terça-feira, setembro 29, 2009
NO TEMPO DAS DILIGÊNCIAS, 70
terça-feira, setembro 22, 2009
ISADORA, CARMEM E MARILYN VISTAS POR EDUARDO GALEANO
ISADORA
Descalça, despida, envolvida apenas pela bandeira argentina, Isadora Duncan dança o hino nacional.
Comete esta ousadia numa noite de 1916, num café de estudantes em Buenos Aires, e na manhã seguinte todo mundo sabe: o empresário rompe o contrato, as boas famílias devolvem suas entradas ao Teatro Colón e a imprensa exige a expulsão imediata desta pecadora norte-americana que veio à Argentina para macular os símbolos pátrios.
Isadora não entende nada. Nenhum francês protestou quando ela dançou A Marselhesa com um xale vermelho como traje completo. Se é possível dançar uma emoção, se é possível dançar uma ideia, por que não se pode dançar um hino?
A liberdade ofende. Mulher de olhos brilhantes, Isadora é inimiga declarada da escola, do matrimônio, da dança clássica e de tudo aquilo que engaiole o vento. Ela dança porque dançando goza, e dança o que quer, quando quer e como quer, e as orquestras se calam frente à música que nasce de seu corpo.
CARMEM
Toda brilhosa de lantejoulas e colares, coroada por uma torre de bananas, Carmem Miranda ondula sobre um fundo de paisagem tropical de cartolina.
Nascida em Portugal, filha de um fígaro pobretão que atravessou o mar, Carmem é hoje em dia o principal produto de exportação do Brasil. O café vem depois.
Esta baixinha safada tem pouca voz, e a pouca voz que tem desafina, mas ela canta com as cadeiras e as mãos e com o piscar dos olhos, e com isso tem de sobra. É a mais bem paga de Hollywood; possui dez casas e oito poços de petróleo.
Mas a empresa Fox se nega a renovar seu contrato. O senador Joseph MacCarty denunciou-a como obscena, porque durante uma filmagem, em plena dança,um fotógrafo delatou intoleráveis nudezas debaixo de sua saia voadora. E a imprensa revelou que já em sua mais tenra infância Carmem tinha recitado para o rei Alberto da Bélgica, acompanhando os versos com descarados gestos e olhares que provocaram escândalo nas freiras e uma prolongada insônia no monarca.
MARILYN
Como Rita, esta moça foi corrigida. Tinha pálpebras gordas e papada, nariz de ponta redonda e dentes demasiados: Hollywood cortou a gordura, suprimiu cartilagens, limou seus dentes e transformou seus cabelos castanhos e bobos numa maré de ouro fulgurante. Depois os técnicos a batizaram de Marilyn Monroe e lhe inventaram uma patética história de infância para que ela contasse aos jornalistas.
A nova Vênus fabricada em Hollywood já não precisa se meter em cama alheia para conseguir contratos para papéis de segunda em filmes de terceira. Já não vive de salsichas e café, nem passa frio no inverno. Agora é uma estrela, ou seja: uma pessoinha disfarçada que gostaria de recordar, mas não consegue, certo momento em que simplesmente quis ser salva da solidão.
- Textos do livro "Mulheres" (L&PM POCKET/2009, tradução de Eric Nepomuceno).
terça-feira, setembro 15, 2009
NOMES
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DÚVIDA (Doubt/2008)
terça-feira, setembro 01, 2009
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