Quando os "Gato Fedorendo" leram excertos do livro no programa eu pensei que eles eram uns exagerados e que não se fazia, gozar assim com uma pessoa: não acreditei que alguém fosse capaz de escrever coisas daquelas a sério! Pelos vistos também sou um bocadinho inocente!

Outro exemplo de parolice (fora a "família real", que é regra geral imbatível) foi uma criatura que disse qualquer coisa como: "gosto da sensação de ter uma coisa a mexer dentro de mim". As vossas mentes porcas a esta hora estão a pensar em tudo menos no contexto em que esta barbaridade foi dita. Quem disse isto foi... Diana Pereira, modelo grávida de Tiago Monteiro. Digo eu que não é preciso estar grávida para... bom, não interessa! Adiante!
Neste momento se houvesse um prémio para o maior parolo de todos os tempos, o prémio era capaz de ir para um grande português, já repetente nestas andanças. Foi até considerado o maior português de todos os tempos: o Prof. Doutor António de Oliveira Salazar!!! Na impossibilidade de o traste receber o prémio, estava capaz de o dar à Micas.
Pois este Natal (época de parolice por definição) acho que vou pedir um livro! Concretamente
"Os Meus 35 Anos Com Salazar", de Maria da Conceição Rita, aka Micas. Eis a sinopse (e olhem para a fotografia... que nojo!):
"«Salazar entrou devagar na minha vida, sem eu dar por isso, ainda na minha infância. Quiseram logo a seguir separar as nossas vidas, mas revoltei-me e não deixei. Acompanhei-o assim até ao fim da vida dele.»"
Durante 35 anos, Maria da Conceição Rita privou com António de Oliveira Salazar. Nenhum laço familiar os unia, mas com apenas seis anos, Micas, como Salazar carinhosamente a chamava, foi viver para a residência do «Senhor Doutor», por intermédio da sua familiar (por afinidade) Maria de Jesus Freire, a governanta de Salazar.
Na primeira pessoa, a pupila de Salazar conta-nos os gostos gastronómicos do seu «protector», descreve o seu quotidiano até agora desconhecido, evoca as fábulas que o Presidente do Conselho lhe contava ao adormecer, recorda tanto as lições de tabuada e História como as raras confissões políticas que ele lhe fazia em passeios nocturnos pelos jardins de São Bento, explica a forma como a economia doméstica de São Bento era dirigida."
Li o artigo sobre o livro numa revista cor de rosa quando estava no cabeleireiro e fiquei com os cabelos em pé (não ajudou ao penteado)! Antes de mais por ter lido o que li no sítio onde o li: então agora Salazar é cor de rosa chic? Bem, está no sítio certo, de certo modo!
Fiquei pasma com várias coisas: o que é que a Micas foi fazer para casa do Salazar, se nem da família era. Não diz isso em lado nenhum e eu gostaria de saber. Mas o que acontece numa dada altura, num determinado contexto pode parecer certo. O que me espanta é que ainda hoje a Micas encare isso com naturalidade, quando já tem idade para ter juízo!
Que encare com naturalidade o facto de a governanta criar galinhas no Palácio de São Bento, à revelia do Salazar (afinal, o chefe de um Império!), a bem da economia doméstica também me ultrapassa! O cúmulo da parolice: chega a dizer que se vendiam os pintos e os ovos para um grande hotel, onde um hóspede na época entre as guerras não os dispensava. O nome do hóspede: Calouste Gulbenkian! Oh, santa parolice, rezai por nós que não temos salvação possível! Ao pé disto, Phone-ix como nome de uma rede de telemóveis parece-me francamente de bom gosto!
A Micas é ainda coerente quando explica que Salazar pegou numa vassoura para lhe ensinar como se varria: da esquerda para a direita, de um lado para o outro. Eu ainda ia javardar a dizer que o homem talvez tivesse pensamentos pecaminosos com o cabo da vassoura, mas acho que já chega de porcaria!
Ainda não comprei o livro (devo comprá-lo, por curiosidade), mas tudo isto me revolta o estómago! Aborrece-me sobretudo pensar que o nosso país tenha conseguido aguentar um ditador parolo e mediocre destes tanto tempo! O que é que se passava connosco, porra? Como é que só nos sacudimos daquele regime passado tanto tempo?
De momento estou a ler o livro da Zita Seabra, mas ela não tem uma fluidez de escrita que me prenda (e ando um bocado alvoada) por isso estou a ler devagar. Mas já aprendi umas coisas e compreendo melhor o que já tinha observado na Faculdade: andei sempre com os comunas (porque eram mais divertidos e porque calhou), estranhamente, e sou conotada politicamente tanto com direita como com esquerda, por isso estou um pouco confusa. Ou não: na volta não pertenço mesmo é a nenhum! Mas também tem elementos de parolice, inocência e de uma malvadez meia escondida.
Agora o manifesto do eu, parolinha: como é que eu e a minha geração, os nascidos e/ou criados em ambiente de liberdade não somos melhores e não nos sacudimos mais? Quando afinal até tínhamos obrigação para mais! Ou temos outros grilhões? Será que a única maneira de lutar pela dignidade, pela liberdade, pelo trabalho é ir para manifs ou escrever blogues reaccionários a dizer mal de tudo e de todos? Algo aqui não está bem! Olhando para o passado vê-se o porquê de certas coisas, mas não de todas. E está visto que a minha geração precisa de um paradigma novo. De ver exactamente quais as causas por que quer lutar e como se faz a luta de forma justa e eficaz. E fazer a luta, mais que não seja contra a parolice! Já é uma boa causa!
P.S. Espero que o texto faça sentido, porque foi escrito a prestações.