Autor: Carlos Costa
CARLOS COSTA, jornalista,
assistente social e escritor amazonense, nascido em Manaus, é membro da União
Brasileira de Escritores, do Clube da Madrugada e da Associação Amazonense de
Escritores. Como jornalista, aos 26 anos assumiu a Editoria Geral do Jornal do
Comércio, posteriormente, transferiu-se para o Diário do Amazonas, onde
permaneceu por quatro anos ininterruptos.
Também assumiu a edição
de 1ª página do extinto Jornal "A Notícia" e publicou neste jornal a
coluna "Crônicas de Carlos Costa", ao lado de Chico Anysio e Guido
Fidellis, por cinco anos ininterruptos. Começou a trabalhar em jornal no ano de
1978, na época da Censura do Governo Militar, quando também ganhou o seu
primeiro concurso nacional no Paraná com a crônica ESSES LADRÕES, narrando
criticamente um "assalto honesto" em uma loja fictícia. (no blog
carloscostajornalismo.blogspot.com), na forma original em que foi escrita em
1982, ainda sob a censura militar no jornal em que trabalhava em Manaus
Como escritor, publicou
vários livros científicos, de crônicas, poesias, romances de ficção,
biográficos com reedições.
O livro O HOMEM DA ROSA,
publicado aqui no RL, lançado na IX Bienel Internacional do Livro, no RJ, foi
indicada ao prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro.
Um de seus livros,
inclusive, "O Caminho Não Percorrido - a trajetória dos assistentes
sociais masculinos em Manaus", foi a base da tese de Doutorado de uma
professora da Universidade de Franca, em São Paulo, na Espanha.
Recebeu diversas
homenagens, prêmios, comendas e se define como um trígamo cultural:
"casado com a YARA, casado com a crônica e mantém como amante a
poesia"
VASO
QUEBRADO!
Creio no riso e nas lágrimas como
antídotos contra o ódio e o terror. (Charles Chaplin)
À
Luiz Eron Castro Ribeiro, advogado, e os médicos Élio Ferreira da Silva e Dante
Luis Garcia Rivera, com os quais sempre
posso contar. Minha gratidão por serem meus amigos!
Meu
vaso de rosas quebrou, mas com paciência, resignação e muita fé, recolho o
resto dos cacos quebrados, do chão gélido de um centro de cirurgia, cheios de
bactérias com as quais fui presenteado e vou reconstruindo com paciência,
resignação e sabedoria a nova vida que me restou para viver, recuperando o que
fora um dia um vaso e, novamente, depositar dentro dos restos que conseguir
reconstruir para recolocar o perfume das rosas que cultivei no coração e
entregá-lo a quem quiser recebê-lo, agora com cheiro ruim...! Meu vaso não era
perfeito, mas ninguém é perfeito em seu todo. Contudo, desejo reconstruí-lo com
o máximo de perfeição que Deus me permite fazê-lo.
De
origem pobre, pais agricultores e analfabetos funcionais, porém sérios,
honrados e honestos, desde a adolescência, busquei construir um futuro melhor.
Minhas sandálias havaianas percorreram ruas de paralelepípedos na Manaus de
outrora perdida nas lembranças que nunca mais voltarão e meu frágil corpo
sacudindo no banco traseiro do ônibus de madeira da Santa Luzia/Boca do
Incoboca, toda vez que deixava de circular em pista de paralelepípedo e passava
para a de barro batido, em frente a empresa Amapoli, onde minha mãe trabalhou,
no Morro da Liberdade. Como meu amigo Luiz Eron, também consegui construir meu
castelo de sonhos, mas tudo desmoronou em 2006 quando sofri a primeira de 11
cirurgias no cérebro para tratar de um empiema cerebral, deixando o hospital
infectado por duas bactérias incuráveis. No início, me desesperei e tratei de
recolher com paciência e sabedoria os cacos que me presentearam do vaso que
guardava minhas rosas perfumadas e tive que recomeçar tudo de novo, passo a
passo, um degrau por vez na subida porque sei que posso despencar também se
pular algum degrau de minha nova escada.
Meu
corpo físico de hoje não lembra em nada o menino que transportava caixa de
picolé, tambor de cascalho nas costas, sempre maior do que eu era, vendia velas
e flores em porta de cemitério no bairro do Morro da Liberdade, em frente a
casa do Sr. Panta, parado e parando os fregueses com velas, fósforos na mão e,
de quebra, uma caixa de fósforo de brinde, mas me orgulho de tudo o que fiz, só
não da surra que levei de minha mãe Josefa Costa por querer superar meu irmão Roberto Costa, que também vendia
picolé, ao retirar dinheiro do caixa da mercearia que a família possuía no
bairro da Betânia, voltar mais cedo para casa, devolver o dinheiro que era de
minha mãe, mesmo recebendo parabenizações por vender mais picolé e voltar mais
cedo para casa do que meu irmão!
O
ônibus Santa Luzia/via Beco do Imboca, passava sempre em frente a Usina
Triunfo, de propriedade do empresário Isaac Benayon Sabbá & Cia, e
beneficiava pau rosa, copaíba e sova, mesmo depois do início da Zona Franca de
Manaus, .onde meu amigo Luiz Eron Castro Ribeiro, começou a trabalhar aos 14
anos, também na década de 70. Estava retornando para casa, sujo de tinta de
jornal no calção e feliz por ter conseguido vendê-los todos. A empresa, Usina
Triunfo, que expelia fumaça negra de sua chaminé ao fundo, foi totalmente alagada pelas águas do Igarapé
do 40 em 1976. Já se vão 40 anos decorridos em minhas lembranças e recordo tudo
como se tivesse acontecido ontem.
Também
gostava de pegar essa linha de ônibus só para passar em frente a Usina e
procurar inutilmente meu amigo do Colégio Durval Porto, onde estudamos, com os
olhos que ainda não se escondiam por trás dos 7,5 graus de cegueira. Hoje a
Usina Triunfo foi transformada em uma Escola, talvez para ensinar como não se
deve agredir a natureza com fumaça negra ou branca e nem jogar lixo nos
igarapés. Nada podia ver, além da parede branca da fábrica porque embora meus
olhos ainda não se escondessem por detrás dos óculos, eu não tinha visão de
Raio X. Que pena! Ficava só imaginando o que Eron pudesse fazer dentro da
fábrica, enquanto voltava feliz de mais um dia de trabalho, com dinheiro no
bolso que economizava moedas para depositar na Poupança Socilar, uma das primeiras
a surgir em Manaus, além da CEF que já existia, mas não podia abrir poupança
porque ainda não possuía documentos, além da minha carteira estudantil do
colégio Dorval Porto. Sempre economizei porque parece que eu previa o que me
ocorreria hoje, quando mal tenho dinheiro para viver; hoje conto com o dinheiro
de minha esposa para pagar algumas pequenas despesas! Como já afirmou Charles
Chaplin: “a vida é uma peça de teatro que não permite ensaios”. Eu não ensaiei.
Vivi, trabalhei e estudei muito.
Hoje,
mais maduro, experiente pelas besteiras e bobagens que fiz na vida, resignado,
aceitei minha nova condição de vida, maduro sem os dois lados de meu crânio,
que minha esposa insiste para que eu sempre saia com chapéu para não despertar
curiosidade nas pessoas, que sempre perguntam: “isso foi acidente?” ou como uma
garotinha na praça de alimentação do Manauara Shopping que, certa vez, em sua
santa inocência, assim me perguntou: “por que tua cabeça está toda assim?” e eu
tive que responder que tinha sido vítima de 11 cirurgias desde 2006, todas no
cérebro e que passei a viver infectado por bactérias hospitalares, desde então.
Também a ser como um inválido por muitos, pensador por alguns, escritor por
outros e livre pensador por vários, sempre exigindo minha cidadania e
reconstruindo com lembranças buscadas em lampejos de memória, o resto que ainda
terei para viver. Meus sonhos e esperanças estão se esvaindo como o vento que
sopra em meu rosto no calor úmido de minha cidade de Manaus.
Hoje,
relembro isso com certo remorso, mas saudades também porque eu era feliz ao chegar em casa e depois poder jogar bola
na rua com meus colegas. Ah, que saudade!
Agora
olho para trás e vejo que faria tudo de novo, sem tirar nem por nada. Faria
igualzinho. Talvez, porém, não tivesse feito as cirurgias, mesmo desaconselhado
pelo e amigo e médico Élio Ferreira da Silva, que queria mais diagnósticos e ia
quase todos os dias no Hospital para ver-me inerte, autômato, olhando para a
parede branca do hospital e me dava conselhos para que eu não operasse. Mas
como não operar, se eu estava surdo? Sinto saudade das vozes de meus alunos
perguntando assuntos de Serviço Social, que dominava e ainda domino com
maestria, mas não tenho mais condições de voltar a fazer palestras como fazia
antes. A última e primeira que fiz foi aceitando convite da professora Darcy
Amorim, mas vi que não consigo mais me expressar como antes fazia com prazer e
orgulho porque eu assumo que sou assistente social, apenas com meu vaso de
rosas quebrado e reconstruindo de novo minha vida.
Como
disse sabiamente o cineastra e filósofo Charles Chaplin “a vida é uma peça de
teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva
intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termina sem aplausos”. Eu vivi
a minha, não como gostaria, mas como eu precisava vivê-la e hoje recebo os
aplausos pelo que escrevo, fazendo a alegria de muitos que me acompanham ao
redor de 46 países!
QUEM
VAI QUERER...!
Para
Suelem Louize Freitas, Pjc,(#)
Agora,
pouco me importa saber se nos 175 confrontos entre os times do Rio Negro e
Nacional, o conhecido clássico Rio X Nal, também chamado de “o clássico das
multidões”, ocorreram 44 vitórias para um; 69 do outro ou que teriam sido
marcados 154 gols de um e 208 do outro. Também não desejo mais saber que foram
registrados nesses disputas 62 empates, com um total de 363 gols. Pouco importa
saber, ainda, que o primeiro jogo entre as duas equipes ocorreu no dia 02 de
março de 1914, pela Liga Amazonense de Football, no campo do Bosque Municipal,
sendo considerado o confronto mais antigo entre os dois clubes.
Como
rionegrino que passei a ser em razão de influência de amigos de infância, mesmo
sem entender nada de futebol até meus 11 anos, porque com essa idade comecei a
vender picolé e levar cascudos na cabeça dentro do Parque Amazonense, mas não
podia de ver os jogos de meu time do coração, porque só ia ao estádio para
trabalhar e não para ver jogos. Também não desejo saber que o Rio Negro perdeu
um jogo por 9 X 0 para o Nacional na
primeira partida entre as duas equipes, com cinco gols de Cícero, 3 de Paulo e
l de Cazuza e outros a história futebolística do Amazonas não registra.
Criança,
com oito anos de idade, desenhava escudos do Rio Negro em cadernos no Grupo Escolar Adalberto Valle, no
Morro da Liberdade. A única coisa que importa para mim é dizer que no final da
década de 70, era um jornaleiro magro,
raquítico, que pegava o ônibus toda madrugada no bairro da Betânia, para vender
jornais nas ruas da antiga Manaus, entrecortadas por lindos e limpos igarapés,
ligados por catraias coloridas que refletiam suas cores e mostravam até os
remos usados para empurrá-las; Também caminhava pelas ruas cheias de
paralelepípedos portugueses e ingleses, aparecendo ainda visíveis os trilhos de
bondes que, um dia, transportaram lentamente namorados com seus paletós brancos
e chapéus na cabeça, pendurados às portas para pegarem ventos. Na década de
70 comecei a vender jornais no porto de
Manaus, na calçada dos Correios, no mercado da Cachoeirinha aos domingos, mas a
cidade já não era mais a Manaus que me viu crescer gritando “quem vai querer,
quem vai querer”. Já vivia com o início do processo de implantação do comércio
da Zona Franca de Manaus e tudo era frenético. As ruas fervilhavam de turistas
ávidos por novidades tecnológicas e a maior delas era o videocassete, que era
contrabandeado para outros Estados.
Eu,
sem me importar com nada disso, nem com as maçãs geladas vendidas nas esquinas
das ruas, aproveitava para fazer propaganda dos jornais que comercializava,
anunciando manchetes que não existiam e acho que nem a genialidade do Editor
Geral de A NOTÍCIA, Bianor Garcia, talvez as pudessem criá-las. Nessa época,
diziam que se expressem um exemplar do Jornal, dele escorreria sangue, tantas
eram as manchetes sanguinolentas que conseguia produzir o seu Editor Geral, um
homem baixinho e rechonchudo, mas genial.
Nem
o maior historiador do esporte no Amazonas, Carlos Zamith, onde estiver entre
as estrelas, contando suas histórias esportivas do seu Bau Velho para Deus,
poderá me desmentir: outros clubes existem ainda hoje no Amazonas, mas o
clássico mais famoso era, foi e será sempre entre as equipes do Rio Negro e do
Nacional. Depois, se segue o confronto “Pai e Filho”, entre o Nacional e o Fast
Club, que nasceu a partir de uma dissidência no Nacional.
Mas
nada disso também tinha importância, porque no início da década de 70, eu era
apenas um esguio jornaleiro de 28 quilos no máximo, que acordava às 4 da
madrugada todos os dias, tomava Nescau, caprichosamente feito pela minha mãe,
comia um sanduíche de pão com ovo e seguia rumo à parada para entrar no ônibus de
madeira da empresa Ana Cássia. No meu destino, recebia do “Buraco” o jornal A
CRÍTICA, na Rua Lobo D´Almada, por uma portinhola na parede, mas que parecia um
buraco mesmo,(desconfio ser essa a origem de seu apelido da pessoa maravilhosa
com convivi com admiração mútua, mas que nunca tive coragem de perguntar qual
era nome de batismo, até os dias de hoje).
Depois,
sempre caminhando com minha sandália havaiana aos pés, seguia para um prédio um antigo e grande, localizado
na Avenida Eduardo Ribeiro, onde também funcionava no segundo andar os estúdios
da Rádio Baré e recebia o JORNAL DO COMÉRCIO e. por último, seguia para a Praça
Tenreiro Aranha, no centro de Manaus, para apanhar o JORNAL A NOTÍCIA.
Se
tivesse havido no dia anterior algum jogo entre Nacional e Rio Negro, não
importando o resultado, eu pedia mais jornais e os vendia quase todos. Se
tivesse carreata de bandeiras pelas ruas da cidade, uma tradição iniciada por
integrantes da “Charanga”, a mais antiga torcida organizada que se tem notícia,
seria melhor ainda porque eu tinha certeza que naquele dia, iria “bamburrar” em
vendas! Se não os vendesse, podia devolvê-los ao X-9, um gordo e pançudo
“empresário” dos jornaleiros, que nos aguardava sentado tranquilamente em um
banco de madeira, no Pavilhão São José ou no Tabuleiro da Baiana com seu fusca estacionado ao seu lado, entre
ônibus e táxis que usavam democraticamente o mesmo espaço. “Boiar” era o termo
usado entre os jornaleiros para definir
os jornais que seriam devolvidos. Todos eram recebidos e ninguém tinha
nada a receber ou a pagar por eles. Era uma democracia estranha, baseada na
confiança mútua.
Quando
seguia para devolver os jornais, continuava mais uma vez a pé pelas ruas de
paralelepípedos da Praça da Matriz, passando por entre palmeiras imperiais e
vendo e passeando por trilhos de bonde que um dia circularam, mas seguia
gritando “quem vai querer, quem vai querer” e anunciando manchetes que acho que
nem o genial Editor Geral de A NOTÍCIA, Bianor Garcia, seria capaz de criá-las,
como “pegou fogo na caixa d´água” ou “moça bonita não paga, mas também não
leva” para as pessoas que estavam deixando seus empregos nas muitas lojas
comerciais para almoçar em casa e retornar às 14 hs. Mas era tudo mentira que
eu inventava, com minha mente criativa e criadora de um infantil de
adolescente. Algumas pessoas compravam; outras, apenas riam e sabiam que era
brincadeira de moleque e que nada daquilo eu anunciava a plenos pulmões. Seguia
com meus jornais boiados e prestar
contas, só depois que o relógio municipal anunciava que o comércio começaria a
arriar suas portas às 11:30 horas, seguido de um badalar de sino na Loja
Central de Ferragens S/A, que funcionava na esquina das Ruas Thedoreto Souto
com Marechal Deodoro que eu, em crônica chamei de O SINO DO SILÊNCIO, maestrado
pelo seu proprietário à frente de sua loja, com a calça lá no alto da
cintura, presa a um cinto para que ela
não caísse.
Nessa
época não existia mais O JORNAL.
Dizem
até hoje, porém, que lá trabalhavam só escolhidos a dedo pelo seu proprietário
Henrique Archer Pinto, formando uma equipe de excelentes profissionais do
jornalismo como os ainda hoje lembrados Ulisses Guimarães(falecido), Philipe
Daou (empresário), Francisco Guedes de Queiroz (deputado, já falecido), Arlindo
Porto (ex-deputado e governador do Amazonas em substituição),Castro e Costa
(falecido), pai da apresentadora da TV A Crítica Babyrizzato. Fábio Lucena,
senador do Amazonas (falecido), Almir Diniz de Carvalho (jornalista, escritor,
cronista com excelentes obras publicadas), que ganhou o primeiro prêmio de
jornalismo para o Amazonas e muitos outros que a memória não me permite
lembrar, como eu gostaria. Mas presto tributo a todos, inclusive aos que
esqueci seus nomes e que por ventura tenham trabalhado nessa “faculdade de
jornalismo” porque até hoje o matutino “O JORNAL” é tido como a maior e melhor
escola de formação e aperfeiçoamento de jornalistas que o Amazonas já teve e
onde militaram muitos jovens idealistas, que depois se tornaram empresários,
advogados, políticos importantes para a história do Amazonas, por várias razões
e motivos. Dizem também, que todos os profissionais eram escolhidos pelo seu
proprietário, mas não posso garantir que isso seja verdadeiro.
(#)
(aluna do 7o período de comunicação da UFAM, autora da ideia dessa crônica,
durante entrevista de mais de 3 horas em meu apartamento, sobre o bairro da
Betânia, onde vivi minha infância e adolescência e me deixou profundas
lembranças positivas em minha vida)
"MENINO
JORNALEIRO"
O
“menino jornaleiro” olhava para o alto e via tremular ao vento folhas de
frondosas palmeiras imperiais; olhava para baixo e visualizava, em suas lembranças, os trilhos
de bonde que rasgavam a rua de paralelepípedo que enfeitava a Manaus de
outrora.
Ah,
quantos homens e mulheres apaixonados não devem ter sido transportados pelos
bondes que o “menino jornaleiro” não chegou a vê-los!?
Nunca
o “menino jornaleiro” há de saber por que tudo que ele escreve só ficou mesmo
na sua imaginação de adolescente, pois as palmeiras, os trilhos de bondes, os
paralelepípedos foram impiedosamente arrancados e deram lugar ao “progresso” com a construção de uma
grande estação de ônibus na Praça da Matriz de Nossa Senhora da Conceição, a
padroeira.
Foi
sob aos olhos da Padroeira de Manaus que o progresso chegou sem lhe pedir a
bênção. O prefeito Jorge Teixeira de Oliveira, em nome do progresso, mandou
arrancar tudo e colocou um asfalto negro, como negra era a noite que embalava o
coração dos apaixonados que se dirigiam à Matriz.
Foi-se
embora o romantismo e chegaram os problemas sociais que acompanharam o
progresso! Prostituição, tráfico, ambulantes, bares e tudo o mais onde antes
havia apenas zoológico, flores, palmeiras, trilhos de bondes...Ah, como era
gostoso passear e tirar “retratos” na grama verde que cobria meu passado!
Restaram apenas um relógio e um obelisco que marcaria o local da fundação da
cidade.
Mas,
hoje, vá saber se foi o local exato da fundação de Manaus, mesmo?
Desconfio
que lá não tenha sido porque uma cidade não surge com local demarcado, com
certidão de nascimento e tudo. As pessoas simplesmente chegam, constroem suas
casas e depois se procura um local para registrar, na história, onde teria se
iniciado. Só que no Marco Zero existe
uma única edificação. Como ter certeza que Manaus surgiu naquele local mesmo?
Não teria sido em outro?
O
“menino jornaleiro” caminhou muito pela Praça da Matriz, o tabuleiro da baiana,
o pavilhão São José, na década de 70. O menino sempre volta a esses locais para
reencontrar sua juventude perdida, mas não a reencontra porque ela também se
foi sem lhe ,dizer adeus!
Simplesmente
se foi para dar lugar a um progresso que invadiu sua bucólica Manaus de apenas
270 mil habitantes para dar lugar aos graves problemas sociais em uma cidade de
1,8 milhões de habitantes.
Fica
atônito, meio abobalhado e começa a recordar os ônibus de madeira que
estacionavam de um lado e do outro do Pavilhão José! Eram duros, pulavam muito,
mas pertenceram a uma época romântica de uma cidade que se viu sendo destruída
pelo progresso!
O
menino não era contra o progresso, até por que o sabia inevitável, mas este
deveria ao chegar, ao menos, vir de uma forma ordeira, planejada e não
desplanejada como chegou, destruindo tudo e não permitindo sequer que a geração
de hoje relembre pelo menos, como era linda e bucólica a Manaus que o “Menino
Jornaleiro” conhecera em 1969 a vira sendo destruída aos poucos.
Primeiro
arrancaram as palmeiras, depois os trilhos de bondes, logo em seguida todos os
paralelepípedos. Aliás, onde foram replantadas ou recolocadas todas as
lembranças do menino jornaleiro?
Ah,
que saudades sente do chafariz que existia em frente ao Olímpico Clube,
retirado para dar lugar também à implantação de um projeto de corredor de
ônibus pela antiga João Coelho, e nunca mais fora reencontrado!
Ah,
tudo isso o “menino jornaleiro” sente falta hoje em suas lembranças e em seu
coração! Foi um pedaço da história que foi arrancada, mas permanecerá viva em
sua memória do menino que se tornou cronista!
COPA
DO MUNDO DE 70 NA IMAGINAÇÃO DE UM MENINO
-
Quem vai querer picolé, quem vai querer picolé no palito!
Menino
franzino carregando meu corpo magro de 10 anos de vida, com no máximo 28 quilos
em peso era eu, transportando pelas Ruas do Morro da Liberdade, uma caixa cheia
de picolé bem posiciona em meu frágil mais determinado ombro esquerdo, nos idos
dos anos 70. À caixa, havia um pano enrolado a apoiá-la e era proporcional ao
meu tamanho de menino franzino!
-
Ei menino, venha aqui!
Entrava
eu espantado com aqueles homens falando coisas que não entendia: “hoje o Brasil
vai destroçar com o fulano..., “depois vai arrasar sicrano...”. E eu imaginando
que uma nova guerra mundial que estava se iniciando e que, mais uma vez, o
Brasil tinha entrado na luta. Guerra, só causa destruição no início e, muito
tempo depois, começam a surgir evoluções em várias áreas, sobretudo nas da
medicina e na de tecnologia, as que mais se aproveitam com o horrores da
guerra.
Só
eu não sabia disso naquela época. Em Manaus, ainda não havia transmissão de TV,
internet ou qualquer tipo de tecnologia das que existem hoje.
Certa
vez, em visita a meus avós, lembro-me ter presenciado a avó chorando porque
escutara pelas ondas do rádio, no interior do Varre-Vento, que o homem chegara
e pisara em solo lunar, em 1969! Lucilla dizia que o mundo estava para acabar,
que era impossível um homem chegar à lua,
quando mais pisá-la em local que tantos sonhos alimentara dos poetas no
passado, presente e ainda os alimentará no futuro.
Lembro-me,
também, que para melhor ouvir a transmissão pela emissora de rádio, todo
construído em madeira com uma tela na
frente, acho que pela Rádio Nacional,
minha avó pedira ao meu avô para fincar no terreiro do quintal duas
varas e de uma ponta a outra, amarrar um fio de arame e, no meio, fora colocado
outro fio para funcionar como se fosse uma antena para sua melhorar audição.
Não sei se minha avó chorava pela proeza ou porque haviam conseguido pisar no
solo que embalara muitos poetas!
Devido
à ênfase que davam as palavras nos bares em que entrava, pensava que a III
Guerra Mundial tinha começado e eu não estava sabendo de nada! Como podia
sabê-lo sem qualquer tipo de comunicação naquela época, a não ser as ondas do
rádio, que minha família não podia adquirir?!!!
Muito
mais tarde vim, a saber, que estávamos em plena Copa do Mundo de 70, ainda na
sua nona edição, entre 16 seleções, sendo nove européias, União Soviética,
Bélgica, Itália, Suécia, Inglaterra, Romênia, Tchecoslováquia, Alemanha
Ocidental e Bulgária, cindo americanas, México, El Salvador, Uruguai, Brasil e
Peru, uma asiática, Israel e uma africana, a seleção do Marrocos.
Mas
em minha inocência infantil, nem desconfiava que os homens falassem sobre a
Copa do Mundo! Também, como já afirmei, não existia televisão em Manaus; só
rádio naquela época, e em pouquíssimas casas, só na dos afortunados, como
definíamos todas as que possuíam muito dinheiro, ou nem tanto assim!
Nos
jogos que eram disputados no México, todas as seleções, que eu imaginava ser
uma guerra, estavam jogando nas cidades de Guadalajara, León, Cidade do México,
Puebla e Taluca,
Muito
mais tarde, viera eu saber que para a Copa de 70, promovida no período de 31 de maio a 21 de
junho, em pleno Regime Militar no Brasil, foram convocados Pelé, Jairzinho,
Tostão, Rivelino, Gérson, Clodoaldo,
Carlos Alberto Torres, e Piazza, estrelas da copa de 1966, além de outros tantos reservas.
Nas
semifinais da Copa, ocorreu o chamado jogo do século, disputado entre as
seleções da Alemanha e Itália e, aos 90 minutos, Karl-Heinz Schenellinger
empatou a partida e levou o jogo para a prorrogação, quando as duas seleções
duelaram em uma sucessão de virada de placar, até que a Itália vencera a
Alemanha por 4 X 3, única partida da copa a ter cinco gols, e na prorrogação, segundo registros
históricos.
E
eu lá sabia disso quando vendia picolés pelas ruas de Manaus, em minha inocência infantil. Também desconhecia
que a Seleção brasileira, que vencera todos seus jogos na fase eliminatória,
era uma das favoritas, razão da euforia dos homens à mesa do bar! Só soubera
desses fatos mais tarde! Se soubesse disso naquele tempo, quando vendia picolés
nas ruas da cidade, andando sempre a pé, com minha já tradicional sandália
havaiana ao pé, certamente teria entrado na conversa dos homens, com certeza,
se permitissem a um menino que não sabia de nada, dizer alguma coisa! Mas além
de inocente, meu pai me ensinara a respeitar os mais velhos, fossem quem
fossem, onde quer que se encontre!
A
final da Copa do Mundo da Fifa de 1970 foi disputada pelo Brasil, que vencera
os jogos contra as seleções do Uruguai e Peru. A seleção da Itália eliminara as
seleções da Alemanha Ocidental e do México. A partida final foi realizada no
dia 21 de junho no Estádio Azteca, na cidade do México e o Brasil venceu por 4
X 1, depois de um primeiro tempo empatado. A “guerra” entre as seleções
terminara e a taça Jules Rimet, veio para o Brasil para, depois ser roubada e
derretida pelos ladrões.
Nos
mesmos bares e em vários outros também, depois do dia 21 de junho, passei a
ouvir à música “Guadalajara/Mora em meu coração...” e “cem
milhões de corações/ todos com bandeiras na mão...” Em minha inocência de
picolezeiro, eu lá sabia o que era uma Copa do Mundo, como escreveu o cantor
Sérgio Souto em sua música, “Albatroz”... “eu lá sabia o que era
um albatroz” e quanto euforia contida poderia ser liberada!
Hoje,
sinto saudades! A molecada inocente se divertia com essas coisas que pareciam
ser bonitas. Mas era só o Governo Militar fazendo uso político do tricampeonato
de forma invicta conquistado pelo Brasil,
para permanecer um pouco mais no poder, enquanto os revoltosos
protestavam em Universidades e outros lugares onde pudessem se reunir na
clandestinidade!
CASA
VAZIA! (para Carlos Costa Filho)
Com
o início de sua aula em tempo integral, uma sensação de vazio invadiu o apartamento, ocupou sua cama e estou sentindo
a falta de sua presença adolescente, rebelde...Na hora do almoço, mudava o
canal da TV para assistir ao seu programa de esportes favorito. Você conhece
muitas coisas sobre esportes porque procura na internet e, algumas vezes, me
surpreende com perguntas que não sei responder-lhe. Eu, porém, acumulei
sabedorias da vida e conhecimentos adquiridos em livros que estudei!
Na
minha época de adolescente de 17 anos não existia internet, televisão de LED,
celular ou qualquer outra tecnologia. Lia-se tudo em livros nas Bibliotecas
Pública do Estado ou na do SESC da Rua Henrique Martins, as quais frequentava
com frequência. Na do SESC, onde almoçava e jantava, a usava para ler e
descansar após o almoço em bandejões, aproveitando para atualizar minhas áreas
de interesse: a literatura. Procurava sempre livros de poesias ou crônicas e me
surpreendi uma lendo um poema do falecido ator Cláudio Cavalcante, que
protagonizou a novela Global IRMÃOS CORAGENS, do início da década de 70, e
outras novelas que fez depois. Eu era fã do ator e até deixei o cabelo crescer
porque o dele era pouco grande, mas liso; o meu, cacheado, mas passei treze
anos sem cortá-los junto com a barba. Recortava fotos de Cláudio Cavalcante em
revistas e as colava com cola Polar em
livros escolares, na porta do guarda-roupa, que dividia com meu irmão Nilberto
Costa. Cláudio Cavalcante era meu ídolo de adolescente, mas não me pergunte a
razão que não saberei lhe explicar, só sei que eu era fã dele e pronto, como
dizem os adolescentes, sem dar muitas explicações.
Agora,
ando pelo corredor de nosso apartamento, passo pela pota de seu quarto, olho
para dentro e sinto falta de você. Sua cama está sempre arrumada para quando
você voltar cansado e extenuado de sua aula. Depois, entro na suíte e olho pela
janela, uma grande piscina azul cheia de cloro, com pessoas se divertindo.
Muitas vezes, em suas férias,
frequentava-a também. Colocava uma toalha no ombro dizia: “pai, vou para
a piscina” e ainda tenho a ilusão de que você ainda possa estar nela,
conversando com alguma garota de sua idade, mas não o vejo e noto que estou
sozinho com minha solidão e sentindo falta de você. É...meu filho, nunca pensei
que sentiria falta de suas agressividades momentâneas de um adolescente rebelde
sem causas. Mas sinto, sim!
Sinto
falta de você almoçando na mesa, de você gritando que sou um doido, de você
pedindo cinco minutinhos para continuar dormindo, depois de uns 6 meses de
aula, ou nos primeiros dias de aula, acordando cedo, sozinho e chamando sua mãe
às 6 hs da manhã, para levá-lo à escola, apontando no relógio e dizendo “estou
atrasado”. Depois de uns seis meses de aula, as coisas se invertem e passa a
ser sua mãe lhe dizendo que está atrasada e você continua dormindo pedindo,
cinco minutos para continuar dormindo, passando dos cinco para trinta minutos
de dormida, só para irritar sua mãe que fica nervosa e lhe chamando. Agora, com
novo local de sua escola em tempo integral, no centro de Manaus, esse prazo
para continuar dormindo, ficará impossível! Esse é o último ano de sua formação
e não poderá descuidar porque, aos seus 17 anos, terá que decidir por uma
profissão para o resto da vida ou mudar depois de ingressar em qualquer na
Faculdade. Meu filho, você viverá ou já está vivendo um drama que também
passei: que profissão escolher? Na minha época de adolescência, como comecei
muito cedo a trabalhar e ter responsabilidade vendendo jornais, ganhei gosto
pelo jornalismo. Identifiquei-me e segui a opção tranquilamente. Mas para
aliviar seu drama de ter que optar por alguma profissão lhe contarei um
segredo: meu pai adotivo, Theomário Pinto da Costa médico por vocação, pediu-me
que seguisse a carreira de medicina. Mas o enganei e segui comunicação porque
desde meus 14 anos quando escrevia inocentes versos para me tornar popular com
as garotas do Grupo Escolar Adalberto Vale e os publicava no jornal interno “O
Pirilampo” para vencer minha grande timidez. Depois de ouvir minha explicação
maluca que criei na hora, o Dr. Theomário, ele olhou para mim e perguntou: “Mas
você não disse que havia feito para Medicina! Como é que passou para
Comunicação Social? Eu o apoiarei no que precisar, mesmo assim!” Não precisei
porque voltei para a casa de meus pais biológicos e eles ficaram orgulhosos
porque fui o primeiro dos 9 irmãos que compunham a família biológica, a cursar
uma Faculdade, aos 18 anos. Depois, outros seguiram o caminho, inclusive o
Nilberto, que é formado em duas faculdades e o Roberto Costa, que cursou
Contabilidade e hoje faz meu Imposto de Renda! Passei a ter horror de sangue
desde que meu pai adotivo passou a levar-me para a Faculdade de Medicina onde
era professor e me deixava com seus alunos. Por isso, decidi não fazer
medicina!
Mas
meu filho, estou escrevendo isso para dizer que você pode seguir o caminho que
quiser, fazer o curso que quiser, porque o importante e que seja feliz e faça
tudo com respeito, ética e responsabilidade, em qualquer que seja a profissão
que venha a escolher. Mas, não esqueça do exemplo de seu pai - jornalista e
assistente social - e de seu avô materno, advogado Francisco Guedes de Queiroz,
mas que dedicou a vida à política, sua grande paixão. Faleceu pobre depois de
26 anos de mandato parlamentar e a casa que residira até sua morte em uma
cirurgia cardíaca em São Paulo, foi quitada com o seguro habitacional.
Siga
os exemplos, meu filho e seja feliz. Eu e sua mãe Yara Queiroz, sentimos sua
falta, percebemos que o apartamento
ficou vazio sem sua presença, mas vai será bom para você., no futuro:
suportaremos porque um ano passa rápido demais para nós, que já dobramos o
“cabo da boa esperança”; talvez para
você, estudando o dia todo, demore uma eternidade! Ah, como você nos faz falta,
mas sabemos que amanhã você será feliz com a carreira que escolher livremente.
Se for direito ou outra qualquer, o importante é que se dedique e cumpra
eticamente suas atividades, porque o mercado exclui os profissionais
incompetentes, selecionando apenas os bons. É isso que desejamos para você,
filho nosso!. Mas se for para seu bem, seu futuro e sua felicidade,
aguentaremos o silêncio em que se tornou nosso apartamento, com seu quarto
vazio das 6 horas até as 18:30 horas, quando você volta da aula. Faremos tudo
para que você seja feliz, mesmo eu participando pouco de sua vida há pelo menos
9 anos, dos quais pelo menos sete sendo submetidos a cirurgias e ficando até 90
dias dentro de hospitais, internado. Seja feliz, meu filho, mesmo com a casa
vazia. Um dia ela ficará cheia de seus colegas da faculdade de novo e isso é o
que desejamos para você.
O
CHORO TRISTE DA FLORESTA AMAZÔNICA!
Horas
há em que a Floresta Amazônica chora, inundando os Rios Negro e Solimões que,
sem pedir licença, invadem as ruas das cidades. É um protesto silencioso, um
pedido de socorro talvez, só para ver se alguém escuta o soluço copioso
brotando das entranhas da floresta saindo das raízes e das copas de suas
árvores, em forma de fumaça também. Se
nada for feito para socorrer seu lamento triste, estará próximo seu
desaparecimento e será horrível para seus habitantes.
Horas
há que ao contrário de chorar copiosamente, manda o sol inclemente sugar suas
lágrimas, deixando à mostra apenas uma terra nua e seca, por onde antes
deslizavam suavemente os frondosos
leitos dos Rios Negro e Solimões, como pedindo socorro contra os incautos e
gananciosos exploradores, irresponsáveis e insensíveis também!
Ah,
minha floresta, o que estão fazendo com você? Poderiam muito bem explorá-la em suas riquezas sem destruí-la em sua
pujança de biodiversidade mas, ao contrário,
preferem destruí-la para depois chorar sobre “leite de seu látex derramado” ou “sobre o roubo
realizado” desde o século XIX quando um “botânico” passou por aqui, entrou em
suas entranhas e roubou de suas mães,
suas filhas, as sementes de seringueiras e as deu de presente ao Rei da
Inglaterra, que mandou plantá-las na Malásia e tornou um caos a economia do
Amazonas!
Ah,
minha floresta, tão subtraída, tão desprezada, tão maltratada, embora como uma
mãe zelosa, sempre acolhe a todos que lhe desejam conhecer e conhecendo-a,
exploram-na de forma criminosa, irracional e também irresponsável! Como sangue
de cores do pau-rosa em toras levado para a França para fixar perfumes e cores
negras de suas queimadas, as lágrimas da floresta parecem que são invisíveis
aos administradores públicos.
Ah,
minha floresta! As outrora águas preocupantes que banham as cidades causando
preocupações, estados de calamidade pública e muito dinheiro gasto para a
limpeza do lixo deixado pelos homens, ou quando a floresta chora ou também
quando secam devido ao sol enxugar suas lágrimas pela parceria da floresta com
o Rei, é apenas o resultado de sua progressiva destruição lento, gradativa, mas
de forma constante.
Quando
as águas dos Rios Negro e Solimões despejaram suas revoltas impiedosas nas
cidades do interior e depois secarem completamente e só deixando aparecer os
dentes de peixe em suas terras nuas e as vértebras e esqueletos que nos
alimentava com fatura mas que agora são jogados no lixo todo o excedente, foi
apenas a forma de protestar que a Floresta Amazônica encontrou, se defendendo das agressões que vem sofrendo, com muito
lixo jogado em suas veias que não transportam vida; apenas, morte em forma de
lixo, muito lixo, mas parece que ninguém entende o seu pedido de ajuda
desesperado.
Ah,
quem escutará um dia minha floresta amazônica em seu canto triste e penoso, sem
ser um canto belo de sereia, que encanta os náufragos? Não sei! Não sei!
Ah,
minha floresta, até quando....?
SACO
DE PAPEL PARA GUARDAR PEIXE
À
Josefa Bezerra da Costa, minha mãe!
Encontrar
construções novas para pedir doação de sacos vazios de cimento era uma coisa
que fazia com muito prazer e orgulho. Depois, em casa, eu e minha mãe Josefa,
virávamos todos no lado avesso e produzíamos sacos de papel para guardar peixe.
que eram comercializados na área reservada para a venda desses produtos
regionais, no Mercado Adolfo Lisboa, em
Manaus, no início da década de 70.
Depois
das 10 horas da manhã, quando um sino era tocado no Mercado, o preço dos peixes
e carnes baixavam até à metade a procura pelos sacos aumentava muito, porque os
compradores deixavam para adquirir o produto depois desse horário! Eu
aproveitava e era tal de saqueiro pra lá e saqueiro pra cá e eu adorava essa
muvuca de forma organizada!
Eu
gritava: “olha o saco para colocar peixe, quem vai querer saco!!!” e passava em
frente às bancas. Talvez alguém comprando peixes adquirisse um saco para
colocá-lo dentro. Muitas vezes o dono da banca de peixe gritava forte
“saqueiro” e o eu atendia rápido.
Era
comum se embrulhar ou depositar peixes em sacos de cimento, até o final da
década de 70 quando começaram a aparecer os sacos plásticos. Mas, os que eram
comercializados no mercado, eram mais resistentes e suportavam peso, se fossem
bem feitos, e isso eu e minha mãe sabíamos como fazer, virando-os do lado
avesso, colando-os com “grude”,
espalhado com uma colher dobre todos ao mesmo tempo e o transformando-os
em sacos limpos, próprios para receber os peixes, que eram resultado da exploração aos pescadores, os
atravessadores e aos próprios vendedores em bancas nas feiras e mercados,
porque sempre um queria ganhar mais do que o outros, mas esqueciam que na
fonte, o pescador sempre foi o mais explorado de todos!
Eu
tinha opção: ou venderia sacos para guardar peixes ou ia trabalhar em uma
fábrica que existia na esquina de uma rua acima da Avenida Adalberto Valle,
onde residi no bairro da Betânia. Nessa época, com poucos conhecimentos de
matemática ainda, eu calculava meu lucro fazendo o cálculo de quanto eu
gastaria com passagem de ônibus para o mês inteiro e o que restava considerava
meu lucro e depositava em uma caderneta de poupança na Socilar, que eu passei a
ter a partir de meus 12 anos e acumulava tudo em cofres de lata que recebia
após cada depósito.
Também
fazia o mesmo com relação à venda de tudo que recebia, vendendo picolé,
cascalho, jornal, engraxando sapato, ajudando a produzir na fábrica de picolé,
vendendo velas em porta de cemitério, cascalho, etc. A tudo fazia com prazer e
alegria, mas sem nunca abandonar meus estudos porque sabia que só através da
frequência às aulas, poderia melhorar de vida.
O
ritual de construir um saco para peixe a partir do saco de cimento era simples
demais e minha mãe até sabia fazer: dos sacos de cimento se aproveitava só uma
camada, eram virados do avesso para utilizar só a segunda capa que os enxertava
antes do que receber diretamente o cimento. Ao mesmo tempo, todos eram
arrumados em cima de uma mesa; passávamos cola branca em todos ao mesmo tempo.
Em seguida, era só dobrar a cada um deles individualmente e passar a mão por
cima de cada um para não soltar a cola com o peso do peixe. O grude, como era
conhecida a mistura, se produzia feito com goma, água e levada ao forno para
ferver até dá o ponto exato de “cola” e passava-se de uma vez em todos com a
costa de uma colher ou pincel e estava pronto um saco confiável e
ecologicamente correto!
Pronto,
estava feito o saco para peixe!
AH,
OS APOSENTADOS, POBRES E DESVALIDOS APOSENTADOS!
A
falta de critérios técnicos para a concessão de benefícios previdenciários,
aliado à falta de uma política perene e confiável no reajuste do que recebem os
aposentados, estão empurrando para um nível perigoso e preocupante esses bravos
brasileiros que quando, se aposentavam recebiam 2, 3 ou até mais valores em
salários mínimos e agora passam a contar seus míseros trocados e, se quiserem,
que entrem na Justiça para reaver as perdas salariais de seus benefícios
previdenciários. Isso é um horror!
Enquanto
uma larga parcela entra na faixa de consumo, através de Programas
Governamentais como o Bolsa Família e outras políticas de distribuição de renda, os aposentados
estão sendo excluídos dessa mesma classe em razão dos reajustes de suas
aposentadorias, benefícios e outros proventos nunca acompanham os mesmos
índices de reajustes por exemplo, para o salário mínimo, com ganho reais.
A
solução desse problema parece estar exatamente na permanência do fator previdenciário, que sempre joga para
baixo os valores de aposentadorias e que de há muito já deveria ter sido
abolido e estabelecida uma política séria e confiável como a que foi feita para
o salário mínimo com a reposição da inflação e mais ganhos reais. Não uma que
mude todos os anos, a bem de quem estiver no Poder. Entendo que esse assunto já
deveria ser cláusula pétrea da Constituição e não ficar sendo definido a cada
ano, a cada governo como se os aposentados fossem pessoas invisíveis e
caminhassem anônimos no meio da multidão!
Será
que os aposentados devem continuar sendo tão discriminados desse modo? Será que
eles já não contribuíram tanto quanto os outros também contribuirão? Ou será
que ou aposentados se transformaram em lixos descartáveis que não servem mais
nem para ser reciclados? E os salários deputados e senadores, que são
reajustados ao bel prazer deles? E o que dizer das gratificações de gabinete,
dos auxílios paletó, de deslocamentos, de moradia mesmo para os que se elegem
na Capital da República? E o que dizer das fraudes que continuam acontecendo
contra a Previdência Social, porque não coíbem as fraudes e documentos que
deveriam ser públicos são negociados no centro de São Paulo, em plena luz do
dia!
Será
que os deputados federais são tão diferentes dos aposentados, pobres velhinhos
e que enxergam os valores de seus benefícios se destinarem ao ralo da podridão
do poder?
Os
programas partidários estão sempre em defesa dos aposentados mais na prática
mesmo, nenhum partido até agora faz nada de concreto, em termos práticos.
Nenhum partido político apresentou um único projeto sério e confiável
estabelecendo critérios para os reajustes para os aposentados, equiparando-o ao
salário mínimo que além de receber toda a inflação, ainda recebe de presente
reposição real de salário!
Isso
é terrível, massacrante e desesperador para a classe de aposentados e
pensionistas da Previdência Social, que sempre vê impotente o achatamento do
valor inicial de seus benefícios e aposentadorias!
A
VIDA NOS TROTES DE UM CAVALO...
Momentos
de minha vida recente ressurgiram junto com o trote compassado e leve de um
cavalo que transportava a criança em uma aula de eco-terapia, quando transpus o
muro do quartel do Batalhão da Cavalaria da Polícia Militar “Coronel Bentes”,
em Manaus, quando fui solicitar doação de sangue à voluntários do Centro de
Formação e Aperfeiçoamento de Praças – CEFAP. Relendo placas na parede, revi
nomes de pessoas com as quais convivi, como os então tenentes Mael Rodrigues de
Sá, Ferreira Lima, Edson, Costa, o “Costinha”, o militar mais civil que
conheci, Hilmar dos Santos Faria, Élson Mota, Assante, Henriques, Bonates,
Bentes, Benfica, Correia, aspirantes Sirothoau, Paulo Roberto Castelo Branco,
Paulo Roberto, comandantes de OPMs,
O 1º Batalhão, ficava em Petrópolis; a Rádio
Patrulha, na Duque de Caxias; Polícia de Trânsito, dentro do prédio do CG na
Praça Heliodoro Balbi, depois ao lado da Rádio Patrulha; a Polícia de Guarda,
na Duque de Caxias, se unindo por trás à RP. Alguns faleceram e outros que
seguiram carreiras, chegaram ao posto máximo de tenentes-coronéis e foram
nomeados comandantes gerais da PM. Os vivos, mas não sei onde andam. Só tenho
notícias boas sobre eles! Mas fui esquecido por eles!
Os
tenentes Mael e Ferreira Lima, em momentos diferentes, comandaram à temida PP-2, uma divisão de
repressão da PM no fim da década de 70 e início de 80, com todos seus membros
andando disfarçados. Nesse período, todos os comandantes da Corporação Polícia
Militar eram sempre originários das fileiras do Exército Brasileiro. Convivi
com coronéis Mário Perelló Ossuoski, Wilson Ribeiro Raizer, Henriques Lustosa e
outros que vieram depois até ser nomeado o primeiro coronel PM, Élcio Mota,
quando deixei de ser credenciado e publicar em A NOTÍCIA, informações oriundas
da Polícia Militar.
No
dia 30/06/79, recebi diretamente das mãos do então chefe da 5ª Seção de
Comunicação, em plena ditadura militar, do tenente Alfredo Assante Dias, uma
Credencial que ainda a guardo comigo, no qual se lia no verso “SOLICITO AOS
COMANDANTES DE OPM O APOIO NECESSÁRIO PARA O QUE O MESMO POSSA EXERCER SUAS
ATIVIDADES PROFISSIONAIS”. em plena
continuidade da Ditadura Militar, que me permitia livre acesso a todas as ações
executadas pela PM. Naquela época, acompanhei e escrevi sobre as execuções pela
temida PPD-2, das quadrilhas do Padeirinho, Alan, X-9, Abílio e outras
consideradas perigosas na época de uma Manaus ainda pacata de pouco mais de 700
mil habitantes e tranquila, com lembranças vivas de um secretário de segurança
que permitia que se dormisse de janelas e portas abertas.
Quando
o tenente Assante assumiu a diretoria do Detran-Am, o tenente Correia fio
levado com ele para ser o examinador de direção e decidi tirar pela primeira
vez a CNH, no dia 21/03/1979 e o tenente me conheceu, se espantou e me pergunto
o que tinha ido fazer ali. “Vim fazer prova de rua!”! Respondeu-me, brincando:
“E tu ainda faz exame de rua? Passe no dia tal no Detran-Am, para receber sua
CNH”. Isso se deu e eu estava habilitado. Era verdade, eu já tinha dirigido até
para o diretor do Detran-Am, inclusive subindo a ladeira da Rua Tapajós, onde
eram feitos os testes de rua para se receber a CNH, porque ele não dirigia
carro!
Mas
não sei quem inventou que o “o para sempre” é como um relâmpago em nossas vidas
porque nada dura para sempre e o “para sempre” é mais uma utopia linguística
que nos faz acreditar que a vida será eterna, como a morte a será por certo. Nas
patas do cavalo que trotava em uma aula de eco-terapia, relembrei nitidamente
quando estacionava meu velho fusca amarelo ao lado e entrega no CG, com um
guarda sempre à porta para quem eu dava continência e ele batia as botas em
resposta ao meu cumprimento. Eu, mesmo a
despeito de usar um cabelo longo, barba comprida e uns óculos pequenos e
redondos, estilo John Lennon, que conferia a mim o aspecto meio desleixado e
alguns estudantes da época dizendo que eu era um “comunista” ou dedo duro da
ditadura ou agente da repressão em razão de meu aspecto ser igual a todos os
integrantes da temida PP-2, comandados pelo tenente Mael Rodrigues de Sá e
depois pelo tenente Ferreira Lima, fossem como eu era também.
Nessa
época, publiquei a matéria e guardei a fonte, informando apenas, em letras
garrafais “JOSÉ LINDOSO, PRESO NO PALÁCIO DO GOVERNO, ROUBANDO TOALHAS”. O
jornal vendeu muito nesse dia, mas deu problemas porque no dia seguinte o
Secretário de Comunicação Social, poeta Elcio Farias apareceu em A NOTÍCIA querendo
saber qual era a fonte da informação e por que já havíamos escrito a manchete
associando ao nome do governador do Estado. Em todas as Delegacias de Polícia
da época, vi essa matéria colada nas paredes. Daquele dia em diante, foram
proibidos aos jornalistas informações desse tipo.
Com
muita saudade relembro companheiros valorosos como Oscar Carneiro, com certa
idade, de quem eu adorava ouvir histórias da imprensa do passado, já com certa
idade, e Francisco Pacífico, por apelido de “Cachacinha”, que faleceu vítima de
cirrose hepática, ambos do Jornal do Comércio e já falecidos. O primeiro, ha
mais tempo na imprensa, me contava que havia dormido no “casarão da Rua
Marechal Deodoro”, em cima de rolos de jornais, só para pegar notícias
policiais fresquinhas com o Sr. Jióia e dar “furo de reportagem”, nos outros
jornais. As ocorrências eram todas registradas em um grande livro. O outro, o
Pacífico, só queria que chegasse o final de semana para “tomar uma”. O
jornalista Oscar Carneiro se dizia apaixonado pela secretária do tenente
Alfredo Assante Dias, e fazia muitas brincadeiras com ela! Tudo era mesmo
brincadeira porque o Oscar era uma pessoa muito séria!
Relembro
com saudades quando fui iniciado no dia 19/08/89, elevado e o dia 31/05/90 e exaltado ao Grau 3
na Loja Maçônica Manaus 28 por convite do então companheiro de Rotary Clube do
Distrito Industrial, George Mendonça Marques, que reunia alguns empresários do
DI. Lembro-me de ter sido convidado pelo empresário Cristovão Marques Pinto,
mas convivi ao lado de companheiros como Otto Fleck, Sérgio Witte Gueiller,
diretores da Gradiente, Francisco de Freitas Rola, que fazia questão de se
apresentar como “Rola” e todos riam o economista José Fernando Pereira da
Silva, o “Zica”, com quem brincava sempre que “amor de Zica, onde bate fica”,
Nizardo Rebouças Chagas no fim da década de 70...além de outros que não recordo
mais porque os anos e as onze cirurgias no cérebro não permitem uma memória tão
prodigiosa como já o fora no passado!
Hoje
não frequento mais nada...mas lembro com saudades! Depois, no Lions Clube de
Manaus Centro, com o empresário José dos Santos Azevedo; Uirapuru, com
Rosedilson Lopes de Assis...
E tudo isso recordei
na ponta de meus dedos quando parei para olhar um menino sendo conduzido por três
terapeutas em uma aula de “eco-terapia”, em volta do quartel. Ele mudando a
bola de uma mão a outra, se equilibrando no dorso do cavalo, ao lado de três
instrutores e minha vida passada recente se descortinando nos passos daquele
cavalo que trotava lento, como se estivesse quase parado, como está parada a
ajuda à Cavalaria Coronel Bentes para construir baias cobertas que permitirá o
aumento do número de alunos, independentemente do tempo sempre inconstantes que ocorre em Manaus.
Autor: Carlos Costa - Manaus/AM
Leitura de acesso da matéria: 157.251