Aqui vos deixo três excertos de 3 contos diferentes que, muito em breve, estarão reunidos num livro novo. É para ler meus caros, para ler e comentar depois sim?
(...) Nunca dormia intacto, remexia-lhe a esperança de que qualquer coisa fértil tivesse ficado lá dentro dela, a germinar-lhes um futuro melhor. Observava-a de perto, enquanto ela dormia. O cheiro dizia-lhe que sim, porém, o tacto da intuição desanimava-o.
Nem os ratazanas se aproximavam para lhes pressentir um fim, a modos que Plínio nunca sabia em que ponto estava do caminho para o seu juízo final. A única certeza de que dispunha era a do amor que ela lhe tinha.
Na noite seguinte, Plínio, ao revirar o contentor do lixo, duvidou que aquela tivesse sido a sua última palavra. Pensava que quando uma mulher diz que não fica à espera que insistam antes de tomar a decisão final. E só Deus sabe, quantas decisões finais já lhe haviam sido enganadas. Desde que perdeu tudo, Plínio só viu um caminho: A descendência. Era como se o tempo bom saltasse uma geração e fosse concretizar-se apenas nos anos que vissem a vida de um filho seu.
Contudo, com ela era diferente, e não parecia haver jeito de gente ou do diabo que lhe mudasse a determinação entranhada. Cecília era uma ex-puta. Houve tempos em que foi uma boa puta, e amontoou bons resultados disso. Como um tesouro a ser utilizado no momento certo, sempre percebera nela uma energia violenta pronta a entrar em acção. O que ele ansiava era a reacção daquele corpo mais que devassado, ao seu empenho sonhador. Queria um filho! (...)
Nem os ratazanas se aproximavam para lhes pressentir um fim, a modos que Plínio nunca sabia em que ponto estava do caminho para o seu juízo final. A única certeza de que dispunha era a do amor que ela lhe tinha.
Na noite seguinte, Plínio, ao revirar o contentor do lixo, duvidou que aquela tivesse sido a sua última palavra. Pensava que quando uma mulher diz que não fica à espera que insistam antes de tomar a decisão final. E só Deus sabe, quantas decisões finais já lhe haviam sido enganadas. Desde que perdeu tudo, Plínio só viu um caminho: A descendência. Era como se o tempo bom saltasse uma geração e fosse concretizar-se apenas nos anos que vissem a vida de um filho seu.
Contudo, com ela era diferente, e não parecia haver jeito de gente ou do diabo que lhe mudasse a determinação entranhada. Cecília era uma ex-puta. Houve tempos em que foi uma boa puta, e amontoou bons resultados disso. Como um tesouro a ser utilizado no momento certo, sempre percebera nela uma energia violenta pronta a entrar em acção. O que ele ansiava era a reacção daquele corpo mais que devassado, ao seu empenho sonhador. Queria um filho! (...)
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Augusto
Rego acaba de falecer. Faleceu em plena vida ao 47 anos. O sangue ainda
quis seguir o caminho de todos os dias, o coração batia-lhe na mesma e
da cabeça, bem, da cabeça nem é muito bom falar. Nem bem nem mal.
Augusto Rego faleceu da pior das formas. Por decreto. E um pouco por comparação também. Não sabia, nem imaginava que pudesse acontecer semelhante coisa, sempre se imaginou como um vivo ainda exemplar, para a média, estava bem vivo e até se recomendava, mas é assim que as coisas são agora, apesar de toda a vida, estava morto e pronto.
Nesse dia, quando a morte o trouxe à sua companhia, a manhã aproximou-se lentamente, pálida e fresca, depois de mais uma noite inquieta, voltou ele todas as esperanças para um caminho de andarilho insone. As primeiras dores da sua definitiva iminência. É que a vida, lhe saíra sem sorte nenhuma. Depositava tudo na morte agora.
- Eu já vou – diz para trás, antes de sair de casa. – Tou a ir. – Desenfiado por uma viela de pedras que lhe escorregava nos pés. - Já vou, pronto! - Fugindo das ruas altas. Andou às voltas em ruelas por mais de duas horas e já tinha tudo visto e revisto. Desceu então a longa avenida de altos muros brancos, desiguais, pontilhados pelo desalinhado de uma carreira de buracos côncavos, que em tempos serviram para escoarem a água inquinada do campo lá de cima. Em cada buraco havia um escuro, em cada escuro um ninho, e, em cada ninho uma família inteira ou de rolas malhadas ou de pombos bravos. Todos se agitaram à sua passagem como uma seara emplumada. (...)
Augusto Rego faleceu da pior das formas. Por decreto. E um pouco por comparação também. Não sabia, nem imaginava que pudesse acontecer semelhante coisa, sempre se imaginou como um vivo ainda exemplar, para a média, estava bem vivo e até se recomendava, mas é assim que as coisas são agora, apesar de toda a vida, estava morto e pronto.
Nesse dia, quando a morte o trouxe à sua companhia, a manhã aproximou-se lentamente, pálida e fresca, depois de mais uma noite inquieta, voltou ele todas as esperanças para um caminho de andarilho insone. As primeiras dores da sua definitiva iminência. É que a vida, lhe saíra sem sorte nenhuma. Depositava tudo na morte agora.
- Eu já vou – diz para trás, antes de sair de casa. – Tou a ir. – Desenfiado por uma viela de pedras que lhe escorregava nos pés. - Já vou, pronto! - Fugindo das ruas altas. Andou às voltas em ruelas por mais de duas horas e já tinha tudo visto e revisto. Desceu então a longa avenida de altos muros brancos, desiguais, pontilhados pelo desalinhado de uma carreira de buracos côncavos, que em tempos serviram para escoarem a água inquinada do campo lá de cima. Em cada buraco havia um escuro, em cada escuro um ninho, e, em cada ninho uma família inteira ou de rolas malhadas ou de pombos bravos. Todos se agitaram à sua passagem como uma seara emplumada. (...)
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(...) Fiz recurso à memória
para me lembrar disto, no tempo em que já não colhia o prazer da comida pelo
cheiro que esta deitava, e soube que essas recordações não me falhariam no meu
intuito de te ensinar a lição que merecias.
Em Agosto, quando as bagas
ficaram vermelhas, no exterior da janela da cozinha da Ermelinda, pendendo de
tal modo que se podia enfiar a mão pela janela da cozinha e apanhar algumas,
estava na altura de gozar a vida destruindo pelo caminho, um grande número de
sonhos.
Talvez a culpa fosse
minha. Porque não? – Eu que vivia aterrorizado por balões com formas de animais
e sentimentos profundos. – É bem provável. – Há
no nosso quarto uma arca em madeira. Tem-me servido para depositar roupa
interior usada. Cartas, sobretudo. Todas as cartas e bilhetinhos de amor que te
escrevi. As próprias palavras que me derrotaram. Confesso-me vencido por toda
esta maldade escrita. Dispo-me aí todos os dias, e guardo essas peças, sempre
com a intenção de as transportar para uma fogueira no jardim. – Ainda não fui
capaz. – A fechadura da arca parece forçada, pelo lado de dentro. No mês
seguinte voltei a tentar.
- Vais sair outra vez?
- Tornaste-te tão picuinhas, meu Deus,
tão monótono, não dizes nada que me interesse, e não é possível vivermos seja
com quem for que não nos interesse, havendo pessoas que nos achem divertidas, arrojadas,
se calhar até fascinantes, o João Paulo, por exemplo, acha-me fascinante. Tu
achas-me fascinante ainda? (...)
Casimiro Teixeira
2013
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