

Levantou-se, agradeceu, e à saída reparou que o sacerdote se tinha ido ajoelhar frente ao sacrário.

O sacerdote ajoelhado frente ao sacrário com lágrimas nos olhos rezava:
Oh, Jesus, como Tu fazes tudo tão bem.
Sabes bem que me ando a debater com estes sentimentos de dúvida, de angústia, de querer abandonar a Igreja, envergonhado com o que se passa, de já quase não acreditar nos sacramentos, e então chamaste este homem, este irmão perdido da fé, para me fazeres perceber que estás realmente aqui presente e que tocas as vidas daqueles que de Ti se aproximam.
Obrigado, Jesus, pela paz que me estás a dar, pela certeza que renasce em mim de Te querer servir servindo em Igreja, obrigado pelo amor que derramas em mim.
E perdoa-me, Senhor, por ter duvidado.
Como Tomé, só Te posso dizer: Meu Senhor e meu Deus.




Marinha Grande, 27 de Outubro de 2022
Joaquim Mexia Alves

sábado, 22 de outubro de 2022

O CAMINHO

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Caminhava rapidamente pelo caminho, cabeça levantada e os olhos fixos na meta almejada, sem se querer distrair com mais nada que não fosse a sua caminhada.

De repente uma pedra no caminho, (que não viu por levar os olhos fixos na meta a alcançar), fê-lo tropeçar e cair no chão.
Magoou-se um pouco, sujou as roupas, mas levantou-se rapidamente e prosseguiu a caminhada.

Num instante recomeçou o passo apressado e os seus olhos fixaram-se ainda mais no fim do caminho.
Pareceu-lhe ouvir umas vozes a seu lado que lhe diziam para ter cuidado, mas não quis parar nem dar atenção a essas vozes, pois só a caminhada e o atingir a meta era importante para ele.
O problema é que subitamente lhe faltou o chão e ele caiu com alguma violência num buraco do caminho que tinha alguma profundidade.
No fundo do buraco deteve-se um pouco para recuperar da queda, e depois com grande esforço, conseguiu sair do buraco e voltar ao caminho.

Esperou um pouco para perceber se estava bem e recomeçou a andar no mesmo passo apressado em que tinha vindo até então e sempre com o olhar fixo no seu destino.
Novamente lhe pareceu ouvir umas vozes que lhe diziam para se preparar, mas como tal não fazia sentido e ele achava que não precisava de ninguém, fechou os olhos para se concentrar e continuou a caminhar.

Sentiu então que algo não estava bem e, quando abriu os olhos, encontrou-se cercado por uma escuridão imensa, por umas trevas que não o deixavam ver nada, nem sequer o caminho que pisava.
Parou e disse interiormente, no meio daquelas trevas, que percebia e reconhecia agora que se devia ter preparado melhor, que devia ter trazido coisas importantes, como uma luz, pois realmente há dia e noite e sem luz é impossível caminhar.
Estava tão arrependido!

“Afundou” os olhos na escuridão e pareceu-lhe ver ao longe uma ténue claridade.
Começou a caminhar com todo o cuidado, tacteando o caminho passo a passo, e apercebeu-se que a claridade ia aumentando, de tal modo que passado mais algum tempo já estava o caminho novamente iluminado e, portanto, possível de prosseguir.

Mas não recomeçou imediatamente a caminhada.
Sentou-se no chão e decidiu reflectir sobre o caminho que tinha feito até aquele momento.

Em primeiro lugar lembrou-se do velho ditado que diz que a “pressa é má conselheira”, percebendo que é melhor caminhar com calma e seguro, do que freneticamente e sem segurança.
Recordou-se da pedra onde tinha tropeçado e imediatamente reconheceu que, não olhando para o caminho e com os olhos fixos apenas na meta, não era possível ver os obstáculos que o caminho tinha.

Reflectiu então sobre a queda no buraco reconhecendo que uma das razões era a mesma pela qual tinha tropeçado, mas também que devia ter dado ouvido às vozes que lhe diziam para ter cuidado.
Se o tivesse feito, provavelmente não teria caído no buraco.

Por fim deteve-se a pensar na escuridão, nas trevas que o tinham envolvido e foi obrigado a reconhecer que, mais uma vez, não tinha dado atenção às vozes que lhe diziam para se preparar, percebendo que para fazer o caminho é sempre preciso uma preparação para o enfrentar.

Levantou-se do chão e foi então que reparou que à sua volta estavam muitos como ele, que caminhavam o mesmo caminho e lhe estendiam os braços e diziam para caminharem todos juntos.
Ao princípio teve a reacção de pensar, como sempre, que era capaz sozinho, mas depois percebeu que caminhando com todos, todos se ajudariam a levantar se tropeçassem e caíssem, que seria bem mais fácil saírem dos buracos em que caíssem, e reparou também que muitos deles tinham luzes e que as partilhavam com os que não tinham.

Sentiu-se bem naquela companhia e partiu novamente, agora acompanhado pelos outros e no ritmo que os mais lentos tinham, para poderem ir todos unidos.

Sorriu e pensou para si mesmo: Estou no bom caminho!

Pois é, Deus chama-nos a fazer o caminho para Ele, mas quer que o façamos em paz e tranquilidade.
Deus quer que olhemos para Ele, mas também que olhemos para o mundo e para o chão que pisamos, porque é neste chão que vivemos por enquanto.
Se olharmos para o mundo em que vivemos podemos evitar muitas vezes as “pedras de tropeço” que o mundo nos apresenta.
E o caminho que Deus nos propõe, Ele mesmo nos diz que tem armadilhas do inimigo, os buracos em que de quando em vez caímos, mas que se ouvirmos a Sua voz e a voz daqueles que Ele coloca ao nosso lado, poderemos evitar esses buracos.
E, claro, há sempre momentos em que as trevas, nesta caminhada para Deus, nos querem envolver, por isso nos devemos preparar para o caminho de Deus, servindo-nos de tudo o que Ele nos deixou, sobretudo a Palavra de Deus e os Sacramentos que são a Luz que nos ilumina e vence as trevas.
Ah, e depois o caminho de Deus é um caminho individual, mas também colectivo, porque Ele serve-se dos outros que nos acompanham para nos ajudar a caminhar, como nos chama também a estar sempre prontos para ajudar aqueles que precisam de nós para caminhar.
Por isso a Igreja é o caminho seguro!

Percebamos também que se Deus é nossa “meta”, embora Ele esteja no fim à nossa espera, também está sempre, ao mesmo tempo, connosco a caminhar o caminho que Ele mesmo nos dá.

Por isso caminhemos sem medo porque a Luz já venceu as trevas!



Marinha Grande, 22 de Outubro de 2022
Joaquim Mexia Alves

segunda-feira, 17 de outubro de 2022

EM IGREJA, HUMILDEMENTE

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Seria muito mais fácil dizer que assim não pode ser, que é tudo uma vergonha e abandonar, sair, deixar de ser Igreja, do que humildemente envergonhar-me porque alguns, (uma minoria), cometeram actos inomináveis, inclassificáveis, terríveis, de uma dimensão para além de toda a condenação, e manter-me firme percebendo que a Igreja não é do homem, mas de Deus, e que o homem é pecador e muitas vezes se deixa cair no mal.

E então não devo criticar, denunciar, fazer tudo para levar a julgamento aqueles que cometeram tais actos inclassificáveis e aqueles que os acobertaram, para que enfrentem as consequências dos seus actos?

Claro que sim que devem ser levados a julgamento, não só na justiça canónica, mas também na justiça civil, para sofrerem as consequências daquilo que fizeram conscientemente, porque tais actos não podem ser, de modo nenhum, classificados de inconscientes ou passíveis de alguma desculpa seja ela qual for.

E em primeiro lugar, nós Igreja, que nos envergonhamos de tais actos embora não cometidos por nós, devemos ter sempre presente nas nossas orações e preocupações as vítimas, não só na sua vida presente, mas também em tudo aquilo que marca definitiva e indelevelmente as suas vidas também no futuro.

Mas o nosso Deus é um Deus de misericórdia, que à nossa humanidade por vezes até nos parece “exagerada”, mas a verdade é que não há pecado que, perante o arrependimento sincero e propósito de emenda, não seja perdoado
Se assim não fosse não seria Deus, porque então o seu amor teria limites, o que a própria essência de Deus nega.

Devemos também, por isso, rezar pelos prevaricadores, para que tenham consciência dos actos praticados, deles se arrependam verdadeiramente, e se apresentem perante a justiça da Igreja e da sociedade civil, humildemente aceitando as penas a que forem condenados
Rezemos para que sejam eles mesmos a apresentar-se, acusando-se a si próprios, para que a Igreja que um dia disseram querer servir, em Deus, por Deus e com Deus, se continue a mostrar isenta de culpa, que realmente não lhe pertence

E nós Igreja viva, saibamos humildemente reconhecer que alguns que connosco eram Igreja, cometeram tais actos que nos envergonham, mas que sendo nós igreja, continuamos a acreditar e a viver a Fé na Santíssima Trindade, única razão de ser da igreja.

Com serenidade aceitemos até as recriminações e até os insultos que a nós, que nos mantemos fiéis a Cristo, poderão ser feitos, rezando por aqueles que os fazem e sabendo que Deus não faltará àqueles que nEle confiam e esperam.

De coração sangrando, mas cheio de compaixão, mostremos com o nosso testemunho verdadeiro, “que uma árvore não faz a floresta”, e que Deus é infinitamente maior do que o pecado de cada um.

Só em Deus, em Igreja, encontraremos razões e forças para ultrapassar estes terríveis tempos, e só em Deus, em Igreja, encontraremos a paz e a salvação prometidas em Jesus Cristo.




Marinha Grande, 17 de Outubro de 2022
Joaquim Mexia Alves

sábado, 8 de outubro de 2022

NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO DA MARINHA GRANDE

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Por estes dias realiza-se na paróquia da Marinha Grande a Festa da Padroeira, Nossa Senhora do Rosário.
Ontem antes da Missa e Procissão pelas ruas da Marinha Grande, tirei uma fotografia à imagem de Nossa Senhora do Rosário, belamente enquadrada por flores e luzes.

Ao ver a fotografia foi-me suscitada a seguinte reflexão.

Nesta fotografia está contido todo o centro da nossa Fé Cristã.

Ao lado da imagem está o ambão, onde é proclamada a Palavra de Deus, o Verbo que é Deus.

A imagem representa Aquela, a Senhora do Rosário, em quem encarnou o Verbo, o Deus que «se fez Homem e habitou entre nós». (cf Jo 1, 14)

O Verbo viveu entre nós como Homem e entregou-se por nós «até à morte e morte de cruz», (cf Fil 2, 8), como está bem representado na fotografia pelo grande crucifixo que preside na nossa igreja matriz.

Mas o Verbo, o Deus feito Homem, disse que «ficaria sempre connosco até ao fim dos tempos», (cf Mt 28, 20), e por isso também na fotografia se vê o altar em que todos os dias, pela transubstanciação do pão e do vinho no Corpo e Sangue de Cristo, Ele está realmente e verdadeiramente connosco sempre e para sempre.

Ainda podemos reparar que a imagem de Nossa Senhora do Rosário está de lado, para que o centro seja sempre a Cruz de Cristo, a Cruz em que Ele nos deu a Sua Mãe como Mãe de todos nós. (cf Jo 25-27)

Tudo isto se quisermos ver com os “olhos de Deus” aquilo que Ele mesmo nos mostra.

Que Nossa Senhora do Rosário nos guie e por nós interceda sempre, para que unidos a Ela, caminhemos todos os dias e em cada momento, ao encontro de Jesus Cristo «fazendo tudo o que Ele nos disser». (cf Jo 2, 5)

Obrigado Mãe, obrigado Senhora do Rosário.

Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo.




Marinha Grande, 8 de Outubro de 2022 
Joaquim Mexia Alves