Entre Fadas e Borboletas circulamos. Neste movimento transitório, inalterável, percorremos. Entre mistérios e paraísos lilases equilibramos. Entre matizes rosas e azuis voamos. E nos canteiros perfumados cultivamos. As flores mais lindas colhemos. Rosas vermelhas ou brancas exalamos. E nas manhãs de verão, nos amamos. (Paty Padilha)
sexta-feira, 28 de março de 2008
Fumo
Longe de ti são ermos os caminhos.
Longe de ti não há luar nem rosas,
Longe de ti há noites silenciosas,
Há dias sem calor, beirais sem ninhos!
Meus olhos são dois velhos pobrezinhos
Perdidos pelas noites invernosas...
Abertos, sonham mãos cariciosas,
Tuas mãos doces, plenas de carinhos!
Os dias são outonos: choram... choram...
Há crisantemos roxos que descoram...
Há murmúrios dolentes de segredos...
Invoco o nosso sonho! Estendo os braços!
E ele é, ó meu Amor, pelos espaços,
Fumo leve que foge entre os meus dedos!...
(Florbela Espanca)
A laranjeira
Perfumada laranjeira,
Linda assim dessa maneira,
Sorrindo à luz do arrebol,
Toda em flores, branca toda
- Parece a noiva do Sol
Preparada para a boda.
E esposa do Sol, que a adora,
Com que cuidados divinos
Curva ela os ramos, agora!
E entre as folhas abrigados,
Seus filhos, frutos dourados,
Parecem sois pequeninos.
(Júlia Lopes de Almeida)
Real(ista) no meu ponto de vista
Dizem que sou poeta
não me penso assim
talvez pensante
irreverente em idéias
ousada em postura
mas poeta
sou não ,sou um meio,não um fim
Dizem que as palavras fluem
com tons de amor
naquilo que expresso
talvez me acreditem uma sonhadora
muito mais que idealista
sou uma realista no começo
Dizem que quando analiso as letras
elas se colocam da forma
que muitos gostariam de escrever
ainda assim
sou poeta não
mas amo de paixão,
a poesia do tempo que vivo
a prosa do momento que me encaixo
a estrofe de minhas emoções
e o verso que vem do fundo
desta alma ainda semente.
(Neguinha Mucelli)
"A vida me ensinou...
A dizer adeus às pessoas que amo,
Sem tira-las do meu coração;
Sorrir às pessoas que não gostam de mim,
Para mostra-las que sou diferente do que elas pensam;
Fazer de conta que tudo está bem quando isso não é verdade,
Para que eu possa acreditar que tudo vai mudar;
Calar-me para ouvir;
Aprender com meus erros .
Afinal eu posso ser sempre melhor.
A lutar contra as injustiças;
Sorrir quando o que mais desejo é gritar todas as minhas dores para o mundo,
A ser forte quando os que amo estão com problemas;
Ser carinhosa com todos que precisam do meu carinho;
Ouvir a todos que só precisam desabafar;
Amar aos que me machucam ou querem fazer de mim depósito de suas frustrações e desafetos;
Perdoar incondicionalmente,
Pois já precisei desse perdão;
Amar incondicionalmente,
Pois também preciso desse amor;
A alegrar a quem precisa;
A pedir perdão;
A sonhar acordada;
A acordar para a realidade (sempre que fosse necessário);
A aproveitar cada instante de felicidade;
A chorar de saudade sem vergonha de demonstrar;
Me ensinou a ter olhos para "ver e ouvir estrelas", embora nem sempre consiga entendê-las;
A ver o encanto do pôr-do-sol;
A sentir a dor do adeus e do que se acaba, sempre lutando para preservar tudo o que é importante para a felicidade do meu ser;
A abrir minhas janelas para o amor;
A não temer o futuro;
Me ensinou e esta me ensinando a aproveitar o presente, como um presente que da vida recebi, e usá-lo como um diamante que eu mesma tenha que lapidar, lhe dando forma da maneira que eu escolher.
(Charles Chaplin)
"Você é sempre um poema, algo que evoca ao bem, a verdade, a um certo mistério, um ar de melancolia. Algo juvenil, pueril mas com uma lascívia profunda a espera de ser libertada. Inacabada, versos brancos, com alguns rabiscos, algumas mudanças, mas inebriante, vestida de tomara que caia, com rosas colombianas vermelhas aos pés, exalando um perfume que toma conta, quase palpável, e um olhar de sacerdotisa egípcia que pode ser Nefertiti ou quem você quiser, porque você pode ser todas e nenhuma sempre."
(Gabriel Villaça)
ROSA AZUL
Era uma rosa azul, rara e formosa,
esplêndido lavor da Natureza,
que um dia apareceu, misteriosa,
num vermelho jarrão da arqui-duquesa.
Deparando o arqui-duque a flor graciosa,
sorriu a um pensamento. . . e, com leveza.
à tardinha, depois, a linda rosa,
perfumava o aposento da marquesa.
E quando a lua - a protetora eterna -
redoirava o palácio dessa história,
tremia, em mãos reais, a bela flor
que logo de manhã, numa taverna,
fenecia, a sorrir, cheia de glória,
na bandurra gentil de um trovador.
(Marcos Sandoval)
VERDADE
A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.
Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.
(Carlos Drummond de Andrade)
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