Dentre as boas lembranças que guardo dos meus primeiros anos de Natal está a Livraria Universitária. Era lá nas manhãs de sábado, depois das nove horas, que me encontrava com os amigos e conhecidos de perto, entre eles alguns colegas do Cineclube Tirol. Mas deixem-me abrir um breve parêntese: esses encontros só começaram quando a sessão do Cinema de Arte, promovido pelo Cineclube Tirol, que ocorria aos sábados de manhã, foi transferida para o domingo, ainda em 1965, se a memória não estiver me pregando uma peça. Parêntese fechado, volto ao assunto. Ficávamos na calçada da livraria, conversando sobre cinema, principalmente, literatura, futebol, MPB e o que desse na telha de cada um. Política era um assunto perigoso pelo momento em que vivíamos, mas, tomando precauções, também falávamos sobre ela. Enquanto conversávamos, víamos chegar algum literato já respeitado, que entrava e ia ver os livros novos. E não deixávamos de apreciar a passagem de alguma moça que chamasse a atenção pelo corpo bem feito. Vinha, às vezes, acompanhada de outra, que merecia, ou não, o mesmo interesse. Permanecíamos até pelas onze horas, quando alguns de nós iam à procura de um bar para prolongar o papo, mamando uma geladíssima cerveja.
A Livraria Universitária reinou absoluta em Natal até meados dos anos 1980. Por aí. Instalada em 1959, conforme informação do escritor e pesquisador Anchieta Fernandes, foi, portanto, durante mais de vinte anos, não só uma forma de referência para os literatos e intelectuais da cidade, mas também um ponto de encontro entre eles. Lá, na livraria de Seu Walter Pereira, um comerciante que sabia ser um gentleman, era o local escolhido pelos escritores para lançarem os seus livros, sempre aos sábados de manhã. Com discursos do apresentador do autor e deste. Até eu, que tenho pavor de falar em público, tive que dizer algumas palavras, decoradas nos dias que antecederam o lançamento do meu segundo livro, "A Noite Mágica". Era o costume da época, felizmente abolido. No entanto, naqueles anos sessenta e até os oitenta publicavam-se poucos livros em Natal. Hoje, a cada semana se fazem dois, três lançamentos. Em um mês vêm à luz bem mais livros do que em um ano inteiro daqueles tempos.
"Rabisco" estas linhas tendo perto de mim os dois volumes da "História do Cinema Mundial", de Georges Sadoul. As páginas amarelecidas e manchadas pelo tempo, mas bem viva e legível na primeira página a letra do meu nome e da data da compra: 31 de julho de 1965. O primeiro livro adquirido na Livraria Universitária. Em um sábado, por coincidência, no dia seguinte à minha chegada a Natal. Ele serve como testemunha de um local que não existe mais (não sei em que a livraria de Seu Walter se transformou, nem se o imóvel ainda pertence aos seus herdeiros) e que me traz saudades. Mas não é assim na vida? Tudo tem o seu fim.
A Livraria Universitária reinou absoluta em Natal até meados dos anos 1980. Por aí. Instalada em 1959, conforme informação do escritor e pesquisador Anchieta Fernandes, foi, portanto, durante mais de vinte anos, não só uma forma de referência para os literatos e intelectuais da cidade, mas também um ponto de encontro entre eles. Lá, na livraria de Seu Walter Pereira, um comerciante que sabia ser um gentleman, era o local escolhido pelos escritores para lançarem os seus livros, sempre aos sábados de manhã. Com discursos do apresentador do autor e deste. Até eu, que tenho pavor de falar em público, tive que dizer algumas palavras, decoradas nos dias que antecederam o lançamento do meu segundo livro, "A Noite Mágica". Era o costume da época, felizmente abolido. No entanto, naqueles anos sessenta e até os oitenta publicavam-se poucos livros em Natal. Hoje, a cada semana se fazem dois, três lançamentos. Em um mês vêm à luz bem mais livros do que em um ano inteiro daqueles tempos.
"Rabisco" estas linhas tendo perto de mim os dois volumes da "História do Cinema Mundial", de Georges Sadoul. As páginas amarelecidas e manchadas pelo tempo, mas bem viva e legível na primeira página a letra do meu nome e da data da compra: 31 de julho de 1965. O primeiro livro adquirido na Livraria Universitária. Em um sábado, por coincidência, no dia seguinte à minha chegada a Natal. Ele serve como testemunha de um local que não existe mais (não sei em que a livraria de Seu Walter se transformou, nem se o imóvel ainda pertence aos seus herdeiros) e que me traz saudades. Mas não é assim na vida? Tudo tem o seu fim.