LUA DE MEL AGITADA (The long, long trailer, 1954, MGM Pictures, 96min) Direção: Vincent Minnelli. Roteiro: Albert Hackett, Frances Goodrich, romance de Clinto Twiss. Fotografia: Robert Surtees. Montagem: Ferris Webster. Música: Adolph Deutsch. Figurino: Helen Rose. Direção de arte/cenários: Edward Carfagno, Cedric Gibbons/F. Keogh Gleason, Edwin B. Willis. Produção: Pandro S. Berman. Elenco: Lucille Ball, Desi Arnaz, Marjorie Main, Keenan Wyn. Estreia: 17/02/54
Quando o filme "Lua de mel agitada" estreou nos EUA, no começo de 1954, seus dois atores principais eram extremamente populares graças a um seriado de televisão - então visto como um concorrente desleal ao cinema. Astros da bem-sucedida e campeã de audiência "I love Lucy" (no ar desde 1951 e acompanhada por milhões de telespectadores), Lucille Ball e seu marido, Desi Arnaz, acharam que já estava mais do que na hora de testar seu carisma junto a um público maior. Com um contrato assinado com a MGM para uma série de filmes, eles começaram com o pé direito. Adaptado de um best-seller de Cliton Twiss e dirigido por ninguém menos que Vincent Minnelli, "Lua de mel agitada" levou para as telas grandes o mesmo delicioso humor visual do programa de televisão e comprovou que, além do fidelíssimo público da dupla de astros, ainda havia um vasto território a explorar na tela grande.
Fazer a transição de um veículo a outro nem sempre é fácil - muita gente tentou aproveitar sua fama na televisão como trampolim para uma "promoção" e não teve sucesso. Para minimizar as chances de erro, nada como contar com a experiência de um diretor experiente: Vincent Minnelli já havia sido indicado ao Oscar pelo musical "Sinfonia de Paris", estrelado por Gene Kelly em 1951, e tinha prestígio mais que suficiente para emprestar uma aura de seriedade ao projeto - mesmo se tratando de uma comédia rasgada, bem mais explicita do que a sofisticação de seus trabalhos anteriores. Com um diretor capaz de compreender o estilo já consagrado de Ball e tirar o máximo proveito dele, Minnelli mostrou-se uma escolha muito apropriada. Apesar de não ter imprimir no filme suas características mais marcantes (leia-se cenários mirabolantes e números musicais pomposos), o cineasta foi capaz de controlar qualquer tipo de excesso no humor pastelão de Ball e dotar a produção de um ritmo mais apropriado ao cinema que à televisão. Poderia-se dizer que, experiente como era, Minnelli mesclar o senso de humor da dupla à narrativa mais ambiciosa exigida pelo cinema. O resultado é um filme redondinho, com sequências engraçadíssimas valorizadas pelo talento incomum de Ball para fazer rir sem demonstrar muito esforço para isso.
Quando o filme começa, Tacy (Lucille Ball) e Nicky Collini (Desi Arnaz) estão prestes a se casar. Usando de seu poder de convencimento, ela consegue fazer com que o noivo aceite sua ideia de comprar um trailer ao invés de alugar um apartamento ou casa. Seus argumentos giram em torno da liberdade de escolher viver onde quiserem e da economia que farão sem precisar gastar dinheiro em uma moradia convencional. Logo depois do casamento, já de posse de um trailer maior do que o primeiramente imaginado, o casal parte para sua lua-de-mel - e não demoram a perceber que talvez a ideia de um lar motorizado possa não ter sido tão genial. Passando por diversas situações vexaminosas e (e até perigosas), Tacy e Nicky precisam de muito pensamento positivo para chegarem vivos ao final de sua aventura tão pouco ortodoxa. E um dos principais problemas é descoberto por Tacy justamente onde ela aparentemente se sairia melhor: como fazer um jantar quando a cozinha não para quieta em momento algum?
"Lua de mel agitada" é um filme sem contra-indicações. É bobo? Muitas vezes, mas com um senso de timing perfeito, capaz de arrancar gargalhadas até do mais sério espectador. É datado? De forma alguma, já que o estilo de humor do casal é atemporal. É capaz de mudar a história do cinema? Claro que não, mas isso é ambição de diretores e elencos mais sérios e compenetrados a discutir temas relevantes. É cansativo? De jeito algum: o ritmo imposto pela direção, pelo roteiro e pelos atores impede que a plateia sofra de qualquer tipo de impaciência. E por fim, por que não há mais filmes com Lucille e Desi? Simples: seu segundo filme na MGM, "Eu e meu anjo", de 1956, sofreu ataques inclementes da crítica e foi um fracasso de bilheteria, interrompendo o contrato antes de uma terceira tentativa. Para sorte do público, existe "Lua de mel agitada" para salvar um fim de semana chuvoso.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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