Dieta
Dieta
Dieta
TESE
CURITIBA
2004
2
IRACEMA DAVID GOMES
CURITIBA
2004
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4
ii
5
AGRADECIMENTOS
Aos estagiários do Laboratório de Ictiologia Estuarina que me ajudaram nas coletas e triagem
dos peixes: Maurício Robert, Luciano Costa, Kelly Aguiar, Evelyn Ferreira, Helen Audrey, Maria
Antonia Michels, Priscila Sirigate, Juliana, Simone Úmbria e Ana Lucia Vendel.
Aos Docentes, pelos conhecimentos transmitidos durante as disciplinas oferecidas pelo
Programa de Pós-Graduação em Zoologia: Cláudio Carvalho, Dilma Solange, Emygdio Monteiro,
Fernando Passos, Henry Louis Spach, James Roper, Jayme Loyola, Luiz Amilton, Marcelo Aranha,
Maria Angélica Haddad, Mario Barletta, Rosana Rocha, Paulo de Tarso, Marcelo Aranha, Mauricio
Hostim, Paulo Simões, Setuko Massunari e Walter Boeger.
Ao Coordenador do Curso, Emygdio Monteiro, Vice-Coordenador Marco Fábio Corrêa, e à
Secretaria Vera Maria, pelo apoio, atenção e esclarecimentos pertinentes ao Curso.
Ao Centro de Estudos do Mar da Universidade Federal do Paraná (CEM), pela infra-estrutura,
me possibilitando efetivar uma parte do trabalho.
Ao Professor Pesquisador Dr. Marco Fábio Corrêa e Professora Dra. Lucila M. de Araújo
Maschio pelas valiosas sugestões durante a disciplina de Estatística.
À todos do Laboratório de Ictioplâncton do Centro de Estudos do Mar: Roberto Schwarz,
Guilherme McLaren, César Santos, Fabiana Felix, Mariana Sobolewski, José Francisco e Marcelo
Falcão, pela companhia e bons momentos de convivência, inclusive nos congressos.
Aos pesquisadores do CEM: Professor Dr. Paulo Lana, Dra. Cíntia Santos, MSc. Ricardo Krull,
e aos Doutorandos Nilva Brandini, André Garrafoni, Gustavo Sene e Marcelo Lamour pelo
companherismo e ajuda durante o exame de qualificação.
À todos os funcionários, colaboradores, estagiários, alunos e pesquisadores do CEM pela
parceria durante meu período de estadia, em especial à Mari da Biblioteca e Ruth da Secretaria.
Ao Professor e Pesquisador Dr. Henry Louis Spach, pelo auxílio, incentivo e reforço na
estrutura da tese.
6
iii
Aos meus "irmãos científicos": Márcia Cristina Costa de Azevedo, André Luiz Machado
Pessanha, Antonio Gomes da Cruz-Filho e Alexandre Clístenes dos Santos, por estarem sempre
dispostos a me auxiliarem em todos os momentos da minha trajetória acadêmica.
Aos meus amigos Oceanógrafos, Ana Cristina Novelino Penna Franco, Denis Domingues e
Bruno Martini Moreira pela força, lealdade e cumplicidade, conquistados no final do Curso, que
mesmo o pouco tempo de convivência, foi suficiente para ser intenso e sincero.
Ao meu Diretor Josimar Costa (Colégio Estadual Maranhão) e minhas Diretoras (Colégio
Estadual Luiza Marinho) Márcia Ramos, Maria Claudia Chantre e Ermínia pela compreensão e
paciência durante o meu período de ausência extremamente necessário para elaboração da tese.
Ao Dr. Francisco Gerson Araújo, por ter me instruído na Monografia e Mestrado para que eu
prosseguisse firme nesta caminhada, objetivando o aprimoramento profissional.
...E em especial, à minha Mãe Maria Julieta e ao meu Pai Jabes (in memorian), que sempre me
deram amor, carinho e estímulo para vencer os obstáculos da vida. Muito Obrigada.
iv
7
SUMÁRIO
DEDICATÓRIA ...................................................................................................................... i
AGRADECIMENTOS ............................................................................................................ ii
SUMÁRIO ............................................................................................................................ ... iv
RESUMO GERAL ................................................................................................................. . vi
Capítulo I. Ictiofauna Demersal Costeira da Plataforma Interna Rasa do Sul do Paraná
entre a Baía de Guaratuba e a Foz do Rio Saí Guaçu
LISTA DE FIGURAS ............................................................................................................ .. viii
LISTA DE TABELAS ......................................................................................................... ...... ix
RESUMO ............................................................................................................................ ...... x
ABSTRACT ............................................................................................................................... xi
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 14
1.1. Objetivo Geral ...................................................................................................... ...... 16
1.2. Objetivos Específicos ............................................................................................ ...... 16
2. ÁREA DE ESTUDO .................................................................................................... ...... 16
3. MATERIAL E MÉTODOS ........................................................................................... ....... 18
3.1. Procedimentos de campo .................................................................................... ...... 18
3.2. Procedimentos laboratoriais ............................................................................ ....... 18
3.3. Métodos analíticos ................................................................................................ ..... 18
4. RESULTADOS ................................................................................................................ ...... 20
4.1. Composição ictiofaunística .................................................................................. ...... 20
4.2. Estrutura em tamanho ...................................................................................... ........ 30
4.3. Estrutura em peso ............................................................................................. ........ 35
4.4. Estrutura em sexo e estádios de maturação gonadal ......................................... ...... 37
4.5. Variação temporal ................................................................................................. ....... 41
5. DISCUSSÃO ................................................................................................................... ...... 45
5.1. Composição ictiofaunística ............................................................................................ 45
5.2. Estrutura em tamanho ................................................................................................... 51
5.3. Estádios de maturidade .................................................................................................. 51
5.4. Atividade reprodutiva de Paralonchurus brasiliensis e Stellifer rastrifer .................... 52
5.5. Variação temporal ............................................................................................................ 55
6. CONCLUSÕES ................................................................................................................ ...... 57
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ ...... 58
Capítulo II. Dieta de Paralonchurus brasiliensis e Stellifer rastrifer na Plataforma Interna
Rasa do Sul do Paraná entre a Baía de Guaratuba e a Foz do Rio Saí Guaçu
LISTA DE FIGURAS ......................................................................................................... ...... xiii
LISTA DE TABELAS ......................................................................................................... ...... xiv
RESUMO ............................................................................................................................ ...... xv
ABSTRACT ....................................................................................................................... ...... xvi
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................ ....... 70
v
8
1.1. Objetivo Geral ....................................................................................................... ..... 71
1.2. Objetivos Específicos ........................................................................................... ....... 72
1.3. Caracterização das Espécies Estudadas .............................................................. ...... 72
2. MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................................. 73
2.1. Procedimentos laboratoriais .............................................................................. .. 73
2.2. Análise dos dados ................................................................................................. .. 74
3. RESULTADOS ................................................................................................................ 76
3.1. Composição Geral ............................................................................................. .... 76
3.1.1. Paralonchurus brasiliensis .......................................................................... 76
3.1.2. Stellifer rastrifer ........................................................................................... 78
3.2. Variações por classes de tamanho ................................................................. ... 80
3.2.1. Paralonchurus brasiliensis .......................................................................... 80
3.2.2. Stellifer rastrifer .......................................................................................... 84
3.3. Variações temporais ...................................................................................... ... 88
3.3.1. Paralonchurus brasiliensis ........................................................................ 88
3.3.2. Stellifer rastrifer .......................................................................................... 92
3.4. Amplitude e Sobreposição de nicho trófico .................................................. 95
4. DISCUSSÃO ............................................................................................................. 96
5 . CONCLUSÕES ....................................................................................................... 102
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 103
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .. .................................................................... . 104
9
vi
RESUMO GERAL
Considerando a plataforma interna rasa do sul do Paraná como uma região em que não há registros
sobre a fauna acompanhante em pescas camaroneiras, estudos sobre a composição dos peixes que
freqüentam o local na isóbata de 10 m, foram fundamentais para o conhecimento das espécies que
seriam descartadas. Entre os procedimentos de campo realizados, o tamanho da rede com 3 cm de
malhagem e a embarcação do tipo canoa, foram alguns dos fatores limitantes das amostragens por
restringirem a obtenção de informações sobre abundância, e também quanto à estrutura em peso,
comprimento e estádios de maturidade. Nos 60 arrastos de fundo realizados durante um ano, além
de peixes, os invertebrados que também fizeram parte da fauna acompanhante foram: camarão
branco, camarão rosa, siris (inclusive fêmeas ovadas), águas-vivas, estrelas-do-mar, sipúnculas,
lulas, gastrópodes e caranguejo-do-mar. O peso total somado dos peixes foi de 61,0 kg, de camarões
foi de 57,6 kg, e para outros invertebrados foi de 12,1 kg. Estes resultados demonstram que nos
arrastos realizados para pesca de camarão em um ciclo anual, metade do que é coletado costuma ser
descartado, não ocorrendo nenhum aproveitamento dos peixes que são em sua maioria jovens e
apresentam baixa importância econômica. Dos dados obtidos sobre a ictiofauna, foram identificadas
61 espécies e 21 famílias, totalizando 7.839 peixes distribuídos de forma homogênea no espaço
amostral. Os resultados sobre a estrutura da comunidade permitiram elaborar mais um capítulo
abordando a comparação do espectro alimentar de P. brasiliensis e S. rastrifer, as duas espécies
predominantes. Foram encontradas diferenças na composição da dieta, onde P. brasiliensis
apresentou Polychaeta como item principal, e Copepoda, Ophiuiridea, Ostracoda, Mysidacea e
Gastropoda como itens exclusivos; enquanto S. rastrifer apresentou Decapoda e Cumacea como
itens principais, e Bivalvia como item exclusivo. É importante ressaltar que estabelecer uma relação
entre a composição e estrutura das populações encontradas com a dieta das duas espécies
dominantes, pode ser um ponto de ligação entre os dois estudos abordados. O conhecimento de
eventuais variações temporais e espaciais de P. brasiliensis e S. rastrifer conforme seus conteúdos
estomacais, contribuem para complementar as informações sobre o ciclo de vida dos demais grupos
ictiofaunísticos, principalmente dos que foram mais freqüentes na região estudada.
10
Capítulo I
Ictiofauna Demersal Costeira da Plataforma Interna Rasa do Sul do
Paraná entre a Baía de Guaratuba e a Foz do Rio Saí-Guaçu
11
viii
LISTA DE FIGURAS
Figura 5 - Histograma da freqüência absoluta mensal e por área de coleta, na plataforma interna rasa
entre a Baía de Guaratuba e a Foz do Rio Saí-Guaçu (I = Indeterminado; M = Machos; F =
Fêmeas)... .............................................................................................................................. 38
Figura 7 -Variação temporal na média do número de peixes, número de espécies, peso da captura, e
dos índices de riqueza de Margalef (D), diversidade de Shannon-Wiener e equitabilidade de
Pielou(J), na plataforma interna rasa entre a Baía de Guaratuba e a Foz do Rio Saí-Guaçu (
Média; ±erro padrão) .................................................................................................. 42
Figura 8 - Dendrograma e ordenação pelo método MDS baseados nos dados de densidade das
principais espécies, amostrados mensalmente na plataforma interna rasa entre a Baía de Guaratuba e
a Foz do Rio Saí-Guaçu. Grupos de meses delineados no nível de 77 % de similaridade no
dendrograma estão circundados no gráfico de ordenação. O estresse da ordenação MDS = 0,13... 44
12
ix
LISTA DE TABELAS
Tabela 4 - Tabela 4 - Síntese das informações disponíveis em ordem alfabética de família, sobre os
peixes capturados entre a Baía de Guaratuba e a Barra do Saí. Onde D = demersal; P = pelágica; PR
= primavera; V = verão; O = Outono e I = inverno; * = sem informação............................... 29
Tabela 5 - Número de exemplares, média, desvio padrão, mínimo, máximo do comprimento total. n
= 7868 X ± S = 81, 82 mm ± 42,04 mm Min = 1,07 e Max = 728,0 mm na plataforma interna
entre a Baía de Guaratuba e a Foz do Rio Saí-Guaçu ........................................................... 31
Tabela 6 - Número de exemplares, média, desvio padrão, mínimo, máximo do peso. Tabela 6.
Número de exemplares, média, desvio padrão, mínimo, máximo do peso. n = 7648 x ± S = = 8,
17 g ± 17,89g Min = 0,03 g Max = 487,0 g na plataforma interna entre a Baía de Guaratuba e a
Foz do Rio Saí-Guaçu............................................................................................................. 35
x
RESUMO
13
A ictiofauna demersal da plataforma interna rasa do litoral sul do Paraná foi estudada em
profundidades de 10 metros entre a Baía de Guaratuba e o estuário do Rio Saí-Guaçu, com o
objetivo de analisar sua estrutura temporal, além de identificar a importância do ambiente para esta
ictiofauna. As amostragens de arrasto de fundo foram realizadas de abril de 2001 a março de 2002,
com uso de embarcação do tipo canoa para pesca de camarão e rede de portas apresentando 8,5 m
de boca e duas portas de madeira com 70cm x 47cm e 22kg cada. O esforço foi de 50 minutos/mês
distribuídos em 5 pontos distantes 2 km uns dos outros e paralelos à costa na isóbata de 10 m.
Foram capturados 7.839 exemplares (61 kg) de 21 famílias, 61 espécies. A maior riqueza específica
ocorreu para família Sciaenidae que apresentou maior representatividade na área com 18 espécies.
A dominância numérica foi observada em Paralonchurus brasiliensis com 30,88%, seguida de
Stellifer rastrifer (12,9%) e S. brasiliensis (10,4%) e Pellona harroweri (9,80%). Entre as espécies
capturadas, a maioria está representada por espécies marinhas e marinho-estuarinas. Quanto à
utilização como fonte de recurso pesqueiro, 60% são de baixa importância econômica. O
comprimento total médio dos peixes foi de 81,82mm e 97% apresentaram peso menor que 50g,
indicando domínio de exemplares capturados de pequeno porte na área estudada, em função do
artefato de amostragem utilizado. Para análises de similaridade e dos componentes principais, foram
considerados os grupos ictiofaunísticos que contribuíram com o critério de no mínimo 1% da
captura total. As espécies principais encontradas foram: Isopisthus parvipinnis, Trichiurus lepturus,
Larimus breviceps, Stellifer brasiliensis, Cynoscion microlepidotus, Peprilus paru, Stellifer
rastrifer, Symphurus tesselatus, C. leiarchus, Pellona harroweri, Paralonchurus brasiliensis e
Urophycis brasiliensis. Predominaram na região indivíduos imaturos presentes na área o ano todo,
permitindo reconhecer o ambiente como área de crescimento, embora tenham existidos limitações
com relação à metodologia aplicada. A variação temporal foi significativa no número de peixes em
outubro e novembro, e para os valores médios de riqueza, diversidade e equitabilidade, observaram-
se valores menores, principalmente em setembro e outubro. Grandes valores de similaridades entre
os meses revelaram a formação dos grupos A (dezembro, janeiro, fevereiro e março), B (maio,
junho, julho, agosto) e C (outubro e novembro), sendo que os meses de abril e setembro não se
agruparam, em função da baixa freqüência ou ausência das espécies selecionadas. A área estudada
parece contribuir para a coexistência e também para manutenção das espécies, em função das
evidências encontradas, como por exemplo, a diferença dos hábitos alimentares de P. brasiliensis e
S. rastrifer nesse período, supondo que a disponibilidade dos recursos alimentares favorecem a
sobrevivência das espécies nesta região.
xi
ABSTRACT
14
The demersal ichtyofauna from a stretch of 10 m depth in the inner-shelf of the Southern Paraná
coast, between Guaratuba Bay and the Sai-Guaçú estuary was studied to assess composition and
structure, and eventual variation throughout the year. Sampling were conducted between April 2001
and March 2002, by using a small trawling boat. The fishing effort was standardized to 50 minutes /
month at each 5 sites, parallel to the coastline. Between site distance were approximately 2 km. A
total of 7,839 individuals (61 kg) comprised in 21 families and 61 species was caught. Sciaenidae
was the most diverse family, being represented by 18 species, with Paralonchurus brasiliensis
being the numerical dominant species amounting to 30.88% of the total catches, followed by
Stellifer rastrifer (12.9%), S. brasiliensis (10.4%) and Pellona harroweri (9.80%). Most of the
collected species feeds on benthic species. Thirty species have minor importance as economical
resources, but 27 medium-high importance in comercial fisheries. Average size of the sampled fish
ranged from 81.82 mm to 97% and weight lower than 50g, indicating that most fish showed small
size. Immature fish occurred all over the year, which suggest that the area is used as recruitment and
rearing grounds for these species. No significant partial difference in species abundance and
biomass were found between the examined sites. Seasonally, significant differences was found in
the number of fish, although no difference have been detected for number of species and biomass.
Furthermore, no seasonal difference was found in average values for Margalef richness, Shannon-
Wiener diversity and Pielou evenness although higher values were recorded in September-October.
For similarity analysis and principal components analysis were considered 1% of the total capture
and six months of the occurrence. The species were I. parvipinnis, T. lepturus, L. breviceps, S.
brasiliensis, C. .microlepidotus, P. paru, S. rastrifer, S. tesselatus, C. leiarchus, P. harroweri, P.
brasiliensis and U. brasiliensis. Partition of the available resources as coexistence strategy, it can
be explaining the survival and maintenace of the species in this period.
1 - INTRODUÇÃO
15
A plataforma continental é caracterizada por apresentar uma grande riqueza faunística,
principalmente na região interna, sob uma influência mais direta de águas de drenagem continental,
que contribuem para o enriquecimento deste sistema. Tais ambientes funcionam como área de
criação, alimentação e reprodução de diferentes tipos de peixes, que podem completar o ciclo de
vida neste ambiente (residentes), ou serem visitantes obrigatórios ou ocasionais. Assim, a
plataforma interna, tais como ambientes costeiros semi-fechados de baías e estuários, também
desempenha importante papel no ciclo de vida dos peixes (Day et al., 1989)
Os peixes, através do processo evolutivo, desenvolveram estratégias diferenciadas de
exploração dos recursos, fato que permite a coexistência equilibrada dentro de um único sistema.
Algumas espécies deslocam-se de um sistema para outro de acordo com crescimento e modo de
vida, enquanto outras, utilizam um menor espaço ao longo de todo o ciclo de vida, permanecendo
em uma área relativamente menor. Estudos sobre o ciclo de vida de tais espécies, principalmente
aquelas de valor econômico, são importantes para subsidiar políticas de exploração e conservação
destes recursos (Lowe-McConnell, 1999). Os peixes marinhos, em sua maioria, são capturados em
águas costeiras, e isto ocorre em função da maior produtividade biológics de estuários, lagunas e
ambientes costeiros rasos (Day et al., 1989).
Para Underwood (1998), comunidades de peixes são unidades ecológicas, que funcionam de
maneira ordenada, e que por este fato, suas estruturas podem ter atributos peculiares. O estudo da
ictiofauna demersal, segundo Soares et al. (1993), abrange a estrutura das espécies e trófica,
produção, crescimento, reprodução e alimentação, visando identificar a importância dos
ecossistemas costeiros para o conhecimenteo da dinâmica dos grupos ictiofaunísticos.
A estrutura das comunidades pode ser definida, em geral, como indicadora de alocação de
recursos entre as espécies da comunidade (Cody & Diamond, 1975). Esta alocação pode ser afetada
por diversos fatores, entre eles: variação das condições ambientais, densidade populacional,
poluição e pesca. Em geral, os estudos de ecologia de comunidades de peixes, têm se concentrado
em três tipos de alocação de recursos: padrões tróficos, padrões espaciais e padrões temporais que
estão inter-relacionados (Helfman, 1978).
Levantamentos sobre a estrutura da comunidade podem ser utilizados como análise dos efeitos
de variações no ambiente, e como auxílio no desenvolvimento de políticas de conservação. Os
peixes demersais que habitam águas temperadas e lagoas costeiras são relativamente os mais
estudados (De Ben et al., 1990; MarshalL & Elliot, 1998), pois poucos são os trabalhos sobre áreas
tropicais e subtropicais. Estudos sobre as comunidades de peixes nos trópicos, incluem a região
Indo-Pacífica (Adjeroud et al., 1998), Sudeste da África (Cyrus & Blaber, 1987), Austrália (Blaber
et al., 1989), México (Yañez-Arancibia et al., 1980; Yañez-Arancibia & Lara-Domingues, 1983;
16
Amezcua Linares et al. 1987); a Laguna de Joyuda, Porto Rico (Stoner, 1986), o Golfo de Nicoya,
Costa Rica (Rojas et al. 1994); e na Venezuela (Villarroel, 1994), Colombia (Garcia et al. 1998).
Entre os diversos estudos sobre a importância da ictiofauna nos ecossistemas brasileiros, são
citados os do Rio Grande do Sul, onde Vazzoler & Iwai (1971) e Benvengnu-Lé (1978), estudaram
a distribuição de peixes demersais na plataforma continental; Cunha (1981) e Chao et al (1982;
1985), analisaram a ictiofauna da Lagoa dos Patos; Castello (1985), apresentou uma revisão do
conhecimento sobre a ecologia dos peixes consumidores no estuário da Lagoa dos Patos. No Rio de
Janeiro, Fagundes & Gaelzer (1991) contribuíram com um levantamento da ictiofauna na região de
Cabo Frio, Andreata et al (1994) estudaram a composição da ictiofauna em Angra dos Reis, e
Araújo et al (1997, 1998, 2002); Azevedo (2002), estão estudando de forma crescente as interações
populacionais na Baía de Sepetiba. No norte e nordeste, Martins-Juras (1989) realizaram estudos
sobre a ictiofauna estuarinas. E em São Paulo, Paiva Filho et al. (1987), Ribeiro-Neto (1989),
estudaram as regiões de São Vicente, Santos e Peruibe; Nonato et al (1983), Soares et al (1993) e
Rossi-Wongtschowski & Paes (1993), Rocha & Rossi-Wongtschowski (1998), Muto et al (2000)
fizeram um levantamento da composição da ictiofauna na região de Ubatuba.
No litoral do Paraná, no inicio os estudos sobre a ictiofauna foram realizados apenas com
ênfase na produção pesqueira e biologia (Jakobi & Souza, 1968; Silva & Nakamura, 1975; Silva et
al.1977; Corrêa, 1986; Lunardon & Silva, 1990; Chaves & Corrêa, 1998; Corrêa, 2000; Robert,
2001). Recentemente, vários estudos sobre a estrutura da ictiofauna foram desenvolvidos. A
composição e variação espaço-temporal da ictiofauna demersal no litoral do Paraná, mais
especificamente na Baía de Guaratuba, foi estudada por Chaves & Corrêa (1998) e Chaves &
Bouchereau (1999). A estrutura e abundância dos peixes em ambientes rasos da Baía de Paranaguá
foram estudadas por Godefroid et al (1997), Godefroid (2002), Santos et al (2002), Spach et al
(2004). Abilhoa (1998), Pinheiro (1999) e Corrêa (2000) investigaram a dinâmica populacional dos
peixes demersais na Baía de Paranaguá, enquanto que Rickli (2001) e Godefroid et al (2004)
analisaram a composição e abundância da ictiofauna demersal no infralitoral raso de praias. Estes
autores estudaram a região interna da Baía de Guaratuba e a região interna e costeira da plataforma
da Baía de Paranaguá, porém não há trabalhos sobre a dinâmica da ictiofauna na plataforma sul, na
qual este trabalho foi executado.
Assim, são objetivos deste estudo:
17
2 – ÁREA DE ESTUDO
O litoral do Estado do Paraná ocupa uma extensão latitudinal relativamente pequena, sendo
inferior a 1 grau. Sua linha de costa apresenta forma irregular continente adentro, compondo dois
grandes sistemas estuarinos da região: o Complexo Baía de Paranaguá, no centro, e a Baía de
Guaratuba, 20 km ao sul, que duplicam a real interface entre a delimitação do Estado e as águas
marinhas. Trata-se de um segmento do litoral brasileiro em que a pesca baseada no Estado, é
essencialmente artesanal (Paiva, 1997), sendo praticada no interior dos estuários e plataforma
adjacente, mas pescarias industriais acontecem na nossa plataforma.
A área de estudo escolhida para fixação dos cinco pontos auxiliados por GPS para realização das
amostragens, localiza-se no litoral sul do Estado do Paraná entre a Baía de Guaratuba (25052’S;
48039’W) e Barra do Rio Saí-Guaçu (25029’S; 48036’W), com profundidade média de 10 metros e
15 quilômetros de extensão (Figura 1).
18
3
4
As amostras foram obtidas mensalmente de abril de 2001 a março de 2002, sempre pela manhã,
às 9h, no final de cada mês, em cinco arrastos com duração de 10’ cada, paralelos à costa, distantes
2 km um do outro, com uso de embarcação do tipo canoa para pesca artesanal e rede de fundo
camaroneira. A rede de porta utilizada nos arrastos de fundo apresentava 8,5m de boca, 6,5m de
comprimento no ensacador, 3cm de malhagem entre nós opostos em toda rede, e duas portas de
madeira com 70cm x 47cm, pesando 22kg cada.
Foram registradas temperatura e salinidade da água de superfície. Os arrastos foram
geoposicionados com um GPS, de modo a permitir a padronização da área amostral.
As coletas de peixes realizadas na região foram essenciais para o conhecimento da ictiofauna
que seria descartada, uma vez que é comum a prática da pesca de camarão na região. A obtenção de
informações sobre a importância econômica, segundo consulta aos pescadores, foi um fator
importante para descrição da composição dos peixes, a qual serviu de base para compreender quais
espécies ocorreram na região, inclusive as comerciais, embora com restrições na malhagem da rede.
O material coletado foi conservado em gelo para identificação segundo Menezes & Figueiredo,
1980; Menezes & Figueiredo, 1985; Figueiredo & Menezes, 1978; 1980; 2000). Cada exemplar foi
medido, pesado, dissecado e sexado (quando possível). A determinação do grau de maturação
gonadal baseou-se na escala simples de Vazzoler (1996), onde: A = gônada imatura ou em repouso;
B = gônada em maturação; C = gônada madura; D = gônada total ou parcialmente esvaziada. Para
avaliação da atividade reprodutiva foram utilizados como indicadores: peso, volume, coloração, e
vascularização das gônadas.
Na região demersal, entre a Baía de Guaratuba e Barra do Saí, nos 60 arrastos de porta
realizados em 1 ano, foram capturados 7.839 exemplares pertencentes a 61 espécies, 46 gêneros e
21 famílias, em um total de 61 kg. A disposicão das famílias segue a ordem filogenética:
NARCINIDAE
Narcine brasiliensis (Olfers, 1831)
PRISTIGASTERIDAE (CLUPEIDAE)
Chirocentrodon bleekerianus (POEY, 1867)
Pellona harroweri (Fowler, 1917)
ENGRAULIDAE (ENGRAULIDIDAE)
Anchoa filifera (Fowler, 1915)
A. lyolepis (Evermann & March, 1900)
Anchoviella lepidentostole (Fowler, 1911)
Cetengraulis edentulus (Cuvier, 1829)
Lycengraulis grossidens (Agassiz, 1829)
OPHICHTHIDAE
Ophichthus gomesii (Castelnau, 1855)
ARIIDAE
Cathorops spixii (Agassiz, 1829)
Genidens genidens (Valenciennes, 1839)
Aspistor luniscutis (Valenciennes, 1840)
Genidens barbus (Lacepède, 1803)
UROPHYCIDAE
Urophycis brasiliensis (Kaup, 1858)
BATRACHOIDIDAE
Porichthys porosissimus (Valenciennes, 1837)
TRIGLIDAE
Prionotus nudigula (Ginsburg, 1950)
P. punctatus (Bloch, 1797)
GRAMMISTIDAE
Rypticus randalli (Courtenay, 1967)
CARANGIDAE
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Caranx latus (Agassiz, 1831)
Chloroscombrus chrysurus (Linnaeus, 1766)
Selene setapinnis (Mitchill, 1815)
S. vomer (Linnaeus,1758)
Trachinotus carolinus (Linnaeus,1766)
GERREIDAE
Diapterus rhombeus (Cuvier, 1829)
Eucinostomus argenteus (Baird & Girard, 1854)
E. melanopterus (Bleeker, 1863)
HAEMULIDAE
Anisotremus surinamensis (Bloch, 1791)
Conodon nobilis (Linnaeus,1758)
Pomadasys corvinaeformis (Steindachner, 1868)
SCIAENIDAE
Bairdiella ronchus (Cuvier, 1830)
Ctenosciaena gracilicirrhus (Metzelaar, 1919)
Cynoscion acoupa (Lacepède, 1802)
C. jamaicensis (Vaillant & Bocourt, 1883)
C. leiarchus (Cuvier, 1830)
C. microlepidotus (Cuvier, 1830)
C. virescens (Cuvier, 1830)
Isopisthus parvipinnis (Cuvier, 1830)
Larimus breviceps (Cuvier, 1830)
Menticirrhus americanus (Linnaeus, 1758)
M. littoralis (Holbrook, 1860)
Micropogonias furnieri (Desmarest, 1823)
Nebris microps (Cuvier, 1830)
Ophioscion punctatissimus (Meek & Hildebrand, 1925)
Paralonchurus brasiliensis (Steindachner, 1875)
Stellifer brasiliensis (Schultz, 1945)
S. rastrifer (Jordan, 1889)
S. stellifer (Bloch, 1790)
EPHIPPIDIDAE
Chaetodipterus faber (Broussonet, 1782)
SPHYRAENIDAE
23
Sphyraena guachancho (Cuvier, 1829)
TRICHIURIDAE
Trichiurus lepturus (Linnaeus, 1758)
STROMATEIDAE
Peprilus paru (Linnaeus, 1758)
PARALICHTHYIDAE
Citharichthys arenaceus (Evermann & Marsh, 1900)
C. spilopterus (Günter, 1862)
Etropus crossotus (Jordan & Gilbert, 1882)
CYNOGLOSSIDAE
Symphurus tesselatus(Quoy & Gaimard, 1824)
ACHIRIDAE (Soleidae para alguns autores)
Achirus declivis (Chabanaud, 1940)
A. lineatus (Linnaeus, 1758)
Trinectes paulistanus (Miranda-Ribeiro, 1915)
TETRAODONTIDAE
Lagocephalus laevigatus (Linnaeus, 1766)
Sphoeroides greeleyi (Gilbert, 1900)
S. testudineus (Linnaeus, 1758)
24
A maior diversidade específica ocorreu em Sciaenidae, representada na área por 18 espécies, as
quais contribuíram com 75% da captura total e predominaram em todos os meses de coleta (Tabela 1).
A dominância numérica foi exercida por 4 espécies, sendo que três espécies (P. brasiliensis, S. rastrifer
e S. brasiliensis), pertencem à família Sciaenidae e ocorreram o ano inteiro, e a quarta espécie P.
harroweri pertence à família Clupeidae. Estas espécies são responsáveis por 64,05% do número de
exemplares capturados na área. A maioria das espécies esteve presente na área em pequena quantidade e
poucos meses. (Tab.1). Para os dados de biomassa, também dominaram as três espécies pertencentes à
família Sciaenidae, seguidas por A. surinamensis da família Haemulidae (Tab. 2).
Tabela 1 - Abundância numérica em ordem decrescente das espécies presentes na plataforma interna,
entre a Baía de Guaratuba e a Foz do Rio Saí-Guaçu.
Espécies J F M A M J J A S O N D TOT %
81 16 35 12 38 29 61 83 452 814 570 230 2421 30,88
PARALONCHURUS
BRASILIENSIS
Stellifer rastrifer 48 107 112 18 377 73 148 48 7 21 19 37 1015 12,95
S. brasiliensis 134 163 150 16 22 23 3 7 3 1 146 149 817 10,42
Pellona harroweri 0 40 12 11 11 85 48 34 14 173 339 1 768 9,80
Isosipisthus parvipinnis 55 176 80 11 17 41 141 21 5 29 5 17 598 7,63
Cynoscion microlepidotus 4 24 3 0 45 95 66 12 0 10 33 3 295 3,76
Urophycis brasiliensis 0 0 0 0 0 0 13 189 42 21 2 0 267 3,41
Trichiurus lepturus 3 61 0 3 1 9 1 2 0 4 55 5 144 1,84
Anisotremus surinamensis 0 1 0 132 0 1 0 0 3 0 7 0 144 1,84
Larimus breviceps 2 27 19 10 1 44 7 8 1 0 7 9 135 1,72
Symphurus tesselatus 14 9 26 7 14 1 9 13 6 6 14 15 134 1,71
Peprilus paru 1 0 0 1 7 5 7 3 2 24 77 6 133 1,70
Ophioscion punctatissimus 0 0 0 75 0 11 4 0 0 0 2 0 92 1,17
Cynoscion leiarchus 0 9 1 27 17 0 7 7 0 8 12 0 88 1,12
Cyn. jamaicensis 0 4 0 11 6 14 19 0 0 3 2 0 59 0,75
Micropogonias furnieri 1 2 2 4 0 1 0 0 4 0 35 7 56 0,71
Cathorops spixii 3 2 0 7 32 0 0 0 0 0 0 11 55 0,70
Menticirrhus americanus 9 6 1 9 0 5 4 4 1 0 11 3 53 0,68
Prionoctus punctatus 0 1 0 2 0 2 6 13 9 3 6 5 47 0,60
Lagocephalus laevigatus 14 0 0 0 0 3 0 0 15 7 2 5 46 0,59
Porichthys porosissimus 0 0 0 0 1 0 5 2 27 1 5 0 41 0,52
Selene vomer 2 11 1 3 2 17 3 0 0 0 2 0 41 0,52
Diapterus rhombeus 0 0 0 38 0 0 0 0 0 0 0 0 38 0,48
Chloroscombrus crysurus 0 3 0 3 0 24 0 0 0 0 8 0 38 0,48
Selene setapinnis 1 6 1 3 1 6 0 0 0 0 7 9 34 0,43
Anchoa lyolepis 0 1 0 0 0 1 0 0 0 0 29 0 31 0,40
continua
25
Tab. 1 - continuação
Espécies J F M A M J J A S O N D TOT %
Chirocentrodon bleekerianus 0 0 6 2 0 5 0 2 0 0 7 0 26 0,33
0 6 0 1 0 12 0 1 0 0 4 0 23 0,29
BAIRDIELLA RONCHUS
Achirus lineatus 2 0 1 7 4 3 4 7 0 0 0 0 21 0,27
Menticirrhus littoralis 6 8 2 0 0 0 1 0 0 0 1 3 21 0,27
Ctenosciaena gracilicirrhus 0 0 0 9 0 0 0 9 0 0 9 0 18 0,23
Cynoscion virescens 1 1 2 0 0 0 7 0 0 5 1 1 18 0,23
Achirus declivis 1 0 10 0 0 0 0 0 3 0 0 0 14 0,18
Etropus crossotus 0 1 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 13 0,17
Stellifer stellifer 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 4 3 8 0,10
Sphoeroides greeleyi 0 0 0 2 0 6 0 2 0 0 0 0 8 0,10
Citharichthys arenaceus 0 0 0 0 0 2 0 0 2 0 0 0 8 0,10
Ophichtus gomesii 2 0 0 0 0 1 1 0 1 0 2 0 7 0,09
Narcine brasiliensis 0 0 0 2 0 0 0 2 0 0 0 1 5 0,06
Genidens barbus 0 0 5 0 0 0 0 0 0 0 0 0 5 0,06
Rypticus randalli 1 0 1 1 1 0 0 1 1 0 0 0 5 0,06
Cetengraulius edentulus 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 4 0,05
Stellifer sp. 0 0 0 0 0 3 1 0 0 0 0 0 4 0,05
Pomadasys corvinaeformis 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 3 0,04
Cynoscion acoupa 1 0 0 0 0 0 1 0 0 1 0 0 3 0,04
Conodon nobilis 0 2 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 3 0,04
Eucinostomus argenteus 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 3 0,04
Citharichthys spilopterus 0 0 0 0 1 1 1 0 0 0 0 0 3 0,04
Nebris microps 0 0 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 2 0,03
Chaetodipterus faber 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 2 0,03
Aspistor luniscutis 0 0 0 0 2 0 0 0 0 0 0 0 2 0,03
Sphoeroides testudineus 0 0 0 0 0 1 0 0 0 1 0 0 2 0,03
Lycengraulis grossidens 0 0 0 0 0 1 1 0 0 0 0 0 2 0,03
Anchoa filifera 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 2 0,03
Sphyraena guachancho 0 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 2 0,03
Genidens genidens 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0,01
Anchoviella lepidentostole 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 0,01
Eucinostomus melanopterus 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 1 0,01
Trinectes paulistanus 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 1 0,04
Prionotus nudigula 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0,01
Caranx latus 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 1 0,01
Trachinotus carolinus 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0,01
TOTAL 387 687 473 437 603 527 570 470 598 1132 1422 2174 7868 100,00
26
Tabela 2 - Biomassa em gramas na ordem decrescente das espécies presentes na plataforma interna,
entre a Baía de Guaratuba e a Foz do Rio Saí-Guaçu.
Espécies JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ TOT FO%
Paralonchurus brasiliensis 1394,5 877,5 1013,6 457,5 1199,5 729,0 701,0 388,8 2952,3 5435,0 3380,5 1398,2 19927,4 32,52
Stellifer rastrifer 123,6 340,7 442,7 164,0 3415,3 693,5 512,5 219,8 16,0 158,3 147,8 522,6 6756,8 11,03
Stellifer brasiliensis 691,5 658,6 899,2 156,1 231,6 267,4 46,7 90,0 15,2 8,7 477,4 356,7 3899,0 6,36
Anisotremus surinamensis 0,0 9,3 0,0 2166,8 0,0 164,4 0,0 0,0 552,5 0,0 235,1 0,0 3128,2 5,10
Isopisthus parvipinnis 90,1 245,0 98,9 153,0 134,9 740,0 426,5 95,7 43,9 368,6 97,1 118,4 2612,0 4,26
Diapterus rhombeus 0,0 0,0 0,0 2301,3 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 2301,3 3,76
Urophycis brasiliensis 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 51,7 491,7 1210,1 421,2 39,6 0,0 2214,4 3,61
Pellona harroweri 0,0 62,7 8,7 90,5 13,0 118,5 53,9 30,3 15,3 572,6 953,0 2,4 1920,9 3,13
Menticirrhus americanus 106,0 134,3 15,0 410,4 0,0 339,6 26,0 44,6 46,3 0,0 696,6 14,7 1833,4 2,99
Trichiurus lepturus 0,7 486,3 0,0 137,5 197,1 53,8 2,4 15,7 0,0 4,2 745,2 78,7 1721,6 2,81
Symphurus tesselatus 141,9 116,0 343,8 63,5 241,3 4,9 83,3 168,3 69,8 54,2 215,0 183,8 1685,8 2,75
Porichthys porosissimus 0,0 0,0 0,0 0,0 244,2 0,0 423,7 377,5 119,1 1,0 12,9 0,0 1178,4 1,92
Cynoscion microlepidotus 4,7 24,3 1,6 0,0 132,6 314,4 374,7 71,2 0,0 114,6 58,4 9,8 1106,2 1,80
Micropogonias furnieri 11,4 83,5 117,8 218,6 0,0 48,2 0,0 0,0 389,1 0,0 164,1 50,5 1083,0 1,77
Larimus breviceps 7,7 54,8 53,0 341,7 14,3 234,2 25,6 34,0 3,2 0,0 197,1 76,0 1041,5 1,70
Cathorops spixii 60,9 32,1 0,0 37,1 549,3 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 182,0 824,3 1,35
Chirocentrodon bleekerianus 0,0 0,0 3,6 766,0 0,0 6,9 0,0 1,9 0,0 0,0 38,3 0,0 816,8 1,33
Ophichthus gomesii 189,1 0,0 0,0 0,0 0,0 98,0 137,3 0,0 88,4 0,0 272,2 0,0 785,1 1,28
Ophioscion punctatissimus 0,0 0,0 0,0 579,8 0,0 114,9 12,5 0,0 0,0 0,0 1,3 0,0 708,5 1,16
Menticirrhus littoralis 47,6 47,6 76,6 0,0 212,4 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 24,8 242,5 651,5 1,06
Cynoscion leiarchus 0,0 5,8 1,9 338,2 68,2 0,0 39,0 51,9 0,0 26,1 23,6 0,0 554,6 0,91
Peprilus paru 0,8 0,0 0,0 20,0 42,0 10,1 30,1 3,6 15,0 153,1 252,1 39,5 553,6 0,90
Achirus declivis 53,2 0,0 96,7 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 235,2 0,0 0,0 0,0 385,0 0,63
Lagocephalus laevigatus 150,2 0,0 0,0 0,0 0,0 15,8 0,0 0,0 41,7 51,0 39,6 65,8 364,1 0,59
Genidens barbus 0,0 0,0 352,5 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 352,5 0,58
Cynoscion jamaicensis 0,0 5,4 0,0 104,3 21,5 71,8 96,8 0,0 0,0 17,9 9,6 0,0 327,4 0,53
Selene vomer 11,6 20,9 7,2 74,6 4,2 81,7 10,5 0,0 0,0 0,0 7,3 0,0 217,9 0,36
Narcine brasiliensis 94,2 0,0 45,3 0,0 0,0 0,0 0,0 61,0 0,0 0,0 0,0 0,0 200,5 0,33
Citharichthys arenaceus 0,0 0,0 0,0 83,0 0,0 42,9 0,0 0,0 42,2 0,0 0,0 0,0 168,0 0,27
Selene setapinnis 2,1 43,1 15,5 3,4 2,5 26,5 0,0 0,0 0,0 0,0 32,1 22,1 147,4 0,24
Prionotus punctatus 0,0 2,5 0,0 5,5 0,0 1,7 12,7 21,0 51,9 14,8 7,7 15,5 133,2 0,22
Anchoa lyolepis 0,0 4,8 0,0 0,0 0,0 2,9 0,0 0,0 0,0 0,0 127,8 0,0 135,5 0,22
Achirus lineatus 27,0 0,0 1,8 0,0 43,6 16,5 19,7 18,3 0,0 0,0 0,0 0,0 127,0 0,21
Etropus crossotus 0,0 1,8 0,0 108,3 1,6 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 111,8 0,18
Rypticus randalli 25,1 0,0 26,8 0,0 16,2 0,0 0,0 24,1 14,3 0,0 0,0 0,0 106,6 0,17
Trinectes paulistanus 0,0 0,0 0,0 0,0 90,5 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 90,5 0,15
Genidens genidens 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 91,0 91,0 0,15
Chloroscombrus chrysurus 0,0 6,2 0,0 22,1 0,0 40,4 0,0 0,0 0,0 0,0 15,7 0,0 84,3 0,14
Cynoscion virescens 3,5 0,3 1,1 0,0 0,0 0,0 46,5 0,0 0,0 30,2 4,4 1,1 87,0 0,14
continua
27
Tab. 2 - continuação
Espécies JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ TOT FO%
Cetengraulis edentulus 0,0 0,0 0,0 58,7 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 19,9 78,6 0,13
Citharichthys spilopterus 0,0 0,0 0,0 0,0 24,3 29,7 27,7 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 81,7 0,13
Bairdiella ronchus 0,0 46,3 0,0 0,0 0,0 11,5 0,0 2,1 0,0 0,0 14,9 0,0 74,8 0,12
Chaetodipterus faber 0,0 0,0 0,0 58,3 9,9 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 68,1 0,11
Eucinostomus melanopterus 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 68,2 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 68,2 0,11
Nebris microps 0,0 0,0 52,02 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 52,02 0,11
Ctenosciaena gracilicirrus 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 8,9 0,0 0,0 41,0 0,0 49,9 0,08
Eucinostomus argenteus 0,0 0,0 0,0 48,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 48,0 0,08
Stellifer stellifer 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 2,1 0,0 0,0 0,0 9,8 36,5 48,3 0,08
Caranx latus 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 49,4 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 49,4 0,08
Pomadasys corvinaeformis 0,0 1,8 0,0 9,7 0,0 0,0 29,9 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 41,4 0,07
Sphoeroides testudineus 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,4 0,0 0,0 0,0 38,5 0,0 0,0 38,9 0,06
Stellifer sp 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 27,8 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 3,5 31,4 0,05
Aspistor luniscutis 0,0 0,0 0,0 0,0 29,5 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 29,5 0,05
Lycengraulis grossidens 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 10,4 12,3 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 22,7 0,04
Anchoviella lepidentostole 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 25,3 25,3 0,04
Conodon nobilis 0,0 4,0 9,2 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 13,2 0,02
Cynoscion acoupa 1,8 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 4,2 0,0 0,0 4,1 0,0 0,0 10,2 0,02
Sphoeroides greeleyi 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 3,1 0,0 3,2 0,0 0,0 0,0 0,0 6,3 0,01
Anchoa filifera 0,0 0,0 0,0 9,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 9,0 0,01
Sphyraena guachancho 0,0 1,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 1,0 0,002
Prionotus nudigula 0,0 0,0 0,0 0,9 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,9 0,001
Trachinotus carolinus 0,0 0,0 0,0 0,5 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,5 0,001
61383 100,00
28
A ictiofauna da região está representada por espécies 26 marinhas, 24 marinho-estuarinas e 11
estuarinas. As espécies estuarinas apresentaram baixa freqüência, com exceção de duas espécies (C.
microlepidotus e S. tesselatus). A ictiofauna amostrada é composta principalmente das espécies de
origem tropical, com apenas 8 espécies limitadas à costa brasileira. Achirus lineatus, cuja
distribuição foi descrita para região de Santa Catarina e Argentina, foi capturada em pequeno
número na área amostrada. A espécie S. brasiliensis, cuja distribuição foi descrita para região
Nordeste e Sudeste foi amostrada em grande quantidade na área Sul do Estado do Paraná. Um outro
aspecto a ser mencionado é o caso de U. brasiliensis, cuja distribuição está limitada à região entre
Rio de Janeiro e Argentina, e que neste trabalho só esteve presente na área no período do inverno.
Quanto à importância econômica, predominaram as espécies com baixa importância econômica
(60%), com 19%, apresentando importância média e 21% das espécies são muito importantes para a
pesca local (Tab. 3).
continua
29
Tab. 3 – continuação
Espécies Ocorrência Distribuição Importância econômica
Prionotus punctatus M CA/AR B
Lagocephalus laevigatus ME EUA /AR A
Porichthys porosissimus M RJ/AR M
Selene vomer ME EUA/UR B
Diapterus rhombeus E GM/S M
Chloroscombrus chrysurus M EUA/AR B
Selene setapinnis ME EUA/AR B
Anchoa lyolepis M EUA/SP A
Chirocentrodon bleekerianus M PA/SP A
Bairdiella ronchus ME CA/S B
Achirus lineatus ME SC/AR B
Menticirrhus littoralis M EUA /S M
Ctenosciaena gracilicirrhus ME EUA/S B
Cynoscion virescens M PA/S A
Achirus declivis E AN/ SC B
Etropus crossotus E EUA/RS B
Stellifer stellifer ME VE/SP B
Sphoeroides greeleyi E HO/PR B
Citharichthys arenaceus E AN/PR B
Ophichthus gomesii M EUA /S B
Narcine brasiliensis ME EUA/AR B
Genidens barbus M SE/AR A
Rypticus randalli ME CA/SP B
Cetengraulis edentulus M PA/SC A
Stellifer sp. ME * B
Pomadasys corvinaeformis M CA/S B
Cynoscion acoupa ME PA/AR A
Conodon nobilis M EUA/S B
Eucinostomus argenteus ME EUA/SE B
Citharichthys spilopterus E EUA/RS B
Nebris microps ME CO/SE B
Chaetodipterus faber M EUA/S A
Aspistor luniscutis M GU/S A
Sphoeroides testudineus E EUA/SC B
Lycengraulis grossidens M VE/AR A
Anchoa filifera M VE/SP A
Sphyraena guachancho M USA/AR M
Genidens genidens ME GU/AR M
Continua
30
Tab. 3 – continuação
Espécies Ocorrência Distribuição Importância econômica
Anchoviella lepidentostole E GU/PR A
Eucinostomus melanopterus ME EUA/S B
Trinectes paulistanus ME SE/SC B
Prionotus nudigula M RJ/AR B
Caranx latus ME EUA/RJ A
Trachinotus carolinus ME USA/RS A
Legenda: Correa (1986); Figueiredo & Menezes (1978, 1980, 2000); Menezes e Figueiredo (1980, 1985)
Apesar de terem sido feitas coletas de arrasto de fundo, foram capturadas 16% das espécies
pelágicas. A tabela a seguir é baseada em informações na ictiofauna apresentada, e dão noções
sobre guildas funcionais (Tab. 4).
Tabela 4 - Síntese das informações disponíveis em ordem alfabética de família, sobre os peixes
capturados entre a Baía de Guaratuba e a Barra do Saí. Onde D = demersal; P = pelágica; PR =
primavera; V = verão; O = Outono e I = inverno; * = sem informação.
FAMÍLIA Gênero Nome Comum Hábito Hábito Alimentar Pico de Pico de
Espécie Reprodução Recrutas
A. lineatus Linguado D Carnívora PR/V O
ACHIRIDAE A. declives Linguado D Carnívora PR/V O
T. paulistanus Linguado D Carnívora PR/V O
continua
31
Tabela 4. cont.
C.microlepidotus Pescada de dente D Piscívora V O
Legenda: Correa (1986); Figueiredo & Menezes (1978, 1980, 2000); Menezes e Figueiredo (1980, 1985)
A maior freqüência de ocorrência foi de peixes de até 100 mm, com média de tamanho das
espécies capturadas de 81,82 mm (± 42,04), variando entre 30,12 mm (Sphoeroides greeleyi) e
494,28 mm (Ophichthus gomesii) (Tab. 5). Em média, o comprimento total dos indivíduos
capturados na área foi baixo, caracterizando uma ictiofauna de pequeno porte considerando o tipo
de amostragem realizada para pesca de camarão. O menor exemplar foi de S. tesselatus (1,07 mm) e
o maior foi de T. lepturus (728 mm). As médias de tamanho dos peixes capturados podem ser
observadas na figura 2.
32
Tabela 5 - Número de exemplares, média, desvio padrão, mínimo, máximo do comprimento total na
plataforma interna entre a Baía de Guaratuba e a Foz do Rio Saí-Guaçu. n = 7868 ; X ± S =
81, 82 mm ± 42,04 mm; Min = 1,07; Max = 728,0 mm.
Espécies n X ± S Min (mm) Max (mm)
Paralonchurus brasiliensis 2421 89,54 ± 30,94 1,94 231,00
Stellifer rastrifer 1015 74,79 ± 22,71 2,13 189,00
Stellifer brasiliensis 817 68,94 ± 18,09 1,59 175,00
Pellona harroweri 768 53,32 ± 13,88 2,40 121,00
Isopisthus parvipinnis 598 61,90 ± 29,73 7,80 173,00
Cynoscion microlepidotus 295 66,81 ± 14,78 33,00 109,00
Urophycis brasiliensis 267 83,62 ± 30,01 1,77 227,00
Trichiurus lepturus 144 221,98 ± 119,31 2,83 728,00
Anisotremus surinamensis 144 103,67 ± 20,47 58,00 175,00
Larimus breviceps 135 70,5 ± 30,41 25,00 199,00
Symphurus tesselatus 134 113,64 ± 20,00 1,07 170,00
Peprilus paru 133 52,01 ± 16,25 21,00 100,00
Ophioscion punctatissimus 92 78,54 ± 18,27 40,00 136,00
Cynoscion leiarchus 88 73,45 ± 25,25 31,00 208,00
Cyn. jamaicensis 59 77,13 ± 19,41 28,00 153,00
Micropogonias furnieri 56 103,45 ± 46,39 57,00 224,00
Cathorops spixii 55 109,76 ± 27,07 82,00 203,00
Menticirrhus americanus 53 121,92 ± 53,19 51,00 264,00
Prionotus punctatus 47 56,81 ± 18,99 30,00 105,00
Lagocephalus laevigatus 46 67,71 ± 18,50 40,00 115,00
Porichthys porosissimus 41 88,46 ± 63,53 45,00 320,00
Selene vomer 41 64,68 ± 20,90 32,00 126,00
Diapterus rhombeus 38 153,50 ± 11,21 135,00 171,00
Chloroscombrus crysurus 38 54,40 ± 13,09 30,00 90,00
Selene setapinnis 34 63,94 ± 20,67 36,00 126,00
Anchoa lyolepis 31 88,77 ± 4,39 80,00 97,00
Chirocentrodon bleekerianus 26 74,79 ± 18,34 50,00 104,00
Bairdiella ronchus 23 58,87 ± 19,54 35,00 96,00
Achirus lineatus 21 60,86 ± 19,17 41,00 90,00
Menticirrhus littoralis 21 117,52 ± 64,28 52,00 282,00
Ctenosciaena gracilicirrhus 18 57,17 ± 23,35 30,00 107,00
Cynoscion virescens 18 74,00 ± 24,76 36,00 129,00
Achirus declivis 14 99,42 ± 33,24 65,00 160,00
Etropus crossotus 13 88,54 ± 16,70 57,00 116,00
Stellifer stellifer 8 60,90 ± 18,69 39,00 122,00
Sphoeroides greeleyi 8 30,12 ± 7,18 24,00 42,00
Citharichthys arenaceus 8 125,62 ± 29,10 81,00 155,00
continua
33
Tab. 5 – continuação
Espécies n X ± S Min (mm) Max (mm)
Ophichthus gomesii 7 494,28 ± 25,86 463,00 530,00
Narcine brasiliensis 5 128,20 ± 33,06 97,00 181,00
Genidens barbus 5 173,40 ± 46,29 114,00 235,00
Rypticus randalli 5 119,60 ± 10,99 108,00 133,00
Cetengraulius edentulus 4 118,00 ± 15,56 107,00 129,00
Stellifer sp. 4 67,17 ± 31,22 30,00 111,00
Pomadasys corvinaeformis 3 81,00 ± 34,28 50,00 130,00
Cynoscion acoupa 3 69,00 ± 13,00 54,00 77,00
Conodon nobilis 3 53,00 ± 2,83 51,00 55,00
Eucinostomus argenteus 3 108,00 ± 7,94 99,00 114,00
Citharichthys spilopterus 3 142,00 ± 2,83 140,00 144,00
Nebris microps 2 142,00 ± 9,90 135,00 149,00
Chaetodipterus faber 2 101,50 ± 19,09 88,00 115,00
Aspistor luniscutis 2 120,50 ± 4,95 117,00 124,00
Sphoeroides testudineus 2 71,00 ± 65,05 25,00 117,00
Lycengraulis grossidens 2 121,00 ± 2,83 119,00 123,00
Anchoa filifera 2 87,00 ± 4,24 84,00 90,00
Sphyraena guachancho 2 47,50 ± 0,71 47,00 48,00
Genidens genidens 1 222,00 222,00 222,00
Anchoviella lepidentostole 1 155,00 155,00 155,00
Eucinostomus melanopterus 1 69,00 69,00 69,00
Trinectes paulistanus 1 135,00 135,00 135,00
Prionotus nudigula 1 42,00 42,00 42,00
Caranx latus 1 174,00 174,00 174,00
Trachinotus carolinus 1 31,00 31,00 31,00
34
110
100
Comprimento total (mm)
95
90
85
80
75
70
65
Jan Mar Mai Jul Set Nov
Fev Abr Jun Ago Out Dez
Entre as cinco espécies mais abundantes selecionadas para análise estrutura de tamanho estão:
P. brasiliensis, S. rastrifer, S. brasiliensis, P. harroweri e I. parvipinnis Os exemplares de P.
brasiliensis foram em média maiores entre fevereiro e maio e entre as áreas de coleta 4 e 5.
Menores tamanhos médios foram capturados entre agosto e dezembro. Em S. rastrifer observaram-
se capturas de peixes maiores de abril a junho e tamanhos médios intermediários ocorreram nos
demais meses com as menores médias de comprimento total presentes em outubro. Em S.
brasiliensis as médias do comprimento total foram maiores nos meses de junho e julho. Os menores
exemplares dessa espécie ocorreram em novembro e dezembro. Em abril e novembro foram
maiores as médias do comprimento total de P. harroweri, com média significativamente menor no
mês de março. I. parvipinnis esteve presente com menor tamanho total médio nas amostras de
janeiro a março. As médias foram significativamente maiores nos meses de junho e novembro (Fig.
3).
35
140 80
120 70
100 60
80 50
60 40
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
100
80
90
70
80
60
70
50
60
40
50
30
40 Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Isopisthus parvipinnis
40
00
80
60
40
20
Jan Fev Mar Abr Mai Ju n Jul Ago Set Ou t N ov Dez
A maioria das espécies, cerca de 97 %, apresentou peso médio menor que 50 g. O peso médio
total das espécies agrupadas foi de 8,17 (± 17,89g) com a menor média em Sphyraena guachancho
(0,49g), e a maior em Netuma barba (70,49g). Os indivíduos de menor peso foram de Cynoscion
jamaicensis (0,20g), e os de maior peso foram de Porichthys porosissimus (416,24g), Menticirrhus
littoralis (212,13g), e Menticirrhus americanus (201,61g) (Tab.6).
Tabela 6 - Número de exemplares, média, desvio padrão, mínimo, máximo do peso na plataforma
interna entre a Baía de Guaratuba e a Foz do Rio Saí-Guaçu. n = 7648; x ± S = 8, 17 g ± 17,89g;
Min = 0,03 g; Max = 487,0 g.
Espécies n X ± S Min (g) Max (g)
Paralonchurus brasiliensis 2421 8,66 ± 14,08 0,05 142,00
Stellifer rastrifer 1015 6,65 ± 9,05 0,17 119,93
Stellifer brasiliensis 817 4,72 ± 8,46 0,03 180,00
Pellona harroweri 768 2,40 ± 8,73 0,15 158,00
Isopisthus parvipinnis 598 4,55 ± 8,96 0,03 107,00
Cynoscion microlepidotus 295 3,26 ± 2,26 0,34 13,11
Urophycis brasiliensis 267 7,42 ± 15,86 0,48 144,00
Trichiurus lepturus 144 11,95 ± 23,63 0,12 197,08
Anisotremus surinamensis 144 17,44 ± 10,47 2,64 82,65
Larimus breviceps 135 7,65 ± 16,72 0,20 121,33
Symphurus tesselatus 134 11,85 ± 8,18 1,38 67,27
Peprilus paru 133 5,32 ± 12,54 0,19 139,00
Ophioscion punctatissimus 92 6,73 ± 6,66 0,59 42,48
Cynoscion leiarchus 88 6,11 ± 11,37 0,26 93,07
Cyn. jamaicensis 59 5,40 ± 5,92 0,20 42,39
Micropogonias furnieri 56 19,54 ± 29,51 1,79 116,06
Cathorops spixii 55 15,86 ± 17,32 4,24 93,90
Menticirrhus americanus 53 32,27 ± 45,02 1,23 201,62
Prionotus punctatus 47 2,77 ± 2,75 0,34 12,09
Lagocephalus laevigatus 46 7,59 ± 6,39 1,29 31,56
Porichthys porosissimus 41 30,07 ± 94,37 0,87 416,24
Selene vomer 41 5,31 ± 6,18 0,42 30,67
Diapterus rhombeus 38 60,56 ± 18,98 35,11 140,10
Chloroscombrus crysurus 38 1,98 ± 1,41 0,36 7,03
Selene setapinnis 34 4,33 ± 4,76 0,68 26,06
Anchoa lyolepis 31 4,37 ± 0,76 2,78 6,21
Chirocentrodon bleekerianus 26 2,80 ± 2,19 0,45 6,28
continua
37
Tab. 6 – continuação
Espécies n X ± S Min (g) Max (g)
Bairdiella ronchus 23 3,25 ± 3,35 0,76 12,59
Achirus lineatus 21 6,05 ± 5,27 1,22 19,26
Menticirrhus littoralis 21 31,02 ± 57,71 0,94 212,35
Ctenosciaena gracilicirrhus 18 3,21 ± 3,65 0,32 12,23
Cynoscion virescens 18 4,87 ± 3,57 0,33 14,08
Achirus declivis 14 30,78 ± 32,53 5,90 99,37
Etropus crossotus 13 8,60 ± 5,16 1,64 20,65
Stellifer stellifer 8 3,37 ± 4,36 0,70 22,24
Sphoeroides greeleyi 8 0,78 ± 0,51 0,38 1,72
Citharichthys arenaceus 8 21,00 ± 12,64 3,52 38,65
Ophichthus gomesii 7 32,08 ± 21,22 87,31 137,31
Narcine brasiliensis 5 37,15 ± 33,04 11,96 94,22
Genidens barbus 5 70,49 ± 38,55 30,10 122,89
Rypticus randalli 5 21,31 ± 5,63 14,34 26,75
Cetengraulius edentulus 4 15,72 ± 5,92 11,54 19,91
Stellifer sp. 4 5,23 ± 5,68 0,40 15,63
Pomadasys corvinaeformis 3 10,36 ± 13,13 1,83 29,93
Cynoscion acoupa 3 3,39 ± 1,34 1,84 4,22
Conodon nobilis 3 1,97 ± 0,73 1,46 2,49
Eucinostomus argenteus 3 16,02 ± 3,61 12,05 19,12
Citharichthys spilopterus 3 28,71 ± 1,46 27,68 29,74
Lycengraulis grossidens 2 11,35 ± 1,38 10,37 12,33
Anchoa filifera 2 4,50 ± 0,39 4,23 4,78
Sphyraena guachancho 2 0,49 ± 0,14 0,39 0,59
Genidens genidens 1 91,02 91,02 91,02
Anchoviella lepidentostole 1 25,27 25,27 25,27
Eucinostomus melanopterus 1 68,15 68,15 68,15
Trinectes paulistanus 1 58,37 58,37 58,37
Prionotus nudigula 1 0,87 0,87 0,87
Caranx latus 1 49,37 49,37 49,37
Trachinotus carolinus 1 0,54 0,54 0,54
38
A média de peso dos exemplares capturados foi maior em abril, e o pesos médios intermediários
ocorreram em janeiro, março, junho e outubro, sendo menores nos demais meses (Fig. 4).
24
20
18
16
Peso ( g )
14
12
10
2
Jan Mar Mai Jul Set Nov
Fev Abr Jun Ago Out Dez
Na maioria dos peixes, como não foi possível determinar o sexo, os indivíduos foram
denominados como de sexo indeterminado, sendo representados por jovens. O maior número de
observações foi para fêmeas em todos os meses de coleta, e as maiores diferenças na proporção
sexual ocorreram entre setembro e dezembro, especialmente em outubro (Fig. 5).
Predominaram na região, indivíduos imaturos e de sexo indeterminado com aproximadamente
92% de freqüência. O estádio A esteve presente em todos os meses de coleta, porém em maior
quantidade em outubro e novembro. Maiores freqüências de B e C foram observadas entre outubro
e dezembro (Fig. 6). Entre as espécies coletadas na área, 24 estiveram representadas somente por
indivíduos imaturos e 12 por imaturos e em maturação. Na área o estádio C só ocorreu em 25
espécies, enquanto que os estádios D e R foram observados em apenas 4 indivíduos de M.
americanus, 2 exemplares para cada estádio (Tab 7).
39
800
600
400
200
0
I M F I M F I M F I M F
Janeiro F evereiro Março Abril
800
600
400
200
0
I M F I M F I M F I M F
Maio Jun ho Julho Ag osto
800
600
400
200
0
I M F I M F I M F I M F
Setemb ro Ou tu bro N ovemb ro D ezemb ro
Sexo
Figura 5 - Histograma da freqüência absoluta mensal na plataforma interna rasa entre a Baía de
Guaratuba e a Foz do Rio Saí-Guaçu (I = Indeterminado; M = Machos; F = Fêmeas).
20 4,2
3,8
18
3,6
3,4
16
Número de espécies
3,2
Riqueza ( D )
3,0
14
2,8
2,6
12 2,4
2,2
10 2,0
1,8
8 1,6
1,4
H= 33,66 p< 0,01
Média e S
6 1,2
Jan Mar Mai Jul Set Nov Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Fev Abr Jun Ago Out Dez
300 2,8
2,2
Número de peixes
2,0
200
Diversidade ( H` )
1,8
1,6
150
1,4
1,2
100
1,0
0,8
50
0,6
0,4
Jan Mar Mai Jul Set Nov Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Fev Abr Jun Ago Out Dez
3000 1,0
0,7
Peso ( g )
1500
0,6
1000
0,5
500 0,4
0,3
0
Figura 7 -Variação temporal na média do número de peixes, número de espécies, peso da captura, e
dos índices de riqueza de Margalef (D), diversidade de Shannon-Wiener e equitabilidade de Pielou
(J), na plataforma interna rasa entre a Baía de Guaratuba e a Foz do Rio Saí-Guaçu ( Média
; ±erro padrão).
44
Ao nível de similaridade de 77%, os meses de coleta se agrupam em três grupos principais: O
grupo A com os meses de dezembro, janeiro, fevereiro e março, apresentou as maiores freqüências
de ocorrência das espécies P. brasiliensis e S. brasiliensis, enquanto que no grupo B, formado pelos
meses de maio, junho, julho, agosto, as capturas de S. rastrifer, P. harroweri, C. microlepidotus e
U. brasiliensis foram maiores, esta última exclusiva desse período e setembro (Fig. 8). Também
foram um pouco maiores as abundâncias de T. lepturus, P. paru e C. leiarchus entre maio e agosto.
As espécies I. parvipinnis, L. breviceps e S. tesselatus ocorreram em quantidades semelhantes nos
dois grupos. O grupo C diferiu dos grupos A e B principalmente pelo padrão de ocorrência de P.
brasiliensis, P. harroweri e P. paru, mais abundantes nos meses de outubro e novembro. Os meses
isolados de abril e setembro se caracterizaram pela baixa freqüência ou ausência das espécies mais
abundantes e constantes no resto do ano, exceção de P. brasiliensis, presentes em grande
quantidade em setembro.
No gráfico de MDS, o alto stress (0,13) indica que as similaridades não estão adequadamente
representadas pelas distâncias no plano. Essa dificuldade para representação das similaridades, não
permite evidenciar os grupos com a mesma precisão do Cluster (Fig.8).
45
Mar
A Fev
Jan
Dez
Ago
B Jul
Mai
Jun
Abr
C Nov
Out
Set
60 70 77% 80 90 100
Similaridade de Bray-Curtis ( % )
Figura 8 - Dendrograma e ordenação pelo método MDS baseados nos dados de densidade das
principais espécies, amostrados mensalmente na plataforma interna rasa entre a Baía de Guaratuba e
a Foz do Rio Saí-Guaçu. Grupos de espécies delineados no nível de 78 % de similaridade no
dendrograma estão circundados no gráfico de ordenação. O estresse da ordenação MDS = 0,09.
46
5 – DISCUSSÃO
A maior incidência de jovens imaturos ocorreu em outubro e novembro, período que coincidiu
com maiores flutuações sazonais relacionadas ao número de peixes. Corrêa (2000) também
encontrou abundantes populações compostas por indivíduos jovens e influência da variação
temporal na estrutura de tamanho, conforme encontrado neste estudo. Vários autores constataram
em seus estudos que a abundância de peixes jovens esteve relacionada à variação temporal
refletindo a utilização do ambiente estuarino como área de alimentação e crescimento (Reis, 1986;
Chaves, 1994; Abilhôa, 1998; Wooton, 1998; Pinheiro, 1999; Godefroid 2004). As espécies
dominantes P. brasiliensis, S. rastrifer e S. brasiliensis apresentaram diferenças nas estruturas de
tamanho relacionadas a variações temporais. Godefroid (2004) citou que P. brasiliensis, S. rastrifer,
S. brasiliensis, I. parvipinnis, S. stellifer, M. littoralis, T. paulistanus e M. americanus parecem
53
utilizar o infralitoral raso de Atami, Baía de Paranaguá, para desova e recrutamento, devido à
elevada ocorrência destas espécies juvenis, principalmente entre o final da primavera até a metade
do outono. Foi reportado para a região da Baía de Paranaguá, que é comum peixes entrarem em
atividade reprodutiva na primavera e verão com fase de recrutamento estendendo-se do verão ao
outono. Apenas os resultados para S. brasiliensis coincidiu com o período observado neste trabalho
(Chaves & Vendel, 1997; Godefroid et al., 1997; Chaves & Otto, 1999).
De acordo com a metodologia aplicada, os diferentes estádios de maturação gonadal não foram
muito freqüentes para a ictiofauna demersal local, pois como era de se esperar, a maioria dos
indivíduos apresentou fase imatura principalmente nos meses de outubro e novembro. Dos estádios
gonadais encontrados, as fases em maturação e maduro foram freqüentes em outubro e dezembro,
conforme apetrecho utilizado. Godefroid (2004) também encontrou peixes juvenis e imaturos
presentes o ano todo na área de estudo, apresentando um pico de ocorrência em outubro e
novembro. Estas informações levam a supor que na região de coleta, na isóbata de 10 m, pode ser
considerada como área de crescimento das espécies encontradas. É importante ressaltar que esta
afirmação é baseada nos resultados obtidos considerando as limitações nas amostragens e o período
de 1 ano de coleta. Os meses mais quentes têm sido registrados como os mais propícios para o
período reprodutivo das espécies do litoral do Paraná (Chaves & Vendel, 1997; Chaves & Otto,
1999; Chaves & Bouchereau, 1999; Corrêa, 2001; Godefroid, 2004).
Chaves & Bouchereau (2000) constataram que fêmeas maduras de P. brasiliensis não realizam
desovas no interior da Baía de Guaratuba, levantando a hipótese de que utilizariam a região para
armazenamento de energia a qual seria alocada para o desenvolvimento das gônadas. Godefroid
(2004) registrou que indivíduos de P. brasiliensis parecem utilizar o infralitoral raso para desova e
crescimento.De acordo com o observado para gônadas de P. brasiliensis, talvez ocorra atividade
reprodutiva no ano todo. É importante lembrar que existiram restrições quanto aos métodos de
amostragens, o que pode ter impedido a captura de indivíduos adultos reprodutores.
Foi reportado por Chaves & Vendel (1997) que S. rastrifer completa seu ciclo reprodutivo no
interior da Baía de Guaratuba, com desovas na primavera. Estes autores afirmaram ainda que a
distribuição mensal de tamanho médio não apresentou grandes variações sazonais indicando que o
recrutamento persiste por um longo período. Esses comprimentos médios uniformes ao longo do
ano foram diferentes dos encontrados neste trabalho, em que esta espécie apresentou exemplares de
diferentes tamanhos médios entre os meses do ano. Esta comparação foi feita considerando as
semelhanças nos métodos de amostragens que foram o período da manhã e em arrastos de fundo
54
com poucas profundidades. Chaves & Bouchereau (2000) também confirmaram que fêmeas de S.
rastrifer desovam na mesma região. Pinheiro (1999) constatou que S. rastrifer utiliza a região da
Ilha do Mel, Baía de Paranaguá como criadouro e para desenvolvimento de formas juvenis. Corrêa
(2000) encontrou que esta espécie apresentou diferentes graus de desenvolvimento gonadal na Baía
de Guaraqueçaba, afirmando que ocorreu intensa atividade reprodutiva, além de ter constatado o
recrutamento na região. De modo geral, os trabalhos envolvendo S. rastrifer têm sido realizados em
baías e estuários, sugerindo que estas áreas podem ser exclusivas para reprodução, crescimento e
criação desses indivíduos. Vários autores consideram estes peixes como estuarinos dependentes
para reprodução, recrutamento e/ou alimentação (Corrêa, 1987; Chaves, 1994; Chaves & Vendel,
1997; Abilhôa, 1998; Pinheiro, 1999; Chaves & Bouchereau, 2000; Corrêa, 2000). Para ambientes
costeiros de plataforma, Godefroid (2004) supôs que indivíduos de S. rastrifer podem utilizar a
plataforma rasa para completar o ciclo de vida. Foi observado para S. rastrifer, assim como ocorreu
para P. brasiliensis, que estes peixes também podem utilizar a região para atividade reprodutiva
durante todo o ciclo de vida.
A variação temporal foi significativa apenas para o número de peixes em outubro e novembro,
porém, para o número de espécies e biomassa, nenhuma dinâmica sazonal foi observada. Segundo
Kennish (1990), as comunidades ictiofaunísticas, mesmo sendo representadas por poucas espécies
dominantes, se submetem a mudanças temporais na composição e diversidade em função da
mobilidade dos peixes e suas migrações sazonais associadas aos ciclos reprodutivos e alimentares.
Vários estudos associaram a influência sazonal nos padrões de reprodução e aumento do
recrutamento (Abilhôa, 1998; Pinheiro, 1999; Corrêa, 2000). O recrutamento, com a conseqüente
entrada de juvenis aumentando o número e o peso, e a entrada de maduros também aumentando o
peso nas capturas, ocorreram em outubro e novembro, período que coincidiu com a maior
significância temporal em relação ao número de espécies. Abilhôa (1998) encontrou um padrão
temporal da composição e estrutura da ictiofauna da Ilha do Mel, Paranaguá com o inverno e
primavera distintos do verão e outono em relação ao número de peixes e espécies. Corrêa (2000)
também registrou para Baía de Guaraqueçaba um maior número de espécies no inverno e na
primavera. Godefroid et al. (2004) não observaram nenhum padrão sazonal de ocorrência numérica
definido, o que diferencia do que foi encontrado para este estudo. O autor justifica que este
resultado ocorreu porque a abundância dos peixes dependeu de quatro espécies que apresentaram
dominância numérica durante o ano, porém com picos de abundância distribuídos de forma
aleatória no ambiente de praia em Atami, próxima à Baía de Paranaguá. Vendel et al (2002)
55
registraram variação temporal de número de peixes, espécies e biomassa, atribuindo este padrão de
heterogeneidade à dinâmica de variação da espécie mais abundante Anchoa parva. Apesar de ser
relevado o predomínio de A. parva, estes autores constataram que a maioria das espécies da região
da Gamboa de Baguaçu, Baía de Paranaguá, desovam entre a primavera e verão, com recrutamento
estendendo-se até outono, coincidindo com período encontrado na mesma região por Godefroid
(1997), Abilhôa (1998) e Pinheiro (1999). Comparando os resultados desses estudos, no presente
trabalho, o recrutamento parece ocorrer o ano todo, evidenciando a plataforma interna como
“berçário” das espécies que utilizam a região amostrada.
Em ambientes costeiros, os maiores valores na abundância e no número de espécies de peixes,
nos arrastos de fundo, foram obtidos no verão, e os menores valores no inverno (Chao et al. 1985).
A utilização das medidas de diversidade é importante porque apontam tendências temporais na
estrutura da ictiofauna (Pielou, 1966). Embora não exista tendência sazonal nos valores médios de
riqueza de Margalef (D), diversidade de Shannon-Wiener (H’) e equitabilidade de Pielou (J)
observou-se valores menores para os três índices, principalmente em setembro e outubro. Este
resultado foi semelhante ao encontrado por Godefroid (2004) que não encontrou nenhum padrão
sazonal para os índices de riqueza, diversidade e equitabilidade. Corrêa (2000) registrou diferenças
entre os índices, onde os menores valores de diversidade ocorreram entre o outono e inverno, e de
equitabilidade no outono. Spach et al. (2004) ao estudarem a estrutura da comunidade de um rio de
maré de mangue da Baía de Paranaguá, detectaram padrões similares de diversidade e
equitabilidade no período amostral de 12 meses, enquanto o índice de riqueza apresentou padrão
diferente, indicando que a diversidade e equitabilidade das espécies, ambas componentes da
diversidade, seguiram diferentes tendências ao longo do tempo. Considerando o litoral do Paraná, as
diferenças no padrão sazonal encontradas entre os índices de populações, podem indicar a diferente
utilização temporal desses ambientes pelos peixes.
Através da análise de Cluster de meses e o seu MDS, não foram observadas diferenças
significativas em relação ao padrão de ocorrência das espécies dominantes. A partir da interpretação
dos dendrogramas, a análise de classificação indicou uma co-ocorrência das espécies agrupadas de
acordo com a freqüência de mais de 1% de ocorrência. O agrupamento foi observado nas espécies
mais abundantes durante o ano (Symphurus tesselatus, L. breviceps, I. parvipinnis, S. rastrifer, S
brasiliensis, P. harroweri, P. brasiliensis, Peprilus paru e T. lepturus), enquanto que as espécies de
baixa freqüência na região não se agruparam (C. microlepidotus, C. leiarchus e U. brasiliensis).
Diferentes espécies podem ter desenvolvido preferência de habitat independentemente; a
competição ou a predação podem ter direcionado seleção de habitat no passado, ou estar mantendo
segregação de habitat no presente. Muitos estudos sugerem que a partição de recursos entre peixes,
é o resultado de interações competitivas (Jackson et al. 2001). Talvez isso possa explicar porque
56
espécies de diferentes hábitos se agruparam, como no caso das espécies marinhas P. brasiliensis
(demersal) e P. harroweri (pelágica), que constituíram o grupo B e de P. paru (marinha) e T.
lepturus (marinho-estuarina), que formaram o grupo C. Do grupo A formado pelas espécies
Symphurus tesselatus, L. breviceps, I. parvipinnis, S. rastrifer, S brasiliensis, apenas L. breviceps é
marinha, enquanto as outras são marinho-estuarinas. Com exceção de S. tesselatus, as espécies do
grupo A pertencem à família Sciaenidae, sendo duas do gênero Stellifer, o que pode indicar que
suas proximidades morfológicas e ecológicas reflitam no modo de explorar os recursos alimentares,
e de apresentar uma tendência de agregação de juvenis na região. Entre as espécies que não se
agruparam estão U. brasiliensis e C. leiarchus. Apesar das restrições quanto às formas de capturas,
indivíduos de U. brasiliensis de pequeno porte foram capturados somente no inverno, evidenciando
que se deslocaram da região mais ao sul à procura ambientes propícios para desenvolvimento de
recrutas.
Uma maior similaridade ictiofaunística foi identificada entre o infralitoral do Atami e as áreas
costeiras de São Paulo e Rio de Janeiro, embora as metodologias aplicadas tenham sido diferentes
nas regiões sudeste e sul (Nonato et al., 1983; Araújo et al., 1998; Rocha & Rossi-
Wongtschowski, 1998; Muto et al., 2000; Godefroid, 2004). Foram encontradas maiores
similaridades ictiofaunísticas para a região da plataforma interna, com maior contribuição de P.
brasiliensis, única espécie presente nos meses isolados de abril e setembro, onde foram registradas
baixa freqüência e ausência das demais espécies. A similaridade do grupo A foi formada pela
espécie marinha P. brasiliensis, e pelas marinho-estuarinas S. rastrifer, I. parvipinnis e S.
brasiliensis, todas representantes da família Sciaenidae, as quais contribuíram para a
homogeneidade, estando presentes na região o ano todo. Este resultado leva a supor que estas
populações devem desenvolver estratégias que permitam a coexistência para utilização dos recursos
no ambiente. Isto foi constatado quando foram estudados os hábitos alimentares de P. brasiliensis e
S. rastrifer e reconhecido que seus espectros alimentares são diferentes sugerindo que a partilha dos
recursos alimentares disponíveis podem ocorrer com as outras espécies estreitamente relacionadas.
A análise de similaridade do grupo A também pode ser interpretada para o grupo B em que a
similaridade também foi observada por três espécies de Sciaenidae de hábitos distintos, em que o
grupo foi composto por P. brasiliensis (marinha), S. rastrifer (marinho-estuarino) e C.
microlepidotus (estuarino). O grupo C foi formado pelas espécies marinhas P. brasiliensis e P.
harroweri que apresentam diferentes características morfológicas e hábitos alimentares, o que supõe
que o ambiente estudado seja capaz de manter a sustentabilidade dos grupos de peixes, inclusive os
juvenis. Em relação às dissimilaridades, ocorridas entre abril e setembro, S. rastrifer, P.
brasiliensis, P. harroweri e S. brasiliensis foram as espécies que contribuíram com relação ao
padrão temporal de ocorrência. Estas espécies que também contribuíram para as similaridades
57
demonstram que são de transição, assim como C. microlepidotus, U. brasiliensis, I. parvipinnis e S.
brasiliensis. As espécies U. brasiliensis, que tem distribuição limitada à região sudeste-sul da
América do Sul, e S. brasiliensis, com distribuição da Bahia até São Paulo, foram identificadas por
Godefroid (2004) como dissimilares na região de Atami, Baía de Paranaguá, sugerindo que o litoral
do Paraná parece não oferecer condições adequadas para a reprodução e criação dessas espécies e
de outras de regiões mais frias, constatando que a ictiofauna da região tropical de águas quente é
mais similar do que a ictiofauna de regiões subtropicais e temperadas.
Foi observado um padrão de separação temporal na ocorrência das espécies principais. Deve
ser considerado que a segregação sazonal da ictiofauna da região observada, é um resultado de
capturas obtidas através da seletividade amostral em função da metodologia aplicada. Mesmo sem a
análise das variáveis ambientais por falta de dados consistentes para os fatores abióticos, é
importante ressaltar que parâmetros ambientais são importantes na estruturação das comunidades de
peixes (Taylor et al., 1996). As variações sazonais são fatores condicionantes na ocorrência e
abundância das espécies. A composição do peixes variou significativamente durante as estações do
ano. Para a região do litoral do Paraná esta tendência também foi observada (Abilhôa, 1998;
Pinheiro, 1999; Corrêa, 2000; Santos, 2002; Godefroid, 2004; Spach, 2004). Esta dinâmica sazonal
encontrada, segundo MacFarland (1963), pode estar associada à produtividade local, período de
recrutamento, movimentos para reprodução e migrações. Conforme citado anteriormente, os meses
de verão e primavera correspondem ao período reprodutivo, época de maior incidência de P.
brasiliensis, S. brasiliensis, P. harroweri e P. paru. A separação temporal encontrada na região
durante o período amostral, indica que existem espécies periódicas sazonais, como U. brasiliensis,
que pode ser considerada como espécie periódica de inverno. A provável disponibilidade de
recursos alimentares torna o ambiente favorável para espécies residentes ou para as espécies que
procuram a região da plataforma interna para completar o ciclo de vida. A região estudada parece
oferecer recursos suficientes que permitam a sobrevivência e coexistência das espécies, em função
das possíveis adaptações no ambiente para completarem o ciclo de vida.
58
6 - CONCLUSÕES
2 – A ictiofauna local foi composta em sua maioria por espécies migradoras, residentes e
esporádicas sazonais, de origem tropical e subtropical, com maior contribuição das espécies
marinhas e marinho-estuarinas, e menor ocorrência de espécies estuarinas.
3 – A influência da variação temporal com relação à estrutura de tamanho das espécies dominantes
ocorreu em outubro e novembro.
4 – A atividade reprodutiva dos peixes capturados ocorre entre outubro e dezembro, período de
maior ocorrência de peixes em maturação e maduros.
59
7 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Capítulo II
LISTA DE FIGURAS
Figura 3 - Índice de Importância Relativa – IIR (>1 %) %), e suas respectivas freqüências de
ocorrência (%FO), número (%N) e peso (%P) dos itens alimentares de P. brasiliensis na plataforma
interna rasa entre a Baía de Guaratuba e a Foz do Rio Saí-Guaçu............................................ 77
Figura 4 - Índice de Importância Relativa – IIR (>1 %) %), e suas respectivas freqüências de
ocorrência (%FO), número (%N) e peso (%P) dos itens alimentares de S. rastrifer na plataforma
interna rasa entre a Baía de Guaratuba e a Foz do Rio Saí-Guaçu. ............................................ 79
Figura 5 - Índice de Importância Relativa – IIR (>1 %), e suas respectivas freqüências de ocorrência
(%FO), número (%N) e peso (%P), dos itens alimentares de P. brasiliensis, com as seis classes de
tamanho na plataforma interna rasa entre a Baía de Guaratuba e a Foz do Rio Saí-Guaçu.......... 83
Figura 6 - Índice de Importância Relativa – IIR (>1 %), e suas respectivas freqüências de ocorrência
(%FO), número (%N) e peso (%P), dos itens alimentares de S. rastrifer, com as quatro classes de
tamanho na plataforma interna rasa entre a Baía de Guaratuba e a Foz do Rio Saí-Guaçu........... 87
Figura 7 - Índice de Importância Relativa – IIR (>1 %), e suas respectivas freqüências de ocorrência
(%FO), número (%N) e peso (%P), dos itens alimentares de P. brasiliensis nas quatro estações do
ano, na plataforma interna rasa entre a Baía de Guaratuba e a Foz do Rio Saí-Guaçu................... 91
Figura 8 - Índice de Importância Relativa – IIR (>1 %), e suas respectivas freqüências de ocorrência
(%FO), número (%N) e peso (%P), dos itens alimentares de S. rastrifer nas quatro estações do ano,
na plataforma interna rasa entre a Baía de Guaratuba e a Foz do Rio Saí-Guaçu.......................... 94
68
xiv
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Freqüências de ocorrência (%FO), número (%FN), peso (%FP) e Índice de Importância
Relativa (%IIR) dos itens alimentares de P. brasiliensis da plataforma interna rasa entre a Baía de
Guaratuba e a Foz do Rio Saí-Guaçu............................................................................. 76
Tabela 2 - Freqüências de ocorrência (%FO), número (%FN), peso (%FP) e Índice de Importância
Relativa (%IIR) dos itens alimentares de S. rastrifer da plataforma interna rasa entre a Baía de
Guaratuba e a Foz do Rio Saí-Guaçu. ............................................................................... 78
Tabela 3 - Índice de Importância Relativa (%IIR), dos itens alimentares por classes de tamanho de
P. brasiliensis na plataforma interna rasa entre a Baía de Guaratuba e a Foz do Rio Saí-Guaçu... 81
Tabela 4 - Índice de Importância Relativa (%IIR), dos itens alimentares por classes de tamanho de
S. rastrifer, na plataforma interna rasa entre a Baía de Guaratuba e a Foz do Rio Saí-Guaçu....... 85
Tabela 5 - Índice de Importância Relativa (%IIR), dos itens alimentares de P. brasiliensis, durante
as estações do ano, na plataforma interna rasa entre a Baía de Guaratuba e a Foz do Rio Saí-Guaçu.
........................................................................................................................................................ 89
Tabela 6 - Freqüências de ocorrência (%FO), número (%N), peso (%P) e Índice de Importância
Relativa (%IIR), dos itens alimentares de S. rastrifer durante as estações do ano, na plataforma
interna entre a Baía de Guaratuba e a Foz do Rio Saí-Guaçu........................................................ 92
Tabela 7 - Índice simplificado de Morisita de P. brasiliensis (pij) e S. rastrifer (pkj,), com valores
de Cik calculados por classe de comprimento total de exemplares na plataforma interna rasa entre a
Baía de Guaratuba e a Foz do Rio Saí-Guaçu. ........................................................................... 95
Tabela 8 - Índice simplificado de Morisita de P. brasiliensis (pij) e S. rastrifer (pkj) com valores de
Cik calculados por estação do ano na plataforma interna rasa entre a Baía de Guaratuba e a Foz do
Rio Saí-Guaçu............................................................................................................................. 95
69
xv
RESUMO
xvi
ABSTRACT
Feeding habitats of the dominant species in shallow waters of the inner shelf Southern coast of
Paraná State (Paralonchurus brasiliensis and Stellifer rastrifer) were studied. Fishes were collected
monthly from April 2001 to March 2002 at 5 sites, separated each other by approximately 2 km, by
bottom trawler (6 m long) and fishing effort were standardized as 50 minutes/ months in a transect
parallel to coastline (15 m depth). Fish were preserved in ice, identified, measured at total length,
weighted and dissect to gut contents examination. A total of 240 was examined for P. brasiliensis,
ranging from 25 mm to 231 mm Total Length (TL), and 203 S. rastrifer, ranging from 25 mm to
165 mm TL. Contents were studied by frequency of occurrence, number and weight, to assess the
Importance Relative Index (IRI). The Standardized Lewis Index was used to determine niche width
and Morisita Index to niche sobreposition. Overall P. brasiliensis fed on 15 items with Polychaeta
being the most important item (IIR% = 77.74%) followed by Decapoda (IRI = 6.33%), Cumacea
(IRI=4.95%), Amphipoda (IRI=4.40%), Diatoms (IRI=2.45%), vegetal fragment (IRI=1.70%) and
non-identified crustaceans (IRI=1.42%). Other minor items were Copepoda, Brachyura, Ophiuridea,
Nematoda, Ostracoda, Fishes, Mysidacea and Gastropod, which showed IRI < 1%. Stellifer rastrifer
fed on 11 items, with Cumacea being the most important (IRI=43.09%), followed by Decapoda
(IRI=36.77%), Amphipoda (IRI=8.48%), non-identified Crustacean (IRI=7.28%) and Fishes
(IRI=3.57%); other minor items were Diatoms, Polychaeta, Nematoda, Vegetal fragment, Bivalve
and Brachyura, which showed IRI < 1%. No significant difference in IRI indices were found among
size month and site for both species. Overall it was found that both species are specialist and do not
present niche sobreposition, which allowed coexistence in the area by feeding partition or the
available resources.
71
1 – INTRODUÇÃO
Mudanças sazonais influem os hábitos alimentares, o que pode ser causado por um padrão no
ciclo de vida dos organismos que são utilizados como alimento, ou pela atividade alimentar dos
72
próprios peixes (Lucena et al. 2000). Neste estudo, os hábitos alimentares de P. brasiliensis e S.
rastrifer foram avaliados para variações sazonais, variações espaciais e classes de tamanho.
O tipo de habitat também é um fator importante que influencia a estratégia alimentar de uma
espécie, por determinar oportunidades de apreensão do alimento durante o forrageio. Os peixes
podem ser capazes de escolher entre um habitat abundante em recursos, porém com presas que
exigem mais esforço para serem capturadas; e um habitat com poucas presas, mas que ofereça
melhores oportunidades de recursos (Crowder & Cooper, 1982). No presente trabalho, a região
estudada, denota ser um meio propício para espécies que utilizam a área durante o ciclo de vida,
indicando ser um ambiente com disponibilidade de recurso suficiente para manutenção das espécies
residentes, visitantes obrigatórios ou ocasionais.
Segundo Odum (1988), nicho ecológico é a maneira pela qual uma população se especializa em
uma comunidade, para adquirir recursos necessários à sua sobrevivência, incluindo os tipos de
recursos alimentares, o tempo de atividade e a interação com outras espécies. A alimentação e a
análise da dieta é importante para a dimensão e a especificação do nicho alimentar.
Os Sciaenidae são bem representados na região costeira. Vários estudos contribuíram para o
conhecimento da biologia, e compreensão da ecologia desta família no Brasil (Vazzoler, 1975;
Giannini & Paiva-Filho, 1990; Soares, 1992; Coelho et al., 1993; Capitoli et al., 1994; Robert &
Chaves, 2001; Costa & Araújo, 2003). Chao (1978), elaborou propostas de organização de
Sciaenidae, definindo agrupamentos genéricos com base em caracteres morfológicos. As
características utilizadas por este autor, foram principalmente: a forma do corpo; tamanho e posição
de boca e dentes; número e disposição de poros e barbilhões mentonianos; e número e disposição de
poros e pregas rostrais. Tais características, segundo Zavala-Camin (1996), são mais indicativas de
adaptações alimentares e do habitat que ocupam, do que de relações filogenéticas, além de serem
relacionadas com as habilidades de obtenção do alimento.
Os estudos dos hábitos alimentares são essenciais, porque podem explicar os mecanismos de
coexistência entre os grupos que apresentam uma estreita relação ecológica, através da separação
trófica ou do compartilhamento de recursos (Milagre, 2004). Neste trabalho, procurou-se investigar
a possível existência de partição de recursos entre P. brasiliensis e S. rastrifer, e como essas
espécies, que representaram maior abundancia em número e biomassa durante a coleta de amostras
para este trabalho, utilizam os recursos na plataforma interna do litoral sul do Paraná.
Os peixes dessa espécie, conhecidos como “maria luiza”, são encontrados em águas rasas, sobre
fundo de arenosos ou lodosos da plataforma continental, e apresentam ampla distribuição
geográfica, ocorrendo desde o Panamá até a Argentina. Esta espécie atinge cerca de 300 mm de
comprimento. Neste trabalho foram encontrados jovens e adultos com tamanhos de até 231 mm de
comprimento. Indivíduos apresentam boca pequena, aproximadamente horizontal e mandíbula com
um tufo de barbilhões curtos na parte anterior. Alimentam-se de organismos marinhos bentônicos,
principalmente de vermes poliquetas. Representa um dos Sciaenidae mais abundantes, além de ser
espécie importante da fauna acompanhante (Menezes & Figueiredo, 1980).
Esta espécie, também conhecida como “cangulo” ou “canguá”, distribui-se desde a Colômbia, até
o sudeste brasileiro, sendo encontrada sobre fundos de areia e em regiões estuarinas. Alcança até
200 mm de comprimento, e no presente trabalho também foi encontrado até este tamanho. Entre os
itens alimentares encontrados, estão principalmente diversos crustáceos. Assim como P.
brasiliensis, apresenta-se uma das mais abundantes na pesca artesanal, sendo importante na fauna
acompanhante (Menezes & Figueiredo, 1980).
74
2 - MATERIAL E METODOS
Paralonchurus brasiliensis
Núm ero de indivíduos
60
40
20
0
25-60 60-95 95-130 130-165 165-200 200-231
Cla s s e s de c om prim e nto (m m )
1 00
Nú m ero d e in divíd u os
80
60
40
20
0
2 5 -60 6 0-9 5 9 5-1 3 0 13 0 -16 5
Foram definidas quatro categorias para o grau de repleção estomacal: cheio (totalmente cheio),
parcialmente cheio (muito conteúdo), médio (com metade do conteúdo) e vazio (sem conteúdo).
Estas categorias foram identificadas visualmente.
Para análise da dieta, foi utilizada a freqüência de ocorrência (%FO), que define a presença ou
ausência de itens encontrados nos estômagos, uma medida qualitativa da dieta alimentar (Zavalla-
Camin, 1996). Também foi calculada a freqüência numérica (%FN), que representa o número de
vezes que uma determinada categoria alimentar está presente nos estômagos analisados, uma
estimativa da seletividade ou da disponibilidade das presas (Zavalla-Camin, 1996). A freqüência de
peso (%FP), que representa o peso de determinada categoria alimentar em relação ao peso total dos
itens encontrados, uma informação sobre a quantidade de alimento e o grau de participação de cada
item alimentar (Zavalla-Camin, 1996), também foi utilizada.
Para o cálculo do Índice de Importância Relativa (IIR) utilizou-se a fórmula proposta por
Pinkas (1971), que envolve os três métodos de freqüência citados acima, onde IIR = (%FN +%FP)
x %FO. O IIR, transformado em porcentagem (%IIR), é calculado considerando o valor de IIR para
cada item alimentar, dividido pelo somatório dos valores de IIR.
76
Para compreender a proporção dos itens alimentares encontrados em P. brasiliensis e S.
rastrifer, foram feitas tabelas de composição geral, classes de tamanho e estações do ano com a
distribuição dos valores de freqüência de ocorrência (%FO), freqüência numérica (%FN),
freqüência de peso (%FP) e Índice de Importância Relativa (%IIR). Para cada espécie foi feita uma
lista taxonômica dos itens encontrados, porém, para ordenação dos itens alimentares, foram
considerados em ordem decrescente os valores do Índice de Importância Relativa (%IIR),
calculados com base na composição geral da dieta. Para cada espécie, a relação dos itens
alimentares foi padronizada, sendo seguida para todas as tabelas de índices alimentares.
A plotagem dos gráficos do Índice de Importância Relativa (%IIR) dos itens alimentares, para
composição geral, classes de tamanho, estações do ano e áreas de coleta, também seguiu o padrão
de distribuição dos itens alimentares em ordem decrescente, considerando os valores maiores que
1% de IIR. Foi usado o Programa Origin 5.0 para elaboração dos gráficos, com a finalidade de
visualizar os mesmos resultados descritos nas tabelas de índices alimentares.
Diz-se que as espécies de nicho amplo são generalistas e as de nicho estreito, são especialistas.
Para o conhecimento da amplitude de nicho de P. brasiliensis e S. rastrifer, utilizou-se o índice
estandarizado de Levins (Krebs, 1989), expresso pela fórmula:
Bi = (1/n-1) [(1/Σ pij2) –1], onde:
Bi = Índice Estandarizado de Levins do predador i
pij = proporção da dieta do predador i, que consome a categoria alimentar j
n = número de categorias alimentares
O intervalo deste índice é de 0 a 1, sendo que os valores próximos de 0 denotam uma tendência
especialista.
O cálculo utilizado para determinar a sobreposição do nicho trófico entre P. brasiliensis e S.
rastrifer, foi feito através do Índice de Morisita (Krebs, 1989; Labropolou & Eleftheriou, 1997),
sendo expresso por:
Cik = (2 Σ pij pkj) / (Σ pij2 + Σ pkj2), onde:
Cik = Índice Simplificado de Morisita para predadores i e k
pij pkj = proporções de predadores i e k, que consomem a categoria alimentar j
em seus estômagos.
O Índice de Morisita foi calculado considerando: composição geral das espécies, classes de
tamanho, estações do ano e áreas de coleta. Para classes de tamanho, foram utilizadas as quatro
primeiras classes semelhantes entre as espécies. O índice varia de 0 a 1 , sendo que os maiores
valores de sobreposição tendem a 1. Quando excede 0,6 a sobreposição é considerada
biologicamente significativa.
77
3 - RESULTADOS
O grau de repleção dos estômagos de P. brasiliensis variou entre cheio, parcialmente cheio e
médio, com apenas 2 estômagos vazios. Entre os 15 itens alimentares encontrados, Polychaeta foi o
item que apresentou maior valor do Índice de Importância Relativa (%IIR), correspondendo a
77,74%, seguido de Decapoda (6,33%), Cumacea (4,95%), Amphipoda (4,40%), Diatomacea
(2,45%), fragmento vegetal (1,70%) e crustáceos não-identificados (1,42%). Os demais itens como:
Copepoda, Decapoda Brachyura, Ophiuroidea, Ostracoda, Peixes, Mysidacea e Gastropoda,
apresentaram IIR menores que 1% (Tabela 1).
Tabela 1- Freqüências de ocorrência (%FO), número (%FN), peso (%FP) e Índice de Importância
Relativa (%IIR) dos itens alimentares de P. brasiliensis da plataforma interna rasa entre a Baía de
Guaratuba e a Foz do Rio Saí-Guaçu.
60
%N
Decapoda Diatomacea
40 Polychaeta Cumacea 2,4 Fragmento vegetal
6,3
77,7 4,9
20 1,7
0 %FO
20 Amphipoda Crustáceos não
4,4 identificáveis
identificados
40
1,4
%P
60
80
100
Figura 3 - Índice de Importância Relativa – IIR (>1 %) dos itens alimentares de P. brasiliensis na
plataforma interna rasa entre a Baía de Guaratuba e a Foz do Rio Saí-Guaçu.
79
3.1.2 - Stellifer rastrifer
Tabela 2 - Freqüências de ocorrência (%FO), número (%FN), peso (%FP) e Índice de Importância
Relativa (%IIR) dos itens alimentares de S. rastrifer da plataforma interna rasa entre a Baía de
Guaratuba e a Foz do Rio Saí-Guaçu.
%IIR
100 n = 203
Cumacea
80 43,1
60
FN (%)
Amphipoda
40 Peixes
8,4
Decapoda 3,5
20 36,7
0 FO(%)
20
Crustáceos não
40 identificáveis
FP (%)
7,2
60
80
100
Figura 4 - Índice de Importância Relativa – IIR (>1 %), e suas respectivas freqüências de ocorrência
(%FO), número (%N) e peso (%P) dos itens alimentares de S. rastrifer, na plataforma interna rasa
entre a Baía de Guaratuba e a Foz do Rio Saí-Guaçu.
81
3.2 - Variações por classes de tamanho
Nas seis classes de comprimento total, CT1 (25 - 60 mm), CT2 (60 - 95 mm), CT3 (95 - 130
mm), CT4 (130 – 165 mm), CT5 (165 - 200 mm) e CT6 (200 - 231 mm), Polychaeta foi o item
predominante, atingindo valores maiores que 70,00% de IIR (Tabela 3). Quanto ao segundo item
mais abundante, as três classes primeiras classes apresentaram itens diferentes: CT1 (Amphipoda),
CT2 (Decapoda) e CT3 (Cumacea). Entre os demais itens alimentares observados foram
encontrados: Peixes nas classes de tamanho CT1 e CT3; Mysidacea nas classes CT2 e CT3; e
Ophiuroidea somente na classe CT3. Gastropoda não foi encontrado em nenhuma das três classes
de tamanho. Os outros itens alimentares, que correspondem à maioria, foram observados nas três
classes, embora com menor freqüência. Decapoda foi o segundo item mais freqüente nas classes
CT4, CT5 e CT6. Também foram identificados nos conteúdos estomacais Cumacea, Diatomacea,
fragmento vegetal e Ophiuroidea. Apenas nos estômagos da classe CT4 foram encontrados
Copepoda, Peixes e Gastropoda. Exclusivos dos conteúdos alimentares de CT4 e CT5 foram os
itens Amphipoda, crustáceos não-identificados e Brachyura. Em nenhum estômago de peixes dessas
classes ocorreram Ostracoda e Mysidacea (Tab. 3).
82
Tabela 3 - Índice de Importância Relativa (%IIR), dos itens alimentares por classes de tamanho de
P. brasiliensis na plataforma interna rasa entre a Baía de Guaratuba e a Foz do Rio Saí-Guaçu.
Classes de tamanho
Itens alimentares
CT1 CT2 CT3 CT4 CT5 CT6
25-60 mm 60-95 mm 95-130 mm 130-165 mm 165-200 mm 200-231 mm
(n=28) (n=67) (n=57) (n=41) (n=41) (n=6)
%IIR %IIR %IIR %IIR %IIR %IIR
Gastropoda - - - 0,01 - -
83
Os 28 estômagos da classe de tamanho CT1 (25–60 mm) mostraram a dominância no conteúdo
estomacal do item Polychaeta (73,6%), com uma maior proporção do peso em relação ao número,
enquanto que Amphipoda foi o segundo item mais freqüente (12,7%), esse apresentando uma maior
proporção do número em relação ao peso. Valores do ÍIR maiores que 1% ocorreram também nos
itens Cumacea, Diatomacea, fragmento vegetal e crustáceos não-identificados (CNI), com a
contribuição em número superando em peso nos três primeiros itens, ocorrendo o inverso nos dois
últimos (Fig. 5).
Na classe de tamanho CT2 (60-95 mm) o item Polychaeta também foi o mais importante,
apresentando um IIR de 76,60 %, porém o segundo item mais freqüente foi Decapoda, com 6,34%
de IIR em 67 estômagos analisados. Esses dois itens, tiveram uma maior contribuição em peso em
comparação ao número (Fig. 5). Com IIR menores porém significativos, estiveram presentes no
conteúdo estomacal de indivíduos dessa faixa de tamanho Cumacea, Amphipoda, Diatomacea,
fragmento vegetal, CNI, e Copepoda, com todos excetuando-se os crustáceos não-identificados,
apresentando uma maior contribuição percentual em número (Fig. 5).
Em 57 estômagos de peixes da classe de tamanho CT3 (95-130 mm), o maior Índice de
Importância Relativa foi de Polychaeta (69,30%), com a contribuição em peso maior do que em
número, aparecendo como o segundo item mais freqüente Cumacea (IIR = 10,34%), nesse caso com
uma maior contribuição em número. Também importantes foram os itens alimentares Decapoda,
Amphipoda, Diatomacea, fragmento vegetal, e CNI, todos presentes no conteúdo com IIR maiores
que 1%, com maior contribuição percentual em peso somente em Decapoda (Fig. 5).
Examinando 41 estômagos de P. brasiliensis da classe CT4 (130-165 mm), verificou-se o
predomínio de Polychaeta (IIR = 73,56%) e de Decapoda (IIR = 15,43%) na dieta desses peixes
(Fig. 5). A proporção de peso foi maior que de número para ambos os itens, sendo mais acentuada a
diferença na contribuição percentual em Polycheta (Fig. 5). Cumacea, fragmento vegetal e
crustáceos não-identificados foram os outros itens com IIR maiores que um, com todos
apresentando uma maior contribuição percentual em número de individos (Fig. 5).
Em P. brasiliensis com comprimentos entre 165-200 mm (CT5), predominou Polychaeta (IIR =
88,6 %) seguido por Decapoda e Cumacea, os outros únicos itens com IIR maiores que 1%.
Somente em Polychaeta a contribuição em peso superou a numérica (Fig. 5).
Nos maiores exemplares de P. brasiliensis CT6 (200-231 mm) predominou Polychaeta (IIR =
73,8%) seguido de Decapoda (16,8% de IIR) (Fig. 5). A maior proporção em peso ocorreu em
ambos os itens. No conteúdo de P. brasiliensis dessa classe de tamanho, também ocorreram com
um IIR maior que 1% os itens Diatomacea, fragmento vegetal e Ophiuroidea, com o primeiro item
contribuindo proporcionalmente mais em número, enquanto que os outros dois praticamente com a
mesma porcentagem em número e peso (Fig. 5).
84
100 n=28
IIR(%) 100
80 %IIR n=41
80
Amphipoda Cumacea
60 7,5
12,7 60
%N
%N
40 Fragmento 40 Decapoda vegetal
73,6 vegetal 73,5
20 15,4 1,5
1,8 20
0 %FO 0 %FO
20 Crustáceos
Cumacea Diatomacea Crustáceos 20
nãoidentificáveis nãoidentificáveis
%P
40 3,6 Não
%P
5,8 1,6 40 1,0
60
60
80
CT1=25- 60mm 80
CT4=130- 165mm
100
100
100
%IIR n=67 100
IIR (%) n = 41
80
80
60 Diatomacea
Copépoda 60 Polychaeta
4,2 Fragmento Copépoda
%N
Cop 88,6
%N
%FO 0 %FO
0
20 Cumacea
20 Amphipoda
%P
Crustáceos
CNI 1,1
40
5,4 Crustáceos
%P
40 Decapoda nãoidentificáveis
6,3 1,7 60
60 80
100
100 n = 57
%IIR 100
IIR (%) n=6
80 80
60 Diatomacea 60
Polychaeta Decapoda Diatomacea
%N
%N
0 %FO 0 % FO
20 20
Amphipoda Crustáceos
CNI não Ophiuridea
Crustáceos não-
%P
60
60
80 CT6 = 200 - 231 mm
80 CT3 = 95 - 130 mm
100
100
Figura 5 - Índice de Importância Relativa – IIR (>1 %), e suas respectivas freqüências de
ocorrência (%FO), número (%N) e peso (%P), dos itens alimentares de P. brasiliensis, com as seis
classes de tamanho na plataforma interna rasa entre a Baía de Guaratuba e a Foz do Rio Saí-Guaçu.
85
3.2.2 - Stellifer rastrifer
Nas quatro classes de comprimentos totais: CT1 (25 - 60 mm), CT2 (60 - 95 mm), CT3 (95 -
130 mm) e CT4 (130 – 165 mm), Cumacea e Decapoda foram os itens predominantes, atingindo
valores maiores que 40% de IIR. Em peixes da classe de tamanho CT1, Cumacea e Decapoda foram
os principais itens encontrados, com valores próximos de IIR, correspondendo a 46,39% (Cumacea)
e 40,28 % (Decapoda). Em CT2 Decapoda prevaleceu com 62,76% seguido por Cumacea com
27,87% de IIR. Na classe de tamanho CT3 Decapoda também foi o item com maior valor de IIR
(68,98%), vindo a seguir os crustáceos não-identificados (IIR = 19,42%). Em CT4 Cumacea foi o
item principal com 48,19% de IIR, seguido também por crustáceos não-identificados (IIR =
36,42%) (Tab. 4).
Classes de tamanho
Itens
alimentares CT1 = 25-60 mm CT2 = 60-95 mm CT3=95-130 mm CT4=130-165 mm
( n=86) ( n=79) ( n=27) ( n=7)
%IIR %IIR %IIR %IIR
Bivalvia 0,02 - - -
Brachyura - - 0,09 -
100 IIR(%)
n=86 IIR(%) n=27
Cumacea 100
80
46,4
80 Cumacea
60 6,8
Decapoda Crustác
%N
60
%N
40 Amphipoda Crustáce 69,0 Crueos
stáceosnão
8,5 Cru
CNI
stáceo snão 40 idCNI
enãtificáveis
os não- 19,4 Peixes
20 Decapoda iden tificáveis
40,2 id tifi 20 4,0
3,7
0 %FO 0 %FO
20 20
%P
40 40
%P
60
60
80 CT3=95-130mm
80
CT1=25- 60mm 100
100
IIR (%)
IIR (%) n = 79 n= 7
100 100
Decapoda
Cumacea
80 80 8,9
27,9
60 60
Amphipoda Crustáceosnão
%N
Amphipoda
%N
CNI
40 40 identificáveis
Decapoda 7,0
6,5 identific
36,4
20 62,8 20
0 % FO 0 %FO
20 Crustáceos
CNI não
20
crustáceo %FO
identificáveis
identifica 40
%P
40 1,2
%P
60 60
Cumacea
80 80
48,1
100 100
CT4= 130 - 165mm
CT2 = 60 - 95 mm
Figura 6 - Índice de Importância Relativa – IIR (>1 %), e suas respectivas freqüências de ocorrência
(%FO), número (%N) e peso (%P), dos itens alimentares de S. rastrifer, com as quatro classes de
tamanho na plataforma interna rasa entre a Baía de Guaratuba e a Foz do Rio Saí-Guaçu.
89
3.3 - Variações temporais
Polychaeta foi predominante nas quatro estações do ano sempre com valores maiores que 51%
de IIR, e maiores no outono (IIR = 89,7%) e verão (IIR = 87,2%). O segundo item mais freqüente
nos conteúdos de P. brasiliensis no outono (IIR = 5,60%) e verão (IIR = 12,30%) foi Decapoda
(Tab. 5). No inverno, Diatomacea e Amphipoda foram os itens secundários que mais ocorreram nos
conteúdos estomacais, com valores de IIR de 14,53 % para Diatomacea e 14,43% para Amphipoda.
Na primavera, Cumacea foi o segundo item mais importante apresentando 20,88% de IIR.
Estiveram presentes o ano todo na dieta alimentar de P. brasiliensis: Polychaeta, Decapoda,
Amphipoda, crustáceos não-identificados e Ophiuroidea (Tab. 5).
Fragmento vegetal, Copepoda e Peixes ocorreram em conteúdos de indivíduos capturados no
outono, inverno e primavera. Brachyura ocorreu nos estômagos da espécie no outono, inverno e
verão; enquanto que Cumacea e Diatomacea foram itens encontrados em conteúdos de exemplares
no inverno e na primavera. Os itens Misydacea e Gastropoda foram observados em P. brasiliensis
somente na primavera, por outro lado, Ostracoda só esteve presente no conteúdo estomacal da
espécie no inverno (Tab. 5).
90
Tabela 5 - Índice de Importância Relativa (%IIR), dos itens alimentares de P. brasiliensis, durante
as estações do ano, na plataforma interna rasa entre a Baía de Guaratuba e a Foz do Rio Saí-Guaçu.
ESTAÇÕES DO ANO
83,33 47,62 76,43 89,70 93,55 6,15 49,15 51,00 97,10 16,50 75,46 67,20 91,93 54,80 69,27 87,20
POLYCHAET
A
Decapoda 25,00 15,48 10,13 5,60 33,87 3,71 21,58 8,44 24,64 6,07 10,77 3,12 25,81 32,69 29,45 12,30
Amphipoda 6,25 4,76 0,07 0,26 46,77 26,83 4,38 14,43 27,54 8,25 0,84 1,89 3,22 1,92 0,03 <0,01
*frag. veg. 22,92 13,09 0,63 2,70 51,61 3,93 0,31 1,89 42,03 7,28 4,48 3,72 - - - -
*crust.ñ.id. 8,33 4,76 4,24 0,65 38,70 2,54 2,52 1,93 36,23 6,80 4,09 2,97 8,06 4,81 0,09 0,30
Copepoda 2,08 3,57 0,03 0,07 12,90 14,42 0,31 1,87 4,35 1,70 0,13 0,06 - - - -
Brachyura 8,33 5,95 3,68 0,70 6,45 0,42 1,30 0,11 - - - - 3,22 1,92 0,73 0,10
Ophiuroidea 4,17 2,38 2,13 0,16 6,45 0,42 17,36 1,13 1,45 0,42 0,53 0,01 3,22 1,92 0,39 0,10
Peixes 4,17 2,38 2,64 0,18 1,22 0,10 2,65 0,04 1,45 0,42 0,44 0,01 - - - -
OUTONO
100 PRIMAVERA
IIR(%) n=28 100
%IIR n= 69
80 Polychaeta 80
89,7 Cumacea
60 60 CNI
20,8 crustáce
%N
N (%)
Decapoda Fragmento vegetal Crustáceos não
40 fragmento 40 Polychaeta Amphipoda os não-
identificáveis
5,6 Fragmentovegetal
1,8
2,7 67,2 20,8
20 20
0 %FO 0 FO(%)
20 20 fragm
Fragmento
Decapoda vegetal
40 3,1
40 3,7
P (%)
%P
60
60
80
80
100
100
INVERNO
100
IIR (%) n = 82 VERÃO
100
80 IIR(%) n = 69
80 Polychaeta
60 Amphipoda 87,2
N (%)
60
14,4 fragme
Fragmento Copépoda Decapoda
%N
40 vegetal 12,3
Cumacea 1,8 40
Polychaeta 4,5
20
1,7 20
51,0
0 %FO
0 FO(%)
20
20 Crustáceos não
Diatomaceacrustáceos
CNI 40
14,5 identificáveis
identifica Ophiuridea
não
%P
40 Decapoda 1,9 60
P (%)
8,4 1,1
60 80
80 100
100
Figura 7 - Índice de Importância Relativa – IIR (>1 %), e suas respectivas freqüências de ocorrência
(%FO), número (%N) e peso (%P), dos itens alimentares de P. brasiliensis nas quatro estações do
ano, na plataforma interna rasa entre a Baía de Guaratuba e a Foz do Rio Saí-Guaçu.
93
3.3.2 - Stellifer rastrifer
Os itens encontrados nos conteúdos estomacais nas quatro estações do ano foram: Cumacea,
Decapoda, Amphipoda, crustáceos não-identificados e Peixes. O item Decapoda predominou no
outono (IIR = 82,70%), inverno (IIR = 52,50%) e verão (IIR = 47,45%). Na primavera Cumacea foi
o item principal, com um IIR = 48,23% (Tab. 6).
Em segundo lugar em termos de importância relativa vieram no outono os crustáceos não-
identificados (IIR = 12,5%), Cumacea (IIR = 37,40) no inverno, na primavera Amphipoda (IIR =
19,99%) e novamente Cumacea (IIR = 39,44) no verão (Tab. 6). Diatomacea e Polychaeta só não
estiveram presentes no estômago de S. rastrifer do verão, enquanto que os fragmentos vegetais só
estiveram presentes nos conteúdos estomacais do outono e primavera. O item Bivalvia só ocorreu
na primavera, e Brachyura só não apareceu na dieta da espécie no inverno (Tab. 6).
Tabela 6 - Freqüências de ocorrência (%FO), número (%N), peso (%P) e Índice de Importância
Relativa (%IIR), dos itens alimentares de S. rastrifer durante as estações do ano, na plataforma
interna entre a Baía de Guaratuba e a Foz do Rio Saí-Guaçu.
ESTAÇÕES DO ANO
Itens Outono Inverno Primavera Verão
alimentares n = 53 n = 44 n = 49 n = 61
%FO %FN %FP %IIR %FO %FN %FP %IIR %FO %FN %FP %IIR %FO %FN %FP %IIR
Cumacea 5,77 22,56 O,24 1,90 55,81 74,11 3,05 37,40 64,58 52,94 12,85 48,23 58,33 75,85 5,49 39,44
Decapoda 42,36 40,24 92,18 82,70 65,22 1,60 91,20 52,50 47,92 2,57 21,66 13,18 68,33 8,82 74,73 47,45
Amphipoda 9,61 10,36 0,12 1,50 62,80 13,63 1,20 8,10 45,83 36,94 1,48 19,99 16,67 9,70 1,57 1,56
*cr.ñ.ident. 48,07 15,24 2,40 12,50 18,60 0,21 0,45 0,10 56,25 1,36 10,52 7,58 71,67 4,74 13,97 11,15
Peixes 7,69 2,44 3,07 0,62 4,65 0,11 2,93 0,10 18,75 0,55 48,21 10,38 10,00 0,66 3,92 0,38
Diatomacea 3,85 3,66 0,04 0,21 18,60 10,12 0,30 1,70 6,25 1,26 0,17 0,10 - - - -
Polychaeta 5,77 1,83 1,47 5,77 4,65 0,05 4,65 <0,01 6,25 0,15 4,55 0,33 - - - -
*frag. veg. 5,77 1,83 0,31 0,18 - - - - 6,25 0,15 0,17 0,02 - - - -
Brachyura 1,92 0,61 0,12 0,02 - - - - 64,58 52,94 12,85 48,23 58,33 75,85 5,49 39,44
OUTONO PRIMAVERA
100 IIR(%) n= 53
100 IIR(%) n= 49
80
Cumacea 80
Cumacea
Decapoda
60 1,9 48,2
82,6 60 Amphipoda
%N
crustáceos crustáce
%N
40 Crustáceos nãoidentificáveis 20,0 CNI Peixes
12,5 40 Decapoda Crustáceos
os não-
Crustáceos não
20
20
13,2 não- Peixes
identificáveis
7,6 10,4
0 %FO 0
%FO
20 20
Amphipoda
40 1,5
40
%P
%P
60 60
80 80
100 100
60 60
%N
%N
40 40
Amphipoda Diatomacea Amphipoda
Decapoda
Decapoda 8,1 1,7 20 1,6
20 47,4
52,5
0 %FO 0
%FO
20 20
Crustáceos não não-
crustáceos
40 Crustáceos
identificáveis não-
40 identificados
%P
11,1
%P
60 60
80
80
100
100
Figura 8 - Índice de Importância Relativa – IIR (>1 %), e suas respectivas freqüências de ocorrência
(%FO), número (%N) e peso (%P), dos itens alimentares de S. rastrifer nas quatro estações do ano,
na plataforma interna rasa entre a Baía de Guaratuba e a Foz do Rio Saí-Guaçu.
96
3.4 - Amplitude e Sobreposição de nicho trófico
Tabela 7 - Índice simplificado de Morisita de P. brasiliensis (pij) e S. rastrifer (pkj,), com valores
de Cik calculados por classe de comprimento total de exemplares na plataforma interna rasa entre a
Baía de Guaratuba e a Foz do Rio Saí-Guaçu.
Tabela 8 - Índice simplificado de Morisita de P. brasiliensis (pij) e S. rastrifer (pkj) com valores de
Cik calculados por estação do ano na plataforma interna rasa entre a Baía de Guaratuba e a Foz do
Rio Saí-Guaçu.
Cik
Estações do ano
Outono 0,0654
Inverno 0,2055
Primavera 0,2807
Verão 0,1001
97
4 - DISCUSSÃO
4 - A divisão dos recursos disponíveis, parece ser uma estratégia de coexistência desenvolvida pelas
espécies, embora sejam necessários mais estudos para a compreensão da cadeia trófica da
ictiofauna local.
104
6 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
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