O primeiro selinho foi concedido a este blogue por gentileza de Marco Santos, editor do excelente "Antigas Ternuras". O segundo saiu por um equívoco meu. Peço desculpas a Marco pela "intrusão" do "thinking blogger AWARD" e aproveito para agradecer a Bené Chaves, de "O Apanhador de Sonhos", por me orientar a "colar" o selinho.
Composta por Guio de Moraes e interpretada por Luiz Gonzaga, dois pernambucanos, a música "No Ceará Não Tem Disso Não" fez sucesso no início dos anos 1950. A letra fala das queixas de um cearense estabelecido no Rio de Janeiro, então capital do país, de coisas que o incomodam naquele lugar e da sua intenção de voltar para a sua terra. Poque "no Ceará não tem disso não". Na forma de um refrão, essas palavras são repetidas ao longo da letra. Não me lembro de que coisas eram essas que aconteciam no Rio e não no Ceará, na visão do meu conterrâneo (tinha 8 anos quando a música foi lançada, tendo me ficado na memória apenas o refrão) e não me dei ao trabalho de pesquisar a composição, por achar desnecessário para o propósito deste texto. Porque lá no Ceará existem coisas que parecem ser exclusivas daquela terra. Como se diz, ao falar em futebol, que há coisas que só acontecem ao Botafogo.
Ora, imaginem um lugar onde o Sol foi vaiado numa manhã, me parece, da década de 1940. Não é uma invencionice, um produto do imaginário anedótico cearense, mas um fato real. Inspirou, inclusive, uma peça de um teatrólogo de lá. Durante três dias choveu sem parar em Fortaleza, inibindo a aparição do sol. No quarto dia, ao alvorecer, uma pequena multidão se reuniu na Praça do Ferreira, no centro da cidade, esperando que o sol, afinal, desse o ar da sua graça. E quando, depois de três dias, ele surgiu, foi recebido sob uma estrondosa vaia.
No feriado de 7 de setembro estava em Fortaleza. Perto do fim da tarde fui com um amigo à orla marítima, conhecida por Beira-Mar, talvez o point mais frequentado da cidade, repleto de restaurantes e bares, para conversarmos embalados por uma cerveja amiga. E foi no meio da conversa que ele me informou que ali perto de onde estávamos existe uma praça dos estressados e me convidou pra irmos até lá, depois que findássemos o bate-papo.
Pois é, em Fortaleza existe uma praça dos estressados. No duro, no duro, não é uma praça, mas um pequeno local, saindo um pouco do calçadão, com alguns bancos, de frente para um restaurante, a poucos metros da praia. Uma placa grande pendurada num poste indica que ali é a "Praça dos Stressados" (assim grafado), com um esboço de um desenho de uma boca sorrindo, uma frase "caminhe sorrindo" e a informação de que o local é mantido por um grupo de estressados. Conforme o meu amigo, os "stressados" , cujo número vem aumentando dia a dia, se reúnem todas as manhãs ali na "praça", depois de fazerem o Cooper. Chegam até a medir a pressão arterial, decerto com o aparelho respectivo levado por algum deles (provavelmente um médico).
É, tem dessas coisas o Ceará.
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UMA MISTURA QUE NÃO DEU CERTO
"O Labirinto do Fauno" (El Labirinto del Fauno/2006), recém-lançado em DVD, passa-se na Espanha de 1944, quando a Guerra Civil Espanhola já chegara ao fim com a vitória das forças franquistas. Um grupo de guerrilheiros ainda opõe resistência numa certa região do país e para combatê-lo encastela-se no local uma milícia comandada pelo endemoninhado capitão Vidal (Sergi López). O diretor mexicano Guillermo Del Toro, também autor do roteiro dessa co-produção entre a Espanha e seu país, achou por bem não abordar apenas esse foco temático. Talvez por entender que o tema já tivesse sido muito explorado, ou pela pretensão de fazer algo novo, diferente, introduziu no roteiro um conto de fadas, com a presença de um fauno, que mantém um, digamos, relacionamento com a menina Ofélia (Ivana Baquero), enteada do capitão. E o filme alterna cenas da vida real com cenas do conto de fadas vivido pela garota, com a pretensão de mostrar, igualando-os, os horrores da guerra (embora já encerrada) com os da fantasia. A mistura não deu certo. A questão não é a opção do diretor-roteirista, mas a forma por ele proposta. Não é crível a presença de personagens de um conto infantil (no caso do fauno, mitológico) fazendo parte da realidade, como se o fauno e um homem horrendo, sem olhos, fossem humanos tanto quanto os personagens do outro lado de labirinto. (Aliás, a presença de um labirinto naquela região já é uma forçação de barra.) Seria mais verossímil que as situações vividas por Ofélia fossem fruto de sua imaginação estimulada pela excessiva leitura de histórias infantis, ou de um sonho-pesadelo. Não é o que acontece, e o filme chega quase ao ridículo quando mostra o capitão no labirinto, presenciando o encontro entre Ofélia e o personagem sem olhos, que exige que ela lhe dê em sacrifício o irmãozinho recém-nascido que carrega nos braços e com ele quer fugir daquela região. Da forma concebida por del Toro, "O Labirinto do Fauno" está longe de ser o grande filme que ele está convencido de ter realizado, como afirma, jubiloso, nos "Extras" do disco.
3 comentários:
Essa canção é muito boa, tenho um amigo que a mãe é cantora e compositora (pros amigos,ñ profissionalmente), e ela canta essa cançaõ. Ela tb compôs uma música pra Fortaleza da época em que eles moraram lá, final de 70/80:
"Ah, Fortaleza, que saudade de vc(...)pra rever suas meninas, para a sua Beira-Mar,(...)pra rever suas jangadas,os amigos do lugar, passear com o meu amor na Baixa do Ceará."
Acho que é assim a canção.
Grande abraço, boa semana pra vc!
HUM Fortaleza Ceará, adorei o tempo que lá estive, foram 12 dias maravilhosos. Gostei do seu blog e vol voltar novamente. Bom fim de semana
Me perguntava num comentário se sou Portuguesa, sim sou . Mas adorei o Brasil.
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