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Faltavam dois dias para o Natal.
Ao pensar nisso uma tristeza imensa tomou
conta dele, porque sabia que seria já o segundo Natal sem o seu filho.
A última discussão por causa da vida de
drogas sem sentido que o filho levava, tinha chegado a um tal extremo, que o
filho tinha saído de casa, e ele, pai, nada tinha feito para o impedir.
Queria convencer-se de que fora melhor assim,
porque o filho tinha que ser confrontado com a realidade da vida, e, se ele
continuasse a sustentar-lhe aquele vício, o fim, com certeza, não estaria
longe.
Mas vivia atormentado pela ausência do filho,
(nunca mais o tinha visto ou falado com ele desde há cerca de dois anos), pelo
medo de ter errado na sua decisão, e também porque via a sua mulher definhar em
tristeza todos os dias, com a ausência total daquele seu filho único.
Absorto nos seus pensamentos, guiava como um
autómato, e por isso só deu conta no último momento, daquela mulher que
atravessava a rua na passadeira de peões.
Deu uma guinada repentina com o volante e foi
bater com grande violência num poste de iluminação na berma da rua.
Apercebeu-se de imediato que o acidente tinha
sido muito grave, sobretudo para ele, porque sentiu-se coberto do seu sangue,
perdendo rapidamente a consciência.
Um estranho vazio tomou conta dele e percebeu
que ouvia umas vozes, mas nada conseguia entender e também não conseguia abrir
os olhos, não conseguia acordar, enfim, era mesmo um vazio imenso que ele
sentia profundamente em todo o seu ser.
Neste espaço de tempo, sem tempo, (para ele),
ouviu a certa altura, nitidamente, a palavra Natal, e percebeu que já conseguia
abrir os olhos, que estava agora “acordado”!
Abriu então os olhos e encontrou logo à sua
direita a cara sorridente da sua mulher, que lhe agarrava numa mão, e
percebeu-se deitado numa cama de hospital.
Achou no entanto muito estranho aquele
sorriso tão rasgado da sua mulher.
Com o seu olhar perguntava-lhe
insistentemente a razão de tal sorriso, e reparou então que ela olhava para si
e logo de seguida para o seu lado esquerdo.
Voltou a cabeça com alguma dificuldade, e o
seu olhar encontrou o olhar do seu filho, que, com lágrimas nos olhos e
inclinando-se para ele, lhe disse ao ouvido: Desculpa, pai, desculpa.
Respondeu-lhe com a voz sumida, carregada de
emoção: Não te preocupes, meu filho. Que dia é hoje?
O filho olhou para ele e respondeu: É noite
de Natal, pai, e estás no hospital há dois dias!
Fechou os olhos e interiormente disse com o
coração: Obrigado Jesus, pela mais bela prenda de Natal que me podias dar.
Depois, apertando com mais força a mão da sua
mulher, pediu ao seu filho que se inclinasse para ele, e dando-lhe um beijo
terno na testa, disse: Feliz Natal, meu filho, Feliz Natal!
Marinha Grande, de 19 Dezembro de 2017
Joaquim Mexia Alves
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Nota:
Com este Conto de Natal, quero desejar a todos quantos visitam esta página e suas famílias, um Santo Natal e um Novo Ano cheio das bênçãos de Deus.
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