quarta-feira, julho 30, 2008


Tenho um copo da Turquia
Uma caixa de música made in japan
Uma banana da Colômbia
Um copo de Portugal
Um prato de moura
Umas chávenas da avó
Computador do estrangeiro
Caneta de vila franca de Xira
Uma garrafa da serra
Carvão espanhol
Sabão azul e branco
Madeira do sobral
Lixo num altar
Tem bandeiras na vasilha ao lado
Que por baixo de si
Tem a casa das formigas
Estas gostam
Da carne das costeletas
Fazem rastilhos de centenas
Pequeninas atrás umas das outras
Vão até ao lava-loiça
Fazer uma excursão de fim-de-semana
Mas acabam no final
Por comer as minhas passas da Turquia



BB Pásion





Debaixo do Bulcão poezine
Número 33 - Almada, Junho 2008

Vento outonal




Mãos enlaçadas
com as flores do tempo
abraçam a nostalgia
açoitada pelos sinos
do fim de uma tarde,
tocada de folhas e outono,
folheada de ouro
e lembranças.


Dedos como pétalas
se deixam levar pelo vento sul. Este,
lhes fala tépido, mas com ar frio,
do indicador ao mindinho:-
Ainda há esperança... Coada
entre galhos seminus
há anos fios de sol.



Madalena Barranco


Registro na Fundação Biblioteca Nacional.





Debaixo do Bulcão poezine
Número 33 - Almada, Junho 2008

Que céu interurbano!


eu sei que a esta hora (são quatro como se diz da manhã)
não deveria comer feijão. mas estou autenticamente com fome
(antes deveria dizer verdadeiramente) e por isso
abro uma lata de feijão que como
(não a lata o feijão) às colheradas.
depois vou à janela fumar um cigarro e é então
que noto como se fosse a primeira vez (e é) que o vejo
o horizonte de edifícios sobrepondo-se ao horizonte
de edifícios que por sua vez se sobrepõe
ao horizonte de edifícios.
na verdade nunca me tinha apercebido disto:
o quão interessante é viver no limiar de uma cidade
e poder daqui observar outra cidade e mais adiante
outra cidade. as formas geométricas monótonas
pela sobreposição deixam de ser monótonas
(mas se as visse amanhã diria o mesmo?)
(melhor mesmo é vê-las também amanhã.)
e crescem (como se crescessem) no horizonte da noite
cidade sobre cidade até quase florear o céu
(que céu interurbano!...)

digo eu...








Debaixo do Bulcão poezine

Número 33 - Almada, Junho 2008

quinta-feira, julho 17, 2008

Antítese de solidão




Ser copo cheio d’amor em cristal derramado,
Poder pintar a Lua e o Sol e entornar-me a teu lado,
Ser dia p’ra te esquecer e em poça d’água morrer,
Servir-te chuvas d’amor e nos teus lábios escrever,

E na ausência de ti escrevo ideias mil,
Na solidão do olhar pinto o amanhecer de um fim,
Na esperança de um dia te encontrar,
Na fila d’amor espero por ti.


Bruno Martins, 2008.

Debaixo do Bulcão poezine
Número 33 - Almada, JUnho 2008

Respirar-te

Respiro-te segundo a segundo,
Liberto-te em cada sopro de fumo,
Prendo-te em cada palavra travada,
Deixo-te em cada ideia encerrada,
Sigo estrada comigo mas sozinho,
Pó, medo e pedras no meu caminho,
Horizonte nocturno vejo na passada,
Respiro-te no compasso improvisado do nada.


Bruno Martins, 2008.

Debaixo do Bulcão poezine
Número 33 - Almada, Junho 2008

Eles

ELES não guiam carros

eles não se EMPURRAM uns aos outros isso faz transpirar
apesar de teres prometido a volta ao mundo em comic books
eles não ouvem música isso faz sangrar em rímel
eles não escolhem CAMINHOS são cobras cegas
eles não se exercem isso é pesado são guizos
eles não se cantam dormem SÓZINHOS por tons
eles não têm cheiro isso marca lã pelos lugares
eles não se andam a questionar por aí nas janelas
eles não têm casa são lâmpadas DE azul a desemaranhar
eles não se EXPOEMam eles têm a PELE fina a desgastar
eles não são esCRAVOs eles fedem a verde em gotas




A Clavícula interior do sono

não entres mais. agora. basta de
pétalas nocturnas. basta. Nasceram
nocivas as trinta mulheres de
olhos radiais tenho um requiem
e plumas brancas para te ver arfar. recorto
os recortes recortados da
parcela que falta
para o meu ombro. caule aquático
.canta-me uma balada. das sete saias
. ou quase nada. se(m)_te(r) tons
dó menor e uma cegonha
poisada como pedúnculo. sabes o que é um pedúnculo? sabes
o que é a nervura de um lenço? segue
cega-me
as glândulas com os guizos
e um castiçal contínuo e desiquilibrado
inquilina fotografias cheias
de ar
de reservatórios de crianças - voltagens de astros.
cospe o bosque completo do umbigo
que na seiva volumosa dos ovos asfixia cobras
corporais geralmente verdes
geralmente longas
mas também abissais alcançam por dentro


poemas colectivos do projecto poético
aranhiças & elefantes
http://3aranhicas.blogspot.com/

Debaixo do Bulcão poezine

Número 33 - Almada, JUnho 2008

quarta-feira, julho 16, 2008

PENSAMENTO RECLUSO Nº 76832 PROVAS DE BOM COMPORTAMENTO LIBERDADE CONDICIONAL



Olhar fixo no espelho.
O tempo, submerso nas gotas de água que caem
Eternas
Cansaço gasto de cais submisso.
A alma no olhar entreaberto
Na fonte reflexo.
E o Mar onde me banho
Subitamente azul.


Ignoro
Não fosse a pequena lácrimonda.


Fecho os olhos.
Mergulho.
Apago a luz.

Mário Lisboa Duarte

In Eu, tu e os OUTROS


Debaixo do Bulcão poezine
Número 33 - Almada, Junho 2008

sábado, julho 05, 2008

Eco tempo.

Condição que soa toque estranho

Um eco que põe se o tom

Disposto o marcar

Do corpo que jorra

O continuar que consiste

O atingir do termo

Que toma fio a frase

Que digo sonoro

Mais

Que repito digo

Sonoro :

Aparece -

Nuno Rocha

Debaixo do Bulcão poezine

Número 33 - Almada, Junho 2008


Ecos múltiplos.

Longa instância
Única espécie de satisfação aos olhos lançados
Deslizar perene
Rápida sucessão de longas linhas
Pontos assolados
Ligação
Dispersão
Outro estendido evento
Estância adequada
Animal intuição
Solícita Que faz se fundo
Sereno


Já se ouvem ecos
O fim dos ciclos
Vozes ecoam histórias
Era s.


Nuno Rocha





Debaixo do Bulcão poezine
Número 33 - Almada, Junho 2008

quinta-feira, julho 03, 2008


Debaixo do Bulcão poezine
Número 33 - Almada, Junho 2008



Sinto um imenso vácuo dentro da cabeça. Como se milhares de zunidos dançassem em meus ouvidos. Uma pequena haste de Heráclito me põe nos lábios um sabor de noite e logo se vai. Porém, sou eu que não vou e me perco no intervalo de um "preciso ir" e um "quero ficar".


Como se possível fosse ocultar-me de mim, num furto dolorido, juntando os olhos e a pele untados de transgressões, mal vestindo o querer mais farta ser do que sou, digo a mim mesma: amanhã, do final para o meio, sabendo o mesmo vácuo que se desprenderá da luminosa perspectiva: o meu caminho mesmo – que de mesmo só tem o ponto que desponta nas raias do sentido – tão estranho e grandiosamente pequenino, mais quando a minha substância é consciente da própria insubstancialidade.




Debaixo do Bulcão poezine

Número 33 - Almada, Junho 2008



Um papagaio de papel descobriu que a cura geneológica para a extinção dos lagartosdeveu-se a seu afogueamento por espezinhar,foi calor gelado espacial que lhes engordou ajurisdição de protecção, espirais ficcionais, gin-tonic de limitadas dimensões, engano micro-macro celularassombrou a vegetativa vista paradísiaca do artificial.


Dispenso terraformings lunares distritaisconstrictos ao metro quadrado do COMdomínio, anticorpos não ponderam quando cheiram cocaínasempre que se despedem de glaciares evaporados,basta juntarmos as mãos e saltar de olhos radiantesem direcção à energia dos pentagramas sedativos erituais robóticos com a calma stressante de apetitososfarmacêuticos independentes, bem feitas as contastodos jogam à lógica, contagiamos inocentes índioscom o absinto que nos vem constipando desde CrIstO; será que sublevaremos a fonte do acaso com balázios,ou exangues batalhas ágeis em ágoras que desmantelemo que se desloca e desaprende nas radiografias da idade?


Suportarei que a infecção induzida neste amestrado de kiffespacio-temporal se amotine à vista curta da testosterona,ou deixaremos a pátria resolver e recambiar a embalagem?








Debaixo do Bulcão poezine

Número 33 - Almada, Junho 2008