ARTISTA DO DESASTRE (The disaster artist, 2017, Warner Bros/New Line Cinema, 104min) Direção: James Franco. Roteiro: Scott Neustadter, Michael H. Weber, livro "The disaster artist: my life inside 'The room', the greatest bad movie ever made", de Greg Sestero, Tom Bissell. Fotografia: Brandon Trost. Montagem: Stacey Shroeder. Música: Dave Porter. Figurino: Brenda Abbandandolo. Direção de arte/cenários: Chris Spelman/Susan Lynch. Produção executiva: Richard Brener, Michael Disco, Joe Drake, Toby Emmerich, Nathan Kahane, Kelli Konop, Roy Lee, Alexandria McAtee, John Powers Middleton, Dave Neustadter, Scott Neustadter, Hans Ritter, Michael H. Weber, Erin Westerman. Produção: James Franco, Evan Golberg, Vince Jolivette, Seth Rogen, James Weaver. Elenco: James Franco, Dave Franco, Seth Rogen, Allison Brie, Megan Mullally, Melanie Grifith, Sharon Stone, Ari Graynor, Jackie Weaver, Zac Efron, Josh Hutcherson, Bob Odenkirk. Estreia: 11/9/17 (Festival de Toronto)
Indicado ao Oscar de roteiro adaptado
Vencedor do Golden Globe de Melhor Ator em Comédia/Musical: James Franco
Excêntrico no modo de vestir, falar e se comportar, Tommy Wiseau convida o melhor (e talvez único) amigo, Greg Sesteros, para ir com ele a Hollywood e tentar carreira no cinema. Depois de vários meses batalhando por uma chance - que nem mesmo o bem-apessoado Greg consegue -, o misterioso Wiseau (que esconde a verdadeira idade e a fonte de seu dinheiro) resolve arrombar a porta da indústria e fazer seu próprio filme. Dedica-se a escrever um roteiro e, quando ele fica pronto, parte para a ação: com ele e Greg nos papéis principais, "The room" começa a ser filmado - apesar das idiossincrasias de seu criador e de sua absoluta falta de talento em todas as funções (ator, diretor, roteirista e produtor). Depois de meses enervando a equipe do filme - incrédulos quanto à possível qualidade do filme -, a produção finalmente tem sua estreia marcada. Mas como será que os espectadores irão reagir diante de tanto amadorismo?
Tommy Wiseau é um personagem riquíssimo: sempre vestido de forma bizarra, com um sotaque indefinível e absolutamente reservado em relação à sua vida, ele age de maneira errática e se acredita muito mais talentoso do que realmente é - desde suas aulas de teatro até seu estrelato em "The room", um filme muito aquém de trash e hoje um cult movie por excelência. Apesar de ser pouco verossímil, Wiseau existe de verdade - e é sobre a produção de seu filme que trata "Artista do desastre", uma das comédias mais engraçadas e inteligentes dos últimos anos. Com ecos de "Ed Wood" (1994), de Tim Burton - especialmente no carinho com que o protagonista é retratado - e uma série de participações especiais valiosas, o filme agradou em cheio a crítica e poderia ter chegado facilmente às principais categorias do Oscar se não fosse um escândalo de assédio sexual que atingiu seu diretor, produtor e ator principal, James Franco. Vencedor do Golden Globe de melhor ator em comédia/musical e elogiado unanimemente, Franco acabou sendo deixado de lado pela Academia - que reconheceu com uma indicação apenas seu roteiro, adaptado por Scott Neustadter e Michael H. Weber do livro escrito pelo próprio Greg Sesteros, testemunha oficial dos fatos.
A exclusão de Franco da lista de indicações ao Oscar pode até ter sido surpresa, mas ninguém pode negar que seu filme é uma pérola. A segunda metade especialmente, quando começa a produção repleta de momentos bizarros de "The room", é simplesmente impossível não gargalhar. Ao contrário da maioria das comédias produzidas em Hollywood - algumas inclusive estreladas pelo próprio James Franco e seu colega de elenco, Seth Rogen -, "Artista do desastre" extrai seu humor não da escatologia, mas sim do absurdo de suas situações. De sua primeira aparição em cena - em uma interpretação no mínimo sui generis de Stanley Kowalski, de "Uma rua chamada pecado" - até seu final, de certa forma emocionante aos fãs de cinema -, Wiseau é uma figura absolutamente imprevisível, capaz tanto de gestos generosos (como abrigar Sesteros em sua chegada em Los Angeles) quanto de uma mesquinharia inacreditável (como não proporcionar água no set de filmagem, quente a ponto de levar uma atriz ao desmaio). James Franco encarna Wiseau com nítido prazer, entregando uma performance brilhante, que eclipsa até mesmo seu irmão, Dave, que ficou com o papel de Greg Sesteros: enquanto Sesteros é, de um modo, a voz da razão na dupla, Wiseau é um vulcão de sentimentos contraditórios - e pode, inclusive, suscitar a compaixão do público.
E se não fosse tão engraçado quanto é, "Artista do desastre" ainda tem o bônus de contar com inúmeras participações especiais, para deleite do espectador. Melanie Griffith, Sharon Stone, Megan Mullally, Bryan Cranston, Bob Odenkirk, Zac Efron, Josh Hutcherson, Jackie Weaver, Kevin Smith, Adam Scott e outros aparecem em pequenos papéis - ou em depoimentos falsos antes do filme começar (uma referência a "Reds", de Warren Beatty, lançado em 1981). É um prazer a mais identificá-los enquanto se acompanha a trajetória do protagonista em busca do lançamento de seu filme e sua esperada entrada no mercado cinematográfico de Hollywood. Seu filme,"The room", estreou em 2003, e, para não estragar a surpresa de quem ainda não sabe o final da história, basta dizer que, em determinado nível, ele conseguiu projetar-se na indústria e tornar-se famoso - mesmo que não exatamente do jeito que procurava. "The room" pode ser considerado um dos piores filmes da história do cinema, mas seu filho, "Artista do desastre", é um brilhante documento de sua realização.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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