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domingo, novembro 06, 2011

A NOSSA FALADURA - CLXX - BANDOLEIRA

A bandoleira volta de novo a poder dar jeito. Nela cabem a bucha para um dia inteiro, a botelha do tinto, e ainda podia sobrar espaço para transporte a tiracolo de algum borrego nascido tarde e incapaz de acompanhar o rebanho e até algum caçapo apanhado na lura, quando não uma lebre que tropeçasse no junco, bem lançado por pastor bem treinado.

 Ainda fiz algumas. Aquilo era, pode dizer-se, uma autêntica alcofa. Feita em cabedal  genuíno, ensebada como convinha para não se ensopar com a água da chuva, resistia a todos os maus tratos. Era tão resistente à torreira do Sol, como à maior das intempéries.

O genro da Velha Raposa, mais conhecida por Bandeira de Guerra, pastoreava rebanho misto lá para os lados da Mata da Rainha. Vinha aos xendros ver a mulher e as duas filhas de quinze em quinze dias , e a bandoleira vinha sempre com ele. Nunca vinha vazia. A filha da Bandeira de Guerra cortava-lhe a vasa e troco para os gastos domingueiros nunca havia. Papei muito coelho e lebre fora de época, porque antes de ir para casa, passava por onde ele muito bem sabia e levava logo o dinheirinho do pagamento da peça. Os coelhos ou as lebres, duma vez até um texugo porco, nunca vinham esmazelados e era um asseio  papar um bichinho daqueles em tempo fora de época. Outros tempos! Nunca ninguém sabia daquela jogada, a não ser eu e pouco mais.

Os tempos que correm são também eles tempos de bandoleira. Nada como ter a bucha garantida. Comer fora nem pensar, de modo que a alternativa eficaz é, volta a ser, garantir a paparoca, levando-a de casa.

Repete-se a história?.

Mais que académica, a questão já foi bem debatida  e se para um marxista justificar que a história é previsível e que nela, como no mais, há leis, já para outras correntes de pensamento aceitar o «18 do Brumário de Luís Bonaparte», é estultícia que nem sequer vale a pena debater. Popper está entre esses que defendem que não há repetição histórica e que previsão não passa, se se verificar, de mera coincidência. Do que não há dúvida é que é comum a tendência para fazermos efemérides e de andarmos sempre a fazer comparações entre o presente e o passado. Até parece que tudo volta ciclicamente. Não é por acaso que o mais antigo mito de que há memória é o mito do eterno retorno.

Vem tudo isto a propósito dos nossos tempos. Não que lá em casa uma sardinha desse para três, mas conheci algumas onde isso se verificava. Até parece que começamos a ter saudades desse tempo. Tudo era aproveitado ao limite: a azeitona curtida era rapadinha e raspadinha até ao caroço com navalhinha bem afiada, o conduto era sempre explorado até ao chupar dos dedos, os restos eram aproveitados para  a vianda, os dentes (quem os lavava) não eram escovados com a torneira sempre a correr, as águas residuais regavam as plantas, o dinheiro era bem contado, as despesas bem medidas, tudo, mesmo tudo era bem aproveitado. Em vez de se ter aprendido parece que se desaprendeu. Nem mesmo agora muitos já se convenceram de que não faria mal se imitassem os mais velhotes. Já nada é como era e nada se perdia se o velho mito do eterno retorno, retornasse, de facto.

Famosa na terra dos xendros por tão POUPEDA ser, era mesmo a velha Poupeda, mulher de velho Grilo, que não largava a sua bandoleira por nada. Não deixava de ser curiosa a composição das suas saias que mais eram uma manta de retalhos, já que resultavam do ajustamento, ad hoc , de tecidos, os mais variados, independentemente da textura, cor, formato, tamanho...Cozia as batatas que em princípio seriam para os porcos, numa panela de ferro que mantinha perto do lume  e ia descascando à medida que eram precisas. Azeite nem vê-lo. Apenas três azeitonas e um naco de pão já bem assente para surdir mais. Um chicharro era dividido em três: uma parte era assada, o rabo frito e a cabeça cozida. Dava para ela e para o Grilo para três vezes. Sempre descalça, rivalizava com a velha Lorpa, com a Pieres e a velha Nacha, vedetas que um dia destes aqui vos aportarei. O velho Grilo até dizia, para de algum modo disfarçar este aforro que era capaz de beber cinco litros só a lamber um caroço de uma azeitona galega e bebia uma pipa com uma cordovil. Fácil de consolar como se vê. Durante uma semana inteira só se lhe conhecia uma camisa... E assim viveram até tarde.

Foi gente como esta que não importa que permitiu que este país superasse a crise do pós-guerra.

O melhor que fazemos é também recuperar a bandoleira e andarmos sempre com a bucha às costas. Pode ser que ajude!

XIIIIIIIIIIIII GGGGRRRRRRRRRRRAAAAAAAAAAAAAANNNNNNNNNNNNDDDDDDDDDDE
changoto

terça-feira, dezembro 01, 2009

A NOSSA FALADURA - CXLV - MORRINHA

Água de cuco só molha quem está enxuto, já dizia o velho comandante, que, mesmo com morrinha não deixava de colher azeitona. Era velho dum raio: nada o vergava, nem frio nem calor, nem fome, nem sede, nem doença, nem pão rijo, nem morcela já rançosa. O queijo, seu conduto preferido, deixava-o embrulhado em folha de botelha, no meio do arcaz da semente e, como não lhe punha indicativo, sempre que precisava dum, praguejava por céu e terra, a ponto da velha Pássara (era a parteira oficial de toda a aldeia - foi ela que me foi buscar ao Fundão) vir ao balcão da casa contígua a barafustar: "num viesse um raio que queimasse a língua, comandante do inferno! Já lá tens o lugar guardado" « Vá pra quem a lambeu, velha dum corno» O azedume era notório, mas mal ela precisasse dum chirrichichi de azeite, ou uma brasinha pra atear o lume de manhã, ou um golo de aguardente para matar a bicheza e desinfectar um dente que escarafunchava com um pau de travisco aguçado e lhe doía,..., logo a Pássara batia à porta do velho Comandante.
Não longe morava a velha Nazaréi, mãe de Zé Lopes, enxertador de nomeada, lagareiro afamado e angariador de povo para excursões a tudo quanto fosse visitável: Srª de Fátima, santa de Alenquer, capela dos ossos, Viana do Castelo, Gerês, Nazaré ... e mais caseirinho, a Srª do Incenso, do Bom Sucesso, do Almortão e da Póvoa, que sei eu, Santa Luzia do Castelejo, Serra da Estrela, barragem Castelo do Bode,..., nada lhe escapava.
Aos Domingos, depois de missa, lá andava ele de tasca em tasca, da Rosa ao Zé Rolo, do Chico ao Fatela, deste ao Cavalheiro, vinha ao adro, especava-se na estrada, sempre de livreta na mão, pronto a assentar o nome e a indicar o lugar na camioneta. A meio da tarde já não dizia coisa com coisa e não se cansava de apregoar as suas competências, que não havia na área enxertador como ele e que se às vezes lhe falhava uma enxertia, a culpa era do cobridor que não tinha cuidado e lhe desandava a pua que ele ajustara com a sua própria saliva depois de aguçada com um só corte da sua navalha enxertadeira, de tachas em freixo que ele próprio fizera, e que até fazia a barba aos pêlos das pernas de uma cachopa.
Já que se fala em enxertadores, é dever de xendro nomear o velho Cucharra, homem pesado, que já mal conheci, mas que a partir de meados de Fevereiro não descansava um dia a espalhar arintos, rufetes, rabos de ovelha, baldrões, ferrais, dedo de dama, uva formosa, moscatel e outras castas. Uma bomba, este Cucharra. Era capaz de andar, um dia a cavalo noutro, sem nunca se endireitar, sempre curvado a fazer finco nas cruzes, sem se queixar. Comia uma quarta de feijão frade com cebola e muito azeite, e um galo dos grandes, daqueles das bodas, não lhe fazia papo. Valente Cucharra: o nome advinha-lhe do facto de ter a mão encurranchada por mor de uma cortadela feita pela enxertadeira. Ia até aos Três Povos a sua fama, para Norte, e Alcafozes e Idanha-a-Velha ainda hoje têm vinha de enxerto do velho Cucharra.
Voltemos ao Zé Lopes e às suas excursões...
Duma vez tem uma ideia genial: queria comprar mais uma tapada limítrofe da sua na fonte salgueira e o dinheiro era curto.
Vai daí, andou dois meses a guardar garrafões de plástico vazios- inda eu lhe levei muitos -.
A excursão era à Nazaré. Encheu o fundo da camioneta com os garrafões e, a meio da viagem, começa a cair uma morrinha chata, miudinha, basta quanto bastasse.
Zé Lopes tinha-a fisgada e desde cedo começa a dizer que ninguém podia ir ao mar porque a água estava a ser analisada porque era do melhor que havia para o reumatismo. Ele tinha acautelado o caso e tinha escrito um postal ao Presidente da Junta da Nazaré que o autorizou a encher 100 garrafões de água do mar , mas cada um custaria 5$00.
Quem sofresse de reumatismo tinha que largar os tais 5$00, mas só ele é que podia ir encher os garrafões.
Assim foi. Os garrafões tiveram venda garantida e Zé Lopes lá angariou mais 500$00 de lucro, às abas da água salgada do Atlântico, que eram uma boa ajuda para a compra da Tapada.
E o caso ficou ainda mais sério e a veracidade do diagnóstico reumatismal foi exponenciado quando Manta-Rota, seu sucessor nestas andanças excursionistas, que entretanto tinha espetado uma sorna, devido aos etílicos, lança os olhos ao mar e exclama:« A água há-de ser mesmo boa para o reumatismo... Olhar além... inda há bocadinho a água chegava ao cimo do paredão e agora já vai ao fundo. Os gajos têm-se fartado de vender água» Todos olharam e confirmaram.
Zé Lopes asseverou: "Só lá apanha água quem tiver ordem, mainada". A morrinha recomeçou e até à aldeia ninguém falava doutra coisa senão do jeito do Zé Lopes para aquelas lides.
XXXXXXXXXXXXXIIIIIIIIIIIIIIIIII GGGGGGRRRRRRRRAANNNNNNDDDDDDDDDDDDEE

sexta-feira, setembro 04, 2009

A NOSSA FALADURA - CXL - BANDOLEIRA

O natural é o caos. Já assim era com Hesíodo. Só quando Cronos toma conta do Caos é que a ordem surge: tinha aparecido o tempo e o tempo tem ritmo, ordem, sucessão. Por isso Cartesius lhe chama a ordem das sucessões. Mais ou menos como aprendíamos quando éramos crianças: a história (esse estudo científico que indaga o passado para bem compreender o presente e até prever o futuro), a história é a sucessão sucessiva de sucessos que se sucedem sem cessar...
Por isso se pode falar da eternidade de Deus: como não havia tempo antes de ele ter criado a sua obra, então é eterno. De facto só pode falar de ANTES e DEPOIS quando a obra aparece. E ao primeiro dia Deus disse : faça-se noite e fez-se noite e fez-se dia. Na mitologia grega foi o Érebo que gerou a noite que gerou o dia e por aí fora. Só há tempo e, portanto, ordem, quando algo aparece. Que somos nós senão uma efemeridade temporal? Só contamos no ínfimo intervalo de tempo, enquanto vivemos. O tempo começa para nós quando nascemos -lá está no B.I. - e termina quando nos apagamos - e lá está na certidão de óbito - mas essa data já não a lemos, porque já não estamos no tempo. Durante um ligeiro instante passamos pelo "laser" do tempo e vemos e somos vistos. Antes não éramos e depois já não somos. É sempre assim: quem nasce traz consigo o embrião da morte.
O primeiro vestígio, que eu saiba, deixado pelo homem, em que claramente se pode ver uma tentativa de contar o tempo é uma espécie de cobra de madeira onde constam 28 ranhuras. Exactamente o período de uma órbita lunar. Essa constância levou o homem a registá-la. Daí veio o mês, mas o ano não tinha doze, tinha dez: daí que Setembro fosse o sétimo mês e Dezembro o décimo e não o 12º. A culpa foi dos césares: Caio JÚLIO César e Octávio César AUGUSTO, que se auto imortalizaram incluindo os meses de JULHO e de AGOSTO, o que fez com que nem OUTUbro fosse o oitavo, nem NOVEmbro o nono.
Seria fastidioso que eu agora vos tentasse explicar aqui como o meu avô, o velho Comandante, me ensinou a ler as horas à noite. Mas o erro não é grande e nunca perdia o combóio se me regulasse por esse relógio empírico. Adiante.
Raro teria sido o garoto xendro do meu tempo que não tivesse guardado uns borregotes. A mim também me calhou. Já aqui vos contei que ainda me apalparam as fúcias porque eu não sabia que o borrego acarrava e cheguei a casa antes do tempo - cá está outra vez o tempo -.
Havia na aldeia e nas circunvizinhas rebanhos valentes, tanto de ovelhas como cabradas. Sabia-se o dono pela música dos chocalhos: da casa Megre, da casa Campos, da Casa Franco Frazão, do velho Barroso, do Labouxa, do Stronca Brochas, do Puta Maluca, do Tonho Pedro, do ti Domingos Landeiro, dos Abades, dos Compõe, ..., Conhecia-se ao longe o som o reboleiro e o rebanho estava identificado e localizado. Técnicas de outros tempos em que não havia chips nem GPS. Era outra a ordem da vida como era outra a ordem do tempo. O tempo tinha outro ritmo: nada era virtual. Tudo se limitava ao local e ao presente próximo. Não dava tempo para outras cavalgadas ou ritmos.
Em regra, as grandes casas tinham pastores, ganhões, quinteiros, juntas, vacadas, cavalos,... e um capataz quando das colheitas agrícolas: ceifas, azeitona, malhas, sementeiras,... e um Maioral, o pastor dos pastores.
Era vê-los, Domingo, depois de missa, fato de sarrabeco (=surrobeco), jaqueta ao ombro ,colete justo, camisa bordada, relógio de bolso suspenso de casa de botão por corrente de prata reluzente, sempre polido e certinho, bota cardada, espora brilhante em tacão alto, chapéu de aba larga, castanho de mel, patarras descidas, ....; nem a jogar ao fito ou à raioula tiravam a indumentária. À tardinha lá iam a cavalo ou de macho "ver do vivo que não tem Domingos"
Os maiorais e os capatazes não tinham bandoleira. Os pastores , esses todos tinham. E mais: a bandoleira não tinha compartimentos. Aquilo era uma sala grande onde cabia tudo de tudo: era um caos... Mas tinha uma ordem: a ordem acidental que opastor lhe dava quando metia tudo outra vez na bandoleira. Cabia tudo ... Fosse como fosse.... A ordem variava. Como nós...
O maioral e o capataz comiam no rancho, ali onde ficavam as furdas, os bardos, as cavalariças, as eiras a horta da casa, a adega, as lojas e os celeiros, tudo o que era governo de ano inteiro para a casa, eles não precisavam de bandoleira. Já não era assim com os pastores que andavam por lá, dormiam em choças, bebiam água das fontes com o gado e, por isso andavam sempre limpas, e só vinham às vezes ao fim de semana reabastecer de tabaco, conduto e uma cabaça de vinho. A bandoleira era toda em cabedal, incluindo a cinta que a prendia a tiracolo por detrás das costas. O princípio era sempre o mesmo: a capa e a merenda nunca ficam na fazenda. Era na bandoleira que ia a merenda: pão, e conduto: toucinho, queijo, alguma chouriça, um naco de presunto, e no princípio a perna de algum galo ou ovelha badana cozida no panelão de ferro. Era tudo bom, nunca havia azia e as horas de comer era quando calhava que era preciso guardar bem o gado, mais agora no tempo das vindimas, assistir a partos, tosquiar, ordenhar, mudar o bardo,.... Era a vida.
Não hvia pastor que não fosse hábil a atirar o cajado e nem sempre era para tornar a ovelha tresmalhada ao rebanho: conheciam de cor luras, camas de lebre, ninhos de perdiz, pirolis, codorniz e cotovia, cova de texugo, tudo.
Comi muito coelho que alguns vendiam e traziam invariavelmente na bandoleira, para poder comprar uma onça de tabaco HOLANDEZ e dois livros de mortalha TORO para acigarrarem nas horas mais calmas de solidão.
E pronto. Hoje não vos trago herói. Trago-vos uma caterva deles.
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domingo, maio 31, 2009

A NOSSA FALADURA - CXXXV - PARRANÇO

Muitas são as expressões populares para designar barriga cheia: bandulho, papo, blusa, camisa, tripa (tudo CHEIO) mas esta de parranço é uma das mais frequentes na zona da raia.
Por tradição e até cultura - convém dizer que a tradição é um dos elementos da cultura - o português é bicho para enfardar o que quer que seja, desde que seja muito, não se preocupando muito com a estética do prato. Aquelas novas modas da cozinha contemporânea em que são mais os riscos a borrar o prato do que o entulho comestível não casam muito com o lusitano vero. Nem que sejam azeitonas com batatas cozidas com casca (mas descascadas à hora) é preciso é que se encha o papo. A sensação de fartura é algo predominante na cultura portuguesa. A comer, os portugueses gostam sempre de MUITO. Se for BOM, ajuda, mas não é indispensável. Se houver fome, então, até pão e navalha como conduto chegam... mas que haja pão. Não se passe como na malha do velho Elias em que a Rouca perguntou ao Estronca Brochas: "atão o pão chegou?" e ele:« foi o pão a acabar e as navalhas a fechar».
Já nos tempos dos reis, mormente D. Dinis, esse esposo infiel da Rainha Santa, havia o direito de comedura: por onde quer que passassem os reis tinham por direito de suserania a posse de todos os haveres das terras, para si e seu séquito, até mesmo das mulheres. Não admira que os reis tivessem tantos filhos bastardos. Como sói dizer-se: «É fartar vilanagem». Até mesmo quando sob o domínio filipino e antes, na crise de 1383-85, Tomás Ribeiro em D. Jaime propalava: «Portugal é lauta boda onde come a Espanha toda».
A afirmação: deus criou o homem (independentemente da falacidade) e o português criou o mulato" já nesta altura era visível...
Voltemos ao D.Dinis: Oh Damas por quem me aflijo / oxalá vós consintais/ que eu introduza por onde mijo/ onde, por onde vós mijais. Esta lubricidade tem a ver com o parranço cheio: onde quer que vão - e foram a todo o lado - sempre a genética lusa deixou marcas: «para ficar completo tem que se deixar aqui semente.» E se eles deixaram! provavelmete será dos povos que mais genes espalhou. Não bastava encherem a barriga deles, tinham que encher a barriga às mulheres. Má bicharada esta, a Lusitana!
A lubricidade desta gente é tal que nem os santos, mesmo os mais populares, se escapam à brejeirice da versejação: em Amarante, por exemplo, o próprio bolo (espécie de cavaca de diferentes tamanhos - O S. Gonçalinho (vai lá vai, a ajuizar pelo tamanho), tem a forma de um falo e é frequentemente invocado, até mais pelas mulheres do que pelos homens para que a eles nunca lhes falte a virilidade do pastor amarantino : "S Gonçalo de Amarante/ casai-me que bem podeis/ Já tenho teias de aranha/ no sítio que vós sabeis", e nem o Senhor de Matosinhos se escapa «Oh senhor de Matosinhos /que estais virados para vila /virai-vos pró outro lado /que vos bate o sol na pila. ».
Dê a volta que der ,a conversa entre lusitanos vai sempre a parar ao mesmo sítio: aos genitais. Mainada!
Entre os xendros houve verguios que espalharam semente comédado: o meu avô materno - que já não conheci - , embora de duas mulheres, deixou dezasseis filhos. Valente! Encheu bem o parranço. Só morreu um, de pequeno, com o que na altura se chamava o garrotilho-
difteria, para os entendidos- julgo -.
Ora vamos à estória: coiote pete, toco jabão, brutamontes, jabão pitincouro, albardinhas bertcho, teixeirinha, velho ourives e, claro, eu, na padaria do dito albardinhas, quando era ainda no Outeiro, perto do Domingos Molhano, fomos mamar uma coelha prenha que coiote tinha roubado ao Domingos Refe ali para o caminho da lomba: apalpou e o que lhe pareceu maior é que trouxe.... calhou coelha... A fome não escolhe qualidade e o parranço estava oco e pronto ... Toca com a coelha para a caçola, temperada como mandavam as regras, batatinha nova para outra caçola e ala! dentro do forno da padaria, antes da fornada que pitincouro batia assim mesmo comédado. Caçolas tapadas com telho de alumínio, fiscalização atenta, sueca a matar tempo, tinto a escorrer com chouriça gamada por coiote pete à mãe, e mal aquilo estava engrolado toca a encher a blusa que a hora era tardia, pitincouro tinha o pão finto e estava tudo com a galga. A coelha era enorme, comeu-se à grande e sobrou batata que nem vos conto... Sobrou? Toco Jabão aposta com teixeirinha e emborcou o resto do batatal. Nem uma que ficou.
Mamamos todos gambas na Rosa à conta do teixeirinha. Enchemos mesmo o parranço e a história revivida do batatal papado por Toco Jabão.
Outros tempos outros hábitos .
XXXXXXXIIIIIIIIII GGGGGGGGRRAAANNNNNNNNNNDDDDDEEEEEEEEEE.