terça-feira, abril 26, 2011

As aventuras de Said e Sheila continuam na Antártida...

Depois do Perigo Vegetal, agora em 2.ª ed, Ameaça na Antártida. 


"Olá, jovens do passado! Sou eu, outra vez, Sheila, que vos escreve do   futuro, mais precisamente, do  ano 2077, escrevo-vos do vosso futuro que é o meu presente. Nos tempos em que vivo, a ciência avançou muito, mas mesmo assim ainda não é possível viajar no tempo para que nos possamos conhecer pessoalmente. Tenho de mesmo de  me conformar e limitar, por agora, a  contar-vos a minha vida, o que já não é pouco.
Já sabem que Said e eu somos órfãos. O meu irmão Said, a minha única família, está quase, quase  a fazer catorze anos. Eu fiz, há pouco, doze. Said cresceu e – digo-vos isto, mas fica só  entre nós, não lhe digam que eu disse , tornou-se  um pouco repelente.  Já não me liga  como dantes e, desde que conheceu Irina, nem vos digo, nem vos conto.  Passa  dias inteirinhos a falar com ela, ou através da rede informática,  ou através do videotelefone, como se não tivesse nada de melhor para fazer. Até se tem descuidado no trabalho, coisa muito estranha nele!  Bem, a verdade é que não faço ideia do que possam de ter de tão interessante para contar um ao outro… cá para mim, são quase namorados, apesar de Said não gostar nada destas minhas insinuações e até ficar zangado comigo. Enfim, não vale a pena pôr a carroça à frente dos bois, o melhor, mesmo, é contar a história do princípio.
As aventuras têm-se sucedido, qual delas a mais pitoresca e perigosa. Para não ir mais longe, vou contar-vos uma coisa que nos aconteceu há uns meses atrás, quando conhecemos a Irina e o seu pai. Vou contar-vos, porque a coisa teve o seu quê, e não foi propriamente uma brincadeira. Vamos lá, então.
Tudo começou num dia normalíssimo, era maio e estava um tempo muito agradável. Os prados que ladeiam o nosso rio estavam repletos de flores de todas cores; borboletas e libelinhas batiam as asas para saudar a primavera. Said andava a fazer desenhos de novos tecidos no computador, pois essa é a nossa forma de ganhar a vida, já que, como somos órfãos, temos de nos sustentar a nós mesmos. Eu, que estivera até então a trabalhar, parei um pouco e fui até à janela olhar o rio, para descansar um pouco. Aqueles foram dias de muito trabalho, tivemos de preparar uma coleção nova de desenhos o que nos estafou imenso e nos fez levantar muito cedo durante aquela temporada. Por isso, fui até à janela espairecer, olhando  o rio que passa mesmo  por baixo do moinho onde moramos. 
De repente, o coração saltou-me. Fiquei, estarrecida. Por quê? Perguntam vocês. Dúzias e dúzias de peixes, trutas, carpas, barbos, lúcios, enguias, e outros, passavam mortos. Centenas de peixes, que o nosso rio é abundante em água e em vida, boiavam na corrente, tesos e inchados, com a barriga para cima. Dava dó ver aquilo. O que se está a passar? Gritei por Said.
— Anda Said! Corre!
— Que se passa Sheila? Por que me interrompes? As ideias vão-me fugir!
— Olha o  rio!
Said olhou e ficou tão impressionado como eu.
—  Isto é incrível, Sheila. Nunca vi nada assim. Que mortandade!
—  O que se terá passado?
— Não sei, Sheila. Talvez alguma epidemia. Ou qualquer coisa derramada acidentalmente, apesar de não imaginar sequer de onde possa vir. Temos de recolher alguns peixes, para examiná-los.
Nunca a expressão “arrepios na espinha” teve tanto sentido. Pressentia problemas e não me enganava. Para que entendam melhor, preciso que saibam que no nosso rio – nem em Loreda, nem mais acima – não há nenhuma indústria e, na nossa época, todas as atividades poluentes são estritamente proibidas e severamente castigadas. Ninguém ousa contaminar a água, o ar ou a terra. Ninguém pode fazer nada, a não ser que seja absolutamente inofensivo para o ambiente, as plantas e os animais. E ninguém desrespeita estas normas, pois sabe que, se o fizer, irá prejudicar toda a gente; nas nossas indústrias e nas nossas cidades reciclam-se todos os produtos, ou voltam a reutilizar-se, sem necessidade de fabricá-los de novo, assim evitamos a produção de resíduos inúteis. Sei, pelos textos de História, que na vossa época têm uma forma de tratar o ambiente que nos horroriza. Estou a referir-me, concretamente, a esse vosso hábito de “usar e deitar fora”. Vocês são uns irresponsáveis…
Desculpem lá, comecei a divagar. Mas, voltando ao nosso assunto, o aparecimento de tanto peixe morto junto ao nosso moinho foi um grande susto. Aquilo não fazia nenhum sentido, algo muito estranho estava a acontecer. Antes de comunicarmos a notícia, às autoridades, decidimos investigar, por nossa conta e risco, o que se estava a passar. Said procurou uma rede e, com a ela, apanhou vários peixes. E eu recolhi amostras de água. Já no nosso laboratório, Said começou por fazer a autópsia aos peixes e, depois, analisámos a água. A mim, se querem que vos diga, ver Said a remexer as tripas daqueles pobres animais, fez-me muita impressão, apesar de perceber que aquilo tinha mesmo de ser feito. Não havia outra forma de saber como morreram. Said estava estupefacto. Verificava uma e outra vez os resultados, consultava o computador, conferia novamente os dados, incrédulo, suspirava.
— Que se passa, Said?
— Não compreendo, Sheila, estes peixes não apresentam sinais de terem morrido por contaminação de nenhum produto químico. Nem sequer por nenhuma infeção. As águas estão limpas e bem oxigenadas, têm todos os nutrientes necessários. A temperatura da água é normal. Não consigo perceber a causa desta catástrofe.
— Tens a certeza do que dizes, Said?
— Absoluta, verifiquei uma e outra vez os resultados. Todos os dados estão normais. Estes peixes deviam estar a nadar à vontade pelo rio abaixo, mas é evidente que aconteceu alguma coisa. A não ser que — interrompeu-se — É incrível! Espera, tenho de comprová-lo! Agora mesmo!
Said abandonou tudo o que tinha entre mãos e saiu a correr pelo quarto fora. Eu, surpreendida, fui atrás dele.
— Que fazes? Oh! Deves ter endoidecido?
— Deixa-me, Sheila, já te explico. Agora, não tenho tempo a perder.
O meu irmão já corria pelas escadas acima, para o sótão. Aí, começou a remexer num monte de alfaias e de quinquilharia. Falava sozinho.
— O avô tinha um, tenho a certeza. Onde estará agora?
— Said, mas o que é que procuras? Cuidado!
Um monte de trastes poeirentos estava quase a cair em cima de meu irmão, ameaçando esmagá-lo. E tudo porque ele tirou uma maquineta enferrujada daquele monte de coisas. Livrou-se da derrocada por um triz e, com a mesma convicção com que subiu as escadas, voltou a descê-las e foi, a correr,  para o laboratório.
— Aqui está! Até que enfim que o encontrei. – repetia.
— Said, de uma vez por todas, queres explicar-me o que é que se passa?
Ignorou-me, estava frenético, com aquela maquineta. Eu nunca tinha visto nenhuma igual, e mesmo que a tivesse encontrado, nem que fosse numa exposição de antiguidades, tê-la-ia ignorado. Era uma caixa quadrada de lata, uma espécie de maleta com uma asa, ao abri-la apareceram vários botões giratórios, interruptores e indicadores parecidos com relógios antigos. Uma grande esfera de vidro ocupava quase metade da caixa, com uma agulha indicadora, vermelha. Um cabo saia daquela caixa e acabava num sensor grosso e negro, parecido com um antigo microfone." Ramon Cáride / Miguelanxo Prado



segunda-feira, abril 25, 2011

O Aquário, de João Pedro Mésseder

Uma história de peixes, cores e sabores para os mais pequenos. Um aquário é também um mundo em miniatura, onde se jogam relações entre iguais e diferentes, novos e velhos, e onde se geram preconceitos e ideias feitas. As ilustrações ajudam a compreender situações e personagens, sem deixarem de construir um cenário onírico e sedutor.  AQUI.

domingo, abril 24, 2011

Cântico das Nervuras | Catarina Nunes de Almeida

Cântico das Nervuras

São tãu largas as noites
para a concisão de um corpo.
Tão escuro o soriso que as pernas abren
ao mundo
e no entanto animal que passe
aloira-se nas águas e geme
de uma alegria que tem flores e frutos.

Catarina Nunes de Almeida, in Bailias

sábado, abril 23, 2011

23 de Abril: Dia Mundial do Livro e do Direito de Autor


Ler, ler, ler, ler...

"A literatura, enquanto instrumento de justiça e de tolerância, e a leitura, enquanto experiência da autonomia, contribuem para a liberdade e para a responsabilidade do indivíduo."
Antoine Compagnon, in "Para que serve a literatura?"

domingo, abril 17, 2011

Workshop de Escrita para Teatro por Pedro Eiras


Escrita para Teatro


Formador: Pedro Eiras

Calendarização:30 de Abril a 7 e 14 de Maio

Horário: 10h00 – 13h00

Duração: 8 horas

Vagas: 12 participantes

Investimento: 100,00 €

Local: Praça Carlos Alberto, 123, Sala 23. Porto.

Uma oficina de escrita criativa para o teatro deve ser experimental, imprevisível. Cada texto escrito é um texto em debate, laboratório, em forma de interrogação. Que cada autor possa escrever um breve texto - e também ler, comentar outros textos, encontrar o inesperado. No fim, quem sabe? Algumas páginas de teatro, decerto, e muitas questões novas, novos desafios.

1ª Feira do Livro Infantil - foyer do Museu Berardo - actividades para crianças - 23 a 25 Abril

quarta-feira, abril 13, 2011

Deriva no LEV: José Ricardo Nunes, Miguel Carvalho, Filipa Leal, Henrique Fialho


16 de Abril
 17,00h - 1ª Mesa: “Viajo para educar o raciocínio” | João Lopes Marques; José Ricardo Nunes; Marcelo Ferroni (Brasil); Rui Zink; Miguel Carvalho. Moderador: Paulo Ferreira

17 de Abril
17,30h - 4ª Mesa: “Da Ficção à Realidade” | Filipa Leal; João Tordo; Laurent Binet; Luis Sepúlveda (Chile); Miguel Miranda Moderador: Carlos Veiga Ferreira

19  de Abril

15,00h - 7ª Mesa: “O futuro é uma viagem da memória” António Jorge Gonçalves; CSRichardson (Canadá); Henrique Fialho;  Richard Zimler (EUA); Teresa Lopes Vieira. Moderador: Alberto Serra

 ENTRADA LIVRE E GRATUITA.
Mais aqui.

domingo, abril 10, 2011

A Intoxicação Linguística, de Vicente Romano

Cada vez vale mais a pena ler A Intoxicação Linguística, de Vicente Romano.

Pela sua própria natureza, a informação é selectiva. Devido às limitações espácio-temporais, aos condicionamentos profissionais, ideológicos, culturais, etc., os jornalistas vêem-se sempre obrigados a seleccionar.

Quase nunca dispõem do tempo, do espaço e da autodeterminação suficientes para dizer o que gostariam. Daí que possa afirmar-se que um domínio superior da língua, o seu uso consciente e competente, seja uma das qualidades fundamentais do jornalista. Entre os jornalistas, embora sejam raros, podem existir casos de ingenuidade profissional, mas em informação nada há que seja inócuo.
[…]

Em vez de chamar as coisas pelo nome, esta retórica apresenta a guerra através da metáfora de um jogo. Assim é quando se compara a guerra com partidas de póquer ou de xadrez, ou quando se fala de “teatro de operações” excluindo-se, sempre, as suas consequências mortais para a população. As metáforas da natureza aparecem em terminologias como “guerra relâmpago” (um termo predilecto dos nazis – Blitzkrieg), “ondas de bombardeamentos”, “tempestade do deserto”, etc. Provoca-se, assim, a adesão da ideia das guerras à ideia das catástrofes naturais contra as quais nada há a fazer que as possa evitar. As vítimas reais perdem a sua condição de pessoas. Perdem-se tanques ou aviões, destroem-se instalações militares, etc., mas omite-se o destino dos pilotos ou das vítimas civis desses ataques. Os objectos adquirem, pela mesma via, uma condição humana: trata-se de armas e bombas “inteligentes”.

Outro dos recursos utilizados na desorientação ou, o que é sinónimo, na desinformação, é o emprego de neologismos que ocultam a barbárie das acções bélicas. Os civis mortos, as casas, escolas, hospitais, barragens, campos, colheitas, etc. destruídos são apresentados como “danos colaterais”. Os indicadores de distanciação reduzem, por seu lado, a credibilidade do inimigo. Começa-se com “segundo fontes…” ou “o citado…”, para se prosseguir com a valorização dicotómica entre bem e mal, na qual os bons “confirmam”, “advertem”, enquanto os maus “enganam”, “ameaçam”. Os bons têm “governo”, os maus, “regime”.
O uso correcto da língua contribui para a eficácia da comunicação, para o aumento do conhecimento, quer dizer, para que a ignorância se reduza e para a ampliação da liberdade humana. Por isso há que cuidar e dominar a língua, os recursos expressivos para a transmissão de informações. Em tempos de guerra, de incerteza e de angústia social como os actuais, é fácil recorrer ao sensacionalismo, à manipulação orientada da emocionalidade. Sim, os profissionais da informação não podem renunciar à sua sensibilidade ante a dor e a exploração dos seres humanos. As suas reportagens e as suas palavras reflectem a sua posição perante os factos, mesmo quando tentam ocultá-los. Mas não se pode esquecer que estes profissionais são observadores, não actores. E, ainda que a verdade possua muitas caras e seja difícil obtê-la por inteiro, podem, sim, aproximar-se dela. in A Intoxicação Linguística, de Vicente Romano.

sexta-feira, abril 08, 2011

Literatura Castelhana

A revista OS MEUS LIVROS de Abril tem como tema de capa "Literatura Castelhana", controverso rótulo.
Porém, como se sublinha no artigo, de Sara Figueiredo Costa, existe "vida" «para além do castelhano».
Xavier Queipo é o autor da Deriva destacado, mas galegos temos muito mais: Rámon Cáride, Xavier López López, Xurxo Borrazás, Antón Riveiro Coello e Gonzalo Navaza.

Do País Basco, a Deriva deu a conhecer Dorregarai, A Casa-Torre, de Anjel Rekalde. E do outro lado do Atlântico, passe a metáfora repetida, dos Ricardo Romero (Nenhum Lugar) e Florencia Abbate (Magic Resort).

Palavras para que vos quero: 2º Encontro de Literatura Infanto-juvenil da SPA


Programa do 2º Encontro de Literatura Infanto-juvenil da SPA que terá lugar na Biblioteca Almeida Garrett nos próximos dias 15 e 16 de Abril.

terça-feira, abril 05, 2011

Do desconcerto do mundo, Guias Sonoras em "Os Meus Livros", por Andreia Brites

 Do desconcerto do mundo: GUIAS SONORAS, de João Pedro Mésseder

Aforismos, pequenas reflexões, micro-contos ou sentenças (afirma Ana Margarida Ramos no posfácio): o volume começa aí, pela forma, a desviar-se da aparência tradicional da poesia. Mas, à imagem dos haikus, o limite ou a fronteira dialoga obrigatoriamente com o sistema poético. Esta observação não seria relevante, não fora o caso da elaboração sintáctica e semântica assentar numa desconstrução do literal e até dos lugares comuns era tomo de metáforas, ironias, sinestesias, oximoros que provocam tensões ideológicas. («Existe lixa macia como seda / - isto lhe garantiu o fabricante./ Foi essa a que escolheu para amaciar o seu próprio coraçãd’ (pág. 35). Os motivos temáticos vão-se sucedendo, encadeando quase automaticamente: Vida, Democracia, Guerra, Tempo, Morte, Sono, Sonho, Silêncio... servem para questionar a passividade do ser humano, os seus comportamentos e um certo estado interior que está oculto pelos limites das “Guias Sonoras” e é preciso mostrar, limando a realidade superficial. Mésseder escancara as contradições existenciais, implicando as suas palavras nessas mesmas contradições, não ftigndo da melancolia, apesar do sentido crítico. “No Inverno, as árvores envelhecem. Calvas, esqueléticas, sinistrass. Na Primavera, reconquistam a juventude. E todos acham natural esta inversão da lógica do tempo”(pág. 25). ANDREIA BRITES

Procurar a medida: António Cortez sobre Bailias

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domingo, abril 03, 2011

Nos 35 ANOS DO HOMICÍDIO DE MAXIMINO SOUSA, a.k.a. Padre Max

Nos 35 ANOS DO HOMICÍDIO DE  MAXIMINO SOUSA, a.k.a. Padre Max
Padre Max, O Pecador, por Miguel Oliveira, in Aqui na Terra.


O pecador
A 2 de Abril de 1976 a noite estava escura, a iluminação pública desligada e chovia.
Na Casa da Cultura da Cumieira, a sete quilómetros de Vila Real, o padre Maximino de Sousa ensinava Português e Francês a trabalhadores-estudantes. Não era ainda meia-noite quando perguntou as horas.
Doía-lhe a garganta, estava exausto e febril. «Já dei muitas aulas hoje, vamos embora.»
Antes de se dirigir para o seu Simca 1000, de cor amarela, estacionado junto ao fontanário, deteve-se à conversa com alunos a propósito de uns emblemas da UDP que lhes prometera. Ele seria, dali a semanas, o candidato daquele partido de esquerda nas primeiras eleições livres. E era influente entre os jovens. Já no carro, cuja porta direita de trás não trancava, o padre Max – assim era chamado – buzinou para que Carlos, director da Casa da Cultura, se apressasse. À boleia, ia também Maria de Lurdes, de 18 anos, estudante e sua protegida.
O automóvel arrancou.
Carlos esticou as pernas, batendo com os pés num volume debaixo do banco de Maria de Lurdes. «O que é isto que vai aqui?», perguntou. «Sei lá», respondeu o padre. Duzentos metros à frente, parou em casa do amigo para recolher um dos dois garrafões de vinho de cinco litros que lá havia deixado. À saída do carro, Carlos viu uma luva de cabedal de cor castanha, forrada a lã, esquecida no assento. «De quem é esta luva?», questionou-se, intrigado. «Essa luva é tua, pá, não me gozes», atirou-lhe Max, apressado.
Lurdes disse que lhe parecia de rapariga. «Não é, olhem para esta manápula», observou o padre, pegando-lhe. Carlos foi buscar o garrafão enquanto o cunhado ficou breves minutos à conversa com o sacerdote. Despediram-se.
Carlos entrava em casa quando o estrondo se deu e o chão tremeu. Um clarão enorme iluminava o breu.
«Mataram o padre Max!», gritava a irmã.
Lurdes jazia no meio da estrada, ao quilómetro 71.
Ainda disse «que desgraça!» ou «socorre-me!», algo assim.
Max estava caído junto da valeta, à esquerda.
«Ó pá, que desgraça!», disse, a custo.
O Simca era uma amostra.
Ela foi transportada ao hospital num jeep que passava. Ele seguiu no carro do cunhado de Carlos. No caminho, disse que lhe faltava o ar.
Maria de Lurdes chegou já sem vida ao hospital. Vestia três camisolas leves de várias cores.
Max entrou com grande dificuldade em falar.
Perguntaram-lhe o que se passara.
«Colocaram-me uma bomba no carro e agora está a arder, mas não faz mal. É esta a democracia portuguesa.»
De seguida, entrou em coma. Faleceu às seis horas e vinte minutos do dia 3 de Abril de 1976. Tinha 32 anos e dizia que não chegaria à idade de Cristo.
Nascido na Choupica, Ribeira de Pena, um dos filhos de pais emigrados em França e fugidos aos nazis, Maximino passou parte da infância e adolescência em Almendra, no concelho duriense de Foz Côa. Ali, as mulheres lamentavam que um rapaz «tão bonito» se inclinasse para o sacerdócio.
Ele, porém, não iria ser apenas mais um.  O «baptismo revolucionário» deu-se em França, nos tempos sobressaltados de 1968. Trabalhou na Acção Católica em 1971 e foi professor em Lisboa e Setúbal.
Optou depois por Vila Real por sentir que aí morava a sua vocação e destino. Para o bem e para o mal, não se enganou.
Max foi para a capital transmontana ocupar a sala do primeiro andar na moradia da travessa de D. Dinis, número dois, alugada por mil escudos aos pais de Maria de Lurdes, também emigrados em França.
A jovem vivia com a avó e a irmã. E o padre assumiu o papel de encarregado de educação das raparigas.
Maria das Dores, 72 anos, a proprietária da casa, lembra-se de um padre inteligente e humilde: «Dava tudo o que tinha sem nada pedir em troca.»
Fez-lhe uma coberta e ainda pregou um fecho numas calças velhas. Era um homem além do seu tempo. «Dizia que a virgindade não tinha valor nenhum. E tinha razão.»
O meio era conservador e tradicional.  Max era de esquerda, vestia calças de ganga, agitava consciências.
Dava aulas no liceu e na Escola Industrial e Comercial. Mobilizava lutas de estudantes. Ensinou adultos a ler e a escrever, apoiou os operários nas contestações fabris.  Os jovens seguiam-no, os pais temiam-no.
Os amigos admiravam-lhe as qualidades morais e profissionais.  Famílias abastadas da terra, militantes da direita radical e a maioria dos sacerdotes da região olhavam Max como dispersor do rebanho, incapaz de seguir «uma linha de pudor que estivesse de acordo com os hábitos da terra.»
Desde 1974 que os párocos reclamavam medidas, sob pena do Bispo ser «severamente criticado» e vir «a sofrer amarguras.»
Dom António Cardoso Cunha esticou a corda até onde pôde. «Tenho sido inalteravelmente seu amigo, não obstante os grandes dissabores que (…) tenho experimentado nestes dois últimos anos, devido à sua conduta e actividades de natureza política. Sinto-me no dever de dar uma explicação pública a toda esta gente», escreveu o bispo de Vila Real num bilhete enviado ao «caro Maximino», a 15 de Março de 1976.
O padre era, por esta altura, candidato a deputado nas listas da UDP. E ficou impedido de exercer o ministério. O sacerdote Manuel Morais era dos poucos que lhe tinha «estima e consideração.» À esquerda, militantes do MRPP acusavam-no de traição.
O temperamento brincalhão de Max não era imune a aflições.
Foi ameaçado e puxado pelos colarinhos em reuniões de associações de pais e do clero local. Um Morris vermelho e um Alfa Romeo verde rondavam-no.  Famílias influentes e grupos de rufias da região tiravam-lhe as medidas.  Cartas ameaçadoras, anónimas, eram frequentes. «O seu lugar não é junto dos estudantes, mas sim em Lisboa junto das prostitutas», escrevia-se. Nos muros do liceu, pichagens prometiam-lhe a morte.
À noite, jovens do CDS entretinham-se a insultá-lo à porta de casa e atiravam-lhe garrafas de vinho, vazias e cheias.  Soube-se depois que várias das cartas intimidatórias, sem nome, foram dactilografadas numa máquina de escrever Lettera 22 Olivetti encontrada na sede do CDS de Vila Real.  Max passou a recear a própria sombra.  Inspeccionava o automóvel antes de entrar, era cuidadoso com o fecho das portas, mas a direita, de trás, não teve emenda nem na oficina.  Por duas vezes lhe furaram os pneus, puseram bilhetes no pára-brisas e paus de fósforos na fechadura do carro.  Ramiro Moreira, operacional da rede bombista de extrema-direita, fez-se passar por sindicalista para o vigiar no início de 1976.
Ele, na brincadeira, dizia que qualquer dia lhe punham uma bomba. «Não desisto e, se morrer, é por uma causa justa», ouviram-no, mais a sério.
Queixava-se pouco. Mas nos dias que antecederam a morte, viram-no triste e apreensivo. Ao final da tarde do dia 2 de Abril de 1976, a amiga Maria Manuela disse-lhe à porta do liceu que não ia com ele, nessa noite, à Cumieira.
«Então não te vejo mais.»
Percebendo nela sorriso assustado, corrigiu: «Não te vejo mais…hoje.»  Esteve depois no Governo Civil num encontro de todos os partidos para discutir as eleições desse mesmo mês.  Aí, lamentou a reacção que vinha sentindo nos meios rurais e pediu compreensão democrática. A reunião foi cordata.
Antes das 22 horas deu boleia a um rapaz do seu curso nocturno que ia tratar de uma queimadura na perna direita ao hospital.
Seguiu depois para a Cumieira.
Entregues os garrafões de vinho vazios em casa de Carlos, só parou na Casa da Cultura. A bomba foi colocada no seu carro enquanto dava a última aula de um dia esgotante.  Na estrada, depois da explosão, corpo prostrado no asfalto, só pediu:
«Vejam como me levam.»
Era o último fôlego de quem, qual ironia, havia ajudado os alunos a ensaiar a peça Mortos sem Sepultura, de Sartre, escrita trinta anos antes.
Um texto onde a personagem Canoris é um homem de acção, pronto a enfrentar a morte em nome da liberdade.
Ao funeral, a 5 de Abril, assistiram vinte mil pessoas. «Coisa nunca vista», diz quem lá esteve.
A missa foi celebrada na presença de quarenta sacerdotes, vindos de todo o País. Os párocos de Vila Real recusaram celebrar a missa de 30º dia.
Quando a Polícia Judiciária do Porto entrou em campo, logo mostrou ao que ia: crime passional.  A tese, mirabolante, apontava Carlos, amigo de Max e Maria de Lurdes, como autor de um crime e de uma bomba…em forma de garrafão de vinho.
Carlos esteve confessadamente apaixonado por Maria de Lurdes, mas ela pediu tempo.
A jovem estaria grávida de três meses quando morreu e o padre Maximino seria, para a Judiciária, o principal motivo de ciúme de Carlos.
Insultado e enxovalhado durante um inquérito, o amigo de Max ouviria, da boca de um agente que procurava intimidá-lo, frase lapidar: «Uma das desgraças que trouxe o 25 de Abril foi acabar com a PIDE.»
A PJ investiu o que tinha e não tinha na tese passional.
No primeiro relatório, escreveu que o padre «dava política de modo a cativar os alunos segundo a ideologia da UDP», era defensor «do chamado amor livre» e vivia «maritalmente» com a Maria de Lurdes. «Por tudo isto e o mais que não foi possível averiguar, o padre Maximino não gozava de boa reputação», concluía-se.
Nesta altura, na PJ do Porto, os agentes «do antigamente» adaptavam-se o melhor que podiam à nova situação. «Mas puseram a ideologia a comandar as investigações», conta quem viveu esses tempos por dentro.
Não espantou, por isso, a displicência na salvaguarda de elementos de prova.  A chapa exterior de uma das portas do carro só a encontraram no socalco de uma vinha mais de dois meses depois do atentado.
E passou idêntico período até que recolhessem pedaços do tapete do veículo e examinados os vestígios da bomba.  Só nos anos 80, quando foi necessário voltar à estaca zero, o caso do padre Max entrou em trilhos sólidos: o crime político.   A investigação do assassínio, por desconhecidos, do industrial Joaquim Ferreira Torres, em Agosto de 1979, iluminou a noite da Cumieira. O Sãobentogate, julgamento que «limpou» a PJ do Porto da corrupção interna mais endémica, fez o resto, no início da década de 80.
Torres era o conhecido financiador do MDLP (Movimento Democrático para a Libertação de Portugal), presidido pelo general Spínola e liderado por Alpoim Calvão. Tinha com ligações a ex-PIDES, radicais de direita e aos sectores mais conservadores da Igreja e pôs Portugal a ferro e fogo entre 1975 e 1976. Segundo um dos seus quadros, o movimento custava 15 mil euros por mês, três mil contos à época.
Bombas e incêndios em alvos de esquerda, com algumas vítimas mortais, foi o rasto deixado pelo terrorismo de direita.
O papel de Torres no planeamento e financiamento da operação da Cumieira provou-se no Tribunal Judicial de Vila Real. E contou com a ajuda de gente ligada ao MDLP. Ainda que, na época, alguns elementos pudessem já andar em roda livre, quais prestadores de serviço à conta de bom dinheiro. O receio de Torres voltar a ser preso por causa da rede bombista fê-lo ameaçar, à boca cheia, que abriria o livro sobre as cumplicidades e negócios feitos à sombra do MDLP. Não era «bluff» e foi o seu fim.
O industrial havia sido, logo após o 25 de Abril, fiel depositário de fortunas e valores de figuras influentes e poderosas fugidas no estrangeiro. Uma época em que o MDLP contou com fiéis amigos na PJ do Porto. «Protegia-se gente do fascismo e camuflava-se o envio de importantes somas de dinheiro para fora do País», segundo recordam fontes dessas investigações. O processo do padre Max foi dos mais viajados da Justiça portuguesa. E dos mais longos. Teve de tudo. Até agentes da PJ apanhados nas escutas a sabotar a actividade de colegas. Já para não falar da escassez de meios, da falta de incentivo à investigação e das solicitações constantes para que se desistisse de vasculhar o passado.  A sentença de um processo com 15 volumes e mais de quatro mil páginas foi proferida em 1999, 23 anos após o crime e uma salsada de avanços e recuos. «Condenado» o MDLP enquanto organização que planeou e financiou o atentado, foram absolvidos os alegados executantes. Falta de provas, justificou-se.
O facto do crime ter sido julgado – com desfile de chefes e colaboracionistas da rede bombista incluídos – deve-se, em boa parte, à persistência de dois investigadores da PJ – Artur Pereira, nos anos 80, e Victor Alexandre, nos anos 90 – ao então procurador Paulo Sá e a Mário Brochado Coelho, advogado das vítimas. «O modo como foram investigados e julgados os processos relativos a “crimes de direita” foi mais benévolo. Encobriu-se responsabilidades e responsáveis deliberadamente. O caso do padre Max e de Maria de Lurdes foi um paradigma de obstrução sistemática à descoberta da verdade. E estivemos muito perto de sabê-la toda», diz o causídico.
Se não a sabemos, explica quem conheceu o processo, «é porque há coisas do presente que ainda assentam neste passado. Olhe-se para a matriz do regime, para a gente que beneficiou do que se fez naquele tempo e tirem-se as conclusões.»
Um dos altos quadros do MDLP resumiu, um dia, a situação a um dos investigadores: «Temos de dizer aos avós daqueles que estão no poder para pôr os meninos nos eixos, a ver se eles se portam bem. Senão isto ainda acaba tudo outra vez à estalada.»
Hoje, na Cumieira, quase não há vestígios desse tempo.
A Casa da Cultura será transformada no novo edifício da Junta de Freguesia. E ao quilómetro 71, só uns dizeres desbotados inscritos numa paragem de autocarro velha e enferrujada insistem em preservar a memória e a verdade: «Padre Max, assassinos à solta.»  No cemitério de Santa Iria, o jazigo de Maria de Lurdes é a cara do desleixo.  A campa de Maximino de Sousa é a 1240, a dois passos. As flores são de plástico, mas o craveiro ao fundo da laje preta tem cravos a florir, em rebeldia. Só uma funcionária da Segurança Social de Vila Real lá pára, às vezes. Todos os anos, Maria Augusta, feliz zeladora do cemitério a meias com o marido, recebe chamadas do estrangeiro, emigrantes pedindo que enfeite a última morada dos familiares. Pelo padre Max e Maria de Lurdes, ninguém telefona. Para eles, já não há velas nem flores.
Miguel Carvalho, in Aqui na Terra, 9-16.


sábado, abril 02, 2011

Bailias, hoje no Expresso, por Pedro Mexia

BAILIAS,
de Catarina Nunes de Almeida Deriva, 2010, 68 págs., | Poesia
Pedro Mexia


Em vez de um discurso ‘feminista’, crítico, sarcástico ou desconstrutivo, Catarina Nunes de Almeida (n. 1982) tem escolhido um tom aparentemente anacrónico para proceder, por dentro e de mansinho, a uma revisão empática e irónica do ‘feminino’ em poesia. Veja-se como em “Prefloração” (2006), mas também em “A Metamorfose das Plantas dos Pés” (2008), recuperou um universo vegetal, mais diáfano ou mais sensual, conforme os casos, mas voluntariamente antigo. O recente “Bailias” prossegue esse caminho, convocando desta vez a memória das cantigas de amigo. Os poemas são folguedos, bailes, barcarolas, miniaturas bucólicas, e nem faltam vocábulos arcaicos e outras remissões para a poesia galaico-portuguesa. Uma poesia inicial e canónica, que ecoa em contemporâneos como Eugénio de Andrade (que é por isso citado). Tal como em Eugénio, o erotismo vigiado das cantigas de amigo é aqui chamado para primeiro plano. As “meninas”, correndo pelos bosques e pinhais, pelas noites e as ermidas, descalças até aos ombros, vão ter com os “amigos”, numa sucessão ritualista de anseios, hesitações e glórias. O imaginário medieval apenas nomeava, em chave simbólica, os cabelos e as tranças, mas agora surgem também o “ventre” e a “vulva”, além de subtis deslocações de sentido, corruptelas, alusões. E assim somos guiados de volta a esse tempo genesíaco, tempo de cântico das criaturas: “Dai-me só mais este passo, meu amigo,/ às escuras às curvas/ pelas ervas abaixo./ Dai-me desse certeiro espinho desse derradeiro laço/ às escuras às escuras:/ só mais esse poço primitivo (...)// Alguém atire a primeira perna./ Alguém diga/ desta espádua beberei.” Um cântico violentamente delicado. Pedro Mexia

Dia Internacional do Livro Infantil

Bailias, de Catarina Nunes de Almeida, por Pedro Mexia

«Um cântico violentamente delicado», Pedro Mexia,

sexta-feira, abril 01, 2011

FUTURO PRIMITIVO, de John Zerzan

FUTURO PRIMITIVO, de John Zerzan



As ideias de John Zerzan situam-se na crítica à tecnologia e à cultura simbólica como origem da degenerescência da Humanidade que a iniciou com o advento da agricultura e da domesticação de toda a vida humana e da natureza. Rejeita, portanto, a divisão social e sexual do trabalho e o patriarcado, assim como a separação entre a Natureza e a Cultura. Singular, na visão de Zerzan, é a síntese de várias correntes filosóficas que elabora na crítica à sociedade moderna e pós-moderna como suportes que fazem parte de um mundo que se encontra moribundo. As fontes teóricas do Primitivismo a que Zerzan dá voz vão desde Adorno, aos situacionistas, à antropologia, ao luddismo, à ecologia e ao feminismo, assim como às correntes igualitárias e anti-autoritárias americanas e europeias. O Futuro Primitivo é, para nós, a obra mais marcante de John Zerzan. Para além de reflectir uma revisitação teórica da Pré-História, ataca violentamente as ideias preconcebidas da antropologia oficial e dá-nos a possibilidade de encontrar uma ténue saída para a catástrofe iminente.

«Definir» um mundo não alienado seria impossível e talvez indesejável, mas creio que podemos e deveríamos tentar revelar o não-mundo dos nossos dias e como se chegou até ele. Caímos num monstruoso erro ao adoptarmos a cultura simbólica e a divisão do trabalho, abandonando um mundo de deslumbramento, compreensão e totalidade e esperando por um Nada que nós encontramos, hoje, na doutrina do progresso. Vazia, cada vez mais vazia, a lógica da domesticação, com as suas exigências de domínio total, mostra-nos a ruína de uma civilização que destrói tudo em que toca. Presumir a inferioridade da natureza favorece o domínio de sistemas culturais que não tardarão a tornar a Terra inabitável.
O pós-modernismo diz-nos que uma sociedade sem relações de poder não é mais que uma abstracção. É uma mentira, a menos que aceitemos a morte da natureza e que renunciemos para sempre ao que foi e que poderá, um dia, vir a ser de novo. Turnbull falou-nos da intimidade entre os Mbuti e a floresta, e da sua maneira de dançar como se fizessem amor com ela. Na fímbria de uma vida onde todos os seres são iguais, onde não existia nenhuma abstracção e que se esforça ainda por manter-se viva, eles «dançam com a floresta, dançam com a lua». (Futuro Primitivo, 2007, Deriva). Esta edição portuguesa da Deriva é acompanhada por um prefácio do autor.



John Zerzan nasceu em 1943, em Oregon, EUA, e é licenciado em Ciências Políticas pela Stanford University e em História pela San Francisco State University. Preso em 1966, nos EUA, pela sua participação nos movimentos de desobediência civil e contra a guerra do Vietnam, conhecidos pelos tumultos de Berckeley. Abandonou, mais tarde, uma carreira universitária na University of Southern California. Hoje, dedica-se à educação de crianças e à jardinagem. Promove, ainda, conferências sobre o Primitivismo e Paleo-Anarquismo em todo o mundo. Destaca-se como escritor e filósofo do chamado Primitivismo com a edição de Elements of Refusal (Left Bank Books, Seattle, 1988) e de Future Primitive (Autonomedia, New York, 1994) livro agora traduzido para português pela Deriva e que lhe deu projecção internacional ao serem traduzidas versões para várias línguas. Questioning Technology (Freedom Press, Londres, 1988), The Mass Psychology of Misery, Tonality and the Totality, The Catastrophe of Postmodernism e The Nihilist's Dictionary contam-se entre as suas obras mais recentes. Em 2002, edita Against Civilization: Readings and Reflections, em Los Angeles.