MilenaDutra Teseppgeo

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 107

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS GEOGRÁFICAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

MILENA DUTRA DA SILVA

Resiliência e Susceptibilidade de Tipos


Funcionais Vegetais na Paisagem no Semiárido
Nordestino

RECIFE
2012
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS GEOGRÁFICAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

MILENA DUTRA DA SILVA

Resiliência e Susceptibilidade de Tipos


Funcionais Vegetais na Paisagem no Semiárido
Nordestino

Tese apresentada ao Programa de


Pós-Graduação em Geografia (PPGEO) da
Universidade Federal de Pernambuco, como
parte dos requisitos para obtenção do título
de Doutora em Geografia.

Orientadora: Dra. Rejane Magalhães de Mendonça Pimentel


Co-orientador: Dr. André Laurênio de Melo

RECIFE
2012
Catalogação na fonte
Bibliotecária Miriam Stela Accioly, CRB4-294

S586r Silva, Milena Dutra da


Resiliência e susceptibilidade de tipos funcionais vegetais na paisagem
no semiárido nordestino / Milena Dutra da Silva. – Recife: O autor, 2012.
121 f. : il., fig., tab.; 30 cm.

Orientador: Prof. Dra. Rejane Magalhães de Mendonça Pimentel.


Co-Orientador: Dr. André Laurêncio de Melo.
Tese (Doutorado) - Universidade Federal de Pernambuco. CFCH.
Programa de Pós–Graduação em Geografia, 2012.
Inclui bibliografia e anexo.

1. Geografia. 2. Paisagem florestal – Brejo da Madre Deus,PE. 3.


Plantas da Caatinga – Anatomia foliar – Brejo da Madre Deus,PE. I.
Pimentel, Rejane Magalhães de Mendonça (Orientadora). II. Melo, André
Laurêncio de (Co-orientador). III. Título.

910 CDD (22.ed.) UFPE (CFCH2012-38)


MILENA DUTRA DA SILVA

Resiliência e Susceptibilidade de Tipos Funcionais Vegetais


na Paisagem no Semiárido Nordestino

Tese defendida e aprovada com conceito ________ pela banca examinadora:

Orientadora:____________________________________________________
Profa. Dra. Rejane Magalhães de Mendonça Pimentel – UFRPE

Examinador:____________________________________________________
Profa. Dra. Josiclêda Domiciano Galvíncio - UFPE

Examinador:____________________________________________________
Profa. Dra. Maria Fernanda Torres Abrantes - UFPE

Examinador:____________________________________________________
Prof. Dr. Kleber Andrade da Silva - UFPE

Examinador:____________________________________________________
Profa. Dra. Elcida de Lima Araújo - UFRPE

Suplente:_______________________________________________________
Prof. Dr. Ranyére Silva Nóbrega - UFPE

Suplente:_______________________________________________________
Prof. Dr. José Romualdo de Souza Lima- UFRPE

RECIFE
2012
À minha família, em especial aos meus
pais, Geraldo Vicente e Marli Dutra.

À Priscila Gomes Corrêa (in memoriam),


minha irmã do coração.
“Cada vez que abro a porta de uma nova
descoberta já encontro Deus lá dentro”.

Albert Einstein
AGRADECIMENTOS

A Deus por tornar possível a realização deste trabalho através de cada pessoa
e instituições abaixo mencionadas.
À Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco
(FACEPE), pela concessão de bolsa de estudo.
Ao Programa de Pós-Graduação em Geografia (PPGEO) da Universidade
Federal de Pernambuco (UFPE). Ao corpo docente do período 2008-2012 e
funcionários que contribuíram para o melhor aproveitamento das oportunidades de
amadurecimento científico.
À Profa. Dra. Rejane Magalhães de Mendonça Pimentel, pela orientação na
realização deste trabalho, que em conjunto com o Prof. Dr. André Laurênio de Melo,
atuou como peça fundamental no meu amadurecimento como pesquisadora através
do grande incentivo à continuação desta caminhada em busca do aperfeiçoamento.
À Profa. Dra. Josiclêda Domiciano Galvíncio pelo apoio sempre presente em
todas as atividades deste trabalho.
À Profa. Dra. Claristela Santos, por ceder a sua casa em Fazenda Nova para a
acomodação de toda a nossa equipe em todas as coletas realizadas.
Ao Sr. Antonio Bezerra, proprietário da “Fazenda Incó”, onde estabelecemos a
área de estudo deste trabalho.
A todos os componentes do Laboratório de Fitomorfologia Funcional/Depto
Biologia/Botânica/Universidade Federal Rural de Pernambuco: Maria das Graças,
Vanessa Maciel, Vanessa Bastos, Gabriela Aretakis, Ivanilson Lucena e Girlaine
Pedrosa. Especialmente à Priscila Gomes Corrêa (in memoriam), minha amiga e
companheira de laboratório, com quem compartilhei os primeiros passos em
anatomia vegetal.
A todos os componentes do Laboratório de Sensoriamento Remoto e
Geoprocessamento/Depto Geografia/Universidade Federal de Pernambuco.
Especialmente aos colegas Hewerton, Tiago e Liviston pela acessoria na utilização
dos programas de análises de dados de sensoriamento remoto e
geoprocessamento.
Aos colegas de turma, mestrado e doutorado do PPGEO/UFPE - 2008-2012,
principalmente à Priscila Gomes Corrêa (in memoriam), Janaína Barbosa, Maria das
Graças e à Danielle Gomes, pela parceria nas disciplinas e trabalhos de campo.
Aos meus pais, Geraldo Vicente da Silva e Marli Dutra da Silva, por me
apoiarem em todos os meus passos na vida e colaborarem, especificamente neste
trabalho, em mão-de-obra e apoio logístico para efetuação das coletas em campo.
Aos amigos Emanoella Alves, Sheilane Silva, Carlos Silva Filho, Fabrícia
Albuquerque, Clébson Almeida, Domênica Barato, Marindalva Cavalcante, Dona Flor
e Claudia Cintra, pelo apoio moral e amparo emocional. À amiga Gleice Miranda,
também, pelo apoio em mão-de-obra nos trabalhos de campo.
Enfim, a todos que contribuíram, de forma direta ou indireta, para a realização
deste trabalho.
SUMÁRIO

Pág.
LISTA DE FIGURAS...................................................................................... 11
LISTA DE TABELAS..................................................................................... 14
RESUMO………...………………………………………………………………… 15
ABSTRACT………………………………...……………………………………... 16
1. INTRODUÇÃO………….………………………………………...……………. 17
2. REVISÃO DE LITERATURA………………..……………………………….. 20
2.1. Caatinga…………………………………………………………….......... 20
2.2. Atributos morfoanatômicos vegetais: um suporte à resiliência das
espécies da caatinga………………………………………………..……........ 22
3. REFERÊNCIA ............................…...……………………………………….... 25
4. MANUSCRITO I (Composição estrutural e fitossociológica de uma
paisagem de semiárido do Nordeste do Brasil)……......………………………. 34
Resumo……………………………………………………………………………... 35
Introdução………………………………………………………………………….. 36
Material e métodos……………………………………………………………….... 38
Caracterização da área de estudo......……………………………………... 38
Seleção e caracterização do sítio de coleta..……………………………... 40
Procedimentos em Campo …..……………………………………………… 41
Desenho experimental........................................................................ 41
Levantamento florístico....................................................................... 42
Levantamento fitossociológico............................................................ 42
Espectrorradiometria foliar.................................................................. 44
Procedimentos em Laboratório 45
Detecção de mudança na paisagem 45
Condição biológica da vegetação (Índices de Vegetação) 48
Resultados e discussão…………………………………………………………… 51
Conclusões...................................................................................................... 67
Agradecimentos.............................................................................................. 68
Referências..................................................................................................... 68
5. MANUSCRITO II (Atributos funcionais como estratégias de resiliência 75
em plantas lenhosas em uma paisagem de semiárido do Nordeste do
Brasil).
Resumo…………………………………………………………………………….. 76
Introdução…………………………………………………………………………. 77
Material e métodos……………………………………………………………….. 78
Área de estudo……………………………………………………………….. 78
Procedimentos em Campo....................................................................... 81
Desenho experimental....................................................................... 81
Coleta de material botânico…………………………………………….. 81
Procedimentos em Laboratório................................................................ 82
Análise de caracteres funcionais foliares.......................................... 82
Resultados e discussão………………………………………………………….. 84
Conclusões..................................................................................................... 94
Agradecimentos.............................................................................................. 95
Referências..................................................................................................... 95
ANEXOS......................................................................................................... 102
LISTA DE FIGURAS

MANUSCRITO I Pág.
Figura 1 Figura 1. Localização da área de estudo e sobreposição do
desenho experimental das parcelas fixadas em campo (100m 2) sobre imagem
de satélite sistema TM (Thematic Mapper)/Landsat-5 de Fazenda Nova, Brejo
da Madre de Deus, Pernambuco......................................................................... 41
Figura 2 Classes de altura de espécies lenhosas em 1 hectare de uma área
de caatinga em Fazenda Nova, Brejo da Madre de Deus, Pernambuco, Brasil. 53
Figura 3 Mapa de detecção de mudança da paisagem em um fragmento
vegetacional de caatinga em Fazenda Nova, Brejo da Madre de Deus,
Pernambuco, Brasil, ocorridos entre 1988 e 2011.............................................. 55
Figura 4 Acúmulo diário de precipitação pluvial para o primeiro semestre dos
anos de 1988 e 2011 em Caruaru, Pernambuco, Brasil................................... 56
Figura 5 Distribuição fitosiográfica a partir da imagem com valores de
Normalized Difference Vegetation Index (NDVI) em um fragmento
vegetacional em Fazenda Nova, Brejo da Madre de Deus, Pernambuco, Brasil
nos anos de 1988 e 2011.............................................................................. 57
Figura 6 Acúmulo diário de precipitação pluvial de janeiro a agosto de 2010
em Caruaru, Pernambuco, Brasil. Seta, dia da coleta....................................... 58
Figura 7 Valores de Plant Water Index (PWI) para Aspidosperma pyrifolium,
Poincianella pyramidalis, Croton blanchetianus e Sideroxylon obtusifolium,
espécies lenhosas dominantes em uma área de caatinga em Fazenda Nova,
Brejo da Madre de Deus, Pernambuco, Brasil................................................. 58
Figura 8 Valores de Normalized Water Index (NWI) para Aspidosperma
pyrifolium, Poincianella pyramidalis, Croton blanchetianus e Sideroxylon
obtusifolium, espécies lenhosas dominantes em uma área de caatinga em
Fazenda Nova, Brejo da Madre de Deus, Pernambuco, Brasil........................... 59
Figura 9 Valores de Plant Senescence Reflectance Index (PSRI) para
Aspidosperma pyrifolium, Poincianella pyramidalis, Croton blanchetianus e
Sideroxylon obtusifolium, espécies lenhosas dominantes em uma área de
caatinga em Fazenda Nova, Brejo da Madre de Deus, Pernambuco, Brasil...... 60
Figura 10 Valores de Photochemical Reflectance Index (PRI) para 61
Aspidosperma pyrifolium, Poincianella pyramidalis, Croton blanchetianus e
Sideroxylon obtusifolium, espécies lenhosas dominantes em uma área de
caatinga em Fazenda Nova, Brejo da Madre de Deus, Pernambuco, Brasil.
Figura 11 Valores de Chlorophyll Normalized Difference Index (ChlNDI) para
Aspidosperma pyrifolium, Poincianella pyramidalis, Croton blanchetianus e
Sideroxylon obtusifolium, espécies lenhosas dominantes em uma área de
caatinga em Fazenda Nova, Brejo da Madre de Deus, Pernambuco, Brasil...... 61
Figura 12 Valores de Pigment Specific Simple Ratio (PSSRa) ( clorofila “a”)
para Aspidosperma pyrifolium, Poincianella pyramidalis, Croton blanchetianus
e Sideroxylon obtusifolium, espécies lenhosas dominantes em uma área de
caatinga em Fazenda Nova, Brejo da Madre de Deus, Pernambuco, Brasil...... 62
Figura 13 Valores de Pigment Specific Simple Ratio (PSSRb) (clorofila b)
para Aspidosperma pyrifolium, Poincianella pyramidalis, Croton blanchetianus
e Sideroxylon obtusifolium, espécies lenhosas dominantes em uma área de
caatinga em Fazenda Nova, Brejo da Madre de Deus, Pernambuco, Brasil...... 62
Figura 14 Valores de Carotenoid Reflectance Index (CRI) para Aspidosperma
pyrifolium, Poincianella pyramidalis, Croton blanchetianus e Sideroxylon
obtusifolium, espécies lenhosas dominantes em uma área de caatinga em
Fazenda Nova, Brejo da Madre de Deus, Pernambuco, Brasil........................... 64
Figura 15 Valores de Normalized Difference Vegetation Index (NDVIhy) a
partir de dados hiperespectrais para Aspidosperma pyrifolium, Poincianella
pyramidalis, Croton blanchetianus e Sideroxylon obtusifolium, espécies
lenhosas dominantes em uma área de caatinga em Fazenda Nova, Brejo da
Madre de Deus, Pernambuco, Brasil................................................................... 65
Figura 16 Vista transversal da folha de espécies lenhosas dominantes em
uma área de caatinga em Fazenda Nova, Brejo da Madre de Deus,
Pernambuco, Brasil: A. Aspidosperma pyrifolium. B. Poincianella pyramidalis.
C. Sideroxylon obtusifolium. D. Croton blanchetianus. PE, parênquima
esponjoso. PP, parênquima paliçádico. Seta, cristais. Barras, 100m............... 67
MANUSCRITO II Pág.
Figura 1 Localização da área de estudo e sobreposição do desenho
experimental das parcelas fixadas em campo (100m 2) sobre imagem de
satélite sistema TM (Thematic Mapper)/Landsat-5 de Fazenda Nova, Brejo
da Madre de Deus, Pernambuco....................................................................... 81
Figura 2 Dendograma de similaridade de atributos morfofuncionais foliares
de espécies lenhosas naturalmente estabelecidas em uma área de caatinga
em Fazenda Nova, Brejo da Madre de Deus, Pernambuco, Brasil................... 93
LISTA DE TABELAS

MANUSCRITO I Pág.
Tabela 1 Descrição das bandas e faixas espectrais correspondentes ao
sistema TM/Landsat-5. a. coeficientes mínimos de calibração; b.
coeficientes máximos de calibração; ESUNλ. irradiância solar espectral
no topo da atmosfera................................................................................... 46
Tabela 2 Riqueza de espécies lenhosas naturalmente estabelecidas em
uma área de caatinga em Fazenda Nova, Brejo da Madre de Deus,
Pernambuco, Brasil...................................................................................... 52
Tabela 3 Parâmetros de estrutura e fitossociológicos de espécies
lenhosas de uma área de caatinga em Fazenda Nova, Brejo da Madre de
Deus, Pernambuco, Brasil. DA, densidade de espécies vivas (ind/ha -1).
DoR, dominância relativa (%). DR, densidade relativa (%). FR, frequência
relativa (%). NP, número de parcelas em que a espécie ocorre. VC, valor
de cobertura (m2). VI, valor de importância (%)........................................... 53
MANUSCRITO II
Tabela 1 Atributos morfológicos foliares de espécies lenhosas
naturalmente estabelecidas em uma área de caatinga em Fazenda Nova,
Brejo da Madre de Deus, Pernambuco, Brasil............................................. 86
Tabela 2 Área, comprimento, largura e proporção entre comprimento e
largura da lâmina foliar de espécies lenhosas naturalmente estabelecidas
em uma área de caatinga em Fazenda Nova, Brejo da Madre de Deus,
Pernambuco, Brasil...................................................................................... 88
Tabela 3 Atributos epidérmicos foliares de espécies lenhosas
naturalmente estabelecidas em uma área de caatinga em Fazenda Nova,
Brejo da Madre de Deus, Pernambuco, Brasil............................................ 90
Tabela 4 Atributos do mesofilo foliar em espécies lenhosas naturalmente
estabelecidas em uma área de caatinga em Fazenda Nova, Brejo da
Madre de Deus, Pernambuco, Brasil........................................................... 92
RESUMO

As plantas possuem grande sensibilidade aos fatores climáticos dominantes no


ambiente e por isto a investigação dos seus padrões morfofuncionais são excelentes
ferramentas auxiliares para a compreensão do funcionamento da paisagem e/ou
ecossistema. Entre os biomas brasileiros, a caatinga se destaca por sua
abrangência territorial (54% da região Nordeste e 11% do território nacional) e
elevada potencialidade quanto aos recursos naturais. Estas características a
tornaram alvo de exploração intensiva tornando as áreas remanescentes
susceptíveis às desordens ambientais, desertificação e mudanças climáticas globais.
Conhecer o padrão de respostas dos caracteres funcionais das espécies que
constituem a flora nativa deste bioma indicará atributos vegetais que conferem
resiliência ou aqueles mais susceptíveis à sua permanência no ambiente. Neste
sentido, este estudo visou quantificar os caracteres morfoanatômicos foliares de
plantas estabelecidas em uma comunidade do semiárido pernambucano e identificar
a funcionalidade dos mesmos. Para isto, analisamos a estrutura e a dinâmica da
vegetação, as condições biológicas das espécies estruturantes da paisagem e o
padrão de respostas morfofuncionais (tipo e frequência) exibidos por estas às
pressões peculiares à caatinga em um fragmento vegetacional em Pernambuco.
Para isto foram utilizados métodos e técnicas usuais em levantamentos florísticos e
fitossociológicos, sensoriamento remoto e geoprocessamento, análises
hiperespectrais (índices de vegetação) e anatomia vegetal. O fragmento
vegetacional sofreu redução na sua cobertura vegetal no período de 1988 a 2011. A
identificação da riqueza e abundância de espécies lenhosas indicou a área estudada
como alvo de perturbação ambiental, em etapa inicial de sucessão ecológica. A
deficiência hídrica foi identificada como fator estressor para a planta. As estratégias
fisiológicas e morfoanatômica adotadas pelas espécies foram diferentes entre si e
são uma tentativa de ajuste específico da espécies as condições ambientais, a fim
de garantir sucesso em sua manutenção no ambiente (uso eficiente da água e
fotossíntese). Entre as estratégias morfofuncionais adotadas pelas espécies
destacam-se como padrão: indivíduos com dossel/copas abertas, folhas mais
alongadas, epiderme com cutícula espessa, elevado grau de sinuosidade das
paredes anticlinais das células fundamentais da epiderme, presença de tricomas,
parênquima clorofiliano diferenciado com parênquima paliçádico pluriestratificado,
ocupando cerca de 50% do mesofilo foliar. A formação de grupos funcionais ocorreu
independentemente da similaridade de classificação sistemática, reforçando a
premissa de que o desenvolvimento dessas características é o resultado do grau de
influência das condições ambientais e do grau de plasticidade das diferentes
espécies ali estabelecidas, mostrando comportamentos morfofuncionais similares.

Palavras-chave: Paisagem; Plasticidade; Anatomia foliar; Caatinga; Detecção de


mudança; Brejo da Madre de Deus
ABSTRACT

Plants have highly sensitive to climatic factors dominant in the environment and
therefore the investigation of their standards morphofunctional are excellent supports
to understanding of the functioning of the landscape and / or ecosystem. Among the
biomes, the caatinga is notable for its scope territorial (54% in the Northeast and
11% of the Brazil) and high potential and natural resources. These characteristics
made it the target of intensive exploration by making remaining areas susceptible to
environmental disorders, desertification and global climate change. Meet the
standard Functional responses of the characters constituting the species native flora
of this biome indicate attributes that confer plant resilience or those most likely to
stay in their environment. Thus, this study aimed to quantify the characters
morphological and anatomical leaf plants established in a community semi-arid
Pernambucan and identify the functionality thereof. For this, we analyzed the
structure and dynamics of vegetation, biological status of species and structural
landscape morphofunctional response pattern (type and frequency) displayed by
peculiar to these pressures in a caatinga vegetation fragment in Pernambuco. For
this we used the usual methods and techniques floristic and phytosociological
surveys, remote sensing and GIS, hyperspectral analysis (indices vegetation) and
plant anatomy. The fragment vegetation suffered reduction in vegetation cover in the
period 1988 to 2011. The identification of the diversity and abundance of woody
species study area indicated the target of environmental disturbance, in step initial
ecological succession. Drought stress has been identified as a stressor for the plant.
Strategies physiological and morphoanatomical adopted by the species were
different and are an attempt to adjust the conditions specific species environment, to
ensure success in maintaining the environment (Water use efficiency and
photosynthesis). Among the strategies morphofunctional adopted by the species
stand out as standard: individuals with canopy / canopy open, more elongated
leaves, epidermis with thick cuticle, high degree of sinuosity of the walls anticlines
basic cells of the epidermis, the presence of trichomes, mesophyll parenchyma with
different pluri palisade, occupying about 50% of the mesophyll leaf. The formation
occurred regardless of functional groups similarity of systematic classification,
reinforcing the premise that the development of these features is the result of the
degree of influence of environmental conditions and the degree of plasticity of
different species established there, showing behaviors morphofunctional similar.

Key-words: Landscape; Plasticity; Leaf anatomy; Caatinga; Change detection; Brejo


da Madre de Deus
1. INTRODUÇÃO

A estrutura da paisagem e a dinâmica dos elementos que a constituem


refletem as ações de eventos de origem física, biológica e antrópica exercidas sobre
eles.
A interação entre as plantas e as condições ambientais, clima e
geomorfologia é determinante da estrutura fitofisionômica e produz ajustes nos
vegetais que permitem um desempenho mais eficiente de seus mecanismos vitais
relativos ao crescimento e reprodução, frente às pressões ambientais. Os processos
dominantes do ecossistema atuam, então, como estímulo ambiental produzindo um
padrão de respostas em plantas que compõem uma mesma comunidade (BOX,
1996; KLEYER, 1999; MÜLLER, 2005).
Os diferentes conjuntos de caracteres desenvolvidos pelos vegetais
associados à variação ambiental determinam a presença e a abundância dos
indivíduos na paisagem (DÍAZ et al., 1992; CHAPIN et al., 1993; GRIME et al., 1997;
PILLAR, 1999; LAVOREL e GARNIER, 2002; ACKERLY, 2004), sendo
consequência da ação do ambiente a exclusão daqueles indivíduos que não
apresentam caracteres que possibilitam sua adaptação (KEDDY, 1992).
Diante do reconhecimento da sensibilidade vegetal frente aos fatores
dominantes no ambiente, pesquisadores das mais diversas áreas têm recorrido a
investigações com a vegetação como ferramenta auxiliar para a compreensão do
funcionamento da paisagem e/ou ecossistema, quer para a atualidade quer para
períodos remotos (BEHLING et al., 2000; BEHLING et al., 2004; PAROLIN et al.,
2006; REIS et al., 2006; PRENTICE et al., 2007; NIEMANN e BEHLING, 2008;
TYLIANAKIS et al., 2008; JESKE-PIERUSCHKA et al., 2010).
A crescente necessidade de ampliação e aprimoramento de técnicas de
manejo ambiental e de políticas de preservação, conservação e uso sustentável da
natureza tem estimulado a intensificação de estudos que buscam identificar um
padrão de respostas/caracteres vegetais relativos à minimização dos efeitos
negativos de fatores abióticos para a permanência de espécies em diferentes
biomas. Nos últimos anos, as pesquisas desenvolvidas têm concentrado esforços na
maior precisão de identificação e avaliação das estratégias apresentadas pelas
plantas melhor aclimatadas ao ambiente (FAHN e CUTLER, 1992;
ZAVALA-HURTADO et al., 1995; BOEGER e WISNIEWSKI, 2003; WANG, 2003).

17
Uma das abordagens adotadas como ferramenta eficiente para o
entendimento do ambiente através da análise vegetal tem sido a identificação de
tipos funcionais vegetais (TFV). Um TFV é composto por um grupo de plantas que,
independentemente de suas relações filogenéticas e/ou taxonômicas, possui
similaridade quanto à frequência de ocorrência de um conjunto de atributos e
comportamento semelhante frente às variações do ambiente (BOX, 1996; GITAY e
NOBLE, 1997; GRIME et al., 1997, ORLÓCI e ORLÓCI, 1985; PILLAR, 2003;
PILLAR e ORLÓCI, 1993). A definição de um TFV é obtida mediante a ocorrência do
agrupamento de caracteres, especialmente os morfológicos associados às funções
vitais de fotossíntese e transporte de água no interior da planta (REICH, WRIGTH e
LUSK, 2007). A maior parte da vida do vegetal é utilizada no desenvolvimento de
órgãos vegetativos responsáveis por mecanismos vitais e a presença de caracteres
morfológicos especializados em diferentes funções é fundamental para o sucesso de
seu estabelecimento em um determinado ambiente.
A análise da composição de um TFV tem sido utilizada para descrever
padrões e processos nas comunidades vegetais e é essencial para a investigação e
previsão das consequências das mudanças globais sobre a vegetação (PILLAR,
2003; MÜLLER, 2005). Uma vez que os vegetais são fortemente influenciados pelo
ambiente, a identificação de padrões e as interpretações dos caracteres
apresentados por eles podem auxiliar na criação de modelos preditores do
comportamento futuro do ecossistema. A maior parte dos dados disponíveis é
relativa apenas às espécies de deserto, florestas pluviais montanas e campos
(CAMERICK e WERGER, 1981; BONGERS e POPMA, 1990; MEDINA et al., 1990;
HALLOY e MARK, 1996; WIEMANN et al., 1998; BOEGER e WISNIEWSKI, 2003); é
necessária a ampliação desses estudos para tipos vegetacionais de biomas
brasileiros, como a caatinga.
Entre os biomas brasileiros, a caatinga tem se destacado por sua abrangência
territorial (54% da região Nordeste e 11% do território nacional) e elevada
potencialidade quanto aos recursos naturais (LEAL et al., 2003; ANDRADE et al.,
2005). Estas características a tornaram alvo de exploração intensiva e uso
insustentável de recursos, ocasionando a perda de quase 50% de seu território
original, com 2% reduzidos somente entre 2002 e 2008 (MMA, 2010). A presente
devastação torna as áreas de caatinga remanescentes susceptíveis às desordens
ambientais, desertificação e mudanças climáticas globais (MMA, 2010). Conhecer o

18
padrão de respostas dos caracteres funcionais das espécies que constituem a flora
nativa deste bioma indicará atributos vegetais que conferem resiliência ou aqueles
mais susceptíveis à sua permanência no ambiente (BÓTTA-DUKÀT, 2005;
RICOTTA, 2005; PETCHEY e GASTON, 2006).
A dinâmica do ambiente, considerando a interação da vegetação com os
aspectos geomorfológicos e climáticos, promove a expressão de duas situações
antagônicas dos vegetais: permanecer ou desaparecer. A permanência implica na
existência de caracteres mais ajustados às condições ambientais, incluindo a
interação entre as espécies vegetais. O grau máximo de ajuste das plantas às
variações ambientais caracteriza o efeito conhecido como resiliência. Neste caso, a
resiliência será definida pela presença de caracteres reconhecidamente atuantes
como resposta a determinados fatores ambientais. O desaparecimento de uma
espécie resulta da existência de um número elevado de caracteres que
reconhecidamente tornem a espécie susceptível aos eventos geomorfológicos e
climáticos do local de estudo. Estes caracteres estarão, obrigatoriamente,
associados aos processos vitais dos vegetais, como a fotossíntese e o transporte de
água no interior da planta. Aqui, o desaparecimento será caracterizado pela
ausência de uma dada espécie em uma comunidade similar àquela mais próxima.
Diante da escassez de estudos e da necessidade em identificar a amplitude
da diversidade funcional dos caracteres morfoanatômicos das espécies vegetais da
caatinga, este estudo visa quantificar os caracteres morfoanatômicos foliares de
plantas estabelecidas em uma comunidade do semiárido pernambucano, identificar
a funcionalidade dos mesmos e caracterizar estratégias de regeneração associadas
em resposta a variáveis geomorfológicas e climáticas.
A diversidade funcional de caracteres morfoanatômicos foliares em espécies
da vegetação de caatinga será identificada através do teste de duas hipóteses: a)
quantificação da divergência funcional, reconhecida através da heterogeneidade dos
caracteres funcionais nas espécies que constituem a comunidade e representada
pela probabilidade de duas espécies, ao acaso, apresentarem o mesmo valor para
um dado caractere. A segunda hipótese testará a ampla recorrência de um caractere
expressado pela presença majoritária em plantas estabelecidas na comunidade.
Estes resultados elucidarão a dinâmica vegetacional de um fragmento de caatinga
em Pernambuco e auxiliarão na prática de gerenciamento desta formação
vegetacional.

19
2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1. Caatinga

A caatinga é um ecossistema exclusivamente brasileiro e o principal do


nordeste ocupando 54% desta região e 11% do território nacional estabelecida nos
estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas,
Sergipe, Bahia e Minas Gerais totalizando em uma extensão areal próxima a
900.000 km2 (ANDRADE et al. 2005; MMA, 2011).
O ecossistema caatinga tem como características abióticas predominantes
precipitações escassas e irregulares, com acentuado período de estação seca, entre
sete e dez meses, e solo com baixa capacidade de retenção de água
(RADAMBRASIL 1983). Os solos estão distribuídos em mosaico bastante dividido e
com tipos diferenciados, variando em profundidade, fertilidade, salinidade e
constituição mineralógica (RODAL et al., 1992). A vegetação é composta por
espécies lenhosas e herbáceas, de pequeno porte, muitas dotadas de espinhos,
sendo, geralmente, caducifólias, e por cactáceas e bromeliáceas (DRUMOND et al.,
2000).
Embora a caatinga se destaque quanto à sua abrangência, os saberes acerca
das suas potencialidades ainda são diminutos, havendo espécies que não foram
sequer descritas e pouco, ou quase nada, é conhecido acerca dos seus aspectos
fisiológicos, morfológicos e funcionais. De acordo com a plataforma SCOPUS
(2011), estudos relativos à caatinga tiveram suas publicações iniciadas na década
de 70. Porém a quantidade de trabalhos era bastante reduzida e de cunho
meramente descritivo objetivando conhecer a riqueza e diversidade de espécies que
compõem o ecossistema.
A falta de conhecimento profundo da caatinga e, sobretudo do seu nível de
endemismo, fez com que este ecossistema estivesse entre os menos preservados,
quando comparado a outros ecossistemas brasileiros. Apenas 2% do seu território
se encontram protegidos em unidades de conservação (TABARELLI et al., 2000)
enquanto que o percentual restante está propenso à deterioração ambiental
resultante da exploração insustentável de seus recursos naturais, que implica na 1)
perda de espécies, únicas e fundamentais aos processos ecológicos para a
manutenção da caatinga, 2) e formação de pólos de desertificação (LEAL et al.,
2003).

20
Dados para o início da década de 90 apontavam que cerca de 30% da
caatinga já havia sido alterada como consequência da atividade antrópica (IBGE,
1993). De acordo com Carvalho (2006) se os impactos ambientais produzidos pela
construção de sistemas de estradas fossem considerados, este valor já seria
próximo a 45% de alteração da caatinga de responsabilidade inteiramente humana.
Com este percentual, a caatinga seria o ecossistema brasileiro mais modificado pelo
homem, perdendo apenas para a Mata Atlântica e o Cerrado (LEAL et al., 2003). Em
2008 este percentual de alteração já era equivalente a 60% (OPALC, 2008)
chegando ao recorde de 80% em 2010 somados ao agravante de uma população
crescente de 27 milhões de pessoas estabelecidas nas regiões de caatinga (MMA,
2010).
O principal ecossistema nordestino só recebeu maior atenção de
pesquisadores para a realização de estudos mais detalhados na última década
(TROVÃO et al., 2004). Inventários elaborados para o ecossistema caatinga no
início da primeira década de 2000 registram a presença de 148 espécies de
mamíferos, 240 de peixes, 167 de anfíbios e répteis, 187 de abelhas, 62 famílias e
510 espécies de aves e quase 1000 espécies de plantas vasculares, sendo 180
endêmicas comprovando que a caatinga é um ecossistema rico em biodiversidade
(GIULIETTI et al., 2004; LEAL et al., 2003; ZANELLA e MARTINS, 2003; ROSA et
al., 2003; RODRIGUES, 2003; SILVA et al., 2003).
Além do grande número de espécies, a diversidade das paisagens e
formações vegetacionais presentes na caatinga elevam sua complexidade com
trechos que flutuam entre floresta alta a arbustos isolados e solo quase descoberto
(JOLY, 1970; GIULIETTI et al.,2005).
Ao estudar a vegetação de caatinga, Andrade-Lima (1981) observou essa
grande variação na composição da paisagem. A presente diversidade levou o autor
a propor que a caatinga fosse subdivida em feições distintas com classificação
fundamentada em dados fisionômicos e florísticos associados a fatores edáficos e
climáticos, subdividindo o bioma em 12 tipos de associações vegetais para o seu
melhor entendimento funcional. Esta classificação pioneira suscitou que a presente
diferença estrutural da paisagem era decorrente de fatores externos que
influenciavam na determinação do estabelecimento vegetal.
Estudos realizados por Drumond et al. (2000) indicaram que a densidade,
frequência e dominância dos vegetais são determinadas pelas variações

21
topográficas, tipo de solo e pluviosidade e corroboram as justificativas apontadas por
Andrade-Lima (1981) para a diversidade da composição estrutural da vegetação e
paisagem da caatinga devido a alta capacidade de ajuste dos vegetais ao ambiente.

2.2. Atributos Morfoanatômicas Vegetais: Um suporte à resiliência das


espécies de caatinga

A elevada capacidade dos vegetais de se ajustar aos fatores ambientais,


sobretudo climáticos e edáficos, se deve ao potencial que os mesmos apresentam
para alterarem seus caracteres anatômicos, morfológicos e funcionais para viabilizar
a sua sobrevivência (MAUSETH, 1988; FAHN e CUTLER, 1992; LARCHER, 2000).
Embora os caracteres morfológicos das plantas tenham determinação
genética, as alterações resultantes da interação entre estes e o ambiente irão
modelar a sua estruturação morfológica produzindo o efeito conhecido como
plasticidade fenotípica (SCHLICHTING, 2002).
As estratégias desenvolvidas pelas plantas implicarão em vantagens para o
seu estabelecimento diante das variações nas condições ambientais (MEZIANE e
SHIPLEY, 1999; NAVAS e GARNIER, 2002; NIINEMETS, 1999; NODA et al., 2004).
Em regiões que apresentam condições adversas de clima, solo e
disponibilidade hídrica, típicos da fisionomia caatinga, a plasticidade vegetal exerce
função essencial e determinante para o estabelecimento das espécies minimizando
os efeitos danosos que as condições ambientais possam apresentar (DICKSON
2000; LARCHER, 2000; FUZETO e LOMÔNACO, 2000).
A máxima de ajuste das plantas às variações ambientais caracteriza o efeito
conhecido como resiliência. Estes caracteres estão, obrigatoriamente, associados
aos processos vitais dos vegetais, como a fotossíntese e o transporte de água no
interior da planta e dão suporte para a grande diversidade de espécies e distribuição
nos diferentes biomas (SCHLICHTING, 2002; DICKSON 2000, SULTAN,1995;
SULTAN, 2003).
Os caracteres que atuam conjuntamente para produzir o efeito de resiliência
no vegetal são melhor identificados na estrutura morfoanatômica foliar, por ser a
folha o órgão de maior plasticidade vegetal revelando as respostas apresentadas
pelas plantas às condições ambientais a elas impostas (FAHN e CUTLER, 1992;

22
LARCHER, 2000; LEWIS, 1972; MARQUES et al., 1999; MENEZES et al., 2003;
PYYKKÖ, 1979; TAIZ e ZEIGER, 2004).
A grande necessidade de identificação do grau de resiliência vegetal,
sobretudo quanto aos processos de fotoassimilação e condutividade das seivas,
para fins de manejo e/ou manutenção do ecossistema, favorecem o fato de que a
intensidade luminosa e disponibilidade hídrica estejam entre os fatores ambientais
mais estudados acerca de sua influência sobre a estruturação vegetal (BOEGER et
al., 1998; SMITH et al., 1997; MARQUES et al., 1999; MARQUES et al., 2000).
As folhas, quando submetidas à elevada intensidade luminosa e da
temperatura, irão produzir caracteres de resiliência aos possíveis efeitos danosos
causados por estes fatores, a exemplo da perda excessiva de conteúdo hídrico foliar
para o meio, que poderá ocasionar a dessaturação celular e consequente déficit na
produção de fotoassimilados (LARCHER, 2000; LEWIS, 1972; PYYKKÖ, 1979;
MARQUES et al., 1999).
Entre as estratégias morfoanatômicas adotadas pelas folhas, para minimizar
os efeitos da alta luminosidade e temperatura, está a redução da área de captação
luminosa (limbo), o aumento da densidade estomática e de tricomas, maior
espessamento da cutícula, diminuição das células fundamentais da epiderme,
aumento do número de camadas e/ou comprimento das células de parênquima
paliçádico e consequente aumento da espessura da lâmina foliar (LEWIS, 1972;
THOMPSON et al.,1992; FAHMY, 1997; SMITH et al., 1997; MARQUES et al., 1999;
HANBA et al., 2002; HLWATIKA e BHAT, 2002). Lewis (1972) indica que estes
caracteres, presentes na folha madura, foram influenciados pela quantidade de luz
recebida pela mesma ao longo de todas as fases de desenvolvimento até a
maturidade.
Além da densidade de estômatos na folha, a quantidade de luz recebida pelo
órgão irá influenciar na localização dessas estruturas. Na tentativa de minimizar a
perda excessiva de água para meio através dos ostíolos, em ambientes com altas
taxas de luminosidade e longos períodos de raios incididos sobre as lâminas
foliares, os estômatos se concentram em maior número na face foliar oposta a fonte
luminosa (DICKSON, 2000). Os estômatos podem, ainda, ocorrer em caráter
exclusivista na face abaxial, configurando a hipoestomatia, máxima de resiliência
foliar ao aumento da temperatura na superfície do limbo e evapotranspiração

23
(LLERAS, 1977; GIVNISH, 1987; DONG e ZHANG, 2000; HLWATIKA e BHAT,
2002).
Outro traço foliar indicador de resiliência é o grau de sinuosidade das paredes
anticlinais das células fundamentais da epiderme. Embora este caractere seja
apontado como produto da determinação genética para o gênero e/ou família
botânica (ARRUDA e NEVES, 2005), variações no grau de sinuosidade das paredes
anticlinais foram associados à luminosidade, umidade e temperatura (MEIRELLES et
al., 1997; PYYKKÖ, 1966). Meirelles et al. (1997) afirmam que plantas, quando
expostas à alta luminosidade e reduzida disponibilidade hídrica, apresentam alto
grau de sinuosidade das paredes anticlinais. A resiliência conferida por esta
estratégia se deve à ampliação da resistência celular que a sinuosidade das paredes
produz, evitando, assim, o colapso da célula diante do déficit hídrico
(HABERLANDT, 1928).
Estudos apontam que a presença de cristais em folhas de plantas de
ambientes áridos auxilia na redução dos danos causados pelo sol refletindo o
excesso de incidência de energia solar e, assim, preservam o parênquima
clorofiliano, fundamental ao processo fotossintético (ARRUDA et al., 2005; FAHN e
CUTLER 1992, GIBSON e HORAK, 1978; PIMENTEL, 2010; SIMS e GAMON,
2002). A quantidade, localização e morfologia destes cristais também irão influenciar
na qualidade da resposta por eles apresentada (CARRIELO et al., 2003; PIMENTEL,
2010; SIMS e GAMON, 2002).
Alguns caracteres promotores da resiliência vegetal tem seu desenvolvimento
ou maximização associados à baixa disponibilidade hídrica (TURNER et al., 1995;
BOEGER e WISNIEWSKI, 2003). Sob esta condição, as espécies tendem a
apresentar folhas com a lâmina reduzida, espessamento da cutícula, maior
espessura da parede periclinal externa das células epidérmicas, epiderme
pluriestratificada ou hipoderme, presença de estômatos em ambas as faces
epidérmicas, geralmente em depressão, aumento da densidade de tricomas,
mesofilo simétrico, tecidos especializados no armazenamento de água e diminuição
da área ocupada pelo xilema, tecido condutor de água, e do diâmetro dos elementos
de vaso (FAHN e CUTLER, 1992; ROTH, 1984; FAHMY, 1997; TURNER et al.,
1995).
A identificação do aumento e/ou redução da presença e/ou qualidade de
determinados traços das plantas evidenciam a resiliência das espécies e se constitui

24
em uma excelente ferramenta para o entendimento da interação planta-ambiente e
de estratégias que propiciam a permanência das espécies que compõem a
paisagem (HLWATIKA e BHAT, 2002; BRADSHAW, 1965; VIA e LANDE, 1985;
SCHEINER, 1993; SULTAN 1987; SULTAN, 2000; REICH et al., 2003; MARON et
al., 2004; CRAWLEY, 1990; WILLIAMS et al., 1995).

3. REFERÊNCIAS

ACKERLY, D. 2004. Functional strategies of chaparral shrubs in relation to seasonal


water deficit and disturbance. Ecological Monographs 74: 25-44.
ANDRADE, C.A.; PEITZ, C.; CÚNICO, M.; CARVALHO, J.S.L.; ABRAHÃO, W.M.;
MIGUEL, O.G.; MIGUEL, M.D. & KERBER, V.A. 2005. Avaliação da atividade
antibacteriana e triagem fitoquímica das flores de Acacia podalyriiflolia A. Cunn.
Ex. G. Don. Leguminosae-Mimosoideae. Revista Brasileira de Farmacognosia
15(1): 13-15.
ANDRADE-LIMA, D. 1981. The caatingas dominium. Revista Brasileira de
Botânica 4(2): 149-153.
ARRUDA, E., MELO-DE-PINNA, G.F., ALVES, M. 2005. Anatomia dos órgãos
vegetativos de Cactaceae da caatinga pernambucana. Revista Brasil. Bot., V.28,
n.3, p.589-601.
ARRUDA, RCO & NEVES, LJ, 2005. Anatomia foliar de Trilepis lhotzkiana Nees e
Trilepis ciliatifolia T. Koyama (Cyperaceae) Juss. Acta bot. bras. 19(4): 889-897.
BEHLING, H.; ARZ, H.W.; PÄTZOLD, J. & WEFER, G. 2000. Late Quaternary
vegetational and climate dynamics in northeastern Brazil, inferences from marine
core GeoB3104-1. Quaternary Science Reviews 19: 981–994.
BEHLING, H.; PILLAR, V.; ORLÓCI, L. & BAUERMANN, S.G. 2004. Late Quaternary
Araucaria forest, grassland (Campos), fire and climate dynamics, studied by
high-resolution pollen, charcoal and multivariate analysis of the Cambará do Sul
core in southern Brazil. Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology
23: 277–297.
BOEGER, M.T.R. & WISNIEWSKI, C. 2003. Comparação da morfologia foliar de
espécies arbóreas de três estádios sucessionais distintos de floresta ombrófila
densa (Floresta Atlântica) no Sul do Brasil. Revista Brasileira de Botânica
26(1): 61-72.

25
BOEGER, M.R.; WISNIEWSKI, C. 2002. Estrutura e teores de nutrientes foliares de
seis espécies arbóreas ao longo de um gradiente sucessional da planície
litorânea do estado do Paraná, Brasil. Iheringia. Série Botânica, 57(2): 243-262.
BONGERS, F. & POPMA, J. 1990. Leaf characteristics of the tropical rain forest flora
of Los Tuxtlas, México. Botanical Gazette 151(3): 354-365.
BOTTA-DUKAT, Z. 2005. Rao's quadratic entropy as a measure of functional
diversity based on multiple traits. Journal of Vegetation Science 16: 533-540.
BOX, E.O. 1996. Plant functional types and climate at the global scale. Journal of
Vegetation Science 7: 309-320.
BRADSHAW AD. Evolutionary significance of phenotypic plasticity in plants.
Advances in Genetics 1965;13(C):115-55.
CAMERIK, A.M. & WERGER, M.J.A. 1981. Leaf characteristics of the flora of the
High Plateau of Itatiaia, Brasil. Biotropica 13: 31-48.
CARRIELO, F., MIRANDA, F. G., PONZONI, F. J., CARDOSO, P. A., MARTINS, S.
P. 2003. Uso da Transmit‚ncia na caracterização espectral de folhas verdes.
Anais do XI SimpÛsio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, Belo Horizante,
INPE, p. 2451-2457.
CHAPIN III, F.S.; AUTUNM, K. & PUGNAIRE, F. 1993. Evolution of suites of traits in
response to environmental stress. American Naturalist 142(supplement): 79-92
CRAWLEY MJ. The population dynamics of plants. Philosophical Transactions -
Royal Society of London, B 1990;330(1257):125-40.
DÍAZ, S.; ACOSTA, A. & CABIDO, M. 1992. Morphological analysis of herbaceous
communities under different grazing regimes. Journal of Vegetation Science. 3:
689-696.
DICKISON, W.C. 2000. Integrative plant anatomy. Harcourt Academic Press, San
Diego.
DONG, X.; ZHANG, X. 2000. Special stomatal distribution in Sabina vulgaris in
relation to its survival in a desert environment. Trees 14: 369-375.
DRUMOND, M.A.; KILL, L.H.P.; LIMA, P.C.F.; OLIVEIRA, M.C.; OLIVEIRA, V.R.;
ALBUQUERQUE, S.G.; NASCIMENTO, C.E.S. & CAVALCANTE, J. 2000.
Estratégias para o uso sustentável da biodiversidade da caatinga. In: Workshop
de avaliação e identificação de ações prioritárias para a conservação, utilização
sustentável e repartição de benefícios da biodiversidade do bioma caatinga.
Petrolina, Embrapa/Cpatsa, UFPE e Conservation International do Brasil.

26
FAHMY, G.M. 1997. Of anatomy and its relation to the ecophysiology of some non-
succulent desert plants from Egypt. Journal of Arid Environments 36: 499-525.
FAHN, A. & CUTLER, D. 1992. Xerophytes. Gebruder Borntraeger, Berlin.
FUZETO, A.P. & LOMÔNACO, C. 2000. Potencial plástico de Cabraela
canjerana subsp. polytricha (Adr. Juss.) Penn. (Meliaceae) e seu papel na
formação de ecótipos em área de cerrado e vereda. Revista Brasileira de
Botânica 23:169-176.
GIBSON, A. & HORAK, K. 1978. Systematic anatomy and phylogeny of Mexican
cacti. Annals of the Missouri Botanical Garden 65:999-1057.
GITAY, H. & NOBLE, I.R. 1997. What are functional types and how should we seek
them? In: SMITH, H.H.; WOODWARD, F.I. (Eds.). Plant functional types.
Cambridge University Press, Cambridge. pp. 3-19.
GIULIETTI, A.M., et al. 2004. Diagnóstico da vegetação nativa do bioma
Caatinga. In: J.M.C. Silva, M. Tabarelli, M.T. Fonseca & L.V. Lins (orgs.).
Biodiversidade da Caatinga: áreas e ações prioritárias para a conservação.
Ministério do Meio Ambiente, Brasília. pp. 48-90.
GIVNISH, T. J. 1987.Comparative studies of leaf form: assessing the relative roles of
selective pressures and phylogenetic constraints. New Phytologist 106: 131-160.
GRIME, J.P.; THOMPSON, K.; HUNT, R.; HODGSON, J.G.; CORNELISSEN, J.H.C.;
RORISON, I.H.; HENDRY, G.A.F.; ASHENDEN, T.W.; ASKEW, A.P.; BAND,
S.R.; BOOTH, R.E.; BOSSARD, C.C.; CAMPBELL, B.D.; COOPER, J.E.L.;
DAVISON, A.W.; GUPTA, P.L.; HALL, W.; HAND, D.W.; HANNAH, M.A.;
HILLIER, S.H.; HODKINSON, D.J.; JALILI, A.; LIU, Z.; MACKEY, J.M.L.;
MATTEWS, N.; MOWFORTH, M.A.; NEAL, A.M.; READER, R.J.; REILING, K.;
ROSS-FRASER, W.; SPENCER, R.E.; SUTTON, F.; TASKER,D.E.; THORPE,
P.C. & WHITEHOUSE, J. 1997. Integrated screening validates primary axes of
specialisation in plants. Oikos 79: 259-281.
HALLOY, S.R.P. & MARK, A.F. 1996. Comparative leaf morphology spectra of plant
communities in New Zealand, the Andes and the European Alps. Journal of the
Royal Society 26(1): 41-78.
HANBA, Y.T.; KOGAMI, H. & TERASHIMA, I. 2002. The effect of growth irradiance
on leaf anatomy and photosynthesis in Acer species differing in light
demand. Plant, Cell and Environment 25(8): 1021-1030.

27
HABERLANDT, G. 1928. Physiological Plant Anatomy Trad. Montagu Drummod.
4. ed. London, Macmillan & Co, LTDa.
HLWATIKA, C.N.M. & BHAT, R.B. 2002. An ecological interation. Annals of Botany
89:109-114.
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). 1993. Mapa de vegetação do
Brasil. IBGE, Rio de Janeiro.
JESKE-PIERUSCHKA, V.; FIDELIS, A.; BERGAMIN, R.S.; VÉLEZ, E. & BEHLING,
H. 2010. Araucaria forest dynamics in relation to fire frequency in southern Brazil
based on fossil and modern pollen data. Review of Palaeobotany and
Palynology 160: 53-65.
KEDDY, P.A. 1992. Assembly and response rules: two goals for predictive
community ecology. Journal of Vegetation Science 3:157-164.
KLEYER, M. 1999. The distribution of plant functional types on gradients of
disturbance intensity and resource supply in an agricultural landscape. Journal of
Vegetation Science 10: 697-708.
LARCHER, W. Ecofisiologia vegetal. São Carlos: Rima, 2000. 531 p.
LAVOREL, S. & GARNIER, E. (2002). Predicting changes in community composition
and ecosystem functioning from plant traits : revisiting the Holy Grail. Functional
Ecology 16: 545-556.
LEAL, I.R.; TABARELLI, M. & SILVA, J.M.C. (Eds). 2003. Ecologia e Conservação
da Caatinga. Ed. Universitária da UFPE, Recife.
LEWIS, M.G. 1972. The physiological significance of variation in leaf structure.
Science Progress 60:25-51.
LLERAS E 1977. Differencies in stomatal number per unit area within the some
species under different microenviromental conditions: a working hypothesis. Acta
Amazonica 4: 473-476.
MARON JL, VILÀ M, BOMMARCO R, ELMENDORF S, BEARDSLEY P. Rapid
evolution of an invasive plant. Ecol Monogr 2004;74(2):261-80.
MARQUES, A.R., GARCIA, Q.S. & FERNANDES, G.W. 1999. Effects of sun and
shade on leaf structure and sclerophylly of Sebastiania
myrtilloides(Euphorbiaceae) from Serra do Cipó, Minas Gerais, Brazil. Boletim
Botânico 18:21-27.

28
MARQUES, A.R., GARCIA, Q.S., REZENDE, J.L.P. & FERNANDES, G.W. 2000.
Variations in leaf characteristics of two species of Miconia in the Brazilian cerrado
under different light intensities. Tropical Ecology 41:47-60.
MAUSETH JD 1988. Plant anatomy. Menlo Park: Benjamin Cummings.
MEDINA, E.; GARCIA, V.; CUEVAS, E. 1990. Sclerophylly and oligotrophic
environments: relationships between leaf, structure, mineral nutrient content, and
drought resistance in tropical rain forest of the upper Rio Negro region.
Biotropica 22: 51-64.
MEIRELLES, S.T.; MATTOS, E.A. & SILVA, A.C. 1997. Potential desiccation tolerant
vascular plants from Southeastern Brazil. Polish Journal of Environmental
Studies 6: 17-21.
MENEZES, N.L.; SILVA, D.C.; PINNA, G.F.M. 2003. Folha In: B. Apezzato-da-Gloria
& S.M. Carmello-Guerreiro (eds.).Anatomia Vegetal. Viçosa, Editora UFV.
MEZIANE, D. & SHIPLEY, B. 1999. Interacting determinants of specific leaf area in
22 herbaceous species: effects of irradiance and nutrient availability. Plant Cell
and Environment 22:447-459.
MMA – MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. 2010. Monitoramento dos biomas
brasileiros: Caatinga. Brasília, março de 2010. Disponível em:
http://www.mma.gov.br/estruturas/sbf_chm_rbbio/_arquivos/apresentacao_minc_
02mar2010_caatinga_versao_imprensa_72.pdf
MÜLLER, S.C. 2005. Padrões de espécies e tipos funcionais de plantas lenhosas
em bordas de floresta e campo sob influência do fogo. Tese de Doutorado, Curso
de Pós-Graduação em Ecologia, UFRGS, Porto Alegre. 130p.
NAVAS, M.L. & GARNIER, E. 2002. Plasticity of whole plant and leaf traits in Rubia
peregrina in response to light, nutrient and water availability. Acta Oecologica
23:375-383.
NIEMANN, H. & BEHLING, H. 2008. Late Quaternary vegetation, climate and fire
dynamics inferred from the El Tiro record in the southeastern Ecuadorian Andes.
Journal of Quaternary Sciences 23 (3), 203–212.
NIINEMETS, Ü. 1999. Research review. Components of leaf dry mass per area—
thickness and density—alter leaf photosynthetic capacity in reverse directions in
woody plants. New Phytol. 144:35–47.

29
NODA, H., MURAOKA, H. & WASHITANI, I. 2004. Morphological and physiological
acclimation responses to contrasting light and water regimes in Primula sieboldii.
Ecological Research 19:331-340.
ORLÓCI, L. & ORLÓCI, M. 1985. Comparison of communities without the use of
species: model and example. Annals of Botany 43: 275-285.
PAROLIN, M.; MEDEANIC, S. & STEVAUX, J.C. 2006. REGISTROS
PALINOLÓGICOS E MUDANÇAS AMBIENTAIS DURANTE O HOLOCENO DE
TAQUARUSSU (MS). Revista Brasileira de Paleontologia 9(1): 137-148.
PETCHEY, O.L. & GASTON, K.J. 2006. Functional diversity: back to basics and
looking forward. Ecology Letter 9:741–758.
PILLAR, V.D. & ORLOCI, L. 1993. Character-based community analysis: theory
and application program. The Hague: SPB. Academic. 270p.
PILLAR, V.D. 1999. On the identification of optimal plant functional types. Journal of
Vegetation Science 10: 631-640.
PILLAR, V.D. 2003. SYNCSA, software for character-based community analysis.
Versão 2.2.0. Porto Alegre: Departamento de Ecologia da UFRGS.
PIMENTEL, R.M.M . 2010. Mudanças Climáticas, Relações Hídricas e
Propriedades Ópticas Foliares. In: Mudanças Climáticas e Impactos
Ambientais. Recife: Editora Universitária – UFPE. p. 169-177.
PRENTICE, I.C., BONDEAU, A., CRAMER, W., HARRISON, S., HICKLER, T.,
LUCHT, W., SITCH, S., SMITH, B. & SYKES, M.T. 2007. Dynamic global
vegetation modeling: quantifying terrestrial ecosystem responses to large-scale
environmental change. In: Terrestrial Ecosystems in a Changing World (eds.
J.G.Canadell, D.E.Pataki & L.F.Pitelka). Springer, Berlin. pp. 175-192.
PYYKKÖ, M. (1979), Morphology and anatomy of leaves from some woody plants in
a humid tropical forest of Venezuelan Guayana. Acta Botanica Fennica 112: 1-
41.
RADAMBRASIL. 1983. Levantamento de recursos naturais. Rio de Janeiro/
Vitória. Ministério das Minas e Energia, Rio de Janeiro. v.32, folha S/ F. 23/ 24.
REICH PB, WRIGHT IJ, CAVENDER-BARES J, CRAINE JM, OLEKSYN J,
WESTOBY M, WALTERS MB. The evolution of plant functional variation: Traits,
spectra, and strategies. Int J Plant Sci 2003;164(SUPPL. 3):S143-64.

30
REICH, P.B., WRIGHT, I.J. & LUSK, C.H. 2007. Predicting leaf physiology from
simple plant and climate attributes: a global GLOPNET analysis. Ecological
Applications 17: 1982-1988.
REIS, A.M.S.; ARAÚJO, E.L.; FERRAZ, E.M.N. & MOURA, A.N. 2006. Inter-annual
variations in the floristic and population structure of an herbaceous community of
“caatinga” vegetation in Pernambuco, Brazil. Revista Brasileira de Botânica
29(3): 497-508.
RICOTTA, C. 2005. A note on functional diversity measures. Basic and Applied
Ecology 6: 479-486.
RODAL, M.J.N.; SAMPAIO, E.V.S.B.; FIGUEIREDO, M.A. 1992. Manual sobre
métodos de estudo florístico e fitossociológico – ecossistema caatinga.
Brasília: Sociedade Botânica do Brasil/Seção Regional de Pernambuco. 24p.
RODRIGUES, M.T. 2003. Herpetofauna da Caatinga. In: I.R. Leal,
TABARELLI, M. & SILVA, J.M.C. (eds.). Ecologia e conservação da Caatinga.
Editora Universitária, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil. pp.
181-236.
ROTH, I. 1984. Stratification of tropical forest as seen in leaf structure – Tasks
for Vegetation Science. Hague: Ed. H. Lieth.
THOMPSON, W.A., KRIEDEMANN, P.E. & CRAIG, I.E. 1992. Photosynthetic
response to light and nutrients in sun-tolerant and shade-tolerant rainforest trees.
I. Growth, leaf anatomy and nutrient content. Australian Journal of Plant
Physiology 19:1-18.
TURNER, I.M.; ONG, B.L.; TAN, H.T.W. 1995. Vegetation analysis, leaf structure and
nutrient status of a Malaysian heath community. Biotropica 27(1): 2-12.
ROSA, R.S., MENEZES, N.A.; BRITSKI, H.A.; COSTA, W.J.E.M. & GROTH, F..
2003. Diversidade, padrões de distribuição e conservação dos peixes da
Caatinga. In: I.R. Leal, M. Tabarelli & J.M.C. Silva (eds.). Ecologia e conservação
da Caatinga. Editora Universitária, Universidade Federal de Pernambuco, Recife,
Brasil. pp. 135-180.
SCHEINER SM. Genetics and evolution of phenotypic plasticity. Annu Rev Ecol Syst
1993;24:35-68.
SCHLICHTING, C.D. 2002. Origins of differentiation via phenotypic plasticity.
Evolution e Development 5(1):98-105.
SCOPUS. 2011. Basic search. Disponível em http://www.scopus.com/home.url.

31
SILVA, J.M.C.; SOUZA, M.A.; BIEBER, A.G.D. & CARLOS, C.J.. 2003. Aves da
Caatinga: status, uso do habitat e sensitividade. In: I.R. Leal, M. Tabarelli &
J.M.C. Silva (eds.). Ecologia e conservação da Caatinga. Editora Universitária,
Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil. pp. 237-273.
SIMS D.A. & GAMON J.A. 2002. Relationships between leaf pigment content and
spectral reflectance across a wide range of species, leaf structures and
developmental stages. Remote Sensing of Environment 81:337-354.
SMITH, W.K., VOGELMANN, T.C., DELUCIA, E.H., BELL, D.T. & SHEPHERD, K.A.
1997. Leaf form and photosynthesis: do leaf structure and orientation interact to
regulate internal light and carbon dioxide? Bioscience 47:785-793.
SULTAN SE. Evolutionary implications of phenotypic plasticity in plants. Evolutionary
Biology 1987;21:127-78.
SULTAN SE. 2000. Phenotypic plasticity for plant development, function and life
history. Trends Plant Sci 5(12):537-42.
SULTAN, S.E. 2003. Phenothypic plasticity in plants: a case study in ecological
development. Evolution and Development 5:25-33.
TABARELLI, M; SILVA, J.M.C. & SANTOS, A.M.M. 2000. Análise de
representatividade das unidades de conservação de uso direto e indireto no
bioma Caatinga. Documento Temático, Seminário Biodiversidade da Caatinga.
Disponível em www.biodiversitas.org/caatinga.
TAIZ, L. & ZEIGER, E. 2004. Fisiologia vegetal. Artmed, Porto Alegre.
TROVÃO, D.M.B.M.; SILVA, S.C.; SILVA, A.B.; VIEIRA JÚNIOR, R.L. 2004. Estudo
comparativo entre três fisionomias de caatinga no estado da Paraíba e análise do
uso das espécies vegetais pelo homem nas áreas de estudo. Revista Biologia e
Ciências da Terra 4(2):1-5.
TYLIANAKIS, J.M.; DIDHAM, R.K.; BASCOMPTE J. & WARDLE, D.A.2008. Global
change and species interactions in terrestrial ecosystems. Ecology Letters 11:
1-13.
VIA S, LANDE R. Genotype-environment interaction and the evolution of phenotypic
plasticity. Evolution 1985;39(3):505-22.
WANG, R.Z. 2003. Photosynthetic pathway and morphological functional types in the
steppe vegetation from Inner Mongolia, North China. Photosynthetica 41(1):
143-150.

32
WIEMANN, M.C.; MANCHESTER, S.R.; DILCHER, D.L.; HINOJOSA, L.F.;
WHEELER, E.A. 1998. Estimation of temperature and precipitation from
morphological characters of dicotyledonous leaves. American Journal of Botany
85(12): 1796-1802.
WILLIAMS DG, MACK RN, BLACK RA. 1995. Ecophysiology of introduced
pennisetum setaceum on hawaii: The role of phenotypic plasticity. Ecology
76(5):1569-80.
ZANELLA, F.C.V. & C.F. MARTINS. 2003. Abelhas da caatinga: biogeografia,
ecologia e conservação. IN: I.R. LEAL, M. TABARELLI & J.M.C. SILVA (EDS.).
ECOLOGIA E CONSERVAÇÃO DA CAATINGA. PP. 75-134. Editora
Universitária, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil.
ZAVALA-HURTADO, J.A.; VALVERDE, P.L.; DIAZ-SOLI, A.; VITE, F.; PORTILLA, E.
1995. Vegetation-environment relationships base on a life-forms classification in a
semiarid region of Tropical Mexico. Revista de Biologia Tropical 44(2A): 581-
590.

33
4. Manuscrito I
a ser enviado ao periódico Progress in Physical Geography

34
Composição estrutural vegetal de uma paisagem de
semiárido do Nordeste do Brasil1

Milena Dutra da Silva2, Rejane Magalhães de Mendonça Pimentel2


e André Laurênio de Melo3

1
Parte da tese da primeira autora
2
Programa de Pós-Graduação em Geografia, Departamento de Ciências
Geográficas, Universidade Federal de Pernambuco
3
Departamento de Biologia, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Unidade
Serra Talhada

Resumo
A caatinga é um ecossistema exclusivamente brasileiro e abrange 60% da
região Nordeste. Possui uma vegetação com características peculiares decorrentes
do clima semiárido, disponibilidade hídrica estacional e elevadas temperaturas. O
alto índice de desmatamento destas áreas elevou a necessidade da ampliação do
conhecimento deste bioma para auxiliar políticas de manejo e conservação. Neste
sentido, este estudo objetivou analisar a dinâmica vegetacional da caatinga,
composição estrutural e fitossociológica, bem como da análise das condições
biológicas das espécies estruturantes de um fragmento vegetacional de caatinga em
Fazenda Nova, Brejo da Madre de Deus, em Pernambuco. Para isto foram utilizados
métodos e técnicas usuais em levantamentos florísticos e fitossociológicos,
sensoriamento remoto e geoprocessamento, análises hiperespectrais (índices de
vegetação) e anatomia vegetal. O fragmento vegetacional sofreu redução na sua
cobertura vegetal no período de 1988 a 2011. A identificação da riqueza e
abundância de espécies lenhosas indicou a área estudada como alvo de
perturbação ambiental, em etapa inicial de sucessão ecológica. A deficiência hídrica
foi identificada como fator estressor para a planta. As estratégias fisiológicas e
morfoanatômica adotadas pelas espécies foram diferentes entre si e são uma
tentativa de ajuste específico da espécies as condições ambientais, a fim de garantir
sucesso em sua manutenção no ambiente (uso eficiente da água e fotossíntese).

Palavras-chave: caatinga, dinâmica da paisagem, detecção de mudança, índices de


vegetação.

35
I Introdução

A caatinga é um ecossistema exclusivamente brasileiro e se destaca no


cenário nacional pela grande abrangência territorial na porção Nordeste, cobrindo
60% da área dessa região (Andrade et al., 2005; MMA, 2011).
A caatinga se estende pelo domínio de clima semiárido e tem as suas
características peculiares decorrentes das condições impostas pelos fatores
climáticos, como a disponibilidade hídrica estacional e as elevadas temperaturas
(Cunha, 2004; Mendes, 1992; Campello et al., 1999).
O regime de precipitação pluviométrica na caatinga é caracterizado por sete a
nove meses de estiagem associado a elevadas temperaturas, implicando em altas
taxas de evapotranspiração e ampliam os períodos de escassez hídrica (Mendes,
1992; Campello et al., 1999 ). Além disto, o solo raso, com baixa capacidade de
retenção hídrica, contribui para uma baixa disponibilidade de água na caatinga.
A disponibilidade hídrica é um dos principais fatores limitantes do
desenvolvimento e manutenção da vegetação. Uma vez que a água é responsável
pelo transporte de nutrientes, manutenção estrutural (turgescência celular),
reguladora da expansão e alongamento foliar, abertura e fechamento estomático e
equilíbrio da temperatura da planta, ela garante as condições físico-químicas
exigidas para o bom funcionamento dos processos metabólicos vitais, como a
fotossíntese e consequente produção de biomassa (Galeti, 1982; Taiz e Zeiger,
2004).
As plantas que conseguem se estabelecer sob as condições inóspitas do
clima semiárido são classificadas como xéricas e constituem uma vegetação singular
de caatinga (formação decidual xerófila) ou mata seca (formação mesofílica), que
expressam os ajustes às condições e níveis de aridez no ambiente (Fernandes,
1992; Souto, 2006).
A capacidade de ajustes das plantas ao ambiente, e suas variáveis
(micro)climáticas e edáficas, determina que espécies irão compor a vegetação no
ambiente, produzindo paisagens que refletem o sucesso do vegetal em seu
estabelecimento e manutenção (Dickson, 2000; Schlichting, 1986; Sultan, 1995;
Sultan, 2003).
A paisagem da caatinga apresenta uma grande variação quanto à sua
composição vegetacional (Tavares et al., 1975; Andrade-Lima, 1981; Rodal, 1992;

36
Araújo et al., 1995). Embora alguns trabalhos que visam o conhecimento da
composição e dinâmica vegetacional da caatinga já tenham sido desenvolvidos,
sobretudo nas últimas décadas, as muitas configurações e associações da
composição vegetal deste ecossistema requerem estudos os quantos forem
possíveis da totalidade da caatinga para o seu melhor entendimento funcional, uma
vez que as plantas respondem às variáveis locais (Box, 1996; Gitay e Noble, 1997;
Grime et al., 1997; Orlóci e Orlóci, 1985; Pillar, 2003; Pillar e Orlóci, 1993).
Os levantamentos fitossociológicos contribuem como precursores de estudos
adicionais sobre a dinâmica vegetacional, além de fornecer informações que
subsidiam a elaboração de projetos de manejo e manutenção do ecossistema.
Com o avanço científico em métodos e tecnologias, surgiram novas
ferramentas passíveis de aplicação aos estudos da dinâmica vegetacional. Entre
eles se destaca o sensoriamento remoto, com a descoberta da interação entre a
energia eletromagnética irradiada pelo sol e os alvos fotossintetizantes (Ponzoni,
2001).
Analisando as respostas do vegetal no espectro eletromagnético é possível
observar o comportamento específico da energia radiante em comprimentos de onda
refletidos por uma folha isolada e/ou pelo dossel (Cardoso, 1996; Jensen, 1991;
Ponzoni, 2001).
A resposta espectral detectada por sensores na região do visível e no
infravermelho próximo são capazes de indicar superfícies vegetadas, permitindo a
identificação e mapeamento de fragmentos vegetacionais (Parkinson, 1997). Isto
possibilita o monitoramento da dinâmica apresentada pela vegetação, auxiliando no
acompanhamento de mudanças ocorridas na paisagem (Junges et al., 2007; Braga
et al., 2003; Ponzoni, 2001)
A dinâmica de ocupação vegetacional pode ser identificada através da
aplicação das técnicas de programas específicos para análises de sensoriamento
remoto e geoprocessamento em imagens com valores matriciais de períodos
distintos (Townshend et al., 1985). Alguns trabalhos como os desenvolvidos por
Eastman e Fulk (1993), Nicholson e Farrar (1994), Almeida (1997), Barbosa (1998),
Gutman e Ignatov (1998), Braga (2000) e Braga et al. (2003) mostraram que a
técnica é uma ferramenta potencial para a indicação de mudanças na vegetação,
cujos valores são influenciados por eventos periódicos e não periódicos .

37
A espectrorradiometria também tem se destacado quanto ao seu uso no
estudo da vegetação. Neste método, o sensor mantém contato direto com o alvo
estudado, excluindo os ruídos que ocorrem frequentemente nos produtos dos
sistemas imageadores, ocasionados pela densidade da copa e/ou manchas de
vegetação subjacente e do solo e pelo relevo, entre outros (Jensen, 2009; Moraes,
2002; Menezes, 2001; Silva, 2007; Steffen e Moraes, 1993; Zanini, 2008).
Os dados obtidos com a espetrorradiometria da folha permitem avaliar as
condições fisiológicas da planta (pigmentação e conteúdo de água) devido à forte
relação da resposta espectral foliar com as propriedades físicas e químicas contidas
no órgão (Babar et al., 2006; Blackburn, 1998; Gitelson et al., 2002; Merton, 1998;
Merzlyak et al., 1999; Penuela et al., 1997; Richardson et al., 2002). Este tipo de
análise fornece subsídios para a identificação das estratégias fisiológicas dos
vegetais para sua manutenção no ambiente (Haboudane et al., 2002; Pereira et al.,
2001; Madeira et al., 2009; Blackburn, 1998; Gates et al., 1965; Jense, 2009;
Cardoso, 1996; Jensen, 1991; Ponzoni, 2001).
A análise da dinâmica vegetacional, da composição estrutural e
fitossociológica, bem como da análise das condições biológicas das espécies
estruturantes da comunidade vegetal permite um melhor entendimento do fragmento
estudado. Neste sentido, e diante da necessidade de ampliação de estudos relativos
à dinâmica da caatinga, este estudo objetivou analisar, sob os referidos aspectos,
um fragmento vegetacional de caatinga em Fazenda Nova, Brejo da Madre de Deus,
em Pernambuco.

II Material e Métodos

1. Caracterização da área de estudo


O município de Brejo da Madre de Deus está localizado na mesorregião
Agreste e na microrregião Vale Ipojuca, na porção centro-leste do Estado de
Pernambuco (Fig. 1), a cerca de 200 km da capital, entre as latitudes 07°50’S e
08°18’S e longitudes 36°05’W e 36°30’W. Apresenta extensão territorial de
2
779,3km , limitando-se, ao norte, com Santa Cruz do Capibaribe e Taquaritinga do
Norte, ao sul, com Belo Jardim, Tacaimbó e São Caetano, ao leste, com Caruaru e

38
Toritama e, ao oeste, com Jataúba; inserido nas Folhas da SUDENE de Santa Cruz
do Capibaribe e Belo Jardim na escala de 1:100.000 (BRASIL, 2005).
Brejo da Madre de Deus apresenta Patamares Compridos e Baixas Vertentes,
com relevo suave ondulado, Planossolos mal drenados, fertilidade natural média e
problemas com acúmulo de sais; Topos e Altas Vertentes com solos Brunos não
Cálcicos, rasos e fertilidade natural alta; Topos e Altas Vertentes do relevo ondulado
com solos Podzólicos drenados, fertilidade natural média e Elevações Residuais
com solos Litólicos rasos, pedregosos e fertilidade natural média (BRASIL, 2005).
Quanto aos aspectos geológicos, o município está inserido no Batólito
Caruaru-Arcoverde, se destacando na Província Borborema, por ser a maior unidade
de associação cálcio-alcalina de alto potássio (Melo, 2000).
O clima é do tipo Tropical Semiárido com chuvas de verão, em concordância
com as condições climáticas do semiárido nordestino, mostrando transição gradual
de extrema semiaridez a uma maior umidade, determinadas pela topografia.
A temperatura média anual é equivalente a 22°C, atingindo as máximas
durante os meses de novembro e dezembro (31ºC) e mínimas durante agosto e
setembro (17,9ºC), esta última decorrente da orografia (BRASIL, 2005; Silva et al.,
2009).
Brejo da Madre de Deus apresenta vegetação de brejo e caatinga e está
inserido nos domínios da Bacia Hidrográfica do Rio Capibaribe (BRASIL, 2005).
Quanto à ocupação vegetacional, foi identificado que 56% da área vegetada no
município potencializam o vigor e a densidade da vegetação com o aumento da
altitude (Silva et al., 2008). De acordo com Silva et al. (1998), nas referidas áreas, os
tipos vegetacionais predominantes são correspondentes a uma vegetação arbustiva
arbórea fechada, caracterizada por espécies com altura média de 4,0 m e indivíduos
emergentes de 7,0 m, entre 550 e 750m de altitude, e ao Tipo “Brejo de Altitude”,
com vegetação arbórea fechada, presença de alguns arbustos, altura média de 5,0m
e indivíduos emergentes com mais de 8,0m.
A vegetação rala e esparsa recobre, aproximadamente, 40% do município
(Silva et al., 2008). Esta organização menos densa, aliada, entre outros, às
condições decorrentes da altitude (altitude igual ou inferior a 500m), apresenta uma
configuração característica de vegetação de caatinga. Silva et al. (1998) afirmam
que, nestas áreas, a vegetação predominante é arbóreo-arbustiva aberta (caatinga),

39
com espécies caducifólias de altura média de 3,0m e indivíduos emergentes de
5,0m.

1.2. Seleção e caracterização do sítio de coleta


A fim de conseguir uma área que permitisse o estudo de vegetação de
caatinga com acompanhamento contínuo para obtenção de medidas que necessitam
a utilização de muitos métodos e equipamentos, em várias visitas técnicas para uma
análise mais acurada, foi selecionado um fragmento vegetacional em Fazenda Nova,
distrito do Município de Brejo da Madre de Deus, Pernambuco.
Fazenda Nova possui cobertura pedológica distinta do descrito para a sede,
devido às diferenças topográficas que estimulam o desenvolvimento de caracteres
fisionômicos intrínsecos (Silva et al., 2009).
O solo apresenta estrutura influenciada pelo clima semiárido e seu estágio de
desenvolvimento é determinado por sua posição na superfície, exposto em
verdadeiras catenas de solos semiáridos (EMBRAPA – Solos, 2000). São
encontrados solos do tipo Planossolo, Neossolo Regolítico e Litólico. Além destes,
existe a participação de outros tipos, porém em menor expressão quanto à área da
região: Argissolos, Luvissolos, Glevssolos Háplicos e os Neossolos Flúvicos,
respectivamente, em ordem decrescente de extensão (Silva et al., 2009; EMBRAPA
– Solos, 2002).
O período chuvoso de Fazenda Nova tem início em novembro e término em
julho, porém, ocorre de forma descontínua e os valores máximos de precipitação
pluvial são atingidos durante os meses de março, abril e julho. Esta máxima
corresponde a 50% dos 557mm registrados como precipitação média anual para a
área e é justificado pela influência da zona de convergência intertropical, com
apogeu no hemisfério sul em março e abril, ondas de este e pelas correntes
perturbadas do sul. O período seco tem duração de sete meses (Silva et al., 2009).
A temperatura média anual é equivalente ao anteriormente descrito para a
sede (BRASIL, 2005; Silva et al., 2009).
O fragmento vegetacional selecionado para este estudo é caracterizado pela
presença de espécies arbóreo-arbustivas e caducifólias de altura média de 3,0m e
indivíduos emergentes com 5,0m. As espécies estabelecidas nestes fragmentos
apresentam caracteres anatômicos, morfológicos, fisiológicos e funcionais
adaptados a um ambiente de intensa radiação solar, baixo teor de umidade e

40
precipitações escassas e irregulares devido à sua grande sensibilidade à
disponibilidade de água, apresentando, em sua dinâmica populacional, uma
resposta fortemente relacionada à variabilidade dos fenômenos meteorológicos
atuantes sobre ela (Braga et al., 2003).

2. Procedimentos Metodológicos

2.1 Procedimentos em Campo


2.1.1 Desenho experimental
Na propriedade privada Fazenda Incó, situada em Fazenda Nova, Brejo da
Madre de Deus-PE, foram delimitadas 100 parcelas de 10m x 10m (100m 2),
contíguas e instaladas de forma permanente, totalizando em 1 hectare (Fig. 1),
seguindo recomendações para estudos de composição da paisagem de Rodrigues
(1991).

Figura 1. Localização da área de estudo e sobreposição do desenho experimental


das parcelas fixadas em campo (100m2) sobre imagem de satélite sistema TM

41
(Thematic Mapper)/Landsat-5 de Fazenda Nova, Brejo da Madre de Deus,
Pernambuco.
2.1.2 Levantamento florístico
Foram realizadas coletas aleatórias entre os meses de maio e agosto dos
anos de 2009 e 2010. Todo material botânico fértil das espécies lenhosas
encontradas nas parcelas e deslocadas destas em até 1m foi coletado, devidamente
etiquetado, prensado e seco em estufa de lâmpada por 3 a 5 dias.
Depois de secas e etiquetadas, as amostras foram depositadas no herbário
Dárdano de Andrade Lima do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA). As plantas
foram identificadas em diferentes níveis (e.g. família, gênero e espécie), seguindo o
sistema de classificação de Cronquist (1981). As identificações foram realizadas com
auxílio de bibliografia especializada, comparação com material de herbário e
consulta aos especialistas em diversos grupos taxonômicos. A autoria dos nomes
específicos foi confirmada através de consulta aos sites do Missouri Botanical
Garden (http://www.tropicos.org) e da Flora Brasiliensis no site do Centro de
Referência em Informação Ambiental-CRIA (http://florabrasiliensis.cria.org.br).
A descrição e a classificação da estrutura morfológica foliar seguiram a
terminologia de Barroso et al. (2002).

2.1.3 Levantamento fitossociológico


O levantamento fitossociológico foi realizado entre os meses de maio e
agosto dos anos de 2009 e 2010, mediante a utilização do método de parcela
(Mueller-Dumbois e Ellenberg, 1974).
Foram considerados todos os indivíduos lenhosos vivos com altura ≥ 1m e
circunferência basal de 27cm. Destes, foram considerados: a) densidade absoluta e
b) relativa, c) frequência absoluta, d) frequência relativa, e) dominância absoluta, f)
dominância relativa, g) valor de importância e h) valor de cobertura, segundo a
aplicação das equações abaixo:

a) Densidade absoluta:

(1)

42
Onde: ni equivale ao número de indivíduos da espécie, A se refere à área total
amostra em m2 e U a unidade amostral (ha=10.000 m2).

b) Densidade relativa

(2)

Onde: ni equivale ao número de indivíduos da espécie e N equivale ao número total


de indivíduos.

c) Frequência absoluta

(3)

Onde: Pi equivale ao número total de parcelas nas quais a espécie esteve presente
e P equivale ao número total de parcelas.

d) Frequência relativa

(4)

Onde: FAi equivale a frequência absoluta da espécie e FAt corresponde a frequência


absoluta total (∑FAi).

e) Dominância absoluta

(5)

Onde: Abi equivale a área basal de indivíduos da espécie i, A corresponde a área


total amostrada em m2 e U é equivalente a unidade amostral (ha= 10.000 m2).

f) Dominância relativa

43
(6)

Onde: ∑Abi equivale a soma das áreas basais dos indivíduos da espécie i e Abt
corresponde a soma das áreas basais de todos os indivíduos.

g) Valor de importância

(7)
Onde: DRi equivale a densidade relativa da espécie i, DoRi corresponde à
dominância relativa da espécie i e FRi é equivalente a frequência relativa da espécie
i.

h) Valor de Cobertura

(8)

Onde: DRi equivale a densidade relativa da espécie i e DoRi corresponde à


dominância relativa da espécie i.

2.1.3 Espectrorradiometria foliar

As espécies foram selecionadas em função do valor de dominância,


frequência e cobertura vegetal, seguindo metodologia de Maarel (1979). Nesta
seleção, também foi observada a menor distância entre os indivíduos da mesma
espécie, visando minimizar efeitos naturais de sombreamento ou algum outro tipo de
interferência na estrutura das folhas e consequências nas medidas de
espectrorradiometria.
As medidas foram realizadas em cinco indivíduos das espécies selecionadas,
naturalmente estabelecidos nas parcelas analisadas. Foram excetuadas desta
análise espécies que possuem folhas com folíolos/foliólolos com lâmina da
subunidade foliar de comprimento inferior a 1cm devido a dificuldade de aquisição
de dados pelo sensor do equipamento.

44
As medidas de reflectância foliar foram obtidas utilizando o
espectrorradiômetro FieldSpec HandHeld model, UV/VNIR (325 – 1075 nm). As
medições foram realizadas em agosto de 2010, efetuadas in situ, com auxílio de um
leaf clip (acessório equivalente a uma esfera integradora) utilizando um método
totalmente controlado, com incidência luminosa ortogonal e de mesma intensidade
para todas as amostragens. Foram tomadas 10 medidas para cada uma das 10
folhas adultas, sadias e totalmente expostas ao sol, dos cinco indivíduos de cada
espécie.
As medições foram realizadas na região mediana de folhas verdes, sadias e
adultas, as quais estavam mais expostas ao sol e inseridas em ramos localizados no
terço médio da copa. As leituras foram processadas para obtenção da média de
reflectância foliar para cada espécie.

2.2 Procedimentos em Laboratório

2.2.1 Detecção de mudança na paisagem

A identificação da cobertura vegetal e a dinâmica da fitofisionomia foram


realizadas a partir da interpretação de imagens multiespectrais de 22 de junho de
1988 e 05 de junho de 2011 do sistema “TM (Thematic Mapper)/Landsat-5”. Estas
imagens foram selecionadas por representarem a caatinga em um período posterior
às máximas de precipitação pluvial (onde as plantas, ainda que caducifólias,
possuíssem folhagem) e baixa densidade de nuvens, quando comparadas às
demais imagens disponibilizadas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(INPE) no catálogo de imagens de satélites para o ponto 214, órbita 66
(http://www.dgi.inpe.br/CDSR/).
O sistema TM/Landsat-5 possui como parâmetros característicos de
imageamento: as bandas TM-1 (0,45 – 0,52 µm), TM-2 (0,52 – 0,60 µm), TM-3 (0,63
– 0,69 µm), TM-4 (0,76 – 0,90 µm), TM-5 (1,55 – 1,75 µm), TM-6 (10,42 - 12,50 µm)
e TM-7 (2,08 – 2,35) (INPE 2006); resolução espacial de 30 m para todas as
bandas, excetuando a banda TM-6, a qual apresenta resolução de 120 m; resolução
temporal de 16 dias, em uma faixa de imageamento equivalente a 185km x 175km
(INPE, 2006).

45
As imagens multiespectrais foram georreferenciadas no sistema de projeção
cartográfica Transversal Universal de Mercator (UTM), coordenadas planas, com
auxílio do programa ENV1 4.5. O processamento das imagens envolveu uma análise
visual e estatística das características espectrais das sete bandas do sistema
TM/Landsat-5, separadamente. Para o mapeamento da cobertura vegetal foram
geradas imagens com valores de reflectância para cada banda analisada. Foram
avaliados os pixels correspondentes as áreas amostradas em campo para análise
botânica (9 pixels contíguos) e os pixels circundantes desta área.
Para obtenção das imagens com valores de reflectância foi realizada a)
calibração radiométrica das imagens para obtenção da radiância espectral
monocromática (Markham e Baker, 1987), com a utilização dos valores da Tabela 1,
e, por fim, b) a razão entre o fluxo de radiação refletida e o fluxo de razão incidente
(reflectância) (Allen et al., 2002), expressas pelas equações abaixo:
a) Radiância espectral

(9)

Onde: corresponde à radiação espectral de cada banda (Tab. 1), a radiância

mínima (Tab. 1), a radiância máxima (Tab. 1), ND a intensidade do pixel (número
inteiro entre 0 e 255).

Tabela 1. Descrição das bandas e faixas espectrais correspondentes ao sistema


TM/Landsat-5. a. coeficientes mínimos de calibração; b. coeficientes máximos de
calibração; ESUNλ. irradiância solar espectral no topo da atmosfera.
Coeficiente de Calibração
-2 -1
(W m μm )
Faixa De 01/03/1984 De 05/05/2003 Após ESUNλ
Banda espectral até até 01/04/2007 02/04/2007 (W m-2 μm-1)
(μm) 04/05/2003
A b a B A b
0,45 – 152.1 169.0
TM-1 -1.52 -1.52 193.00 -1.52 1957
0,52 0 0
0,52 – 296.8 333.0
TM-2 -2.84 -2.84 365.00 -2.84 1826
0,60 1 0
0,63 – 204.3 264.0
TM-3 -1.17 -1.17 264.00 -1.17 1554
0,69 0 0
0,76 – 206.2
TM-4 -1.51 -1.51 221.00 -1.51 221.0 1036
0,90 0

46
1,55 –
TM-5 -0.37 27.19 -0.37 30.20 -0.37 30.2 215.0
1,75
10,4 – 1.237 15.30 15.30
TM-6 1.2378 15.303 1.2378 -
12,5 8 3 3
2,08 –
TM-7 -0.15 14.38 -0.15 16.50 -0.15 16.50 80.67
2,35

b) Reflectância

(10)

Onde: corresponde à radiação espectral de cada banda, a irradiância

espectral solar em cada banda no topo da atmosfera, Z ao ângulo zenital e ao


quadrado da razão entre a distância média Terra-Sol e a distância Terra-Sol em
dado dia do ano.
As mudanças ocorridas na paisagem quanto à presença de vegetação foram
evidenciadas através da técnica Change Detection do software Erdas 9.3 da
sobreposição de imagens contendo valores de reflectância para os anos analisados.
Como produto deste processamento obteve-se uma nova imagem classificada para
identificação de perda, não-mudança e ganho de áreas com vegetação em uma
escala temporal crescente.
Para a confirmação da distribuição e densidade vegetacional foi calculado o
Índice de Vegetação pela Diferença Normalizada (IVDN). Este cálculo foi efetuado
através da fórmula definida por Turck (1979) expressa abaixo:

(b4  b3)
IVDN  (11)
(b4  b3)

Onde: b3 corresponde à reflectância da banda TM-3 e b4 corresponde à reflectância


da banda TM-4.

2.2.1.2 Precipitação pluvial


Para o conhecimento da concentração de precipitação pluvial auxiliar na
análise da detecção de mudança foram utilizados valores diários acumulados dos

47
anos de 1988 e 2011, e para auxiliar a análise da condição biológica da vegetação
foram utilizados os valores do ano de 2010, disponibilizados pelo CPTEC/INPE
(2011). Como o órgão não disponibilizava os dados para o Município do Brejo da
Madre de Deus foram utilizados os valores de acúmulo diário da pluviosidade do
município mais próximo à área de estudo, Caruaru-PE.

2.2.1 Condição biológica da vegetação: Índices de Vegetação


Foram utilizados índices de vegetação específicos para a análise das
condições fisiológicas, conteúdo hídrico e teor de pigmentação foliar, a partir dos
dados obtidos através do espectrorradiômetro.
As condições hídricas apresentadas pelas folhas foram avaliadas mediante a
utilização do: a) “índice de água presente na vegetação” (PWI, Plant Water Index)
(Penuela et al., 1997), b) “índice de estresse da vegetação na borda vermelha”
(RVSI, Red-edge Vegetation Stress Index) (Merton, 1998), c) “índice de reflectância
da planta em senescência” (PSRI, Plant Senescence Reflectance Index) (Merzlyak
et al., 1999), e d) “índices de água normalizado” (NWI, Normalized Water Index)
modificado por Babar et al. (2006). Estes índices foram expressos pelas equações
abaixo:

a) Plant Water Index – PWI (índice de água presente na vegetação)

(12)

Onde: R970 é equivalente ao valor de reflectância das folhas no comprimento de


onda em 970 nm e, R900, equivalente aos valores em 900 nm.

b) Plant Senescence Reflectance Index – PSRI (índice de reflectância da planta em


senescência)

(13)

48
Onde: R681 é equivalente ao valor de reflectância das folhas no comprimento de
onda em 681 nm e, R498, equivalente aos valores em 498 nm.

c) Normalized Water Index modificado – NWI modificado (índice normalizado de


água)

(14)

Onde: R970 é equivalente ao valor de reflectância das folhas no comprimento de


onda em 970 nm e, R880, equivalente aos valores em 880 nm.

Para o estudo da eficiência fotossintética das folhas foram realizadas análises


(qualitativas, quantitativas e empíricas) de pigmentos foliares, sobretudo clorofila (a
e b) e carotenóides, através da utilização de índices específicos. Foram
determinados: e) “índice de reflectância fotoquímica” (PRI, Photochemical
Reflectance Index) (Gamon et al., 1999), f) “índice de pigmentos independente da
estrutura” (SIPI, Structure Insensitive Pigment Index) (Penuelas et al., 1995), g)
“índice de reflectância do carotenóide” (CRI, Carotenoid Reflectance Index) (Gitelson
et al., 2002), h) “índice de clorofila pela diferença normalizadas” (ChlNDI, Chlorophyll
normalized difference index) (Richardson et al., 2002), i) “razão simples de pigmento
específico para a clorofila a” (PSSRa, Pigment Specific Simple Ratios for Chlorophyll
a) (Blackburn, 1998), j) “razão simples de pigmento específico para a clorofila b”
(PSSRb, Pigment Specific Simple Ratios for Chlorophyll b) (Blackburn, 1998), e k)
“índice de vegetação pela diferença normalizada” (NDVI, Normalized Difference
Vegetation Index (Penuelas e Inoue., 1999). Estes índices foram expressos pelas
equações abaixo:

d) Photochemical Reflectance Index – PRI (índice de reflectância fotoquímica)

(15)

49
Onde: R529 é equivalente ao valor de reflectância das folhas no comprimento de
onda em 529 nm e, R569, equivalente aos valores em 569 nm.

e) Carotenoid Reflectance Index - CRI, (índice de reflectância do carotenóide)

(16)

Onde: R508 é equivalente ao valor de reflectância das folhas no comprimento de


onda em 508 nm e, R701, equivalente aos valores em 701 nm.

f) Chlorophyll normalized difference index - ChlNDI (índice de clorofila pela


diferença normalizadas)

(17)

Onde: R750 é equivalente ao valor de reflectância das folhas no comprimento de


onda em 750 nm e, R705, equivale aos valores de reflectância em 705 nm.

g) Pigment Specific Simple Ratios for Chlorophyll a - PSSRa (razão simples de


pigmento específico para a clorofila “a”)

(18)

Onde: R800 é equivalente ao valor de reflectância das folhas no comprimento de


onda em 800 nm e, R675, equivale aos valores de reflectância em 675 nm.

h) Pigment Specific Simple Ratios for Chlorophyll b – PSSRb (razão simples de


pigmento específico para a clorofila “b”)

(19)

50
Onde: R800 é equivalente ao valor de reflectância das folhas no comprimento de
onda em 800 nm e, R650, equivale aos valores de reflectância em 650 nm.

i) Normalized Difference Vegetation Index – NDVIhy (índice de vegetação pela


diferença normalizada a partir de dados espectrais)

(20)

Onde: R846 é equivalente ao valor de reflectância das folhas no comprimento de


onda em 846 nm e, R671, equivale aos valores de reflectância em 671 nm.

III Resultados e Discussão

A flora arbóreo/arbustiva, componente da paisagem de caatinga em Fazenda


Nova, apresentou quatorze espécies, distribuídas entre sete famílias, totalizando
1.084 indivíduos (Tab. 2).
As leguminosas (Fabaceae) se destacam pela riqueza de espécies e as
Euphorbiaceae pela abundância de indivíduos (Tab. 2). Levantamentos
fitossociológicos anteriores indicaram comportamento similar para famílias
estabelecidas na caatinga e apontam essas famílias como as principais dominantes
no bioma (Rodal, 1992; Gomes, 1979; Ferreira e Vale, 1992; Araújo; Sampaio;
Rodal, 1995; Rodal et al., 1998; Corrêa e Costa et al., 2001; Candido et al., 2002;
Lemos e Rodal, 2002; Andrade et al., 2005; Santana e Souto, 2006).
As Anacardiaceae e as Brassicaceae são as famílias com menor abundância
de indivíduos, representadas por Myracrodruon urundeuva (Fr. Allem.) Engl.
(Anacardiaceae) e duas espécies do gênero Capparis L. (Brassicaceae) (Tab. 2).
Espécies destas famílias apresentam maior abundância de indivíduos em
fragmentos vegetacionais em bom estado de conservação (Andrade et al., 2005).
A riqueza de espécies encontrada foi muito baixa, quando comparada ao
encontrado em outros levantamentos realizados para a caatinga no Estado de
Pernambuco e estados vizinhos (Rodal, 1992; Gomes, 1979; Ferreira e Vale, 1992;
Araújo et al., 1995; Rodal et al., 1998; Corrêa e Costa et al., 2001; Candido et al.,
2002; Lemos e Rodal, 2002; Andrade et al., 2005; Santana e Souto, 2006). De

51
acordo com Pereira (2003) e Andrade et al. (2005), isto é indicativo de que a área
passou/passa por intensa perturbação ambiental, uma vez que a riqueza de
espécies deve ser proporcional ao bom estado de conservação dos fragmentos
vegetacionais.

Tabela 2. Riqueza de espécies lenhosas naturalmente estabelecidas em uma área


de caatinga em Fazenda Nova, Brejo da Madre de Deus, Pernambuco, Brasil.
N° de
Espécie Família Nome Vulgar
Indivíduos
Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan. Fabaceae Angico 29
Aspidosperma pyrifolium Mart. Apocynaceae Pereiro 131
Bauhinia cheilantha (Bong). Steud. Fabaceae Pata-de-vaca 14
Capparis flexuosa (L.) L. Brassicaceae Feijão bravo 3
Capparis yco Mart. & Eichler Brassicaceae Icozeiro 6
Croton blanchetianus Baill. Euphorbiaceae Marmeleiro 548
Jatropha molissima Muell. Arg. Euphorbiaceae Pinhão 6
Mimosa tenuiflora cf. (Willd.) Poir. Fabaceae Jurema preta 47
Myracrodruon urundeuva (Fr. Allem.) Engl. Anacardiaceae Aroeira 19
Piptadenia stipulacea (Benth.) Ducke Fabaceae Jurema branca 155
Poincianella pyramidalis (Tul.) L.P. Queiroz Fabaceae Catingueira 37
Senna macranthera (DC. Ex collad.) H.S.
Fabaceae Fedegoso 7
Irwin & Barnaby
Sideroxylon obtusifolium (Roem. & Schult.)
Sapotaceae Quixabeira 57
T.D. Penn.
Ziziphus joazeiro Mart. Rhamnaceae Juá 25

Os dados de estrutura da comunidade apontam que a cobertura vegetal total de


espécies lenhosas corresponde a 52% (5.200 m 2) da área amostrada. Os
percentuais residuais correspondem à vegetação herbácea e/ou indivíduos lenhosos
em estádios iniciais, e ao solo desnudo, com grande destaque para os afloramentos
rochosos. Esta configuração de cobertura vegetal lenhosa está alinhada com a
estrutura fisionômica de uma caatinga aberta (Andrade-Lima, 1981; Silva et al.,
2008).
A altura média dos indivíduos variou de 3m a 12m, com formação de quatro
classes de altura média para o fragmento vegetacional (Fig. 2). O maior número de
espécies pertence à classe 1 e corresponde aos indivíduos com até 3m de altura

52
(Fig.3). A média desta classe, se somada às classes 2 (3m - 3,5m) e 3 (3,5m –
4,0m), resulta em uma média de 3,5m para o fragmento vegetacional. Estudos
apontam uma variação de média de altura de 2,5m a 3,5m para a caatinga (Teles et
al., 2005; Francelino et al., 2003; Chaves et al., 2002).

Figura 2. Classes de altura de espécies lenhosas em 1 hectare de uma área de


caatinga em Fazenda Nova, Brejo da Madre de Deus, Pernambuco, Brasil.

A densidade absoluta total das espécies corresponde a 2.538,73 ind/ha-1 (Tab.


3). Este valor é inferior a densidade absoluta total de outros fragmentos de caatinga
a outros fragmentos de caatinga (Sampaio, 1996) e indica que o fragmento estudado
apresenta estrutura fisionômica aberta. De acordo com Amorim et al. (2005), a
densidade absoluta total de espécies por hectare para os levantamentos
fitossociológicos para a caatinga nas últimas décadas foram, em sua quase
totalidade, inferiores àqueles encontrados por Sampaio (1996), sugerindo um
decréscimo de indivíduos por área ao longo de um determinado período de tempo.

Tabela 3. Parâmetros de estrutura e fitossociológicos de espécies lenhosas de uma


área de caatinga em Fazenda Nova, Brejo da Madre de Deus, Pernambuco, Brasil.
DA, densidade de espécies vivas (ind/ha-1). DoR, dominância relativa (%). DR,
densidade relativa (%). FR, frequência relativa (%). NP, número de parcelas em que
a espécie ocorre. VC, valor de cobertura (m2). VI, valor de importância (%).

Espécie NP DA DR FR DoR VI VC

53
Anadenanthera colubrina 22 131,8 2,67 5,37 0,02 8,08 2,70
Aspidosperma pyrifolium 72 181,9 12,50 17,60 0,11 30,21 12,61
Bauhinia cheilantha 9 155,5 1,34 2,20 0,01 3,55 1,35
Capparis flexuosa 2 150,0 0,29 0,48 0,002 0,77 0,28
Capparis yco 6 100,0 0,57 1,46 0,004 2,04 0,57
Croton blanchetianus 93 589,2 52,29 22,73 0,55 75,58 52,84
Jatropha molissima 4 150,0 0,57 0,97 0,004 1,55 0,57
Mimosa tenuiflora cf. 38 123,6 4,48 9,29 0,03 13,81 4,52
Myracrodruon urundeuva 15 126,6 1,81 3,66 0,02 5,50 1,83
Piptadenia stipulacea 67 231,3 14,79 16,38 0,07 31,24 14,86
Poincianella pyramidalis 24 154,1 3,53 5,86 0,032 9,43 3,56
Senna macranthera 5 140,0 0,67 1,22 0,008 1,89 0,67
Sideroxylon obtusifolium 33 172,7 5,44 8,06 0,05 13,56 5,49
Ziziphus joazeiro 19 131,5 2,39 4,64 0,03 7,06 2,42

As espécies apresentaram abundância de indivíduos diferenciada (Tab. 2).


Croton blanchetianus (548 indivíduos), Piptadenia stipulacea (155 indivíduos) e
Aspidosperma pyrifolium (131 indivíduos) destacam-se por apresentarem maior
número de indivíduos (Tab.2), correspondendo aos maiores percentuais do total de
indivíduos presentes na área (frequência relativa), com 22,83%, 17,60% e 16,38%,
respectivamente (Tab. 3). Croton blanchetianus, Piptadenia stipulacea e
Aspidosperma pyrifolium também se destacam pela distribuição espacial (frequência
absoluta), onde a primeira espécie esteve presente em mais de 90% das parcelas
amostradas, a segunda, em 67%, e a terceira em 72% (Tab. 3). Estas espécies são
citadas como plantas altamente adaptadas a uma intensa luminosidade e, portanto,
frequentes em ambientes com menor densidade de indivíduos por área (Pereira et
al., 2001; Sampaio et al., 1998; Sampaio, 1996).
Croton blanchetianus, Piptadenia stipulacea e Aspidosperma pyrifolium,
reconhecidamente, atuam como pioneiras no processo de sucessão ecológica
(Pereira et al., 2001; Sampaio et al., 1998; Sampaio, 1996). As máximas de valor de
importância ecológica e funcional alcançadas por estas espécies (Tab. 3) indicam
que a área se encontra em estágio sucessional inicial de ocupação/recuperação
vegetacional.
A análise do fragmento vegetacional, mediante a utilização da técnica de
detecção de mudança ocorrida na paisagem de 1888 a 2011, indica que em uma

54
área de 10.500m2 houve mudança em quase 6.000 m2 (Fig. 3). Desta, 2.800m2
correspondem a elementos acrescidos (ganho) na paisagem e 3.100 m2
corresponde à perda (Fig. 3). O cenário de não-mudança corresponde a 4.550 m2 e
consideram, também, as perdas menos expressivas para o referido parâmetro.

Figura 3. Mapa de detecção de mudança da paisagem em um fragmento


vegetacional de caatinga em Fazenda Nova, Brejo da Madre de Deus, Pernambuco,
Brasil, ocorridos entre 1988 e 2011.

A dinâmica da paisagem ocorrida entre 1988 e 2011 é justificada, entre outros


processos, pelos fatores climáticos atuantes durante este período. O regime de
precipitação pluvial exerce grande influência sobre a fenologia das espécies
vegetais, a qual modifica a paisagem devido às respostas apresentadas às
oscilações pluviais sobre as plantas. Em regiões semiáridas, a transformação
ocorrida na paisagem pode ser decorrente da presença de espécies vegetais, cujos
indivíduos foram suprimidos como consequência da susceptibilidade a uma restrição

55
hídrica ou, ainda, em função de mecanismos de adaptação a essa condição, como a
caducifolia (Sampaio e Rodal, 2000).
O regime de precipitação pluvial foi distinto para o primeiro semestre dos anos
de 1988 e 2011 (Fig. 4). Em 1988, houve menor precipitação que no ano de 2011 e
as chuvas ocorreram com distribuição concentrada em poucos dias com valores
máximos de acúmulos diários equivalentes a 25mm/dia (Fig. 4). Isto é justificado
pelo fenômeno meteorológico atuante El Niño (CPTEC/INPE, 2011).

Figura 4. Acúmulo diário de precipitação pluvial para o primeiro semestre dos anos
de 1988 e 2011 em Caruaru, Pernambuco, Brasil.

A maior concentração de dias chuvosos e os altos valores de acúmulo diário


de precipitação em 2011 (Fig. 4) é justificada pela influência do fenômeno La Niña
(CPTEC/INPE, 2011).
Embora 2011 tenha sido um ano com mais água disponível e fosse esperado
um aumento no percentual de cobertura vegetal, os valores de NDVI indicam que a
paisagem em 1988 apresentava uma vegetação com densidade maior que aquela
em 2011 (Fig. 5). De acordo com Lourenço e Landim (2004), o valor de NDVI é
proporcional à densidade e vigor de vegetação presente na paisagem.
Os dados para o ano de 2011 indicam uma redução do vigor e densidade
vegetacional (folhas e/ou indivíduos) em, aproximadamente, 9.000m 2. Isto pode ser
justificado pela influência antrópica (extração de parte das espécies para fins

56
diversos), danos causados pelo gado que é manejado em uma área vizinha e tem
acesso ao fragmento, e/ou ainda pela dinâmica fenológica das espécies que
compõem a paisagem atual (2011), a qual pode ser diferenciada daquela presente
na paisagem em 1988 (Sampaio e Rodal, 2000).

Figura 5. Distribuição fitosiográfica a partir da imagem com valores de Normalized


Difference Vegetation Index (NDVI) em um fragmento vegetacional em Fazenda
Nova, Brejo da Madre de Deus, Pernambuco, Brasil nos anos de 1988 e 2011.

As condições ambientais impostas por um ambiente perturbado sobre as


plantas pioneiras requerem destas uma grande capacidade funcional relacionada à
sua manutenção (uso eficiente da água e fotossíntese). Neste sentido, analisamos
as condições biológicas de Aspidorperma pyrifolium, Croton blanchetianus,
Poincianella pyramidalis e Sideroxylon obtusifolium. Os dados correspondem às
condições biológicas apresentadas pelas espécies um mês após dias com
precipitação (50mm/dia) contínuada (Fig. 6). Quanto aos parâmetros
microclimáticos, o ar apresentou umidade relativa igual a 45% e temperatura média

57
de 32ºC. As folhas apresentaram temperatura média em suas superfícies
equivalente a 27ºC.

Figura 6. Acúmulo diário de precipitação pluvial de janeiro a agosto de 2010 em


Caruaru, Pernambuco, Brasil. Seta, dia da coleta.

O índice de água na planta (PWI) revelou o conteúdo hídrico armazenado nas


folhas (Fig. 7). Os valores de PWI indicam o maior volume hídrico nas folhas de
Poincianella pyramidalis, seguido por Croton blanchetianus, Aspidorperma pyrifolium
e Sideroxylon obtusifolium, em ordem decrescente (Fig. 7). Embora estas espécies
estejam submetidas às mesmas pressões ambientais, as diferenças relativas à
quantidade de água nas folhas são decorrentes das diferentes estratégias quanto ao
uso/acúmulo de água pela planta (Silva et al., 2004).

58
Figura 7. Valores de Plant Water Index (PWI) para Aspidosperma pyrifolium,
Poincianella pyramidalis, Croton blanchetianus e Sideroxylon obtusifolium, espécies
lenhosas dominantes em uma área de caatinga em Fazenda Nova, Brejo da Madre
de Deus, Pernambuco, Brasil.

Os valores de NWI corroboram os resultados apresentados para o índice PWI


para a concentração de volume de água na folha e se caracterizaram por serem
inferiores a zero para todas as espécies analisadas (Fig. 8). Destas, destacam-se
Sideroxylon obtusifolium e Aspidosperma pyrifolium (Fig. 8). Os valores negativos de
NWI indicam que todas as espécies apresentam deficiência hídrica, comum às
plantas de ambientes áridos (Oliveira et al., 2010; Holanda e Guerra, 2010).

Figura 8. Valores de Normalized Water Index (NWI) para Aspidosperma pyrifolium,


Poincianella pyramidalis, Croton blanchetianus e Sideroxylon obtusifolium, espécies
lenhosas dominantes em uma área de caatinga em Fazenda Nova, Brejo da Madre
de Deus, Pernambuco, Brasil.

Os valores de PSRI indicam os níveis de estresse e/ou senescência foliar,


onde Sideroxylon obtusifolium e Aspidosperma pyrifolium se destacam por
apresentar características de estresse (Fig. 9). O déficit hídrico foliar é um dos
principais fatores estressantes para o vegetal, uma vez que uma série de processos

59
fisiológicos e manutenção/integridade estrutural são dependentes da disponibilidade
de água na planta (Larcher, 2000; Taiz e Zeiger, 2004).
As espécies apresentaram diferentes valores para o PRI (Fig. 10). Este índice
indica a eficiência foliar quanto ao uso da luminosidade para síntese de
fotoassimilados, onde valores mais próximos a zero correspondem às plantas mais
fotossinteticamente ativas. Neste sentido, Croton blanchetianus apresenta uma
maior atividade fotossintética, seguido por Sideroxylon obtusifolium e Aspidosperma
pyrifolium, e Poincianella pyramidalis encontra-se fotossinteticamente
inativo/repouso (Fig. 10).

Figura 9. Valores de Plant Senescence Reflectance Index (PSRI) para


Aspidosperma pyrifolium, Poincianella pyramidalis, Croton blanchetianus e
Sideroxylon obtusifolium, espécies lenhosas dominantes em uma área de caatinga
em Fazenda Nova, Brejo da Madre de Deus, Pernambuco, Brasil.

60
Figura 10. Valores de Photochemical Reflectance Index (PRI) para Aspidosperma
pyrifolium, Poincianella pyramidalis, Croton blanchetianus e Sideroxylon
obtusifolium, espécies lenhosas dominantes em uma área de caatinga em Fazenda
Nova, Brejo da Madre de Deus, Pernambuco, Brasil.

Quanto à pigmentação, Croton blanchetianus se destaca entre as espécies


por apresentar o maior valor para a clorofila total (Fig. 11). Poincianella pyramidalis
apresentou o menor valor para o mesmo parâmetro (Fig. 11). Estudos realizados por
Bjorkman e Holmgren (1963), Graça (1983), Nygren e Kellomaki (1983; 1984),
Tinoco e Vazques-Yanes (1985) e Lee (1988) apontam que as espécies não
apresentam resposta uniforme quanto a quantidade de clorofila total. O diferencial
de valores entre as espécies correspondem ao potencial de ajustes das espécies à
intensidade de luminosidade incidente sobre suas folhas (Larcher, 2000; Taiz e
Zeiger, 2004; Fahn, 2000).

61
Figura 11. Valores de Chlorophyll Normalized Difference Index (ChlNDI) para
Aspidosperma pyrifolium, Poincianella pyramidalis, Croton blanchetianus e
Sideroxylon obtusifolium, espécies lenhosas dominantes em uma área de caatinga
em Fazenda Nova, Brejo da Madre de Deus, Pernambuco, Brasil.

Os valores de PSSRa indicaram a presença de clorofila “a”, com maiores


valores em Sideroxylon obtusifolium e Aspidosperma pyrifolium (Fig. 12). Este
pigmento ocorre em todas as células fotossintetizadoras e apresentam grande
importância no processo da bioconservação de energia (Magalhães, 1985).
Quanto à clorofila “b”, representados através dos valores de PSSRb,
Sideroxylon obtusifolium e Croton blanchetianus, apresentaram os maiores valores,
estando muito próximos entre si (Fig. 13). A maior quantidade deste pigmento
viabiliza a captação de energia em comprimentos de onda não referentes à clorofila
“a” e a transferência desta energia à molécula de clorofila “a”, a qual realiza, de fato,
os processos fotoquímicos da fotossíntese (Whatley e Whatley,1982; Engel e
Poggiani, 1991).

62
Figura 12. Valores de Pigment Specific Simple Ratio (PSSRa) ( clorofila “a”) para
Aspidosperma pyrifolium, Poincianella pyramidalis, Croton blanchetianus e
Sideroxylon obtusifolium, espécies lenhosas dominantes em uma área de caatinga
em Fazenda Nova, Brejo da Madre de Deus, Pernambuco, Brasil.

Figura 13. Valores de Pigment Specific Simple Ratio (PSSRb) (clorofila b) para
Aspidosperma pyrifolium, Poincianella pyramidalis, Croton blanchetianus e
Sideroxylon obtusifolium, espécies lenhosas dominantes em uma área de caatinga
em Fazenda Nova, Brejo da Madre de Deus, Pernambuco, Brasil.

63
Os valores de CRI apresentados pelas espécies indicaram a concentração de
carotenóides, com maior e menor valor exibidos por Poincianella pyramidalis e
Croton blanchetianus, respectivamente (Fig. 14). Estes pigmentos exercem função
auxiliar na captação de energia luminosa, além de atuarem como fotoprotetores
contra danos oxidativos (Uenojo et al., 2007).

Figura 14. Valores de Carotenoid Reflectance Index (CRI) para Aspidosperma


pyrifolium, Poincianella pyramidalis, Croton blanchetianus e Sideroxylon
obtusifolium, espécies lenhosas dominantes em uma área de caatinga em Fazenda
Nova, Brejo da Madre de Deus, Pernambuco, Brasil.

O valores de NDVIhy indicam a diferença de vigor foliar apresentado pelas


espécies analisadas, com maior valor para Sideroxylon obtusifolium e menor, para
Croton blanchetianus (Fig. 15). Estes valores são justificados pela configuração
estrutural da folha, além do teor de água e pigmentos.

64
Figura 15. Valores de Normalized Difference Vegetation Index (NDVIhy) a partir de
dados hiperespectrais para Aspidosperma pyrifolium, Poincianella pyramidalis,
Croton blanchetianus e Sideroxylon obtusifolium, espécies lenhosas dominantes em
uma área de caatinga em Fazenda Nova, Brejo da Madre de Deus, Pernambuco,
Brasil.

Aspidosperma pyrifolium, Poincianella pyramidalis, Croton blanchetianus e


Sideroxylon obtusifolium apresentam configuração estrutural foliar que as
diferenciam entre si (Fig. 16 A-D). Esta configuração estrutural justifica as diferenças
encontradas para os valores de NDVI apresentados pelas espécies (Sims e Gamon,
2002; Carrielo et al., 2003).
Aspidosperma pyrifolium apresenta epiderme foliar unisseriada, onde ocorrem
tricomas simples. A espessura total da folha é igual a 188,31±4,39µm. O mesofilo é
compacto e dorsiventral, com uma camada de parênquima paliçádico com células
alongadas que correspondem a mais de 50% da espessura total do mesofilo (Fig. 16
A). Idioblastos contendo drusas estão imersos no parênquima (Fig. 16 A).
Poincianella pyramidalis apresenta epiderme unisseriada e tricomas
unicelulares tectores simples e escassos, ocorrendo em ambas às faces da folha. A
espessura total da folha é igual a 188,18±2,01µm. O mesofilo apresenta parênquima
clorofiliano compacto e dorsiventral, com uma camada de parênquima paliçádico
ocupando quase 50% da espessura total do mesofilo e com três a quatro camadas
de parênquima esponjoso. Não foram encontrados cristais monohídricos (Fig. 16 B).

65
Sideroxylon obtusifolium apresenta arquitetura foliar com epiderme
unisseriada, onde ocorrem tricomas simples e ramificados (Fig. 16 C). A espessura
total da folha é igual a 199,24±2,02µm, sendo a folha mais espessa entre as
espécies analisadas. O mesofilo é compacto e dorsiventral, com 4 camadas de
parênquima paliçádico que correspondem a 50% do mesofilo. Idioblastos contendo
drusas estão imersos no parênquima.
Croton blanchetianus apresenta epiderme foliar unisseriada, onde ocorrem
tricomas pluricelulares estrelados, em ambas as faces. A espessura total da folha é
igual a 105,35±2,75µm. O mesofilo é compacto e dorsiventral, com uma camada de
parênquima paliçádico com células alongadas que correspondem a mais de 50% da
espessura total do mesofilo (Fig. 16 D). Idioblastos contendo drusas estão imersos
no parênquima e ocorrem, preferencialmente, entre as células do parênquima
paliçádico, naquelas imediatamente abaixo da face superior da epiderme.
As configurações estruturais apresentadas pelas espécies são típicas de
ambientes xerofíticos, como a caatinga, e atuam minimizando os danosos causados
pela irradiação solar direta sobre a folha e atuam como refletores da luminosidade
excessiva (Fahn e Cutler, 1992).
De acordo com Sims e Gamon (2002), a espessura foliar, maior número de
estratos de parênquima clorofiliano, sobretudo parênquima paliçádico, ou o maior
número de área ocupado por este tecido no mesofilo, aumenta a reflectância foliar.
Isto justifica os valores de NDVIhy das espécies analisadas, com maior valor deste
índice exibido pela espécies de maior espessura total da folha, Sideroxylon
obtusifolium.
Além da espessura foliar os tricomas e os cristais também ampliam os valores
de reflectância (Gausman e Cardenas, 1968). Os tricomas atuam como barreira
física à absorção da luz e os cristais, através da sua geometria estrutural
multifacetada, ampliam e espalham a luz no interior da folha (Fahn e Cutler, 1992).
Estes dois caracteres estiveram presentes em Croton blanchetianus e justificam que
esta espécie, embora possua a menor espessura total foliar entre as espécies, exiba
valor de NDVIhy superior a uma espécie que apresenta quase que o dobro de
espessura foliar, Poincianella pyramidalis.

66
Figura 16. Vista transversal da folha de espécies lenhosas dominantes em uma área
de caatinga em Fazenda Nova, Brejo da Madre de Deus, Pernambuco, Brasil: A.
Aspidosperma pyrifolium. B. Poincianella pyramidalis. C. Sideroxylon obtusifolium. D.
Croton blanchetianus. PE, parênquima esponjoso. PP, parênquima paliçádico. Seta,
cristais. Barras, 100m.

IV Conclusões

A análise florística e fitossosiológica possibilitou a ampliação do conhecimento


sobre a composição estrutural e a dinâmica da vegetação de caatinga.
A identificação da riqueza e abundância de espécies lenhosas indicou a área
estudada como alvo de perturbação ambiental, em etapa inicial de sucessão
ecológica. Isto foi reforçado pelo uso de ferramentas de sensoriamento remoto e
geoprocessamento para o monitoramento de mudanças ocorridas na paisagem em
uma série temporal de mais de 30 anos com redução na densidade de cobertura
vegetal no fragmento estudado.
Os índices vegetais, a partir de dados hiperespectrais, foram excelentes
ferramentas para identificação das condições biológicas das espécies estruturantes
da comunidade vegetal.

67
A deficiência hídrica foi identificada como fator estressor para a planta. As
estratégias fisiológicas e morfoanatômicas adotadas pelas espécies são uma
tentativa de ajuste a esta condição, a fim de garantir sucesso em sua manutenção
no ambiente (uso eficiente da água e fotossíntese).

V Agradecimentos

Agradecemos à Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de


Pernambuco (FACEPE), pelo fomento do projeto de pesquisa e concessão de bolsa
à primeira autora, e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq) pela concessão de bolsa de produtividade à segunda autora.

VI Referências

Allen, S.E. 2002. Analysis of vegetation and other organic materials. In Chemical
analysis of ecological materials. Eds. Allen., S.E. Vlackwell Scientific
Publications, Oxford. p. 46-61.
Almeida, et al. 1997. Life strategy and chemical composition as predictors of the
selection of medicinal plants from the caatinga (NortheastBrazil). Journal of
Arid Environments 62: 127–142.
Amorim, I.; Sampaio, E.V.S.B. and Araújo, E.L. 2005. Flora e estrutura da
vegetação arbustivo-arbórea de uma área de caatinga do Seridó, RN, Brasil.
Acta Botanica Brasilica 19(3): 615-623.
Andrade, C.A.; Peitz, C.; Cúnico, M.; Carvalho, J.S.L.; Abrahão, W.M.; Miguel,
O.G.; Miguel, M.D. and Kerber, V.A. 2005: Avaliação da atividade
antibacteriana e triagem fitoquímica das flores de Acacia podalyriiflolia A. Cunn.
ex. G. Don. Leguminosae-Mimosoideae. Revista Brasileira de Farmacognosia
15(1): 13-15.
Andrade-Lima, D. de. 1981. The caatingas dominium. Revista Brasileira de Botânica
4: 149-153.
Araújo, E.L.; Sampaio, E.V.S.B.; and Rodal, M.J.N. 1995: Composição florística e
fitossociológica de três áreas de caatinga de Pernambuco. Revista Brasileira de
Biologia 55(4): 595-607.

68
Araus, J.L. and Hogan, K.P. 1994: Comparative leaf structure and patterns of
photoinhibition of the neotropical palms Scheelea zonensis and Socratea
duríssima growing in clearing and forest understory during the dry season in
Panama. American Journal of Botany 81(6): 726-738.
Asthon, P.M.S. and Berlyn, G.P. 1992: Leaf adaptations of some Shorea species to
sun and shade. New Phytologyst 121: 587-596.
Barbosa, C.B. 1998. Estabilidade de comunidades ribeirinhas no semi-árido
brasileiro. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente) –
Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa.
Barroso, G.M.; Peixoto, A.L.; Ichaso, C.L.F.; Guimarães, E.F. and Costa, C.G.
2002: Sistemática das angiospermas do Brasil, vol. 1. Universidade Federal de
Viçosa, Viçosa.
Bjorkman, O. and Holmgren, P. 1963. Adaptability of the photosynthetic apparatus
to light intensity in ecotypes from exposed and shaded habitats. Physiologia
Plantarun 16:899-915.
Box, E.O. 1996: Plant functional types and climate at the global scale. Journal of
Vegetation Science 7: 309-320.
Braga, C.C.; Brito, J.I.B.; Sansigolo, C.A. and Rao, T.V.R. 2003: Tempo de
resposta da vegetação às variabilidades sazonais da precipitação no Nordeste
do Brasil. Santa Maria. Revista Brasileira de Agrometeorologia 11(1): 149-157.
BRASIL. MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA/CPRM - Serviço Geológico do
Brasil. 2005: Diagnóstico do município de Brejo da Madre de Deus, estado de
Pernambuco. In Beltrão, B.A.; Mascarenhas, J.C.; Miranda, J.L.F.; Souza
Junior, L.C.; Galvão, M.J.T.G. and Pereira, S.N. (eds.). Projeto cadastro de
fontes de abastecimento por água subterrânea. Recife: CPRM/PRODEEM.
Campello, F.B.; Gariglio, M.A.; Silva, J.A. and Leal, A.M.A. 1999. Diagnóstico
florestal da região Nordeste.Brasília: IBAMA/PNUD.
Candido, H.G; Barbosa, M.P and Silva, M.J. da. 2002: Avaliação da degradação
ambiental de parte do Seridó Paraibano. Revista Brasileira de Engenharia
Agrícola e Ambiental 6(2): 368-371.
Carrielo, F.; Miranda, F.G.; Ponzoni, F.J.; Cardoso, P.A. and Martins, S.P. 2003.
Uso da Transmitância na caracterização espectral de folhas verdes, Anais do XI
Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, Belo Horizante, INPE, p. 2451-
2457.

69
Chaves, I.B. et al. 2002. Salinidade das águas superficiais e suas relações com a
natureza dos solos na bacia escola do açude namorados e diagnóstico do uso e
degradação das terras. Relatório técnico. Campina Grande: Convenio Banco do
Nordeste do Brasil/UFPB/FINEP, 114p.
Corrêa, C. et al. 2001: Mapeamento da Fitomassa da Caatinga do núcleo de
desertificação do Seridó, pelo índice de área de planta (IAP) e o índice de
vegetação da diferença normalizada (NDVI), obtido com dados do sensor
Landsat 7 tm. 2001. In:SBSR, 10., Foz do Iguaçu. Anais X SBSR pp. 1563 –
1573.
CPTEC/INPE. 2011. Banco de dados meteorológicos e climáticos. In:
http://www.cptec.inpe.br/
Cronquist A. 1981: An integrated system of classification of flowering plants.
Columbia University Press, New York.
EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA - EMBRAPA. 2002:
Levantamento de Baixa e Média Intensidade de solos do Estado de
Pernambuco. In: http://www.cnps.embrapa.br/zapenet/index.htm
Engel. V.L. and Poggiani, F. 1991. Estudo da concentração de clorofila nas folhas e
seu espectroDe absorção de luz em função do sombreamento em mudas
deQuatro espécies florestais nativas. Revista Brasileira de Fisiologia Vegetal
3(1): 39-45.
Fahn A. 1990: Plant anatomy. Pergamon Press, Oxford.
Fahn, A. and Cutler, D. 1992: Xerophytes. Gebruder Borntraeger, Berlin.
Fernandes, A. 1992. Biodiversidade da caatinga. In: JARDIN, M. A. G.; BASTOS, M.
N.do C.; SANTOS, J. I. M. (EdtS). Desafios da Botânica do Novo Milênio:
Inventario, Sistematização e Conservação da Diversidade Vegetal: Belém:
MPEG, UFRA; EMBRAPA, Brasil/ Museu Paraense Emílio Goeldi. p. 93-94.
Ferreira, R.L.C. and Vale, A.B. do. 1992: Subsídios básicos para o manejo florestal
da caatinga. Revista do Instituto Florestal 4: 368-375.
Francelino et al. 2003. Contribuição da caatinga na sustentabilidade de projetos de
assentamentos no sertão norte-rio-grandense. Revista Árvore 27(1): 79-86.
Galeti, P.A. 1982. Conservação do Solo; Reflorestamento; Clima. Instituto
Campineiro de Ensino Agrícola, Campinas.

70
Gitay, H. and Noble, I.R. 1997: What are functional types and how should we seek
them? In: Smith, H.H. and Woodward, F.I. (Eds.). Plant functional types.
Cambridge University Press, Cambridge. pp. 3-19.
Gomes, M.A.F. 1979. Padrões de caatinga nos Cariris Velhos, Paraíba. Dissertação
(Mestrado em Botânica) - Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife,
1979.
Graça, M.E.C. 1983. Influence of light intensity on growth nodulation and nitrogen
fixation of selected woodytl actinorhizal species. Philosophy Doctor Thesis-
Purdue University. Purdue.
Grime, J.P et al. 1997: Integrated screening validates primary axes of specialisation
in plants. Oikos 79: 259-281.
Haberlandt, G. 1928: Physiological plant anatomy. Mc Millan, London.
Holanda, A.S.S. and Guerra, C.E. 2010. Monitoramento da vegetação da região do
eixo-forte no município de Santarem-PA utilizando imagens dos índices de
vegetacao NDVI e NDWI. Anais III Simpósio Brasileiro de Ciências Geodésicas e
Tecnologias da Geoinformação. p.1-5.
INPE. 2006. Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres. In:
http://www.dgi.inpe.br/CDSR/n-index.php.
Junges, A.H.; Alves, G. and Fontana, D.C. 2007. Estudo indicativo do
comportamento do NDVI e EVI em lavouras de cereais de inverno da região
norte do Estado do Rio Grande do Sul, através de imagens MODIS. In: XIII
Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto. Florianópolis – Brasil. Anais.
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). p.241-248.
Larcher, W. 2000: Ecofisiologia vegetal. Rima, São Carlos, SP.
Lee, D.W. 1988. Simulating forest shade to study the development ecology of
tropical plants: Juvenile growth in three vines in India. Journal of Tropical
Ecology, Cambridge 4:281-92.
Lemos, J.R. and Rodal, M.J.N. 2002: Fitossociologia do componente lenhoso de
um trecho da vegetação de caatinga no Parque Nacional Serra da Capivara,
Brasil. Acta Botanica Brasilica 16(1): 23-42.
Lourenço, R.W. and Landim, P.M.B. 2004. Estudo da variabilidade do “índice de
vegetação por diferença normalizada/NDVI” utilizando krigagem indicativa. Holos
Environment 4(1):38-55.

71
Maarel, E. van der. 1979. Transformation of cover-abundance values in
phytosociology and its effects on community similarity. Vegetatio 39: 97-114,.
Magalhães, A.C.N. 1985. Fotossíntese. In: Fisiologia Vegetal. Ferri, M.G. (Ed). EPU,
São Paulo. p.117-166.
Melo, S.C. 2000: Estrutura, petrologia e geocronologia do batólito Brejo da Madre de
Deus (estado de Pernambuco), relações com a zona de cisalhamento
Pernambuco leste, Nordeste do Brasil. Tese de Doutorado, Centro de
Tecnologia e Geociências, Universidade Federal de Pernambuco.
Menezes, N.L.; Silva, D.C. and Pinna, G.F.M. 2003: Folha. In: Appezzato-da-Glória,
B.; Carmelo-Guerreiro, S.M. (eds). Anatomia vegetal. Viçosa: editora da
Universidade de Viçosa.
Metcalfe C.R. and Chalk L. 1983: Anatomy of the Dicotyledons. 2nd. Clarendon
Press, Oxford.
MMA – MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. 2011: Monitoramento dos biomas
brasileiros: Caatinga. In:
http://www.mma.gov.br/estruturas/sbf_chm_rbbio/_arquivos/apresentacao_minc_
25mar2011_caatinga_versao_imprensa_72.pdf
Mueller-Dumbois, D. and Ellenberg, H. 1974. Aims and methods of vegetation
ecology. Wiley & Sons, New York.
Nygren, M. and Kellomaki, S. 1983/1984. Effect of shading on leaf structure and
photosynthesis in young birches, Betula pendula Roth and Betula pubescens
Ehrh. Forest ecology and management 7: 119-32.
Oliveira, T. H.; Machado, C. C. C.; Silva, J. S.; Galvíncio, J. D.; Pimentel, R. M.
M. and Silva. B. B. 2010. Índice de umidade (NDWI) e análise espaço-temporal
do albedo da superfície da bacia hidrográfica do rio Moxotó-PE. Revista
Brasileira de Geografia Física 3: 55 - 69.
Orlóci, L. and Orlóci, M. 1985: Comparison of communities without the use of
species: model and example. Annals of Botany 43: 275-285.
Penuelas, J.; Estiarte, M. and Llusia, J. 1997. Carbon-based secondary
compounds at elevated CO2. Photosynthetica 33: 313-316.
Peñuelas, J. and Inoue, Y. 2000: Reflectance assessment of canopy CO2 uptake.
International Journal of Remote Sensing 21: 3353–3356.

72
Penuelas, J.; Baret, F. and Filella, I. 1995. Semi-empirical indices to assess
carotenoids/chlorophyll a ratio from leaf spectral reflectance. Photosynthetica
31:221-230.
Pereira, I. M. et al. 2003: Use-history effects on structure and flora of caatinga.
Biotropica 35(2): 154-165.
Pereira, I.M, et al. 2001: Regeneração natural em um remanescente de caatinga
sob diferentes níveis de perturbação, Agreste Paraibano. Acta Botanica Brasilica
15(3): 25-32.
Pillar, V.D. 2003: SYNCSA, software for character-based community analysis.
Versão 2.2.0. Porto Alegre: Departamento de Ecologia da UFRGS.
Pillar, V.D. and Orloci, L. 1993: Character-based community analysis: theory and
application program. The Hague: SPB. Academic.
Ponzoni, F.J. 2001. Comportamento espectral da Vegetação. In: Sensoriamento
Remoto – Reflectância dos Alvos Naturais. Eds Meneses, P.R. and Madeira
Netto, J.S. Universidade de Brasília – UnB. Embrapa Cerrados. Brasília, DF. p.
157-199.
Ribeiro, M.G.; Tanajura, E.L.X. and Centeno, J.A.S. 2007: Monitoramento de
período de seca utilizando subtração de imagem NDVI: Estudo de caso do
Reservatório do Irai-PR. Anais XIII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento
Remoto, Florianópolis, Brasil. INPE. p. 1055-1062.
Rodal, M.J.N. 1992: Fitossociologia da vegetação arbustivo-arbórea em quatro
áreas de caatinga em Pernambuco. Tese de doutorado. Instituto de Biologia
Universidade Estadual de Campinas.
Rodal, M.J.N. et al. 1998: Fitossociologia do Componente Lenhoso de um Refúgio
Vegetacional no Município de Buíque, Pernambuco. Revista Brasileira de
Biologia 58(3):17-24.
Rodrigues, RR. 1991. Análise de um Remanescente de vegetação natural do rio
Passa Cinco. Dissertação (Mestrado em Biologia) – Instituto de Biologia,
Universidade Estadual de Campinas, Campinas.
Sampaio, E.V.S.B. et al. 1996: Magnetic relaxation and formation of magnetic
domains in ultrathin films with perpendicular anisotropy. Physical Review 54(9):
64- 65.

73
Sampaio, E.V.S.B. et al. 1998: Regeneração da vegetação de Caatinga após corte
e queima, em Serra Talhada, PE. Pesquisa Agropecuária Brasileira 33(5): 621-
632.
Santana, J.A.S. and Souto, J.S. 2006: Diversidade e Estrutura Fitossociológica da
Caatinga na Estação Ecológica do Seridó-RN. Revista de Biologia e Ciências da
Terra 6(2): 37-43.
Silva, D.G.; Melo, R.F.T. and Corrêa, A.C.B. 2009: A influência da densidade de
drenagem na interpretação da evolução geomorfológica do complexo de tanques
do município de Brejo da Madre de Beus – Pernambuco, Nordeste do Brasil.
Revista de Geografia 26(3): 28-36.
Silva, M.D.; Pimentel, R.M.M. and Galvíncio, J.D. 2008: Diagnóstico da ocupação
vegetacional do município de Brejo da Madre de Deus, Pernambuco, Brasil,
através do sensoriamento remoto. Revista Brasileira de Geografia Física 1(2):
15-29.
Silva, P.S.; Solange, E. and Pareyn, F.G. 1998: Consumo de energéticos florestais
do setor domiciliar no Estado de Pernambuco. Recife:
PNUD/FAO/IBAMA/Governo de Pernambuco.
Sims, D. A. and Gamon, J. A. 2002. Relationships between leaf pigment content
and spectral reflectance across a wide range of species, leaf structures and
developmental stages. Remote Sensing of Environment 81: 337-354.
Taiz, L. and Zeiger, E. 2004: Fisiologia Vegetal. 3. ed. Artmed, Porto Alegre.
Uenojo, M.; Marostica Junior, M.R. and Pastore, G.M. 2007. Carotenóides:
propriedades, aplicações e biotransformação para formação de compostos de
aroma.Química Nova 30(3): 616-622.
Whatley, F.H. and Whatley, F.R. 1982. A Luz e a vida das plantas. EPU-EDUSP,
São Paulo. 101 p.

74
5. Manuscrito II
a ser enviado ao periódico Progress in Physical Geography

75
Atributos funcionais como estratégias de resiliência
em plantas lenhosas em uma paisagem de
semiárido do Nordeste do Brasil1

Milena Dutra da Silva2, Rejane Magalhães de Mendonça Pimentel2


e André Laurênio de Melo3

1
Parte da tese da primeira autora
2
Programa de Pós-Graduação em Geografia, Departamento de Ciências
Geográficas, Universidade Federal de Pernambuco
3
Departamento de Biologia, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Unidade
Serra Talhada

Resumo
A caatinga é um dos principais ecossistemas do semiárido nordestino, tendo
por característica disponibilidade hídrica reduzida, e elevada temperatura e
intensidade de irradiação solar, que atuam como filtro de seleção para as espécies
que compõem a sua biota. Diante de características ambientais tão adversas, as
plantas que compõem a caatinga produzem estratégias funcionais para viabilizar a
sua permanência no ambiente. Este estudo objetivou identificar o padrão de
respostas de plantas às pressões peculiares à caatinga a fim de identificar quais os
recursos morfofuncionais foliares adotados como estratégia e sua frequência nestas
plantas. Para isto foram adquiridos dados morfológicos e anatômicos de folhas de
espécies lenhosas, naturalmente estabelecidas, em um fragmento de caatinga em
Fazenda Nova, Brejo da Madre de Deus, Pernambuco, seguindo metodologia usual
em análises vegetais. Entre as estratégias adotadas pelas espécies destacam-se
como padrão: indivíduos com dossel/copas abertas, folhas mais alongadas,
epiderme com cutícula espessa, elevado grau de sinuosidade das paredes
anticlinais das células fundamentais da epiderme, presença de tricomas, parênquima
clorofiliano diferenciado com parênquima paliçádico pluriestratificado, ocupando
cerca de 50% do mesofilo foliar. A formação de grupos funcionais ocorreu
independentemente da similaridade de classificação sistemática, reforçando a
premissa de que o desenvolvimento dessas características é o resultado do grau de
influência das condições ambientais e do grau de plasticidade das diferentes
espécies ali estabelecidas, mostrando comportamentos morfofuncionais similares.

Palavras-chave: caatinga, tipo foliar, área foliar, índice foliar, tipo funcional vegetal.

76
I Introdução
A caatinga é um dos principais ecossistemas do Nordeste do Brasil, se
destacando por recobrir grande parte do semiárido desta região (MMA, 2010).
As características ambientais deste bioma, como a escassez hídrica,
precipitação pluvial irregular, com sete a dez meses de estiagem, solo raso e baixa
capacidade de retenção hídrica, temperatura e intensidade de irradiação solar
elevadas, atuam como filtro de seleção para as espécies que compõem a sua biota
(Keddy, 1992).
As plantas que compõem a caatinga, frente a características ambientais
adversas, intensificadas pela degradação do solo e mudanças climáticas globais,
devem possuir uma elevada capacidade para apresentar mecanismos adaptativos
que viabilizem sua permanência no ambiente (MMA, 2010, Souza Filho et al., 2008,
Noomen et al., 2003).
Entre as estratégias adotadas pelos vegetais se destacam os ajustes
morfológicos e funcionais desenvolvidos pela folha. Como principal órgão
fotossintetizante com elevada plasticidade, a fim de garantir a produção de energia
para a planta, a folha é capaz de realizar modificações que minimizam os efeitos
danosos das altas temperatura e luminosidade que, entre outros fatores, ocasionam
a perda excessiva de água da planta para o meio e podem interferir nos processos
fisiológicos vitais do vegetal (Fahn e Cutler, 1992; Larcher, 2000; Lewis, 1972;
Marques et al., 1999; Menezes et al., 2003; Pyykkö, 1979; Taiz e Zeiger, 2004).
Alguns dos ajustes foliares são visivelmente perceptíveis, como a redução da
área foliar, modificação desta em espinhos ou acúleos. Outras estratégias ocorrem
em escala microscópica, como espessamento de cutícula, aumento do comprimento
de células e/ou número de camadas de tecidos especializados na produção de
fotoassimilados, como o parênquima paliçádico (Araus e Hogan, 1994; Almeida et
al., 2009).
Estas estratégias são consequência da plasticidade vegetal frente às condições
adversas do ambiente e são comuns às plantas estabelecidas em uma mesma área
ou em áreas distintas que possuam caracteres ambientais semelhantes (Larcher,
2000; Bótta-Dukàt, 2005; Ricotta, 2005; Petchey e Gaston, 2006; Zarco-Tejada et
al., 2004).
A presença de plantas com atributos semelhantes em uma mesma comunidade
vegetal sugere a existência de padrões que se repetem frequentemente, formando

77
grupos de espécies similares quanto à frequência de uma série de atributos
similares e com mesmo comportamento frente às variáveis do ambiente. Este grupo
constitui, assim, um Tipo Funcional Vegetal (TFV) (Weiher e Keddy, 1995, 1999;
Kleyer, 1999; Müller, 2005; Box, 1996; Gitay e Noble, 1997; Grime et al., 1997;
Orlóci e Orlóci, 1985; Pillar, 2003; Pillar e Orlóci, 1993).
A identificação de um TFV e dos atributos que o constituem têm sido utilizados
como ferramenta para a determinação do comportamento das plantas na paisagem,
visando avaliar a influência de fatores ambientais sobre os vegetais (Müller, 2005).
Tais análises possibilitam a descrição de padrões e processos existentes nas
comunidades vegetais e a quantificação do caráter adaptativo das plantas,
essenciais ao estudo e prevenção de consequências advindas das mudanças
globais sobre a vegetação (Pillar, 2003; Pillar e Orlóci, 1993; Díaz et al., 1992; Pillar,
1999)
As plantas que apresentam sucesso no seu estabelecimento têm sido utilizadas
como referência para a realização de estudos que visam ampliar o entendimento do
comportamento do vegetal em um ambiente natural (Ackerly, 2004; Cornellissen et
al., 2003). Sendo assim, este estudo objetivou identificar o padrão de respostas de
plantas às pressões características da caatinga, colaborando com o
desenvolvimento do conhecimento acerca deste bioma, um dos menos preservados
e mais devastados no Brasil.

II Material e Métodos

1. Área de Estudo
Para a realização deste estudo foram selecionadas espécies lenhosas,
naturalmente estabelecidas em uma área de caatinga em Fazenda Nova, Brejo da
Madre de Deus, Pernambuco.
O município está localizado na mesorregião Agreste e na microrregião Vale
Ipojuca, na porção centro-leste do Estado de Pernambuco e ocupa uma área de
2
779,3 km . Está inserido nas Folhas da SUDENE de Santa Cruz do Capibaribe e
Belo Jardim na escala de 1:100.000, limitando-se, ao norte, com Santa Cruz do
Capibaribe e Taquaritinga do Norte, ao sul, com Belo Jardim, Tacaimbó e São
Caetano; ao leste, com Caruaru e Toritama e, ao oeste, com Jataúba (BRASIL,

78
2005). Localiza-se entre as latitudes 07°50’S e 08°18’S e longitudes 36°05’W e
36°30’W. A altitude aproximada da sede do município é de 627 m, distando 202,2
km da capital.
Brejo da Madre de Deus apresenta Patamares Compridos e Baixas Vertentes,
com relevo suave ondulado, Planossolos mal drenados, fertilidade natural média e
problemas com acúmulo de sais; Topos e Altas Vertentes com solos Brunos não
Cálcicos, rasos e fertilidade natural alta; Topos e Altas Vertentes do relevo ondulado
com solos Podzólicos drenados, fertilidade natural média e Elevações Residuais
com solos Litólicos rasos, pedregosos e fertilidade natural média (BRASIL, 2005).
Fazenda Nova possui cobertura pedológica distinta do descrito para a sede
do Município de Brejo da Madre de Deus devido às diferenças topográficas que
estimulam o desenvolvimento de caracteres fisionômicos intrínsecos, influenciando
na formação do solo (Silva et al., 2009). O comportamento exibido pelo solo denota
a sua plasticidade em relação ao meio, sobretudo quanto à quantidade de água que
se infiltra ou excede na superfície. Em Fazenda Nova, a estrutura observada é
consequência do clima semiárido e seu estágio de desenvolvimento é determinado
por sua posição na superfície, exposto em verdadeiras catenas de solos semiáridos
(EMBRAPA – Solos, 2000). Encontra-se uma variedade de solos, com destaque
para os Planossolos, Neossolos Regolíticos e Litólicos. Além destes, há a
participação de outros de tipos de solo, porém em menor expressão areal:
Argissolos, Luvissolos, Glevssolos Háplicos e os Neossolos Flúvicos,
respectivamente, em ordem decrescente de extensão (Silva et al., 2009; EMBRAPA
– Solos, 2002).
Quanto aos aspectos geológicos, Brejo da Madre de Deus está inserido no
Batólito Caruaru-Arcoverde, se destacando na Província Borborema, por ser a maior
unidade de associação cálcio-alcalina de alto potássio (Melo, 2000).
O clima é do tipo Tropical Semiárido com chuvas de verão, em concordância
com as condições climáticas do semiárido nordestino, mostrando transição gradual
de extrema semi-aridez à uma maior umidade, determinadas pela topografia.
O período chuvoso de Fazenda Nova tem início em novembro e término em
julho, porém ocorre de forma descontínua e os valores máximos de precipitação
pluvial são atingidos durante os meses de março, abril e julho. Esta máxima
corresponde a 50% dos 557 mm registrados como precipitação média anual para a
área e é justificado pela influência da zona de convergência intertropical, com

79
apogeu no hemisfério sul em março e abril, ondas de este e pelas correntes
perturbadas do sul. O período seco tem duração de 7-8 meses (Silva et al., 2009).
A temperatura média anual é equivalente a 22°C, atingindo as máximas
durante os meses de novembro e dezembro (31ºC) e mínimas durante agosto e
setembro (17,9ºC), esta última decorrente da orografia (BRASIL, 2005; Silva et al.,
2009).
O município apresenta vegetação de brejo e caatinga e está inserido nos
domínios da Bacia Hidrográfica do Rio Capibaribe (BRASIL, 2005). Quanto à
ocupação vegetacional, foi identificado que 56% da área vegetada em Brejo da
Madre de Deus potencializam o vigor e a densidade da vegetação com o aumento
da altitude (Silva et al., 2008). De acordo com Silva et al. (1998), nas referidas áreas,
os tipos vegetacionais predominantes são correspondentes ao Tipo Florestal AG 3
(vegetação arbustiva arbórea fechada), caracterizada por espécies com altura média
de 4,0 m e indivíduos emergentes de 7,0 m), entre 550 e 750m de altitude, e ao Tipo
Florestal AG 4, “Brejo de Altitude”, com vegetação arbórea fechada, presença de
alguns arbustos, altura média de 5,0 m e emergentes com mais de 8,0 m.
A vegetação rala e esparsa representa, aproximadamente, 40% do município
(Silva et al., 2008). Esta organização menos densa, aliada, entre outros, às
condições decorrentes da altitude (altitude igual ou inferior a 500 m), apresentam
uma configuração característica de vegetação de caatinga. Silva et al. (1998)
afirmam que nestas áreas, a vegetação predominante é Tipo Florestal AG 2,
caracterizada por apresentar uma vegetação arbustiva arbórea aberta (caatinga),
com espécies caducifólias de altura média de 3,0 m e emergentes de 5,0 m.
O fragmento vegetacional selecionado para este estudo a feição Tipo
Florestal AG 2. As espécies neste fragmento apresentam caracteres anatômicos,
morfológicos, fisiológicos e funcionais adaptados a um ambiente de intensa radiação
solar, baixo teor de umidade e precipitações escassas e irregulares devido à sua
grande sensibilidade à presença de água disponível, apresentando, em sua
dinâmica populacional, uma resposta fortemente relacionada à variabilidade dos
fenômenos meteorológicos atuantes sobre ela (Braga et al., 2003; Ribeiro et al.,
2007).
As espécies que constituem o tipo vegetacional predominante em Brejo da
Madre de Deus apresentam caracteres anatômicos, morfológicos, fisiológicos e
funcionais adaptados a um ambiente de intensa radiação solar, baixo teor de

80
umidade e precipitações escassas e irregulares devido à sua grande sensibilidade à
presença de água disponível, apresentando, em sua dinâmica populacional, uma
resposta fortemente relacionada à variabilidade dos fenômenos meteorológicos
atuantes sobre ela (Braga et al., 2003; Ribeiro et al., 2007).

2. Procedimentos em Campo
2.1. Desenho experimental
Para a aquisição do material botânico (folhas adultas e sadias) e obtenção de
dados fitossociológicos foi selecionada uma área com vegetação de caatinga
preservada pertencente à propriedade privada “Fazenda Incó”, situada no distrito de
Fazenda Nova, Município de Brejo da Madre de Deus, PE.
Em uma área equivalente a 1 hectare foram fixadas 100 parcelas contíguas de
10m x 10m (Fig. 1). Todos os indivíduos arbóreos e/ou arbóreo-arbustivos, com
altura superior a 1,5 m estabelecidos nas sub-parcelas ou deslocados até 1 m de
distância do limite total da parcela foram contabilizados para determinação do
número de espécies, frequência e dominância.

81
Figura 1. Localização da área de estudo e sobreposição do desenho experimental
das parcelas fixadas em campo (100m2) sobre imagem de satélite sistema TM
(Thematic Mapper)/Landsat-5 de Fazenda Nova, Brejo da Madre de Deus,
Pernambuco.

2.2. Coleta de material botânico


Para a identificação dos atributos morfológicos e anatômicos foliares foram
coletados ramos caulinares, acondicionados em sacos plásticos, devidamente
etiquetados (código e nome vulgar, mediante indicação do “mateiro”), mantidos em
caixa de isopor contendo gelo e encaminhados ao Laboratório de Fitomorfologia
Funcional (LAFF) da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) para
fixação e posterior processamento.
De todas as plantas coletadas foram selecionados ramos com flores e/ou frutos
e prensados para posterior confecção de exsicatas, identificação taxonômica e
tombamento em herbário.

3. Procedimentos em Laboratório
As plantas foram identificadas em diferentes níveis (e.g. família, gênero e
espécie), seguindo o sistema de classificação de Cronquist (1981). As identificações
foram realizadas com auxílio de bibliografia especializada, comparação com material
de herbário e consulta aos especialistas em diversos grupos taxonômicos. A autoria
dos nomes específicos foi confirmada através dos sites do Missouri Botanical
Garden (http://www.tropicos.org) e da Flora Brasiliensis no site do Centro de
Referência em Informação Ambiental-CRIA (http://florabrasiliensis.cria.org.br).

3.1. Análise de caracteres funcionais foliares


Para a análise dos atributos funcionais, a identificação de caracteres foliares
(Quadro 1) foi realizada sob estereomicroscopia e microscopia de luz. Após
digitalização das folhas para obtenção dos valores de área foliar e caracteres da
morfologia externa, utilizando programa de análise de imagens digitais, Image Tool
(Wilcox et al., 2002), o material foi fixado em FAA 50 para confecção de lâminas
histológicas semipermanentes (Johansen, 1940). Espécies com folhas partidas em
subunidades (folíolos/foliólulos) tiveram sua área foliar determinada através do

82
somatório do número de subunidades em uma folha multiplicado pelo valor médio da
área das subunidades.
A análise das células da epiderme foi realizada em fragmentos resultantes de
imersão em hipoclorito de sódio a 20, 30 ou 50%, até completa dissociação. Os
fragmentos epidérmicos foram lavados em água destilada, corados com safranina e
azul de astra e montados em glicerina 50% (Johansen, 1940), e as lâminas lutadas
com esmalte de unhas incolor.
Para a análise do mesofilo, secções transversais das folhas foram obtidas de
sub-amostras retiradas da porção mediana da lâmina foliar, incluindo a nervura
principal. Todas as secções foram realizadas à mão livre, com auxílio de lâmina
comum de barbear, e imersas em solução de hipoclorito de sódio a 10% até
clarificação. Em seguida, os cortes foram lavados com água destilada, coloridos com
safranina e azul de astra e montados em glicerina 50%.
A descrição e a classificação da estrutura morfológica foliar seguiram a
terminologia de Barroso et al., (2002).

Quadro 1. Lista de caracteres funcionais em folhas de espécies vegetais


estabelecidas em uma vegetação de caatinga, em Fazenda Nova, Brejo da Madre
de Deus, Pernambuco, Brasil.
Caracteres funcionais Medidas
Morfologia foliar Forma da lamina
Ápice
Base
Margem
Lâmina foliar Área foliar (cm2)
Comprimento máximo (cm)
Largura máxima (cm)
Proporção largura versus comprimento (cm)
Epiderme Número de células epidérmicas
Grau de sinuosidade das paredes celulares anticlinais
Estômato
Tricoma
Mesofilo Espessura total da folha

83
Espessura do parênquima paliçádico e esponjoso
Número de camadas do paliçádico e esponjoso

Os estômatos e tricomas foram classificados de acordo com Metcalfe e Chalk


(1983).
Todas as medidas anatômicas foram realizadas em imagens digitais, em vista
frontal e transversal, obtidas por câmera digital acoplada a um microscópio óptico e
programa de análise de imagens Image Tool (Wilcox et al., 2002).
A avaliação de similaridades dos atributos morfológicos e anatômicos foliares
entre as espécies foi realizada através do teste de análise em cluster do programa
Statistica 6.0 (Statsoft, 2001).

III Resultados e Discussão

A paisagem de caatinga em Fazenda Nova é composta por quatorze espécies,


distribuídas entre sete famílias (Quadro 2).

Quadro 2. Lista florística de espécies lenhosas naturalmente estabelecidas em uma


área de caatinga em Fazenda Nova, Brejo da Madre de Deus, Pernambuco, Brasil.
Espécie Família Nome Vulgar
Anadenanthera colubrina Fabaceae Angico
Aspidosperma pyrifolium Apocynaceae Pereiro
Bauhinia cheilanta Fabaceae Pata-de-vaca
Capparis flexuosa Brassicaceae Feijão bravo
Capparis yco Brassicaceae Icozeiro
Croton blanchetianus Euphorbiaceae Marmeleiro
Jatropha molissima Euphorbiaceae Pinhão
Mimosa tenuiflora cf. Fabaceae Jurema preta
Myracrodruon urundeuva Anacardiaceae Aroeira
Piptadenia stipulacea Fabaceae Jurema branca
Poincianella pyramidalis Fabaceae Catingueira
Senna macranthera Fabaceae Fedegoso
Sideroxylon obtusifolium Sapotaceae Quixabeira

84
Ziziphus joazeiro Rhamnaceae Juá

Quanto aos atributos morfológicos foliares, as espécies apresentaram duas


estratégias quanto ao tipo de folha: simples e composta (Tab. 1). A maioria delas
apresentou folhas compostas. Nestas, o limbo foliar se apresenta dividido em
subunidades (folíolos/foliólulos), como uma alternativa para a redução da área foliar
e redução da temperatura interna das folhas, otimizando a fotossíntese (Fahn e
Cutler, 1992; Larcher, 2000; Fanh 1990).

85
Tabela 1. Atributos morfológicos foliares de espécies lenhosas naturalmente estabelecidas em uma área de caatinga em Fazenda
Nova, Brejo da Madre de Deus, Pernambuco, Brasil.
ATRIBUTOS MORFOLÓGICOS FOLIARES
ESPÉCIE
Tipo Forma Ápice Base Margem
Anadenanthera colubrina composta oval Agudo Obtusa Inteira
Aspidosperma pyrifolium simples oval Agudo Obtusa Inteira
Bauhinia cheilanta composta oval bilobado Cordada Inteira
Capparis flexuosa simples oblonga Agudo Obtusa Inteira
Capparis yco simples oblonga Agudo Oblíqua Inteira
Croton blanchetianus simples oblongo-ovada Agudo Cordada Inteira
Jatropha molissima simples 5-lobada, largamente ovada Agudo Cordada Ciliada
Mimosa tenuiflora cf. composta oblonga redondo Oblíqua ciliada curta
Myracrodruon urundeuva composta oval Agudo Obtusa Serrilhada
Piptadenia stipulacea composta oblonga redondo Oblíqua Inteira
Poincianella pyramidalis composta oblonga Agudo Obtusa inteira - levemente ondulada
Senna macranthera composta ovado-lanceolada redondo Obtusa Inteira
Sideroxylon obtusifolium composta oval redondo Obtusa Inteira
Ziziphus joazeiro simples oval agudo Cordada levemente serrilhada

86
Quanto às formas foliares, foram observadas espécies com folhas ovais,
oblongas, oblongo-ovadas e ovado-lanceoladas (Tab. 1). As margens das folhas da
maioria das espécies apresentaram-se inteiras, excetuando Myracrodruon
urundeuva e Ziziphus joazeiro, com margens serrilhadas, e Jatropha molissima e
Mimosa tenuiflora cf., com margens ciliadas (Tab. 1).
Embora a forma da lâmina foliar seja determinada pela carga gênica, as
características edáficas e climáticas poderão influenciá-la alterando a configuração
foliar da espécie (Fahn e Cutler, 1992; Roth, 1984; Fahmy, 1997; Tanner e Kapos,
1982; Turner et al., 1995; Larcher, 2000; Lewis, 1972; Pyykkö, 1979; Marques et al.,
1999).
Quanto à área foliar, as espécies que apresentaram folhas compostas,
constituídas por número de subunidades variando de 4-56, apresentaram os
menores valores destacando-se Mimosa tenuiflora cf., Piptadenia stipulacea e
Anadenanthera colubrina por (Tab. 2). Alguns autores (Lewis, 1972; Ashton e Berlyn,
1992; Thompson et al.,1992; Fahmy, 1997; Smith et al., 1997; Marques et al., 1999;
Hanba et al., 2002; Hlwatika e Bhat, 2002) indicam que as espécies reduzem a área
foliar para minimizar a perda de água excessiva para o ambiente.
Quanto aos caracteres espaciais da lâmina foliar, as espécies apresentaram
dominância de folhas mais alongadas do que largas, excetuando Bauhinia cheilanta
(isodiamétrica) e Senna macranthera (folhas largas, devido a disposição dos folíolos)
(Tab. 2). Isto é identificado através da relação do comprimento dividido pela largura,
denominado por Reis (2003) de índice foliar, onde os valores numericamente iguais
a 1 correspondem a folhas com lâminas isodiamétricas, <1 são mais largas que
longas e >1 são, proporcionalmente, mais alongadas.
O investimento no maior comprimento foliar, em detrimento da largura da
lâmina, em Piptadenia stipulacea, Mimosa tenuiflora cf., Croton blanchetianus,
Anadenanthera colubrina (Tab. 2), mostraram influenciar na densidade das copas.
Espécies arbóreas e/ou arbóreo-arbustivas que apresentam copas densas
apresentam folhas com dimensões e arranjos morfoanatômicos diferentes para
aquelas que estão no interior e exterior da copa; isto é consequente da quantidade
de luminosidade recebida por essas folhas. Aquelas que ocupam o interior da copa
apresentam uma maior área foliar e consequente maior quantidade de tecidos
fotossintetizantes, a fim de maximizar a absorção luminosa. Isto irá implicar em um
maior investimento do vegetal na produção de biomassa e demanda de energia para

87
a sua manutenção (Lewis, 1972; Ashton e Berlyn, 1992; Thompson et al.,1992;
Hanba et al., 2002; Hlwatika e Bhat, 2002). Neste sentido, podemos conjecturar
acerca da estratégia das plantas que possuem copas menos densas, com
dimensões semelhantes para as folhas no interior e exterior da copa, permitindo
uma maior economia de energia na manutenção das mesmas.

Tabela 2. Área, comprimento, largura e proporção entre comprimento e largura da


lâmina foliar de espécies lenhosas naturalmente estabelecidas em uma área de
caatinga em Fazenda Nova, Brejo da Madre de Deus, Pernambuco, Brasil.
LÂMINA FOLIAR
ESPÉCIE Área Comprimento Largura Comprimento
(cm2) (cm) (cm) x Largura
Anadenanthera colubrina 5,88±0,72 9,17±0,54 4,04±0,87 2,2698
Aspidosperma pyrifolium 15,39±3,06 5,56± 0,45 3,66±0,38 1,5191
Bauhinia cheilanta 44,03±8,94 7,07±1,66 7,03±0,79 0,9129
Capparis flexuosa 15,66±2,27 6,11±0,43 3,72±0,38 1,6424
Capparis yco 13,47±1,72 4,17±0,37 2,79±0,31 1,4946
Croton blanchetianus 27,37±3,23 8,98±1,6 4,23±0,24 2,1229
Jatropha molissima 83,03±6,37 23,44±2,17 15,02±1,01 1,5605
Mimosa tenuiflora cf. 0,78±0,19 7,52±0,56 2,17±0,58 3,4654
Myracrodruon urundeuva 32,71±1,55 10,20±1,10 7,05±0,79 1,4468
Piptadenia stipulacea 0,84±0,18 8,12±0,54 2,24±0,56 3,6250
Poincianella pyramidalis 31,71±1,52 12,11±1,09 7,07±0,77 1,7128
Senna macranthera 35,77±1,27 5,13±0,22 8,11±0,79 0,6325
Sideroxylon obtusifolium 23,9±1,72 15,75±0,62 10,15±0,35 1,5517
Ziziphus joazeiro 15,28±1,03 6,54±0,35 4,06±0,38 1,6108

Quanto aos atributos epidérmicos foliares, as espécies apresentaram diferentes


estratégias (Tab. 3).
O grau de sinuosidade das paredes anticlinais das células comuns da epiderme
variou de reta a sinuosa (Tab. 3), com a maioria das espécies apresentando células
com contorno sinuoso, em ambas as faces da epiderme. Esta sinuosidade eleva a
resistência das paredes celulares de plantas da caatinga, evitando a lise celular,

88
frente as altas temperatura e luminosidade e reduzida disponibilidade hídrica
(Meirelles et al., 1997; Pyykkö, 1966; Haberlandt, 1928).
As espécies, em sua maioria, apresentaram espessamento homogêneo da
cutícula em ambas as faces da epiderme (Tab. 3). Este atributo atua como barreira
contra a incidência direta de raios luminosos e impermeabilização da folha, evitando
a perda excessiva de água para a atmosfera (Fahn e Cutler, 1992; Roth, 1984;
Fahmy, 1997; Tanner e Kapos, 1982; Turner et al., 1995).
As espécies, em sua maioria, apresentaram espessamento homogêneo da
cutícula em ambas as faces da epiderme (Tab. 3). Este atributo atua como barreira
contra a incidência direta de raios luminosos e impermeabilização da folha, evitando
a perda excessiva de água para a atmosfera (Fahn e Cutler, 1992; Roth, 1984;
Fahmy, 1997; Tanner e Kapos, 1982; Turner et al., 1995).
Todas as espécies investiram, aparentemente, no desenvolvimento de
tricomas, excetuando Anadenanthera colubrina, Capparis flexuosa e Piptadenia
stipulacea. Os tricomas possibilitam às espécies da caatinga uma atenuação dos
danos causados pela incidência direta dos raios solares, formando um dossel sobre
a lâmina foliar, aumentando a reflectância. Além disso, a presença de tricomas pode
minimizar os impactos causados pelo contato direto das células comuns da
epiderme com o ar em movimento em torno da folha (Niinemets, 1999;
Karabourniotis et al., 1999, Medeiros e Morretes, 1995).
A eficiência da estratégia associada à presença de tricomas nas folhas é
maximizada quando estas estruturas ocorrem em ambas as faces, como observado
em Bauhinia cheilanta, Capparis yco, Croton blanchetianus, Jatropha molissima,
Mimosa tenuiflora cf., Myracrodruon urundeuva, Poincianella pyramidalis e Senna
macranthera (Tab. 3)
Quanto aos estômatos, as espécies apresentaram os tipos paracítico,
anomocítico, actinocítico e tetracítico, com disposição na lâmina variando entre
hipoestomático (localizados apenas na face abaxial) e anfiestomático (localizados
em ambas as faces da epiderme) (Tab. 3). Quando em anfiestomatia, os estômatos
apresentaram-se visivelmente mais abundantes na face abaxial. Embora o tipo
estomático e a localização desta estrutura sejam determinados geneticamente,
estudos apontam a influência do ambiente na sua densidade e maior abundância na
face da epiderme sob menor insolação (Mott et al., 1982; Niinemets,

89
Tabela 3. Atributos epidérmicos foliares de espécies lenhosas naturalmente estabelecidas em uma área de caatinga em Fazenda
Nova, Brejo da Madre de Deus, Pernambuco, Brasil. AD. face adaxial; AB. face abaxial; S. sinuosa; R. reta; LS. levemente
sinuosa; D. delgada; E. espessa; TE. tricoma estrelado; TS. tector simples; TPU. tector pluricelular unisseriado; TGG. glandular
globoso; TGGP. glandular globoso pluricelular; P. paracítico; AN. anomocítico; ANS. anisocítico, AC. actinocítico; TTR. tetracítico.
ATRIBUTOS EPIDÉRMICOS FOLIARES
Células comuns Estruturas anexas
ESPÉCIE
Sinuosidade Cutícula Tricomas Estômato

AD AB AD AB Tipo Localização Tipo Localização

Anadenanthera colubrina S S D D Ausente P AB


Aspidosperma pyrifolium R R E E TS AD P AB
Bauhinia cheilanta S S E E TPU AD e AB P AD e AB
Capparis flexuosa S LS E E Ausente AN, ANS, TTR AD e AB
Capparis yco LS S E E TS; TE AD e AB AN AB
Croton blanchetianus S S E E TGG; TE AD e AB P AB
Jatropha molissima R R D D TS; TE AD e AB P AB
Mimosa tenuiflora cf. R R E E TS AD e AB P AD e AB
Myracrodruon urundeuva S S E E TS; TGGP AD e AB AN AD e AB
Piptadenia stipulacea LS S E D Ausente P AB
Poincianella pyramidalis LS S D D TPU AD e AB AN, P AB
Senna macranthera S S E E TS AD e AB P AB
Sideroxylon obtusifolium R R E E TS AD AC AD e AB
Ziziphus joazeiro R R E E TS AD AN e TTR AB

90
1999; Cintron, 1970; Lleras, 1977; Givnish, 1987; Dong e Zhang, 2000; Hlwatika e
Bhat, 2002).
Quanto à arquitetura do mesofilo, as espécies, em geral, apresentam estrutura
dorsiventral, excetuando Mimosa tenuiflora cf., a qual apresenta mesofilo
indiferenciado (Tab. 4).
As espécies com folhas dorsiventrais apresentaram, em sua maioria, duas ou
mais camadas de parênquima paliçádico, com maior número de estratos em
Sideroxylon obtusifolium (4 camadas) (Tab. 4). Embora Capparis yco, Croton
blanchetianus e Poincianella pyramidalis apresentem apenas uma camada de
parênquima paliçádico, as folhas destas espécies se assemelham às demais quanto
a proporcionalidade na ocupação do mesofilo por este tecido. Cerca de 50% do
mesofilo é ocupado por parênquima paliçádico, com percentuais superiores a 70%
para Croton blanchetianus, a espécie de maior dominância na área.
O formato alongado das células do parênquima paliçádico e o grande número
de cloroplastos localizados próximos à parede celular tornam este tecido o de maior
eficiência na produção fotossintética, quando comparado aos demais tecidos
fotossintetizantes. Sendo assim, quanto maior o número de camadas deste tecido ou
área ocupada por ele no mesofilo, maior o potencial da planta na conversão de
energia luminosa em carboidrato (Larcher, 2000; Ashton e Berlyn, 1992; Thompson
et al.,1992; Hanba et al., 2002; Hlwatika e Bhat, 2002; Meirelles et al., 1997; Pyykkö,
1966; Haberlandt, 1928).
Quanto ao parênquima esponjoso, as espécies apresentaram folhas com três
(Poincianella pyramidalis e Senna macranthera) a nove (Jatropha molissima)
camadas deste tecido (Tab. 4). Além de colaborar com a produção fotossintética
foliar, este tecido possui espaços intercelulares onde ocorre o armazenamento de
água sob a forma de vapor e auxilia nas trocas gasosas (Larcher, 2000; Hanba et
al., 2002; Hlwatika e Bhat, 2002; Meirelles et al., 1997; Pyykkö, 1966; Haberlandt,
1928).
Os espaços intercelulares também influenciaram na espessura foliar total das
espécies, onde os maiores valores para este atributo foram apresentados pelas
plantas com parênquima esponjoso menos compacto (Tab. 4).

91
Tabela 4. Atributos do mesofilo foliar em espécies lenhosas naturalmente estabelecidas em uma área de caatinga em Fazenda
Nova, Brejo da Madre de Deus, Pernambuco, Brasil.
MESOFILO
Espessura Foliar
ESPÉCIE Parênquima Paliçádico Parênquima Esponjoso
Total (µm)
Espessura Espessura
Camadas Camadas
(µm) (µm)
Anadenanthera colubrina 2 33,37± 1,44 4 48,75±3,19 107,12±2,06
Aspidosperma pyrifolium 2a3 58,19± 1,88 5 89,12±10,31 182,31±4,39
Bauhinia cheilanta 2 51,20± 1,17 5a7 101,0±0,98 191,28±2,27
Capparis flexuosa 2 63,27± 6,21 5a7 80,41±4,83 117,41±8,79
Capparis yco 1 43,19± 5,57 4 62,63±9,22 135,82± 5,33
Croton blanchetianus 1 51,4±2,89 5 27,24±2,46 105,35± 2,75
Jatropha molissima 2a3 57,51±6,84 7a9 116,3±21,41 229,8±10,56
Mimosa tenuiflora cf. * 127,19±2,02 140,12±2,25
Myracrodruon urundeuva 2 64,12± 4,13 6 79,97±8,07 179,09± 3,32
Piptadenia stipulaceae 2a3 52,68±1,32 5 43,53± 3,53 133,85±1,76
Poincianella pyramidalis 1 75,04±2,88 3 73,77±2,21 188,18±2,01
Senna mancranthera 2 85,04±1,33 3 93,63±2,55 218,67±1,97
Sideroxylon obtusifolium 4 68,19± 7,06 5a6 85,69±12,29 199,24± 2,02
Ziziphus joazeiro 2 57,28± 3,10 4 70,43±5,15 155,75± 4,31
* Esta espécie apresentou parênquima clorofiliano indiferenciado com sete camadas de células.

92
De acordo com Pezzopane (2001), espécies submetidas a uma alta intensidade
luminosa apresentam lâmina foliar mais espessa que espécies estabelecidas sob
condições de luminosidade mais amena. O autor aponta, ainda, que o comprimento e o
número de camadas de células epidérmicas e do parênquima clorofiliano, bem como as
estratégias adotadas por estas, frente às oscilações ambientais, influenciarão
fortemente no espessamento foliar total.
O agrupamento por nível de similaridade dos atributos foliares identificados nas
plantas da caatinga de Fazenda Nova, Brejo da Madre de Deus, permitiram a
identificação de tipos funcionais vegetais (Fig. 2).

Figura 2. Dendograma de similaridade de atributos morfofuncionais foliares de


espécies lenhosas naturalmente estabelecidas em uma área de caatinga em Fazenda
Nova, Brejo da Madre de Deus, Pernambuco, Brasil.

De maneira geral, as espécies se subdividem em dois grandes blocos (Fig. 3). O


primeiro corresponde às espécies que não possuem grande similaridade morfofuncional
com as demais espécies analisadas (Myracrodruon urundeuva, Capparis flexuosa e

93
Anadenanthera colubrina). O segundo bloco corresponde às que adotaram estratégias
morfofuncionais foliares semelhantes, mostrando a formação de dois grupos funcionais.
O primeiro grupo funcional é formado por duas espécies: Poincianella pyramidalis
e Ziziphus joazeiro (Fig. 3). O segundo grupo concentra as demais espécies, com a
formação de outros grupos com menor nível hierárquico de similaridade (Fig. 3). De
acordo com Leishman e Westoby (1992), em regiões semiáridas, as análises de
agrupamento têm demonstrado pequenas variações dentro de um grupo.
Embora todas as espécies pertençam à mesma classe botânica, os agrupamentos
ocorreram independentemente da similaridade de classificação sistemática.

IV Conclusões

A análise permitiu a identificação das estratégias adotadas pelas espécies


lenhosas da caatinga destaca-se com um padrão: indivíduos com dossel/copas menos
densas, folhas mais alongadas, epiderme com cutícula espessa, elevado grau de
sinuosidade das paredes anticlinais das células comuns da epiderme, presença de
tricomas, parênquima clorofiliano diferenciado com parênquima paliçádico
pluriestratificado, ocupando cerca de 50% do mesofilo foliar.
O padrão para o comportamento dos vegetais aqui analisados é interpretado como
uma ferramenta capaz de contribuir para a minimização dos efeitos negativos da
elevada intensidade luminosa e temperatura, peculiares ao ambiente, além da escassez
hídrica característica para as áreas de caatinga, tornando as plantas aptas à
permanência no ambiente.
A formação de grupos funcionais de espécies lenhosas da caatinga ocorreu
independentemente da similaridade de classificação sistemática. Este fato ressalta que
os vegetais investem em características diferentes de seus parentes filogenéticos
próximos, reforçando a premissa de que o desenvolvimento dessas características é o
resultado do grau de influência das condições ambientais e do grau de plasticidade das
diferentes espécies ali estabelecidas, mostrando comportamentos morfofuncionais
similares.

94
V Agradecimentos

Agradecemos à Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de


Pernambuco (FACEPE), pelo fomento do projeto de pesquisa e concessão de bolsa à
primeira autora, e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq) pela concessão de bolsa de produtividade à segunda autora.

VI Referências

Ackerly, D. 2004: Functional strategies of chaparral shrubs in relation to seasonal water


deficit and disturbance. Ecological Monographs 74: 25-44.
Andrade, C.A.; Peitz, C.; Cúnico, M.; Carvalho, J.S.L.; Abrahão, W.M.; Miguel,
O.G.; Miguel, M.D. and Kerber, V.A. 2005: Avaliação da atividade antibacteriana e
triagem fitoquímica das flores de Acacia podalyriiflolia A. Cunn. ex. G. Don.
Leguminosae-Mimosoideae. Revista Brasileira de Farmacognosia 15(1): 13-15.
Araújo, E.L.; Sampaio, E.V.S.B.; and Rodal, M.J.N. 1995: Composição florística e
fitossociológica de três áreas de caatinga de Pernambuco. Revista Brasileira de
Biologia 55(4): 595-607.
Araus, J.L. and Hogan, K.P. 1994: Comparative leaf structure and patterns of
photoinhibition of the neotropical palms Scheelea zonensis and Socratea duríssima
growing in clearing and forest understory during the dry season in Panama.
American Journal of Botany 81(6): 726-738.
Asthon, P.M.S. and Berlyn, G.P. 1992: Leaf adaptations of some Shorea species to
sun and shade. New Phytologyst 121: 587-596.
Botta-Dukat, Z. 2005: Rao's quadratic entropy as a measure of functional diversity
based on multiple traits. Journal of Vegetation Science 16: 533-540.
Barroso, G.M.; Peixoto, A.L.; Ichaso, C.L.F.; Guimarães, E.F. and Costa, C.G. 2002:
Sistemática das angiospermas do Brasil, vol. 1. Universidade Federal de Viçosa,
Viçosa.

95
Box, E.O. 1996: Plant functional types and climate at the global scale. Journal of
Vegetation Science 7: 309-320.
Braga, C.C.; Brito, J.I.B.; Sansigolo, C.A. and Rao, T.V.R. 2003: Tempo de resposta
da vegetação às variabilidades sazonais da precipitação no Nordeste do Brasil.
Santa Maria. Revista Brasileira de Agrometeorologia 11(1): 149-157.
BRASIL. MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA/CPRM - Serviço Geológico do Brasil.
2005: Diagnóstico do município de Brejo da Madre de Deus, estado de Pernambuco.
In Beltrão, B.A.; Mascarenhas, J.C.; Miranda, J.L.F.; Souza Junior, L.C.; Galvão,
M.J.T.G. and Pereira, S.N. (eds.). Projeto cadastro de fontes de abastecimento por
água subterrânea. Recife: CPRM/PRODEEM.
Candido, H.G; Barbosa, M.P and Silva, M.J. da. 2002: Avaliação da degradação
ambiental de parte do Seridó Paraibano. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e
Ambiental 6(2): 368-371.
Cornelissen, J.H.C.S. et al. 2003: handbook of protocols for standardised and easy
measurement of plant functional traits worldwide. Australian Journal of Botany 51:
335-380.
Corrêa; C. et al. 2001: Mapeamento da Fitomassa da Caatinga do núcleo de
desertificação do Seridó, pelo índice de área de planta (IAP) e o índice de vegetação
da diferença normalizada (NDVI), obtido com dados do sensor Landsat 7 tm. 2001.
In:SBSR, 10., Foz do Iguaçu. Anais X SBSR pp. 1563 – 1573.
Cronquist A. 1981: An integrated system of classification of flowering plants. Columbia
University Press, New York.
Díaz, S.; Acosta, A. and Cabido, M. 1992: Morphological analysis of herbaceous
communities under different grazing regimes. Journal of Vegetation Science 3: 689-
696.
Dong, X.; Zhang, X. 2000: Special stomatal distribution in Sabina vulgaris in relation to
its survival in a desert environment. Trees 14: 369-375.
EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA - EMBRAPA. 2002:
Levantamento de Baixa e Média Intensidade de solos do Estado de Pernambuco. In:
http://www.cnps.embrapa.br/zapenet/index.htm

96
Fahmy, G.M. 1997: Leaf anatomy and its relation to the ecophysiology of some non-
succulent desert plants from Egypt. Arid Environments 36: 499-525.
Fahn, A. and Cutler, D. 1992: Xerophytes. Gebruder Borntraeger, Berlin.
Fahn A. 1990: Plant anatomy. Pergamon Press, Oxford.
Ferreira, R.L.C. and Vale, A.B. do. 1992: Subsídios básicos para o manejo florestal da
caatinga. Revista do Instituto Florestal 4: 368-375.
Gitay, H. and Noble, I.R. 1997: What are functional types and how should we seek
them? In: Smith, H.H. and Woodward, F.I. (Eds.). Plant functional types. Cambridge
University Press, Cambridge. pp. 3-19.
Givnish, T.J. 1987: Adaptation to sun and shade: a whole-plant perspective. Australian
Journal of Plant Physiology 15: 63-92.
Grime, J.P et al. 1997: Integrated screening validates primary axes of specialisation in
plants. Oikos 79: 259-281.
Haberlandt, G. 1928: Physiological plant anatomy. Mc Millan, London.
Hanba, Y. T.; Kogami, H. and Terashima, L. 2002: The effects of growth irradiance on
leaf anatomy and photosynthesis in Acer species differing in light demand. Plant Cell
and Enviroment 25(8): 1021-1030.
Hlwatika, C.N.M. and Bhat, R.B. 2002: An ecological interation. Annals of Botany
89:109-114.
Johansen, D. A. 1940: Plant Microtechnique. McGraw-Hill Book, New York.
Karabourniotis, G.; Bornman, J.F. and Liakoura, V. 1999: Different leaf surface
characteristics of three grape cultivars affect leaf optical properties as measured with
fibre optics: possible implication in stress tolerance. Australian Journal of Plant
Physiology 26: 47–53.
Keddy, P.A. 1992: Assembly and response rules: two goals for predictive community
ecology. Journal of Vegetation Science 3:157-164.
Kleyer, M. 1999: The distribution of plant functional types on gradients of disturbance
intensity and resource supply in an agricultural landscape. Journal of Vegetation
Science 10: 697-708.
Larcher, W. 2000: Ecofisiologia vegetal. Rima, São Carlos, SP.

97
Leishman, M.R. and Westoby, M. 1992:Classifying Plants into Groups on the Basis of
Associations of Individual Traits-Evidence from Australian SemiArid Woodlands. The
Journal of Ecology 80(3):417-424.
Lemos, J.R. and Rodal, M.J.N. 2002: Fitossociologia do componente lenhoso de um
trecho da vegetação de caatinga no Parque Nacional Serra da Capivara, Brasil. Acta
Botanica Brasilica 16(1): 23-42.
Lewis, M.G. 1972: The physiological significance of variation in leaf structure. Science
Progress 60: 25-51.
Lleras, E. 1977: Differences in stomatal number per unit area within the same species
under different micro-environmental conditions: a working hypothesis. Acta
Amazonica 7(4): 473-476.
Marques, A.R., Garcia, Q.S. and Fernandes, G.W. 1999: Effects of sun and shade on
leaf structure and sclerophylly of Sebastiana myrtilloides (Euphorbiaceae) from Serra
do Cipó, Minas Gerais,Brazil. Boletin Botânico da Universidade São Paulo 18: 21-27.
Medeiros, J.D. and Morretes, B.L. 1995: Dimensões da folha e herbivoria em Miconia
cabucu. Hoehne Biotemas 8: 97-112.
Meirelles, S.T.; Mattos, E.A. and Silva, A.C. 1997: Potential desiccation tolerant
vascular plants from Southeastern Brazil. Polish Journal of Environmental Studies 6:
17-21.
Melo, S.C. 2000: Estrutura, petrologia e geocronologia do batólito Brejo da Madre de
Deus (estado de Pernambuco), relações com a zona de cisalhamento Pernambuco
leste, Nordeste do Brasil. Tese de Doutorado, Centro de Tecnologia e Geociências,
Universidade Federal de Pernambuco.
Menezes, N.L.; Silva, D.C. and Pinna, G.F.M. 2003: Folha. In: Appezzato-da-Glória, B.;
Carmelo-Guerreiro, S.M. (eds). Anatomia vegetal. Viçosa: editora da Universidade
de Viçosa.
Metcalfe C.R. and Chalk L. 1983: Anatomy of the Dicotyledons. 2nd. Clarendon Press,
Oxford.
MMA – MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. 2010: Monitoramento dos biomas
brasileiros: Caatinga. In:

98
http://www.mma.gov.br/estruturas/sbf_chm_rbbio/_arquivos/apresentacao_minc_02
mar2010_caatinga_versao_imprensa_72.pdf
Mott, K.A.; Gibson, A.C. and O’leary, J.W. 1982: The adaptative significance of
amphistomatic leaves. Plant, Cell and Environment 5: 455-460.
Müller, S.C. 2005: Padrões de espécies e tipos funcionais de plantas lenhosas em
bordas de floresta e campo sob influência do fogo. Tese de Doutorado, Curso de
Pós-Graduação em Ecologia, UFRGS, Porto Alegre.
Niinemets, U. 1999: Components of leaf dry mass per area – thickness and density –
alter leaf photosynthetic capacity in reverse directions in wood plants. New
Phytologist 144(1):35-47.
Noomen M.F., Skidmore A.K. and Van der Meer, F.D. 2003: Detecting the Influence of
Gas Seepage on Vegetation using Hyperspectral Remote Sensing. Geological
Survey of Canada 47: 257-278.
Orlóci, L. and Orlóci, M. 1985: Comparison of communities without the use of species:
model and example. Annals of Botany 43: 275-285.
Pereira, I.M, et al. 2001: Regeneração natural em um remanescente de caatinga sob
diferentes níveis de perturbação, Agreste Paraibano. Acta Botanica Brasilica 15(3):
25-32.
Pereira, I. M. et al. 2003: Use-history effects on structure and flora of caatinga.
Biotropica 35(2): 154-165.
Petchey, O. L. and Gaston, K. J. 2006: Functional diversity: back to basics and looking
forward. Ecology Letter 9: 741–758.
Pezzopane, J.E.M. 2001: Caracterização microclimática, ecofisiológica e
fitossociológica em uma floresta secundária, em Viçosa, MG. Tese de Doutorado.
Ciência Florestal, Universidade Federal de Viçosa.

Pillar, V.D. and Orloci, L. 1993: Character-based community analysis: theory and
application program. The Hague: SPB. Academic.
Pillar, V.D. 1999: On the identification of optimal plant functional types. Journal of
Vegetation Science 10: 631-640.

99
Pillar, V.D. 2003: SYNCSA, software for character-based community analysis. Versão
2.2.0. Porto Alegre: Departamento de Ecologia da UFRGS.
Pyykko, M. 1966: The leaf anatomy of East Patagonian erophytic plants. Annales
Botanici Fennice 3(4): 453-622.
Pyykkö, M. 1979: Morphology and anatomy of leaves from some woody plants in a
humid tropical forest of Venezuelan Guayana. Acta Botanica Fennica 112: 1-41.
Reis, N. S. 2003: Variações fenotípicas em espécies lenhosas do Cerrado em três
áreas no Triângulo Mineiro. Dissertação de Mestrado em Ecologia e Conservação
de Recursos Naturais. UFU. Uberlândia-MG.
Ribeiro, M.G.; Tanajura, E.L.X. and Centeno, J.A.S. 2007: Monitoramento de período
de seca utilizando subtração de imagem NDVI: Estudo de caso do Reservatório do
Irai-PR. Anais XIII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, Florianópolis,
Brasil. INPE. p. 1055-1062.
Ricotta, C. 2005: A note on functional diversity measures. Basic and Applied Ecology 6:
479-486.
Rodal, M.J.N. et al. 1998: Fitossociologia do Componente Lenhoso de um Refúgio
Vegetacional no Município de Buíque, Pernambuco. Revista Brasileira de Biologia
58(3):17-24.
Rodal, M.J.N. 1992: Fitossociologia da vegetação arbustivo-arbórea em quatro áreas
de caatinga em Pernambuco. Tese de doutorado. Instituto de Biologia Universidade
Estadual de Campinas.
Roth, I. 1984: Stratification of tropical forest as seen in leaf structure – Tasks for
Vegetation Science. H. Lieth, Hague.
Sampaio, E.V.S.B. et al. 1998: Regeneração da vegetação de Caatinga após corte e
queima, em Serra Talhada, PE. Pesquisa Agropecuária Brasileira 33(5): 621-632.
Sampaio, E.V.S.B. et al. 1996: Magnetic relaxation and formation of magnetic domains
in ultrathin films with perpendicular anisotropy. Physical Review 54(9): 64- 65.
Santana, J.A.S. and Souto, J.S. 2006: Diversidade e Estrutura Fitossociológica da
Caatinga na Estação Ecológica do Seridó-RN. Revista de Biologia e Ciências da
Terra 6(2): 37-43.

100
Silva, P.S.; Solange, E. and Pareyn, F.G. 1998: Consumo de energéticos florestais do
setor domiciliar no Estado de Pernambuco. Recife: PNUD/FAO/IBAMA/Governo de
Pernambuco.
Silva, D.G.; Melo, R.F.T. and Corrêa, A.C.B. 2009: A influência da densidade de
drenagem na interpretação da evolução geomorfológica do complexo de tanques do
município de Brejo da Madre de Beus – Pernambuco, Nordeste do Brasil. Revista de
Geografia 26(3): 28-36.
Silva, M.D.; Pimentel, R.M.M. and Galvíncio, J.D. 2008: Diagnóstico da ocupação
vegetacional do município de Brejo da Madre de Deus, Pernambuco, Brasil, através
do sensoriamento remoto. Revista Brasileira de Geografia Física 1(2): 15-29.
Smith, W.K.; Volgelmann, T.C.; Delucia, E.H.; Bell, D. T. and Shepherd, K.A. 1997:
Leaf Form and Photosynthesis: Do leaf structure and orientation interact to regulate
internal light and carbon dioxide? Bioscience 47: 785-793.
Statsoft. 2001: Statistica, version 6.0. Tulsa, StatSoft Inc.
Taiz, L. and Zeiger, E. 2004: Fisiologia Vegetal. 3. ed. Artmed, Porto Alegre.
Tanner, E.V.J. and Kapos, V. 1982: Leaf structure of jamaican montane rain-forest
trees. Biotropica 14:16-24.
Thompson, W. A.; Kriedemann, P. E. and Craig, I. E. 1992: Photosynthetic Response
to light and nutrients in sun-tolerant and shade-tolerant rainforest trees. I. growth,
leaf anatomy and nutrient content. Australian Journal of Plant Physiology 19: 1–18.
Turner, I.M.; Ong, B.L. and Tan, H.T.W. 1995: Vegetation analysis, leaf structure and
nutrient status of a Malaysian heath community. Biotropica 27(1): 2-12.
Weiher, E. and Keddy, P.A. 1995: Assembly rules, null models, and trait dispersion:
new questions from old patterns. Oikos 74(1):159-164.
Weiher, E. and Keddy, P.A. 1999: Assembly rules, null models and trait dispersion:
new question form old patterns. Oikos 74: 159-164.
Wilcox, D.; Dove, B.; McDavid, D. and Greer, D. 2002: Image Tool. University of
Texas Health Science Center. San Antonio. Texas.
Zarco-Tejada, P.J.; Miller, J.R.; Morales, A.; Berjón, A. and Agüera, J. 2004:
Hyperspectral indices and model simulation for chlorophyll estimation in open-
canopy tree crops. Remote Sensing Environment 90: 463–764.

101
6. ANEXOS

102
Manuscript Submission Guidelines
Progress in Physical Geography
1. Peer review policy
Progress in Physical Geography operates a conventional double-blind reviewing
policy in which the reviewer’s and submitting author's names are always concealed from
each other. Each manuscript is reviewed by at least two referees once accepted for
review.

2. Article types
Progress in Physical Geography is an international journal, encompassing an
interdisciplinary approach incorporating the latest developments and debates within
Physical Geography and interrelated fields across the Earth, Biological and Ecological
System Sciences. Contributions which review progress to date; which blend review
material with new and original findings; or which introduce material, methods or
techniques at the forefront of current knowledge, while setting directions for future work
are welcomed. Authors need not be uncritically exhaustive in synthesizing research on a
particular topic, but should concentrate on what they consider to be the most promising
recent productive trends and developments which are likely to be transformative. They
should further aim at the widest possible international coverage and should consider the
relevance of tangential or parallel developments to their fields. In addition, authors are
encouraged to evaluate the general significance of research to date, including practical
and policy applications where relevant.

This prestigious journal covers all aspects of:


· Geomorphology · Climatology · Biogeography & landscape ecology · Human-
environment interaction
Papers include the widest possible international coverage and consider the relevance of
tangential and parallel developments in other fields.
Each issue now also includes:
· Research Resource Reviews of books and other research-related resources, including
DVD, media and WWW · A review of a classic book or paper In 2011, Progress in
Physical Geography will be publishing a new section, intended as a complement to its
long-running Classics Revisited features.
Articles in this new section are intended to illuminate progress in physical geography in
terms of the evolution of ideas over time. They need not be focussed on any one paper
or book but can involve several related publications. Unlike 'Classics' they may well
focus on the more obscure, less well known but nevertheless significant aspects of the
evolution of the subject.
Especially welcome would be new light shed on older ideas from either published
or hitherto unpublished material. This may involve the unearthing of material which may
place a development in context or clarify an original meaning. Sometimes we may find
when we look back that recently we might have re-invented the wheel, or the answer to
a current puzzle may possibly lie in some overlooked article. We may well also learn
something about the history of science from the thought processes of earlier
researchers.

1
Contributions of 2,500 - 3,500 words will be welcome. At this early stage, we are open to
different interpretations of the approach, and we would welcome any preliminary
discussion of potential author's ideas. Please contact [email protected] in the
first instance.

3. How to submit your manuscript


Before submitting your manuscript, please ensure you carefully read and adhere
to all the guidelines and instructions to authors provided below. Manuscripts not
conforming to these guidelines may be returned.
Progress in Physical Geography is hosted on SAGE track a web based online
submission and peer review system powered by ScholarOne™ Manuscripts. Please
read the Manuscript Submission guidelines below, and then simply visit
http://mc.manuscriptcentral.com/pipg to login and submit your article online.
IMPORTANT: Please check whether you already have an account in the system before
trying to create a new one. If you have reviewed or authored for the journal in the past
year it is likely that you will have had an account created. For further guidance on
submitting your manuscript online please visit ScholarOne Online Help.
All papers must be submitted via the online system. If you would like to discuss
your paper prior to submission, please refer to the contact details below.
When preparing your paper: - Use the minimum of formatting. - Roman, bold and italic
type can be used, but only one typeface and size should be used. - Capitals should be
used only where they are to appear in the finished text. - Headings and paragraphs
should be separated by two carriage returns. - There should be only one space between
words and only one space after any punctuation.
For more detailed guidance please click here to review guidelines on SAGE
House Style.

4. Journal contributor’s publishing agreement


Before publication, SAGE requires the author as the rights holder to sign a
Journal Contributor’s Publishing Agreement. SAGE’s Journal Contributor’s Publishing
Agreement is a exclusive licence agreement which means that the author retains
copyright in the work but grants SAGE the sole and exclusive right and licence to
publish for the full legal term of copyright. Exceptions may exist where an assignment of
copyright is required or preferred by a proprietor other than SAGE. In this case copyright
in the work will be assigned from the author to the society. For more information please
visit our Frequently Asked Questions on the SAGE Journal Author Gateway.

5. Declaration of conflicting interests


Within your Journal Contributor’s Publishing Agreement you will be required to
make a certification with respect to a declaration of conflicting interests. Progress in
Physical Geography does not require a declaration of conflicting interests but
recommends you review the good practice guidelines on the SAGE Journal Author
Gateway.

6. Other conventions
None applicable.

2
7. Acknowledgements
Any acknowledgements should appear first at the end of your article prior to your
Declaration of Conflicting Interests (if applicable), any notes and your References.
All contributors who do not meet the criteria for authorship should be listed in an
`Acknowledgements’ section. Examples of those who might be acknowledged include a
person who provided purely technical help, writing assistance, or a department chair
who provided only general support. Authors should disclose whether they had any
writing assistance and identify the entity that paid for this assistance.

7.1 Funding Acknowledgement


To comply with the guidance for Research Funders, Authors and Publishers
issued by the Research Information Network (RIN), Progress in Physical Geography
additionally requires all Authors to acknowledge their funding in a consistent fashion
under a separate heading. All research articles should have a funding acknowledgement
in the form of a sentence as follows, with the funding agency written out in full, followed
by the grant number in square brackets:
This work was supported by the Medical Research Council [grant number xxx].
Multiple grant numbers should be separated by comma and space. Where the research
was supported by more than one agency, the different agencies should be separated by
semi-colons, with “and” before the final funder. Thus:
This work was supported by the Wellcome Trust [grant numbers xxxx, yyyy]; the
Natural Environment Research Council [grant number zzzz]; and the Economic and
Social Research Council [grant number aaaa].
In some cases, research is not funded by a specific project grant, but rather from
the block grant and other resources available to a university, college or other research
institution. Where no specific funding has been provided for the research we ask that
corresponding authors use the following sentence:
This research received no specific grant from any funding agency in the public,
commercial, or not-for-profit sectors.
Please include this information under a separate heading entitled “Funding”
directly after any other Acknowledgements prior to your “Declaration of Conflicting
Interests” (if applicable), any Notes and your References.
Important note: If you have any concerns that the provision of this information
may compromise your anonymity dependent on the peer review policy of this journal
outlined above, you can withhold this information until final accepted manuscript.
For more information on the guidance for Research Funders, Authors and Publishers,
please visit:http://www.rin.ac.uk/funders-acknowledgement.

8. Permissions
Authors are responsible for obtaining permission from copyright holders for
reproducing any illustrations, tables, figures or lengthy quotations previously published
elsewhere.
For further information including guidance on fair dealing for criticism and review,
please visit our Frequently Asked Questions on the SAGE Journal Author Gateway.

9. Manuscript style

3
9.1 File types
Only electronic files conforming to the journal's guidelines will be accepted. Your
paper should be submitted in Word format.

9.2 Journal Style


Progress in Physical Geography conforms to the SAGE house style. Click here to
review guidelines on SAGE UK House Style

9.3 Reference Style


Progress in Physical Geography adheres to the SAGE Harvard reference style.
Click here to review the guidelines on SAGE Harvard to ensure your manuscript
conforms to this reference style.
For a sample page of references from Progress in Physical Geography please
click here.
If you use EndNote to manage references, download the SAGE Harvard output
style by following this link and save to the appropriate folder (normally for Windows
C:\Program Files\EndNote\Styles and for Mac OS X
Harddrive:Applications:EndNote:Styles). Once you’ve done this, open EndNote and
choose “Select Another Style...” from the dropdown menu in the menu bar; locate and
choose this new style from the following screen.

9.4. Manuscript Preparation


The text should be double-spaced throughout and with a minimum of 3cm for left
and right hand margins and 5cm at head and foot. Text should be standard 10 or 12
point. SI units should be used throughout the text.

9.4.1 Keywords and Abstracts


The title, keywords and abstract are key to ensuring that readers find your article
online through online search engines such as Google. Please refer to the information
and guidance on how best to title your article, write your abstract and select your
keywords by visiting SAGE’s Journal Author Gateway Guidelines on How to Help
Readers Find Your Article Online.

9.4.2 Corresponding Author Contact details


Provide full contact details for the corresponding author including email, mailing
address and telephone numbers. Academic affiliations are required for all co-authors.

9.4.3 Guidelines for submitting artwork, figures and other graphics


For guidance on the preparation of illustrations, pictures and graphs in electronic
format, please visit SAGE’sManuscript Submission Guidelines.
If, together with your accepted article, you submit usable colour figures, these
figures will appear in colour online regardless of whether or not these illustrations are
reproduced in colour in the printed version. If a charge applies you will be informed by
your SAGE Production Editor. For specifically requested colour reproduction in print, you
will receive information regarding the costs from SAGE after receipt of your accepted
article.

4
9.4.4 Guidelines for submitting supplemental files
Progress in Physical Geography does not currently accept supplemental files.

9.4.5 English Language Editing


Non-English speaking authors who would like to refine their use of language in
their manuscripts should have their manuscript reviewed by colleagues with experience
of preparing manuscripts in English.
Alternatively it might be useful to consider using a professional editing service.
Visithttp://www.uk.sagepub.com/journalgateway/msg.htm for further information.

10. After acceptance

10.1 Proofs
We will email a PDF of the proofs to the corresponding author.

10.2 E-Prints and Complimentary Copies


SAGE provides authors with access to a PDF of their final article. For further
information please visit Offprints and Reprints . We additionally provide the
corresponding author with a complimentary copy of the print issue in which the article
appears up to a maximum of 5 copies for onward supply by the corresponding author to
co-authors.

10.3 SAGE Production


At SAGE we place an extremely strong emphasis on the highest production
standards possible. We attach high importance to our quality service levels in copy-
editing, typesetting, printing, and online publication ( http://online.sagepub.com/ ). We
also seek to uphold excellent author relations throughout the publication process.
We value your feedback to ensure we continue to improve our author service
levels. On publication all corresponding authors will receive a brief survey questionnaire
on your experience of publishing in Progress in Physical Geography with SAGE.

10.4 OnlineFirst Publication


Progress in Physical Geography benefits from OnlineFirst, a feature offered
through SAGE’s electronic journal platform, SAGE Journals Online. It allows final
revision articles (completed articles in queue for assignment to an upcoming issue) to be
hosted online prior to their inclusion in a final print and online journal issue which can
significantly reduces the lead time between submission and publication. For more
information please visit our OnlineFirst Fact Sheet

11. Further information


Any correspondence, queries or additional requests for information on the
Manuscript Submission process should be sent to the Editorial Office as follows: Prof.
Nick Clifford Managing Editor – Progress in Physical Geography Department of
Geography King’s College London Strand London, WC2R 2LS, UK. E-mail:
[email protected]

Você também pode gostar