domingo, 8 de junho de 2008

Era Digital



Primaveras inventadas
suplicam noites
beijos
serenatas

Para que depois da
festa
se percebam flores dispersas
sem ícones justificados.



Dora Alvarenga

Lísias


No dia em que resolvi partir
uma fada ruiva me acenava
(e era uma sereia que cantava)
Abria os braços lívidos me chamando
à volúpia de uma viagem
que era promessa de luxúria eterna.

Quando ela canta vou me desfazendo,
meio adormecida, meio desmaiada,
hipnotizada com sua melodia,
que é rio,cachoeira: liberdade!
Seus vales brancos
que não explorei
ainda me chamam
com pessegueiros carregados
de frutos rosáceos
e sumarentos

Vou ao seu encontro:
cadáver manso
obediente à cova doce que me atrai
com essa existência
que dia à dia me trai.
Dá-me a grinalda, fada ruiva,
que eu, vencida e parva, a escolhi
para ser a minha pálida noiva


Adriana Manarelli
Dedo Minguinho

Dedo mindinho
Seu vizinho
Pai de todos
Fura bolo
Mata Piolho

Este diz que quer comer
Este diz que não tem de que
Este diz que vai roubar
Este diz que não vá lá
Este diz que Deus dará

Dedo miudinho
Seu vizinho
Maior de todos
Fura-bolos
Cata piolhos

Este diz que está com fome
Este diz não tem o que
Este diz vai furtar
Este diz que não vá lá
Este diz que Deus dará


(Luís da Câmara Cascudo, in ROMERO, Sílvio. Cantos populares do Brasil)