Vou dizendo para mim que quando chegar o dia de estar junto à árvore vou ter tempo para contar tudo, uma jornada tamanha há-de fazer-se palavras e nesse dia, o tempo será a medida do meu contar, os séculos da viagem serão folhas a encher para um abrigo da memória, uma copa larga que me acolherá. Talvez feche os olhos no esforço de lembrar tudo, ou mantenha fixo num horizonte a lamber feridas que não saram. E conto.
Por agora, vou dizendo que não tenho tempo, engano-me no adiar das visitas, porque de tanto ter para dizer não o digo. As palavras vão-se murmurando em silêncios, faço ponto final onde não devia terminar, tento esquecer para o dia em que diga que vou ter tempo, e o receio desse momento a aproximar-se paraliza-me a mão, o saber contar, hesito memórias. Para quando chegar o tempo de contar.
Digo-me que quando chegar o tempo talvez não haja tempo de contar tudo.
As folhas serão de Outono, amarelentas e queimadas, um sopro de vento a esconder palavras ou a fazer chão pisado, eu mesma a desconhecer o que plantei sento-me, cansada da viagem e deixo a árvore apenas ser uma árvore.