Autor: Carlos A Lopes
Quando li o conto
¨Os últimos¨, de Augusto N. Sampaio Angelim, escritor pernambucano,
percebi ter em mãos algo precioso e sem relação de conteúdo, veio-me à mente a
peça de teatro ¨A última Estação¨. Em seguida recebi e-mail do autor me
atentando para o fato de que o seu texto fora ambientado no lugar de nome
Brejo Santo.
O lugarejo faz divisa
territorial com minha cidade, razão pela qual, se estou indo visitar
meus pais não tenho tempo para percebê-lo; se estou voltando à Olinda, estou
apressado demais para presenciar os avanços, quase sempre negativos, ocorridos
durante décadas.
Entretanto, ¨Os últimos¨ provocou uma vontade exacerbada de ver as entranhas do lugar e não tão somente as construções visíveis a quem passa pela BR 232, após Riacho das Almas, também conhecida como Verdejantes.
Entretanto, ¨Os últimos¨ provocou uma vontade exacerbada de ver as entranhas do lugar e não tão somente as construções visíveis a quem passa pela BR 232, após Riacho das Almas, também conhecida como Verdejantes.
Imaginava que por
detrás das ruínas visíveis, havia edificações recentes e moradores
remanescentes. Só encontrei um antigo bueiro e uma prensa de madeira, que
insiste em ficar de pé. No mais, a caatinga avançava sobre vestígios de
moradias e sonhos de vida.
- Olá, como faço pra falar com
alguém mais velho? Perguntei a um
garoto que brincava com bolas de gude. Ele inteligentemente apontou o irmão,
dois anos mais velho que ele. Ri da minha própria ignorância. Fui apresentado a
Márcia, de trinta e dois anos. Enquanto ouvia suas explicações, ouvi: ¨Ô de
casa¨, um chamado vindo do lado. Concluí: ¨Pelo menos umas seis famílias
residem aqui¨.
Enquanto Márcia
¨passava¨um café, disse: ¨Aqui é apenas um sítio, cujo proprietário é da
mesma família de outros tempos.¨ Sábia Márcia! Segundo ela me disse, há
muita curiosidade quanto a aparência do lugar, por parte dos viajantes que às
vezes passam por ali. Brejo Santo foi sim, o resultado de uma fazenda próspera no
tempo do caroá, planta com um tipo de fibra usada para a produção de cordas e
têxtil, que depois perdeu a importância, por conta da febre do agave, também um
tipo de fibra mais conhecida como sisal. Somado a isso, Caiçara dos Órfãos, a cidade
próxima, privilegiou mais os povoados de Algaroba e Riacho Doce. Além de
outros fatores veio a decadência de forma tão cruel, que finalmente pude
valorizar mais ainda o texto ¨Os últimos¨, cujo autor é de mente privilegiada e
uma das pérolas do ¨Recanto das Letras¨.
Durante décadas
Brejo Santo se beneficiou do caroá e da dádiva de um rio correndo em seu entorno.
Mais tarde o lugar viveu a sua fase mais próxima do desenvolvimento, na direção
de tornar-se um distrito. Lá funcionou um posto de gasolina, vendiam-se
veículos, havia cultos em uma bela capela e a criançada tinha onde estudar e
ainda havia o funcionamento de uma feira livre semanal, o que deixa a dúvida
sobre o que faltou para consumar-se a emancipação política.
Já em Caiçara dos Órfãos,
eu soube de uma história curiosa, envolvendo o fundador de Brejo Santo. Como o
dinheiro corria solto por lá, Lampião certa vez mandou recado que iria buscar
uma parte para si. A resposta veio na ponta da língua e pelo mesmo portador: ¨Aqui
ele só vai encontrar com quem brigar¨, disse o senhor do lugar. Recado
dado. Tempos depois com a intenção de ir a Ibimirim, o Senhor do caruá encontrou
dois jagunços, logo após o rio, vindo em sua procura. Perguntado se ele
conhecia o tal fazendeiro, respondeu: ¨Não só o conheço como vou mostrar
onde ele mora.¨ Minutos depois aponta: ¨A casa dele é aquela, não vou
levá-los até lá, não quero ficar marcado.¨ Deu meia volta e fugiu para
Placas e depois rumou ao Recife de onde nunca mais voltou. Então eu lhes
pergunto: Será que a derrocada de Brejo Santo começou ali? Se assim foi,
então esse é mais um pecado nas costas de Lampião.
Autor: Carlos A Lopes
Olinda/PE