segunda-feira, 25 de julho de 2022

“FISIOTERAPIA ESPIRITUAL”

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Comecei hoje a fazer fisioterapia por causa das minhas costas, nada de grave, mas para tornar a vida melhor, mais agradável.

Fui aproveitando aqueles momentos sozinho para ir rezando o terço, (o terço também tem isto de bom, pois em qualquer lado se reza para dentro em surdina), e pensando, pensando, pensando…

Parece-me, então, que devo que acompanhar esta fisioterapia física com uma “fisioterapia” espiritual.

Muitas vezes a fisioterapia é precisa porque nos vamos defendendo das dores, vamos adoptando posições confortáveis em que não doa, e de tal modo o fazemos que a certa altura estamos “tortos fisicamente” e já não nos conseguimos endireitar.
Então, lá temos que passar pela fisioterapia, que é sempre desagradável, por vezes um pouco frustrante e outras vezes até ligeiramente dolorosa, para podermos recuperar, atingir novamente a plena mobilidade e o bem estar da vida saudável.

Ora, tenho para mim, que também preciso de uma “fisioterapia espiritual”, ou seja, reconhecer em mim aquilo em que me tornei rotineiro na oração, na prática dos sacramentos, aquilo em que não quis procurar melhor e mais longe as razões para a Doutrina da Igreja, para viver a fé com verdade, em vez de ficar no que já dei como adquirido e não quero mudar porque é muito mais confortável assim.
Não que a Doutrina tenha mudado, (Ela é emanada de Deus e Deus não muda, mas é sempre novo), mas como posso percebê-la e vivê-la melhor.

Na clínica tenho uma fisioterapeuta para me fazer os tratamentos e ajudar a corrigir posições.
Mas depende da minha vontade querer fazê-lo.

Na Igreja tenho o “fisioterapeuta” perfeito, Deus, e todos os outros, bispos, sacerdotes e leigos, que “formados” por Ele, me ajudam a tratar da alma, a sair da rotina que não me deixa andar, a perceber o que devo mudar para caminhar na fé em Deus, mais alegre, mais crente, mais activo, mais orante, enfim, mais vivo em Cristo.
E também depende da minha vontade querer fazê-lo e por isso mesmo me agarro a essa vontade e peço a Deus que aumente essa vontade em mim.

E, já me vou sentindo melhor, sobretudo porque leio o que escrevi e sorrio pensando como é que o nosso Deus de tudo retira sempre algo de muito bom para nós!

Obrigado, Senhor!



Monte Real, 25 de Julho de 2022
Joaquim Mexia Alves

sexta-feira, 22 de julho de 2022

AQUI ESTAMOS SENHOR! 72

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Fecho os olhos, baixo a cabeça e deixo que desponte em mim o desejo de Te sentir.
Pouco a pouco do meu coração sai o Teu nome que vou repetindo baixinho, em surdina: Jesus, Jesus, Jesus…
Afundo-me na cadeira em que estou sentado e parece que à minha volta tudo desparece ou, pelo menos, nada me incomoda ou distrai.

Parece-me que Te sentas no chão junto à cadeira em que estou e eu protesto de imediato:
Não, Senhor! Eu é que me sento a Teus pés!

Dizes-me então, ou sonho que me dizes:
Não te queres sentar comigo aqui no chão?

Saio imediatamente da cadeira e sento-me no chão junto a Ti, sentindo o frio das lajes frias da capela debaixo de mim.
Parece-me ver um sorriso de criança na Tua face, como se estivesses a achar graça a Ti e a mim sentados no chão da capela a olhar para Ti no Santíssimo Sacramento.

É então que me pedes para levantar a cabeça, olhas-me nos olhos, e perguntas-me candidamente:
Porque vens tantas vezes aqui?

Eu olho-Te espantado, (como se Tu não soubesses porquê!), e respondo-Te:
Para estar Contigo, Senhor!

Olhas-me ainda mais profundamente e perguntas:
Mas Tu acreditas que Eu estou aqui no Santíssimo Sacramento?

Sobressalto-me, assusto-me, e fico a pensar no que Te hei-de responder.
Depois penso que é melhor fingir que não ouvi para não ter que responder.

Mas Tu tocas-me na mão e insistes:
Então, não me respondes?

Como uma criança apanhada em falta, abro a boca e ouço-me dizer:
Sim, Senhor, acredito. Sim, Senhor, quero acreditar como todo o meu ser que estás aqui, que és Tu realmente presente na Hóstia Consagrada.

Sorris e dizes com ternura:
Mas não é fácil acreditar, pois não? De vez em quando parece-te duvidar, não é?

Fico sem jeito, mexo-me na posição em que estou e digo:
Oh, Senhor, não me provoques! Tu conheces-me tão bem! Sabes bem que eu acredito, que eu quero acreditar, mas também sabes que a minha humanidade é frágil, que a minha humanidade gosta de ver com os olhos do corpo e tocar com as mãos que Tu me deste.

Colocas o braço à minha volta, apertas-me junto a Ti e dizes-me ternamente:
Eu sei, Joaquim, eu sei. Mas concedo-te, concedo a todos os que quiserem, essa graça imensa de me poderes ver com os olhos do coração e tocares-me com as mãos da fé.
O que falta ao teu crer eu compenso com a minha misericórdia, com o Meu amor por ti, por todos vós.

Levanto a cabeça e com os meus olhos apenas vejo a Hóstia Consagrada, mas com o coração cheio de amor e confiança, digo:
Vejo-Te, Senhor! Sinto-Te, Senhor! Amo-Te, Senhor! Obrigado, Senhor!




Garcia, 21 de Julho de 2022
Joaquim Mexia Alves


Nota: Escrito ontem quinta feira 21, na tarde de adoração na Capela da Garcia

quarta-feira, 6 de julho de 2022

O ELOGIO DA VELHICE

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Deus concedeu-me a graça de ter 4 filhos.

Acredito que cada um deles me há-de pegar pela mão e ajudar a atravessar a estrada que se vai agora apresentando à minha vida .

Agora ainda acham graça às minhas expressões de dor que vai percorrendo todo o meu corpo mas sei e sinto que lá no fundo se vão preocupando com o pai que continua, apesar de tudo, forte e vivo.

Claro que as dores são fruto da idade, mas também muito fruto das asneiras da vida que levei e que foram muitas, (algumas forçadas, como a guerra, mas a maior parte de livre vontade), e tinham forçosamente de marcar os meus anos mais velhos

Um tal Variações cantava que “quando a cabeça não tem juízo o corpo é que paga”!

É engraçado começar a viver agora as recordações daquilo que, quando novo, achava daqueles que tendo a minha idade ou sendo mais velhos, iam dizendo e se iam queixando e como eu desvalorizava esses “queixumes” acreditando que eram para chamar a atenção.

Percebo agora que os nossos “queixumes” nestas idades, são muito mais para nós, são íntimos, do que para chamar a atenção dos outros.

Gostaríamos até de conseguir não nos queixarmos para não preocuparmos os mais novos, mas, caramba, às vezes nem são tanto as dores, são mais as incapacidades de fazer algo tão simples como calçar e descalçar as meias sem ter que “gemer” um pouco!

Mas é bom ser mais velho.

Dá-nos, por exemplo, a capacidade de nos calarmos para não provocar discussões, (embora tenhamos os nossos “repentes” pois claro), conseguirmos “adivinhar” reações, sabermos coisas que os mais novos ficam espantados, contarmos histórias que eles querem ouvir, (às vezes até lhes acrescentamos umas “coisas” para ficarem mais bonitas ou interessantes), lembrarmos sítios que já não existem ou tradições perdidas, enfim, somos quase uma “enciclopédia” de “banalidades” interessantes.

E é tão gratificante quando os mais novos nos pedem para repetir as histórias que já contámos vezes sem fim, mas que eles querem recordar, muito provavelmente para poderem contar quando chegarem à “idade das dores”.

Depois, também, as ofensas que nos fizeram ou nós fizemos, vão-se esbatendo e vamos percebendo o ridículo do incómodo que nos causamos por não perdoar ou não pedir perdão.
Começamos a perceber bem melhor o sentido de viver em paz.

A mim, sinceramente, nunca me preocupou a idade, (a não ser por causa das tais “incapacidades”), e acho até interessante ser olhado como mais velho.
Há sempre algum respeito nesses olhares.

A morte nunca me preocupou e hoje em dia muito menos, pois a Fé que vivo ou tento viver todos os dias, dá-me a certeza de que, mais tarde ou mais cedo, estarei nos braços de Deus, (depois de purificadas as minhas inúmeras faltas), no gozo do amor que nunca acaba.

E o amor talvez seja o melhor elogio à velhice!



Monte Real, 6 de Julho de 2022
Joaquim Mexia Alves


Nota: Claro que escrevo o que sinto e na generalidade, pois cada situação é diferente, sobretudo para aqueles que são abandonados pelos mais novos.