Gente muito sábia
Anda a discutir os crimes
Que cometemos contra a natureza…
E dizem-me que ela anda apavorada
Vingando-se muitas vezes
Por meio de calamidades terríveis
Estão a ver, não estão?
Tremores de terra, inundações, fogos…
É ela a vingar-se
Mas ela avisa primeiro
Avolumando nimbos, aglomerando-os
Por cima das nossas cabeças distraídas
É o bulcão a exprimir o seu desgosto
E a sua ira
Antes de nos mergulhar nas trevas
E tudo isto porque eu deixo a torneira a pingar
E não apago a luz quando já dela não preciso
E abro muitas vezes a porta do frigorífico…
Criminoso! O que tu andas a fazer!
Gritam-me. E o escuro bulcão entra em mim
Sou só negrume, só tristeza…
Eu que já ando há tanto tempo numa fase
Lúgubre, de desempregado desesperado,
Doente e sem assistência…
Debaixo do bulcão
Sou alvo de um crime anti-homem
Que alguém vil comete impunemente
Se eu pudesse fazer como a natureza!...
E vingar-me! Desmoronando governos
Em tremores de terra só para eles!...
Não digam nada a ninguém, peço-vos,
Mas vou perguntar ao Vitorino como é
Que ele prepara os bulcões poéticos
Pode ser que eu consiga na base da Poesia
Modificar a fórmula bulcónica
E desagravar os pobres “criminosos” que somos
Tornando logo visíveis os que cometem o crime
de não nos deixar viver em paz com a nossa natureza,
e depois … apetece-me dizer: seja o que Deus quiser!
Alexandre CastanheiraDebaixo do Bulcão poezine
Número 31 - Almada, Dezembro 2007
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