sexta-feira, setembro 30, 2011

Bailias

(foto daqui)



Catarina Nunes de Almeida lembra e recria, neste seu terceiro livro, as medievais cantigas de amigo e de amor. Imaginário de música e cantos de segréis, trovas de poetas e memoráveis danças de donzelas de corpos finos. Nos ecos dessas seroadas segura a música do seu universo poético, que cerziu a mulher à natureza e dessa ligação fez nascer íntimos catálogos de pássaros, árvores e frutos, novos espaços de idioma, pelejas, sínteses e fábulas. Move-se, com passo seguro, do antigo para o novo e do novo para o antigo, com a graciosidade e o assombro das bailadas, entre ‘Folguedos e Noites de Pastoreio’, ‘Barcarolas ou Manhãs Frias’, ‘Mágoas ou Cantos de Alvoroço’ e ‘Cantigas de Romãzeira’. Volta, com Bailias, a colocar a poesia no seu primordial lugar de cântico: «Irei eu em todas as minhas mãos / pégasos e ventanias / o corpo preso por um frio gentil / o corpo a tilintar de sonhos. // Serei eu o que ele for / na cavalgada».





Meu amigo perdoa-me
se espantei as gazelas
para um canto do sótão
se me cresceram músculos
neste olhar-te neste cuidar que dá cuidado.

Mas do alto dos seios
no ruir das lamparinas
vale a pena olhar-te. Daqui
da mais sincera pobreza
onde permaneces apenas tu
adão e erva
e o céu manchado pelas libelinhas.

Catarina Nunes de Almeida, in Bailias

domingo, setembro 25, 2011

Na cal, João Pedro Mésseder


                                           
                                            Na cal

       Na cal se desenha a tentação da água. Na cal o verde das folhas reacende-se. A cal deseja a solidão do breu. A cal veste as casas de espelhos e de sangue. A cal conserva a pulsação da noite. Na cal bate um coração aberto. Sob a cal se consuma a lenta incineração. Na cal desliza a mão azul de deus.
                                                 João Pedro Mésseder, in Meridionais

sábado, setembro 24, 2011

Crise de Versos, de Stéphane Mallarmé (trad. Rosa Maria Martelo e Pedro Eiras), ed. bilingue

Elíptico, extremamente condensado, interrogando tudo quanto poderia distinguir a poesia dos usos comuns da linguagem, o texto de Crise de Versos é, ao mesmo tempo, um diagnóstico e uma profecia. Por um lado, procura surpreender a dissolução de versos tradicionais, em particular do alexandrino (o verso oficial por excelência), ao longo da segunda metade do século XIX e sobretudo após a morte de Victor Hugo. Diagnóstico difícil de uma experimentação formal então ainda em curso: o que nos surge hoje como conquista definitiva e já distante (em termos de livre invenção de metros, cesuras, formas gráficas) era no tempo de Mallarmé um acontecimento recente, plural, a necessitar com urgência de teorização. Por outro lado, Crise de Versos antecipa as poéticas dos modernismos e das primeiras vanguardas, ao enfatizar a produtividade da tensão entre a busca de um princípio construtivo, que asseguraria a impessoalidade, e a dissolução das formas canónicas. [aqui]


 

As colecções Pulsar e Cassiopeia, resultantes de uma parceria com o Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa, da Faculdade de Letras do Porto,  dão a conhecer  estudos muito relevantes no âmbito da Teoria da Literatura. Na  Pulsar, foram já editados Jean-Pierre Sarrazac (com A Invenção da Teatralidade seguido de Brecht em Processo e O Jogo dos Possíveis), Pascal Quignard (com Um Incómodo Técnico em Relação aos Fragmentos),Antoine Compagnon (com Para que serve a Literatura?), Jean-Claude Pinson (Para que serve a poesia hoje).

domingo, setembro 18, 2011

Teatro Art'Imagem apresenta "Um punhado de terra", de Pedro Eiras


Depois da estreia em Mindelo, Cabo Verde, o Teatro Art'Imagem apresenta de 22 de Setembro de 2011 a  2 de Outubro de 2011, na Sala Estúdio Latino, Porto,  Um punhado de terra, de Pedro Eiras
“Além do equador tudo é permitido” - (provérbio português da época dos descobrimentos)

Pântano. Em todo o palco, vinte centímetros de terra barrenta. Vem, do horizonte à boca de cena, um homem negro. Os pés mergulham na lama. O homem coxeia da perna direita. O homem vem, devagar. Chega à boca de cena. E diz: Toma o meu corpo senhor do fogo! Vem e devasta esta terra estrangeira! Este homem negro é um escravo trazido à força de África para uma terra de que nunca ouvira falar – Portugal. Ele nos dirá, num português ainda mal apreendido, mas de imagens poderosas e numa linguagem poética singular, à moda de um contador de histórias de tradição oral africanas, como um dia chegaram à sua aldeia os homens brancos “feios, com cabeças de metal e pele de ferro, por sobre a pele cor de leite velho estragado”. De como lhe mataram a mulher, os filhos e os amigos, de como destruíram a sua aldeia e aniquilaram o seu povo.De como foram levados, sobre as ordens de uma tal “o infante”, num grande barco maior que “montanhas de madeira” para estas terras de desterro.É tal a sua solidão e a sua tristeza que o homem negro, despojado do seu punhado de terra evocará e pedirá aos seus deuses a morte e a maldição dos estrangeiros e seus descendentes, responsáveis pela sua desdita e a destruição do seu povo. E, é ainda com a terra estrangeira que o homem negro se despede da vida e da sua terra.“O homem negro apanha terra do chão e come. / Volta a apanhar terra. Come. / O homem negro come terra. / Come, come...”Alguns caminhos da encenação: A procura de um espaço não convencional para a apresentação do espectáculo; Um palco quase vazio, em que as luzes e as sombras se conjugam como elemento cénico decisivo. Talvez terra, talvez barro, ou, a tradução teatral desses elementos. Um trabalho centrado na voz, no corpo e no movimento do actor.
José Leitão (encenador)
imagem de Pedro Ferreira
Sobre “Um Punhado de Terra”: É muito tarde, tarde de mais, mas ainda podemos ouvir estes pés negros que chegam da escuridão, tacteiam a terra, a medo, esta voz que chama pelo seu deus e tem uma história a contar e um pedido a fazer, ainda vamos a tempo de - pelo menos - contar outra vez a história que nunca foi contada, que foi sempre transformada em marcha militar, datas, mapa, quando muito desculpas tingidas de má-fé, contar, ouvir.
Essa voz, ouço-a há muito tempo. Um dia, escrevi o que ela dizia. Por palavras minhas. Era um punhado de terra amarga, que eu devia comer. É tarde, tarde de mais, mas ainda podemos ouvir, ainda é cedo.
Pedro Eiras (autor)


ficha artística e técnica


» Texto Pedro Eiras » Encenação José Leitão » Interpretação Flávio Hamilton » 
Espaço Cénico » José Leitão e José Lopes » Desenho de Luz » Leunam Ordep  

» Produção Teatro Art'Imagem
» Direcção Artística José Leitão » Direcção Técnica Pedro Carvalho » Direcção de Produção Jorge Mendo

99ª Criação do Teatro Art' Imagem - 2011

Classificação Etária: M/12
Bilhetes: €5 ou €3 (cartão jovem, sénior, estudante, profissionais do espectáculo ou grupos organizados).




Mais informações aqui.

sábado, setembro 17, 2011

Consultório, de Paulo Kellerman

De Paulo Kellerman, autor de Gastar Palavras (2006), Os Mundos Separados que Partilhamos (2007), Silêncios entre Nós (2008, ) Chega de Fado (2010), todos publicados na Deriva,  chega-nos agora, o  e-book Consultório, que reúne seis contos originais e seis pinturas de Joana Lucas.


quinta-feira, setembro 15, 2011

Sugestão: Um punhado de terra, de Pedro Eiras

Um punhado de terra, de Pedro Eiras

Um monólogo baseado em  factos verídicos. Um monólogo sobre  construído a partir do ponto de vista do outro. Os descobrimentoso o lado de lá. Uma excelente sugestão para uma leitura / dramatização / leitura encenada no 9.º ano [intertextualidade com Os Lusíadas] ou no ensino secundário.

Teatro. Um monólogo. Um homem negro vem, exangue, a coxear. Como se chama, a que terra pertence? Ele dirá como um dia chegaram homens brancos e lhe mataram a família e o levaram num grande barco, sob ordens de alguém chamado "o Infante". E o homem negro pedirá ao seu deus a morte e a maldição.




Assim entrámos nos batéis Batéis se foram de terra
tranquila quente de fim de dia
Praia ficou longe manchas de sangue desapareceram todas
mas mar não lavou
não pode lavar
Fumo de casas queimadas era preto
dançavam ao sol labaredas
Mesmo quando não houver fumo
haverá labareda
não apagará
Vimos terra desaparecer para sempre

ficar pequena como pedrinha
Vimos montes onde milho crescia e pássaros voavam
Vimos e vimos
última vez
Agora
como teremos notícias de quem fugiu
de quem morreu?
Como saberemos novas de nossos mortos?
Nunca mais beberemos água do poço
não dançaremos a bater pés na terra
como saberemos novas de nossos mortos?
Nunca mais caçaremos gazela atenta
ó criador
nunca mais ouviremos leão antes de atacar
como saberemos novas
ó cheio de cólera
como saberemos novas de nossos mortos?

in Um Punhado de Terra, de Pedro Eiras

Nota do autor


Praticamente todos os factos que descrevo neste monólogo são verídicos; junto-os, mesmo se não aconteceram todos no mesmo século. Encontrei-os em diversos lugares – em Gomes Eanes de Zurara, Bartolomeu de las Casas, no International Slavery Museum of Liverpool – mas um livro corajoso, organizado por Ana Barradas, serviu-me de fonte principal: Ministros da Noite. Livro negro da expansão portuguesa (Antígona, 1992).

Um monólogo pede um trabalho de ritmos, tessituras, um fluxo de ideias e imagens. Sem sacrificar essas regras, e sem esquecer a exigência ética que em primeiro lugar me levou a escrever, procurei que este texto fosse o mais possível próximo dos factos registados. Apresentar os ecos que sobreviveram até nós e ser o menos possível – ou mesmo nada – enquanto dramaturgo.

segunda-feira, setembro 12, 2011

Leitura com História: Notícias das Guerras Napoleónicas


Notícias das Guerras Napoleónicas: Dietário do Mosteiro de Santa Maria do Pombeiro 1807-1816, (prefácio de Luís Oliveira Ramos e transcrição, atualização ortográfica, notas e índices de Maria Isabel Pereira Coutinho)




Da introdução de Maria Isabel Pereira Coutinho a Notícias das Guerras Napoleónicas, Dietário do Mosteiro de Santa Maria do Pombeiro 1807-1816.

«O autor tem esse dom: faz-nos mergulhar na História. História que é também a dum povo - o português- que sem Rei, chefes militares, dinheiro ou armas, munido a princípio apenas dos instrumentos do seu ofício - foices, piques, paus e pedras, além de algumas raras caçadeiras e de muito engenho e coragem - se lançou  na aventura sem igual, (apesar do desnorte e da "anarquia" em que por vezes caíram esses "corpos sem cabeça", como se lhes refere o autor do Dietário), de expulsar da sua Pátria aqueles que tão traiçoeiramente aí tinham entrado e intentavam permanecer. E que mais tarde, integrado já em exércitos regulares, Anglo-lusos e por vezes espanhóis, os perseguia pela Espanha e França dentro, quantas vezes deixando aí o seu sangue e a sua vida.» 



Isabel Pereira Coutinho nasceu em Lisboa, tendo-se licenciado em História pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica da Universidade de Lisboa. Foi Conservadora do Museu Calouste Gulbenkian, onde trabalhou desde 1967. Além de inúmeras exposições em que participou/comissariou, em Portugal e em diversos países da Europa e nos Estados Unidos, é autora de várias publicações no âmbito da História da Arte, a título individual ou em colaboração, algumas traduzidas ou editadas no estrangeiro. Como membro do ICOM (International Council of Museums – UNESCO) participou em numerosos Congressos e Colóquios em Portugal e no estrangeiro, onde apresentou diversas comunicações. É ainda membro do Grupo Internacional Researches on courtly life – Royal and princely tables. Reformada desde 2003, tem-se dedicado ao estudo e investigação no campo da História Contemporânea de Portugal.

quinta-feira, setembro 08, 2011

O Aquário, de João Pedro Mésseder e as escolas.... #1

No blogue da Biblioteca Escolar da Escola Básica 1,2 Mouzinho de Albuquerque da Batalha, encontramos algumas atividades muito interessantes desenvolvidas em redor de O Aquário. Vale a pena espreitar o Quebra Cabeças, o jogo do Enforcado e a ficha de leitura. Tudo aqui.  


Uma história de peixes, cores e sabores para os mais pequenos. Um aquário é também um mundo em miniatura, onde se jogam relações entre iguais e diferentes, novos e velhos, e onde se geram preconceitos e ideias feitas. As ilustrações ajudam a compreender situações e personagens, sem deixarem de construir um cenário onírico e sedutor.

quarta-feira, setembro 07, 2011

Jornadas da História Oral - Os usos da história oral nos estudos sobre as classes populares

Jornadas da História Oral 
- Os usos da história oral nos estudos sobre as classes populares


Sábado, 17 de setembro de 2011
Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto

Inscrição gratuita por email em [email protected]. |
Organização: Universidade Popular do Porto | Apoio: FPCEUP

[clicar nas imagens]


O Homem que Via Passar as Estrelas: a chegar às livrarias!

Luís Mourão em discurso direto sobre O Homem que Via Passar as Estrelas, uma peça de teatro para a infância e juventude, recomendada pelo PNL.