Universidade Federal de Minas Gerais Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo Da Vida Silvestre
Universidade Federal de Minas Gerais Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo Da Vida Silvestre
Universidade Federal de Minas Gerais Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo Da Vida Silvestre
Belo Horizonte
2016
Fernanda Figueiredo de Araujo
Belo Horizonte
2016
AGRADECIMENTOS
À minha coorientadora Reisla Oliveira pela atenção, ensinamentos e por todas as suas
contribuições.
Aos amigos do Grupo Plebeia pela ótima convivência, em especial ao Matheus, Ana
Luisa, Nathália e Samuel pela ajuda no campo. Ao José, pela amizade, pelas conversas,
troca de conhecimento e ajuda nas analises estatística. À Paula Calaça pelas dicas de
analises polínica e estatística. À Bruna pela amizade.
Aos membros da banca, Alberto López Teixido e João Renato Stehmann, pelas ótimas
contribuições.
Aos familiares, em especial Tia Ester por me acolher em sua casa e Natália pela
amizade.
E finalmente meu agradecimento para aquelas pessoas que são as mais importantes em
minha vida e sem os quais chegar até aqui não seria possível! Aos meus pais, Carla e
Benício, por todos os ensinamentos, apoio e amor incondicional. Às minhas irmãs,
Paula e Júlia, por todo o amor e por trazer tanta felicidade à minha vida. Obrigada por
compreenderem minha essência!
SUMÁRIO
Espécie estudada..................................................................................................................... 14
RESULTADOS ...............................................................................................................18
Morfologia e biologia floral ..................................................................................................... 18
DISCUSSÃO ...................................................................................................................27
REFERÊNCIAS ..............................................................................................................31
CAPÍTULO II ................................................................................................................36
RESUMO ........................................................................................................................37
INTRODUÇÃO ...............................................................................................................38
MATERIAIS E MÉTODOS............................................................................................39
Local de estudo ....................................................................................................................... 39
Espécies estudadas.................................................................................................................. 40
Comportamento de forrageio de pólen .................................................................................. 41
RESULTADOS ...............................................................................................................42
Caracterização da mancha de flores ....................................................................................... 42
REFERÊNCIAS ..............................................................................................................47
6
INTRODUÇÃO GERAL
7
REFERÊNCIAS
ASHMAN, T.L.; KINIGHT, T.M.; STEETS, J.A.; AMARASEKARE, P.; BURD, M.;
CAMPBELL, D.R.; JONHSTON, M.O.; MAZER, S.J.; MITCHELL, R.J.; MORGAN,
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RICKLEFS, R.E. & RENNER, S.S. 1994. Species richness within families of flowering
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8
SCHLINDWEIN, C. 2004. Are oligoletic bees always the most effective pollinators? In
Freitas BM, Pereira JOP (eds) Solitary bees. Conservation, rearing and management for
pollinators. Fortaleza, Imprensa Universitária, 285p.
SIMPSON, B. & NEFF, J. 1981. Floral rewards: alternatives to pollen and nectar.
Annals of the Missouri botanical Garden 68: 301-322.
9
CAPÍTULO I
10
RESUMO
11
INTRODUÇÃO
12
branca ou vermelha. Já as espécies esfingófilas, têm flores com corola branca,
produzem forte odor noturno e quantidade considerável de néctar. A esfingofilia ocorre
em apenas uma espécie, P. axillaris. As flores das espécies polinizadas por beija-flores
(ornitofilia) apresentam corola vermelha, com estigma e anteras geralmente excertas.
Em Petunia, apenas P. exserta é uma espécie ornitófila. (Stehmann et al., 2009; Klahre
et al.2011; Fregonezi et al. 2013).
Interações altamente especializadas são reportadas para o gênero Petunia. Além
disso, abelhas oligoléticas foram destacadas como os principais polinizadores de
algumas espécies. Essas abelhas restringem a coleta de pólen a poucas espécies
vegetais, da mesma família, gênero ou até de uma única espécie (Linsley, 1958; Cane &
Sipes, 2006), como Callonychium petuniae (Andrenidae), especializada em espécies de
Petunia com flores púrpuras (Wittmann et al., 1990).
Petunia mantiqueirensis T. Ando & Hashim. é endêmica da Serra da
Mantiqueira, no sul do estado de Minas Gerais, onde ocorre isoladamente das demais
espécies cogenéricas, no limite norte da distribuição do gênero. A espécie está presente
em área onde grande parte da cobertura vegetal original foi removida, o que resultada
em forte declínio populacional da espécie (Kamino et al. 2012). Os locais de ocorrência
vêm sendo modificados devido à atividades agrícolas. Em consequência, P.
mantiqueirensis é classificada como espécie “criticamente ameaçada” (Fundação
Biodiversitas, 2010) e ”em Perigo” (CNCFlora, 2014).
Neste trabalho, estudamos a polinização de Petunia mantiqueirensis na Serra da
Mantiqueira em Minas Gerias. Para tal, verificamos: (i) a biologia reprodutiva da
espécie; (ii) a dinâmica de oferta de recursos florais; (iii) o espectro de visitantes florais
e os polinizadores efetivos e perguntamos: a relação entre P. mantiqueirensis e seus
polinizadores efetivos é especializada, como relatadas para outras espécies de Petunia?
MATERIAIS E MÉTODOS
Local de estudo
Espécie estudada
Para medir a qualidade espectral da luz refletida por estruturas florais foi
utilizado um espectrofotômetro (USB2000+UV-VIS-ES, Ocean Optics Inc) calibrado
radiometricamente entre 250 e 750 nm com uma fonte de luz mista deutério/tungstênio
(DH-2000-BAL, Ocean Optics Inc). A calibração nesta faixa de comprimentos de onda
permite avaliar com precisão os parâmetros espectrais de refletância na faixa do
ultravioleta, luz visível e infravermelho. Dessa forma, a análise espectral realizada
extrapola a faixa de percepção cromática humana e inclui componentes que estimulam o
sistema visual de himenópteros (Peitsch et al., 1992). O software SpectraSuite (Ocean
Optics Inc) foi utilizado na aquisição e análise das curvas espectrais.
Para medidas de refletância floral foi utilizada uma fibra ótica especializada com
tripla saída (R400-7-UV-VIS, Ocean Optics Inc) conectada ao espectrofotômetro e a
uma fonte de luz de xenônio pulsado (PX-2, 220Hz, 220-750nm, Ocean Optics Inc). O
sensor de luz da fibra ótica foi montado em suporte preto opaco (RPH-1, Ocean Optics
Inc), que permitiu padronizar o ângulo (90O) e a distância (0,5 cm) da luz emitida em
relação à amostra cuja refletância foi medida. Este sensor circular possui diâmetro de
1mm, permitindo medir o padrão específico de refletância em estruturas florais cuja
15
superfície seja igual ou maior a 0.8 mm2. Como padrão de branco para medidas de
refletância foi usado material difusor de Spectralon ® (WS-1-SL, Ocean Optics Inc).
Ramos de Petunia mantiqueirensis com flores, coletados na Serra da
Mantiqueira, foram levados ao laboratório na Universidade Federal de Minas Gerais em
Belo Horizonte e medida a refletância do limbo e tubo floral das pétalas, dissecadas
com o auxílio de micro-estilete e lupa. A refletância foi medida em três flores recém-
abertas e três flores velhas (do segundo e terceiro dia da antese). Dessa forma, foi
avaliada a constância/variabilidade dos espectros e construída a curva de padrão de
refletância espectral para flores novas e velhas. As curvas espectrais médias foram
utilizadas para caracterização do padrão de refletância segundo modelos clássicos
propostos na literatura, construídos tendo como base a fisiologia dos fotorreceptores
presentes na retina de himenópteros (Peitsch et al., 1992, Chittka & Menzel, 1992;
Chittka et al., 1994; Arnold et al., 2010).
Sistema reprodutivo
Visitantes Florais
17
determinada subtraindo o número de grãos de pólen que sobrou na flor do número
médio de pólen quantificado em 15 flores não visitadas (ver acima).
RESULTADOS
18
Figura 1. Flores de Petunia mantiqueirensis. A) Detalhe da corola; B) Flor no início da
antese em vista lateral mostrando o tubo floral branco com nervuras roxas.
19
Figura 2. Espectro de refletância de pétalas e tubo floral de Petunia mantiqueirensis.
As anteras abriram logo após a abertura da flor, primeiro nas anteras dos estames
maiores, seguido pelas intermediárias e posteriormente na antera do estame menor.
O teste de receptividade estigmática mostrou que o estigma já estava receptivo
quando iniciou a abertura, permanecendo receptível até a senescência da flor. O néctar
foi produzido em quantidades ínfimas, o que inviabilizou a quantificação do volume e
sua concentração.
As flores produziram em média 127033±16815 grãos de pólen e em média
111,5±10,7 óvulos. A razão Pólen/Óvulo foi de 1136,6±60.
A antese não foi sincronizada, ocorrendo a qualquer horário do dia. A
longevidade floral durou 7,1±0,7 dias (N=14) e flores visitadas por abelhas senesceram
mais cedo e tiveram longevidade de 4,6±1,1 dias (N=14). Houve diferença significativa
da longevidade floral entre os tratamentos (U=11,5; p<0,001; N=14) (Fig.3).
20
10
8
Duração das flores (dias)
0
Flores ensacadas Flores acessíveis
Sistema reprodutivo
Visitantes florais
21
Tabela 2: Visitantes florais de Petunia mantiqueirensis em Camanducaia e Gonçalves-
MG.
100
80
Visitas (%)
60
40
20
0
Pseudagapostemon Pseudagapostemon Anthrenoides sp. outras
fluminensis cyanomelas
22
As maiores taxas de visitação foram observados nos primeiros intervalos do dia
(8:00 as 10:00 e 10:00 as 12:00 h), sendo que não houve diferença significativa entre
esses dois intervalos (p=0,99) (Fig. 5).
23
60
20
O tempo desprendido pelas fêmeas durante a primeira visita floral foi maior
(94,5±77,9 seg.; N=115) quando comprada à segunda e terceira visita de uma flor de P.
mantiqueirensis. Visitas a flores mais velhas foram curtas (9,6 ±5,2 seg) (Fig. 7). Nessas
visitas, as fêmeas não coletaram pólen e entraram no tubo floral até a câmara nectarífera
para tomar néctar.
200
150
Duraçãodas visitas
(segundos)
100
50
0
1ª visita 2ª visita 3ª visita visitas após dia 1
24
Remoção de pólen na primeira visita floral
160000
140000
120000
Grãos de pólen
100000
80000
60000
40000
20000
0
Grãos de visitada
Flor não pólen/flor Grãos
Após de pólenvisita
primeira após
única visita
Figura 8. Grãos de pólen em flores não visitadas e após a primeira visita de fêmeas de
Pseudagapostemon fluminensis às flores de Petunia mantiqueirensis. Média e desvio
padrão; N=15.
25
Figura 9. Análise da carga polínica de fêmeas de Pseudagapostemon fluminensis
coletadas em Petunia mantiqueirensis. A- Proporção de grãos de pólen de cada tipo
polínico; B- Número de fêmeas com os diferentes tipos polínicos na escopa; C-
Quantidade de tipos polínicos nas escopas. Onde Pm= Petunia mantiqueirensis, A=
Asteraceae, C= Cuphea sp., M1= Monocotiledônea 1 (Sisyrichium sp.), M2=
Monocotiledônea 2, T1= Trizonocolpado reticulado, T2= Tricolpado reticulado (N=23).
26
DISCUSSÃO
27
(Colletidae) foi citada como polinizador de várias espécies de Petunia e Calibrachoa
(Schlindewein, 2004). Ela foi o principal polinizador de Petunia integrifolia (citada
como Petunia littoralis) em Santa Catarina (Castellani & Lopes, 2002) e Calibrachoa
elegans em Minas Gerais (Stehmann & Semir, 2001). A abelha cogenêrica H.
enneomera também é polinizador oligolético de espécies de Petunia e Calibrachoa no
Rio Grande do Sul (Schlindwein 2004). Outra relação altamente especializada ocorre
entre a oligolética Callonychium petuniae (Andrenidae) e espécies de Petunia com
flores púrpuras. A visão tetracromática - as abelhas possuem um receptor de vermelho,
além dos usuais receptores de UV, azul e verde (Peitsch et al. 1992) – foi interpretada
como adaptação para localização das flores de Petunia de cor púrpura (Wittmann et al.,
1990).
Petunia mantiqueirensis apresenta padrão de floração do tipo steady-stade
(sensu Gentry, 1974). As plantas produzem poucas flores por dia durante um longo
período de tempo. Suas flores permanecem abertas por cerca de cinco dias, no entanto,
após as primeiras visitas as anteras não contém mais pólen. Assim, a manutenção
prolongada das flores deve ter a função de aumentar a atração visual, como proposto
para outras espécies que mantém corolas em flores vazias após a polinização
(Schlindwein et al., 2014) e auxiliar as abelhas na localização das manchas dessa planta,
uma vez que somente poucas flores de Petunia são produzidas por dia. Além disso, a
produção continua de poucas flores torna as flores P. mantiqueirensis uma fonte
confiável de pólen para seus polinizadores durante um longo período, mesmo sendo
pouco abundante. Do ponto de vista da planta, o padrão steady-stade favorece a
polinização cruzada e o fluxo polínico entre indivíduos coespecíficos (Pinto et al.
2008). Para a autoincompatível P. mantiqueirensis, polinização cruzada é obrigatória
para garantir o sucesso reprodutivo como na maioria das espécies melitófilas do gênero
Petunia e Calibrachoa (Ando et al. 2001, Kokubun et al. 2006).
A liberação do pólen nas flores de P. mantiqueirensis não é contínua ao longo da
antese e isso dificulta o ajuste das visitas florais para coleta de pólen a um horário
específico (Roubik, 1979). Fêmeas de P. fluminensis mostraram uma estratégia de
forrageio voltada para realização de visitas florais no início da antese,
independentemente do horário de abertura. Essa estratégia mostrou ser altamente
eficiente e todas as três primeiras visitas às flores observadas de P. mantiqueirensis
foram realizadas por fêmeas da espécie. Seria interessante verificar se outras espécies de
28
Petunia e Calibrachoa também mostram abertura das flores pouco sincronizadas e se as
abelhas oligoléticas citadas como polinizadores efetivos (Callonychium petuniae,
Hexantheda missionica, H. enneamera) também ajustam suas visitas ao início da antese,
como descrito nesse trabalho para P. fluminensis.
Não há informações sobre a interação de P. fluminensis com outras espécies de
plantas. No entanto, é importante ressaltar interações entre outras espécies de
Pseudagapostemon com Petunia e Calibrachoa. No Brasil, a maioria das espécies de
Pseudagapostemon ocorre nas regiões Sudeste e Sul (Cure, 1989) e algumas possuem
distribuição geográfica bastante similar com as espécies de Petunia. Há relatos de coleta
ativa de pólen de fêmeas de Pseudagapostemon cyanomelas em Petunia reitzi em Santa
Catarina e P. scheideana no Paraná. Além disso, as fêmeas dessa espécie foram
registradas como visitantes florais de Calibrachoa linoides, em Campos do Jordão, São
Paulo, município localizado na Serra da Mantiqueira (Stehmann, 1999), em ambiente
parecido com o de ocorrência de P. mantiqueirensis. Fêmeas de P. cyanomelas também
foram registradas como visitantes florais de P. mantiqueirensis, porém são muito mais
raras que às de P. fluminensis. Além disso, na região dos pampas no Rio Grande do Sul,
uma espécie não identificada de Pseudagapostemon foi registrada coletando pólen em
P. secreta e P. scheideana (Stehmann, 1999).
Assim como Pseudagapostemon fluminensis, abelhas de P. cyanomelas e
Anthrenoides sp. foram registradas continuamente em manchas de P. mantiqueirensis
ao longo da floração. Em nosso estudo, contudo, essas espécies mais raras nunca
fizeram as primeiras visitas às flores de P. mantiqueirensis e parecem ser competidores
fracos pelo pólen quando comparados com P. fluminensis.
Chama a atenção neste estudo, que abelhas altamente eusociais, como Apis
mellifera e abelhas sem ferrão (Meliponini) foram extraordinariamente raras nas flores
de P. mantiqueirensis. Essas abelhas amplamente poliléticas (Cane & Sipes, 2006),
intensamente visitam plantas com floração maciça que fornecem pólen e néctar
simultaneamente em grandes quantidades (Roubik, 1993; Willms et al., 1996). A
produção de néctar em quantidades ínfimas ao longo da antese, a apresentação de pólen
por somente poucas flores por dia e em horários pouco previsíveis, torna as flores de P.
mantiqueirensis pouco atrativas para essas espécies, especialmente na presença de P.
fluminensis que são competidoras que apresentam comportamento de coleta
especializado à exploração de pólen no início da antese. Informações disponíveis de
29
visitantes florais de outras espécies de Petunia e Calibrachoa também carecem de
abelhas sociais ou citam essas somente como visitantes esporádicas (Stehmann e Semir,
2001; Castelani e Lopes, 2002).
A baixíssima taxa de visitação em flores de P. mantiqueirensis por outras
espécies de abelhas pode estar relacionada à presença de P. fluminensis em sincronia
com a abertura das flores, que ocasiona alto número de primeiras visitas e com isso,
remoção da maior parte do pólen, tornando as flores pouco atrativas para outras abelhas.
Embora rara e ameaçada de extinção, P. mantiqueirensis não sofre déficit de
polinização. No local do estudo, P. fluminensis garante a reprodução de P.
mantiqueirensis, uma vez que P. fluminensis foi altamente eficiente na coleta e
transferência de pólen, o que explica as altas taxas de formação de frutos em geral.
Assim, a manutenção dessa abelha, além dos locais de nidificação e de outras
plantas importantes em sua dieta é fundamental para a manutenção de P.
mantiqueirensis. Além disso, P. mantiqueirensis, possui populações pequenas e isoladas
e ocorre em áreas fragmentadas devido à intensa atividade agrícola, sendo assim,
ameaçada pela perda de habitat. Assim, informações sobre a biologia e comportamento
dos seus polinizadores se tornam importantes para o planejamento e desenvolvimento
de estratégias para a conservação de P. mantiqueirensis.
30
REFERÊNCIAS
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34
(Apoidea, Andrenidae) and three purple flowered Petunia species (Solanaceae) in
southern Brazil. Z. zool. Syst. Evolut.-forsch. 28:157-165.
35
CAPÍTULO II
36
RESUMO
37
INTRODUÇÃO
38
1999; Ohashi & Thomson, 2009). No entanto, estudos de forrageamento em abelhas
solitárias são muito raros (Janzen, 1971; Ackerman et al., 1982).
Pseudagapostemon fluminensis (Schrottky, 1911) (Halictidae) é o principal
polinizador de Petunia mantiqueirensis (Solanaceae) uma espécie endêmica da Serra da
Mantiqueira, Brasil, ameaçada de extinção (Capítulo I). Apesar de ser uma abelha
polilética, apresenta uma interação especializada com P. mantiqueirensis: as fêmeas
adotam um comportamento de coleta de pólen eficiente em P. mantiqueirensis com qual
elas garantem a primeira visita floral em flores cheias de pólen em qualquer horário do
dia. As flores dessa planta abrem, sobretudo pela manhã, mas não mostram um horário
sincronizado de abertura das flores o que torna o momento de apresentação de pólen
bastante imprevisível. Em todas as flores monitoradas dessa espécie, as fêmeas de P.
fluminensis fizeram as três primeiras visitas florais o que lhes garante quase a totalidade
do pólen, já que estas fêmeas removem mais que 85% do pólen já na primeira visita
floral em P. mantiqueirensis (Capítulo I). Além disso, são polinizadores efetivos, e os
visitantes florais mais frequentes ao longo da floração em vários anos. No entanto, o
comportamento adotado pelas fêmeas para garantir uma alta eficiência de coleta de
pólen não é conhecido.
Neste estudo, avaliamos o comportamento de forrageio de P. fluminensis em
flores de Petunia mantiqueirensis e focamos nas seguintes questões: (1) Quais as
características de comportamento de forrageio de P. fluminensis em flores de Petunia
mantiqueirensis? (2) Fêmeas diferem quanto à sua eficiência de coleta de pólen?
MATERIAIS E MÉTODOS
Local de estudo
Local de estudo
Espécies estudadas
40
Figura 1. Flores de Petunia mantiqueirensis e visitas florais de Pseudagapostemon
fluminensis.
41
flor, já que a fêmea de P. fluminensis remove 86% do pólen, durante a primeira vista a
uma flor (Capítulo I).
Para avaliar a relação dos comportamentos adotados pelas fêmeas, como
inspeções e revisitas, e certos parâmetros do forrageio, como intervalos de revisitas com
a frequência de primeiras visitas, foi utilizada o Coeficiente de Correlação de Spearman
(rs). Consideramos apenas as fêmeas que retornaram à mancha pelo menos um dia. As
análises foram feitas no software Statistica 7.0.
RESULTADOS
42
35
30
Frequência de fêmeas (%) 25
20
15
10
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13
Dias
Revisitas florais
43
30
Frequência de primeiras visitas
25
20
15
(%)
10
0
F1 F2 F3 F4 F5 F6 F7 F8 F19 F10 F11
Fêmea
9
8
Número de inspeções
7
6
5
4
3
2
1
0
F1 F2 F3 F4 F5 F6 F7 F8 F19 F10 F11
Fêmea
Houve uma forte correlação entre a eficiência das fêmeas e a fidelidade (rs=0,93;
p<0,001) (Fig. 5), indicando que aquelas fêmeas mais fiéis à mesma mancha foram as
mais eficientes na coleta de pólen em P. mantiqueirensis. Elas fizeram o maior número
de primeiras visitas às flores. No entanto, embora não significativas, observou-se clara
44
tendência positiva na relação entre eficiência e número médio de revisitas a flores (rs=
0,59; p>0,05; N=11) e eficiência e número médio de inspeções (rS=0,42; p>0,05;
N=11).
30
25
Frequência de primeira visita
20
15
10
0
0 2 4 6 8 10 12 14
Fidelidade
DISCUSSÃO
46
REFERÊNCIAS
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