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segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Não acredito, isto não pode ter acontecido

Celebra-se com pompa e circunstância a queda do muro de Berlim. E eu recordo-me da alegria que foi há 20 anos abrir os noticiários e ver (para variar) só gente feliz de martelos e maços na mão para abrir brechas naquela... coisa e derrubá-lo de uma vez por todas! E todos os muros simbólicos que se seguiram, incluindo a morte daquela coisa que foi o casal Ceausescu.

Toda a gente fala do quão maravilhoso foi... e eu só consigo pensar: mas como é que isto foi possível sequer? Cheguei a pensar que aquilo não podia ser, que um país não podia estar dividido em dois por um muro (a face visível de um muro ainda maior entre o Este e o Oeste). Uma vez que eu nunca tinha visto o semelhante, era inteiramente possível (embora algo rebuscado) que o muro de facto não existisse e que aquelas imagens fossem o resultado de uma qualquer teoria da conspiração, como as imagens da ida à lua que (como toda a gente sabe) foram filmadas nos estúdios de Hollywood, porque é um disparate que alguém algum dia tenha posto os pés na lua. Onde é que já se viu o semelhante... homens a ir à lua... disparate!

Essa desculpa deixou de fazer sentido quando eu mesma fui a Berlim e vi os poucos pedaços de muro que restavam, o checkpoint Charlie, o museu do mudo e uma linha metálica que serpenteava pela cidade marcando o percurso do cabrão do muro...

... e mesmo vendo com os meus próprios olhos eu simplesmente não conseguia acreditar...

domingo, 13 de julho de 2008

“No tempo do Salazar é que era bom, havia respeito e as coisas funcionavam em condições...

... ainda há quem diga mal do Salazar, que era um grande homem! No tempo dele vocês andavam todos direitinhos, não é como agora que andam aí todos desorganizados e com as costas ao alto! Pois é, no tempo do Salazar é que era bom! Ah, pois! Foi só chamar o patrão que agora até corre tudo! Vocês precisavam era do Salazar, que era um grande homem! Só tenho pena foi da fome que passei nessa altura!”

Não sei quem disse isto. Não sei se era branca, se era preta, alta ou baixa, gorda ou magra, mas espero que fosse muito velha e estivesse completamente com os pés para a cova, que é para eu não ter que a ouvir mais. Nem eu nem ninguém. Não olhei para ela para não ter a tentação de olhá-la nos olhos, esquecer o respeito por uma pessoa mais velha e dar-lhe a respostada que ela merecia ou um par de chapos. A senhora quase tinha um orgasmo múltiplo em público a dizer aquelas alarvidades. Não sei o que a afligia (fora burrice aguda e falta de educação), mas aposto que saiu curada.

A cena passou-se quando fui fazer uns exames a uma clínica e onde pelos vistos se acumularam algumas pessoas no balcão. De facto o balcão não era o mais eficiente, mas nada que justificasse aquele desabafo fascista e não se resolvesse como resolveu: chamando as chefias ou só pedindo com jeitinho.

O facto em si não seria relevante e não me preocuparia se não fosse já uma tendência: tenho lido reinterpretações da História que me deixam de boca aberta, de pessoas novas e velhas, com e sem estudos. O que reforça a minha ideia de que todos os livros de História deviam ser queimados e todos os docentes da disciplina e historiadores deviam ser despedidos e começar a trabalhar no McDonald’s ou a plantar batatas, por exemplo, onde seriam mais úteis à humanidade*. E porquê? Porque foram incapazes de fazer o seu trabalho e mostrar às pessoas o que realmente foi a História. Em vez disso, cada qual lembra-se do que quer e como quer e reescreve o que não se passou de forma romanceada. Um perigo!

De qualquer modo, passava-se fome na altura do Salazar, mas não havia colesterol nem tensão alta. A parte realmente boa é que aquela senhora possivelmente estaria caladinha no tempo do Salazar. Ou morta há muito tempo. De fome ou necessidade de outra coisa qualquer que o nosso tempo e a liberdade conquistada por pessoas com as suas falhas mas uma grande coragem lhe proporcionaram.

É triste que se suspire por salvadores da pátria. Quando eles não existem ainda é naquela; quando existiram e comprovadamente não o foram ainda pior. É triste que quem manda não sinta o pulso ao povo e não lhe sinta o descontentamento e todas as suas consequências. Não só neste país, estou em crer. Diz a História que este é o tipo de atitude que pode dar asneira... mas esta gente parece que não aprende e tem estudos para mais!

A parte boa é que os exames que fiz me revelaram que eu não vou morrer. Nunca! Mesmo nunca! Vou viver para sempre! Milagres da Medicina moderna! Adoro médicos! Mas só os que dão boas notícias. E fiquei toda besuntada com gel de ecografias. Não sei a relevância, mas há-de fazer bem à pele! Acho! Também fiquei um pedaço mais leve... infelizmente a perda de peso foi muito localizada e limitou-se essencialmente à carteira e à meia dúzia de gramas que perdi por estar sem comer um monte de tempo.

Morte ao Salazar!


* Espero que seja óbvio que isto é uma demonstração do meu exagero.