Concepcoes Psicologicas Na Formacao Da Personalidade

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Concepções Psicológicas na

Formação da Personalidade

Brasília-DF.
Elaboração

Ana Paula Rabelo Chaves

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

Apresentação.................................................................................................................................. 4

Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa..................................................................... 5

Introdução.................................................................................................................................... 7

Unidade i
TEORIAS DA PERSONALIDADE................................................................................................................. 9

Capítulo 1
Introdução à teoria da personalidade............................................................................. 9

capítulo 2
Teorias psicológicas......................................................................................................... 16

capítulo 3
Teorias da Personalidade.................................................................................................. 19

Unidade iI
Transtornos da Personalidade..................................................................................................... 47

capítulo 1
Definições de transtornos da personalidade................................................................ 47

Para (não) Finalizar...................................................................................................................... 55

Referências................................................................................................................................... 57
Apresentação
Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem
necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela
atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade
de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos
a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma
competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para
vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar
sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a
como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

4
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de
forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões
para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao
final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e
pesquisas complementares.

A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos
e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Praticando

Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer


o processo de aprendizagem do aluno.

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

5
Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Exercício de fixação

Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não
há registro de menção).

Avaliação Final

Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso,


que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única
atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber
se pode ou não receber a certificação.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

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Introdução
É possível caracterizar o processo de desenvolvimento da personalidade como o conjunto de
competências manifestas num determinado momento da vida do indivíduo. Esse desenvolvimento,
que se constitui num processo sempre dinâmico, tem merecido a atenção dos estudiosos de
praticamente todas as épocas da história da humanidade. Um dos registros mais antigos de que
se tem notícia, em relação ao problema, é atribuído a Aristóteles. Esse filósofo acreditava que os
fatores inatos determinavam grandemente o comportamento das pessoas. Segundo ele, os escravos
diferiam dos senhores por usarem a razão de uma maneira puramente passiva, faltando-lhes a
faculdade deliberativa. Só diferiam dos animais por pertencerem à classe dos homens. Tal crença
justificava a necessidade de estarem, constantemente, sob a supervisão do senhor, por causa dessa
inabilidade inata para se autogerirem.

Nessa perspectiva – em que os fatores inatos são determinantes da personalidade, da inteligência, da


aprendizagem e de outros comportamentos – a instituição da escravatura e das castas, a divisão da
sociedade em classes sociais, o racismo e outros fenômenos ficam plenamente justificados, uma vez
que algumas pessoas são, por natureza, aptas para mandar, para decidir, para organizar situações,
e outras aptas somente para obedecer e para servir.

A ideologia de que algumas pessoas são naturalmente superiores e diferentes das outras sempre
existiu, sem muitos questionamentos, até aproximadamente o século XVII. Gradativamente foi
desenvolvendo-se outra corrente ideológica, inspirada no judaísmo e no cristianismo, que procurou
enfatizar a igualdade dos homens. John Locke (1632-1704), filósofo empirista, com a sua teoria
da Tábula Rasa, defendeu a ideia da igualdade dos homens ao nascerem, atribuindo as diferenças
observadas entre as pessoas a fatores ambientais e socioeducacionais. Como John Locke, vários
outros teóricos enfatizaram a relevância absoluta da estimulação ambiental e social para o
desenvolvimento da personalidade humana.

A partir daí estabeleceu-se uma rica controvérsia quanto à causa do comportamento humano e
das diferenças individuais: de um lado, os adeptos dos determinantes inatos do comportamento
humano; no outro extremo, aqueles que defendiam os fatores ambientais e socioeducacionais como
definidores da personalidade.

Superando o extremismo dessas duas abordagens mencionadas, encontramos alguns teóricos


que explicam o comportamento humano mediante a interação sujeito-objeto, o que envolve a
contribuição de processos hereditários, genéticos, maturacionais, bioquímicos, processos de
estimulação ambiental e aprendizagem, entre outros fatores.

As motivações e os interesses das pessoas que se matriculam num curso de pós-graduação na área
de Psicologia e Educação mudaram nos últimos dez anos. A maioria dos estudantes procura tais
cursos antes de tudo para se conhecer, conhecer melhor os outros e aplicar tais ensinamentos em
suas áreas de atuação profissional. Ao elaborar este Caderno de Estudos levei em conta interesses e
valores dos estudantes abordando assuntos estimulantes e relevantes. As teorias da personalidade

7
são colocadas, aqui, como instrumentos conceituais para a compreensão do comportamento e,
sobretudo, para o crescimento pessoal. Vale ressaltar que na elaboração de tal material trabalhei
de forma a organizar textos diversos acerca do tema, sempre muito discutido, que é personalidade.
Dispus o material numa ordem lógica e concisa para o entendimento mais relevante segundo a
formação proposta no Curso de Neuroaprendizagem.

Baseada no sucesso da aprendizagem presencial inclui, no Plano de Curso, atividades apropriadas


para o uso individual que darão oportunidades aos alunos de experienciarem as principais facetas
de cada capítulo.

Objetivos
»» Organizar o conhecimento quanto à formação da personalidade.

»» Promover o entendimento das várias concepções psicológicas como base para o


entendimento das teorias de personalidade.

»» Apresentar a psicopatologia e as modificações comportamentais por meio dos


transtornos de personalidade.
TEORIAS DA Unidade i
PERSONALIDADE

Capítulo 1
Introdução à teoria da personalidade

»» Psiquiatria Infantil Operativa – Raquel Soifer. Ed. Artes Médicas (livro


bem interessante, sobretudo, para quem atua com clínica psicopedagógica
e(ou) orientação escolar, aborda temas correlatos à psicologia evolutiva e
psicopatologia infantil).

»» Psicologia do Desenvolvimento – Clara Regina rappaport. Ed. EPU, volumes


I, II, III, IV (coleção célebre para estudantes de psicologia, pedagogia e áreas
afins. Trata o tema de desenvolvimento infantil de uma forma clara).

»» História da Psicologia Moderna – Suane e Sydney Schultz. Ed. Cultrix (livro


clássico da psicologia que aborda a história da psicologia em termos de suas
grandes ideias ou escolas de pensamento. Visa a definir o objeto, os métodos e
os objetivos da psicologia. Livro indicado para iniciação à pesquisa).

Introdução à teoria da personalidade


Um dos preconceitos mais conhecidos e mais espalhados consiste em crer que
cada homem possui como sua propriedade certas qualidades definidas: que
há homens bons ou maus, inteligentes ou estúpidos, enérgicos ou apáticos,
e assim por diante. Os homens não são feitos assim. Podemos dizer que
determinado homem se mostra mais frequentemente bom do que mau; mais
frequentemente inteligente do que estúpido; mais frequentemente enérgico
do que apático, ou inversamente; mas seria falso afirmar de um lado que um
homem é bom ou inteligente, e de outro que é mau ou estúpido. No entanto, é
assim que os julgamos. Pois isso é falso. Os homens parecem-se com os rios:
todos são feitos dos mesmos elementos, mas ora são estreitos, ora rápidos, ora
largos, ora plácidos, claros ou frios, turvos ou tépidos.
(TOLSTÓÏ, Léon. Résurrection. Paris: Librairie Académique Didier,1900. Disponível em:
<http://fr.wikisource.org/wiki/R%C3%A9surrection>. Acesso em: 5/6/2012).

9
UNIDADE I │ TEORIAS DA PERSONALIDADE

Cada homem possui três personalidades: a que exibe, a que tem e a que pensa
que tem.
(KARR, Alphonse, escritor, França. Disponível em: <http://www.citador.pt/frases/citacoes/a/
alphonse-karr>. Acesso em: 20/5/2013).

Personalidade e diferenças individuais


Etimologicamente, o termo personalidade origina-se no teatro romano, onde e quando os atores
representavam de máscaras. Nessas máscaras havia um buraco no lugar da boca, por onde passava
a voz, chamado per sonare. Com o uso, a máscara toda passou a se chamar persona e, por extensão,
como o ator se identificava com o papel estabelecido pela máscara, passou, ele mesmo, a chamar-se
persona, deixando, assim, o termo persona simbolizar a máscara para ser atribuído ao próprio ator
ou à pessoa que representava a máscara. Surge, então, a palavra “personalidade” em português, que
tem como função descrever e determinar as características intrínsecas dos indivíduos, ou melhor,
aquilo que cada um é.

Assim, personalidade é o conjunto de dados conhecidos ao longo do tempo que vai compondo
um conjunto de características únicas, combinadas de forma ímpar, que vai tecendo um retrato
particular. Sendo próprio daquela pessoa.

Usualmente, o termo personalidade tem sido empregado poucas vezes em seu verdadeiro sentido
psicológico. Ocorre que em qualquer ciência, como também na Psicologia, certas palavras, tidas
como elementos conceituais e que são muito frequentemente utilizadas, caindo no domínio
incontrolável da divulgação, chegam a perder o seu sentido original e passam a ter uma série de
significados inadequados ou até mesmo contraditórios ao seu pressuposto científico básico. Cada
vez que se emprega uma dessas palavras, torna-se necessário revalorizá-la novamente.

Vulgarmente falando, quando se diz que fulano é “um indivíduo de personalidade”, pretende-se
apontá-lo como “uma pessoa de opinião”. De forma pejorativa, pode-se entender até que a pessoa
com “personalidade forte” seja mal-educada e até mesmo intratável. É comum, igualmente, dizer
que alguém não tem personalidade quando se trata do tipo “Maria vai com as outras”. Ou, ainda,
que fulano perde sua personalidade quando sucumbe a influências de outras pessoas com opiniões
mais marcantes que as suas. Nenhuma dessas colocações corresponde ao que pretende a Psicologia
quando conceitua cientificamente personalidade.

Aproxima-se um pouco mais do conceito científico de personalidade quando empregamos o


termo para designar alguém que ficou na História. “Napoleão foi a grande personalidade da
Revolução Francesa”. Ou, então, literariamente, quando se diz que um romance ficou marcado pela
personalidade da sua figura central, como: “A personalidade de D. Quixote comove os leitores de
Cervantes”. Nesses dois casos, já vemos a intenção de evidenciar uma maneira peculiar de ser, o
que, no fundo, não contradiz aquilo que pode ser considerado como personalidade em Psicologia.

Há ainda aqueles que, com maior propriedade, usam o termo como sinônimo de vida psíquica: “Foi
algo em minha personalidade que me fez agir daquela maneira”.

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TEORIAS DA PERSONALIDADE │ UNIDADE I

Hilgard propõe, assim, a dificuldade de realmente se conhecerem as pessoas.

Cada indivíduo é único, a descrição científica de uma personalidade é


inevitavelmente difícil. Precisamos encontrar alguma forma de compreender
as características duradouras do comportamento de uma pessoa, à medida que
decorrem naturalmente de sua história de desenvolvimento, de seus objetivos
e dos problemas da vida real por ela enfrentados. O objetivo é descobrir e
descrever sua estrutura singular de personalidade, precisa-se mostrar como
os vários aspectos de sua personalidade se reúnem de tal forma que todos são
compreensíveis em função de algum padrão subjacente. Se conseguirmos fazer
isso, podemos compreender incoerências superficiais em seu comportamento.
O que faz está coerente com sua estrutura total de personalidade, embora suas
ações possam parecer contraditórias para aqueles que não a compreendem.
Pode ser afetuoso para com sua família e cruel para com seus empregados,
ter físico forte e preocupar-se com sua saúde, ser sentimental nas músicas
que prefere, mas rude na política. Mesmo as peculiaridades e os maneirismos
pessoais (idiossincrasias) podem ser vistos como e x p r e s s õ e s
significativas da unidade mais profunda que é sua personalidade total.
(Nolen-Hoeksema S, Fredrickson B, Loftus G e Wagenaar W. Introdução à Psicologia: Athinson
& Hilgard – Tradução da 15. ed. norte-americana, Cengage Learning: São Paulo, 2012).

Não somente se tiram conclusões apressadas sobre os outros, como também se percebe o outro de
forma imprecisa, em virtude de distorções das lentes de percepção social utilizadas na análise do
seu comportamento. No primeiro caso, capta-se apenas parte da personalidade do indivíduo que
está sendo observado e, no segundo, projetam-se características que são próprias do percebedor
na pessoa percebida. Isso indica que o conhecimento da personalidade não pode se esgotar com
simples observações aleatórias do comportamento ou a partir de opiniões pessoais; há de se seguir
uma sistemática mais cientificamente criteriosa para que seja possível distinguir “quem é quem” em
um processo de interação com as pessoas.

A ideia de buscar fora da pessoa os elementos que explicassem seu


comportamento e sua desenvoltura vivencial teve ênfase com as teorias de
Rousseau (1762), segundo o qual era a sociedade quem corrompia o homem.
Subestimou-se a possibilidade da sociedade refletir, exatamente, a totalidade
das tendências humanas. Seres humanos que trazem em si um potencial
corruptor o qual, agindo sobre outros indivíduos sujeito à corrupção, produzem
um efeito corruptível. Ou seja, trata-se de um demérito tipicamente humano.
(BALLONE, G. J. Teoria da Personalidade. Em: < http://www.psiqweb.med.br/site>. Acesso em:
9 de outubro de 2009).

Outra concepção acerca da personalidade foi baseada na constituição biotipológica, segundo a qual
a genética não estaria limitada exclusivamente à cor dos olhos, dos cabelos, da pele, à estatura, aos
distúrbios metabólicos e, às vezes, às más-formações físicas, mas também determinaria às peculiares
maneiras de o indivíduo relacionar-se com o mundo: seu temperamento, seus traços afetivos etc.

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UNIDADE I │ TEORIAS DA PERSONALIDADE

As considerações extremadas neste sentido descartam qualquer possibilidade de influência do


meio sobre o desenvolvimento e performance da personalidade e atribui aos arranjos sinápticos e
genéticos a explicação de todas características da personalidade da pessoa.

(BALLONE, G. J. Teoria da Personalidade. Em: < http://www.psiqweb.med.br/site>.


Acesso em: 9 de outubro de 2009).

Buscando um meio termo, como apelo ao bom-senso, podemos considerar a totalidade do ser
humano como sendo um balanço entre duas porções que se conjugam de forma a produzir a pessoa
tal como é.

1. Uma natureza biológica, tendo por base nossa natural submissão ao reino animal
e nossa submissão também às leis da biologia, da genética e dos instintos (genes
herdados). (BALLONE, G. J. Teoria da Personalidade. Em: < http://www.psiqweb.
med.br/site>. Acesso em: 9 de outubro de 2009).

2. Uma natureza existencial, suprabiológica conferindo à personalidade elementos


que transcendem o animal que repousa em nós. A pessoa, ser único e individual,
distinto de todos outros indivíduos de sua espécie, traduz a essência de uma
peculiar combinação biopsicossocial. (BALLONE, G. J. Teoria da Personalidade.
Em:< http://www.psiqweb.med.br/site>. Acesso em: 9 de outubro de 2009).

Desta forma, a ideia de personalidade poderia ser esbouçada da seguinte maneira: Personalidade
é a organização dinâmica dos traços no interior do eu, formados a partir dos genes particulares
que herdamos, das existências singulares que suportamos e das percepções individuais que temos
do mundo, capazes de tornar cada indivíduo único em sua maneira de ser e de desempenhar o seu
papel social (BALLONE, G. J. Teoria da Personalidade. Em: <http://www.psiqweb.med.br/site>.
Acesso em: 9 de outubro de 2009).

Assim, o ser humano não pode ser considerado como um produto exclusivo de seu meio, tal como
um aglomerado dos reflexos condicionados pela cultura que o rodeia e despido de qualquer ligação
mais nobre de sentimentos e vontade própria. Não pode, tampouco, ser considerado um punhado
de genes, resultando numa máquina programada a agir desta ou daquela maneira, conforme teriam
agido exatamente os seus ascendentes biológicos. Se assim fosse, passaria pela vida incólume aos
diversos efeitos de suas vivências pessoais. Sensatamente, o ser humano não deve ser considerado
nem exclusivamente ambiente, nem exclusivamente herança, antes disso, uma combinação
destes dois elementos em proporções completamente insuspeitadas. (BALLONE, G. J. Teoria da
Personalidade. Em:< http://www.psiqweb.med.br/site>. Acesso em: 9 de outubro de 2009).

Todas as vezes que colocamos lado a lado duas pessoas estabelecendo comparações entre elas,
em qualquer que seja o aspecto a ser medido e comparado, verificamos sempre a existência de
diferenças entre ambas. Constatamos, assim, as diferenças entre os indivíduos, as peculiaridades
que os tornam únicos e inimitáveis. (BALLONE, G. J. Teoria da Personalidade. Em: <http://www.
psiqweb.med.br/site>. Acesso em: 9 de outubro de 2009).

Por outro lado, podemos verificar também e paradoxalmente, outras características comuns a
todos os seres humanos, tal como uma espécie de marca registrada de nossa espécie. Desta feita,

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TEORIAS DA PERSONALIDADE │ UNIDADE I

há elementos comuns e capazes de identificar a todos como pertencentes a uma mesma espécie,
portanto, característicos da natureza humana e, a par destes elementos próprios da espécie, outros
atributos capazes de diferenciar um ser humano de todos os demais. (BALLONE, G. J. Teoria da
Personalidade. Em: <http://www.psiqweb.med.br/site>. Acesso em: 9 de outubro de 2009).

Para demonstrar didaticamente este duplo aspecto da constituição humana, imaginemos, por
exemplo, um enorme canteiro de rosas amarelas. Embora todos os indivíduos do canteiro tenham
características comuns e suficiente para considerá-los e identificá-los como sendo rosas amarelas,
será praticamente impossível encontrar, entre eles, dois exemplares exatamente iguais. Portanto,
todos possuem traços individuais; todos têm perfume, pétalas e espinhos. Uns, entretanto, têm
mais perfume, pétalas de tonalidade diferente e espinhos mais realçados que outros. No ser humano
normal também podemos encontrar como características universais a angústia, a ambição, o
amor, o ódio, o ciúme etc. Entretanto, em cada um de nós esses traços combinar-se-ão de maneira
completamente singular. (BALLONE, G. J. Teoria da Personalidade. Em: <http://www.psiqweb.
med.br/site>. Acesso em: 9 de outubro de 2009).

Assim, podemos afirmar que os seres humanos são essencialmente iguais e funcionalmente
diferentes, ou seja, podemos nos considerar iguais uns aos outros quanto à nossa essência humana
(ontologicamente), entretanto, funcionamos diferentemente uns dos outros. Todas as tendências
ideológicas que enfatizam a igualdade dos seres humanos, num total descaso para com as diferenças
funcionais, ecoam aos ouvidos despreparados com eloquente beleza retórica, romântica, ética
e moral. Transportando tais ideais do papel para a prática, sucumbem diante de incontáveis
evidências em contrário: não resistem à constatação das flagrantes e involuntárias diferenças entre
os indivíduos, bem como não explicam a indomável característica humana que é a perene vocação
das pessoas em querer se destacar dos demais. (BALLONE, G. J. Teoria da Personalidade. Em:
<http://www.psiqweb.med.br/site>. Acesso em: 9 de outubro de 2009).

Principais fatores do desenvolvimento humano

Hereditariedade
A carga genética estabelece o potencial do indivíduo, que pode ou não se desenvolver. Entre as
várias questões tratadas pela genética comportamental, encontra-se aquela que aborda a influência
da hereditariedade nas atividades psicológicas humanas. Seria a inteligência uma característica
transmissível de pai para filho? A personalidade seria herdada? Em que os genes contribuem para a
aprendizagem escolar? E para o comportamento patológico? As questões a esse respeito são muitas
e as respostas ainda provisórias. Ao que parece, de acordo com as várias pesquisas realizadas, não
são as características psicológicas em si que são herdadas, mas um conjunto de programações para
o seu desenvolvimento ou sua construção.

(Revista de Psicofisiologia, 2(1), 1998.

Em:< http://www.icb.ufmg.br/labs/lpf/revista/revista2/ontogenia/cap7.htm>.
Acesso em: 5 de outubro de 2010).

13
UNIDADE I │ TEORIAS DA PERSONALIDADE

Maturação
É o que torna possível determinado padrão de comportamento. É o processo de desenvolvimento
da estrutura biológica do ser humano; depende da hereditariedade, porém sofre influências das
condições ambientais.

Refere-se a padrões de diferenciação, resultando em mudanças ordenadas sequenciais e, algumas


vezes, previsíveis do comportamento humano.

Exemplo: A alfabetização das crianças depende dessa maturação. Para segurar o lápis e manejá-lo
como nós, é necessário um desenvolvimento neurológico que a criança de 2, 3 anos não tem.

Meio
Constitui a soma total de estímulos com os quais o organismo interage. As estimulações ambientais
são fundamentais para o processo de desenvolvimento, já que a simples presença de uma estrutura
geneticamente determinada é condição necessária, mas não suficiente, para o desenvolvimento
individual. (Revista de Psicofisiologia, 2(1), 1998. Em: <http://www.icb.ufmg.br/labs/lpf/revista/
revista2/ontogenia/cap7.htm>. Acesso em: 5 de outubro de 2010.)

O ser humano, desde a concepção, é estimulado pelo meio no qual se encontra inserido.

O meio pré-natal: condições ambientais anteriores ao nascimento (condições físicas da mãe,


dietas, nutrição, planejamento da gestação).

O meio intracelular: é aquele ambiente de dentro da célula fecundada, formado pelo citoplasma
que envolve os genes. A estrutura citoplasmática influenciará a atuação dos genes, da mesma forma
que estes podem funcionar como catalisadores e mudar a química citoplasmática.

O meio intercelular ou meio ambiente: existente entre as várias células do organismo, exerce
influência definitiva na diversificação das células que irão compor os órgãos e tecidos do embrião.

O meio físico-geográfico e o meio sócio-histórico, que atuam logo após o nascimento, são
outras formas de ambiente que apresentam uma influência decisiva na decodificação genética.

Sociedade
Um grupo de pessoas diferentes umas das outras; desenvolve padrões de comportamento e transmite
a seus membros, formando sua cultura.

Cultura
São valores, atitudes, crenças, costumes; determina padrões de comportamentos por meio dos papéis
sociais e influencia o processo psicológico dos seus membros (motivação, percepção, pensamento
etc.); é dinâmica, não elimina as diferenças individuais.

14
TEORIAS DA PERSONALIDADE │ UNIDADE I

Interação dos fatores hereditários e o meio


ambiente
São estas algumas características dos fatores hereditários.

»» Não se processa da mesma maneira para todos os indivíduos.

»» Os fatores hereditários e o meio não atuam isoladamente, há uma contínua


interação no desenvolvimento das características do ser humano: quer biológicas,
quer psicológicas.

»» A interação da hereditariedade e do meio é diferente nas diversas fases de


desenvolvimento (pré-natal, infância, adolescência e adulta).

15
capítulo 2
Teorias psicológicas

Teoria comportamental
O empirismo, aliado ao positivismo, que propõe como ideal de objetividade a utilização de uma
metodologia experimental com vistas na elaboração de leis gerais, fundaram a base epistemológica
e metodológica do behaviorismo que marcou a ruptura com o objeto tradicional da Psicologia – a
alma, o espírito, a consciência, os fenômenos psíquicos. Para os behavioristas, o objeto de estudo
da Psicologia é o comportamento ou as reações observáveis de um organismo pelas respostas e
estímulos do meio ambiente, também observáveis. A evidência científica, para o behaviorismo,
é justamente a crença na possibilidade do controle objetivo do estímulo do meio ambiente na
determinação de respostas do indivíduo a tais estímulos. Como coloca Fadiman e Frager (1986),
para Skinner a personalidade é definida como uma coleção de padrões de comportamento, assim,
situações diferentes evocam diferentes padrões de respostas.

Nessa perspectiva, o que se observa é que o comportamento humano é não só fracionado em seus
elementos constituintes, ou seja, em (E-R) estímulos e respostas, como também é totalmente
formado a partir de estimulações do meio. Assim, todo e qualquer comportamento pode ser previsto,
bastando que para isso se estabeleçam relações funcionais com o ambiente.

Como se vê, o behaviorismo é uma psicologia da base mecanicista, ou seja, uma psicologia que
reduz todo comportamento a sequências mecânicas ou respostas condicionadas, refletindo a crença
na possibilidade de manipulação do comportamento humano. Seus principais representantes são:
John Watson (1878-1958) e Skinner (1904-1990), entre outros.

Teorias de campo
A Psicologia da Gestalt ou Psicologia da Forma, uma das principais representantes desse grupo
de teorias, nasceu na Alemanha, tendo como base epistemológica o racionalismo e o idealismo.
A Psicologia da Gestalt surgiu como uma reação à psicologia elementarista que explicava o
comportamento mediante o seu fracionamento em estímulos e respostas.

(PORTELA L. A construção do Conhecimento Psicológico. Em: <http://www.manancialvox.com/


diversos/A-construcao-do-conhecimento-psicologico.txt>. Acesso em: 5 de outubro de 2010).

Wundt já percebera a natureza complexa dos três elementos (imagens, pensamento e sentimentos)
que formavam a estrutura da mente. O princípio mais importante da abordagem gestáltica é que a
análise das partes nunca irá proporcionar a compreensão do todo, uma vez que o todo será definido
pelas interações das partes. (BALLONE, G J. Friederich Perls. Em: <http://www.psiqweb.med.br/
site>. Acesso em: 9 de outubro de 2010).

16
TEORIAS DA PERSONALIDADE │ UNIDADE I

Nessa perspectiva, os comportamentos e as experiências humanas não são fracionáveis, uma vez
que, segundo essa visão, o todo não é a soma das partes, do mesmo modo que o simples ajustamento
de notas musicais, por exemplo, não faz a melodia. Segundo a Gestalt, o ser humano é dotado, então,
de estruturas pré-formadas que determinam e condicionam todas as suas experiências perceptuais.
Os principais gestaltistas foram Perls (1893-1970), Wertheimer (1880-1943), Köhler (1887-1967),
Koffka (1886-1941) e Kurt Lewin (1890-1947).

Teorias psicanalíticas e neopsicanalíticas


Fundada por Sigmund Freud (1856-1939), a teoria psicanalítica não se desenvolveu no ambiente da
história da Psicologia, mas no da Medicina. O interesse de Freud era descobrir as causas da doença
mental. De início, Freud buscou causas orgânicas, lesões cerebrais, ou fatores patogênicos para as
neuroses e psicoses, tal qual a orientação desenvolvida pela medicina experimental. Fortemente
influenciado por Charcot, médico francês que fez uso da sugestão hipnótica no tratamento da
histeria, Freud põe em dúvida a abordagem organicista da psiquiatria da época e passa a utilizar
uma abordagem psicológica para o estudo da doença mental. Apesar de usar o modelo cartesiano
de ciência, discorda dos racionalistas no que se refere à razão humana. Para Freud, o homem é
grandemente comandado pelo inconsciente, sendo que a consciência lógica e racional representa uma
fina camada sobre um vasto domínio de forças instintivas e inconscientes. A Psicanálise de Freud é a
base do surgimento de outros teóricos, tais como Erick Erickson (1950), Margareth Mahler (1977),
Spitz (1954), Jung (1961), entre outros. (PORTELA L. A construção do Conhecimento Psicológico.
Em: <http://www.manancialvox.com/diversos/A-construcao-do-conhecimento-psicologico.txt>.
Acesso em: 5 de outubro de 2010).

Teorias fenomenológicas e humanistas


Está relacionada com o criticismo kantiano e com seus desdobramentos, por meio do idealismo e da
fenomenologia. Isso significa dizer que essa matriz epistemológica postula uma consciência a priori
intencional, ou seja, uma consciência constituída pela relação sujeito-objeto. Nessa perspectiva, o
sujeito individual torna-se a origem e o fim do conhecimento, atrelando a si o objeto e retirando-lhe
toda existência autônoma.

As teorias psicológicas fenomenológicas e humanistas representam, com tal eixo epistemológico,


uma alternativa ao reducionismo behaviorista – que tenta explicar todo comportamento humano por
meio de estímulos e respostas – e, ao mesmo tempo, uma reação à irracionalidade psicanalítica, que
postula o inconsciente como mola mestra das atividades humanas. Essas teorias não compreendem
o homem em termos mecanicistas ou em termos irracionalistas e enfatizam a pessoa como um ser
que direciona e evolui por suas experiências e valores, visando, antes de tudo, ao seu próprio bem-
estar neste mundo e à sua realização pessoal. Entre outros, podemos citar como representantes das
teorias humanistas e fenomenológicas: Maslow (1972), Rogers (1975) e Combs (1975).

17
UNIDADE I │ TEORIAS DA PERSONALIDADE

Teorias psicogenéticas
Jean Piaget (1896-1980), Vygotsky (1896-1934), Leontiev (1903-1979), Luria (1902-1977) e Wallon
(1879-1962) têm sido considerados os mais eminentes de um grupo de teóricos que procuram
explicar o comportamento humano dentro de uma perspectiva na qual sujeito e objeto interagem
em um processo que resulta na construção e reconstrução de estruturas cognitivas. São os chamados
teóricos interacionistas.

No interacionismo, a interação dá-se entre o sujeito e o objeto para a construção do psiquismo do


sujeito e para a construção dos próprios objetos. Este processo interacionista não pode ser, em
hipótese alguma, confundido com a atualização progressiva de pré-formações, característica da
perspectiva maturacional, e nem tão pouco pode ser comparado com uma atuação mecânica do
objeto sobre o sujeito, característica do comportamentismo. Deve ser considerado como constituído
por construções autênticas em que uma estrutura é precondição para a estrutura subsequente, como
foi uma ampliação da estrutura anterior.

18
capítulo 3
Teorias da Personalidade

»» Vida & obra de Jung – Nise da Silveira. Ed. Paz e terra (livro de leitura leve e
fácil onde Nise traz ao leitor uma visão das dimensões da vida psíquica segundo
a obra de Jung. Interessa psicólogos, educadores e artistas).

»» Piaget, Vygotsky e Wallon teorias psicogenéticas em discussão – Yves de


La Taille, Marta Kohl de Oliveira e Heloysa Dantas. Ed. Summus editorial
(fantástico e leitura obrigatória para quem atua na educação. O livro aborda o
funcionamento psicológico em sua origem e evolução. Os textos apresentados
tratam das relações entre fatores psicológicos, biológicos e sociais no
desenvolvimento).

»» Noções básicas de psicanálise introdução à psicologia psicanalítica


– Charles Brenner. Ed. Imago (livro adotado em várias universidades de
medicina, psicologia e assistência social do mundo – já foi traduzido para nove
idiomas! Descreve de forma clara e concisa as bases da teoria psicanalítica
complementando com a apresentação de casos clínicos pertinentes).

Freud e a psicanálise
»» Primeiro Tópico – contexto epistemológico que Freud trabalhou na segunda
metade do séc. XIX; era um contexto impregnado de trabalhos neurofisiológicos
relativos às localizações cerebrais de funções.

›› O consciente: Tem a função de recepcionar as informações provenientes do


exterior e do interior, mas sem conservar nenhum traço, nenhuma marca duradoura
dessas informações. A consciência será um fato fugaz, e nunca um arquivo. Essas
informações excitarão, no sistema Consciente, uma espécie de registro qualitativo
sensível ao prazer e ao desprazer. O sistema Consciente cuida dos processos do
pensamento e do juízo, e funciona em conjunção com o Inconsciente.

›› O pré-consciente: O Pré-Consciente é claramente diverso do sistema


Inconsciente, mas está articulado ao sistema Consciente. Por estar localizado
próximo ao campo Consciente, o Pré-Consciente funciona como um pequeno
arquivo, sem que por isso se assemelhe ao Inconsciente. Sua principal
característica é que seus conteúdos podem ser recuperados por um ato da
vontade, o que não ocorre com os do Inconsciente. Um conteúdo mental qualquer
pode ser consciente ou inconsciente. Mas bastará um ato da vontade para fazê-
lo entrar ou não na Consciência. Se isto foi possível, é porque o conteúdo estava
no Pré-Consciente (diz-se, então, que o conteúdo estava reprimido); se não foi

19
UNIDADE I │ TEORIAS DA PERSONALIDADE

possível, a sua localização era no Inconsciente (diz-se que o conteúdo estava


recalcado). O que caracteriza o Pré-Consciente é a capacidade voluntária de se
chegar a ele.

›› O inconsciente: O ato da consciência é momentâneo, circunstancial. Isso


significa que há elementos que nesse momento se encontram fora da Consciência.
Fenomenologicamente, o que está fora da Consciência. É a parte mais arcaica
do aparelho psíquico. O Inconsciente contém as “representações de coisa”, que
são fragmentos de reproduções de antigas percepções. Essas representações
funcionam como um arquivo sensorial, um registro sensorial, ou ainda, como
um conjunto de elementos despidos de palavras. São as coisas, reduzidas a seus
traços constitutivos essenciais, tal como se inscreveram, numa época em que não
existiam palavras para designá-las. Essas representações se referem a todos os
sentidos, auditivo, gustativo, olfativo, tátil e visual.

»» Segundo Tópico – A partir de 1920, especificamente após seu polêmico artigo


“Além do Princípio do Prazer”, Freud elabora sua segunda e definitiva concepção do
aparelho psíquico, chamada Segundo Tópico.

›› O Id: Esta é a única instância, no segundo tópico, que tem seu exato equivalente
no Primeiro Tópico. O Id é o polo psicobiológico da personalidade, constituído
fundamentalmente por pulsões. O Id é reservatório e fonte da energia psíquica,
sendo que as outras duas instâncias são originárias dele. Freud assinala que essa é
a parte mais escura e impenetrável da nossa personalidade. O Id é ocupado pelos
instintos de vida e de morte, o primeiro dos quais contém em si as pulsões sexuais
e de autoconservação. É regido pelo Princípio do Prazer (O Id não pensa, age).

›› O Ego: O Ego é a instância central da Personalidade e constitui o polo


psicológico por excelência. A origem do Ego está no Id em contato com o
mundo exterior. É uma organização que sempre aparece como tendendo a uma
unidade, que funciona proporcionando à pessoa estabilidade e identidade.
Está a serviço da autoconservação na medida em que concilia, em seu “palco”,
exigências procedentes do Id, do Superego e do mundo exterior. O Ego atua
como um amortecedor das exigências instintivas procedentes do Id, adaptando-
as à realidade externa. É considerado o polo defensivo da personalidade, cuja
representação máxima é a ação repressiva que se manifesta clinicamente como
resistência (mecanismos de defesa). Resistência esta que se apresenta como
uma ação defensiva do Ego contra a emergência de conteúdos inconscientes que
ameaçam a estabilidade psíquica. É regido pelo Princípio da Realidade (O Ego é
o eu, o que se manifesta).

›› O Superego: O Superego é herdeiro do Complexo de Édipo, o que vem significar


que é subsequente a esse período, e está constituído pelo precipitado das
identificações com exigências e proibições dos pais. Observe-se que o Superego
não é a interiorização dos pais, como às vezes se compreende literalmente. O
Superego está construído por aspectos dos pais, e muito mais ainda: o Superego

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TEORIAS DA PERSONALIDADE │ UNIDADE I

está identificado com o Superego dos próprios pais. Por tal motivo, encontram-
se no superego os valores ditados pela cultura em que viveu o sujeito. Além
dos valores, encontra-se também o que nomeamos ideologia ou ideologias,
conjunto de crenças e preconceitos carregados afetivamente e que se impõem,
como mandamentos éticos. O Superego é quem indica, assinala, determina e
estabelece, a partir da história infantil do sujeito, o que ele deve fazer, preferir ou
desejar. (o Superego é a razão, o juízo de valor).

›› Instinto: Comportamentos hereditários, sobretudo, fixos, característicos da


espécie. A finalidade de um instinto é sempre a satisfação, que só pode ser obtida
eliminando-se o estado de estimulação na fonte do instinto.

›› Pulsão: Exprime uma ideia de urgência. É o alcance ou a obtenção da descarga


de energia (satisfação). Toda Pulsão tem uma Fonte, um Objeto e uma Finalidade.
FONTE – o processo somático que ocorre num órgão ou parte do corpo. Parte
erógena do corpo que mais traz excitação. OBJETO – é a coisa em relação à qual
ou por meio da qual o instinto é capaz de atingir sua finalidade. FINALIDADE –
é a remoção da excitação do corpo, do desejo. É o alvo.

Etapas da evolução psicossexual:


características da sexualidade infantil
O conceito de sexualidade em Freud tem, sem nenhuma dúvida, um suporte biológico, e a sexualidade
aparece como secundária, como manifestação cuja ordem de importância vem depois de serem
atendidas as necessidades básicas de sobrevivência.

Esta sexualidade ainda tem pouco a ver com a genitalidade, pois está ligada a carinho, a afeto, a
modalidades de relacionamento, ou seja, significações. Portanto, sexualidade infantil não tem
nada a ver com a sexualidade adulta.

Estágio oral: (0 a 1 ano)


»» A fonte corporal das excitações pulsionais dá-se predominantemente na zona bucal.
A boca não é apenas aquela cavidade anatômica que cumpre determinadas funções
de ordem biológica, mas também qualquer outro sistema ou atividade corporal
que preencha os requisitos essenciais deste modelo: corpo oco, aconchegante, com
movimentos de inclusão e expulsão etc., será entendido como boca.

»» É pela boca que se mobilizará na luta pela preservação do equilíbrio com o meio,
provando e conhecendo o mundo.

»» O Objeto da etapa oral é o seio, ou seja, tudo aquilo que se refere ao seio materno
ou o substitui. “Seios” também são os braços da mãe, os músculos que seguram o
neném, a voz que fala contemporaneamente à incorporação do leite.

21
UNIDADE I │ TEORIAS DA PERSONALIDADE

»» O seio é sua primeira e mais importante descoberta afetiva. A criança ama com a
boca e a mãe ama com o seio. A criança incorpora a mãe e o seio e sente ter a mãe
dentro de si.

»» A mãe é mais que um conceito, é uma função. Chamamos de mãe todo ser humano
que alimenta o neném e lhe proporciona calor, sustentação espacial, contato
dérmico, estímulos auditivos etc. Essas funções podem ser realizadas por qualquer
pessoa, independentemente de sexo, idade ou vínculo de parentesco com a criança.

»» Os reflexos inatos de busca de alimentos são fundamentais para sua sobrevivência,


mas a criança sente um grande prazer no ato de mamar em si. É este vínculo inicial
de prazer em si que constituirá a base das futuras ligações afetivas.

»» Se não houver suficiente gratificação oral, alguma energia libidinal pode ficar fixada
nesta fase, repercutindo em futuros comportamentos orais (fumar, comer demais,
beber).

Estágio anal: (1 a 3 anos)


»» A fonte de erotização é o ânus. A defecação ocupa um lugar importantíssimo no
desenvolvimento psicossexual da criança.

»» Caracteriza-se pela satisfação da criança em expulsar e reter as fezes, resultado do


controle muscular e estimulação das membranas mucosas da região anal.

»» Maturação do controle muscular (andar, falar e controle esfincteriano).

»» As fezes passam a ser vivenciadas como conteúdos internos que são exteriorizados.
A criança sente que tem algo seu que pode ofertar ou negar ao mundo (andar e
falar).

»» As fezes, na sua fantasia, são como partes de si mesma e geram prazer ao serem
produzidas, sendo dadas aos pais como presentes ou recompensas (treino
esfincteriano). Se o ambiente é hostil, são recusadas.

»» Quando a criança ama e sente que é amada pelos pais, cada elemento que produz é
sentido como bom e valorizado.

»» Se seus produtos são encarados como armas destrutivas, que agridem o mundo cada
vez que são produzidos (mãe neurótica que entra em pânico cada vez que a criança
suja as fraldas), sua tendência é expelir para fora tudo o que tem de ruim. Então,
o mundo torna-se depositário de suas agressões, tornando-se mau, destruidor e
perseguidor (paranoia).

»» A criança pode, também, reter e controlar seus produtos, se estes gerarem angústia.
Passa a exercer um controle sobre o que pode liberar e sobre as pessoas a quem

22
TEORIAS DA PERSONALIDADE │ UNIDADE I

liberará sua produção. O amor e o afeto são substituídos pelo controle e pela
organização, acabando por robotizar-se nas ritualizações frias e formais (estrutura
obsessiva).

Estágio fálico: (3 a 5 anos)


»» Estágio em que os órgãos genitais serão alvo da concentração energética pulsional.
Não existe, por parte da criança, uma conscientização da diferença anatômica. Como
o nome do estágio indica, é o órgão anatômico masculino que adquire o monopólio
de ser o único valor de existência, tanto para o menino, que realmente o possui,
quanto para a menina, que dele carece.

»» A zona erógena está localizada nas genitálias.

»» O que acontece neste estágio de desenvolvimento, é que a “descoberta” não é


propriamente uma descoberta. Na realidade a diferença não é percebida, e sim
negada, e, em consequência, tanto meninos quanto meninas acreditam “ver” o
pênis mesmo onde ele não existe.

»» No menino – há a recusa em aceitar a castração e, portanto, a negação do sexo


feminino. O menino “não poderá” aceitar o sexo oposto porque aceitá-lo implicará
o fato de que também ele poderia perder o pênis. Ele organizará sua personalidade
em torno de um forte medo de perder algo valioso para ele – o temor da castração.

»» Na menina – existe igualmente uma recusa em aceitar a castração. A menina


faz a fantasia de que ela também possui um pênis, só que “não está totalmente
desenvolvido”, apoiando esta afirmação na existência do clitóris. Tanto o menino
quanto meninas compartilham a fantasia de que só um sexo existe. A menina após
a constatação da ausência real e concreta de um pênis, depois da comparação por
observação do sexo oposto, organizará a sua personalidade em torno de um forte
anseio de suprir, preencher essa falta. A mulher tem inveja do pênis.

Período de latência: (5 a 12 anos)


»» É produto direto do não que institui a finalização do Complexo de Édipo.

»» Repressão da energia sexual, fruto da repressão do Édipo, sendo que a libido


acaba sendo canalizada para o desenvolvimento intelectual e social da criança
(sublimação). Eis aqui o porquê de ser este o período da escolaridade, do
aprendizado, das operações matemáticas e gramaticais e, simultaneamente, o de
um intenso contato múltiplo com objetos reais-concretos que funcionam como
substitutivos dos objetos primários mãe, pai, irmãos etc. Daí ser este um período
de socialização.

»» A sexualidade fica adormecida.

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UNIDADE I │ TEORIAS DA PERSONALIDADE

»» A identificação com o progenitor do mesmo sexo se estende a outros do mesmo


sexo, fazendo com que as interações predominantes sejam com os membros do
mesmo sexo.

Estágio genital: (12 a 18 anos)


»» Ocorre um amadurecimento físico que proporciona ao sujeito a possibilidade
efetiva de concretizar sua sexualidade genital.

»» Intimidade sexual madura; procriação como fonte de prazer.

»» Trabalho, produção, realização de filiações significativas com profissões, partidos


políticos, religiões, como sublimações de sua capacidade de amar.

»» Uma característica típica deste período é a revolta juvenil contra a autoridade, e, em


primeiro lugar, a dos pais.

»» O adolescente não aceita obedecer e questiona ativamente a autoridade,


fundamentação da ordem estabelecida. Este repúdio é correlato a autolegitimação
de si mesmo como autoridade e, portanto, somente ele é quem pode decidir o que é
bom e o que é mau. Só ele tem o direito de determinar o que é liberdade ou a falta
dela.

»» Essa necessidade de contestação é quase uma formação reativa perante à


desvalorização e à inferioridade em que se encontra o adolescente. O grupo oferece
ao adolescente uma possibilidade de identificação múltipla, assim como uma
descentralização do interesse voltado para si próprio.

Friederich Perls e a Gestalt


Perls definia a saúde e a maturidade psicológicas como sendo a capacidade de emergir do apoio e da
regulação ambientais para um autoapoio e uma autorregulação. O processo terapêutico representa
um esforço na direção desta emergência. O elemento crucial no autoapoio e na autorregulação
é o equilíbrio. Uma das proposições básicas da teoria da Gestalt é que todo organismo possui a
capacidade de realizar um equilíbrio ótimo consigo e com seu meio. As condições para realizar esse
equilíbrio envolvem uma conscientização desobstruída da hierarquia de necessidades. (BALLONE
G. J. Friederich Perls. Em: <http://www.psiqweb.med.br/site>. Acesso em: 9 de outubro de 2010).

Ao acentuar a natureza do autoapoio e da autorregulação do bem-estar psicológico, Perls não quer


dizer que o indivíduo pode existir, de algum modo, separado de seu meio ambiente. Na verdade,
o equilíbrio orgânico supõe uma constante interação com o meio. O ponto crucial para Perls
é que podemos escolher a maneira como nos relacionamos com o meio. Somos autoapoiados e

24
TEORIAS DA PERSONALIDADE │ UNIDADE I

autorregulados quanto ao fato de que reconhecemos nossa própria capacidade de determinar como
nos apoiamos e regulamos em um campo que inclui muito mais do que nós mesmos. (BALLONE
G. J. Friederich Perls. Em: <http://www.psiqweb.med.br/site>. Acesso em: 9 de outubro de 2010).

Perls descreve vários modos pelos quais se realiza o crescimento psicológico. O primeiro envolve
o completar situações ou resolver gestalten inacabadas. Ele também sugere que a neurose pode
ser vagamente considerada como um tipo de estrutura em cinco camadas, e que o crescimento
psicológico (e eventualmente a libertação da neurose) ocorre na passagem através destas cinco
camadas. (BALLONE G. J. Friederich Perls. Em: <http://www.psiqweb.med.br/site>. Acesso em:
9 de outubro de 2010).

Perls denomina a primeira camada de camada dos clichês ou da existência dos sinais. Ela inclui
todos os sinais de contato: “bom-dia”, “oi”, “o tempo está bom, não é?” A segunda camada é a dos
papéis ou jogos. É a camada do “como se” em que as pessoas fingem que são aquelas que gostariam
de ser. Assim, o homem de negócios sempre competente, a menininha sempre bonitinha, a pessoa
muito importante.

Depois de termos reorganizado essas duas camadas, Perls sugere que alcançamos a camada do
impasse, também denominada camada da antiexistência ou do evitar fóbico. Aqui, experienciamos
o vazio, o nada; é o ponto em que, geralmente, interrompemos nossa tomada de consciência e
retrocedemos à camada dos papéis para evitarmos o nada. Se, no entanto, formos capazes de manter
nossa autoconsciência neste vazio, alcançaremos a morte ou camada implosiva. Essa camada aparece
como morte ou medo da morte, pois consiste numa paralisia de forças opostas. Experienciando essa
camada contraímo-nos e comprimimo-nos, ou seja, implodimos. No entanto, se pudermos ficar
em contato com esta morte, alcançaremos a última camada, a camada explosiva. Perls sugere que
a tomada de consciência deste nível constitui a emergência da pessoa autêntica, do verdadeiro self,
da pessoa capaz de experienciar e expressar suas emoções. (BALLONE G. J. Friederich Perls. Em:
<http://www.psiqweb.med.br/site>. Acesso em: 9 de outubro de 2010).

Existem quatro tipos de explosões que o indivíduo pode experienciar ao emergir da camada da
morte. Existe a explosão em pesar, que envolve o trabalho com uma perda ou morte que não
tinha sido previamente assimilada. Existe a explosão em orgasmo em pessoas sexualmente
bloqueadas. Existe a explosão em raiva, quando sua expressão foi reprimida e, por fim, existe a
explosão de alegria e riso, alegria de viver.

A estrutura de nossos papéis é coesiva, pois destina-se a absorver e a controlar a energia destas
explosões. A concepção errônea básica de que essa energia precisa ser controlada deriva de nosso
medo do vazio e do nada (terceira camada). Interpretamos a experiência de um vazio como sendo
um vazio estéril e não um vazio fecundo. Perls sugere que as filosofias orientais, a filosofia Zen em
particular, têm muito a nos ensinar a respeito da experiência do nada, positiva e geradora de vida,
e a respeito da importância de permitirmos a experiência do nada sem interrompê-la. Em todas as
suas descrições de como um indivíduo se desenvolve, Perls mantém a ideia de que a mudança não
pode ser forçada e que o crescimento psicológico é um processo natural e espontâneo. (BALLONE
G. J. Friederich Perls. Em: <http://www.psiqweb.med.br/site>. Acesso em: 9 de outubro de 2010).

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UNIDADE I │ TEORIAS DA PERSONALIDADE

Dinâmica patológica
Perls considera a fuga da conscientização e a consequente rigidez da percepção e do comportamento
como os maiores obstáculos ao crescimento psicológico. Os neuróticos (aqueles que interrompem
seu próprio crescimento) não podem ver claramente suas necessidades e tampouco podem
distinguir de forma apropriada entre eles e o resto do mundo. Em consequência, são incapazes de
encontrar e manter um equilíbrio adequado entre eles próprios e o resto do mundo. A forma que este
desequilíbrio geralmente toma é a pessoa sentir que os limites sociais e ambientais penetram muito
fundo, dentro dela mesma; a neurose consiste em manobras defensivas destinadas ao equilíbrio e à
proteção contra este mundo invasor. (BALLONE G. J. Friederich Perls. Em: <http://www.psiqweb.
med.br/site>. Acesso em: 9 de outubro de 2010).

Perls sugere que existem quatro mecanismos neuróticos básicos, ou distúrbios de limites capazes
de impedir o crescimento: introjeção, projeção, confluência e retroflexão. (Na estrutura
em cinco camadas da neurose, estes mecanismos de defesa operam basicamente na segunda e
terceira camadas). Entre as teorias de Freud e de Perls alguns dos correlatos podem ser facilmente
encontrados. Esses pontos de congruência podem ser vistos: na Catexia de Freud, correspondendo à
figura-fundo de Perls; na libido de Freud, correspondendo à excitação básica de Perls; na associação
livre de Freud, correspondendo ao continuum de consciência de Perls; na consciência de Freud,
conscientização de Perls, no enfoque de Freud na resistência e o enfoque de Perls na fuga da
conscientização; na compulsão à repetição de Freud e as situações inacabadas de Perls; na regressão
de Freud, correspondendo ao retraimento do meio ambiente de Perls; no terapeuta que permite e
encoraja a transferência em Freud, e no terapeuta que é um “habilidoso frustrador” em Perls; na
configuração neurótica de defesa contra impulsos de Freud, e na formação rígida da gestalten de
Perls; na projeção transferencial de Freud e na projeção de Perls, e assim por diante. (BALLONE
G. J. Friederich Perls. Em: <http://www.psiqweb.med.br/site>. Acesso em: 9 de outubro de 2010).

Introjeção
Introjeção ou “engolir tudo” é o mecanismo pelo qual os indivíduos incorporam padrões, atitudes e
modos de agir e de pensar que não são deles próprios e que não assimilam ou digerem o suficiente
para torná-los seus. Um dos efeitos prejudiciais da introjeção é que os indivíduos introjetivos
acham muito difícil distinguir entre o que realmente sentem e o que os outros querem que eles
sintam, ou simplesmente o que os outros sentem. A introjeção também pode constituir uma força
desintegradora da personalidade, uma vez que quando os conceitos e as atitudes engolidos são
incompatíveis uns com os outros, os indivíduos introjetivos tornar-se-ão divididos. (BALLONE G.
J. Friederich Perls. Em: <http://www.psiqweb.med.br/site>. Acesso em: 9 de outubro de 2010).

Projeção
Outro mecanismo neurótico é a projeção que, num certo sentido, é o oposto da introjeção. A projeção
é a tendência de responsabilizar os outros pelo que se origina no self. Envolve um repúdio de seus

26
TEORIAS DA PERSONALIDADE │ UNIDADE I

próprios impulsos, desejos e comportamentos, colocando fora o que pertence ao self. Perls chama
a atenção para a distinção entre a projeção como processo patológico e a suposição baseada na
observação, que é normal e saudável. Na doença a pessoa seria governada pelas projeções, falhando
em reconhecê-las como hipóteses, perdendo os próprios limites e confundindo-se em termos de
identidade pessoal. (BALLONE G. J. Friederich Perls. Em: <http://www.psiqweb.med.br/site>.
Acesso em: 9 de outubro de 2010).

O conceito de projeção como uma disfunção de contato do sujeito com o objeto tem sido motivo
de estudos aprofundados por parte dos teóricos da Gestalt-terapia, desde que Perls a definiu como
sendo uma tendência para se desapropriar dos próprios impulsos, uma inclinação em negar e não
aceitar as partes da nossa personalidade que consideramos difíceis, ofensivas ou sem atrativos.
Com a Projeção esperamos nos livrar de aspectos intoleráveis do self (de nós mesmos) e de nossos
conflitos íntimos. A pessoa que projeta não pode aceitar seus sentimentos e ações e, por isso, os
atribui a outra pessoa e aí, então, pode reconhecê-los e até criticá-los. O trabalho do terapeuta é
ajudar a pessoa a recuperar pedaços de sua própria identidade, pedaços estes que se encontram
projetados muito outros. (BALLONE G. J. Friederich Perls. Em: <http://www.psiqweb.med.br/
site>. Acesso em: 9 de outubro de 2010).

Confluência
O terceiro mecanismo neurótico é a Confluência. Na confluência, os indivíduos não experienciam
nenhum limite entre eles mesmos e o meio ambiente. A confluência torna impossível um ritmo
saudável de contato e de fuga, visto que tanto o primeiro quanto o segundo pressupõem um outro.
Esse mecanismo também impossibilita a tolerância das diferenças entre as pessoas, uma vez que
os indivíduos que experienciam a confluência não podem aceitar um senso de limites e, portanto, a
diferenciação entre si mesmo e as outras pessoas. (BALLONE G. J. Friederich Perls. Em: <http://
www.psiqweb.med.br/site>. Acesso em: 9 de outubro de 2010).

Retroflexão
O quarto mecanismo neurótico é a Retroflexão, que significa se voltar de forma ríspida contra. As
pessoas retroflexoras voltam-se contra si mesmas e, ao invés de dirigir suas energias para mudança
e manipulação de seu ambiente, dirigem essas energias para si próprios. Dividem-se e tornam-se
sujeito e objeto de todas suas ações e passam a ser o alvo de seu comportamento (BALLONE G. J.
Friederich Perls. Em: <http://www.psiqweb.med.br/site>. Acesso em: 9 de outubro de 2010).

Perls considera a cisão mente-corpo da maioria das psicologias como arbitrária e falaciosa. A
atividade mental é simplesmente uma atividade que funciona em nível menos intenso que a atividade
física. Assim, nossos corpos são manifestações diretas de quem somos e pela simples observação
de nossos comportamentos físicos, tipo postura, respiração, movimentos etc., podemos aprender
muito sobre nós mesmos. (BALLONE G. J. Friederich Perls. Em: <http://www.psiqweb.med.br/
site>. Acesso em: 9 de outubro de 2010).

27
UNIDADE I │ TEORIAS DA PERSONALIDADE

Perls considera o indivíduo como participante de um campo do qual ele é, embora diferenciado,
também inseparável. As funções de contato e fuga são cruciais na determinação da existência de
um indivíduo e esse aspecto de contato e fuga do meio ambiente inclui o relacionamento com
outras pessoas. Na verdade, o sentido de pertencer a um grupo, segundo Perls, é o nosso principal
impulso de sobrevivência psicológica. A neurose resulta da rigidez na definição do limite de contato
em relação às outras pessoas e de uma inabilidade em encontrar e manter o equilíbrio com eles.
(BALLONE G. J. Friederich Perls. Em: <http://www.psiqweb.med.br/site>. Acesso em: 9 de
outubro de 2010).

Perls acentua muito a importância de a pessoa estar consciente de suas preferências e de ser capaz
de agir sobre elas. O conhecimento de suas próprias preferências leva ao conhecimento de suas
necessidades; a emergência da necessidade dominante é experienciada como preferência pelo
que satisfará a necessidade. A discussão de Perls sobre preferência está muito próxima do que se
chama de vontade. Ao usar o termo “preferência”, Perls está enfatizando a qualidade natural e
organísmica da vontade saudável. O “querer” é simplesmente uma das várias atividades mentais;
acarreta a limitação de consciência a certas áreas específicas a fim de completar um conjunto de
ações dirigidas para a satisfação de algumas necessidades determinadas (BALLONE G. J. Friederich
Perls. Em: <http://www.psiqweb.med.br/site>. Acesso em: 9 de outubro de 2010).

Perls considera a emoção como a força que fornece energia a toda ação. Emoções são a expressão
de nossa excitação básica, as vias e os modos de expressar nossas escolhas, assim como de satisfazer
nossas necessidades. A emoção diferencia-se de acordo com situações variadas, como, por exemplo,
pelas glândulas suprarrenais em raiva e medo ou pelas glândulas sexuais em libido. A excitação
emocional mobiliza o sistema muscular. Se a expressão muscular da emoção for bloqueada,
criaremos a ansiedade, que é a contenção da excitação. Uma vez ansiosos, tentamos dessensibilizar
nossos sistemas sensoriais a fim de reduzir a excitação criada; é nesse ponto que sintomas como
frigidez, se desenvolvem (BALLONE G. J. Friederich Perls. Em: <http://www.psiqweb.med.br/
site>. Acesso em: 9 de outubro de 2010).

Perls não tinha nenhum interesse em enaltecer o conceito de self a fim de incluir qualquer coisa
além do cotidiano, manifestações óbvias de quem nós somos. Somos quem somos. Maturidade
e saúde psicológica envolvem o sermos capazes de proclamar isto, ao invés de sermos tomados
pelo sentimento de que somos quem deveríamos ser ou quem gostaríamos de ser. Nossos limites
estão constantemente mudando na interação com nossos ambientes. Podemos, dado um certo
nível de consciência, confiar em nossa sabedoria organísmica para definir estes limites e dirigir o
ritmo de contato e fuga em relação ao meio ambiente. A noção de “self’’ ou “eu”, para Perls, não é
estática e objetivável. O “eu” é simplesmente um símbolo para uma função de identificação. O “eu”
identifica-se com qualquer que seja a experiência emergente da figura em primeiro plano; todos os
aspectos do organismo saudável (sensorial, motor, psicológico e assim por diante) identificam-se
temporariamente com a gestalt emergente, e a experiência do “eu” é essa totalidade de identificações.
Função e estrutura, como já vimos antes, são idênticas (BALLONE G. J. Friederich Perls. Em:
<http://www.psiqweb.med.br/site>. Acesso em: 9 de outubro de 2010).

28
TEORIAS DA PERSONALIDADE │ UNIDADE I

Jung e a psicologia analítica

As Atitudes: introversão e extroversão


Os introvertidos concentram-se prioritariamente em seus próprios pensamentos e sentimentos,
em seu mundo interior, tendendo à introspecção. O perigo para tais pessoas é imergir de forma
demasiada em seu mundo interior, perdendo ou tornando tênue o contato com o ambiente externo.
O cientista distraído, estereotipado, é um exemplo claro deste tipo de pessoa absorta em suas
reflexões em notável prejuízo do pragmatismo necessário à adaptação.

Os extrovertidos, por sua vez, envolvem-se com o mundo externo das pessoas e das coisas. Eles
tendem a ser mais sociais e mais conscientes do que acontece à sua volta. Necessitam se proteger
para não serem dominados pelas exterioridades e, ao contrário dos introvertidos, se alienarem de
seus próprios processos internos. Algumas vezes esses indivíduos são tão orientados para os outros
que podem acabar se apoiando quase exclusivamente nas ideias alheias, ao invés de desenvolverem
suas próprias opiniões. (BALLONE G. J. Carl Gustav Jung. Em: <http://www.psiqweb.med.br/
site>. Acesso em: 9 de outubro de 2010).

Jung identificou quatro funções psicológicas que chamou de fundamentais: pensamento, sentimento,
sensação e intuição. E cada uma dessas funções pode ser experienciada tanto de maneira introvertida
quanto extrovertida.

O pensamento
Jung via o pensamento e o sentimento como maneiras alternativas de elaborar julgamentos e tomar
decisões. O Pensamento, por sua vez, está relacionado com a verdade, com julgamentos derivados
de critérios impessoais, lógicos e objetivos. As pessoas nas quais predomina a função do Pensamento
são chamadas de Reflexivas. Esses tipos reflexivos são grandes planejadores e tendem a se agarrar
a seus planos e teorias, ainda que sejam confrontados com contraditória evidência. (BALLONE G.
J. Carl Gustav Jung. Em: <http://www.psiqweb.med.br/site>. Acesso em: 9 de outubro de 2010).

O sentimento
Tipos sentimentais são orientados para o aspecto emocional da experiência. Eles preferem emoções
fortes e intensas ainda que negativas, a experiências apáticas e mornas. A consistência e princípios
abstratos são altamente valorizados pela pessoa sentimental. Para ela, tomar decisões deve ser de
acordo com julgamentos de valores próprios, como, por exemplo, valores do bom ou do mau, do
certo ou do errado, agradável ou desagradável, ao invés de julgar em termos de lógica ou eficiência,
como faz o reflexivo. (BALLONE G. J. Carl Gustav Jung. Em: <http://www.psiqweb.med.br/site>.
Acesso em: 9 de outubro de 2010).

29
UNIDADE I │ TEORIAS DA PERSONALIDADE

A sensação
Jung classifica a sensação e a intuição juntas como as formas de apreender informações,
diferentemente das formas de tomar decisões. A Sensação refere-se a um enfoque na experiência
direta, na percepção de detalhes, de fatos concretos. A Sensação reporta-se ao que uma pessoa pode
ver, tocar, cheirar. É a experiência concreta e tem sempre prioridade sobre a discussão ou a análise
da experiência.

Os tipos sensitivos tendem a responder à situação vivencial imediata, e lidam eficientemente


com todos os tipos de crises e emergências. Em geral eles estão sempre prontos para o momento
atual, adaptam-se facilmente às emergências do cotidiano, trabalham melhor com instrumentos,
aparelhos, veículos e utensílios do que qualquer um dos outros tipos. (BALLONE G. J. Carl Gustav
Jung. Em: <http://www.psiqweb.med.br/site>. Acesso em: 9 de outubro de 2010).

A intuição
A intuição é uma forma de processar informações em termos de experiência passada, objetivos
futuros e processos inconscientes. As implicações da experiência (o que poderia acontecer, o que é
possível) são mais importantes para os intuitivos do que a experiência real por si mesma. Pessoas
fortemente intuitivas dão significado às suas percepções com tamanha rapidez que, via de regra,
não conseguem separar suas interpretações conscientes dos dados sensoriais brutos obtidos. Os
intuitivos processam informação muito depressa e relacionam, de forma automática, a experiência
passada com as informações relevantes da experiência imediata. (BALLONE G. J. Carl Gustav Jung.
Em: <http://www.psiqweb.med.br/site>. Acesso em: 9 de outubro de 2010).

Arquétipos
Dentro do Inconsciente Coletivo existem, segundo Jung, estruturas psíquicas ou Arquétipos. Tais
Arquétipos são formas sem conteúdo próprio que servem para organizar ou canalizar o material
psicológico. Eles se parecem um pouco com leitos de rio secos, cuja forma determina as características
do rio, porém desde que a água começa a fluir por eles. Particularmente comparo os Arquétipos
à porta de uma geladeira nova; existem formas sem conteúdo – em cima formas arredondadas
(você pode colocar ovos, se quiser ou tiver ovos), mais abaixo existe a forma sem conteúdo para
colocar refrigerantes, manteiga, queijo etc., mas isso só acontecerá se a vida ou o meio em que
você existir lhe oferecer tais produtos. De qualquer maneira as formas existem antecipadamente ao
conteúdo. Arquetipicamente existe a forma para colocar Deus, mas isso depende das circunstâncias
existenciais, culturais e pessoais.

Jung também chama os Arquétipos de imagens primordiais, porque eles correspondem


frequentemente a temas mitológicos que reaparecem em contos e lendas populares de épocas e
culturas diferentes. Os mesmos temas podem ser encontrados em sonhos e fantasias de muitos
indivíduos. De acordo com Jung, os Arquétipos, como elementos estruturais e formadores do
inconsciente, dão origem tanto às fantasias individuais quanto às mitologias de um povo.

30
TEORIAS DA PERSONALIDADE │ UNIDADE I

A história de Édipo é uma boa ilustração de um Arquétipo. É um motivo tanto mitológico quanto
psicológico, uma situação arquetípica que lida com o relacionamento do filho com seus pais. Há,
obviamente, muitas outras situações ligadas ao tema, tal como o relacionamento da filha com seus
pais, o relacionamento dos pais com os filhos, relacionamentos entre homem e mulher, irmãos,
irmãs e assim por diante. (BALLONE G. J. Carl Gustav Jung. Em: <http://www.psiqweb.med.br/
site>. Acesso em: 9 de outubro de 2010).

O ego
O Ego é o centro da consciência e um dos maiores Arquétipos da personalidade. Ele fornece um
sentido de consistência e direção em nossas vidas conscientes. Ele tende a se contrapor a qualquer
coisa que possa ameaçar esta frágil consistência da consciência e tenta convencer-nos de que sempre
devemos planejar e analisar conscientemente nossa experiência. Somos levados a crer que o Ego é o
elemento central de toda a psique e chegamos a ignorar sua outra metade, o inconsciente.

De acordo com Jung, a princípio a psique é apenas o inconsciente. O Ego emerge dele e reúne
numerosas experiências e memórias, desenvolvendo a divisão entre o inconsciente e o consciente.
Não há elementos inconscientes no Ego, só conteúdos conscientes derivados da experiência pessoal.
(BALLONE G. J. Carl Gustav Jung. Em: <http://www.psiqweb.med.br/site>. Acesso em: 9 de
outubro de 2010).

A persona
Nossa Persona é a forma pela qual nos apresentamos ao mundo. É o caráter que assumimos; por meio
dela nós nos relacionamos com os outros. A Persona inclui nossos papéis sociais, o tipo de roupa que
escolhemos para usar e nosso estilo de expressão pessoal. A Persona tem aspectos tanto positivos
quanto negativos. Uma Persona dominante pode abafar o indivíduo e aqueles que se identificam
com sua Persona tendem a se ver apenas nos termos superficiais de seus papéis sociais e de sua
fachada. Jung chamou também a Persona de Arquétipo da conformidade. Entretanto, a Persona
não é totalmente negativa. Ela serve para proteger o Ego e a psique das diversas forças e atitudes
sociais que nos invadem. A Persona é também um instrumento precioso para a comunicação. Nos
dramas gregos, as máscaras dos atores, audaciosamente desenhadas, informavam a toda plateia,
ainda que de forma um pouco estereotipada, sobre o caractere as atitudes do papel que cada
ator estava representando. A Persona pode, com frequência, desempenhar um papel importante
em nosso desenvolvimento positivo. À medida que começamos a agir de determinada maneira, a
desempenhar um papel, nosso Ego se altera gradualmente nessa direção. (BALLONE G. J. Carl
Gustav Jung. Em: <http://www.psiqweb.med.br/site>. Acesso em: 9 de outubro de 2010).

Entre os símbolos comumente usados para a Persona, incluem-se os objetos que usamos para nos
cobrir (roupas, véus), símbolos de um papel ocupacional (instrumentos, pasta de documentos) e
símbolos de status (carro, casa, diploma). Esses símbolos foram todos encontrados em sonhos como
representações da Persona. Por exemplo, em sonhos, uma pessoa com Persona forte pode aparecer
vestida de forma exagerada ou constrangida por um excesso de roupas. Uma pessoa com Persona

31
UNIDADE I │ TEORIAS DA PERSONALIDADE

fraca poderia aparecer despida e exposta. Uma expressão possível de uma Persona extremamente
inadequada seria o fato de não ter pele. (BALLONE G. J. Carl Gustav Jung. Em: <http://www.
psiqweb.med.br/site>. Acesso em: 9 de outubro de 2010).

A Sombra
Para Jung, a Sombra é o centro do Inconsciente Pessoal, o núcleo do material que foi reprimido
da consciência. A Sombra inclui aquelas tendências, desejos, memórias e experiências que são
rejeitadas pelo indivíduo como incompatíveis com a Persona e contrárias aos padrões e ideais sociais.
Quanto mais forte for nossa Persona, e quanto mais nos identificarmos com ela, mais repudiaremos
outras partes de nós mesmos. A Sombra representa aquilo que consideramos inferior em nossa
personalidade e também aquilo que negligenciamos e nunca desenvolvemos em nós mesmos. Em
sonhos, a Sombra frequentemente aparece como um animal, um anão, um vagabundo ou qualquer
outra figura de categoria mais baixa. (BALLONE G. J. Carl Gustav Jung. Em: <http://www.psiqweb.
med.br/site>. Acesso em: 9 de outubro de 2010).

Em seu trabalho sobre repressão e neurose, Freud concentrou-se, de início, naquilo que Jung chama
de Sombra. Jung descobriu que o material reprimido se organiza e se estrutura ao redor da Sombra,
que se torna, em certo sentido, um self negativo, a Sombra do Ego. A Sombra é, via de regra, vivida
em sonhos como uma figura escura, primitiva, hostil ou repelente, porque seus conteúdos foram
violentamente retirados da consciência e aparecem como antagônicos à perspectiva consciente.
Se o material da Sombra for trazido à consciência, ele perde muito de sua natureza de medo, de
desconhecido e de escuridão. (BALLONE G. J. Carl Gustav Jung. Em: <http://www.psiqweb.med.
br/site>. Acesso em: 9 de outubro de 2010).

A Sombra é mais perigosa quando não é reconhecida pelo seu portador. Neste caso, o indivíduo tende a
projetar suas qualidades indesejáveis em outros ou a deixar-se dominar pela Sombra sem o perceber.
Quanto mais o material da Sombra tornar-se consciente, menos ele pode dominar. Entretanto, a
Sombra é uma parte integral de nossa natureza e nunca pode ser simplesmente eliminada. Uma
pessoa sem Sombra não é uma pessoa completa, mas uma caricatura bidimensional que rejeita a
mescla do bom e do mal e a ambivalência presentes em todos nós. Cada porção reprimida da Sombra
representa uma parte de nós mesmos. Nós nos limitamos na mesma proporção que mantemos este
material inconsciente. (BALLONE G. J. Carl Gustav Jung. Em:<http://www.psiqweb.med.br/site>.
Acesso em: 9 de outubro de 2010).

À medida que a Sombra se faz mais consciente, recuperamos partes previamente reprimidas de
nós mesmos. Além disso, a Sombra não é apenas uma força negativa na psique. Ela é um depósito
de considerável energia instintiva, espontaneidade e vitalidade, e é a fonte principal de nossa
criatividade. Assim, como todos os Arquétipos, a Sombra origina-se no Inconsciente Coletivo e pode
permitir acesso individual a grande parte do valioso material inconsciente que é rejeitado pelo Ego
e pela Persona.

No momento em que acharmos que a compreendemos, a Sombra aparecerá de outra forma.


Lidar com a Sombra é um processo que dura a vida toda, consiste em olhar para dentro e refletir

32
TEORIAS DA PERSONALIDADE │ UNIDADE I

honestamente sobre aquilo que vemos lá. (BALLONE G. J. Carl Gustav Jung. Em: <http://www.
psiqweb.med.br/site>. Acesso em: 9 de outubro de 2010).

O Self
Jung chamou o Self de Arquétipo central, Arquétipo da ordem e totalidade da personalidade.
Segundo Jung, consciente e inconsciente não estão necessariamente em oposição um ao outro, mas
complementam-se mutuamente para formar uma totalidade: o Self. Jung descobriu o Arquétipo do
Self apenas depois de estarem concluídas suas investigações sobre as outras estruturas da psique.
O Self é com frequência figurado em sonhos ou imagens de forma impessoal, como um círculo,
mandala, cristal ou pedra, ou de forma pessoal como um casal real, uma criança divina, ou na forma
de outro símbolo de divindade. Todos esses são símbolos da totalidade, unificação, reconciliação
de polaridades, ou equilíbrio dinâmico, os objetivos do processo de Individuação. (BALLONE G.
J. Carl Gustav Jung. Em: <http://www.psiqweb.med.br/site>. Acesso em: 9 de outubro de 2010).

O Self é um fator interno de orientação, muito diferente e até mesmo estranho ao Ego e à consciência.
Para Jung, o Self não é apenas o centro, mas também toda a circunferência que abarca tanto o
consciente quanto o inconsciente, ele é o centro desta totalidade, tal como o Ego é o centro da
consciência. Ele pode, de início, aparecer em sonhos como uma imagem significante, um ponto ou
uma sujeira de mosca, pelo fato do Self ser bem pouco familiar e pouco desenvolvido na maioria das
pessoas. O desenvolvimento do Self não significa que o Ego seja dissolvido. Este último continua
sendo o centro da consciência, mas agora ele é vinculado ao Self como consequência de um longo e
árduo processo de compreensão e aceitação de nossos processos inconscientes. O Ego já não parece
mais o centro da personalidade, mas uma das inúmeras estruturas na psique. (BALLONE G. J. Carl
Gustav Jung. Em: <http://www.psiqweb.med.br/site>. Acesso em: 9 de outubro de 2010).

Crescimento psicológico – individuação


Segundo Jung, todo indivíduo possui uma tendência para a Individuação ou autodesenvolvimento.
Individuação significa tornar-se um ser único, homogêneo, na medida em que por individualidade
entendemos nossa singularidade mais íntima, última e incomparável, significando também que nos
tornamos o nosso próprio si mesmo. Pode-se traduzir Individuação como tornar-se si mesmo, ou
realização do si mesmo.

Individuação é um processo de desenvolvimento da totalidade e, portanto, de movimento em direção


a uma maior liberdade. Isto inclui o desenvolvimento do eixo Ego-Self, além da integração de várias
partes da psique: Ego, Persona, Sombra, Anima ou Animus e outros Arquétipos inconscientes.
Quando se tornam individuados, esses Arquétipos se expressam de maneiras mais sutis e complexas.

Quanto mais conscientes nos tornamos de nós mesmos por meio do autoconhecimento, tanto mais
se reduzirá a camada do inconsciente pessoal que recobre o inconsciente coletivo. Desta forma, sai
emergindo uma consciência livre do mundo mesquinho, suscetível e pessoal do Eu, aberta para a

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UNIDADE I │ TEORIAS DA PERSONALIDADE

livre participação de um mundo mais amplo de interesses objetivos. (BALLONE G. J. Carl Gustav


Jung. Em:<http://www.psiqweb.med.br/site>. Acesso em: 9 de outubro de 2010).

Essa consciência ampliada não é mais aquele novelo egoísta de desejos, temores, esperanças e
ambições de caráter pessoal, que sempre deve ser compensado ou corrigido por contratendências
inconscientes; tornar-se-á uma função de relação com o mundo de objetos, colocando o indivíduo
numa comunhão incondicional, obrigatória e indissolúvel com o mundo. (BALLONE G. J. Carl
Gustav Jung. Em:<http://www.psiqweb.med.br/site>. Acesso em: 9 de outubro de 2010).

Do ponto de vista do Ego, crescimento e desenvolvimento consistem na integração de material novo


na consciência, o que inclui a aquisição de conhecimento a respeito do mundo e da própria pessoa.
O crescimento, para o Ego, é essencialmente a expansão do conhecimento consciente. Entretanto,
Individuação é o desenvolvimento do Self e, do seu ponto de vista, o objetivo é a união da consciência
com o inconsciente. (BALLONE G. J. Carl Gustav Jung. Em: <http://www.psiqweb.med.br/site>.
Acesso em: 9 de outubro de 2010).

Como analista, Jung descobriu que aqueles que vinham a ele na primeira metade da vida
estavam relativamente desligados do processo interior de Individuação; seus interesses primários
centravam-se em realizações externas, no “emergir” como indivíduos e na consecução dos objetivos
do Ego. Analisandos mais velhos, que haviam alcançado tais objetivos, de forma razoável, tendiam
a desenvolver propósitos diferentes, interesse maior pela integração do que pelas realizações, busca
de harmonia com a totalidade da psique. (BALLONE G. J. Carl Gustav Jung. Em:<http://www.
psiqweb.med.br/site>. Acesso em: 9 de outubro de 2010).

O primeiro passo no processo de Individuação é o desnudamento da Persona. Embora esta tenha


funções protetoras importantes, ela é também uma máscara que esconde o Self e o inconsciente.

Ao analisarmos a Persona, dissolvemos a máscara e descobrimos que, aparentando ser individual,


ela é de fato coletiva; em outras palavras, a Persona não passa de uma máscara da psique coletiva.
No fundo, nada tem de real; ela representa um compromisso entre o indivíduo e a sociedade acerca
daquilo que alguém parece ser: nome, título, ocupação, isto ou aquilo. (BALLONE G. J. Carl Gustav
Jung. Em:<http://www.psiqweb.med.br/site>. Acesso em: 9 de outubro de 2010).

De certo modo, tais dados são reais, mas, em relação à individualidade essencial da pessoa,
representam algo de secundário, uma vez que resultam de um compromisso no qual outros podem
ter uma quota maior do que a do indivíduo em questão.

O próximo passo é o confronto com a Sombra. Na medida em que nós aceitamos a realidade
da Sombra e dela nos distinguimos, podemos ficar livres de sua influência. Além disso, nós nos
tornamos capazes de assimilar o valioso material do inconsciente pessoal que é organizado ao redor
da Sombra. (BALLONE G. J. Carl Gustav Jung. Em:<http://www.psiqweb.med.br/site>. Acesso
em: 9 de outubro de 2010).

O terceiro passo é o confronto com a Anima ou Animus. Este Arquétipo deve ser encarado como
uma pessoa real, uma entidade com quem se pode comunicar e de quem se pode aprender. Jung
faria perguntas à sua Anima sobre a interpretação de símbolos oníricos, tal como um analisando

34
TEORIAS DA PERSONALIDADE │ UNIDADE I

a consultar um analista. O indivíduo também se conscientiza de que a Anima (ou o Animus) tem
uma autonomia considerável e de que há probabilidade dela influenciar ou até dominar aqueles que
a ignoram ou os que aceitam cegamente suas imagens e projeções como se fossem deles mesmos.
(BALLONE G. J. Carl Gustav Jung. Em: <http://www.psiqweb.med.br/site>. Acesso em: 9 de
outubro de 2010).

O estágio final do processo de Individuação é o desenvolvimento do Self. Jung dizia que o si mesmo
é nossa meta de vida, pois é a mais completa expressão daquela combinação do destino a que nós
damos o nome de indivíduo. O Self torna-se o novo ponto central da psique, trazendo unidade à
psique e integrando o material consciente e o inconsciente. O Ego é ainda o centro da consciência,
mas não é mais visto como o núcleo de toda a personalidade. (BALLONE G. J. Carl Gustav Jung.
Em:<http://www.psiqweb.med.br/site>. Acesso em: 9 de outubro de 2010).

Jung escreve que devemos ser aquilo que somos e precisamos descobrir nossa própria individualidade,
aquele centro da personalidade que é equidistante do consciente e do inconsciente. Dizia que
precisamos visar a este ponto ideal em direção ao qual a natureza parece estar nos dirigindo. Só a
partir deste ponto podemos satisfazer nossas necessidades.

É necessário ter em mente que, embora seja possível descrever a Individuação em termos de estágios,
o processo de Individuação é bem mais complexo do que a simples progressão aqui delineada. Todos
os passos mencionados se sobrepõem, e as pessoas voltam continuamente a problemas e temas
antigos (espera-se que de uma perspectiva diferente). A Individuação poderia ser apresentada como
uma espiral na qual os indivíduos permanecem se confrontando com as mesmas questões básicas,
de forma cada vez mais refinada. Este conceito está muito relacionado com a concepção Zen-budista
da iluminação, na qual um indivíduo nunca termina um Koan, ou problema espiritual, e a procura
de si mesmo é vista como idêntica à finalidade). (BALLONE G. J. Carl Gustav Jung. Em:<http://
www.psiqweb.med.br/site>. Acesso em: 9 de outubro de 2010.)

Obstáculos ao crescimento
A Individuação nem sempre é uma tarefa fácil e agradável. O Ego precisa ser forte o suficiente para
suportar mudanças tremendas, para ser virado pelo avesso no processo de Individuação.

Poderíamos dizer que todo o mundo está num processo de Individuação, no entanto, as pessoas não
o sabem, esta é a única diferença. A Individuação não é de modo algum uma coisa rara ou um luxo
de poucos, mas aqueles que sabem que passam pelo processo são considerados afortunados. Desde
que suficientemente conscientes, eles tiram algum proveito de tal processo.

A dificuldade deste processo é peculiar porque constitui um empreendimento totalmente individual,


levado a cabo face à rejeição ou, na melhor das hipóteses, indiferença dos outros. Jung escreve que a
natureza não se preocupa com nada que diga respeito a um nível mais elevado de consciência, muito
pelo contrário. Logo, a sociedade não valoriza em demasia essas proezas da psique e seus prêmios
são sempre dados a realizações e não à personalidade. Esta última será, na maioria das vezes,
recompensada postumamente. (BALLONE G. J. Carl Gustav Jung. Em: <http://www.psiqweb.
med.br/site>. Acesso em: 9 de outubro de 2010).

35
UNIDADE I │ TEORIAS DA PERSONALIDADE

Cada estágio, no processo de Individuação, é acompanhado de dificuldades. Primeiramente, há o


perigo da identificação com a Persona. Aqueles que se identificam com a Persona podem tentar
tornarem-se perfeitos demais, incapazes de aceitar seus erros ou fraquezas, ou quaisquer desvios
de sua autoimagem idealizada. Aqueles que se identificam totalmente com a Persona tenderão a
reprimir todas as tendências que não se ajustam, e a projetá-las nos outros, atribuindo a eles a tarefa
de representar aspectos de sua identidade negativa reprimida. (BALLONE G. J. Carl Gustav Jung.
Em: <http://www.psiqweb.med.br/site>. Acesso em: 9 de outubro de 2010).

A Sombra pode ser também um importante obstáculo para a Individuação. As pessoas que estão
inconscientes de suas sombras, facilmente podem exteriorizar impulsos prejudiciais sem nunca
reconhecê-los como errados. Quando a pessoa não chegou a tomar conhecimento da presença de
tais impulsos nela mesma, os impulsos iniciais para o mal ou para a ação errada são com frequência
justificados de imediato por racionalizações. Ignorar a Sombra pode resultar também numa
atitude por demais moralista e na projeção da Sombra em outros. Por exemplo, aqueles que são
muito favoráveis à censura da pornografia tendem a ficar fascinados pelo assunto que pretendem
proibir; eles podem até se convencer da necessidade de estudar cuidadosamente toda a pornografia
disponível, a fim de serem censores eficientes. (BALLONE G. J. Carl Gustav Jung. Em: <http://
www.psiqweb.med.br/site>. Acesso em: 9 de outubro de 2010).

O confronto com a Anima ou o Animus traz, em si, todo o problema do relacionamento com o
inconsciente e com a psique coletiva. A Anima pode acarretar súbitas mudanças emocionais ou
instabilidade de humor num homem. Nas mulheres, o Animus frequentemente se manifesta sob a
forma de opiniões irracionais, mantidas de forma rígida. (Devemos nos lembrar de que a discussão
de Jung sobre Anima e Animus não constitui uma descrição da masculinidade e da feminilidade em
geral. O conteúdo da Anima ou do Animus é o complemento de nossa concepção consciente de nós
mesmos como masculinos ou femininos, a qual, na maioria das pessoas, é fortemente determinada
por valores culturais e papéis sexuais definidos em sociedade.)

Quando o indivíduo é exposto ao material coletivo, há o perigo de ser engolido pelo inconsciente.
Segundo Jung, tal ocorrência pode tomar uma de duas formas. Primeiro, há a possibilidade da
inflação do Ego, na qual o indivíduo reivindica para si todas as virtudes da psique coletiva. A outra
reação é a de impotência do Ego; a pessoa sente que não tem controle sobre a psique coletiva e
adquire uma consciência aguda de aspectos inaceitáveis do inconsciente-irracionalidade, impulsos
negativos e assim por diante. (BALLONE G. J. Carl Gustav Jung. Em: <http://www.psiqweb.med.
br/site>. Acesso em: 9 de outubro de 2010).

Assim, como em muitos mitos e contos de fadas, os maiores obstáculos estão mais próximos do final.
Quando o indivíduo lida com a Anima e o Animus, uma tremenda energia é libertada. Essa energia
pode ser usada para construir o Ego ao invés de desenvolver o Self. Jung referiu-se a este fato como
identificação com o Arquétipo do Self, ou desenvolvimento da personalidade-mana (mana é uma
palavra malanésica que significa a energia ou o poder que emana das pessoas, objetos ou seres
sobrenaturais, energia esta que tem uma qualidade oculta ou mágica). O Ego identifica-se com o
Arquétipo do homem sábio ou mulher sábia aquele que sabe tudo. A personalidade-mana é perigosa
porque é excessivamente irreal. Indivíduos parados neste estágio tentam ser ao mesmo tempo mais
e menos do que na realidade são. Eles tendem a acreditar que se tornaram perfeitos, santos ou até

36
TEORIAS DA PERSONALIDADE │ UNIDADE I

divinos, mas, na verdade, menos, porque perderam o contato com sua humanidade essencial e com
o fato de que ninguém é plenamente sábio, infalível e sem defeitos. (BALLONE G. J. Carl Gustav
Jung. Em: <http://www.psiqweb.med.br/site>. Acesso em: 9 de outubro de 2010).

Jung viu a identificação temporária com o Arquétipo do Self ou com a personalidade-mana


como sendo um estágio quase inevitável no processo de Individuação. A melhor defesa contra
o desenvolvimento da inflação do Ego é lembrarmo-nos de nossa humanidade essencial, para
permanecermos assentados na realidade daquilo que podemos e precisamos fazer, e não na que
deveríamos fazer ou ser.

Rogers e a psicologia humanista


Uma premissa fundamental da teoria de Carl Rogers é o pressuposto de que as pessoas usam sua
experiência para se definir. Em seu principal trabalho teórico de 1959, Rogers define uma série de
conceitos a partir dos quais delineia teorias da personalidade e modelos de terapia, mudança da
personalidade e relações interpessoais. Os construtos básicos aqui apresentados estabelecem uma
estrutura por meio da qual as pessoas podem construir e modificar suas opiniões a respeito de si
mesmas. (BALLONE G. J. Carl Rogers. Em: <http://www.psiqweb.med.br/site>. Acesso em: 3 de
outubro de 2010).

O Campo da experiência
Há um campo de experiência único para cada indivíduo. Este campo de experiência ou “campo
fenomenal” contém tudo o que se passa no organismo em qualquer momento, e que está
potencialmente disponível à consciência. Inclui eventos, percepções, sensações e impactos dos
quais a pessoa não toma consciência, mas poderia tomar se focalizasse a atenção nesses estímulos.
É um mundo privativo e pessoal que pode ou não corresponder à realidade objetiva.

De início a atenção é colocada naquilo que a pessoa experimenta como seu mundo, não na realidade
comum. O campo de experiência é limitado por restrições psicológicas e limitações biológicas. Temos
tendência a dirigir nossa atenção para perigos imediatos, assim como para experiências seguras ou
agradáveis, ao invés de aceitar todos os estímulos que nos rodeiam. (BALLONE G. J. Carl Rogers.
Em: <http://www.psiqweb.med.br/site>. Acesso em: 3 de outubro de 2010).

Self
No campo de experiência está o Self. O Self não é uma entidade estável, imutável, entretanto,
observado num dado momento, parece ser estável. Isto se dá porque congelamos uma secção da
experiência a fim de observá-la. Rogers concluiu que a ideia do eu não representa uma acumulação
de inumeráveis aprendizagens e condicionamentos efetuados na mesma direção. Essencialmente
é uma gestalt cuja significação vivida é suscetível de mudar sensivelmente (e até mesmo sofrer
uma reviravolta) em consequência da mudança de qualquer destes elementos. O Self é uma gestalt

37
UNIDADE I │ TEORIAS DA PERSONALIDADE

organizada e consistente num processo constante de formar-se e reformar-se à medida que as


situações mudam.

Assim como uma fotografia é uma “parada” de algo que está mudando, da mesma forma o Self não
é nenhuma das “fotografias” que tiramos dele, mas o processo fluido subjacente. Outros teóricos
usam o termo Self para designar aquela faceta da identidade pessoal que é imutável, estável ou
mesmo eterna. (BALLONE G. J. Carl Rogers. Em: <http://www.psiqweb.med.br/site>. Acesso em:
3 de outubro de 2010).

Rogers usa o termo para se referir ao contínuo processo de reconhecimento. É essa diferença, essa
ênfase na mudança e na flexibilidade, que fundamenta sua teoria e sua crença de que as pessoas
são capazes de crescimento, mudança e desenvolvimento pessoal. O Self ou autoconceito é a visão
que uma pessoa tem de si própria, baseada em experiências passadas, estimulações presentes e
expectativas futuras.

Self ideal
O Self Ideal é o conjunto das características que o indivíduo mais gostaria de poder reclamar
como descritivas de si mesmo. Assim como o Self, ele é uma estrutura móvel e variável, que passa
por redefinição constante. A extensão da diferença entre o Self e o Self Ideal é um indicador de
desconforto, insatisfação e dificuldades neuróticas. Aceitar-se como se é na realidade, e não como
se quer ser, é um sinal de saúde mental. Aceitar-se não é resignar-se ou abdicar de si mesmo. É uma
forma de estar mais perto da realidade e de seu estado atual. A imagem do Self Ideal, na medida
em que se diferencia de modo claro do comportamento e dos valores reais de uma pessoa é um
obstáculo ao crescimento pessoal.

Um trecho da história de um caso pode esclarecê-lo. Um estudante estava planejando desligar-se da


faculdade. Havia sido o melhor aluno no ginásio e o primeiro no colegial e estava indo muito bem
na faculdade. Estava desistindo, explicava, porque havia recebido um “C” num curso. Sua imagem
de ter sido sempre o melhor estava em perigo. A única sequência de ações que ele vislumbrava
era escapar, deixar o mundo acadêmico, rejeitar a discrepância entre seu desempenho atual e sua
visão ideal de si próprio. Disse que iria trabalhar para ser o “melhor” de alguma outra forma. Para
proteger sua autoimagem ideal ele desejava cortar pela raiz sua carreira acadêmica. Ele deixou a
escola, viajou pelo mundo e, por vários anos, teve uma grande quantidade de empregos originais.
Quando foi visto novamente era capaz de discutir a possibilidade de que talvez não fosse necessário
ser o melhor desde o começo, mas tinha ainda grandes dificuldades em explorar qualquer atividade
na qual pudesse experimentar fracasso. (BALLONE G. J. Carl Rogers. Em: <http://www.psiqweb.
med.br/site>. Acesso em: 3 de outubro de 2010).

Congruência e incongruência
Congruência é definida como o grau de exatidão entre a experiência da comunicação e a tomada
de consciência. Ela se relaciona às discrepâncias entre experienciar e tomar consciência. Um alto

38
TEORIAS DA PERSONALIDADE │ UNIDADE I

grau da congruência significa que a comunicação (o que se está expressando), a experiência (o que
está ocorrendo em nosso campo) e a tomada de consciência (o que se está percebendo) são todas
semelhantes. Nossas observações e as de um observador externo seriam consistentes. Crianças
pequenas exibem alta congruência. Expressam seus sentimentos logo que seja possível com o seu
ser total. Quando uma criança tem fome ela toda está com fome, neste exato momento! Quando uma
criança sente amor ou raiva, ela expressa plenamente essas emoções. Isto pode justificar a rapidez
com que a criança substitui um estado emocional por outro. A expressão total de seus sentimentos
permite que elas liquidem a bagagem emocional que não foi expressa em experiências anteriores. A
congruência é bem descrita por um Zen-budista ao dizer: “Quando tenho fome, como; quando estou
cansado, sento-me; quando estou com sono, durmo”. (BALLONE G. J. Carl Rogers. Em: <http://
www.psiqweb.med.br/site>. Acesso em: 3 de outubro de 2010).

A incongruência ocorre quando há diferenças entre a tomada de consciência, a experiência e a


comunicação desta. As pessoas que parecem estar com raiva (punhos cerrados, tom de voz elevado,
praguejando) e que replicam que de forma alguma estão com raiva, se interpeladas, ou as pessoas
que dizem estar passando por um período maravilhoso mas que se mostram entediadas, isoladas ou
facilmente doentes, estão revelando incongruência. É definida não só como inabilidade de perceber
com precisão, mas também como inabilidade ou incapacidade de comunicação precisa. Quando a
incongruência está entre a tomada de consciência e a experiência, é chamada repressão. A pessoa
simplesmente não tem consciência do que está fazendo. A maioria das psicoterapias trabalha sobre
esse sintoma de incongruência ajudando as pessoas a se tomarem mais conscientes de suas ações,
pensamentos e atitudes na medida em que estes as afetam e aos outros. (BALLONE G J. Carl Rogers.
Em: <http://www.psiqweb.med.br/site>. Acesso em: 3 de outubro de 2010).

Quando a incongruência é uma discrepância entre a tomada de consciência e a comunicação a


pessoa não expressa o que está realmente sentindo, pensando ou experienciando. Esse tipo de
incongruência é muitas vezes percebido como mentiroso, inautêntico ou desonesto. Muitas vezes
esses comportamentos tornam-se foco de discussões em terapias de grupo ou em grupos de encontro.
Embora tais comportamentos pareçam ser realizados com malícia, terapeutas e treinadores relatam
que a ausência de congruência social, aparente falta de boa vontade em comunicar-se, é, com
frequência, uma falta de autocontrole e consciência pessoal. A pessoa não é capaz de expressar
suas emoções e percepções reais em virtude do medo e de velhos hábitos de encobrimento que são
difíceis de superar. Por outro lado, é possível que a pessoa tenha dificuldade em compreender o que
os outros esperam dela. (BALLONE G. J. Carl Rogers. Em: <http://www.psiqweb.med.br/site>.
Acesso em: 3 de outubro de 2010).

A incongruência pode ser sentida como tensão, ansiedade ou, em circunstâncias mais extremas,
como confusão interna. Um paciente internado em hospital psiquiátrico que declara não saber
onde está, em que hospital, qual a hora do dia, ou mesmo quem ele é, está exibindo alto grau
de incongruência. A discrepância entre a realidade externa e aquilo que ele está subjetivamente
experienciando tornou-se tão grande que ele não é capaz de atuar. A maioria dos sintomas descritos
na Literatura psiquiátrica podem ser vistos como formas de incongruência. Para Rogers, a forma
particular de distúrbio é menos crítica do que o reconhecimento de que há uma incongruência que
exige uma solução.

39
UNIDADE I │ TEORIAS DA PERSONALIDADE

A incongruência é visível em observações, como, por exemplo, “não sou capaz de tomar decisões”,
“não sei o que quero”, “nunca serei capaz de persistir em algo”. A confusão aparece quando você
não é capaz de escolher entre os diferentes estímulos aos quais se acha exposto. Considere o caso
de um cliente que relata: “Minha mãe pede-me que cuide dela, é o mínimo que posso fazer. Minha
namorada recomenda que eu me mantenha firme para não ser puxado de todo lado. Penso que sou
muito bom para minha mãe, mais do que ela merece. Às vezes a odeio, às vezes a amo. Às vezes é
bom estar com ela, às vezes ela me diminui.”

O cliente está assediado por estímulos diferentes. Cada um deles é válido e conduz a ações válidas
por algum tempo. É difícil diferenciar, entre esses estímulos, aqueles que são genuínos daqueles que
são impostos. O problema pode estar em reconhecê-los como diferentes e ser capaz de trabalhar
sobre sentimentos diferentes em momentos diferentes. (BALLONE G. J. Carl Rogers. Em: <http://
www.psiqweb.med.br/site>. Acesso em: 3 de outubro de 2010).

Tendência à autoatualização
Há um aspecto básico da natureza humana que leva uma pessoa em direção a uma maior congruência
e a um funcionamento realista. Além disso, esse impulso não é limitado aos seres humanos; é parte
do processo de todas as coisas vivas. É esse impulso que é evidente em toda vida humana e orgânica,
expandir-se, estender-se, tornar-se autônomo, desenvolver-se, amadurecer a tendência a expressar
e ativar todas as capacidades do organismo na medida em que tal ativação valoriza o organismo
ou o Self. (BALLONE G. J. Carl Rogers. Em: <http://www.psiqweb.med.br/site>. Acesso em: 3 de
outubro de 2010).

Rogers sugere que em cada um de nós há um impulso inerente em direção a sermos competentes e
capazes quanto o que estamos aptos a ser biologicamente. Assim como uma planta tenta tornar-se
saudável, como uma semente contém dentro de si impulso para se tornar uma árvore, também uma
pessoa é impelida a se tornar uma pessoa total, completa e autoatualizada.

O impulso em direção à saúde não é uma força esmagadora que supera obstáculos ao longo da vida;
pelo contrário, é facilmente embotado, distorcido e reprimido. Rogers o vê como a força motivadora
dominante numa pessoa que está funcionando de modo livre, não paralisada por eventos passados
ou por crenças correntes que mantinham a incongruência. Maslow chegou a conclusões semelhantes;
chamava essa tendência de uma voz interna e fraca que é facilmente abafada. A suposição de que o
crescimento é possível e central para o projeto do organismo é crucial para o restante do pensamento
de Rogers.

Para Rogers, a tendência à autoatualização não é simplesmente mais um motivo. É importante


observar que essa tendência atualizante é o postulado fundamental da teoria rogeriana. (BALLONE
G. J. Carl Rogers. Em: <http://www.psiqweb.med.br/site>. Acesso em: 3 de outubro de 2010).

40
TEORIAS DA PERSONALIDADE │ UNIDADE I

Obstáculos ao crescimento
Rogers sugere que os obstáculos aparecem na infância e são aspectos normais do desenvolvimento.
O que a criança aprende em um estágio como benéfico deve ser reavaliado nos estágios posteriores:
Motivos que predominam na primeira infância mais tarde podem inibir o desenvolvimento da
personalidade.

Quando a criança começa a tomar consciência do Self, desenvolve uma necessidade de amor ou
de consideração positiva. Esta necessidade é universal, considerando-se que ela existe em todo ser
humano e que se faz sentir de uma maneira contínua e penetrante. A teoria não se preocupa em
saber se é uma necessidade inata ou adquirida. Uma vez que as crianças não separam suas ações de
seu ser total, reagem à aprovação de uma ação como se fosse aprovação de si mesmas. Da mesma
forma, reagem à punição de um ato como se estivessem sendo desaprovadas em geral.

O amor é tão importante para a criança que ela acaba por ser guiada, não pelo caráter agradável
ou desagradável de suas experiências e comportamentos, mas pela promessa de afeição que
elas encerram. A criança começa a agir da forma que lhe garante amor ou aprovação, sejam os
comportamentos saudáveis ou não para ela. As crianças podem agir contra seu próprio interesse,
chegando a se perceber em termos destinados, a princípio, a agradar ou apaziguar os outros.
Teoricamente esta situação poderia não se desenvolver se a criança sempre se sentisse aceita e
houvesse aprovação dos sentimentos mesmo que alguns comportamentos fossem inibidos. Em tal
situação ideal, a criança nunca seria pressionada a se despojar ou repudiar partes não atraentes,
mas autênticas de sua personalidade.

Comportamentos ou atitudes que negam algum aspecto do Self são chamados de condições de valor.
Quando uma experiência relativa ao eu é procurada ou evitada unicamente porque é percebida
como mais ou menos digna de consideração de si, diz Rogers que o indivíduo adquiriu um modo
de avaliação condicional. Condições de valor são os obstáculos básicos à exatidão da percepção e à
tomada de consciência realista.

Há vendas e filtros seletivos destinados a assegurar um suprimento interminável de amor da parte


dos parentes e dos outros. Acumulamos certas condições, atitudes ou ações cujo cumprimento
sentimos necessário para permanecermos dignos. Na medida em que essas atitudes e ações são
idealizadas, elas constituem áreas de incongruência pessoal. De forma extrema, as condições de
valor são caracterizadas pela crença de que “preciso ser respeitado ou amado por todos aqueles com
quem estabeleço contato”.

As condições de valor criam uma discrepância entre o Self e o autoconceito. Para mantermos uma
condição de valor temos que negar determinados aspectos de nós mesmos. Por exemplo, se falaram
“Você deve amar seu irmãozinho recém-nascido, senão mamãe não gosta mais de você”, a mensagem
é a de que você deve negar ou reprimir seus sentimentos negativos genuínos em relação a ele. Se
você conseguir esconder sua vontade maldosa, seu desejo de machucá-lo e seu ciúme normal, sua
mãe continuará a amá-lo. Se a pessoa admitir que tem tais sentimentos, se arriscará a perder o
amor. Uma solução que cria uma condição de valor é rejeitar tais sentimentos sempre que ocorram,
bloqueando-os de sua consciência. Agora a pessoa pode reagir de formas tais como: “Eu realmente

41
UNIDADE I │ TEORIAS DA PERSONALIDADE

amo meu irmãozinho, apesar das vezes em que o abraço tanto até ele gritar” ou, “Meu pé escorregou
sob o seu, eis porque ele tropeçou”.

Posso, ainda, lembrar-me da enorme alegria demonstrada por meu irmão mais velho quando lhe
foi dada uma oportunidade de bater em mim por algo que fiz. Minha mãe, meu irmão e eu ficamos
todos assustados com sua violência. Ao recordar o incidente, meu irmão se lembrou de que ele não
estava especialmente bravo comigo, mas que havia compreendido que aquela era uma rara ocasião
e queria descarregar toda a maldade possível enquanto tinha permissão. Admitir tais sentimentos e
permitir-lhes alguma expressão e, quando ocorrem é mais saudável, segundo Rogers, do que rejeitá-
los ou aliená-los.

Quando a criança amadurece, o problema persiste. O crescimento é impedido na medida em


que a pessoa nega impulsos diferentes do autoconceito artificialmente “bom”. Para sustentar a
falsa autoimagem, a pessoa continua a distorcer experiências, quanto maior a distorção maior a
probabilidade de erros e da criação de novos problemas. Os comportamentos, os erros e a confusão
que resultam dão manifestações de distorções iniciais mais fundamentais. E a situação realimenta-se
a si mesma. Cada experiência de incongruência entre o Self e a realidade aumenta a vulnerabilidade,
a qual, por sua vez, ocasiona o aumento de defesas, interceptando experiências e criando novas
ocasiões de incongruência.

Por vezes as manobras defensivas não funcionam. A pessoa toma consciência das discrepâncias
óbvias entre os comportamentos e as crenças. Os resultados podem ser pânico, ansiedade crônica,
retraimento ou mesmo uma psicose. Rogers observou que o comportamento psicótico parece
ser muitas vezes a representação externa de um aspecto anteriormente negado da experiência.
(BALLONE G. J. Carl Rogers. Em: <http://www.psiqweb.med.br/site>. Acesso em: 3 de outubro
de 2010).

Em 1974, Perry corrobora essa ideia, apresentando evidência de que o episódio psicótico é uma
tentativa desesperada da personalidade de se reequilibrar e permitir a realização de necessidades
e experiências internas frustradas. A terapia centrada no cliente esforça-se por estabelecer uma
atmosfera na qual condições de valor prejudiciais possam ser postas de lado, permitindo, portanto,
que as forças saudáveis de uma pessoa retomem sua dominância original. Uma pessoa recupera a
saúde reivindicando suas partes reprimidas ou negadas. (BALLONE G. J. Carl Rogers. Em: <http://
www.psiqweb.med.br/site>. Acesso em: 3 de outubro de 2010).

Emoções
O indivíduo saudável toma consciência de suas emoções, sejam ou não expressas. Sentimentos
negados à consciência distorcem a percepção e a reação às experiências que os desencadearam.

Um caso específico é sentir ansiedade sem tomar conhecimento da causa. A ansiedade aparece
quando uma experiência vivenciada, se admitida na consciência, ameace a autoimagem. A reação
inconsciente a essas subcepções alerta o organismo para possíveis perigos e acarreta mudanças
psicofisiológicas. Essas reações defensivas são uma forma do organismo manter crenças e

42
TEORIAS DA PERSONALIDADE │ UNIDADE I

comportamentos incongruentes. Uma pessoa pode agir com base nessas subcepções sem tomar
consciência de o porquê está agindo assim. Por exemplo, um homem pode sentir-se desconfortável
ao ver homossexuais declarados.

A informação que tem de si mesmo incluiria o desconforto, mas não mencionaria sua causa. Ele não
poderia admitir seu próprio interesse, sua identidade sexual não resolvida, ou talvez as expectativas
e medos que tem a respeito de sua própria sexualidade. Distorcendo suas percepções ele pode, em
compensação, reagir com hostilidade aberta a homossexuais, tratando-os como uma eterna ameaça
ao invés de admitir seu conflito interno. (BALLONE G. J. Carl Rogers. Em: <http://www.psiqweb.
med.br/site>. Acesso em: 3 de outubro de 2010).

Piaget e a psicogenética
Desde muito cedo, Jean Piaget demonstrou sua capacidade de observação. Aos onze anos percebeu
um melro (pássaro preto) albino em uma praça de sua cidade. A observação deste pássaro gerou
seu primeiro trabalho científico. Formado em Biologia, interessou-se por pesquisar sobre o
desenvolvimento do conhecimento nos seres humanos. As teorias de Jean Piaget, portanto, tentam
nos explicar como se desenvolve a inteligência nos seres humanos. Daí o nome dado a sua ciência
de Epistemologia Genética, que é entendida como o estudo dos mecanismos do aumento dos
conhecimentos.

Convém esclarecer que as teorias de Piaget têm comprovação em bases científicas, ou seja, ele
não somente descreveu o processo de desenvolvimento da inteligência, mas, experimentalmente,
comprovou suas teses.

Resumir a teoria de Jean Piaget não é uma tarefa fácil, pois sua obra tem mais páginas que a
Enciclopédia Britânica. Desde que se interessou por desvendar o desenvolvimento da inteligência
humana, Piaget trabalhou compulsivamente em seu objetivo, até às vésperas de sua morte, em
1980, aos oitenta e quatro anos, deixando escrito aproximadamente setenta livros e mais de
quatrocentos artigos. Repassamos aqui algumas ideias centrais de sua teoria, com a colaboração do
“Glossário de Termos”. (BELLO J. L. A Teoria Básica de Jean Piaget. Vitória, 1995. Em: < http://
www.pedagogiaemfoco.pro.br> Acesso em: 11 de maio de 2010).

1. A inteligência para Piaget é o mecanismo de adaptação do organismo a uma


situação nova e, como tal, implica a construção contínua de novas estruturas. Essa
adaptação refere-se ao mundo exterior, como toda adaptação biológica. Desta forma,
os indivíduos desenvolvem-se intelectualmente a partir de exercícios e estímulos
oferecidos pelo meio que os cercam. O que vale também dizer que a inteligência
humana pode ser exercitada, buscando um aperfeiçoamento de potencialidades,
que evolui “desde o nível mais primitivo da existência, caracterizado por
trocas bioquímicas até o nível das trocas simbólicas” (Ramozzi-Chiarottino
apud CHIABAI: 1990, p. 3). (BELLO J. L. A Teoria Básica de Jean Piaget. Vitória,
1995. Em: < http://www.pedagogiaemfoco.pro.br> Acesso em: 11 de maio de 2010).

43
UNIDADE I │ TEORIAS DA PERSONALIDADE

2. Para Piaget o comportamento dos seres vivos não é inato, nem resultado de
condicionamentos. Para ele, o comportamento é construído numa interação entre o
meio e o indivíduo. Esta teoria epistemológica (epistemo = conhecimento; e logia
= estudo) é caracterizada como interacionista. A inteligência do indivíduo, como
adaptação a situações novas, portanto, está relacionada com a complexidade desta
interação do indivíduo com o meio. Em outras palavras, quanto mais complexa for
esta interação, mais “inteligente” será o indivíduo. As teorias piagetianas abrem
campo de estudo não somente para a Psicologia do Desenvolvimento, mas também
para a Sociologia e para a Antropologia, além de permitir que os pedagogos tracem
uma metodologia baseada em suas descobertas. (BELLO J. L. A Teoria Básica de
Jean Piaget. Vitória, 1995. Em: <http://www.pedagogiaemfoco.pro.br> Acesso em:
11 de maio de 2010).

3. “Não existe estrutura sem gênese, nem gênese sem estrutura” (Piaget).
Ou seja, a estrutura de maturação do indivíduo sofre um processo genético e
a gênese depende de uma estrutura de maturação. Sua teoria nos mostra que o
indivíduo só recebe um determinado conhecimento se estiver preparado para
recebê-lo. Ou seja, se puder agir sobre o objeto de conhecimento para inseri-lo
num sistema de relações. Não existe um novo conhecimento sem que o organismo
tenha já um conhecimento anterior para poder assimilá-lo e transformá-lo. O
que implica os dois polos da atividade inteligente: assimilação e acomodação. É
assimilação na medida em que incorpora a seus quadros todo o dado da experiência
ou estruturação por incorporação da realidade exterior a formas devidas à atividade
do sujeito (PIAGET, 1982). É acomodação na medida em que a estrutura se modifica
em função do meio, de suas variações. A adaptação intelectual constitui-se, então,
em um “equilíbrio progressivo entre um mecanismo assimilador e uma
acomodação complementar” (PIAGET, 1982). Piaget situa, segundo Dolle, o
problema epistemológico, o do conhecimento, ao nível de uma interação entre o
sujeito e o objeto.

E “essa dialética resolve todos os conflitos nascidos das teorias, associacionistas,


empiristas, genéticas sem estrutura, estruturalistas sem gênese etc. [...] e permite
seguir fases sucessivas da construção progressiva do conhecimento” (1974, p. 52).
(BELLO J. L. A Teoria Básica de Jean Piaget. Vitória, 1995. Em: < http://www.
pedagogiaemfoco.pro.br> Acesso em: 11 de maio de 2010).

4. O desenvolvimento do indivíduo inicia-se no período intrauterino e vai até aos 15


ou 16 anos. Piaget diz que a embriologia humana evolui também após o nascimento,
criando estruturas cada vez mais complexas. A construção da inteligência dá-se,
portanto, em etapas sucessivas, com complexidades crescentes, encadeadas umas
às outras. A isto Piaget chamou de “construtivismo sequencial”. (BELLO J. L.
A Teoria Básica de Jean Piaget. Vitória, 1995. Em: <http://www.pedagogiaemfoco.
pro.br> Acesso em: 11 de maio de 2010).

44
TEORIAS DA PERSONALIDADE │ UNIDADE I

A seguir, os períodos em que se dá este desenvolvimento motor, verbal e mental.

»» Período Sensório-Motor – do nascimento aos 2 anos, aproximadamente.   A


ausência da função semiótica é a principal característica deste período. A inteligência
trabalha por meio das percepções (simbólico) e das ações (motor) por meio dos
deslocamentos do próprio corpo. É uma inteligência iminentemente prática. Sua
linguagem vai da ecolalia (repetição de sílabas) à palavra-frase (“água” para dizer
que quer beber água) já que não representa mentalmente o objeto e as ações. Sua
conduta social, neste período, é de isolamento e de indiferenciação (o mundo é ele).

»» Período Simbólico – dos 2 anos aos 4 anos, aproximadamente. Neste período


aparece a função semiótica que permite o surgimento da linguagem, do desenho,
da imitação, da dramatização etc. Podendo criar imagens mentais na ausência do
objeto ou da ação é o período da fantasia, do faz de conta, do jogo simbólico. Com a
capacidade de formar imagens mentais, pode transformar o objeto numa satisfação
de seu prazer (uma caixa de fósforos em carrinho, por exemplo). É também o
período em que o indivíduo “dá alma” (animismo) aos objetos (“o carro do papai
foi ‘dormir’ na garagem”). A linguagem está em nível de monólogo coletivo, ou seja,
todos falam ao mesmo tempo sem que respondam as argumentações dos outros.
Duas crianças “conversando” dizem frases que não têm relação com a frase que o
outro está dizendo. Sua socialização é vivida de forma isolada, mas no coletivo. Não
há liderança e os pares são constantemente trocados.

Existem outras características do pensamento simbólico que não estão sendo


mencionadas aqui, uma vez que a proposta é de sintetizar as ideias de Jean Piaget,
como, por exemplo, o nominalismo (dar nomes às coisas das quais não sabe o nome
ainda), superdeterminação (“teimosia”), egocentrismo (tudo é “meu”) etc.

»» Período Intuitivo – dos 4 anos aos 7 anos, aproximadamente. Neste período já


existe um desejo de explicação dos fenômenos. É a “idade dos porquês”, pois o
indivíduo pergunta o tempo todo. Distingue a fantasia do real, podendo dramatizar
a fantasia sem que acredite nela. Seu pensamento continua centrado no seu próprio
ponto de vista. Já é capaz de organizar coleções e conjuntos sem, no entanto,
incluir conjuntos menores em conjuntos maiores (rosas no conjunto de flores, por
exemplo). Quanto à linguagem não mantém uma conversação longa, mas já é capaz
de adaptar sua resposta às palavras do companheiro.

Os Períodos Simbólico e Intuitivo são também comumente apresentados como


Período Pré-Operatório.

»» Período Operatório Concreto – dos 7 anos aos 11 anos, aproximadamente. É


o período em que o indivíduo consolida as conservações de número, substância,
volume e peso. Já é capaz de ordenar elementos por seu tamanho (grandeza),
incluindo conjuntos, organizando, então, o mundo de forma lógica ou operatória.
Sua organização social é a de bando, podendo participar de grupos maiores,
chefiando e admitindo a chefia. Já podem compreender regras, sendo fiéis a ela,

45
UNIDADE I │ TEORIAS DA PERSONALIDADE

e estabelecer compromissos. A conversação torna-se possível (já é uma linguagem


socializada), sem que, no entanto, possam discutir diferentes pontos de vista para
que cheguem a uma conclusão comum.

»» Período Operatório Abstrato – dos 11 anos em diante. É o ápice do


desenvolvimento da inteligência e corresponde ao nível de pensamento hipotético-
dedutivo ou lógico-matemático. É quando o indivíduo está apto para calcular uma
probabilidade, libertando-se do concreto em proveito de interesses orientados para
o futuro. É, finalmente, a “abertura para todos os possíveis”. A partir desta
estrutura de pensamento é possível a dialética, que permite que a linguagem se dê
em nível de discussão para se chegar a uma conclusão. Sua organização grupal pode
estabelecer relações de cooperação e reciprocidade. (BELLO J. L. A Teoria Básica
de Jean Piaget. Vitória, 1995. Em: <http://www.pedagogiaemfoco.pro.br>. Acesso
em: 11 de maio de 2010).

A importância de se definir os períodos de desenvolvimento da inteligência reside no fato de


que, em cada um, o indivíduo adquire novos conhecimentos ou estratégias de sobrevivência, de
compreensão e de interpretação da realidade. A compreensão desse processo é fundamental para
que os professores possam também compreender com quem estão trabalhando.

A obra de Jean Piaget não oferece aos educadores uma didática específica sobre como desenvolver a
inteligência do aluno ou da criança. Piaget mostra-nos que cada fase de desenvolvimento apresenta
características e possibilidades de crescimento da maturação ou de aquisições. O conhecimento
dessas possibilidades faz com que os professores possam oferecer estímulos adequados a um maior
desenvolvimento do indivíduo.

Aceitar o ponto de vista de Piaget, portanto, provocará turbulenta revolução no


processo escolar (o professor transforma-se numa espécie de ‘técnico do time
de futebol’, perdendo seu ar de ator no palco). [...] Quem quiser segui-lo tem de
modificar, fundamentalmente, comportamentos consagrados, milenarmente
(aliás, é assim que age a ciência e a pedagogia começa a tornar-se uma arte
apoiada, estritamente, nas ciências biológicas, psicológicas e sociológicas).
Onde houver um professor ‘ensinando’... aí não está havendo uma escola
piagetiana! (LIMA, 1980, p. 131). (BELLO J. L. A Teoria Básica de Jean Piaget.
Vitória, 1995. Em: <http://www.pedagogiaemfoco.pro.br>. Acesso em: 11 de
maio de 2010).

46
Transtornos da Unidade iI
Personalidade

capítulo 1
Definições de transtornos da
personalidade

Curso de psicopatologia – Isaías Paim. Ed. EPU (é um manual didático adotado


em vários institutos de psiquiatria e psicologia de universidades brasileiras. Indicado
para um aprofundamento nas questões clínicas).

Que tal criarmos uma sessão chamada CINE ANÁLISE?

De início, sugiro os seguintes filmes para futuras discussões:

»» Uma Mente Brilhante (em inglês: A Beautiful Mind), é um filme de


2001, do gênero drama biográfico, dirigido por Ron Howard, sobre a vida
do matemático John Forbes Nash.

»» Girl, Interrupted (em português: Garota Interrompida) é um filme de


1999, dirigido por James Mangold. Winona Ryder interpreta Susanna
Kaysen, uma garota que vai para um hospital psiquiátrico durante os anos
1960. Baseado em livro de memórias homônimo, escrito por Susanna
Kaysen.

»» A Cela (em inglês: The Cell) é um filme de 2000, dirigido por Tarsem Singh.

»» Freud (em português: Freud, além da alma) é um filme de 1962, dirigido


por John Huston.

»» 8 Milímetros (no original em inglês: 8mm) é um filme de 1999, realizado


por Joel Schumacher.

Bom filme!!

47
UNIDADE II │ Transtornos da Personalidade

Só os fatos da infância explicam a sensibilidade aos traumatismos futuros e


só com o descobrimento desses restos de lembranças, quase regularmente
olvidados, e com a volta deles à consciência, é que adquirimos o poder de
afastar os sintomas.
(Sigmund Freud)

De perto ninguém é normal.


(Caetano Veloso – Vaca Profana).

Os Transtornos da Personalidade caracterizam pessoas que não têm uma maneira absolutamente
normal de viver (do ponto de vista estatístico e comparando com a média das outras pessoas), mas
não chegam a preencher os critérios para um transtorno mental franco.

EsSas alterações quando permanentes, diferente das alterações patológicas que podem surgir de
um momento para outro, constitui o que poderíamos chamar de Ego Patológico ou Transtorno de
Personalidade (Ey). 

De acordo com Henri Ey, entendendo o Ego como equivalente à Personalidade, a liberdade e a
individualidade, características da personalidade normal, estariam comprometidas em determinadas
alterações permanentes da maneira de existir no mundo, como se a pessoa fosse refém de seus
próprios traços, inflexíveis e permanentes.

O Transtorno de Personalidade seria uma maneira de atuar permanente, continuada e duradoura de


um Ego não normal, ao contrário das alterações francamente patológicas que podem ocorrer durante
a vida, a partir de um momento definido (tal quais as crises, os surtos, os processos patológicos).

Em psicopatologia, as anormalidades da personalidade reportam-se, principalmente, à possibilidade


que se tem de classificar determinada personalidade como sendo desta ou daquela maneira de
existir, enquanto o normal seria a pessoa ser “um pouco de tudo”, ou seja, ter um pouco de cada
característica humana sem prevalecer patologicamente nenhuma delas.

Desta forma, diante da possibilidade de se destacar um traço marcante, específico e característico


numa determinada pessoa, ou seja, diante do fato desta personalidade ser caracterizada por um
determinado traço, torna-se possível sua classificação. 

Caso, ainda, essa característica responsável por sua classificação, prejudique  a liberdade dessa
personalidade ser livre e desimpedida de qualquer estigma limitador de sua maneira de ser, caso
ainda essa característica faça sofrer seu portador ou outras pessoas, aí, então, ao invés de estarmos
diante de apenas um certo tipo de personalidade, ou de um certo traço, estaremos diante de um
Transtorno de Personalidade.

Karl Jaspers afirma serem anormais as personalidades que fazem sofrer tanto o indivíduo quanto
aqueles que o rodeiam. Para ele, as personalidades anormais representam variações não normais
da natureza humana e que, na eventualidade de superpor-se a elas algum processo, tornar-se-
iam personalidades propriamente mórbidas (doentias). Jaspers aborda o tema sob a ótica das
variações do existir humano de origem constitucional (que fazem parte da pessoa). (BALLONE

48
Transtornos da Personalidade │ UNIDADE II

G. J. Transtornos da Personalidade. Em: <http:// www.psiqweb.med.br/persona/persona.html>.


Acesso em: 3 de fevereiro de 2011).

Assim, podemos considerar a maneira própria das Personalidades Anormais de ser no mundo como
uma apresentação do indivíduo diante da vida situada nas extremidades da faixa de tolerância
de sanidade pelo sistema cultural. Essas personalidades anormais seriam alterações perenes do
caráter caracterizando não apenas a maneira de ESTAR no mundo, mas, sobretudo, a maneira de o
indivíduo SER no mundo.

A Organização Mundial de Saúde trata o assunto sob o título de Transtornos da Personalidade e de


Comportamentos, especificando-os nos títulos de F60 até F69 na Classificação Internacional das
Doenças (CID-10). Descreve tais transtornos da seguinte maneira:

Estes tipos de condição (Transtornos de Personalidade) abrangem padrões de


comportamento profundamente arraigados e permanentes, manifestando-se
como respostas inflexíveis a uma ampla série de situações pessoais e sociais.
Eles representam desvios extremos ou significativos do modo como o indivíduo
médio, em uma dada cultura, percebe, pensa, sente e, particularmente, se
relaciona com os outros. Tais padrões de comportamento tendem a ser estáveis e
a abranger múltiplos domínios de comportamento e funcionamento psicológico.
Eles estão frequentemente, mas não sempre associados a graus variados de
angústia subjetiva e a problemas no funcionamento e desempenho sociais.
(BALLONE G. J. Transtornos da Personalidade. Em: <http:// www.psiqweb.med.br/persona/
persona.html>. Acesso em: 3 de fevereiro de 2011).

Os Transtornos de Personalidade, segundo ainda o CID-10, são condições do desenvolvimento


da personalidade, aparecem na infância ou na adolescência e continuam pela vida adulta. Essa
condição diferencia o Transtorno da Alteração da Personalidade. Esta última (Alteração), sucede
durante a vida como consequência de algum outro transtorno emocional ou mesmo seguindo-se à
estresse grave. (BALLONE G. J. Transtornos da Personalidade. Em: <http:// www.psiqweb.med.
br/persona/persona.html>. Acesso em: 3 de fevereiro de 2011).

Segundo o DSM-IV-TR (2003), entende-se como Transtorno de Personalidade um padrão de


comportamento invasivo, persistente e inflexível que tem início na adolescência ou na fase adulta
jovem. Necessariamente, segundo critérios médicos, apresenta estabilidade ao longo do curso da
vida e provoca grande sofrimento psíquico e prejuízo laboral, a saber.

»» Critério A: um padrão persistente de vivência íntima ou comportamento que se


desvia acentuadamente das expectativas da cultura do indivíduo. Esse padrão se
manifesta em duas, ou mais, das seguintes áreas.

›› Cognição.

›› Afetividade.

›› Funcionamento interpessoal.

›› Controle dos impulsos.

49
UNIDADE II │ Transtornos da Personalidade

»» Critério B: o padrão persistente é inflexível e abrange uma ampla faixa de situações


pessoais e sociais.

»» Critério C: o padrão persistente provoca sofrimento clinicamente significativo ou


prejuízo no funcionamento social, ocupacional ou em outras áreas importantes da
vida do indivíduo.

»» Critério D: o padrão é estável e de longa duração, podendo seu início remontar à


adolescência ou começo da idade adulta.

»» Critério E: o padrão persistente não é mais bem explicado com uma manifestação
ou consequência de outro transtorno mental.

»» Critério F: o padrão persistente não é decorrente dos efeitos fisiológicos diretos


de uma substância, por exemplo, drogas entorpecentes, medicamentos) ou de uma
condição médica geral, por exemplo, traumatismo craniano (DSM-IV-TR. Manual
diagnóstico e estatístico de transtornos mentais, trad. Claúdia Dornelles, 4. ed. rev.,
Porto Alegre, s/ed., 2002, p. 645).

Assim, conforme o DSM-IV-TR, os transtornos de personalidade são divididos em dez tipos.

Transtorno da Personalidade Paranoide


É um padrão de desconfiança e suspeitas, de modo que os motivos dos outros são interpretados como
malévolos. Esse padrão tem início no começo da idade adulta e está presente em uma variedade de
contextos.

Os indivíduos com o transtorno supõem que as outras pessoas os exploram, prejudicam ou enganam,
ainda que não exista qualquer evidência apoiando essa ideia (Critério A1). Eles suspeitam, com base
em poucas ou nenhuma evidência, que os outros estão conspirando contra eles e que poderão atacá-
los subitamente, a qualquer momento e sem qualquer razão.

Transtorno da Personalidade Esquizoide


É um padrão de distanciamento dos relacionamentos sociais, com uma faixa restrita de expressão
emocional em contextos interpessoais. Esse padrão começa no início da idade adulta e apresenta-se
em variados contextos.

Os indivíduos com Transtorno da Personalidade Esquizoide parecem não possuir um desejo de


intimidade, mostram-se indiferentes às oportunidades de desenvolver relacionamentos íntimos, e
parecem não obter muita satisfação no fato de fazerem parte de uma família ou de outro grupo social
(Critério A1). Eles preferem passar seu tempo sozinhos a estarem com outras pessoas (Critério A2).
Com frequência, parecem ser socialmente isolados ou “solitários”, quase sempre escolhendo atividades
ou passatempos solitários que não envolvam a interação com outras pessoas (Critério A4 e A5).

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Transtornos da Personalidade │ UNIDADE II

Transtorno da Personalidade Esquizotípica


É um padrão de desconforto agudo em relacionamentos íntimos, distorções cognitivas ou da
percepção de comportamento excêntrico. A característica essencial do Transtorno da Personalidade
Esquizotípica é um padrão invasivo de deficits sociais e interpessoais, marcado por agudo desconforto
e reduzida capacidade para relacionamentos íntimos, além de distorções cognitivas ou perceptivas e
comportamento excêntrico.

Os indivíduos com Transtorno da Personalidade Esquizotípica, muitas vezes, têm ideias de


referência (isto é, interpretações incorretas de incidentes casuais e acontecimentos externos como
se tivessem um significado particular e incomum, especificamente destinado a eles – Critério A1).
Esses indivíduos podem ser supersticiosos ou preocupar-se com fenômenos paranormais que estão
fora das normas de sua subcultura (Critério A2). Eles podem pensar que possuem poderes especiais
de pressentir acontecimentos ou de ler os pensamentos de outras pessoas. Eles podem crer que
possuem um controle mágico sobre os outros (Critério A3). Seu discurso é quase sempre desconexo,
digressivo ou vago, porém sem uma real incoerência (Critério A4). Apresentam desconfiança ou
ideação paranoide, afeto inadequado ou constrito.

Transtorno da Personalidade Antissocial


É um padrão de desconsideração e violação dos direitos dos outros que inicia na infância ou começo
da adolescência e continua na idade adulta.

Esse padrão também é conhecido como psicopatia, sociopatia ou transtorno da personalidade


dissocial. O Transtorno da Conduta envolve um padrão de comportamento repetitivo e persistente,
no qual ocorre violação dos direitos básicos dos outros ou de normas ou regras sociais importantes
e adequadas à idade (Critério A1). Os comportamentos específicos característicos do Transtorno
da Conduta ajustam-se a uma entre quatro categorias: agressão a pessoas e animais, destruição
de propriedade, defraudação ou furto, ou séria violação de regras (Critério A4). Há uma grande
propensão para enganar, indicada por mentir repetidamente, usar nomes falsos ou ludibriar para
obter vantagens pessoais ou prazer (Critério A2). As pessoas com Transtorno de Conduta têm
ausência de remorso, indicada por indiferença ou racionalização por ter ferido, maltratado ou
roubado alguém.

Para receber esse diagnóstico, a pessoa tem de ter idade mínima de 18 anos e já ter apresentado
alguns sintomas do transtorno de conduta antes dos 15 anos.

Transtorno da Personalidade Borderline


É um padrão de instabilidade nos relacionamentos interpessoais, autoimagem e afetos, bem como
de acentuada impulsividade. Eles podem jogar, fazer gastos irresponsáveis, comer em excesso,
abusar de substâncias, fazer sexo inseguro ou dirigir de forma imprudente (Critério 4).

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UNIDADE II │ Transtornos da Personalidade

Os indivíduos com Transtorno da Personalidade Borderline fazem esforços frenéticos para evitarem
um abandono real ou imaginado (Critério 1). A percepção da separação ou rejeição iminente ou a
perda da estrutura externa podem ocasionar profundas alterações na autoimagem, afeto, cognição
e comportamento (Critério 3). Esses indivíduos são muito sensíveis às circunstâncias ambientais.
Eles experimentam intensos temores de abandono e raiva inadequada, mesmo diante de uma
separação real de tempo limitado ou quando existem mudanças inevitáveis em seus planos (por
ex., reação de súbito desespero quando o clínico anuncia o final da sessão; pânico ou fúria quando
alguém que lhes é importante se atrasa apenas alguns minutos ou precisa cancelar um encontro –
Critério 2). Eles podem acreditar que esse “abandono” implica que eles são “maus”. Esse medo do
abandono está relacionado a uma intolerância à solidão e a uma necessidade de ter outras pessoas
consigo. Seus esforços frenéticos para evitar o abandono podem incluir ações impulsivas, tais como
comportamentos de automutilação ou suicidas (Critério 5).

Transtorno da Personalidade Histriônica


É um padrão de excessiva emotividade e busca de atenção. Os indivíduos com Transtorno da
Personalidade Histriônica sentem-se desconfortáveis ou desconsiderados quando não são o centro
das atenções (Critério 1). Frequentemente animados e dramáticos, tendem a chamar a atenção
sobre si mesmos e podem, de início, encantar as pessoas com quem travam conhecimento por
seu entusiasmo, aparente franqueza ou capacidade de sedução. Tais qualidades, contudo, perdem
sua força à medida que esses indivíduos continuamente exigem ser o centro das atenções. Eles
requisitam o papel de «dono da festa». Quando não são o centro das atenções, podem fazer algo
dramático (por ex., inventar estórias, fazer uma cena) para chamar a atenção. Essa necessidade
frequentemente se manifesta em seu comportamento diante do clínico (por ex., adular, trazer
presentes, oferecer descrições dramáticas de sintomas físicos e psicológicos). A interação com os
outros frequentemente se caracteriza por um comportamento inadequado, sexualmente provocante
ou sedutor (Critério 2). Este comportamento é dirigido não apenas às pessoas pelas quais o indivíduo
demonstra um interesse sexual, mas ocorre em uma ampla variedade de relacionamentos sociais,
ocupacionais e profissionais, além do que seria adequado para o contexto social. As pessoas com
esse transtorno muitas vezes consideram os relacionamentos mais íntimos do que são de fato,
descrevendo praticamente qualquer pessoa recém-conhecida como «meu querido amigo» (Critério
8). Comumente têm devaneios românticos.

Transtorno da Personalidade Narcisista


É um padrão de grandiosidade, necessidade por admiração e falta de empatia (Critério 3).

A vulnerabilidade da autoestima torna os indivíduos com Transtorno da Personalidade Narcisista


muito sensíveis a “mágoas” por críticas ou derrotas. Embora possam não demonstrar abertamente
as críticas, podem assolar esses indivíduos e levá-los a se sentirem humilhados, degradados e
vazios. Sua reação pode ser de desdém, raiva ou contra-ataque afrontoso. Essas experiências
frequentemente levam a um retraimento social ou a uma aparência de humildade que pode
mascarar e proteger a grandiosidade. As relações interpessoais são comprometidas pelos problemas

52
Transtornos da Personalidade │ UNIDADE II

resultantes do sentimento de intitulação, da necessidade de admiração e do relativo desrespeito à


sensibilidade alheia. Embora a ambição e a confiança ufanista possam levar a altas realizações, o
desempenho pode ser perturbado em virtude da intolerância a críticas ou derrotas. Essas pessoas
constantemente se preocupam com fantasias de sucesso ilimitado, poder, inteligência, beleza ou
amor ideal (Critério 2). Existe uma presunção grande, por ter expectativas irracionais de receber
um tratamento especialmente favorável ou obediência automática às suas expectativas (Critério 5).
Frequentemente sentem inveja de outras pessoas ou acreditam ser alvo da inveja alheia (Critério 8).
Às vezes o desempenho profissional pode ser muito baixo, refletindo uma relutância para assumir
riscos em situações competitivas ou de outra espécie, nas quais a derrota é possível. Sentimentos
persistentes de vergonha ou humilhação e a autocrítica pertinente podem estar associados com
retraimento social, humor deprimido e Transtorno Depressivo Maior.

Transtorno da Personalidade Esquiva


É um padrão de inibição social, sentimentos de inadequação e hipersensibilidade a avaliações
negativas. Os indivíduos com Transtorno da Personalidade Esquiva evitam atividades profissionais
ou escolares que envolvam contato interpessoal significativo por medo de críticas, desaprovação ou
rejeição. Ofertas de promoções no emprego podem ser recusadas, porque as novas responsabilidades
poderiam ocasionar críticas dos colegas de trabalho. Esses indivíduos evitam novas amizades, a
menos que tenham certeza de que serão estimados e aceitos sem críticas.

Os indivíduos com esse transtorno não participam de atividades de grupo, a menos que ocorram
repetidas e generosas ofertas de apoio e afeto (Critério 1). A intimidade interpessoal frequentemente
é difícil para esses indivíduos, embora consigam estabelecer relacionamentos íntimos quando
existem garantias de uma aceitação sem críticas (Critério 2). Eles podem agir de modo reservado,
ter dificuldade para falar sobre si mesmos e não expressar sentimentos íntimos por medo de serem
expostos, ridicularizados ou envergonhados.

Uma vez que os indivíduos com este transtorno se preocupam com críticas ou rejeição em situações
sociais, eles podem ter um limiar acentuadamente baixo para a detecção destas reações. Eles podem
ficar extremamente magoados com qualquer crítica ou desaprovação, por mais leve que seja. Estas
pessoas tendem a ser tímidas, quietas, inibidas e “invisíveis”, pelo medo de que qualquer atenção
possa trazer degradação ou rejeição (Critério 3 e 4).

Transtorno da Personalidade Dependente


A característica essencial do Transtorno da Personalidade Dependente é uma necessidade invasiva e
excessiva de ser cuidado, que leva a um comportamento submisso e aderente e ao medo da separação.
Os comportamentos dependentes e submissos visam a obter atenção e cuidados e surgem de uma
percepção de si mesmo como incapaz de funcionar adequadamente sem o auxílio de outras pessoas
(Critério 1).

Os indivíduos com Transtorno da Personalidade Dependente têm grande dificuldade em tomar


decisões corriqueiras (por ex., que cor de camisa usar para ir ao trabalho ou se devem levar o

53
UNIDADE II │ Transtornos da Personalidade

guarda-chuva) sem uma quantidade excessiva de conselhos e reasseguramento da parte dos outros.
Esses indivíduos tendem a ser passivos e a permitir que outras pessoas (frequentemente uma única
pessoa) tomem iniciativas e assumam a responsabilidade pela maioria das áreas importantes de suas
vidas (Critério 2). Estas pessoas vão a extremos para obter carinho e apoio, a ponto de oferecerem-
se para fazerem coisas desagradáveis (Critério 5). Sentem desconforto ou desamparo quando estão
sozinhos, pelo medo exagerado de serem incapazes de cuidarem de si próprios (Critério 6).

Transtorno da Personalidade Obsessivo-Compulsiva


A característica essencial do Transtorno da Personalidade Obsessivo-Compulsiva é uma preocupação
com organização, perfeccionismo e controle mental e interpessoal, às custas da flexibilidade, abertura
e eficiência. Esse padrão começa no início da idade adulta e está presente em uma variedade de
contextos.

Os indivíduos com Transtorno da Personalidade Obsessivo-Compulsiva tentam manter um


sentimento de controle por meio de uma atenção extenuante a regras, detalhes triviais, procedimentos,
listas, horários ou formalidades, chegando a perder o ponto mais importante da atividade (Critério
1 e 2). Eles são excessivamente cuidadosos e propensos à repetição, dando extraordinária atenção
a detalhes e verificando repetidamente, em busca de possíveis erros. Essas pessoas não percebem
que os outros tendem a ficar muito aborrecidos com os atrasos e inconveniências que resultam
de seu comportamento. Por exemplo, quando extraviam uma lista de coisas a fazer, passam um
período de tempo incomum procurando-a, ao invés de dispenderem alguns momentos recriando-a
de memória e seguirem com a realização das tarefas. O seu tempo é mal distribuído, sendo as tarefas
mais importantes deixadas para a última hora. O perfeccionismo e os altos padrões autoimpostos de
desempenho causam disfunção e sofrimento significativos nesses indivíduos, que podem se envolver
tanto na tarefa de tornar cada detalhe de um projeto absolutamente perfeito, a ponto de jamais
terminá-lo. Grande incapacidade de desfazer-se de objetos usados ou inúteis, mesmo quando não
têm valor sentimental (Critério 5). Relutância em delegar tarefas ou trabalhar em conjunto com
outras pessoas, a menos que estas se submetam a seu modo exato de fazer as coisas (Critério 6).

Apesar da semelhança de nomes, o Transtorno Obsessivo-Compulsivo em geral é facilmente


distinguido do Transtorno de Personalidade Obsessivo-Compulsiva pela presença de verdadeiras
obsessões e, necessariamente, compulsões (presença de rituais). Quando são preenchidos os
critérios para ambos os transtornos, os dois diagnósticos devem ser registrados.

54
Para (não) Finalizar

Tive um enorme prazer em ter assistido aula, na pós-graduação, com o Prof. Dr. Mário Louzâ. Entre
muitos ensinamentos que enriqueceram minha observação diagnóstica e, sobretudo, prática clínica
apresento a vocês o livro escrito por ele e logo abaixo uma crítica do, também, Prof. Dr. Lucas
Lovatto com relação ao livro em questão. Tenho certeza de que para quem quiser se aprofundar no
campo dos transtornos da personalidade encontrará nesta obra um grande incentivo. Boa leitura!

Ana Paula Chaves

Transtornos da Personalidade – Mário Rodrigues Louzã Neto, Táki Athanássios Cordás e colaboradores,
1. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011.

Os transtornos de personalidade são condições psiquiátricas complexas e possivelmente ainda pouco


entendidas diante dos conhecimentos e possibilidades da medicina atual. Possuem prevalências
significativas e alguns deles estão claramente relacionados com os piores prognósticos de transtornos
psiquiátricos do eixo I, elevado índice de suicídios, doenças clínicas e problemas familiares.
Suas apresentações são bastante heterogêneas, não só entre os 3 clusters, mas em cada uma das
11 possibilidades diagnósticas. Nas últimas décadas, a genética, a neurobiologia, a farmacologia
e os estudos de imagem somam-se à psicodinâmica na busca de uma melhor compreensão dos
transtornos de personalidade.

Os psiquiatras Mário Louzã e Táki Cordás, professores, pesquisadores e já editores de vários outros
livros importantes, reuniram uma série de profissionais envolvidos no tema e organizaram o livro
Transtornos da Personalidade.

O livro inicia, na Grécia antiga, com uma retrospectiva histórica das ideias iniciais sobre personalidade
e características individuais, discorrendo sobre o pensamento de filósofos, dos antigos alienistas,
de psicanalistas e de psiquiatras. Os primeiros capítulos são dedicados à epidemiologia, aspectos
genéticos e neurobiologia, escritos a partir de artigos recentes e resumindo o que há de mais novo
em estudos nestas áreas.

55
Para (Não) Finalizar

Um dos pontos fortes do livro é a maneira pela qual são discutidos alguns tópicos em conjunto – de
uma forma original – e que não levaria a uma leitura tão objetiva e clara se fossem lidos, como o
são editados, de forma separada, em artigos de revistas. Neste formato, alguns capítulos merecem
destaque: Transtornos de Conduta na Infância e Transtorno de Personalidade Antissocial;
Personalidade, Transtornos de Personalidade e Esquizofrenia; Transtornos da Personalidade e
Transtornos Dissociativos (ou conversivos); e Transtornos Somatoformes e Personalidade.

Além de capítulos sobre comorbidade/interface entre os transtornos de personalidade e transtornos


de ansiedade, de humor e de dependência química, também aparecem textos específicos sobre a
relação entre os transtornos de personalidade e obesidade, transtornos alimentares, de deficit de
atenção e transtornos da sexualidade.

É importante salientar que vários capítulos do livro discorrem sobre personalidade borderline ou
limítrofe: a visão psicanalítica sobre esse transtorno específico de personalidade, a importância do
vínculo terapêutico com esses pacientes, as possibilidades farmacológicas disponíveis e uma ideia
a respeito da terapia comportamental dialética. O livro traz, também, elementos para que o leitor
possa refletir sobre a frequente e desafiadora pergunta de alta relevância clínica: qual o limite entre
transtorno borderline de personalidade e transtorno de humor bipolar?

Pessoalmente, gostei muito do último capítulo, que cumpre o caminho da ciência em não encerrar
a reflexão acerca de um assunto, mas, sim, em abrir uma (muitas) ideia(s). Este livro discute os
transtornos de personalidade desde a perspectiva do risco do julgamento moral a que seus portadores
estão submetidos até a possibilidade epigenética, de um modo integrativo e não dissociado.

Os autores e seus colaboradores, de fato, realizaram um excelente trabalho e penso que essa obra,
realizada no Brasil, é uma boa sugestão de leitura aos que buscam uma expansão do conhecimento
no campo dos transtornos de personalidade”.

Lucas Lovato

Professor e pesquisador do Programa de Pesquisa e Ensino dos Transtornos de Personalidade da


residência em psiquiatria do Hospital Psiquiátrico São Pedro, Porto Alegre: RS.

56
Referências
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mentais. 4. ed. rev. Porto Alegre: Artmed, 2003.

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Referências

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<www.psicoweb.com.br>

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