Um Estudo Sobre A Psicologia Infantil PDF
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Um Estudo Sobre A Psicologia Infantil PDF
Brasília-DF.
Elaboração
Produção
APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 4
INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7
UNIDADE I
PSICOLOGIA INFANTIL E SEU VASTO UNIVERSO........................................................................................ 9
CAPÍTULO 1
PSICOLOGIA INFANTIL............................................................................................................... 9
UNIDADE II
JOGOS E PERCURSOS DA PSICOMOTRICIDADE: CRIANÇAS EM MOVIMENTO........................................ 23
CAPÍTULO 1
JOGOS................................................................................................................................... 23
UNIDADE III
O DESENHO INFANTIL........................................................................................................................... 70
CAPÍTULO 1
DESENHO INFANTIL: O OLHAR DA ARTETERAPIA........................................................................ 70
UNIDADE IV
SONHOS DE CRIANÇAS........................................................................................................................ 76
CAPÍTULO 1
SONHOS DE CRIANÇAS.......................................................................................................... 76
REFERÊNCIAS................................................................................................................................... 97
Apresentação
Caro aluno
Conselho Editorial
4
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de
Estudos e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Praticando
5
Atenção
Saiba mais
Sintetizando
6
Introdução
A psicologia infantil comporta várias abordagens. De acordo com o espírito da psicologia
freudiana, este Caderno de Estudos e Pesquisa poderia ter um ponto de vista puramente
hedonístico, em que o processo psíquico seria interpretado como um movimento
determinado pelo princípio do prazer. Os motivos seriam então, o desejo e a busca
daquela atuação da fantasia que proporcionasse o maior prazer e satisfação possíveis.
Se por outra abordagem, o mesmo material poderia ser visto à luz do princípio do poder,
que vem a ser uma maneira tão válida em psicologia como o princípio do prazer. Ou, de
uma forma mais lógica, acompanhar o desenvolvimento do processo lógico na criança.
Após esta breve introdução, esperamos que o conhecimento embutido neste Caderno
de Estudos e Pesquisa seja útil para todas as outras disciplinas relacionadas a esta e
esperamos que você venha a contribuir com sua participação, com opiniões, práticas
e vivências em diferentes âmbitos, pessoal e profissional, seja em qual área atue, e
contribuir neste processo de ensino-aprendizagem.
Objetivos
»» Apresentar trechos da obra de Jung sobre o desenvolvimento da
personalidade.
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8
PSICOLOGIA INFANTIL E UNIDADE I
SEU VASTO UNIVERSO
CAPÍTULO 1
Psicologia infantil
Psicologia infantil
A Psicologia é uma ciência que trata do ser humano numa perspectiva biopsicossocial
ao interagir com várias áreas do saber e práticas sociais.
Tem seu foco em duas variáveis que podem vir a incidir no desenvolvimento da criança:
o fator ambiental, como a influência dos seus pais ou dos seus amigos, e o fator biológico,
determinado pela genética.
No que diz respeito às suas principais teorias, a psicologia infantil baseia-se na descrição
da personalidade e na percepção desenvolvida pelo Austríaco Sigmund Freud e nos
conceitos do saber cognitivo propostos pelo Suíço Jean Piaget.
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UNIDADE I │ PSICOLOGIA INFANTIL E SEU VASTO UNIVERSO
Piaget, por sua vez, concentra-se no conhecimento inato da criança, que aparece desde
o nascimento e que permite a aprendizagem sem necessidade de recorrer a estímulos
externos.
Os transtornos psicológicos mais comuns nas crianças são aqueles que estão
relacionados com o sono, os temores noturnos, os medos em geral, a alimentação, a
atividade (agitação excessiva, tiques) e a linguagem (gaguejo, afasia e outros).
O desenvolvimento da personalidade
(Seminários de Jung)
Por volta dos três anos de idade, desenvolve-se entre esta e sua avó, um diálogo onde a
criança questiona a razão dos olhos murchos da idosa que, lhe responde ser por causa
da velhice. Em retorno, a primeira indaga se a outra ficará jovem novamente. Não diz
esta, você sabe que envelhecerei mais ainda até a minha morte. A menina complementa:
e depois? Depois, me torno um anjo, diz a avó. E depois ainda, você vai ser de novo,
uma criancinha?
A menina procura dar solução a um problema que a acompanha: ela gostaria de ter
uma boneca “viva”. Além disso, perguntas sobre a origem dos bebês se sucediam sem
despertar a atenção dos pais para algo mais do que mera curiosidade infantil. Em algum
momento, estes passaram a estória sobre cegonhas trazendo bebês. No entanto, a
criança já conhecia outra explicação para o caso: crianças são anjos e moram no céu,
até que sejam trazidas pela cegonha.
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PSICOLOGIA INFANTIL E SEU VASTO UNIVERSO │ UNIDADE I
nossa menina “ganha” um irmão aos quatro anos de idade. Em princípio, a criança não
teria percebido a gravidez da mãe, mas na véspera do parto, o pai lhe pergunta o que
acha da ideia de ter um irmão. Sua resposta foi – eu mataria ele. Não se entenda aí,
o sentido real da palavra matar, pois para a mente infantil ela significa afastamento,
como Freud já o demonstrara.
Fica então, evidenciado, parte do conflito existente. Não houve uma total adesão à ideia
da cegonha, mas sim à da encarnação, onde se torna necessária a morte de alguém
para o nascimento de outro. No entanto, a mãe não morreu e a criança nasceu e então,
como explicar esse nascimento ou, por extensão, todos? Há um retorno à teoria da
cegonha, mas uma explicação permanece oculta aos pais, pois a criança encontrar-se,
por algumas semanas, na casa da avó.
A chegada de uma freira, como ama-seca teve grande impacto na menina por conta
de sua vestimenta e a menina lhe opunha feroz resistência. Não permitia que esta
lhe colocasse a roupa para dormir e nem que a conduzisse à cama. O motivo dessa
resistência esclareceu-se posteriormente quando, junto ao irmão, esta gritou para a ama
que o irmãozinho era dela e não da outra. Passada a fase de resistência à ama, a menina
passou a demonstrar ares de tristeza, sentava-se embaixo da mesa onde cantarolava e
rimar histórias em torno do tema “ama”.
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UNIDADE I │ PSICOLOGIA INFANTIL E SEU VASTO UNIVERSO
A menina passa a mostrar-se teimosa e desobedecendo à mãe e diz que voltará para a
casa da avó. A mãe retruca que ficará triste se ela o fizer e esta, responde que a mãe já
tem o irmão. Escondia-se nestes procedimentos, a intenção infantil de saber o que a
mãe pretendia com ela se o irmão já a havia desbancado de seu afeto.
A menina podia ver e sentir que não houve tal subtração com a existência do irmão, é
uma acusação injustificada e já seria suficiente para que alguém experiente identificasse
o tom afetado. Tais entonações são comuns também em adultos, onde não se espera
que seja considerada e por este motivo, torna-se recorrente. A mãe, não carece de levar
a sério a acusação, pois esta é precursora de outras que irão advir, e mais fortes.
»» Mãe: “Já vais ver que estou dizendo a verdade; agora vamos ao jardim”.
»» Menina: “Será verdade? Será mesmo verdade? Não estás mesmo mentindo?
»» Menina (pensativa): “Será que vou ser uma mulher diferente de ti? Será
que vou morar em outro lugar? Será que ainda vou conversar contigo?”
Na verdade, a menina queria também um bebê para cuidar, assim com a mãe e
como a ama-seca. No entanto, como a mãe tinha um bebê sem haver sido ama-seca?
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PSICOLOGIA INFANTIL E SEU VASTO UNIVERSO │ UNIDADE I
De certo, ela também poderia ter um bebê, mas como seria? Como se tornaria igual à
mãe quanto ao modo de ter um bebê. Explica-se então a pergunta “Será que eu vou ser
uma mulher diferente de ti? “ Pois, se a teoria da cegonha é falha, morrer também não,
logo a maneira de se ter um bebê é sendo ama-seca. Mas a mãe tem um é não é? De que
forma o obteve? Veja que existe a intenção de se obter uma resposta fazendo perguntas
indiretas evitando a maneira direta que seria como ela conseguiu o bebê.
A menina encontra-se com um problema: afinal, de onde vêm os bebês? A cegonha não
trouxe, a mãe não morreu e não o ganhou da mesma forma que a ama-seca. Resumo, o
pai mente, a mãe mente e todos mentem, daí as acusações contra a mãe e desconfiança
por ocasião do parto. E, por esta razão, deles é que havia sido retirado o amor, por
esta razão a resistência contra a mãe, ou melhor, contra a resistência da mãe que lhe
ocultava, talvez por ser algo obscuro ou perigoso, a explicação sobre o aparecimento
de bebês.
Supõe-se ser muito pouco desenvolvido, em uma criança de quatro anos, a capacidade
de sublimação, mas esta irá se manifestar como gritos noturnos, chamados pela mãe,
como forma de compensação, para forçar o amor, que retornam após terem sido
utilizados nos primeiros anos de vida.
Por essa época, houve uma catástrofe que foi comentada na presença da menina, que
despertou seu interesse e que a fazia pedir, repetidas vezes, que se contassem os fatos.
Marca do aparecimento do medo durante as noites. Já não ficava mais sozinha, a mãe
precisava estar com ela para que a catástrofe não se repetisse em sua casa. E este temor
a acompanhava mesmo durante o dia, assim como as perguntas sobre a possibilidade
da casa não existir quando voltassem, se o pai estaria vivo.
Percebendo a situação, o pai pede à mãe que explique à menina a verdade sobre os
nascimentos. Voltando a ser indagada sobre a questão, a mãe conta que a estória da
cegonha é falsa e que o irmão foi crescendo em sua barriga. Mas, ele saiu sozinho?
Sim. Mas ele não sabe andar. Ora, saiu engatinhando, responde a irmã.
Tal resposta é ignorada pela menina que, apontando o seio da mãe questiona:
Haverá ali algum buraco? Ou ele terá saído pela boca? Quem terá saído da ama-seca?
E, interrompendo-se: “já sei, a cegonha buscou o irmão no céu”. E sem esperar por uma
resposta da mãe, atira-se a outra atividade.
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UNIDADE I │ PSICOLOGIA INFANTIL E SEU VASTO UNIVERSO
Por que a menina não procurou a explicação nas aberturas inferiores naturais do corpo
por onde continuamente, saem coisas? Por que procurar possibilidades absurdas como
buraco no peito ou saída pela boca? Explica-se pelas experiências que esta obteve, à
época em que questionava a mãe, sobre tais aberturas e os seus produtos, independente
do interesse sobre higiene ou boa educação e, percebeu que era assunto sensível, algum
tabu existente sobre a questão. Assim, tais aberturas estavam fora de cogitação para
quaisquer assuntos.
E assim, a pequena se acomodou e (pelo que ela mesma disse), somente em último
lugar pensou na coisa mais simples. Teorias erradas colocadas em substituição às
verdadeiras tendem a manterem-se indefinidamente até que, externamente, apareça,
repentinamente, um esclarecimento. O resultado é que, posteriormente, essas teorias
colocadas e desenvolvidas por pais e educadores venham a se mostrar como fonte de
sintomas na neurose ou, até mesmo, de delírios na psicose.
Embora não ainda esgotado o assunto “por onde saem os bebês”, apresenta-se novo
problema: da mãe saem filhos, mas como acontece com a ama-seca? Saiu alguém dela,
também? A seguir, mudança de rumo: Não, pois a cegonha buscou o irmão no céu.
A importância deste questionamento tem impacto pelo desejo anterior da menina de ser
ama-seca e quer também um bebê. No entanto, se o irmão cresceu na barriga da mãe,
como resolver a questão?
A menina surge com uma declaração nova, sem qualquer conexão com algo: “meu
irmão está na Itália e tem uma casa feita de pano de vidro e essa casa não pode cair”.
Há tempos, as duas meninas vinham fantasiando a existência de um irmão crescido,
um para cada uma, que tudo sabe, que tudo pode, que tudo tem. Este já esteve em
diversos lugares onde elas não foram e ainda está lá.
Verifica-se aí, que a fonte de tal fantasia é o pai, que se assemelha a um irmão da mãe
e, que cria a necessidade de ambas também tenham um. Esta figura poderosa vive no
lugar onde ocorreu a catástrofe, mora em casa que não pode desmoronar e assim, cria-se
para a menina um desejo significativo: a catástrofe deixou de representar um perigo.
O medo e a fobia realmente desaparecem. Já não chama mais o pai, à noite, para que
este espante seus medos.
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PSICOLOGIA INFANTIL E SEU VASTO UNIVERSO │ UNIDADE I
Algum tempo depois, um evento vem a perturbar a menina. Encontra-se o pai gripado
na cama quando esta o encontra, coisa a qual não está acostumada. Espanta-se e
mantém distância da cama, sentindo-se intimidada e desconfiada. Explode em uma
pergunta: Por que estás de cama? Tens também uma planta na barriga? O pai rindo,
explica que ter bebês é apenas para mulheres, homens não podem. A criança parece
aceitar a explicação, mas internamente, os problemas se avolumam. Em outra ocasião,
mais adiante, uma nova colocação: “Esta noite sonhei com a arca de Noé”. O pai a
questiona a respeito do sonho, mas esta esquivou-se, respondendo bobagens. A menina
retorna: “Esta noite sonhei com a arca de Noé, e que lá dentro havia muitos bichinhos”.
Após nova pausa: Esta noite sonhei com a arca de Noé, e que lá dentro havia muitos
bichinhos, e que a tampa se abriu, e que os bichinhos caíram todos para fora”.
De forma sutil, se faz no sonho referência ao problema: o nascimento pela boca ou pelo
peito não está certa, já se entrevendo como se dá – é por baixo que sai. As crianças
tinham mesmo uma arca de brinquedo, apenas a abertura ficava no telhado e não na
parte de baixo.
Por várias semanas nada ocorreu que justificasse atenção até a ocorrência de novo sonho:
“Sonhei com papai e mamãe, e que eles ficaram muito tempo ainda na sala de trabalho
do pai, e que nós, crianças, também estávamos lá”. Examinado superficialmente, nas
entrelinhas encontrar-se-á apenas, o desejo natural das crianças de ficarem acordadas
ao mesmo tempo que os pais. No entanto, neste caso, este desejo mascara outro que é o
de estar presente quando os pais se juntam à noite.
A sala de trabalho é o local onde é possível encontrar resposta para o problema “de
onde veio o irmão”, onde existem os livros já vistos pela menina e onde aplacou sua
necessidade de saber.
Em episódio posterior, a menina acorda aos gritos de que o terremoto está chegando, a
casa está tremendo e é acalmada pela mãe. Continuando, em tom insistente, a menina
diz: “sabe, eu queria agora ver a primavera, como brotam todas as florezinhas, e como
a campina fica toda coberta de flores – eu queria ver também meu irmão, pois ele
tem uma carinha tão querida – que está fazendo papai? – que é que ele está dizendo?
É informada pela mãe que “ele” está dormindo e não está dizendo nada. A menina
acrescenta, com ironia: “Certamente, ele amanhã vai estar doente outra vez!”.
Se lido de trás para frente, a ironia pode ser desconsiderada, mas a mãe pode ter um
bebê (o pai ainda que “doente” não o pode fazer). Mas de onde ela pode ter um bebê?
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UNIDADE I │ PSICOLOGIA INFANTIL E SEU VASTO UNIVERSO
Qual o papel do pai, se não pode ter bebês? Ela precisa saber como o irmão veio ao mundo,
precisa ter seus problemas esclarecidos. Questionada pela mãe, na manhã seguinte,
sobre a noite anterior, a menina havia esquecido tudo e achava que tinha sonhado:
“Eu sonhei que podia fazer o verão, e então alguém jogou um boneco Gasparzinho
no sanitário”.
Apresentam-se mais de um cenário para este sonho permeados pela partícula “então”.
O primeiro cenário é uma variante do segundo: fazer o verão sucede-se a ver a primavera
ou florezinhas brotarem, ou seja, fazer as florezinhas brotarem, fazer um bebê.
O segundo cenário, aponta para a dinâmica do ato: é bem como se faz para evacuar (cair
no vaso – assim deve sair o bebê).
A visita de uma mulher grávida é motivo de uma nova brincadeira para as meninas:
apanharam jornais velhos e os colocaram por baixo das roupas. A noite seguinte traz
novo sonho: “Eu sonhei com uma mulher da cidade, e que ela tinha a barriga muito
grande”. A personagem central do sonho é sempre aquele que sonha, dissimulado sob
outra aparência.
Dias após, a menina surpreende a mãe com nova apresentação: havia enfiado uma
boneca por baixo do vestido e agora a retirava, lentamente, de cabeça para baixo, e
completava “olha! O bebê está saindo agora e, já acabou de sair todinho”. Oculta, estava
a pergunta para a mãe: É assim que imagino que seja, o que tens a dizer? Está certo?”.
Nota-se que uma confirmação ainda se faz necessária.
Em outra ocasião, estavam à mesa, a menina pediu uma laranja que segundo ela, seria
engolida inteira até chegar a barriga e depois, ela teria um bebê. A questão agora era a
solução do problema de como os bebês entram na barriga da mãe. Uma nova forma de
questionamento.
A questão de como o bebê entra no corpo da mãe é de difícil solução. A via normal
para a entrada de tudo no corpo é a oral, logo a mãe deve ter ingerido algo que
posteriormente cresceu em seu corpo. Mas uma dificuldade ainda maior se apresenta:
já se sabe o que é produzido pela mãe, mas não a função do pai. Tem-se uma velha regra
de tornar independentes duas coisas desconhecidas esperando-se que ao se conhecer
uma, se solucione a outra. A menina estava convicta de que o pai tinha que ter alguma
participação em tudo isso, seja qual fosse ela. Mas, qual seria essa participação?
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PSICOLOGIA INFANTIL E SEU VASTO UNIVERSO │ UNIDADE I
Certa manhã, esta entra correndo no quarto onde estão os pais e, pulando na cama,
deita-se de bruços, põem-se a bater as pernas e diz: “Não é assim que o papai faz?”.
Sem saber o que responder, apenas sorriem para a menina. Posteriormente, se deram
conta do significado da representação da menina. E assim, as coisas pareciam haver
se acomodado.
E assim foi pelos próximos cinco meses, nada havia sido notado de significativo no
comportamento da menina, quando então surgiram sinais de que algo aconteceria.
Por essa ocasião, morava a família em uma residência no campo, próximo a uma
lagoa, onde as crianças brincavam na companhia da mãe. O pai, sabedor que a menina
demonstrava medo de entrar na água quando esta alcançava a altura dos joelhos, o pai a
colocou sentada dentro da água, o que fez com que ela fizesse uma tremenda algazarra.
À noite, ao deitar-se, perguntou à mãe: “O papai não queria me afogar?”
Passam-se os dias e nova algazarra. Por haver estado em pé um bom tempo em frente
ao jardineiro, por brincadeira, ele a colocou dentro de um buraco que havia cavado.
A menina, aos prantos, gritava que este queria enterrá-la. À noite, a mãe vai ao quarto
da menina que gritava e disse que tinha sonhado que um trem estava passando lá em
cima e caiu. Nota-se uma barreira existente no processo de direcionamento do amor
para os pais e, dessa forma, parte dele, convertido em medo.
O objeto de sua desconfiança, agora, é o pai. Ele é que devia ter conhecimento das
coisas, mas nunca se pronunciou a respeito. Os pensamentos dela se voltam para saber
o que o pai trama ou faz secretamente. Ela precisa se cuidar para o pior que possa vir
do pai.
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UNIDADE I │ PSICOLOGIA INFANTIL E SEU VASTO UNIVERSO
»» Cabelos, também? Como é que os ratinhos vêm a esse mundo sem pelos?
Onde estavam antes os pelos? Temos que botar sementinhas para isso?
É nesse momento que o pai se verifica cercado e adivinhando para onde a conversa
se dirigia.
A criança, decepcionada: “Como o irmão entrou na mamãe? Quem fez com que ele
ficasse lá dentro? Por onde saiu?”
O pai considerou mais fácil, responder a mais recente: “Pense, meninos e meninas
crescem e se tornam homens e mulheres, mas só as mulheres podem ter filhos, por
onde seu irmão deve ter saído?”
A menina ignora a pergunta e replica: “Como ele entrou lá? Alguém o colocou?
Colocaram uma sementinha”?
Não havendo como esquivar-se, o pai explica a menina que ele dá a sementinha para
a mãe.
A vingança veio na manhã seguinte. A menina procura a mãe e lhe diz que o pai lhe
contou tudo! Que meu irmão era um anjinho e que a cegonha foi no céu e trouxe-o.
»» Não foi isso que seu pai lhe disse, tenho certeza.
A menina não lhe deu resposta, desatou a rir e foi-se. Se a mãe fingiu ignorar tudo o que
ela lhe havia perguntado, possivelmente ela mesma acreditava no que dizia.
Por esta mesma época, um marceneiro foi chamado para consertar uma gaveta
emperrada, no que foi observado pela menina ao aplainar a madeira. Nesta noite, outro
sonho: “O marceneiro aplainava os órgãos sexuais dela”.
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PSICOLOGIA INFANTIL E SEU VASTO UNIVERSO │ UNIDADE I
Entenda-se, “será que dará certo comigo?” “Será que preciso fazer algo parecido com
o que o marceneiro fez? Desta forma, o mecanismo pormenorizado do nascimento
continua um mistério. Em outra ocasião, apresenta-se novo sonho: “Sonhei que estava
no quarto de dormir do tio e da tia. Os dois estavam deitados na cama. Eu retirei a
coberta do tio, sentei-me em cima do estômago dele e dei uma volta brincando
de cavalinho”.
Aparentemente, o sonho não teria ligação com algo significativo, mas as crianças
haviam estado na casa dos tios por um breve período e o pai, afastado com os negócios.
Este, ao voltar, perguntou a menina se ela viajaria com ele à noite para a cidade como
gracejo. Ela respondeu que sim e se poderia dormir com ele na cama? E se reclinou com
meiguice nos braços do pai, conforme o fazia a mãe. O pai falou que ela poderia dormir
no quarto ao lado. Foi quando, logo após, contou o sonho que tivera.
Parece haver uma semelhança entre o conteúdo sonhado e a conversa anterior com
o pai. Era criado um substituto, na verdade, ela estava na cama do pai. A decepção
sofrida com a resposta do pai trouxe um esclarecimento: isso acontece na cama e com
movimentos parecidos.
Por fim, encerram-se as observações nas quais foram baseadas esta explanação.
A menina, hoje, com pouco mais de cinco anos, já conhece fatos significativos sobre
a sua sexualidade sem que isso tenha concorrido para quaisquer efeitos prejudiciais
sobre sua atitude moral ou desenvolvimento do caráter. Presume-se que, para a irmã,
será necessário um esclarecimento adequado a ela, conforme a necessidade apareça.
Encerra-se com uma conclusão pessoal, que as crianças devem ser tratadas como são e
não como se gostaria. A educação deve seguir as orientações naturais do desenvolvimento
e não se prender a prescrições ultrapassadas.
Da formação da personalidade
Enfim, quem poderia esperar dos pais comuns que fossem, de fato, “personalidades”,
e quem já pensou alguma vez em inventar métodos com os quais se pudesse ensinar
“personalidade” aos pais?
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UNIDADE I │ PSICOLOGIA INFANTIL E SEU VASTO UNIVERSO
Por isso, naturalmente se espera mais do pedagogo, que é especialista formado e a quem
se ensinou, bem ou mal, a psicologia. Mas tal psicologia apresenta-se do ponto de vista
desta ou daquela orientação, em geral, completamente opostos, a respeito de como se
supõe que a criança deve ser dotada e de como deve ser tratada.
Com relação às pessoas jovens que escolheram a pedagogia como profissão, deve-se
pressupor que elas próprias tenham sido educadas, mas que todas elas já sejam
personalidades, não se ousaria informar. De modo geral, tiveram a mesma educação
defeituosa que as crianças às quais devem educar e, geralmente, não são personalidades,
como as crianças também, não o são.
Todo o nosso problema educacional tem orientação falha: vê apenas a criança que deve
ser educada sem considerar a carência dessa educação no educador adulto. Fala-se da
criança, mas se deve falar da criança que existe no adulto (uma criança eterna, algo
ainda em formação e que jamais estará terminado, que precisa de atenção e educação).
Esta é a parte da personalidade humana que deveria desenvolver-se até alcançar
a totalidade.
O homem atual, por se achar longe dessa totalidade, se apodera da educação da criança
e se entusiasma com a psicologia infantil. A razão disso é que ele admite que alguma
coisa devia estar errada com relação a sua própria educação e, ao seu desenvolvimento
e assim, deseja que o erro não se perpetue na geração seguinte. A intenção é válida, mas
como corrigir na criança erros que ainda cometo?
Crianças não são tolas como se pensa, percebem o que é e o que não é verdadeiro. O conto
de Anderson (KEJSERENSNYE KLÆDER, 1837) sobre as roupas novas do rei encerram
uma verdade. Pais que tentam poupar os filhos de suas experiências na infância, mas que
na realidade não superaram esses erros. Se educados com severidade excessiva, estragam
hoje os filhos com exagerada tolerância. Se fatos lhes foram escrupulosamente ocultados
anteriormente, hoje é manifestado de forma esclarecedora a eles. Ou seja, caíram no
extremo oposto e nunca o perceberam. Tudo o que se quer mudar nas crianças, deve ser
primeiro verificado se não é melhor mudarmos em nós mesmos.
Assim como a criança precisa desenvolver-se para ser educada, a personalidade deve
inicialmente desabrochar, antes de ser submetida à educação. Há que se lidar com
20
PSICOLOGIA INFANTIL E SEU VASTO UNIVERSO │ UNIDADE I
Psicólogos esclarecidos e materialistas como Freud dão uma ideia muito negativa
acerca do que permanece latente nos últimos redutos e abismos da natureza humana.
Assim, é quase ousadia se falar em prol do desenvolvimento da personalidade, visto que
o espírito humano é repleto de contradições curiosíssimas.
Ninguém desenvolve sua personalidade porque alguém lhe disse que seria bom e
aconselhável fazê-lo. A natureza jamais se deixa impressionar por conselhos dados com
boa intenção. Somente algo que obrigue atuando como causa irá movê-la e também,
a natureza humana. Se não há a necessidade, nada muda e menos ainda. Essa última,
pois é imensamente conservadora, senão inerte.
Somente será possível que alguém se decida por seu próprio caminho, se esse caminho
for considerado o melhor. Se qualquer outro caminho fosse considerado melhor
então, em lugar da própria personalidade, haveria outro caminho para ser vivido e
desenvolvido. Tais caminhos são as convenções de natureza moral, social, política,
filosófica e religiosa.
A vida psíquica e social dos homens que se encontram em uma etapa primitiva é
exclusivamente a vida do grupo, ao mesmo tempo em que o indivíduo permanece num
21
UNIDADE I │ PSICOLOGIA INFANTIL E SEU VASTO UNIVERSO
Enfim, o que impulsiona alguém a escolher seu próprio caminho e a se elevar acima da
identidade com a massa humana? Não pode ser a necessidade, pois esta atinge a muitos
e todos esses se salvam pelas convenções. A decisão moral também não pode ser, pois
geralmente todos se decidem pela convenção. O que dá o último impulso a favor de algo
fora do comum?
É o que se denomina designação, um fator irracional, traçado pelo destino, que impele a
emancipar-se da massa gregária e de seus caminhos desgastados pelo uso. Personalidade
verdadeira sempre supõe designação e nela acredita. A designação ou o respectivo
sentimento, não constitui apenas uma prerrogativa das grandes personalidades, também
aparece nas pequenas e mesmo na menor delas, só que acompanhada do decréscimo de
intensidade, tornando-se mais inconsciente. Quanto menor for a personalidade, tanto
mais imprecisa e inconsciente se torna a voz, até confundir-se com a sociedade, sem
poder distinguir-se dela, privando-se da própria totalidade para diluir-se na totalidade
do grupo.
Certamente, todos os homens são iguais uns aos outros, pois de outro modo, não
sucumbiriam à mesma ilusão. Também é certo que a camada psíquica mais profunda,
sobre a qual se firma a consciência individual, é de natureza universal e da mesma
espécie, pois de outro modo, os homens não poderiam se entender mutuamente.
Sob esse aspecto, a personalidade e suas propriedades psíquicas peculiares não
representam algo de absolutamente único e singular.
22
JOGOS E PERCURSOS
DA PSICOMOTRICIDADE: UNIDADE II
CRIANÇAS EM MOVIMENTO
CAPÍTULO 1
Jogos
Serão apresentados alguns dos jogos extraídos da obra de Giovana Paesani 120 Jogos
e percursos de psicomotricidade. Os jogos são indicados para serem utilizados com
crianças na faixa de 3 a 5 anos, mas podem ser estendidos. Deve-se considerar, também,
além da idade, o nível motor em que se encontram as crianças. Um jogo pode ser fácil e
chato para alguns e muito difícil para outros.
Devem ser os exercícios adaptados às crianças com que se trabalha partindo da observação
e experiência em saber o que elas necessitam e não o que se pretende que tenham.
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UNIDADE II │ JOGOS E PERCURSOS DA PSICOMOTRICIDADE: CRIANÇAS EM MOVIMENTO
Idade: 3 a 4 anos
Dificuldade: fácil
Tempo: 20 minutos
Desenvolvimento:
»» para cada movimento será dito: “vamos jogar o toca, toca... a cabeça!”.
Agora, vamos tocar de alto a baixo todas as partes do corpo, do rosto
aos pés”.
»» por fim, em duplas, uma criança por vez tocará as partes do corpo do
companheiro à sua frente, indicadas pelo educador.
Idade: 3 a 8 anos
Dificuldade: fácil
Tempo: 20 minutos
Desenvolvimento:
24
JOGOS E PERCURSOS DA PSICOMOTRICIDADE: CRIANÇAS EM MOVIMENTO │ UNIDADE II
»» o educador chama uma delas e cobre seus olhos com uma venda;
Idade: 4 a 6 anos
Dificuldade: média
Tempo: 15 minutos
Desenvolvimento:
Idade: 3 a 8 anos
Dificuldade: fácil
Tempo: 15 minutos
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UNIDADE II │ JOGOS E PERCURSOS DA PSICOMOTRICIDADE: CRIANÇAS EM MOVIMENTO
Desenvolvimento:
Jogo 5 – A sombra
Idade: 5 a 8 anos
Dificuldade: complexo
Tempo: 60 minutos
Desenvolvimento:
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JOGOS E PERCURSOS DA PSICOMOTRICIDADE: CRIANÇAS EM MOVIMENTO │ UNIDADE II
Idade: 3 a 5 anos
Dificuldade: fácil
Tempo: 25 minutos
Desenvolvimento:
O mesmo exercício pode ser realizado com leve inclinação, com auxílio de um tapete
levantado de um lado. O educador nesse caso dirá: “agora os troncos descem colina abaixo
rolando até o vale”. Desta maneira, é possível fazer notar como o corpo é veloz e pesado.
Jogo 7 – A bola
Idade: 4 a 6 anos
Dificuldade: média
Tempo: 20 minutos
Desenvolvimento:
Jogo 8 – A serpente
Idade: 3 a 6 anos
Dificuldade: fácil
Tempo: 30 minutos
Desenvolvimento:
28
JOGOS E PERCURSOS DA PSICOMOTRICIDADE: CRIANÇAS EM MOVIMENTO │ UNIDADE II
Dificuldade: fácil
Tempo: 15 minutos
Desenvolvimento:
Dificuldade: média
Tempo: 15 minutos
Desenvolvimento:
E assim por diante, as seguintes combinações de apoio podem ser indicadas: “bunda”,
“joelho e testa”, “pé e costas”, “um só pé”.
29
UNIDADE II │ JOGOS E PERCURSOS DA PSICOMOTRICIDADE: CRIANÇAS EM MOVIMENTO
Dificuldade: fácil
Tempo: 15 minutos
Desenvolvimento:
Dificuldade: fácil
Tempo: 30 minutos
Desenvolvimento:
Idade: 3 a 5 anos
Dificuldade: fácil
Tempo: 15 minutos
Desenvolvimento:
Jogo 14 – O balão
Idade: 3 a 5 anos
Dificuldade: fácil
Tempo: 15 minutos
Desenvolvimento:
»» “o balão fica mais cheio!”. Pode ser feita uma pausa mais ou menos longa
segurando o ar no pulmão;
Pode-se ainda, imitar o movimento rotatório que o balão faz ao esvaziar-se rapidamente.
Esse exercício é útil, também, como relaxamento depois dos jogos que envolvam
exercícios físicos muito cansativos.
Jogo 15 – A praia
Idade: 5 a 8 anos
Dificuldade: complexa
Tempo: 20 minutos
Desenvolvimento:
Cada frase deve ser dita muito lentamente, abaixando o tom de voz pouco a pouco.
Para um bom resultado, será oportuno preparar, anteriormente, as crianças para esse
exercício. Ao final, é importante fazer as crianças levantarem-se lentamente e passar
em seguida às atividades tranquilas.
Jogo 16 – O sopro
Idade: 4 a 8 anos
Dificuldade: média
Tempo: 25 minutos
Desenvolvimento:
33
UNIDADE II │ JOGOS E PERCURSOS DA PSICOMOTRICIDADE: CRIANÇAS EM MOVIMENTO
mar”. “Seu corpo está relaxado: pés, pernas, barriga, peito, mãos, braços,
o rosto, todo o corpo de vocês está quente e relaxado”.
Cada frase deve ser dita muito lentamente, abaixando o tom de voz pouco a pouco.
Para um bom resultado, será oportuno preparar, anteriormente, as crianças para esse
exercício. Ao final, é importante fazer as crianças levantarem-se lentamente e passar
em seguida às atividades tranquilas.
Idade: 4 a 8 anos
Dificuldade: média
Tempo: 25 minutos
Desenvolvimento:
34
JOGOS E PERCURSOS DA PSICOMOTRICIDADE: CRIANÇAS EM MOVIMENTO │ UNIDADE II
Jogo 18 – A face
Idade: 3 a 5 anos
Dificuldade: fácil.
Tempo: 30 minutos
Desenvolvimento:
»» “sinta sua cabeça, como é redonda, depois a testa, logo abaixo estão as
sobrancelhas, depois os olhos;
Dificuldade: fácil.
Tempo: 60 minutos
Desenvolvimento:
sentir como está ligado à cabeça e como fica acima dos ombros.
Vamos desenhá-lo”;
Idade: 3 a 8 anos
Dificuldade: fácil
Tempo: 30 minutos
Desenvolvimento:
»» “o que podemos fazer com a cabeça?” Podemos dizer sim e não, podemos
fazê-la girar: as crianças irão imitar os movimentos de flexão e de rotação;
»» o mesmo exercício deve ser repetido com todos sentados: “Podemos fazer
os mesmos movimentos agora?” E, finalmente, deitados no chão: “e
agora, o que muda?”.
36
JOGOS E PERCURSOS DA PSICOMOTRICIDADE: CRIANÇAS EM MOVIMENTO │ UNIDADE II
Dificuldade: fácil
Tempo: 15 minutos
Desenvolvimento:
A regra principal de não encostar nos outros será um convite para que procurem,
sempre, novos espaços vazios, bem como para mudar de direção ocupando
seu espaço.
37
UNIDADE II │ JOGOS E PERCURSOS DA PSICOMOTRICIDADE: CRIANÇAS EM MOVIMENTO
Dificuldade: fácil
Tempo: 25 minutos
Desenvolvimento:
»» o educador espalha uma dúzia de aros no chão, a 30 cm de distância um
do outro, criando um percurso com um começo e um fim;
As possibilidades são diversas: realizar um slalom (percurso sinuoso) em volta dos aros,
saltar dentro dos aros com um só pé ou dois. Aumentar ou diminuir a distância entre os
aros conforme a idade das crianças e a dificuldade que se deseja criar.
Pode-se mudar a disposição dos aros para realizar variações de percurso colocando-os,
por exemplo, em uma linha concêntrica ou deslocados de modo alternado à direita e à
esquerda ou de modo que formem um circuito fechado e, assim por diante. As próprias
crianças podem variar a posição dos aros, criando um percurso personalizado.
Dificuldade: média
Tempo: 15 minutos
Desenvolvimento:
O jogo pode ser repetido mais vezes ao longo do tempo disponível, porque é importante
para criar, mais adiante, desenhos e deslocamentos mais complexos.
Dificuldade: fácil
Tempo: 60 minutos
Desenvolvimento:
»» ao “pare”, cada criança deverá estar sobre uma folha que não é,
necessariamente, a sua. Repetir várias vezes e depois podem caminhar
apenas pisando nas folhas sem tocar no chão;
»» “agora, vamos fazer as folhas voarem o mais alto possível”. Com essa
ordem, as crianças atiram suas folhas para o alto.
39
UNIDADE II │ JOGOS E PERCURSOS DA PSICOMOTRICIDADE: CRIANÇAS EM MOVIMENTO
»» ao final, se formará uma bola gigante de papel, que deve ser colada com fita
adesiva para que todos joguem juntos. Cada ação deve ser acompanhada
por música.
Dificuldade: fácil
Tempo: 15 minutos
Desenvolvimento:
Pode ser acrescentado um terceiro quadrado, de tamanho médio, a ser chamado “campo
das lagartas”, onde as crianças se deitam por terra.
Dificuldade: fácil
Tempo: 15 minutos
Desenvolvimento:
»» uma criança a cada vez, deve atravessar a área rapidamente sem encostar
em alguém.
Poderá passar por cima, ao lado das serpentes, que se arrastarão lentamente por baixo
de seus pés.
Dificuldade: fácil
Tempo: 20 minutos
Desenvolvimento:
41
UNIDADE II │ JOGOS E PERCURSOS DA PSICOMOTRICIDADE: CRIANÇAS EM MOVIMENTO
Dificuldade: fácil
Tempo: 15 minutos
Desenvolvimento:
»» uma das duas, de cada vez, guiará a outra, posicionada atrás de olhos
vendados segurando-a pelas mãos;
O educador deve estar atento para que as crianças não se machuquem e não esbarrem
umas nas outras.
Dificuldade: média
Tempo: 20 minutos
Desenvolvimento:
42
JOGOS E PERCURSOS DA PSICOMOTRICIDADE: CRIANÇAS EM MOVIMENTO │ UNIDADE II
Dificuldade: fácil
Tempo: 20 minutos
Desenvolvimento:
Dificuldade: fácil
Tempo: 60 minutos
43
UNIDADE II │ JOGOS E PERCURSOS DA PSICOMOTRICIDADE: CRIANÇAS EM MOVIMENTO
Desenvolvimento:
Dificuldade: fácil
Tempo: 30 minutos
Desenvolvimento:
44
JOGOS E PERCURSOS DA PSICOMOTRICIDADE: CRIANÇAS EM MOVIMENTO │ UNIDADE II
»» depois, em duplas, um lenço para cada uma amarra-se a dupla pela cintura
para que andem livremente, primeiro lentamente, depois correndo, ao
ritmo mais agradável;
Dificuldade: média
Tempo: 20 minutos
Desenvolvimento:
»» a cada disputa, uma almofada é retirada e o jogo continua até que fiquem
apenas dois jogadores e uma almofada e, um deles, seja o ganhador.
Dificuldade: média
Tempo: 20 minutos
Desenvolvimento:
»» delimita-se com fita adesiva uma ampla área de jogo de onde não se
pode escapar.
O jogo começa:
»» ao som do apito, os ratos saem das tocas e fogem do gato correndo entre
os aros;
Dificuldade: média
Tempo: 30 minutos
Desenvolvimento:
46
JOGOS E PERCURSOS DA PSICOMOTRICIDADE: CRIANÇAS EM MOVIMENTO │ UNIDADE II
»» o educador dirá: “Atire a bola bem devagar para que seu amigo consiga
pegar facilmente”;
A bola pode ser atirada de modo normal, para a frente, muito alto, formando uma
parábola, para o chão repicando para o companheiro. O educador sugere o tipo de lance
de acordo com a distância em que se encontram as crianças.
»» aumenta-se a distância, aos poucos até fazê-los lançar a bola bem distante,
dizendo: “agora caprichem para atirar a bola com força para que chegue
até seu companheiro”.
As crianças aprenderão, desse modo, a medir força e dosar a energia para cada jogada.
Dificuldade: fácil
Tempo: 60 minutos
Desenvolvimento:
Os ângulos podem ser seis ou oito e devem ser afixados a mesma altura, a 35 cm do chão.
Quando a teia de aranha é concluída, coloca-se sobre ela em um ângulo, uma aranha
gigante (de plástico, papel ou espuma) e o jogo começa.
»» o educador dirá: “cuidado para não encostar na teia nem de leve, pois
senão a aranha desperta e pega vocês”;
47
UNIDADE II │ JOGOS E PERCURSOS DA PSICOMOTRICIDADE: CRIANÇAS EM MOVIMENTO
»» por fim, os maiores devem fazer o mesmo em duplas, com as mãos unidas
ou com um elástico prendendo-os pela cintura.
Jogo 17 – O elástico
Dificuldade: fácil
Tempo: 30 minutos
Desenvolvimento:
48
JOGOS E PERCURSOS DA PSICOMOTRICIDADE: CRIANÇAS EM MOVIMENTO │ UNIDADE II
Dificuldade: complexo
Tempo: 30 minutos
Desenvolvimento:
Dificuldade: fácil
49
UNIDADE II │ JOGOS E PERCURSOS DA PSICOMOTRICIDADE: CRIANÇAS EM MOVIMENTO
Tempo: 25 minutos
Desenvolvimento:
»» segurá-lo às costas;
Cada criança pode deslocar o seu aro, ficando imóvel o mantê-lo imóvel enquanto ela se
desloca conforme for solicitado pelo educador.
Dificuldade: fácil
Tempo: 30 minutos
Desenvolvimento:
»» quatro crianças são chamadas a cada vez para jogar dentro do quadrado.
Não devem sair desse espaço delimitado e devem cuidar para que seu
balão não caia no chão, do lado de fora;
»» cada vez que um dos balões cai no chão ou sai do quadrado, o grupo todo
sai e dá lugar a novo grupo.
Todos os grupos podem repetir o jogo, ao menos duas vezes, para pegarem prática.
Ao final, quatro crianças escolhidas entram no quadrado e as outras formam ao redor
delas. As do centro devem bater nos balões lançando-os para fora do quadrado, enquanto
quem está ao redor, bate tentando fazê-los retornar para dentro do quadrado.
Jogo 21 – Boliche
Dificuldade: média
Tempo: 30 minutos
Desenvolvimento:
»» as crianças formam uma fila e, uma de cada vez, lançará sua bola para
derrubar o máximo de pinos ou latas possível;
51
UNIDADE II │ JOGOS E PERCURSOS DA PSICOMOTRICIDADE: CRIANÇAS EM MOVIMENTO
Dificuldade: fácil
Tempo: 20 minutos
Desenvolvimento:
»» o educador diz: “Nós somos como esses flocos de neve e quando nos
movermos vamos ocupar todo o nosso espaço, sem deixar nenhum lugar
vazio”;
Dificuldade: média
Tempo: 25 minutos
Desenvolvimento:
Sobre a cartolina será marcado o nome de cada criança e o ponto exato onde tocou,
para verificar e comparar os resultados. É importante que cada criança, antes de ser
vendada, tenha tempo de visualizar e memorizar o espaço a percorrer.
Jogo 24 – Minigolfe
Dificuldade: média
Tempo: 60 minutos
Desenvolvimento:
»» começa o jogo;
53
UNIDADE II │ JOGOS E PERCURSOS DA PSICOMOTRICIDADE: CRIANÇAS EM MOVIMENTO
Caso contrário, aguardará novamente por sua vez para continuar do mesmo lugar.
Vence quem consegue chegar ao final com o menor número de tacadas.
Jogo 25 – O detector
Dificuldade: fácil
Tempo: 20 minutos
Desenvolvimento:
»» começa o jogo;
Jogos de equilíbrio
O jogo de equilíbrio é um divertimento para a criança à medida que possibilita que
esta experimente posições com as quais não está familiarizada. É importante para a
capacidade de regular a tonicidade muscular, saber dosar a energia motriz, melhorando
a segurança, os reflexos e a coordenação em geral.
Jogo 1 – O flamingo
Dificuldade: fácil
Materiais: música
Tempo: 15 minutos
Desenvolvimento:
Dificuldade: fácil
Tempo: 15 minutos
Desenvolvimento:
55
UNIDADE II │ JOGOS E PERCURSOS DA PSICOMOTRICIDADE: CRIANÇAS EM MOVIMENTO
Dificuldade: média
Tempo: 15 minutos
Desenvolvimento:
Dificuldade: fácil
Tempo: 20 minutos
Desenvolvimento:
Jogo 5 – Os garçons
Dificuldade: média
Materiais: fita adesiva, pratos de plástico, objetos (comida de brinquedo), mesas e cadeiras
Tempo: 25 minutos
Desenvolvimento:
Na chegada, podem apoiar os pratos sobre uma mesa. Com as crianças menores
pode-se utilizar um só prato.
57
UNIDADE II │ JOGOS E PERCURSOS DA PSICOMOTRICIDADE: CRIANÇAS EM MOVIMENTO
Dificuldade: média
Materiais: tamborim
Tempo: 25 minutos
Desenvolvimento:
De dois saltos pode-se chegar até dez, saltando com um pé só. Por fim, pode-se fazer
uma disputa, duas por vez, vence que atinge a linha de chegada sem encostar o pé
no chão.
Dificuldade: complexa
Tempo: 30 minutos
Desenvolvimento:
»» o educador traça uma linha de chegada com fita adesiva, entrega a cada
criança a colher e a bolinha, dizendo: “vocês devem segurar a colher
com a boca e colocar em cima a bolinha, cuidado para não a deixar cair”.
Proibido usar as mãos.
58
JOGOS E PERCURSOS DA PSICOMOTRICIDADE: CRIANÇAS EM MOVIMENTO │ UNIDADE II
As crianças, em grupo de quatro, devem percorrer o trajeto até a linha de chegada com
a colher na boca, andando de gatinhas. Em um segundo momento, pode-se tentar o
trajeto em pé com as mãos atrás das costas.
Dificuldade: média
Materiais: nenhum
Tempo: 15 minutos
Desenvolvimento:
»» as crianças deverão levantar uma perna de cada vez esticada para trás ao
mesmo tempo, sem cair e sem fazer cair o colega;
O educador mostra a posição. Nessa posição, levantam uma perna para frente e depois
a outra.
Jogo 9 – O muro
Dificuldade: média
Materiais: nenhum
Tempo: 10 minutos
59
UNIDADE II │ JOGOS E PERCURSOS DA PSICOMOTRICIDADE: CRIANÇAS EM MOVIMENTO
Desenvolvimento:
Jogo 10 – Os pássaros
Dificuldade: média
Materiais: nenhum
Tempo: 15 minutos
Desenvolvimento:
60
JOGOS E PERCURSOS DA PSICOMOTRICIDADE: CRIANÇAS EM MOVIMENTO │ UNIDADE II
Pode-se fazer uma competição para ver quem mantém a posição por mais tempo.
Jogo 11 – Os elefantes
Dificuldade: fácil
Tempo: 10 minutos
Desenvolvimento:
Jogo 12 – A vela
Dificuldade: média
Materiais: nenhum
Tempo: 15 minutos
Desenvolvimento:
61
UNIDADE II │ JOGOS E PERCURSOS DA PSICOMOTRICIDADE: CRIANÇAS EM MOVIMENTO
»» em seguida, dirá: “agora vamos fazer o jogo das velas. Quando digo ‘velas
acesas’, vocês esticam os pés para o alto, quando digo ‘velas apagadas’,
vocês baixam as pernas.
Dificuldade: fácil
Tempo: 20 minutos
Desenvolvimento:
Dificuldade: média
Materiais: nenhum
Tempo: 15 minutos
Desenvolvimento:
62
JOGOS E PERCURSOS DA PSICOMOTRICIDADE: CRIANÇAS EM MOVIMENTO │ UNIDADE II
Pode-se tentar também, com uma perna esticada para trás ou dobrando o joelho e
erguendo a perna e abaixando-a ou, ainda, saltarem todos juntos.
O mesmo exercício pode ser realizado segurando-se pelas mãos sobre os ombros dos
companheiros do lado. Mais difícil é tentar sentar no chão com as pernas cruzadas e
conseguir levantarem-se todos juntos.
Dificuldade: complexa
Materiais: nenhum
Tempo: 30 minutos
Desenvolvimento:
Os lutadores devem dar pequenos impulsos de lado com a parte externa do braço
dobrado, mantendo-se em equilíbrio ao saltar sem levantar da posição de cócoras.
Cada vez que uma criança cair, passa-se a outra dupla.
63
UNIDADE II │ JOGOS E PERCURSOS DA PSICOMOTRICIDADE: CRIANÇAS EM MOVIMENTO
Dificuldade: complexa
Tempo: 30 minutos
Desenvolvimento:
»» a primeira criança da fila tem nas mãos seu cesto para encher;
»» ela irá apanhar tantas bolinhas quanto puder, saltando em um pé, até
alcançar a linha de chegada onde derramará as bolinhas no cesto do time.
A bola pode ser atirada de modo normal, para frente, muito alto, formando uma
parábola, para o chão repicando para o companheiro. O educador sugere o tipo de lance
de acordo com a distância em que se encontram as crianças.
Vence a equipe que conseguir mais bolinhas, descartando-se as que caírem no chão.
Jogo 17 – A ponte
Dificuldade: fácil
Tempo: 20 minutos
64
JOGOS E PERCURSOS DA PSICOMOTRICIDADE: CRIANÇAS EM MOVIMENTO │ UNIDADE II
Desenvolvimento:
»» uma criança a cada vez, com a ajuda do educador, caminhará por cima das
mesas até o ponto de chegada, onde deverá lançar-se sobre o colchonete.
Das mesinhas, se pode passar para um eixo de equilíbrio. As crianças menores podem
dar a mão ao educador para se sentirem mais seguras, até que adquiram a confiança
necessária.
Jogo 18 – O desfile
Dificuldade: média
Materiais: livros
Tempo: 35 minutos
Desenvolvimento:
»» cada criança deve caminhar até uma linha de chegada e retornar para a
fila com o objeto na cabeça, sem deixá-lo cair;
65
UNIDADE II │ JOGOS E PERCURSOS DA PSICOMOTRICIDADE: CRIANÇAS EM MOVIMENTO
Dificuldade: fácil
Materiais: elástico
Tempo: 30 minutos
Desenvolvimento:
Dificuldade: média
Tempo: 25 minutos
Desenvolvimento:
66
JOGOS E PERCURSOS DA PSICOMOTRICIDADE: CRIANÇAS EM MOVIMENTO │ UNIDADE II
»» quando a música para se pode pegar a bola com as mãos, quando recomeça,
se retorna à dança.
Cada vez que a uma dupla deixa a bola cair ou a segura com as mãos é eliminada e as
outras prosseguem até que sobre uma dupla, a campeã.
Jogo 21 – As pegadas
Dificuldade: média
Tempo: 45 minutos
Desenvolvimento:
»» as crianças, uma após a outra, deverão caminhar sobre seus pés de papel,
cuidando para não pisar fora do caminho das pegadas;
Dificuldade: média
67
UNIDADE II │ JOGOS E PERCURSOS DA PSICOMOTRICIDADE: CRIANÇAS EM MOVIMENTO
Tempo: 20 minutos
Desenvolvimento:
Por exemplo, partir subindo numa cadeira e saltar para dentro de um aro no chão, subir
a barra de equilíbrio e pular sobre um colchonete, subir em uma mesa e descer pisando
em cubos etc.
Dificuldade: complexa
Tempo: 60 minutos
Desenvolvimento:
»» para cada criança será pescada uma carta “mão” e outra “pé”;
68
JOGOS E PERCURSOS DA PSICOMOTRICIDADE: CRIANÇAS EM MOVIMENTO │ UNIDADE II
»» deverá apoiar uma mão na cor indicada pela carta (por exemplo mão no
vermelho) e um pé na cor indicada na segunda carta;
O importante é que tenha dois apoios nas caselas coloridas indicadas (a mão e o pé
restantes ficam apoiados fora das caselas):
»» para passar de uma posição para outra, porém, devem manter sempre
dois apoios nas caselas.
A partida termina quando a primeira criança cai ou não consegue mais alcançar as
posições indicadas pelas cartas.
69
O DESENHO INFANTIL UNIDADE III
CAPÍTULO 1
Desenho infantil: o olhar da arteterapia
Pode-se conceituar o desenho como representação ímpar visto que cada qual tem um
traçado, uma maneira de repassar uma ideia com o uso de imagens, signos e símbolos.
Quem essa criança que desenha? É uma criança que gosta de brincadeiras com objetos
diversos transformando tudo que a rodeia em objetos lúdicos. Não se detém em uma
única atividade e irá se interessar pelos desenhos e os fará em qualquer lugar.
A criança faz suas primeiras tentativas de se comunicar com os adultos por meio
de garatujas e rabiscos. O tema abordará a família, seus brinquedos, locais aonde
vai ou gostaria de ir. Mas, até então, não é possível compreender o que ali está
representado, pois se parecem uns com os outros, embora para ela, cada desenho tem um
significado único.
70
O DESENHO INFANTIL │ UNIDADE III
Tais desenhos têm o objetivo de ser um divertimento solitário, talvez mesmo pela
característica comum da idade, o egocentrismo. No entanto, os desenhos refletem
suposições, aglomera conhecimentos, apresenta relações e vivências.
Ainda que haja uma situação comum a várias crianças, os desenhos não serão os
mesmos. Os objetos desenhados, casas, árvores, pessoas terão características próprias
a cada uma delas. Não se tolde, pois, a criatividade inata de cada um com comentários
como “não é dessa forma que se faz”...”vou mostrar como é...”. Para um adulto, pode não
ser a representação correta deste ou daquele objeto, mas para a criança que o desenhou,
está impecável.
O processo criativo deve ser desenvolvido com desenhos de tema livre, não estamos nos
referindo aos desenhos impressos para colorir. Como aprendizagem, esses não agregam
absolutamente nada à criança. O arteterapeuta deve saber olhar o que aparece no
desenho, entrever os traços da imaginação e dos sonhos ali inseridos, os dois mundos,
real e social, do autor.
Segundo Jung (in FURTH, 2006), os desenhos são portadores dos símbolos do
inconsciente, podem esses serem representados e trazido à luz pelas imagens e símbolos
que estão nos desenhos.
Etapas do desenho
71
UNIDADE III │ O DESENHO INFANTIL
produções são mais lentas, isso porque a criança tenta fazer a reprodução
de algum objeto e requer mais observação. Juntamente com esse desenho
acontecem os comentários sobre ele.
3. estágio comunicativo – surge mais tarde, por volta de três a quatro anos.
Caracteriza-se por uma imitação das produções adultas, podendo ser
entendida como uma forma de escrever por meio de seus desenhos, com
representações verticais e onduladas ou ainda, com bicos angulares.
Segundo Luquet (apud RABELLO, 2014, p.56), registra-se algumas fases do desenho
infantil: realismo fortuito, estágio que acontece quando a criança já tem por volta de
dois anos de idade e surge logo após a etapa dos rabiscos e garatujas.
A etapa subsequente denomina-se realismo intelectual por volta dos quatro anos se
estendendo até os dez, caracterizada pela representação dos desenhos, fazendo o que
conhece sobre o objeto e não o que visualiza. Utilizam-se dos recursos do plano deitado
e da transparência. O primeiro não apresenta perspectivas, é como uma planta baixa,
ou seja, o observador está em um plano acima daquele para o qual olha. O uso da
transparência revela-se ao mostrar o que deveria estar dentro, por exemplo, da casa ou
do corpo que é coberto pelas roupas.
A etapa que se segue é aquela em que a criança alcança o realismo visual, próximo aos
doze anos de idade. Aparecem as perspectivas, é o final do grafismo infantil e início à
produção adulta, desaparece a espontaneidade e aparece a crítica às próprias produções.
Jung (1968) afirmava que os desenhos trazem muitos conteúdos simbólicos residentes
em nosso inconsciente. O desenho, por si mesmo, é uma representação simbólica e assim,
vamos conceituar o que seja símbolo. O autor entende que os símbolos, diferentemente
dos sinais, vão além do que se vê, visto serem esses últimos, convenções criadas pelo
72
O DESENHO INFANTIL │ UNIDADE III
O espaço
Na visão de Rabelo (2014, p. 68), a criança, no início, tem como espaço aquele que
abrange seu gesto tão amplo quanto o movimento de seus braços. À medida que vai
colocando as figuras de acordo com a emoção ou carinho que tem pelos personagens
faz surgir o espaço, que é o afetivo ou emocional, que lhe permite a colocação de cada
elemento desenhado em diferentes locais da folha, mais perto ou longe delimitando
níveis diferentes de afetividade com eles.
Crotti e Magni (2011- apud.) fazem considerações sobre a localização das figuras na
folha, afirmam que esta forma de interpretar os desenhos pode ser entendida como
“simbolismo espacial”, onde cada área do papel tem um simbolismo. É de suma
importância enfatizar que ao se considerar desta forma, deve-se observar um conjunto
de produções e não apenas, uma única do mesmo autor.
Os desenhos podem estar distribuídos por diferentes espaços na folha. Alguns autores
observam que a parte inferior da folha é utilizada por crianças muito pequenas.
Segundo Rabelo (2014, p. 70), a área superior pode indicar aquela referente ao
pensamento ou intelecto, se do lado esquerdo, nesta mesma área, algo referente a
73
UNIDADE III │ O DESENHO INFANTIL
As cores usadas nos desenhos, devem ser vistas como sinais, possibilidades e uma
afirmação relacionada ao comportamento da criança. Assim, deve-se considerar se são
74
O DESENHO INFANTIL │ UNIDADE III
usadas sempre as mesmas cores, o que é constante e o que se repete etc. É possível se
deparar com desenhos sempre de uma mesma cor, mas deve-se considerar que haviam
outras cores à disposição e não foram utilizadas apenas por não querer ou, se algo está
sendo mostrado para que seja visto.
75
SONHOS DE CRIANÇAS UNIDADE IV
CAPÍTULO 1
Sonhos de crianças
Sobre o sonho, ele não é um fenômeno natural, não é fruto de uma intenção. Não se explica
partindo de uma psicologia originada na consciência. Trata-se de uma forma específica
de funcionamento que independe de vontade ou desejo, de intenção ou objetivo
do “Eu” humano. Apenas acontece e há que se assimilá-lo. Todavia, jamais se tem
a certeza de acerto e, pode-se criar uma suposição com relação ao sentido de um
sonho verificando a seguir se tal significado explica outro sonho, ou seja, se tem um
significado mais geral.
76
SONHOS DE CRIANÇAS │ UNIDADE IV
A forma como os sonhos são explicados é, primeiramente, causal. Porém, surgem várias
dificuldades para a explicação, pois se faz necessária a comprovação do relacionamento
de causa e efeito. Essa relação só se torna viável quando se consegue isolar fenômenos
e submetê-los a experimentos. Mas, não com relação aos fenômenos biológicos, é difícil
estabelecer uma disposição que conduza a determinados efeitos, principalmente com o
material complexo com o qual se trabalha.
Segundo Jung (1936), existem diversas formas de significar os sonhos, conforme segue:
77
UNIDADE IV │ SONHOS DE CRIANÇAS
1. Início e local: essa parte do sonho se estende até o momento onde as três
mulheres jovens são mencionadas.
3. Peripécia: fumar.
Pessoas: o amigo Richard pode ser considerado uma duplicação, a sombra do sonhador.
Parece-me, entretanto, essencial que uma companhia desse tipo, nessa aventura,
aponte simultaneamente para o lado comum inofensivo para a natureza coletiva dessa
experiência. Além disso, desobriga o sonhador de sua responsabilidade, seguindo o
princípio: “Não só eu, ele também”. (Sou inocente, pois o outro também participou).
Série onírica
Mas eu não voo até as virgens com asas que nem o menino Jesus e sim,
como num aeróstato. É preciso entrar no aeróstato através de uma barra,
ele não tem portas.
Mamãe, hoje à noite (no sonho), eu estive com uma mulher que tinha
um filho e uma casa de neve. Eu queria entrar na casa e o malvado
“Stuttgarter (uma boneca) olhou pela janela. Achava que era um papai
malvado e fiquei com medo.
79
UNIDADE IV │ SONHOS DE CRIANÇAS
Em sonho vi uma mulher – uma mulher malvada – que era toda de ferro.
A mulher era velha. Possuía uma tesoura longa que era movida por uma
pequena máquina de ferro – fazia assim (movimento de pedalar). Você
mamãe, tinha saído para fazer compras. Eu estava com medo.
Mãe, tive um sonho engraçado: havia uma casa perto do rio. Estou do
outro lado, posso ver tudo. Dois homens grandes – acho que são gigantes
– estão presentes. Eles sobem no telhado e deixam cair um cesto na água.
Em seguida os dois acabam caindo. Isso faz as ondas na água, pois os
gigantes são tão grandes. Encheram o cesto com que pescaram e em
seguida o puxam para fora.
Prof. Jung: o fato de a “mulher de ferro” do sonho anterior significar a ideia do destino.
Nos permite supor que o significado das três mulheres seja semelhante – justamente
em função da tríade. O número três também é “numinoso”, é um atributo sinônimo.
O motivo da pinça, presente naquele sonho anterior juntamente com o “destino”
alude às três parcas1 (Neste sentido, a figura da Hécate triforme parece ser igualmente
importante).
Dr. Fierz: ela abre e fecha o mundo subterrâneo, possui a chave para tal, algo que
combina com a ideia do estabelecimento comercial, pois, segundo nossa concepção, o
estabelecimento representa um acesso ao inconsciente. Seu animal é o cão; lembrem-se
do sonho com o cão – o sacrifício oferecido a ela consistia em peixes; no sonho anterior,
os gigantes que pescavam eram de importância central. Hécate era a patrona dos
1 Na mitologia grega, as três divindades Cloto, Láquesis e Átropos que presidiam a vida e o destino dos humanos
80
SONHOS DE CRIANÇAS │ UNIDADE IV
Prof. Jung: no Egito existem até hoje figuras de Príapo nos campos.
Dr. Frierz: algo semelhante se aplica ao número três. Deveríamos mencionar igualmente
as Graias, que juntas possuem um olho e um dente só (genitália feminina e masculina).
Outro paralelo possível seria as três damas da Flauta Mágica de Mozart que entregam a
flauta e o belíssimo retrato ao jovem.
As três damas da Flauta Mágica são as criadas da rainha da noite, apresentam-se como
caçadoras e por isso podem ser equivalidas à Diana. A Flauta Mágica ainda revela outros
paralelos peculiares para nossa série onírica a perseguição através da cobra, o caçador
de passarinhos, as três damas, o batismo pelo fogo e pela água – são estas as imagens
do libreto. Na série onírica, isso corresponde à perseguição pelo cão, pescador, as três
damas, o fogo na clínica e a água.
Em relação ao ato de fumar: “seja homem, fume charutos e cigarros!” Trata-se de uma
propaganda conhecida. Até então fumar é, ou pelo menos foi assim durante muito
tempo algo estritamente masculino: “A mulher alemã não fuma”. O fato de nesse caso
os meninos fumarem bastonetes de lacre de cera revela que não se trata de um ato
de fumar comum, talvez possamos interpretá-lo como uma atividade especificamente
masculina, como procriação. Esta se encontra vinculada a fortes emoções, pois envolve
o desencadeamento de instintos inconscientes. O acesso de tontura, o cambalear para
fora e o enjoo são as consequências desta dominação pelo inconsciente.
Prof. Jung: aqui o menino é iniciado, pela primeira vez, na sexualidade. Por meio de
mulheres de natureza mitológica, mulheres que substituem a mãe. A procriação, no
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UNIDADE IV │ SONHOS DE CRIANÇAS
O paralelo com Hécate é inteiramente válido. Mas por que são justamente três jovens
mulheres? Quando a tríade se manifesta, isto significa que se trata de um momento
decisivo para o destino, quer dizer, algo inevitável ocorrerá.
A tríade remonta a uma antiguidade tão remota que é difícil afirmar algo mais definitivo
a respeito dela. Uma das estruturas mais prováveis é “pai, mãe, filho”. A trindade cristã
parece basear-se, originalmente, nesta simbologia. Originalmente, o espírito santo era
feminino. O símbolo do spiritus sanctus é a pomba, o animal da deusa do amor. Outra
origem provável é a tríade muito antiga – e, sem dúvida, de plasticidade anatômica –
do órgão da procriação. A transformação na tríade divina é realizada, por exemplo, por
meio do culto Lingam.
Fonte: <https://sp.yimg.com/ib/th?id=OIP.M58aac570ef944f99ccd877918a46c269H0&pid=15.1&w=163&h=108&p=0>
Fica igualmente claro que se trata de algo dessa espécie pelo fato de as Graias
possuírem um dente e um olho só. Nos contos de fada alemães também encontramos
esta imagem, por exemplo, a partir das três “fiandeiras”: a primeira possui um
polegar grande, a segunda um lábio inferior grande, a terceira um dedão grande.
As Graias são as deusas do mundo subterrâneo, procedem dos reinos mais obscuros
da mitologia. É possível que imagens arcaicas dessa espécie estejam envolvidas aqui;
precisamos considerar este único dente declaradamente fálico e o olho, o símbolo
feminino correspondente.
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SONHOS DE CRIANÇAS │ UNIDADE IV
O texto do sonho diz que os meninos colocam esses bastonetes na boca. Esta, sem dúvida,
é uma alusão de natureza sexual, onde a boca representa o órgão sexual feminino.
O aparecimento concomitante dos órgãos masculino e feminino é um arquétipo, o
arquétipo da coabitação constante. Outro aspecto do mesmo tipo é o hermafrodita ou,
segundo Winthuis, o ser bissexual. Devo dizer que não concordo totalmente com o livro
de Winthuis Das Zweigeschlechterwesen.
Winthuis exagera em relação a este motivo, mas tem razão com sua ideia central de que
no caso de muitas imagens arcaicas, existe uma determinada ideia básica: a ideia de um
ser que se autofecunda masculino e feminino, ao mesmo tempo em que abriga a garantia
de sua perpetuidade, de sua própria eternidade, e que todo ser humano originalmente
se identifica com este ser arcaico e anseia tornar-se novamente “um” com este ser por
meio da iniciação. Muitos ornamentos e símbolos artísticos de natureza primitiva
provavelmente remetem a isso.
Desse modo, a maioria dos seres primordiais cosmogônicos é hermafrodita, algo que
deve ter a ver com o fato de o homem intuir desde os primórdios sua sexualidade dupla.
Possuímos de fato um gênero duplo, pois é somente a preponderância das células
masculinas que decide se o embrião tornar-se-á masculino. Os genes femininos não
morrem dentro do homem, encontram-se presentes em sua estrutura e funcionam de
acordo com sua feminilidade.
Isto leva ao estranho fato de podermos perceber, nos homens, alguns traços femininos que
correspondem ao ideal feminino (inversamente existem traços masculinos na mulher).
Existem pessoas que se gabam de sua bissexualidade por tratar-se de um arquétipo:
“Carrego Eva dentro de mim, por isso sou um deus”. Deus carrega a sua mulher dentro
de si. Na Índia, as deusas são apenas a forma feminina de um deus masculino: Shiva é
um ponto ou um falo e seu invólucro é Shakti.
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UNIDADE IV │ SONHOS DE CRIANÇAS
Essa imagem arcaica então, não conduz apenas às satisfações mais estranhas, dolorosas e
asquerosas e sim, atua igualmente como proteção, por exemplo, no caso de pessoas que
mexem com o dedo no nariz ou que copulam com a caneta tinteira na boca. Coisas assim
funcionam como proteção, pois nessas horas formamos um anel com nós mesmos.
À medida que nos autofecundamos, provamos que somos inteiramente redondos
– o ser primordial foi cortado em dois. As duas partes, entretanto, pertencem ao
mesmo ser.
Quando estas crianças conseguem incorporar este outro, tornam-se inacessíveis, quer
dizer, alcançam uma independência “divina”. Os doentes mentais também fazem algo
semelhante ao que estas crianças fazem. Isto lhes dá o sentimento de que ninguém
pode se aproximar deles e de que se encontram emocionalmente isolados. Na medida
em que incorporam aquilo que é repugnante, tornam-se inacessíveis e fortes perante
os outros. Os unguentos e poções mágicas dos curandeiros contêm substâncias nada
apetitosas. Quando os tomamos, incorporamos o que há de mais repugnante e assim,
nos tornamos imunes.
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SONHOS DE CRIANÇAS │ UNIDADE IV
Um arquétipo não é nem abstrato nem concreto. Pode se expressar por uma primitiva
“linguagem dos instintos” (por exemplo, de forma sexual) ou então, de modo “espiritual”.
Um pode substituir o outro, assim como a terminologia sexual pode ser substituída
pela nutritiva. O “Cântico dos Cânticos” é prova cabal para tal. Este arquétipo em si é
puramente “ternário” e pode ser preenchido com qualquer tipo de conteúdo.
Esta noite sonhei que a Clínica Hirnsladen pegou fogo de repente, no porão, por causa
do aquecedor. Queríamos descer pela escada perto do elevador para cargas, mas ela
terminava inesperadamente. Subimos de elevador, mas não conseguimos retirar
os leitos do primeiro andar onde ficavam as crianças pequenas. Acredito que foram
resgatadas através da janela.
Proj. Jung: o local da ação é a Clínica Hirnsladen. A criança foi paciente da clínica.
O lugar onde somos cuidados costuma assumir um significado materno – em um sentido
figurado. Estabelecemos uma relação pessoal com ele, assim como se fosse uma mãe.
Sendo assim, o lugar assume algo de ordem imediatamente pessoal. A casa onde somos
cuidados e envolvidos psíquica e fisicamente torna-se uma extensão da teia familiar.
Por isso, a clínica pode se tornar uma figura onírica para o menino e sua psicologia que
se configura neste lugar.
O menino desce. A escada termina. Ele não consegue chegar ao porão. O elevador
somente sobe. O menino não consegue salvar as crianças pequenas que estão no primeiro
andar. As crianças pequenas estão correndo perigo. Na época do sonho, o menino ainda
se encontrava na clínica. Quando, num determinado lugar, somos mantidos em um
estado demasiadamente infantil, o inconsciente tende a destruir esse lugar. Por um
lado, a clínica deve ser queimada, pois não queremos mais ser tão infantis. Por outro,
sentimos compaixão pelas criancinhas, isto é, pela natureza da criança que faz parte de
nós e esperamos que esta qualidade seja salva.
Sonho de escola
Um dia de manhã derramei nanquim – não, foi tinta –, a manga do meu pulôver e
minha camisa ficaram totalmente sujas. Tive que tirar o pulôver; tinha esparadrapo
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SONHOS DE CRIANÇAS │ UNIDADE IV
grudado por toda a minha camisa. Em seguida voltei para casa com Ehrhard – pegamos
um desvio e chegamos a um estábulo; estava totalmente escuro. Havia uma escada na
lateral, mas estava tão escuro que não achei o primeiro degrau. Ehrhard conhecia bem
esse estábulo.
»» a cena na escola;
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UNIDADE IV │ SONHOS DE CRIANÇAS
de tinta. Formou-se uma mancha escura que com certeza pode ser relacionada a certo
sentimento de culpa que surgiu por conta de os processos sexuais serem muitas vezes
associados diretamente ao pecado.
O sonhador precisa tirar o pulôver. Em suíço alemão se diz “prendi a minha manga”, o
que significa que alguém teve má sorte, porém, em parte por culpa própria.
Havia esparadrapos grudados por toda a camisa. Talvez se trate de processos sexuais da
puberdade tardia. Pensem na polução noturna. No sonho há uma relação entre a tinta,
a camisa grudenta e, com certeza, os processos sexuais.
Agora ele deseja voltar para casa com Ehrhard. Ehrhard, provavelmente, um amigo
seu, é idêntico ao sonhador, é seu outro eu. Os dois, porém, não vão, como deveriam,
diretamente para casa. Tomam um desvio. Meninos frequentemente tomam desvios, o
que não agrada em nada a seus pais apavorados. Sua fantasia, sua sede de descobertas
muitas vezes faz com que esqueçam que em casa uma mesa farta lhes aguarda.
Conheço o sonhador e sei que pontualidade não é exatamente seu forte. Ele não pertence
ao grupo dos assim chamados meninos obedientes, é um menino de verdade.
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SONHOS DE CRIANÇAS │ UNIDADE IV
Em seguida, surge o homem com o cão. “O mundo existe através da mente do cão”, é o
que diz Vendidad, a parte mais antiga do Zend-Avesta (escritos sagrados dos Persas).
Desde os tempos mais remotos é impossível imaginar o homem sem o cão em qualquer
lugar do mundo. Segundo Brehm, o homem e o cão se complementam cem vezes, mil
vezes. O homem e o cão são os mais fiéis companheiros. Não há animal no mundo que
seja mais digno da pena consideração, da amizade e do amor do ser humano do que o cão.
É parte integrante do ser humano, imprescindível para seu crescimento e bem-estar.
“O cão, diz Friederich Cuvier, é a mais peculiar, a mais completa e a mais útil das
conquistas humanas”.
O cachorro, descendente dos chacais ou lobos, tornou-se de fato nosso “irmão animal”;
falta-lhe apenas a fala para que se torne um substituto à altura de muitos companheiros
humanos. Ocupei-me bastante com os animais. Muitas vezes o olhar inteligente e
questionador de um cão me fez tirar algum tipo de idiotice ou ideia ou então me fez
descer do pedestal que eu mesmo criei. Meu cão é sempre parte de minha própria
personalidade. Conhece a língua de seu dono, observa os mais sutis sentimentos de seu
mestre, sabe quando o dono está triste, alegre ou mal-humorado. Participa da alegria e
do sofrimento de seu dono.
Observei que os cães idosos assumem a postura e os traços de seu dono e vice-versa.
Como simpatizante do cão me permito dizer que ele é uma parte do homem, um tipo
de sombra. Muitas personalidades famosas se tornam inteiras somente ao lado de seu
cão. Existem também exemplos menos ilustres: o vizinho aposentado com seu pincher
ou o alcoólatra cujo cão de aparência igualmente decadente acompanha fielmente seu
dono de bar em bar.
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UNIDADE IV │ SONHOS DE CRIANÇAS
Aquilo que era escuro e opaco de repente se torna transparente, surge uma parede
de vidro e com ela a claridade – a luz – o menino olha pela janela tal como uma
criança ansiosa que aperta o nariz contra uma vitrine. O sonhador já esteve em um
estabelecimento comercial durante um sonho, um estabelecimento subterrâneo, onde
sentiu náuseas porque “fumou bastonetes de lacre de cera”. Aqui, o vidro o separa
do estabelecimento, ele olha para dentro, porém é sensato e ainda não entra, pois
provavelmente ainda não precisa comprar nada. Vê muitas pessoas que adquirem
legumes e flores. A transformação se realizou perante seus olhos. Foi o cão, aquele que
presta auxílio na hora de morrer e de ressuscitar que provocou isso – do inconsciente
para o consciente.
O sonho continua: “Ehrhard volta para casa e eu também”. Isso significa que eles
se separam. O sonhador está com pressa, pois passa correndo pela propriedade do
serralheiro. Serralheiros e ferreiros encarnam símbolos arquetípicos que para os
adultos podem significar uma regressão, para o menino, porém, tendem a ser mais o
“bicho papão”.
Em seguida, regiões superiores são alcançadas. Mas, imediatamente, algo novo aparece.
Três pessoas – um pai e dois meninos, talvez um grupo de Laocoonte sem serpentes,
querem construir um poço. Já falamos sobre o número três. Devemos considerar o
duplo sentido dessa expressão no texto do sonho: “queriam fazer um poço” (em alemão
suíço pode significar urinar).
“Fincaram uma estaca no chão”. Nesse caso, trata-se de um símbolo fálico. Como no
caso dos bastonetes de lacre de cera. O “masculino” é incorporado pela mãe terra.
Forma assim uma fonte, um poço. Ideias semelhantes aparecem com frequência na
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SONHOS DE CRIANÇAS │ UNIDADE IV
mitologia. Wotan, Baldur e Carlos Magno fizeram brotar as fontes dessa maneira. Uma
batida com o bastão sagrado – ou com o casco do cavalo – atrai água do solo. Um santo
finca um galho no chão, Pégaso fez a Hipocrene (fonte do cavalo). Na Arcádia, Reia fez
brotar uma fonte com um bastão, assim como Moisés o fez para os judeus sedentos.
Em alemão antigo, a fonte é chamada de Urspring. Ur= original e spring= saltar). O que
significa que algo salta para fora. Isso significa que o sonhador vê o ato da procriação
em uma linguagem simbólica.
Agora, porém, ele comeu da árvore do conhecimento e percebe que está “nu”. Assusta-se
de tal modo que sente frio. Arrepia-se diante da realidade. Precisa buscar sua pelerine.
Veste novamente uma capa materna e passa prontamente por um rebaixamento da
orientação e atenção, encontra-se subitamente no lugar onde vivia em sua primeira
infância em GL, onde uma água selvagem se derrama ainda sem nenhuma inibição
sobre as pedras. Lá, Regula e Ellen vão ao seu encontro quando na verdade deveriam
estar no lugar onde ele vive atualmente.
Regula, para quem o sonhador pergunta a hora, não tem um relógio. Ellen, porém,
possui um relógio especial que cresce cada vez mais. Cresce tanto que precisa ser
carregado, o que provavelmente significa que precisa ser segurado com as mãos.
Quando algo em um sonho assume um tamanho não natural, o símbolo em questão
deve ser considerado especialmente. O relógio é aquele que adverte em relação ao
fluxo do tempo. Estabelece as subdivisões do dia e, as nossas tarefas.
Dizem: “Você vai saber quando chegar a sua hora”. O relógio do sonho, que se encontra
impressionantemente inflado, diz: faltam trinta minutos para as três. As duas meninas,
entretanto, mostram para ele que na verdade deveria estar em Z. Mas em relação ao
sonho anterior, faz sentido o fato de o sonhador simplesmente se atrasar, como tantas
vezes, para o almoço. Por isso ele corre, isto é, culpado para casa. Tudo que vivenciou
até então desmorona de modo patético, pois agora precisa sentar-se à mesa em casa,
à mesa do pai que tem um significado na medida em que é preciso se submeter a ele
enquanto se é jovem.
Vem-lhe a mente apenas dois nomes de “Mil e uma noites”, talvez ele se identifique
com Aladim, quem sabe para consolar-se, pois um pequeno homem imprestável pode
acabar tornando-se rei. A maioria desses contos acaba com um “happy end” que, por
fim, nos redime.
Prof. Jung: manchas de tinta ocorrem por causa de um deslize. É algo escuro, opaco, pelo
qual eventualmente somos punidos. Trata-se do segredo da puberdade que, naquela
época, já se anunciava. É algo normal, mas, ao mesmo tempo, uma antecipação.
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UNIDADE IV │ SONHOS DE CRIANÇAS
O sonhador ainda possui poucas experiências mais específicas, ainda é muito pequeno,
mas ele sabe que o esparadrapo é usado para feridas. A qualidade colante, algo que
gruda em nós e do qual não nos livramos facilmente, poderia igualmente referir-se às
manchas. Estas devem, conforme mencionado pelo palestrante, ser relacionadas com
a esfera sexual.
O jovem Ehrhard, companheiro de suas aventuras: aqui deveríamos saber de que tipo
de menino se trata. O papel que este assume no sonho parece indicar uma personalidade
um pouco mais equilibrada e adulta. Suponhamos que o sonhador projeta um líder,
uma figura ideal como seu amigo, alguém que faz aquilo que jamais teríamos coragem
de fazer.
Ehrhard representa esse papel. É a figura interna do sonhador que é um pouco mais
adulta e que já sabe a respeito das coisas. Segundo a mãe, ele é um ou dois anos mais
velho que o sonhador.
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SONHOS DE CRIANÇAS │ UNIDADE IV
O pai com os dois meninos: nesse caso, faz sentido pensarmos em Lacoonte e seus
dois filhos. Lacoonte aproximou-se demasiadamente do mar, do inconsciente, e foi
abarcado por este na forma de uma serpente. Formulado de modo sexual-primitivo:
o masculino sucumbiu ao feminino (coito); de modo abstrato: o inconsciente subjugou
a consciência.
O que importa aqui é o número três e, mais adiante, o horário trinta minutos para as
três. Isso poderia significar: ainda não são três horas, falta meia hora. O número três
possui no mundo inteiro um significado masculino, o que tem a ver com a anatomia
masculina. O número três ainda não está completo; o fruto ainda não amadureceu, a
maturidade sexual ainda não foi alcançada.
A estaca que faz surgir um poço: trata-se do motivo de fazer brotar uma fonte,
compreendido como um ato de fertilização. Existe aqui um paralelo com as diversas
tradições relacionadas à fertilização do solo, com o arado fálico, os deuses da fertilidade
que devem fertilizar o campo.
Nos arrepiamos quando intuímos relações que apontam para um futuro longínquo.
Esses insights são horripilantes, geram uma sensação de frio. Dizem que a aparição
de um espírito é sempre antecedida por uma corrente de ar frio. Quando alguém nos
leva para uma região mental onde não nos sentimos mais em casa, falamos das “alturas
gélidas do intelecto” ou então que se trata de “uma pessoa fria”.
A ideia de frieza surge sempre quando algo vai longe demais. Quando somos incapazes de
um sentimento mais humano perante algo, experimentamos logo uma sensação de frio
ou tristeza. Quando nos vem um pensamento que ainda não conseguimos compreender
totalmente, um sopro frio nos envolve; instintivamente tememos as ideias novas, pois, de
alguma forma, elas nos levam para muito longe e nos fazem imediatamente sentir medo
de enlouquecer. E com o medo surge o frio. Sentimos um frio descendo pela espinha,
nossos pés e mãos ficam igualmente gelados.
O que lhe causa arrepios é o reconhecimento ou a visão de um futuro no qual ele mesmo
ainda não se encontra. A pelerine é uma capa protetora que lhe aquece e protege, onde
ainda se encontra cercado pelo aspecto feminino e maternal. O aspecto feminino é
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UNIDADE IV │ SONHOS DE CRIANÇAS
representado pelas duas irmãs Regula e Ellen. Novamente nos deparamos com a
questão de Osíris!
As duas meninas possuem temperamentos diversos, quer dizer, são opostas (informações
dos pais), algo que costuma ocorrer no caso de irmãs. Trata-se de diferenças
compensatórias. As duas meninas têm um relógio e este se torna grande e pesado.
Pesado é igual à gravis (latim: pesado, grávido, sério), o que significa que é algo
sério, uma questão difícil. Essas figuras de linguagem contêm questões importantes.
O relógio incha. Se fizermos uma redução em um sentido sexual, podemos interpretar
a inchação como uma primeira sensação de intumescência. Mas trata-se igualmente de
uma imagem que descreve como algo de pouca importância adquire peso.
A mulher é o destino do homem. Caso contrário, o homem fica suspenso no ar. Sem raízes.
A mulher é sempre aquela que gera o destino; a mulher a qual o homem está preso é o
destino. Ela faz com que ele se enraíze na terra.
Esses temas mitológicos afastam o sonhador da realidade. Por isso precisa falar em
“contos de fada” para se retrair disso. É semelhante ao caso da parede de vidro! Já não
sabe mais nem qual era o nome das pessoas. Os dois nomes parecem referir-se somente
às duas meninas. O nome real, porém, é o ser real, presente no inconsciente desde o
nascimento. Mas existe, também, o relógio; pois o caráter humano é determinado pelo
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SONHOS DE CRIANÇAS │ UNIDADE IV
O relógio pequeno representa seu destino que se desenvolve através do tempo. De início,
seu destino parece leve, no entanto, somente para no fim tornar-se insuportavelmente
pesado. Nós mesmos somos nosso destino, é o que Seni diz para Wallenstein:
“As estrelas do teu próprio destino jazem em teu peito”. O si-mesmo que se revela a
partir do tempo é representado pelo instrumento que determina o tempo e o destino,
isto é, o relógio.
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Para (não) Finalizar
Durante a disciplina, você avaliou conceitos, viu casos reais e compreendeu, por diversos
pontos de vista, como conhecer e trabalhar.
Esperamos ter concorrido para sua reflexão sobre as vantagens desses conhecimentos,
lembrando-lhe que você deve sempre estar preparado para compreender os avanços
tecnológicos do mundo moderno. Para isso, reflita, faça relações entre dados, informações
e ideias, desafie o senso comum, pesquise, troque ideias.
Em pouco tempo você estará surpreendido. Verá que, além de ter alcançado maiores
conhecimentos, a aprendizagem foi um acontecimento natural e que sua capacidade
de estudos terá sido ampliada pelo exercício e pela satisfação em sentir o próprio
crescimento.
Por tudo isso, lembre-se de que o assunto não termina aqui. Há muito o que aprender.
O que foi visto nesta etapa é um caminho apontando para fontes inesgotáveis de estudos
e experimentações.
Desejamos-lhe sucesso!
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Referências
RABELO, Nancy. O desenho infantil: entenda como a criança se comunica por meio
de traços e cores. 2. ed. Rio de Janeiro: Wak, 2014.
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