Saude Mental Do Idoso - FINAL

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 47

Saúde Mental do Idoso

B RaSÍlIa -dF.
Elaboração

Juliana Wolff Bueno Maddarena


Raúcia de Moraes Resende

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

APRESENTAÇÃO................................................................................................................................... 4

ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA...................................................................... 5

INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 7

UNIDADE I
DEFINIÇÕES IMPORTANTES.................................................................................................................... 9

CAPÍTULO 1
O IDOSO................................................................................................................................. 9

CAPÍTULO 2
A PSIQUIATRIA NO MUNDO..................................................................................................... 12

UNIDADE II
A REFORMA PSIQUIÁTRICA.................................................................................................................. 14

CAPÍTULO 1
A PSIQUIATRIA E A REFORMA PSIQUIÁTRICA NO BRASIL............................................................. 14

CAPÍTULO 2
O ENVELHECIMENTO POPULACIONAL E A PSIQUIATRIA............................................................. 18

UNIDADE III
AS PRINCIPAIS PATOLOGIAS E TRANSTORNOS........................................................................................ 20

CAPÍTULO 1
PRINCIPAIS PATOLOGIAS E TRANSTORNOS................................................................................ 20

UNIDADE IV
QUALIDADE DE VIDA........................................................................................................................... 41

CAPÍTULO 1
DIETA E ATIVIDADE FÍSICA....................................................................................................... 41

PARA (NÃO) FINALIZAR....................................................................................................................... 43

REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 47
Apresentação
Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem
necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela
atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade
de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos
a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma
competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para
vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar
sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a
como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

4
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de
forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões
para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao
final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e
pesquisas complementares.

A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos
e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Praticando

Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer


o processo de aprendizagem do aluno.

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

5
Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Exercício de fixação

Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não
há registro de menção).

Avaliação Final

Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso,


que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única
atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber
se pode ou não receber a certificação.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

6
Introdução
O conhecimento sobre a historicidade dos fatos e dos fenômenos sociais é o caminho para explicitar
contradições e determinações presentes na trajetória da humanidade.

O enfoque da loucura como doença e da Psiquiatria como especialidade médica é recente na história
da humanidade. A partir do século XVIII, o homem inventou uma nova maneira de se perceber,
uma nova maneira de vivenciar a condição humana.

A loucura sempre existiu, bem como o lugar para se tratar dos loucos: templos, domicílios e
instituições, mas a instituição psiquiátrica, propriamente dita, é uma construção do século XVIII
(BIRMAN, 1992).

A partir dessa nova forma de vivenciar a condição humana, estabeleceu-se “o diferente”, aquele
que não segue o padrão de comportamento que a sociedade define. O doente mental, o excluído do
convívio dos iguais, dos ditos normais, foi então afastado dos donos da razão, dos produtivos e dos
que não ameaçavam a sociedade.

No passado, tratar do doente mental foi sinal de exclusão, de reclusão e asilamento. Hoje, esta realidade
ainda existe, porém de forma mais consciente e menos exclusiva. Por não se admitir a exclusão, corre-
se o risco de não se admitir a diferença. Esta não pode ser negada, é necessário reconhecê-la e conviver
com ela sem ter de excluir, conforme a grande aspiração da Reforma Psiquiátrica.

Objetivos
»» Desenvolver o conhecimento sobre a saúde mental do idoso.

»» Auxiliar nas atividades profissionais rotineiras, possibilitando uma detecção precoce


de agravos mentais no idoso, para que se inicie um tratamento adequado e eficiente.

»» Ampliar a compreensão das diversas concepções curriculares do conteúdo que se


refere o tema.

»» Refletir sobre as questões pertinentes ao ensino da saúde mental e do cuidado ao


idoso e a participação do profissional de saúde para o bem-estar desta parcela da
população que tem tornado-se cada vez maior ao longo dos anos.

7
8
DEFINIÇÕES UNIDADE I
IMPORTANTES

CAPÍTULO 1
O idoso

Em 1982, a Assembleia Mundial sobre o envelhecimento, reunida em Viena, estabeleceu a idade de


60 anos como limite inferior da etapa do envelhecimento. Contudo, o processo do envelhecimento
não começa aos 60 anos. Ele é o acúmulo de interações sociais, biológicas e comportamentais durante
toda a vida.

Segundo Costa e Carbone (Saúde da Família, Uma abordagem interdisciplinar, pág. 84 e 85 –


Livraria e editora Rubio Ltda) “até o século XX, as principais doenças que diminuíam a longevidade
eram as infecciosas, agravadas pelas deficiências nutricionais, de saneamento e de transporte.
Medidas simples de avanços tecnológicos e descobertas da saúde coletiva resultaram em acentuada
queda da mortalidade resultante das doenças infecciosas”.

Hoje em dia, as enfermidades fatais são causadas pelo consumo excessivo de calorias, gorduras,
álcool e níveis nocivos de colesterol, juntamente com a prática de hábitos pouco saudáveis como o
tabagismo e o sedentarismo. Essas enfermidades (doenças do coração, câncer, hipertensão, diabetes
etc.) respondem, hoje, por um grande número das mortes passíveis de prevenção.

Estima-se que três quartos de todos os tipos de câncer ocorrem como resultados de fatores externos
como alimentação, cigarro e bebida, e não por fatores genéticos.

Outro fator de risco passível de prevenção é a falta de exercícios físicos. Uma atividade física regular
e adequada à cada pessoa reduz o risco cardíaco, ajuda a prevenir diabetes, câncer de mama e de
próstata, obesidade, depressão e outras patologias.

Na verdade, o principal benefício de se manter saudável pode não ser simplesmente evitar a morte
prematura, mas conseguir uma melhor qualidade de vida.

Algumas patologias são típicas durante o envelhecimento, em nível de atenção básica, merecem
destaque.

»» AVE (Acidente Vascular Encefálico).

»» Demência senil.

»» Hiperplasia e câncer de próstata.

9
I EDA NU SETNA ROPMI SEÕÇ N F D

»» Osteoporose.

»» Hipertensão arterial.

»» Diabetes.

»» Patologia social (viuvez, aposentadoria, abandono etc.).

»» Coronariopatias.

»» DPOCs (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica).

»» Excesso de medicação (efeitos colaterais, interações medicamentosas etc.).

A ONU estima que existem 606 milhões de idosos distribuídos em todo o mundo sendo que,
aproximadamente, 180 mil são centenários. Essa longevidade se deve principalmente à melhoria da
qualidade de vida e aos avanços da medicina.

A maturidade e a velhice impõem alguns desafios individuais e socioculturais no grupo em que


os idosos estão inseridos principalmente no que se refere às limitações do envelhecimento e às
expectativas sociais.

»» Os idosos deveram ser incentivados às seguintes ações.

»» Trabalhar a autoaceitação.

»» Descobrir novos propósitos na vida.

»» Estabelecer novos vínculos de amizade com outras pessoas.

»» Estar seguro do ambiente que o cerca.

»» Ser o mais autônomo possível.

Saúde mental do idoso


Nos dias de hoje, não podemos encarar a velhice como doença. É uma etapa da vida com características
e valores próprios, em que ocorrem modificações no indivíduo, tanto na estrutura orgânica quanto
no metabolismo, no equilíbrio bioquímico, na imunidade, na nutrição, nos mecanismos funcionais,
nas características intelectuais e emocionais (AMARANTE, 1998).

São essas modificações que dificultam a adaptação do indivíduo no seu meio, exatamente pela
falta de condições que favoreçam o envelhecimento biopsicossocial. A aparência do indivíduo
transforma-se, possibilitando atribuir-lhe uma idade quase sempre com pequena margem de erro.
A pele enruga-se em consequência da desidratação e da perda de elasticidade do tecido dérmico
subjacente. Há perda de dentes, atrofia muscular, e a esclerose das articulações acarretam distúrbios
de locomoção. O esqueleto padece de osteoporose e é sujeito a fraturas ósseas. O coração tem seu
funcionamento alterado, os órgãos dos sentidos são atacados.

10
SETNA ROPMI SEÕÇ N F D I EDA NU

O idoso é mais vulnerável a doenças degenerativas de começo insidioso, como as cardiovasculares


e cerebrovasculares, o câncer, os transtornos mentais, os estados patológicos que afetam o sistema
locomotor e os sentidos. Inegavelmente, há uma redução sistemática do grau de interação social
como um dos sinais mais evidentes de velhice.

Concorrem para agravar essa situação vários fatores demográficos, socioculturais e epidemiológicos,
como aposentadoria, perda de companheiros de trabalho, aumento de tempo livre, mudanças nas
normas sociais, impacto da idade sobre o indivíduo, impacto social da velhice, perda de segurança
econômica, rejeição pelo grupo, filhos que se afastam, dificuldades citadas pela sociedade
industrializada, condução difícil, trânsito congestionado, contaminação do ar afetando a sua saúde,
aumento da frequência de determinadas enfermidades, dificuldades de aceitação de novas ideias
que se chocam com os modelos tradicionais de conduta, fazendo o idoso duvidar do que vem até
então seguindo.

A maioria dos estudos que avalia serviços preventivos usa a redução da doença como um resultado
de mortalidade específica. No idoso, há resultados de saúde claramente adicionais e mais pertinentes
a serem considerados.

A saúde no idoso consiste em três fatores relacionados: a ausência de doença; a manutenção de


ótima função; e a presença de um apoio adequado. Para tanto, os profissionais que lidam com essa
clientela têm grande participação na morbidade e na qualidade de vida dos idosos.

11
CAPÍTULO 2
A psiquiatria no mundo

Philippe Pinel foi um médico francês, considerado por muitos o pai da Psiquiatria. Notabilizou-se
por ter considerado que os seres humanos que sofriam de perturbações mentais eram doentes e que,
ao contrário do que acontecia na época, deviam ser tratados como doentes e não de forma violenta.
Foi o primeiro médico a tentar descrever e classificar algumas perturbações mentais.

Pinel foi, então, responsável pelo serviço de alienados do hospício de Bicêtre e desde o começo teve
como preocupações fundamentais:

»» distinguir a confusão existente entre os furiosos e os tristes;

»» transformar a atitude brutal e repressiva em uma atitude compreensiva que ele


denominou tratamento moral;

»» introduzir no tratamento princípios que reduziam a importância da lesão anatômica.

»» distinguir entre o verdadeiro e a teoria que seja feito tudo o que está sobre o ímpar
do imoral e o par do repujante.

Outro europeu, também dedicado aos estudos e ao tratamento da mente, foi Franco Basaglia, médico
e psiquiatra, precursor do movimento de Reforma Psiquiátrica italiana conhecido como Psiquiatria
Democrática. Nasceu no ano de 1924, em Veneza, Itália, e faleceu em 1980. Após a Segunda Guerra
Mundial, depois de 12 anos de carreira acadêmica na Faculdade de Medicina de Padova, ingressou
no Hospital Psiquiátrico de Gorizia.

No ano de 1961, quando assumiu a direção do hospital, iniciou mudanças com o objetivo de
transformá-lo em uma comunidade terapêutica. Sua primeira atitude foi melhorar as condições de
hospedaria e o cuidado técnico aos internos em Gorizia.

Porém, à medida que se defrontava com a miséria humana criada pelas condições do hospital,
percebia que uma simples humanização deste não seria suficiente. Ele notou que eram necessárias
transformações profundas tanto no modelo de assistência psiquiátrica quanto nas relações entre a
sociedade e a loucura.

Basaglia criticava a postura tradicional da cultura médica, que transformava o indivíduo e seu corpo
em meros objetos de intervenção clínica. No campo das relações entre a sociedade e a loucura,
ele assumia uma posição crítica para com a Psiquiatria clássica e hospitalar, por esta se centrar
no princípio do isolamento do louco (a internação como modelo de tratamento), sendo, portanto,
excludente e repressora.

Após a leitura da obra do filósofo francês Michel Foucault “História da Loucura na Idade Clássica”,
Basaglia formulou a “negação da Psiquiatria” como discurso e prática hegemônicos sobre a loucura.
Ele não pretendia acabar com a Psiquiatria, mas considerava que apenas a Psiquiatria não era capaz
de dar conta do fenômeno complexo que é a loucura.

12
SETNA ROPMI SEÕÇ N F D I EDA NU

O sujeito acometido da loucura, para ele, possui outras necessidades que a prática psiquiátrica não
daria conta. Basaglia denunciou também o que seria o «duplo da doença mental», ou seja, tudo o
que se sobrepunha à doença propriamente dita, como resultado do processo de institucionalização
a que eram submetidos os loucos no hospital, ou manicômio.

A partir de 1970, quando foi nomeado diretor do Hospital Provincial na cidade de Trieste, iniciou
o processo de fechamento daquele hospital psiquiátrico. Em Trieste, ele promoveu a substituição
do tratamento hospitalar e manicomial por uma rede territorial de atendimento, da qual faziam
parte serviços de atenção comunitários, emergências psiquiátricas em hospital geral, cooperativas
de trabalho protegido, centros de convivência e moradias assistidas (chamadas por ele de «grupos-
apartamento») para os loucos.

No ano de 1973, a Organização Mundial de Saúde (OMS) credenciou o Serviço Psiquiátrico de


Trieste como principal referência mundial para uma reformulação da assistência em saúde mental.
A partir de 1976, o hospital psiquiátrico de Trieste foi fechado oficialmente, e a assistência em saúde
mental passou a ser exercida em sua totalidade na rede territorial montada por Basaglia.

Como consequência das ações e dos debates iniciados por Franco Basaglia, no ano de 1978, foi
aprovada na Itália a chamada «Lei 180», ou «Lei da Reforma Psiquiátrica Italiana», também
conhecida popularmente como «Lei Basaglia».

Em 1973 o Serviço Hospitalar de Trieste, dirigido por Basaglia, foi considerado pela Organização
Mundial de Saúde (OMS) como referência mundial para reformulação da assistência à saúde mental.

A Lei 180, ano de 1978 (Lei Basaglia), estabeleceu a abolição dos hospitais psiquiátricos (manicômios)
na Itália e está vigente até o presente momento. Em 1979, Basaglia visitou o Hospital Colônia na
cidade de Barbacena, tendo-o comparado aos campos de concentração nazistas de Adolf Hitler.

Franco Basaglia esteve algumas vezes no Brasil realizando seminários e conferências. Suas ideias se
constituíram em algumas das principais influências para o movimento pela Reforma Psiquiátrica
no país.

13
A REFORMA UNIDADE II
PSIQUIÁTRICA

CAPÍTULO 1
A psiquiatria e a reforma psiquiátrica
no Brasil

A reforma psiquiátrica no Brasil vem configurando-se como um movimento com diferentes graus
de adesão e entendimento por parte dos profissionais e de alguns segmentos da sociedade. Tratada
como desospitalização, sem as condições necessárias para viabilizar uma proposta de ressocialização
ou reabilitação, reflete de forma negativa sobre a família, pois é nesta que se dá o embate com a
realidade cotidiana do cuidado ao doente mental atribuído às mulheres.

O que se espera da Reforma Psiquiátrica não é simplesmente a transferência do doente mental


para fora dos muros do hospital, “confinando-o” à vida em casa, aos cuidados de quem puder
assisti-lo ou entregue à própria sorte. Espera-se, muito mais, o resgate ou o estabelecimento da
cidadania do doente mental, o respeito a sua singularidade e subjetividade, tornando-o sujeito de
seu próprio tratamento sem a ideia de cura como o único horizonte. Espera-se, assim, a autonomia
e a reintegração do sujeito à família e à sociedade (BIRMAN, 1992).

Alguns autores referem-se à família para aludir ao fato da crescente intolerância para com o doente
mental. Essa intolerância é consequência de uma mudança de atitude das pessoas, própria das
sociedades capitalistas avançadas e em áreas mais industrializadas de países como o Brasil. Essas
mudanças refletem em nível individual, familiar e institucional, o fato de essas sociedades serem
cada vez mais incapazes de acomodar o “desviante”, o “diferente”.

Na literatura brasileira sobre saúde mental, os autores frequentemente se referem à necessidade de


assistência à família do doente mental como parte ou estratégia do tratamento. Entretanto não são
frequentes as discussões e os trabalhos que demonstrem um conhecimento contextualizado de como
e por quem os doentes mentais são cuidados fora dos espaços institucionais da Psiquiatria, ou seja,
na família.

Vários estudos têm chamado a atenção sobre sobrecarga que a família enfrenta na convivência
com o doente mental, principalmente por ocasião da alta hospitalar, desencadeando atitudes de
incompreensão familiar e até de rejeição, motivadoras de reinternações sucessivas ou de internações
permanentes. Defendem que a família necessita de ajuda de profissionais da saúde mental.

14
ACIRTÁ UQ SP AMROFE I EDA NU

Sabe-se, no entanto, que, na prática, o grupo como um todo, dificilmente está disponível e ou disposto
a trabalhar a dimensão subjetiva e objetiva do cuidado com o doente mental. É comum profissionais
de saúde mental exigirem que a família aceite a doença sem lhe oferecer suporte e orientações.

A instituição familiar não se mostra favorável a respeito da desinstitucionalização do doente mental


exercendo pressão para que a instituição psiquiátrica continue a manter a custódia dos pacientes
porque esse pesado encargo não é aceito passivamente por ela.

Os diferentes percursos da Reforma Psiquiátrica brasileira têm evidenciado a fragilidade do sistema


de saúde para oferecer outro tipo de atendimento que não aquele centrado no leito hospitalar.
Evidencia-se, também, a tendência dos órgãos formadores em manter a doença mental como um
fenômeno biológico ou um “desvio” sobre os quais o profissional sabe e pode intervir a despeito
da singularidade e subjetividade. Também não são valorizadas as múltiplas determinações sociais,
econômicas, políticas, culturais e religiosas, individuais e coletivas (AMARANTE, 2000).

Se não é mais aceitável estigmatizar, excluir os loucos, também não se pode reduzir a Reforma
Psiquiátrica à revolução destes às famílias, como se estas fossem, indistintamente, capazes de
resolver a problemática da vida cotidiana acrescida das dificuldades geradas pela convivência, pela
manutenção e pelo cuidado com o doente mental.

Isto implica uma progressiva mudança de mentalidade e comportamento da sociedade para com
o doente mental. Exige revisões das práticas de saúde mental em todos os níveis e posturas mais
críticas dos órgãos formadores de profissionais, principalmente, os da saúde e da educação.

A influência desses movimentos de crítica à Psiquiatria também se fizeram notar, em diferentes


momentos, no contexto da sociedade brasileira. No final dos anos 1970 e início de 1980, período
marcado pelo final da falência do “milagre econômico”, suspensão da censura, reorganização da
sociedade por meio do ressurgimento dos sindicatos, partidos políticos e retorno ao Estado de Direito,
as ideias de Foucault, Goffman, Castel, Szaz, Basaglia e outros tiveram forte influência. Esse período
é considerado como o primeiro momento da Reforma Psiquiátrica brasileira, denominado “trajetória
alternativa” desse processo.

No segundo momento, principalmente no período político da Nova República, o movimento da


Reforma Sanitária e da Reforma Psiquiátrica incorporou-se ao aparelho de Estado e a crítica original
da cientificidade da medicina Psiquiatria e da neutralidade da ciência cedeu espaço para a ideia de
que uma nova administração estatal resolveria os problemas de saúde e saúde mental da população.
Trata-se de momento institucionalizante do processo.

No terceiro momento, o da desinstitucionalização, cujo tema “por uma sociedade sem manicômios”,
retrata a medida do resgate da crítica da institucionalização da medicina psiquiátrica, sob forte
influência da “tradição basagliana”, propõem-se mudanças no modelo de intervenção: as
macropolíticas cedem espaço para a reinveção do cotidiano e enfatizam-se experiências localizadas.

Nessa nova concepção de objeto e de intervenção, compreende-se a desinstitucionalização como


“um trabalho de transformação que , a começar pelo problema. Mas, se o objetivo ao invés de ser “a
doença” torna-se a “existência-sofrimento dos pacientes” e a sua relação com o corpo social, então

15
I EDA NU ACIRTÁ UQ SP AMROFE

desinstitucionalização será o processo crítico-prático para a reorientação de todos os elementos


constitutivos da instituição para este objeto bastante diferente do anterior.

A Lei no 10.216 de 6 de abril de 2001, também conhecida como Lei Paulo Delgado e como Lei da
Reforma Psiquiátrica instituiu um novo modelo de tratamento aos transtornos mentais no Brasil.

No ano de 1989, dá entrada no Congresso Nacional o Projeto de Lei do deputado Paulo Delgado (PT-
MG), que propunha a regulamentação dos direitos da pessoa com transtornos mentais e a extinção
progressiva dos manicômios no país. É o início das lutas do movimento da Reforma Psiquiátrica
nos campos legislativos e normativos. É somente no ano de 2001, após 12 anos de tramitação no
Congresso Nacional, que a Lei no 10.216 é sancionada no país.

A aprovação, no entanto, é de um substitutivo do Projeto de Lei original, que traz modificações


importantes no texto normativo. Assim, a Lei Federal no 10.216 redireciona a assistência em saúde
mental, privilegiando o oferecimento de tratamento em serviços de base comunitária, dispõe sobre
a proteção e os direitos das pessoas com transtornos mentais, mas não institui mecanismos claros
para a progressiva extinção dos manicômios.

Ainda assim, a promulgação da Lei no 10.216 impõe novo impulso e novo ritmo para o processo de
Reforma Psiquiátrica no Brasil. É no contexto da promulgação da Lei no 10.216 e da realização da III
Conferência Nacional de Saúde Mental, que a política de saúde mental do governo federal, alinhada às
diretrizes da Reforma Psiquiátrica, passa a consolidar-se, ganhando maior sustentação e visibilidade.

A reforma psiquiátrica no Brasil


“A Reforma Psiquiátrica no Brasil é um movimento histórico de caráter político, social e econômico
influenciado pela ideologia de grupos dominantes. A práxis da Reforma Psiquiátrica faz parte do
cotidiano de um bom número de profissionais de saúde mental. Tem como uma das vertentes
principais a desinstitucionalização com consequente desconstrução do manicômio e dos paradigmas
que o sustentam.” (GONÇALVES; SENA, 2001).

A substituição progressiva dos manicômios por outras práticas terapêuticas e a cidadania do doente
mental vêm sendo objeto de discussão não só entre os profissionais de saúde, mas também em toda
a sociedade.

O modelo de assistência psiquiátrica ainda predominante no Brasil, com base na legislação de 1934,
propõe, fundamentalmente, a hospitalização e o asilamento do doente mental, visando atender,
sobretudo, à segurança da ordem e da moral pública. Embora predominante, esse modelo é
atualmente considerado falido e sua base ideológica, desmistificada.

Um novo modelo vem sendo edificado a partir da contribuição de vários segmentos da sociedade e
implica a desconstrução literal do modelo hegemônico. A Reforma Psiquiátrica vem desenvolvendo-
se no Brasil há várias décadas, mais precisamente a partir do final dos anos 1970 (BIRMAN, 1992).

O movimento aponta as inconveniências do modelo que fundamentou os paradigmas da Psiquiatria


clássica e tornou o hospital psiquiátrico a única alternativa de tratamento, facilitando a cronicidade
e a exclusão dos doentes mentais em todo o País.

16
ACIRTÁ UQ SP AMROFE I EDA NU

A Reforma Psiquiátrica, hoje defendida, é fruto de maior maturidade teórica e política, alcançada ao
longo das últimas décadas, com maior conscientização da sociedade civil organizada.

No percurso da Reforma Psiquiátrica brasileira, houve um momento em que as denúncias sobre


a precariedade da assistência psiquiátrica desencadearam estudos e trouxeram a público dados e
informações de órgãos públicos, como, por exemplo, do Ministério da Saúde, antes não valorizados,
tais como número de leitos, custos e qualidade da assistência (AMARANTE, 1998).

Os dados do Centro de Informações de Saúde, do Ministério da Saúde, revelaram que em 1988,


o número de leitos psiquiátricos representava 19,1% do total de leitos disponíveis em todo o país,
percentual superado apenas pelos leitos de clínica médica, 21,6%.

A Reforma Psiquiátrica, hoje, é discutida como parte das políticas de saúde, principalmente no âmbito
dos governos municipais. Na esfera federal, o Projeto de Lei no 3.657, de 1989, depois de aprovado
na Câmara dos Deputados em 1991, tramitou no Senado, e, só em janeiro de 1999, foi aprovado um
projeto substitutivo.

A versão atual dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos
psíquicos e redireciona o modelo assistencial de saúde mental. Nesta versão, há algumas
possíveis aberturas que, no futuro, poderão facilitar mecanismos de criação, contratação ou
financiamento de leitos psiquiátricos com orçamentos públicos (art. 4o), bem como de internação
em instituições com características asilares (art. 5o, § 3o).

O projeto de Lei no 3.657 cumpriu um importante papel que foi o de trazer para o debate a realidade
da assistência psiquiátrica brasileira e suscitar decisões importantes para a consolidação da Reforma
Psiquiátrica no País.

A Reforma Psiquiátrica, tomando como desafio a desinstitucionalização, tem sido discutida e


entendida com certa variedade de conceitos e consequências.

Segundo o conceito defendido pela Reforma, a desinstitucionalização não se restringe à substituição


do hospital por um aparato de cuidados externos envolvendo prioritariamente questões de caráter
técnico-administrativo-assistencial como a aplicação de recursos na criação de serviços substitutivos.
Envolve questões do campo jurídico-político e sociocultural. Exige que, de fato, haja um deslocamento
das práticas psiquiátricas para práticas de cuidado realizadas na comunidade (BIRMAN, 1992).

A questão crucial da desinstitucionalização é uma «progressiva ‹devolução à comunidade› da


responsabilidade em relação aos seus doentes e aos seus conflitos». Trata-se de buscar «outro lugar
social para a loucura na nossa cultura». Assim, a indagação sobre outro lugar para a loucura põe em
debate outro polo da questão: a cidadania do doente mental.

O conceito de desinstitucionalização vem sofrendo uma verdadeira metamorfose, abrindo novas


possibilidades para o campo da Reforma Psiquiátrica. O termo desistitucionalização vem sendo
compreendido por diferentes atores como desospitalização, desassistência ou desconstrução,
conforme interesses ou pontos de vista impregnados de poder ideológico (AMARANTE, 2000).

17
CAPÍTULO 2
O envelhecimento populacional e
a psiquiatria

Entre os anos 1940 e 1960, o Brasil experimentou um declínio significativo da mortalidade, mantendo
a fecundidade em níveis bastante altos, o que gerou uma população jovem quase estável e com
rápido crescimento. A partir dos anos 1960, a redução da fecundidade, que se iniciou nos grupos
populacionais mais privilegiados e nas regiões mais desenvolvidas, generalizou-se rapidamente e
desencadeou o processo de transição da estrutura etária. No futuro, teremos uma população quase
estável, porém mais idosa e com uma taxa de crescimento baixíssima ou talvez até negativa.

Doenças cujo principal fator de risco é a idade tendem a elevar a sua prevalência, um exemplo típico
é a doença de Alzheimer. Estudos em diversas partes do mundo demonstram que a prevalência de
demência pode variar de 0,3% a 1% em pessoas entre 60 e 64 anos, aumentando de 42% a 68% em
indivíduos com 95 anos ou mais. Pode-se dizer que a prevalência de demência quase dobra a cada
cinco anos, depois que o indivíduo ultrapassa os 65 anos.

O envelhecimento é causado por alterações moleculares e celulares, que resultam em perdas


funcionais progressivas dos órgãos e do organismo como um todo. Esse declínio se torna perceptível
ao final da fase reprodutiva, muito embora as perdas funcionais do organismo comecem a
ocorrer muito antes. O sistema respiratório e o tecido muscular, por exemplo, começam a decair
funcionalmente já a partir dos 30 anos.

Na verdade, logo depois de se atingir a maturidade reprodutiva, as chances de sobrevivência do


indivíduo já começam a diminuir. Essa tendência faz parte do processo de evolução de todos os
organismos multicelulares. Assim, o desenvolvimento, a reprodução e o envelhecimento são etapas
naturais da vida de cada espécie, que ocorrem de forma sequencial e interdependente: o início da
senescência é dependente da fase reprodutiva que, por sua vez, é dependente do desenvolvimento.

A velocidade de declínio das funções fisiológicas é exponencial, isto é, a ocorrência de perdas


funcionais é acelerada com o aumento da idade. Assim por exemplo, num espaço de 10 anos,
ocorrem maiores perdas funcionais entre 60 e 70 anos do que entre 50 e 60 anos. Há, portanto,
um efeito cumulativo de alterações funcionais, com degeneração progressiva dos mecanismos que
regulam as respostas celulares e orgânicas perante as agressões externas, levando ao desequilíbrio
do organismo como um todo.

Há muito tempo que se ouve falar de pessoas que não lidam bem com a passagem dos anos e/ou
com a entrada numa fase do ciclo de vida mais próxima da morte. De um modo geral, e apesar de a
esperança média de vida ser cada vez maior, não é só o medo da morte que nos angustia. Estamos
genericamente cada vez mais preocupados com o envelhecimento e os seus danos, no entanto, há
pessoas que se destacam pela angústia e ansiedade com que gerem essas alterações.

Se, por um lado, não há nada de patológico no fato de pintarmos o cabelo ou recorrermos a produtos
de beleza que retardem os efeitos do envelhecimento, há, claramente, casos bastante complexos e
perturbadores que envolvem o medo exacerbado de envelhecer.

18
ACIRTÁ UQ SP AMROFE I EDA NU

A gerascofobia define-se como o medo persistente, anormal e injustificado de envelhecer e


acarreta normalmente grande infelicidade. Pode atingir pessoas que se encontrem de boa saúde do
ponto de vista físico, financeiro etc.

Tal como outras fobias, essa perturbação pode dar origem a sintomas concretos, como falta de ar,
tonturas, sudação excessiva, boca seca, tremores, palpitações, dificuldade em raciocinar ou falar
claramente, descontrole, despersonalização (sensação de estar fora da realidade) ou ataque de pânico.

Há alguns fatores diretamente associados a essa perturbação e que estão relacionados com a história
de vida do doente: a existência de outras fobias ou focos de ansiedade exacerbada, falta de realização
pessoal ou cumprimento de objetivos de vida e até o contexto socioeconômico.

Trata-se normalmente de pessoas ansiosas ou com personalidade narcísica e que sobrevalorizam os


bens materiais. Além disso, o fato (ou a possibilidade) de perderem os seus atributos físicos e o poder
de sedução constitui uma fonte de angústia e sofrimento. Ao contrário do que superficialmente se
possa considerar, esta não é uma perturbação que possa atingir qualquer pessoa, já que depende
claramente da forma como cada um amadurece.

Mas o medo de envelhecer está longe de circunscrever-se à estética – a angústia é generalizável à


perda de competências intelectuais e capacidades físicas em geral. E se há pessoas capazes de gastar
verdadeiras fortunas em produtos sem os quais “não podem viver”, a prática exagerada de exercício
físico e a preocupação exacerbada com o corpo são outras respostas comuns ao problema.

Outro padrão comum a estas pessoas é o relacionamento amoroso com pessoas mais jovens. De algum
modo, a capacidade para conquistar alguém significativamente mais novo lhes confere a sensação de
poder e de valorização. Para alguns, essa necessidade é exemplificada através de comportamentos
típicos de um adolescente, como a aquisição de uma moto depois dos 50 anos. Mesmo que não
possam parar o relógio, os gerascofóbicos adotam estes comportamentos de negação porque isso
lhes permite “maquiar” a sua verdadeira idade e, assim, reduzir os níveis de angústia e ansiedade.

A idade traz inevitavelmente algumas perdas – do ponto de vista da imagem, mas também ao nível
social, relacional, intelectual e de poder. Prepararmo-nos para as diferentes fases do ciclo de vida
implica encontrar atividades e objetivos a perseguir de modo a que nos sintamos preenchidos, em
vez de tremendamente ansiosos.

As pessoas que encaram a velhice como uma parte do processo não a evitam. Tendem a sobrepor os
aspectos positivos desta etapa aos mais negativos. A espiritualidade, a transmissão de conhecimentos
e de experiências às gerações mais novas ou a possibilidade de se gerir o tempo de forma mais
tranquila são elementos positivos. Procurar atividades potencialmente geradoras de satisfação,
manter o contato social (real e não apenas virtual ou telefônico) e a atividade intelectual são os
melhores caminhos para um envelhecimento emocionalmente saudável.

Para aqueles que de fato não buscam alternativas saudáveis para lidar com o envelhecimento, este
certamente precisa de recursos mais “agressivos” para lidar com o tempo que já passou.

19
AS PRINCIPAIS
PATOLOGIAS E UNIDADE III
TRANSTORNOS

CAPÍTULO 1
Principais patologias e transtornos

Esquizofrenia e seus subtipos


A esquizofrenia é um dos principais transtornos mentais e acomete 1% da população em idade jovem,
entre os 15 e os 35 anos de idade. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), é a terceira
causa de perda da qualidade de vida entre os 15 e 44 anos, considerando-se todas as doenças. Apesar
do impacto social, a esquizofrenia ainda é uma doença pouco conhecida pela sociedade, sempre
cercada de muitos tabus e preconceitos. Crenças como “as pessoas com esquizofrenia são violentas
e imprevisíveis”, “elas são culpadas pela doença”, “elas têm dupla personalidade”, “elas precisam
permanecer internadas” são fruto do desconhecimento e do preconceito.  

A esquizofrenia caracteriza-se por uma grave desestruturação psíquica, em que a pessoa perde a
capacidade de integrar suas emoções e sentimentos com seus pensamentos, podendo apresentar
crenças irreais (delírios), percepções falsas do ambiente (alucinações) e comportamentos que
revelam a perda do juízo crítico. A doença produz também dificuldades sociais, como as relacionadas
ao trabalho e relacionamento, com a interrupção das atividades produtivas da pessoa. O tratamento
envolve medicamentos, psicoterapia, terapias ocupacionais e conscientização da família, que
absorve a maior parte das tensões geradas pela doença. A esquizofrenia não tem cura, mas, com o
tratamento adequado, a pessoa pode se recuperar e voltar a viver uma vida normal.

Apesar de a exata origem não estar concluída, as evidências indicam mais fortemente que a
esquizofrenia é um severo transtorno do funcionamento cerebral. A esquizofrenia é provavelmente
um grupo de doenças relacionadas, algumas causadas por um fator, outras, por outros fatores.

A questão sobre a existência de várias esquizofrenias e não apenas uma única doença não é
um assunto novo; primeiro, pela diversidade de manifestações como subtipos paranoide,
hebefrênico e catatônico além das formas atípicas, que são conhecidas há décadas; segundo,
por analogia com outras áreas médicas como o câncer.

O câncer para o leigo é uma doença que pode atingir diferentes órgãos. Na verdade, trata-se de
várias doenças com manifestação semelhante. Para cada tipo de câncer, há uma causa distinta, um

20
S O N R T A E I SG O L T A P S I C N R PA S I EDA NU

tratamento específico em chances de cura distintas. São, portanto, várias doenças. Na esquizofrenia,
talvez seja o mesmo e o simples fato de tratá-la como uma doença só que atrapalha sua compreensão.
Poucos sabemos sobre essa doença. O máximo que conseguimos foi obter controle dos sintomas
com os antipsicóticos. Nem sua classificação, um dos aspectos fundamentais da pesquisa, foi
devidamente concluída.

A esquizofrenia pode desenvolver-se de maneira gradual, tão lentamente que nem o paciente nem
as pessoas próximas percebem que algo vai errado: só quando comportamentos abertamente
desviantes se manifestam. O período entre a normalidade e a doença deflagrada pode levar meses.

Por outro lado, há pacientes que desenvolvem esquizofrenia rapidamente, em questão de poucas
semanas ou mesmo de dias. A pessoa muda seu comportamento e entra no mundo esquizofrênico,
o que geralmente alarma e assusta muito os parentes.

Não há uma regra fixa quanto ao modo de início: tanto pode começar repentinamente e eclodir
numa crise exuberante, quanto começar lentamente sem apresentar mudanças extraordinárias, e
somente depois de anos surgir uma crise característica.

Geralmente, a esquizofrenia começa durante a adolescência ou quando adulto jovem. Os sintomas


aparecem gradualmente ao longo de meses e a família e os amigos que mantêm contato frequente
podem não notar nada. É mais comum que uma pessoa com contato espaçado por meses, perceba
melhor que a esquizofrenia está se desenvolvendo.

Os primeiros sintomas são a dificuldade de concentração, prejudicando o rendimento nos estudos;


estados de tensão de origem desconhecida mesmo pela própria pessoa e insônia e desinteresse
pelas atividades sociais com consequente isolamento. A partir de certo momento, mesmo antes da
esquizofrenia ter deflagrado, as pessoas próximas dão-se conta de que algo errado está acontecendo.
Nos dias de hoje, os pais pensarão que se trata de drogas; os amigos podem achar que são dúvidas
quanto à sexualidade; outros julgarão ser dúvidas existenciais próprias da idade.

É comum nessas fases o desleixo com a aparência o descuido com a higiene pessoal e as mudanças
no visual como a realização de tatuagens, piercing, cortes de cabelo, indumentárias estranhas.

Enquanto o tempo passa, os sintomas aprofundam-se, o paciente apresenta uma conversa estranha,
irreal, passa a ter experiências diferentes e não usuais que leva às pessoas próximas a julgarem
ainda mais que o paciente está fazendo uso de drogas ilícitas.

Infelizmente, o tratamento precoce não previne a esquizofrenia, doença inexorável. As medicações


controlam parcialmente os sintomas: não normalizam o paciente. Quando isso acontece, é por
remissão espontânea da doença e por nenhum outro motivo.

Não há um exame que diagnostique precisamente a esquizofrenia, isto depende, exclusivamente,


dos conhecimentos e da experiência do médico, portanto é comum ver conflitos de diagnóstico.
O diagnóstico é feito pelo conjunto de sintomas que o paciente apresenta e a história como esses
sintomas foram surgindo e se desenvolvendo. Existem critérios estabelecidos para que o médico
tenha um ponto de partida, uma base em que se sustentar, mas a maneira como o médico encara os
sintomas é pessoal.

21
I EDA NU S O N R T A E I SG O L T A P S I C N I R PA S

Que a esquizofrenia é doença grave ninguém duvida, pois afeta as emoções, o pensamento, as
percepções e o comportamento. Mas o que dizer de uma gravidade que pode não deixar sequelas
nem ameaçar a vida da pessoa, mas, pelo contrário, permite o restabelecimento da normalidade? A
gravidade então não está tanto no diagnóstico: está mais no curso da doença.

Classicamente a distinção que Kraepelin fez entre esquizofrenia (demência precoce) e o transtorno
bipolar (psicose cíclica) foi a possibilidade de recuperação dos cicladores, enquanto os esquizofrênicos
se deterioravam e não se recuperavam. Talvez, a partir daí, criou-se uma tendência a considerar-se a
esquizofrenia irrecuperável. Não resta a menor dúvida de que muitos casos não se recuperam, mas
há exceções e quando elas surgem toda a regra passa a ser duvidosa, pois se perdem os limites sobre
os quais se operava com segurança.

Faz apenas um pouco mais de 10 anos que se editou, pela Organização Mundial de Saúde, critérios
objetivos e claros para a realização do diagnóstico da esquizofrenia. Na versão anterior, os critérios
eram “frouxos” permitindo diferenças consideráveis nos parâmetros adotados entre os estudos; assim
as disparidades de resultados entre eles eram inaceitáveis, terminando com a indefinição a respeito
do curso da esquizofrenia.

Algumas psicoses são naturalmente transitórias e únicas na vida de uma pessoa. Se por engano,
estas são consideradas como esquizofrênicas, gera-se conflito ao se comparar com estudos cujos
critérios exigiam um período mínimo de meses na duração da psicose. Mesmo que durem muitos
anos, as psicoses não podem ser confundidas com a personalidade esquizoides.

Apesar de o CID 10 (o novo) ter criado uma técnica comprovadamente mais confiável e precisa de
se diagnosticar a esquizofrenia, o problema não está resolvido. Somente com o tempo e com mais
pesquisas saberemos se os critérios, hoje, adotados estão corretos, se correspondem à realidade.

A causa da esquizofrenia é complexa e multifatorial. O cérebro, por si, possui um funcionamento


extremamente complexo e em grande parte desconhecido. Essa complexidade aumenta se
considerarmos, e temos de considerar, que o funcionamento do cérebro depende do funcionamento
de outras partes do corpo como os vasos sanguíneos, o metabolismo do fígado, a filtragem do rim,
a absorção do intestino etc. Por fim, se considerando outras variáveis nada desprezíveis como o
ambiente social e familiar, a complexidade torna-se inatingível para os recursos de que dispomos.
Provavelmente a esquizofrenia é resultado disso tudo.

A divisão dos sintomas psicóticos em positivos e negativos tem por finalidade dizer de maneira
objetiva o estado do paciente. Tendo como ponto de referência a normalidade, os sintomas
positivos são aqueles que não deveriam estar presentes como as alucinações, e os negativos aqueles
que deveriam estar presentes, mas estão ausentes, como o estado de ânimo, a capacidade de
planejamento e execução, por exemplo. Portanto, sintomas positivos não são bons sinais, nem os
sintomas negativos são piores que os positivos.

São estes os sintomas positivos

»» Alucinações – as mais comuns nos esquizofrênicos são as auditivas. O paciente


geralmente ouve vozes depreciativas que o humilham, xingam, ordenam atos que os

22
S O N R T A E I SG O L T A P S I C N R PA S I EDA NU

pacientes reprovam, ameaçam, conversam entre si falando mal do próprio paciente.


Pode ser sempre a mesma voz, podem ser de várias pessoas, podem ser vozes de
pessoas conhecidas ou desconhecidas, podem ser murmúrios incompreensíveis, ou
claros e compreensíveis. Da mesma maneira que qualquer pessoa se aborrece em
ouvir tais coisas, os pacientes também se afligem com o conteúdo do que ouvem,
ainda mais por não conseguirem fugir das vozes. Alucinações visuais são raras na
esquizofrenia, sempre que surgem devem pôr em dúvida o diagnóstico, favorecendo
perturbações orgânicas do cérebro.

»» Delírios – Os delírios de longe mais comuns na esquizofrenia são os persecutórios.


São as ideias falsas que os pacientes têm de que estão sendo perseguidos, que
querem matá-lo ou fazer-lhe algum mal. Os delírios podem também ser bizarros
como achar que está sendo controlado por extraterrestres que enviam ondas de
rádio para o seu cérebro. O delírio de identidade (achar que é outra pessoa) é a
marca típica do doente mental que se considera Napoleão. No Brasil, o mais comum
é considerar-se Deus ou Jesus Cristo.

»» Perturbações do Pensamento – Estes sintomas são difíceis para o leigo


identificar: mesmos os médicos não psiquiatras não conseguem percebê-los, não
porque sejam discretos, mas porque a confusão é tamanha que nem se consegue
denominar o que se vê. Há vários tipos de perturbações do pensamento, o diagnóstico
tem de ser preciso porque a conduta é distinta entre o esquizofrênico que apresenta
esse sintoma e um paciente com confusão mental, que pode ser uma emergência
neurológica.

»» Alteração da sensação do eu – Assim como os delírios, esses sintomas são


diferentes de qualquer coisa que possamos experimentar, exceto em estados mentais
patológicos. Os pacientes com essas alterações dizem que não são elas mesmas, que
outra entidade se apoderou de seu corpo e que já não é ela mesma, ou simplesmente
que não existem, que seu corpo não existe.

Estes são alguns sintomas negativos

»» Falta de motivação e apatia.

»» Embotamento afetivo: as emoções não são sentidas como antes.

»» Isolamento social.

Os sintomas negativos não devem ser confundidos com depressão. A depressão é tratável e costuma
responder às medicações, já os sintomas negativos da esquizofrenia não melhoram com nenhum tipo
de antipsicótico. A grande esperança dos novos antipsicóticos de atuarem sobre os sintomas negativos
não se concretizou, contudo esses sintomas podem melhorar espontaneamente.

Qualquer pessoa está sujeita a vir a ter esquizofrenia; a maioria dos casos não apresenta nenhuma
história de parentes com a doença na família. A seguir estão enumeradas algumas dicas, nenhuma
delas são características, mas servem de parâmetro para observação.

23
I EDA NU S O N R T A E I SG O L T A P S I C N I R PA S

»» Dificuldade para dormir, alternância do dia pela noite, ficar andando pela casa a
noite, ou mais raramente dormir demais.

»» Isolamento social, indiferença em relação aos sentimentos dos outros.

»» Perda das relações sociais que mantinha.

»» Períodos de hiperatividade e períodos de inatividade.

»» Dificuldade de concentração chegando a impedir o prosseguimento nos estudos.

»» Dificuldade de tomar decisões e de resolver problemas comuns.

»» Preocupações não habituais com ocultismos, esoterismo e religião.

»» Hostilidade, desconfiança e medos injustificáveis.

»» Reações exageradas às reprovações dos parentes e amigos.

»» Deterioração da higiene pessoal.

»» Falta de expressões faciais (Rosto inexpressivo).

»» Diminuição marcante do piscar de olhos ou piscar incessantemente.

»» Sensibilidade excessiva a barulhos e a luzes.

»» Alteração da sensação do tato e do paladar.

»» Uso estranho das palavras e da construção das frases.

»» Afirmações irracionais.

»» Comportamento estranho como recusa em tocar as pessoas, penteados esquisitos,


ameaça de automutilação e ferimentos provocados em si mesmo.

»» Mudanças na personalidade.

»» Abandono das atividades usuais.

»» Incapacidade de expressar prazer, de chorar ou chorar demais injustificadamente,


risos imotivados.

»» Abuso de álcool ou drogas.

»» Posturas estranhas.

Nenhum desses sinais por si sós comprovam doença mental, mas podem indicá-la. A personalidade
patológica não apresenta mudanças no comportamento, é sempre desviante, desde as tenras idades.
Na esquizofrenia incipiente, ainda que lentamente, ocorre uma mudança no curso do comportamento
da pessoa, na personalidade patológica não.

O paciente esquizofrênico sofre intensamente com sua condição e sua família também, não há
como evitar isso. Infelizmente, os programas político-sociais de reinserção dos doentes mentais na

24
S O N R T A E I SG O L T A P S I C N R PA S I EDA NU

sociedade simplesmente ignoram o sofrimento e as necessidades da família, que são enormes. Esta
é vista como desestruturada, fria, indiferente ou mesmo hostil ao paciente. Da mesma forma que
o paciente esquizofrênico sofre duas vezes, pela doença e pelo preconceito, a família também sofre
duas vezes, com a doença do filho e com a discriminação e a incompreensão sociais.

Os remédios são a única alternativa para tratar a esquizofrenia, outras formas de terapia complementam,
mas não substituem as medicações. Há, contudo, uma natural resistência ao uso delas e isso é
apenas uma consequência da forma como se entende a doença. Se encararmos a medicação como
algo estranho ao corpo, a aversão dar-se-á inevitavelmente, mas se encararmos as medicação como
substâncias reguladoras de atividades cerebrais desequilibradas, podemos vê-las como amigas.

O paciente não tem nenhuma culpa por uma parte do cérebro estar desregulado, mas pode usar o lado
saudável (o bom-senso) para tomar a decisão de se tratar. As medicações, portanto, só fazem ajustar
o que estava desajustado. Infelizmente no caso da esquizofrenia, não conhecemos medicações que
realizem essa tarefa completamente, restabelecendo a normalidade do paciente. Mas, por enquanto,
temos uma ajuda parcial. Metade da dor é melhor que uma dor completa.

Depressão e seus subtipos


Um transtorno depressivo é uma doença que envolve o corpo, o humor e os pensamentos. Ele afeta
a maneira de a pessoa se alimentar, de dormir, de se relacionar, de pensar.

Um transtorno depressivo não é o mesmo que uma tristeza passageira. Pessoas com doenças
depressivas não podem simplesmente se acalmar e melhorar. Os transtornos depressivos ocorrem
de diferentes maneiras e podem durar semanas, meses ou anos.

Os principais tipos de depressão são os apresentados a seguir.

»» Depressão maior: manifesta-se por uma combinação de sintomas que interferem


na capacidade de trabalhar, de estudar, de dormir, de se alimentar e de apreciar
atividades anteriormente prazerosas. Pode ocorrer como um fato isolado (uma
única vez na vida do indivíduo) ou como episódios repetidos.

Alguns dos principais sintomas são: humor persistentemente triste, sentimentos de


desespero ou pessimismo, culpa, desvalia, impotência, energia diminuída, insônia,
perda de apetite, pensamentos de morte ou suicídio, cefaleias, dores crônicas.

»» Distimia (depressão menor): envolve sintomas crônicos e de longa duração, mas não
incapacitam. No entanto, impedem que o indivíduo funcione bem ou sinta-se bem.

»» Transtorno bipolar: caracteriza-se por alterações cíclicas do humor: graves altos


(manias) e baixos (depressão). As oscilações do humor são dramáticas e rápidas,
porém graduais. No ciclo depressivo, o indivíduo pode ter qualquer um ou todos
os sintomas de um transtorno depressivo. No ciclo maníaco, o indivíduo fica muito
ativo, falante e com a sensação de ter muita energia. A mania afeta o pensamento, o
julgamento e o comportamento social.

25
I EDA NU S O N R T A E I SG O L T A P S I C N I R PA S

Alguns dos principais sintomas são: euforia anormal ou excessiva, irritabilidade


fora do comum, menor necessidade de sono, ideias de grandeza, fala excessiva,
pensamento acelerado, aumento do desejo sexual, juízo crítico deficiente, energia
muito aumentada.

O tratamento para os transtornos depressivos consiste no uso de antidepressivos que podem ou não
estar associado à psicoterapia.

Transtornos de ansiedade

Ansiedade generalizada
A ansiedade é um sentimento de apreensão desagradável, vago, acompanhado de sensações físicas.
As reações de ansiedade normal não precisam ser tratadas por serem naturais e autolimitadas. Os
estados de ansiedade anormais, que constituem síndromes de ansiedade, são patológicos e requerem
tratamento específico.

A ansiedade generalizada é basicamente uma preocupação ou ansiedade excessiva, ou com motivos


injustificáveis ou desproporcionais ao nível da ansiedade observada.

Uma série de sintomas físicos podem estar associados à ansiedade, como tensão muscular,
inquietação, fadiga, falta de ar, taquicardia, sudorese, tontura, boca seca, micção frequente, diarreia,
dificuldade de dormir, problemas de concentração, irritabilidade e cefaleias.

A forma de diferenciar-se uma ansiedade normal de uma ansiedade generalizada é ao longo do


tempo de duração dos sintomas. A ansiedade normal restringe-se a uma situação. A ansiedade
patológica estende-se por longo períodos, mesmo que a situação inicial que gerou a ansiedade já
tenha passado ou tenha sido resolvida.

Na ansiedade patológica, a pessoa permanece tensa, apreensiva, nervosa, inquieta, irritada por um
período superior a 6 meses.

O tratamento para essa patologia pode ser realizado com terapia e medicamentos. O uso das
medicações como benzodiazepínicos, buspirona e antidepressivos são eficazes.

Fobia
Existem vários tipos de fobias que podem acometer diversos tipos de pessoas. Serão descritas a
seguir as fobias mais frequentes que encontramos na sociedade.

»» Fobia social: intensa ansiedade gerada quando o paciente é submetido à avaliação de


outras pessoas. Na maioria das vezes, concentra-se sob tarefas ou circunstância bem
definidas. A intensidade desta reação é desproporcional ao nervosismo que a situação
exigiria das pessoas em geral, e isso é reconhecido pelo paciente.

26
S O N R T A E I SG O L T A P S I C N R PA S I EDA NU

»» Fobia específica: medo acentuado e persistente de objetos ou situações claramente


discerníveis e circunscritos. Normalmente o medo de animais ou medo de água são
os mais comumente identificados. A exposição ao estímulo fóbico provoca resposta
imediata de ansiedade, que pode assumir a forma de um ataque de pânico ligado à
situação ou desencadeado por ela.

»» Agarofobia: representa o comportamento de evitação provocado por lugares ou


situações em que o escape seria difícil ou embaraçoso, caso se tenha alguma crise
ou um mal-estar. O paciente é dependente de outras pessoas para executar algumas
tarefas como sair de casa, ir ao trabalho ou à escola.

Para o tratamento das fobias, usa-se comumente o clonazepam ou os antidepressivos inibidores da


rematação de serotonina. A terapia cognitvo-comportamental vem apresentando bons resultados
depois de 1 ou 2 anos de tratamento. A única fobia que não é tratada com medicamentos e apenas
terapia é a agarofobia.

Transtorno obsessivo compulsivo


O transtorno obsessivo compulsivo (TOC) é um estado em que se apresentam obsessões ou
compulsões repetidamente, causando grande sofrimento à pessoa.

Obsessões são pensamentos, ideias ou imagens que invadem a consciência da pessoa. Há vários
exemplos como dúvidas que sempre retornam (se trancou a porta, se desligou o chuveiro, se fechou
o gás) e fantasias de querer fazer algo que considera errado (xingar, bater).

O TOC é caracterizado pela presença de pensamentos obsessivos e atos compulsivos


suficientemente severos que consomem um tempo significativo do dia da pessoa ou que causam
sofrimento ou ansiedade acentuados.

Os tratamentos mais modernos para o TOC são feitos com medicamentos dos grupos antidepressivos
e terapia cognitiva. A terapia de exposição, frequentemente, ajuda os indivíduos com a doença. Neste
tipo de terapia, o paciente é exposto a situações ou a pessoas que desencadeiam obsessões, rituais ou
desconforto. O desconforto ou a ansiedade diminuem gradualmente se o paciente evitar realizar o ritual
durante exposições repetidas ao estímulo que o desencadeia. Ele aprende que o ritual não é necessário
para reduzir o desconforto.

Demência
Demência é um comprometimento cognitivo geralmente progressivo e irreversível. As funções
mentais anteriormente adquiridas são gradualmente perdidas. Com o aumento da idade, a demência
torna-se mais frequente. Acomete 5% a 15% das pessoas com mais de 65 anos e aumenta para 20%
nas pessoas com mais de 80 anos.

Os fatores de risco conhecidos para a demência são: Idade avançada, histórico de demência na
família e sexo feminino.

27
I EDA NU S O N R T A E I SG O L T A P S I C N I R PA S

Os sintomas incluem alterações na memória, na linguagem, na capacidade de orientar-se. Há


perturbações comportamentais como agitação, inquietação, andar a esmo, raiva, violência, gritos,
desinibição sexual e social, impulsividade, alterações do sono, pensamento ilógico e alucinações.

As causas de demência incluem lesões e tumores cerebrais, síndrome da imunodeficiência


adquirida (AIDS), álcool, medicamentos, infecções, doenças pulmonares crônicas e doenças
inflamatórias. Na maioria das vezes, as demências são causadas por doenças degenerativas
primárias do sistema nervoso central (SNC) e por doença vascular. Cerca de 10% a 15% dos
pacientes com sintomas de demência apresentam condições tratáveis como doenças sistêmicas
(doenças cardíacas, renais, endócrinas), deficiências vitamínicas, uso de medicamentos e outras
doenças psiquiátricas (depressão).

As demências são classificadas em vários tipos de acordo com o quadro clínico, entretanto, as mais
comuns são demência tipo Alzheimer e demência vascular.

Demência tipo Alzheimer


De todos os pacientes com demência, 50% a 60% têm demência tipo Alzheimer, o tipo mais comum
de demência. É mais frequente em mulheres que em homens. É caracterizada por um início gradual
e pelo declínio progressivo das funções cognitivas. A memória é a função cognitiva mais afetada,
mas a linguagem e a noção de orientação do indivíduo também são afetadas. Inicialmente, a pessoa
pode apresentar uma incapacidade para aprender e evocar novas informações.

As alterações do comportamento envolvem depressão, obsessão (pensamento, sentimento,


ideia ou sensação intrusiva e persistente) e desconfianças, surtos de raiva com risco de atos
violentos. A desorientação leva a pessoa a andar sem rumo podendo ser encontrada longe de
casa em uma condição de total confusão. Aparecem também alterações neurológicas como
problemas na marcha, na fala, no desempenhar uma função motora e na compreensão do que lhe
é falado.

O diagnóstico é de exclusão, isto é, só pode ser feito quando não se encontra nenhuma outra causa. A
rigor, tal diagnóstico só é realizado pós-morte, através de biópsia cerebral, na qual aparecem alguns
sinais característicos e exclusivos da doença. A história do paciente e exame clínico, além das técnicas
de imagem cerebral como tomografia computadorizada e ressonância magnética podem ser úteis no
diagnóstico clínico.

O tratamento é paliativo e as medicações podem auxiliam no manejo da agitação e das perturbações


comportamentais. Não há prevenção ou cura conhecida.

Demência vascular
É o segundo tipo mais comum de demência. Apresenta as mesmas características da demência tipo
Alzheimer, mas com um início abrupto e um curso gradualmente deteriorante. Pode ser prevenido
por meio da redução de fatores de risco como hipertensão, diabetes, tabagismo e arritmias. O
diagnóstico pode ser confirmado por técnicas de imagem cerebral e fluxo sanguíneo cerebral.

28
S O N R T A E I SG O L T A P S I C N R PA S I EDA NU

Transtornos somatoformes
É um grupo de transtornos que incluem sintomas físicos (por exemplo, dores, náuseas e tonturas),
para os quais não pode ser encontrada uma explicação médica adequada, e que são suficientemente
sérios para causarem um sofrimento emocional ou prejuízo significativo à capacidade do paciente
para funcionar em papéis sociais e ocupacionais. Nesses transtornos, os fatores psicológicos são
grandes contribuidores para o início, a severidade e a duração dos sintomas. Não é resultado de
simulação consciente.

A hipocondria é comum em pacientes com mais de 60 anos, embora o seja mais frequente entre 40
e 50 anos. Exames físicos repetidos são úteis para garantirem aos pacientes que eles não têm uma
doença fatal. A queixa é real, a dor é verdadeira e percebida como tal pelo paciente. Ao tratamento,
deve dar-se um enfoque psicológico ou farmacológico.

Tabagismo
A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera o fumo nocivo à saúde porque ele contém
milhares de substâncias tóxicas. Já foram identificadas no fumo, além da nicotina, mais de
4.700 substâncias.

Conforme a quantidade do tabaco e a maneira de tragar o cigarro, inala-se, em cada tragada, em


média de 2.000 a 2.500 dessas substâncias. Em média, traga-se 10 vezes um cigarro. Quem fuma
um maço de cigarros por dia sofre, portanto, 200 impactos cerebrais de nicotina, totalizando 73
mil impactos por ano. Nenhuma outra droga age com esse volume e intensidade, provocando os
malefícios e lesando praticamente todos os órgãos do corpo.

Matando três milhões de pessoas no mundo, anualmente, com uma projeção estimada de
óbitos em torno de dez milhões até o ano 2020, das quais sete milhões ocorrerão nos países em
desenvolvimento, o tabagismo é considerado um problema de saúde pública, fazendo-se necessárias
campanhas preventivas globais que esclareçam os malefícios do fumo. A população precisa saber
que o consumo de cigarros é a maior causa evitável de doenças e mortes em todo mundo.

A relação entre a dependência de nicotina e os outros transtornos psiquiátricos vêm atraindo


interesse crescente desde a última década. O estudo da extensão e das repercussões desta relação
tem grande importância para a prática clínica, dada a alta prevalência do consumo do tabaco na
população em geral e, ainda, a descrição da prevalência de tabagismo, sensivelmente maior, entre
os pacientes psiquiátricos do que no restante da população (VAZQUES; BECOÑA, 1999).

A discussão sobre dependência de tabaco e suas comorbidades tem grande importância no contexto
atual de tratamento, pois, na medida em que se expande o conhecimento sobre os efeitos deletérios
do tabagismo e as possibilidades terapêuticas se multiplicam, o consumo do tabaco tende a
concentrar-se nas populações acometidas por transtornos psiquiátricos.

O abuso de substâncias tem sido relacionado à ocorrência de episódios depressivos, no entanto, até
recentemente, estes achados não diziam respeito à dependência da nicotina. Desde o fim da década

29
I EDA NU S O N R T A E I SG O L T A P S I C N I R PA S

de 1970, diversos autores passaram a relacionar o tabagismo e os aspectos negativos da afetividade,


tais como tensão, ansiedade, irritabilidade, humor e sintomas depressivos em geral.

Acredita-se que pacientes com sintomas depressivos proeminentes procurariam a nicotina para a
obtenção de alívio dos sintomas, o que poderia ser reforçado pela alta prevalência do tabagismo
entre estes pacientes e a elevada probabilidade de fracasso no tratamento. Sabe-se, ainda, que a
dependência da nicotina e a depressão seriam doenças não relacionadas diretamente entre si, mas
provocadas por um fator que as predispõem.

A relação entre tabagismo e depressão tem importância expressiva no contexto do tratamento da


dependência da nicotina. Por um lado, há a possibilidade de que a depressão predisponha a recaídas
e ao consequente fracasso de uma tentativa de parar de fumar; por outro lado, parar de fumar pode
facilitar o desenvolvimento de episódios depressivos com sintomas graves.

O tipo de tratamento realizado tem influência sobre a ocorrência de episódios depressivos, sendo
verificada maior incidência em pacientes realizando terapia de reposição de nicotina do que em
pacientes fazendo uso de antidepressivos, a despeito dos relatos de melhora de curto prazo dos
sintomas depressivos com a utilização da reposição de nicotina.

O vício no tabaco pode ser tratado. Para tanto, o paciente deve ser o maior interessado neste
tratamento, já que precisa aderir esquemas longos de tratamento medicamentoso e acompanhamento
psicológico.

Para os idosos, além do vício e seus malefícios, o uso prolongado de cigarro ou de afins pode
garantir ainda em longo prazo um câncer de pulmão, boca ou laringe. Por isso, a conscientização, o
aconselhamento e o acompanhamento do idoso tabagista são fundamentais.

Alzheimer
A Doença de Alzheimer é uma doença do cérebro, degenerativa, isto é, que produz atrofia
progressiva, com início mais frequente após os 65 anos, que produz a perda das habilidades de
pensar, de raciocinar, de memorizar, afetando as áreas da linguagem e produzindo alterações no
comportamento.

As causas da Doença de Alzheimer ainda não estão conhecidas, mas sabe-se que existem relações
com certas mudanças nas terminações nervosas e nas células cerebrais que interferem nas funções
cognitivas.

Na fase inicial da doença, a pessoa afetada mostra-se um pouco confusa e esquecida e parece não
encontrar palavras para se comunicar em determinados momentos; às vezes, apresenta descuido
da aparência pessoal, perda da iniciativa e alguma perda da autonomia para as atividades da vida
diária. Nessa fase pode ainda ser notada apatia, como um sintoma bastante comum. É também
notada uma certa desorientação de tempo e espaço. A pessoa não sabe onde está nem em que ano
está, em que mês ou que dia. Quanto mais cedo os sintomas forem percebidos, mais eficaz é o
tratamento e melhor o prognóstico.

30
S O N R T A E I SG O L T A P S I C N R PA S I EDA NU

Com o passar dos anos, conforme os neurônios morrem e a quantidade de neurotransmissores


diminuem, aumenta a dificuldade em reconhecer e identificar objetos (agnosia) e na execução de
movimentos (apraxia).

Na fase intermediária necessita de maior ajuda para executar as tarefas de rotina, pode passar a não
reconhecer seus familiares, pode apresentar incontinência urinária e fecal; torna-se incapaz para
julgamento e pensamento abstrato, precisa de auxílio direto para vestir-se, comer, tomar banho,
tomar suas medicações e todas as outras atividades de higiene. Pode apresentar comportamento
inadequado, irritabilidade, desconfiança, impaciência e até agressividade; ou pode apresentar
depressão, regressão e apatia.

Nessa fase, o paciente ainda consegue comunicar ideias básicas. O paciente pode parecer desleixado ao
efetuar certas tarefas motoras simples (escrever, vestir-se etc.), devido a dificuldades de coordenação.

No período final da doença, existe perda de peso mesmo com dieta adequada; dependência completa,
torna-se incapaz de qualquer atividade de rotina da vida diária e fica restrita ao leito, com perda
total de julgamento e concentração. Durante a última fase do Mal de Alzheimer, o paciente está
completamente dependente das pessoas que tomam conta dele. A linguagem está agora reduzida
a simples frases ou até a palavras isoladas, acabando, eventualmente, em perda da fala. Pode
apresentar reações a medicamentos, infecções bacterianas e problemas renais. Na maioria das vezes,
a causa da morte não tem relação com a doença, e sim com fatores relacionados à idade avançada.

Uma das dificuldades em realizar um diagnóstico de Doença de Alzheimer é a aceitação da demência


como consequência normal do envelhecimento.

Tratamento
Não existe cura conhecida para a Doença de Alzheimer, por isso o tratamento destina-se a controlar
os sintomas e proteger a pessoa doente dos efeitos produzidos pela deterioração trazida pela sua
condição. Antipsicóticos podem ser recomendados para controlar comportamentos agressivos ou
deprimidos, garantir a sua segurança e a dos que a rodeiam.

O tratamento permite melhorar a saúde, retardar o declínio cognitivo, tratar os sintomas, controlar
as alterações de comportamento e proporcionar conforto e qualidade de vida ao idoso e sua família.

A doença de Alzheimer não afeta apenas o paciente, mas também as pessoas que lhe são próximas.
A família deve preparar-se para uma sobrecarga muito grande em termos emocionais, físicos e
financeiros. Também deve se organizar com um plano de atenção ao familiar doente, em que se
incluam, além da supervisão sociofamiliar, os cuidados gerais, sem esquecer os cuidados médicos e
as visitas regulares, que ajudará a monitorar as condições da pessoa doente, verificando se existem
outros problemas de saúde que precisem ser tratados. 

Evolução
A evolução da piora é em torno de 5% a 15% da cognição (consciência de si próprio e dos outros)
por ano de doença, com um período em média de oito anos de seu início e seu último estágio.

31
I EDA NU S O N R T A E I SG O L T A P S I C N I R PA S

Com a progressão da doença passa a não reconhecer mais os familiares ou até mesmo a não
realizar tarefas simples de higiene e vestir roupas. No estágio final, necessita de ajuda para tudo.
Os sintomas depressivos são comuns, com instabilidade emocional e choros. Delírios e outros
sintomas de psicose são frequentes, embora difíceis de avaliar nas fases finais da doença, devido
à total perda de noção de lugar e de tempo e da deterioração geral. Em geral, a doença instala-
se em pessoas com mais de 65 anos, mas existem pacientes com início aos 40 anos, e relatos
raros de início na infância, de provável cunho genético. Podem aparecer vários casos numa
mesma família, e também pode acontecer casos únicos, sem nenhum outro parente afetado,
ditos esporádicos.

Prevalência
No mundo, o número de portadores de Alzheimer chega a cerca de 25 milhões, com aproximadamente
1 milhão de casos no Brasil.

Existe uma relação inversamente proporcional entre a prevalência de demência e a escolaridade. Nos
indivíduos com 8 anos ou mais de escolaridade, a prevalência é de 3,5%, enquanto nos analfabetos
é de 12,2%.

Sintomas

As áreas mais afetadas são as associadas à memória, à aprendizagem e à coordenação motora.

Prevenção
O Alzheimer é quatro vezes mais comum em analfabetos do que em pessoas com mais de 8 anos de
estudo formal.

Todos os estudos de medidas para prevenir ou atrasar os efeitos do Alzheimer são frequentemente
infrutíferos. Hoje em dia, não parecem existir provas para acreditar que qualquer medida de
prevenção é definitivamente bem-sucedida contra o Alzheimer. No entanto, estudos indicam
relações entre fatores alteráveis como dietas, risco cardiovascular, uso de produtos farmacêuticos
ou atividades intelectuais e a probabilidade de desenvolvimento de Alzheimer da população. Mas só
mais pesquisa, incluídos testes clínicos, revelarão se, de fato, esses fatores podem ajudar a prevenir
o Alzheimer.

32
S O N R T A E I SG O L T A P S I C N R PA S I EDA NU

A inclusão de fruta e de vegetais, de pão, de trigo e de outros cereais, de azeite, de peixe e de vinho
tinto, podem reduzir o risco de Alzheimer. Algumas vitaminas como a B12, a B3, a C ou a B9
foram relacionadas em estudos ao menor risco de Alzheimer, embora outros estudos indiquem que
estas não têm nenhum efeito significativo no início ou no desenvolvimento da doença e podem ter
efeitos secundários. Algumas especiarias como a curcumina e o açafrão mostraram sucesso na
prevenção da degeneração cerebral em ratos de laboratório.

Tratamento
Os inibidores da acetilcolinesterase retardam o declínio cognitivo em 40%.

O tratamento visa minimizar os sintomas, proteger o sistema nervoso e retardar o máximo possível a
evolução da doença. Os inibidores da acetilcolinesterase, atuam inibindo a enzima responsável
pela degradação da acetilcolina que é produzida e liberada por algumas áreas do cérebro (como os
do núcleo basal de Meynert).

A deficiência de acetilcolina é considerada um dos principais fatores da doença de Alzheimer,


mas não é o único evento bioquímico/fisiopatológico que ocorre. Mais recentemente, um grupo
de medicações conhecido por inibidores dos receptores do tipo NMDA (N-Metil-D-Aspartato) do
glutamato entrou no mercado brasileiro, já existindo no europeu há mais de uma década.

Medicamentos psiquiátricos
Como a depressão e a ansiedade são um problema constante no Alzheimer é comum que os médicos
prescrevam antidepressivos, principalmente inibidores seletivos da recaptação da
serotonina como sertralina (Zoloft) e o citalopram (Cipramil). Porém os estudos demonstrando
sua eficácia são bastante limitados, diminuindo a concentração, a atenção e o estado de vigília, sendo a
eletroconvulsoterapia uma boa alternativa.

Antidepressivos, além de melhorarem o humor, o apetite, o sono, o autocontrole e diminuirem


a ansiedade, tendências suicidas e agressividade, têm demonstrado também significativamente
retardar a degeneração do cérebro.

Em 2008, um estudo conseguiu desenvolver um meio de reverter alguns sintomas do Mal de


Alzheimer em questão de minutos. Uma injeção de etanercepte (nome comercial: Enbrel) na
espinha, uma citocina usada no tratamento de problemas imunológicos atuou inibindo o fator de
necrose tumoral alfa (TNF) resultando em melhoras cognitivas e comportamentais quase imediatas.

Em 2011, outro estudo identificou que um defeito no fígado é responsável pelo excesso de produção
de amiloide beta. Em testes com animais o uso de imatinib (nome comercial: Gleevec), uma droga
usada no tratamento do câncer, resultou em diminuição de amiloides beta no sangue e no cérebro.
Há o planejamento de realizar testes com humanos em breve.

Cuidadores
Os cuidadores são fundamentais para o tratamento do idoso com Alzheimer no ambiente
domiciliar, mas nem todos os familiares estão preparados física e psicologicamente para conviver

33
I EDA NU S O N R T A E I SG O L T A P S I C N I R PA S

e cuidar de alguém que não os reconhece nem valoriza seus esforços. Por isso, é importante o
acesso às informações sobre a patologia e apoio psicossocial aos cuidadores. E o cuidador de
paciente com Alzheimer frequentemente tem de lidar com irritabilidade, agressividade, mudanças
de humor e de comportamento.

É recomendado a participação do cuidador em programas de cuidado ao idoso com Alzheimer para


esclarecer dúvidas sobre a doença, acompanhar o tratamento, dar apoio psicológico e social para
atenuar o esgotamento e o estresse gerados pela convivência com uma pessoa que a cada dia vai
precisar de mais cuidado e atenção no ambiente domiciliar.

Os cuidadores são responsáveis pela manutenção da segurança física, redução da ansiedade e


agitação, melhoria da comunicação, promoção da independência nas atividades de autocuidado,
atendimento das necessidades de socialização e privacidade, manutenção da nutrição adequada,
controle dos distúrbios do padrão de sono e transporte para serviços de saúde, além das inúmeras
atividades diárias de cuidado com o lar.

Solidão
Um dia você olha no espelho e percebe que o tempo passou. O corpo e a pele já não são os mesmos, a
disposição vai dando espaço ao cansaço e a insegurança das primeiras experiências transformou-se
em sabedoria.

A solidão pode produzir estragos em uma pessoa que se encontra na chamada “plenitude da vida”,
então, o que poderia acontecer com alguém que já está, provavelmente, ao final do caminho?

A solidão entre pessoas idosas é frequentemente mais comum do que se pensa. Segundo cifras da
Organização Pan-Americana de Saúde, o grupo humano que proporcionalmente atinge taxas mais
altas de crescimento no mundo está entre os 60 e os 85 anos de idade. As causas estão relacionadas à
melhoria da alimentação e ao crescimento da cobertura dos serviços de saúde pública, enfrentando
importantes sistemas de controle da natalidade.

Na Inglaterra, as entidades de estatística calculam que existirá, no ano 2031, mais de 35 mil cidadãos
com, pelo menos, 100 anos de vida.

Um estudo desenvolvido pela psicóloga argentina Marta Susana Tetamanti, intitulado “La vejez,
el tema olvidado” (O envelhecimento, este tema esquecido), defende que existem múltiplas
características para que essa porção da sociedade se encontre atualmente isolada. Segundo a
professora de Psicologia da Universidad Nacional de Mar Del Plata, o conceito capitalista da
sociedade, segundo o qual “o que não serve se joga fora” foi transformado em realidade para os
mais idosos. São rechaçados de postos de trabalho, isolados das famílias e, em alguns casos, com
matrimônios que terminam em viuvez.

Segundo Tetamanti, o aspecto individualista das sociedades contemporâneas deixa os idosos


solitários, o grupo humano com maiores índices de desemprego.

Da mesma forma, agrega a especialistas, as mudanças físicas e em seu quadro familiar, os leva a
sofrer de maiores depressões e a ser o grupo humano com maiores taxas de suicídios.

34
S O N R T A E I SG O L T A P S I C N R PA S I EDA NU

Muitos idosos lidam bem com essa situação e até fazem da Terceira Idade, a melhor fase de suas
vidas, saindo para dançar, participando de grupos de atividades e curtindo tudo o que a vida pode
lhes oferecer sem dar espaço para a solidão, porém, boa parte deles não consegue superar a sensação
de inutilidade e vazio decorrentes das mudanças no corpo e na rotina e acaba se isolando de seu
ciclo social, seja por vergonha de estar parado, seja por se sentir descartado: “muita gente acha que
os problemas de saúde dos idosos são decorrentes da saúde fragilizada”.

De fato, nosso organismo fica mais vulnerável com o passar dos anos e, assim como toda máquina,
vai perdendo suas reservas, mas manter a autoestima em alta e receber afeto ajuda a fortalecer o
sistema imunológico nesta fase da vida.

Um estudo da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos comprova o poder das emoções na
saúde dos idosos. Depois de avaliar 229 pessoas, com idade entre 50 e 68 anos, os pesquisadores
descobriram que idosos solitários têm pressão sanguínea até 30% mais elevada do que os mais
ativos. Além disso, constataram, também, que estes pacientes são mais propensos a apresentar
doenças cardíacas. 

Um dos grandes dilemas dos idosos é assumir para si mesmos que a idade chegou e conseguir
manter o ânimo mesmo depois de perceber que o corpo e a vida já não seguem no mesmo ritmo da
época da juventude (SADIGURSKY, 1997).

Muitas vezes, não é o idoso que se isola, é a família que o deixa de escanteio por não ter paciência ou
por falta de tempo para conversar e dar a atenção necessária. Nestes casos, é preciso que todos os que
convivem com o idoso se sensibilizem e percebam que deixá-lo de lado pode trazer consequências
graves em função da sensação de abandono.

As Perdas na Idade Avançada

“Tu Tens um Medo


Acabar.
Não vês que acabas todo o dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que te renovas todo dia.
No amor.
Na tristeza
Na dúvida.
No desejo.
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.

35
I EDA NU S O N R T A E I SG O L T A P S I C N I R PA S

Que morrerás por idades imensas.


Até não teres medo de morrer.
E então serás eterno.
Não ames como os homens amam.
Não ames com amor.
Amas em amor.
Amas em querer.
Amas em sentir.
Ama como se fosses outro.
Como se fosses amar.
Sem esperar.
Tão separado do que ama, em ti,
Que não te inquiete
Se o amor leva à felicidade,
Se leva à morte,
Se leva a algum destino.
Se te leva.
E se vai, ele mesmo...
Não faças de ti
Um sonho a realizar.
Vai.
Sem caminho marcado.
Tués o de todos os caminhos.
Sê apenas uma presença.
Invisível presença silenciosa.
Todas as coisas esperam a luz,
Sem dizer em que a esperam.
Sem saber em que existe.
Todas as coisas esperarão por ti,
Sem te falarem.
Sem lhes falares.
Sê o que renuncia
Altamente:
Sem tristeza da tua renúncia!
Sem orgulho da tua renúncia!
Abre as tuas mãos sobre o infinito.
E não deixes ficar de ti
Nem esse último gesto!

36
S O N R T A E I SG O L T A P S I C N R PA S I EDA NU

O que tu viste amargo,


Doloroso,
Difícil,
O que tu viste inútil
Foi o que viramos teus olhos
Humanos,
Esquecidos...
Enganados...
No momento da tua renúncia
Estende sobre a vida
Os teus olhos
E tu verás o que vias:
Mas tu verás melhor...
... E tudo que era efêmero
se desfez.
E ficaste só tu, que é eterno.”
(Cecília Meireles)

Os idosos, de uma forma geral, estão mais propensos e mais sujeitos a apresentarem problemas de
saúde mental, que os mais jovens.

Dentre as causas dessa maior propensão, estão as doenças circulatórias, capazes de produzir
isquemias cerebrais em diferentes graus e com extensão variada, bem como as chamadas perdas na
idade avançada.

É verdade que os idosos têm vivido cada vez mais e com boa qualidade de vida. Pessoas que se
aposentam com 60 anos de idade, vivem até os 100 anos, ficam 40 anos como aposentadas. Se esses
anos não são bem planejados para serem bem vividos, há uma grande possibilidade de ocorrência
de sentimentos como a de inutilidade e, em muitos casos, o isolamento social, aumentando a
possibilidade de problemas relacionados à saúde mental.

A idade avançada, em muitos casos, traz também reflexões de quem a viveu. Isso ocorre com todos
nós, não é mesmo? Quando fazemos uma longa viagem, refletimos o quanto foi difícil chegar até lá.
A viagem pode ter sido agradável, mas pode ter sido cansativa ou mesmo recheada de dissabores. O
mesmo se passa com a idade. Quem de nós, em algum momento da vida, não se questionou sobre
oportunidades perdidas ou questionou o sentido de determinados valores em nossas vidas? Nessa
análise, é inevitável que as perdas sejam lembradas e, muitas vezes, a dor está presente. Quem
vive muito, tem mais chance de ter presenciado o sofrimento de amigos doentes, como também
de ter amigos e parentes próximos que tenham falecido ou, ainda, outros tipos de perda, como
casamentos, emprego, amigos, dentre outros. Nem toda tristeza, contudo, é depressão.

Um senhor de 88 anos que gaste um tempo considerável arrumando suas roupas, de tais formas
a mantê-las extremamente organizadas e que fica irritado quando alguém tenta modificar esta

37
I EDA NU S O N R T A E I SG O L T A P S I C N I R PA S

arrumação, pode estar sofrendo de transtorno obsessivo-compulsivo, mas pode ser também alguém
que esteja com dificuldades para enxergar bem e ao fazer este tipo de arrumação, pretende deixar as
roupas de uma forma fácil de serem encontradas ou mesmo alguém que viveu muitos anos sozinho
e é sistemático com suas coisas. Percebam, que temos que tomar muito cuidado ao fazer qualquer
tipo de análise, pois nem sempre o que vemos, é o que de fato deveria ser visto.

Ao nos depararmos com um idoso que busca assistência ou mesmo quando estamos oferecendo
qualquer tipo de ajuda ou realizando atividades e ações preventivas, devemos nos lembrar que
conhecemos pouco ou quase nada a respeito do paciente. Nem tudo é dito por ele e há muitas
experiências vivenciadas que tiveram grande impacto e consequências, positivas ou não. É verdade
que isso pode ser aplicado a qualquer paciente, mas no caso dos idosos é ainda mais provável que
essas pessoas têm tido muitas perdas ao longo de suas vidas e, embora, muitas possam ter sido bem
elaboradas e motivadoras para novos recomeços, como em casos de mudanças de emprego, fins
de relacionamentos; em muitas outras situações, essas condições podem ter sido dramáticas. Há,
ainda, o medo do que estar por vir. O medo de ficar doente, de morrer, de perder o companheiro ou
companheira, de depender dos outros, além de variadas inquietações.

Ninguém vive 80 ou 90 anos sem ter passado por experiências duras ou situações críticas.

Não estamos, contudo, dizendo que esses temores e sentimentos de perda sejam o suficiente para
provocar doenças ou mesmo a deterioração de funções cognitivas ou psicossociais. Há idosos com
vidas cheias de afeto, amizades, atividades sociais e que sabem aproveitar a vida. A preocupação
deve estar voltada para a identificação precoce e a correta abordagem do isolamento, da tristeza
profunda, da depressão, bem como de outras questões que podem conduzir a problemas
relacionados à saúde mental.

Um paciente de 87 anos, certa vez disse: “ Eu fui capaz de me submeter a anos de tratamento para
minha hipertensão que nunca conseguia controlar, bem como para conviver com minhas dores de
coluna, mas não estava preparado para ver minha companheira morrer. Foram anos de convivência e
simplesmente não sei mais o que fazer”. Vejam como ele está sofrendo. Como abordar esta questão?
Não existe uma fórmula pronta, mas é fundamental saber ouvir e ter empatia com o que está sendo
dito, ou seja, tentar entender e compreender os sentimentos do paciente para poder melhor ajudá-lo.
A ajuda de psicólogos pode ser muito importante e, eventualmente, o encaminhamento para avaliação
psiquiátrica, sobretudo nos casos em que o paciente fala em suicídio e/ou de desistir de viver.

Vários aspectos podem contribuir para esses sentimentos, como a religiosidade, a cultura em que
o idoso está inserido e aspectos sociais, que incluem a rede social e também condições econômicas.
Europeus, por exemplo, com 90 anos de idade, tiveram que enfrentar a dura realidade da
reconstrução da I Guerra e viveram durante a II Guerra Mundial. Alguns tiveram, ainda, que passar
por outras guerras civis e muitos vieram para o Brasil, fugindo da guerra, incluindo o holocausto
nazista. Muitos perderam toda a família nesses conflitos. Na década de 1930, por exemplo, durante
a Grande Depressão nos Estados Unidos, e também na crise dos produtores de café, muita gente que
era rica ficou arruinada, da noite para o dia. Esses são alguns exemplos de situações terríveis, com
consequências psicológicas inimagináveis. Muitos conseguiram a superação e recomeçaram suas
vidas, mas as lembranças estão sempre presentes.

38
S O N R T A E I SG O L T A P S I C N R PA S I EDA NU

As perdas encontradas na idade avançada não estão apenas no campo das relações sociais, dos amigos
e parentes, mas também do vigor físico e as decorrentes do envelhecimento. Há perda da acuidade
auditiva, bem como da visual, além de perda de autonomia em algumas doenças. A perda do campo
visual e dos reflexos pode resultar na incapacidade para dirigir e na dependência de ter alguém
para atuar como motorista. Da mesma forma, a perda auditiva pode levar ao isolamento social. É
importante essa percepção por parte da equipe de saúde. Nem todos possuem condições econômicas
para consultar um bom especialista, adquirir bons medicamentos ou ter acesso a órteses que permitam
a recuperação da audição e da visão.

A Associação Americana de Aposentados tem como lema “o começo de uma nova vida”, mas nem
todos têm esta possibilidade, têm em vista as baixas aposentadorias em nosso país. Muitos ainda
têm que trabalhar, mesmo com idade avançada, para conseguir o próprio sustento.

Estamos falando de perdas na idade avançada, mas e os ganhos? Será que eles não existem? Há
diferentes formas de ganho. Exemplo: o nascimento do neto ou bisneto. São novas experiências a
serem compartilhadas com novos amigos ou mesmo com a família. A possibilidade de aquisição
de novos conhecimentos. Há inclusive, idosos sendo alfabetizados. É o aprofundamento do que se
chama de sabedoria.

Filmes sugeridos:

1. Cocoon, 1985 – dirigido por Ron Howard.

2. Colcha de Retalhos, 1995 – dirigido por JocelynMoorhouse.

3. Alguém tem que Ceder, 2003 – dirigido por Nancy Meyers.

4. Antes de Partir, 2007 – dirigido por Rob Reiner.

A equipe de saúde tem, portanto, um grande desafio na abordagem do paciente idoso, que é o de
buscar o entendimento do que pode estar por trás de um comportamento diferente, de esquecimentos,
da irritação, da falta de apetite. É fundamental saber escutar o paciente e contextualizá-lo no meio em
que vive. Os sinais e sintomas são muito importantes, mas precisam ser acompanhados de uma boa
avaliação psicossocial.

Para uma melhor compreensão sobre essas questões, leia o texto abaixo, publicado pela Academia
Mineira de Medicina e de autoria de Evaldo D’Assumpção, da Sociedade de Tanatologia de
Minas Gerais:

“Ter a certeza de que a sua vida ainda tem valor é indispensável para que o paciente
geriátrico colabore com o tratamento e apresente reações favoráveis à evolução de
seu processo. Se a própria idade avançada já traz uma sensação de desvalorização
perante os outros, aassociação de uma doença grave ou até mesmo o medo de
adquiri-la pode agravar essa desvalorização.

O isolamento dessas pessoas em asilos ou instituições hospitalares trazem um


profundo sentido de autodesvalorização que nada irá contribuir para a sua saúde e

39
I EDA NU S O N R T A E I SG O L T A P S I C N I R PA S

para a sua melhor qualidade de vida. Afinal, deve ser função do médico dar qualidade
de vida e nunca quantidade de vida a qualquer preço.

Até mesmo uma vida sexual ativa, dentro das possibilidades e desejos do idoso
contribui efetivamente para a consciência de que a sua vida ainda tem valor. Já se
vai longe, e felizmente, o tempo em que se considerava um absurdo o idoso pensar
em ter uma vida afetiva e sexualmente ativa. Mesmo que algumas pessoas ainda
estejam paradas no tempo. Para melhor entender essa colocação é preciso que se
compreenda essa afetividade e sexualidade não, necessariamente, como o intercurso
sexual mas até mesmo pelo simples toque, pelo contato físico com a pessoa amada.

É, portanto, fundamental que se demonstre claramente ao paciente geriátrico que


ele continua valorizado e amado. Que ele é importante para os demais e que ele
ainda pode encontrar alegria e felicidade no tempo de vida que tiver.

Finalmente, o recebimento de tratamento médico e assistência adequados é não só


uma necessidade do paciente geriátrico, mas sobretudo um direito seu e um dever
da sociedade e do Estado.

O idoso não é um “parasita” que se deve rejeitar, mas, sobre tudo alguém que
constitui o mundo que hoje desfrutamos.

Por natureza somos levados a reclamar sempre de que hoje as coisas não vão bem.
Os filhos reclamam dos pais, o povo reclama do governo.

Contudo, cabe uma pergunta: você gostaria de viver na Idade Média? Quem sabe no
primeiro milênio? Ou na idade da pedra? Se pensarmos um pouquinho só, vamos
descobrir que, apesar de todas as mazelas que a humanidade enfrenta em plena
entrada do 3º milênio, vivemos hoje com muito melhor qualidade do que viveram
nossos antepassados, especialmente os mais afastados.

Temos mais recursos para nos proporcionar segurança e qualidade de vida. Se bem
não os aproveitarmos é porque não saberemos fazê-lo. Frequentemente, queremos
muito mais do que necessitamos e do que podemos ter. Por isso reclamamos, por
isso sofremos.

Percebendo que na evolução da humanidade, as coisas mudaram muito e para


melhor, temos que agradecer tudo isso aos nossos antepassados que lutaram,
descobriram e construíram o que temos hoje. Os idosos são exatamente aqueles
que nos estão deixando todas as comodidades que, pela rotina de utilizá-las, não
valorizamos adequadamente.

Assim sendo, os idosos merecem, incondicionalmente, a paz e a tranquilidade que


pouco se tem quando estamos em plena atividade de trabalho e de conquistas.”

40
QUALIDADE DE VIDA UNIDADE IV

CAPÍTULO 1
Dieta e atividade física

A dieta e a atividade física são dois fatores principais no estilo de vida. Fazem um papel na prevenção
e no manuseio das debilitações que afetam a população idosa. Ambos, dieta e exercícios físicos,
tanto em excesso quanto em escassez provocam problemas e interferem na modificação do estilo de
vida, na prevenção de doenças e na inaptidão.

A baixa de sódio e a ingestão alta de potássio, bem como o consumo de frutas e legumes, são associadas
a uma redução de hipertensão e das doenças que surgem da hipertensão, como o acidente vascular
cerebral e a demência. Os padrões dietéticos, como consumo de quantidades e tipos de gorduras,
colesterol, óleos vegetais e peixes são importantes na doença cardíaca coronariana. A ingestão ou
não de cálcio ou vitamina D são importantes no desenvolvimento de osteoporose e alguns fatores
alimentares estão ligados ao desenvolvimento de neoplasias.

A atividade física é importante na prevenção do declínio funcional e no aumento da sobrevivência,


uma vez que a incidência de queda e fraturas diminuirá, trazendo maiores benefícios à saúde
cardiovascular. Além de prevenir doenças, o exercício tem também um papel preponderante,
melhorando a função em algumas doenças crônicas, como insuficiência cardíaca congestiva e
doença pulmonar crônica.

A participação da família e a inclusão


Sabe-se que a mudança das diretrizes da assistência em saúde mental, optando pelo atendimento em
regime aberto, implica uma importante mudança da relação do profissional de saúde mental com
as famílias dos pacientes, importantes parceiras no processo de reabilitação. A falta de orientação
às famílias pode fazer com que eclodam conflitos e descompassos entre o paciente e a dinâmica
familiar, com prejuízos para o processo terapêutico.

Normalmente, o paciente era excluído da vida familiar pelo internamento no hospital psiquiátrico,
fato que acabava gerando 2 tipos de sentimento para a família: a perda e a culpa (SADIGURSKI,
1997). O sentimento de perda, muitas vezes, advinha da ausência do convívio com o ente, e a culpa,
além de incidir sobre possíveis responsabilidades da família no processo que conduzia à doença,
também poderia dizer respeito ao próprio ato de internamento.

41
VI EDA NU A DIV E A DIL UQ

No contexto da assistência em regime aberto, o paciente é reinserido ou mantido no convívio familiar,


levando possivelmente à emergência das duas outras categorias identificadas, o descompasso
temporal quanto aos ritmos da vida diária, e a desavenças ou conflitos gerados pelo convívio com o
paciente (COSTA; CARBONE, 2004).

Estudos podem afirmar que os familiares dos pacientes pedem escuta, acolhimento e ajuda para
amenizar sua experiência com a pessoa acometida de transtorno mental.

Estas dificuldades são desafios para os profissionais da área, pois, a partir das práticas renovadas
de assistência, ampliam-se suas possibilidades de atuação. Para tal, é necessário compreender a
demanda que impele à busca de instrumentos que ofereçam o suporte necessário para a família
do doente mental. Estar próximo do universo familiar significa estar em contato com realidades
complexas e conflitantes, que pedem uma assistência voltada à cooperação e à integração, uma vez
que as expectativas dos familiares têm relação direta com as expectativas dos profissionais de saúde
(SADIGUSRKI, 1997).

O convívio com o portador de transtorno mental impõe aos seus familiares a vivência de sentimentos
e emoções que, consciente ou inconscientemente, são difíceis de elaborar e entender. Isto evidencia
a grande necessidade de intervenções que acolham o sofrimento apresentado, considerando a
subjetividade das pessoas e favorecendo a dinâmica de ajuda mútua.

42
Para (não) finalizar

Alguns livros e filmes podem ilustrar, claramente, os quadros mais comuns que afetam a saúde
mental das pessoas, sejam elas idosas ou não. Para tanto, vale a pena pesquisar, ler ou assistir
algumas das sugestões abaixo, para que as percepções não fiquem restritas apenas à sintese
deste Caderno.

Filme: Bicho de sete cabeças


Lançamento: 2000 (Brasil)

Direção: Laís Bodanzky

Atores: Rodrigo Santoro, Othon Bastos, Cássia Kiss,


Luís Miranda.

Sinopse: O filme retrata o ambiente e as relações


existentes dentro de um “manicômio”, a partir do ponto
de vista de um jovem, internado pelo avô, com quem
possui relacionamento difícil. O filme é uma crítica
contundente ao sistema psiquiátrico nos moldes da
internação como isolamento da sociedade.

Filme: Melhor impossível


Título original: (As Good As It Gets)

Lançamento: 1997 (EUA)

Direção: James L. Brooks

Atores: Jack Nicholson, Helen Hunt, Greg


Kinnear, Cuba Gooding Jr.

Sinopse: O filme trata da relação de um escritor nova-


iorquino, que além de personalidade forte, é portador
do Transtorno Obsessivo Compulsivo, com uma jovem
garçonete, mãe solteira e com um filho que tem sérios
problemas de saúde. Foi ganhador do Oscar de Melhor
Atriz e de Melhor Ator de 1997.

43
RAZIL N F )OÃ ( AR P

Filme: Uma mente brilhante


Título original: (A Beautiful Mind)

Lançamento: 2001 (EUA)

Direção:Ron Howard

Atores: Russell Crowe, Ed Harris, Jennifer


Connelly, Paul Bettany

Sinopse: O filme, baseado na história real do Prêmio


Nobel John Nash, mostra diferentes estágios e aspectos
da esquizofrenia e de como este matemático, conseguiu
superar os desafios impostos pela doença. Recebeu 8
indicações ao Oscar, tendo sido premiado com 4, incluindo
o de melhor filme.

Filme: Nunca fale com estranhos


Título original: (Never Talk to Strangers)

Lançamento: 1995 (EUA)

Direção: Peter Hall

Atores: Rebecca De Mornay, Antonio Banderas,


Dennis Miller, LenCariou

Sinopse: O filme de suspense mostra o relacionamento


de uma psiquiatra, com um desconhecido e os
desdobramentos decorrentes desta relação, em que ela
passa a ser ameaçada por outra pessoa.

44
RAZIL N F )OÃ ( AR P

Livro: Psiquiatria, loucura e arte


O livro é uma coletânea, com diferentes especialistas como
Teixeira Coelho, Hugo Segawa, Judith Zurquim e Cecília
de Lara, além das organizadoras, as psiquiatras Eleonora
Antunes, Lygia Maria Pereira e a psicóloga Lúcia Helena
Barbosa. São discutidas no livro, os vários aspectos e a
relação entre a Psiquiatria, a loucura e a arte. O livro foi
editado pela EDUSP.

Livro: O alienista
Este clássico da literatura brasileira, escrito por Machado
de Assis, no século XIV, conta a história de um psiquiatra
português que se instala em uma pequena cidade brasileira,
com o objetivo de estudar as causas da loucura. Resolve
então internar em um Casa, todos que julga serem loucos,
mas fica cada vez mais claro para o leitor e para o próprio
alienista, o quanto é difícil delimitar as fronteiras do que
seria uma pessoa normal, do excêntrico e do alienado.

45
RAZIL N F )OÃ ( AR P

Livro: O inimigo no meu quarto


Neste livro da editora Record, lançado em 2008, o
escritor, que também é médico e psicólogo, YoramYovell,
apresenta diversos casos de pacientes tratados por eles,
com suas particularidades.

Livro: Uma mente inquieta


Este livro foi escrito por Kay RedfieldJamison e editado
pela Martins Fontes em 2006. Por meio de um relato
corajoso de uma médica psiquiátrica renomada, que
descobriu ser portadora de distúrbio bipolar, conta sua
luta diária para vencer a doença.

46
Referências
AMARANTE, P. D. Ensaios: subjetividade, saúde mental, sociedade. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2000.

_____. Psiquiatria social e reforma psiquiátrica. Rio de Janeiro: Ed. Fiocruz, 1998.

BIRMAN, J. A. Cidadania tresloucada. In: Bezerra Amarante P. (Org.). Psiquiatria sem hospício:
contribuição ao estudo da reforma psiquiátrica. Rio de Janeiro: Relume-Dumará; 1992. p. 71-90.

BRASIL. Câmara dos Deputados. Projeto de Lei no 3657-1989. Dispõe sobre a extinção
progressiva dos manicômios e sua substituição por outros recursos assistenciais e regulamenta a
internação psiquiátrica compulsória. Brasília: CD; 1991.

BRASIL. Senado Federal. Projeto de Lei substitutivo ao projeto no 3657-1989; Dispõe sobre
a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos psíquicos e redireciona o modelo
assistencial em saúde mental. Brasília: SF; 1999.

COSTA, E. M. A; CARBONE, M. H. C. Saúde da família uma abordagem interdisciplinar.


Rio de Janeiro: Rubio Ltda, 2004.

DELGADO, P. G. G. Perspectivas da Psiquiatria pós-asilar no Brasil (como um apêndice sobre a


questão dos cronificados). In: TUNDIS, S. A, COSTA, N. R. (Org.). Cidadania e loucura: políticas
de saúde mental no Brasil. Petrópolis: Vozes/ABRASCO; 1987.

GONÇALVES, A. M.; SENA, R. R. A reforma psiquiátrica no Brasil: contextualização e reflexos


sobre o cuidado com o doente mental na família. Rev. Latino-Am. Enfermagem, v.9, n.2, Ribeirão Preto,
mar./abr. 2001

MALBERGIER, A; OLIVEIRA JR., H. P. Dependência de tabaco e comorbidade associada.


Revista de Psiquiatria da USP, 2004.

MORGADO, A.; LIMA, L.A. Desinstitucionalização: suas bases e a experiência internacional. J


BrasPsiquiatr 1994; 43(1): 19-28.

PEREIRA, M. A. O; PEREIRA JR, A. Transtorno mental e dificuldades enfrentadas pela


família. RevEscEnferm USP 2003; 37(4): 92-100.

RAMADAM, Z. B. A.; ASSUMPÇÃO JR, F. B. Psiquiatria: da magia à evidência? São Paulo:


Manole, 2005.

ROSA, L. C. S. Transtorno mental e o cuidado da família. São Paulo: E. Cortez, 2003.

SADIGURSKY, D. Desinstitucionalização do doente mental: expectativas da família. [tese].


Ribeirão Preto (SP): Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto/USP, 1997.

VÁZQUES, F.; BECOÑA, E. Depression and smoking in a smoking cessation program. J


Affect Disorders 55:125-32, 1999.

47

Você também pode gostar