MilenaDutra Teseppgeo
MilenaDutra Teseppgeo
MilenaDutra Teseppgeo
RECIFE
2012
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS GEOGRÁFICAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
RECIFE
2012
Catalogação na fonte
Bibliotecária Miriam Stela Accioly, CRB4-294
Orientadora:____________________________________________________
Profa. Dra. Rejane Magalhães de Mendonça Pimentel – UFRPE
Examinador:____________________________________________________
Profa. Dra. Josiclêda Domiciano Galvíncio - UFPE
Examinador:____________________________________________________
Profa. Dra. Maria Fernanda Torres Abrantes - UFPE
Examinador:____________________________________________________
Prof. Dr. Kleber Andrade da Silva - UFPE
Examinador:____________________________________________________
Profa. Dra. Elcida de Lima Araújo - UFRPE
Suplente:_______________________________________________________
Prof. Dr. Ranyére Silva Nóbrega - UFPE
Suplente:_______________________________________________________
Prof. Dr. José Romualdo de Souza Lima- UFRPE
RECIFE
2012
À minha família, em especial aos meus
pais, Geraldo Vicente e Marli Dutra.
Albert Einstein
AGRADECIMENTOS
A Deus por tornar possível a realização deste trabalho através de cada pessoa
e instituições abaixo mencionadas.
À Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco
(FACEPE), pela concessão de bolsa de estudo.
Ao Programa de Pós-Graduação em Geografia (PPGEO) da Universidade
Federal de Pernambuco (UFPE). Ao corpo docente do período 2008-2012 e
funcionários que contribuíram para o melhor aproveitamento das oportunidades de
amadurecimento científico.
À Profa. Dra. Rejane Magalhães de Mendonça Pimentel, pela orientação na
realização deste trabalho, que em conjunto com o Prof. Dr. André Laurênio de Melo,
atuou como peça fundamental no meu amadurecimento como pesquisadora através
do grande incentivo à continuação desta caminhada em busca do aperfeiçoamento.
À Profa. Dra. Josiclêda Domiciano Galvíncio pelo apoio sempre presente em
todas as atividades deste trabalho.
À Profa. Dra. Claristela Santos, por ceder a sua casa em Fazenda Nova para a
acomodação de toda a nossa equipe em todas as coletas realizadas.
Ao Sr. Antonio Bezerra, proprietário da “Fazenda Incó”, onde estabelecemos a
área de estudo deste trabalho.
A todos os componentes do Laboratório de Fitomorfologia Funcional/Depto
Biologia/Botânica/Universidade Federal Rural de Pernambuco: Maria das Graças,
Vanessa Maciel, Vanessa Bastos, Gabriela Aretakis, Ivanilson Lucena e Girlaine
Pedrosa. Especialmente à Priscila Gomes Corrêa (in memoriam), minha amiga e
companheira de laboratório, com quem compartilhei os primeiros passos em
anatomia vegetal.
A todos os componentes do Laboratório de Sensoriamento Remoto e
Geoprocessamento/Depto Geografia/Universidade Federal de Pernambuco.
Especialmente aos colegas Hewerton, Tiago e Liviston pela acessoria na utilização
dos programas de análises de dados de sensoriamento remoto e
geoprocessamento.
Aos colegas de turma, mestrado e doutorado do PPGEO/UFPE - 2008-2012,
principalmente à Priscila Gomes Corrêa (in memoriam), Janaína Barbosa, Maria das
Graças e à Danielle Gomes, pela parceria nas disciplinas e trabalhos de campo.
Aos meus pais, Geraldo Vicente da Silva e Marli Dutra da Silva, por me
apoiarem em todos os meus passos na vida e colaborarem, especificamente neste
trabalho, em mão-de-obra e apoio logístico para efetuação das coletas em campo.
Aos amigos Emanoella Alves, Sheilane Silva, Carlos Silva Filho, Fabrícia
Albuquerque, Clébson Almeida, Domênica Barato, Marindalva Cavalcante, Dona Flor
e Claudia Cintra, pelo apoio moral e amparo emocional. À amiga Gleice Miranda,
também, pelo apoio em mão-de-obra nos trabalhos de campo.
Enfim, a todos que contribuíram, de forma direta ou indireta, para a realização
deste trabalho.
SUMÁRIO
Pág.
LISTA DE FIGURAS...................................................................................... 11
LISTA DE TABELAS..................................................................................... 14
RESUMO………...………………………………………………………………… 15
ABSTRACT………………………………...……………………………………... 16
1. INTRODUÇÃO………….………………………………………...……………. 17
2. REVISÃO DE LITERATURA………………..……………………………….. 20
2.1. Caatinga…………………………………………………………….......... 20
2.2. Atributos morfoanatômicos vegetais: um suporte à resiliência das
espécies da caatinga………………………………………………..……........ 22
3. REFERÊNCIA ............................…...……………………………………….... 25
4. MANUSCRITO I (Composição estrutural e fitossociológica de uma
paisagem de semiárido do Nordeste do Brasil)……......………………………. 34
Resumo……………………………………………………………………………... 35
Introdução………………………………………………………………………….. 36
Material e métodos……………………………………………………………….... 38
Caracterização da área de estudo......……………………………………... 38
Seleção e caracterização do sítio de coleta..……………………………... 40
Procedimentos em Campo …..……………………………………………… 41
Desenho experimental........................................................................ 41
Levantamento florístico....................................................................... 42
Levantamento fitossociológico............................................................ 42
Espectrorradiometria foliar.................................................................. 44
Procedimentos em Laboratório 45
Detecção de mudança na paisagem 45
Condição biológica da vegetação (Índices de Vegetação) 48
Resultados e discussão…………………………………………………………… 51
Conclusões...................................................................................................... 67
Agradecimentos.............................................................................................. 68
Referências..................................................................................................... 68
5. MANUSCRITO II (Atributos funcionais como estratégias de resiliência 75
em plantas lenhosas em uma paisagem de semiárido do Nordeste do
Brasil).
Resumo…………………………………………………………………………….. 76
Introdução…………………………………………………………………………. 77
Material e métodos……………………………………………………………….. 78
Área de estudo……………………………………………………………….. 78
Procedimentos em Campo....................................................................... 81
Desenho experimental....................................................................... 81
Coleta de material botânico…………………………………………….. 81
Procedimentos em Laboratório................................................................ 82
Análise de caracteres funcionais foliares.......................................... 82
Resultados e discussão………………………………………………………….. 84
Conclusões..................................................................................................... 94
Agradecimentos.............................................................................................. 95
Referências..................................................................................................... 95
ANEXOS......................................................................................................... 102
LISTA DE FIGURAS
MANUSCRITO I Pág.
Figura 1 Figura 1. Localização da área de estudo e sobreposição do
desenho experimental das parcelas fixadas em campo (100m 2) sobre imagem
de satélite sistema TM (Thematic Mapper)/Landsat-5 de Fazenda Nova, Brejo
da Madre de Deus, Pernambuco......................................................................... 41
Figura 2 Classes de altura de espécies lenhosas em 1 hectare de uma área
de caatinga em Fazenda Nova, Brejo da Madre de Deus, Pernambuco, Brasil. 53
Figura 3 Mapa de detecção de mudança da paisagem em um fragmento
vegetacional de caatinga em Fazenda Nova, Brejo da Madre de Deus,
Pernambuco, Brasil, ocorridos entre 1988 e 2011.............................................. 55
Figura 4 Acúmulo diário de precipitação pluvial para o primeiro semestre dos
anos de 1988 e 2011 em Caruaru, Pernambuco, Brasil................................... 56
Figura 5 Distribuição fitosiográfica a partir da imagem com valores de
Normalized Difference Vegetation Index (NDVI) em um fragmento
vegetacional em Fazenda Nova, Brejo da Madre de Deus, Pernambuco, Brasil
nos anos de 1988 e 2011.............................................................................. 57
Figura 6 Acúmulo diário de precipitação pluvial de janeiro a agosto de 2010
em Caruaru, Pernambuco, Brasil. Seta, dia da coleta....................................... 58
Figura 7 Valores de Plant Water Index (PWI) para Aspidosperma pyrifolium,
Poincianella pyramidalis, Croton blanchetianus e Sideroxylon obtusifolium,
espécies lenhosas dominantes em uma área de caatinga em Fazenda Nova,
Brejo da Madre de Deus, Pernambuco, Brasil................................................. 58
Figura 8 Valores de Normalized Water Index (NWI) para Aspidosperma
pyrifolium, Poincianella pyramidalis, Croton blanchetianus e Sideroxylon
obtusifolium, espécies lenhosas dominantes em uma área de caatinga em
Fazenda Nova, Brejo da Madre de Deus, Pernambuco, Brasil........................... 59
Figura 9 Valores de Plant Senescence Reflectance Index (PSRI) para
Aspidosperma pyrifolium, Poincianella pyramidalis, Croton blanchetianus e
Sideroxylon obtusifolium, espécies lenhosas dominantes em uma área de
caatinga em Fazenda Nova, Brejo da Madre de Deus, Pernambuco, Brasil...... 60
Figura 10 Valores de Photochemical Reflectance Index (PRI) para 61
Aspidosperma pyrifolium, Poincianella pyramidalis, Croton blanchetianus e
Sideroxylon obtusifolium, espécies lenhosas dominantes em uma área de
caatinga em Fazenda Nova, Brejo da Madre de Deus, Pernambuco, Brasil.
Figura 11 Valores de Chlorophyll Normalized Difference Index (ChlNDI) para
Aspidosperma pyrifolium, Poincianella pyramidalis, Croton blanchetianus e
Sideroxylon obtusifolium, espécies lenhosas dominantes em uma área de
caatinga em Fazenda Nova, Brejo da Madre de Deus, Pernambuco, Brasil...... 61
Figura 12 Valores de Pigment Specific Simple Ratio (PSSRa) ( clorofila “a”)
para Aspidosperma pyrifolium, Poincianella pyramidalis, Croton blanchetianus
e Sideroxylon obtusifolium, espécies lenhosas dominantes em uma área de
caatinga em Fazenda Nova, Brejo da Madre de Deus, Pernambuco, Brasil...... 62
Figura 13 Valores de Pigment Specific Simple Ratio (PSSRb) (clorofila b)
para Aspidosperma pyrifolium, Poincianella pyramidalis, Croton blanchetianus
e Sideroxylon obtusifolium, espécies lenhosas dominantes em uma área de
caatinga em Fazenda Nova, Brejo da Madre de Deus, Pernambuco, Brasil...... 62
Figura 14 Valores de Carotenoid Reflectance Index (CRI) para Aspidosperma
pyrifolium, Poincianella pyramidalis, Croton blanchetianus e Sideroxylon
obtusifolium, espécies lenhosas dominantes em uma área de caatinga em
Fazenda Nova, Brejo da Madre de Deus, Pernambuco, Brasil........................... 64
Figura 15 Valores de Normalized Difference Vegetation Index (NDVIhy) a
partir de dados hiperespectrais para Aspidosperma pyrifolium, Poincianella
pyramidalis, Croton blanchetianus e Sideroxylon obtusifolium, espécies
lenhosas dominantes em uma área de caatinga em Fazenda Nova, Brejo da
Madre de Deus, Pernambuco, Brasil................................................................... 65
Figura 16 Vista transversal da folha de espécies lenhosas dominantes em
uma área de caatinga em Fazenda Nova, Brejo da Madre de Deus,
Pernambuco, Brasil: A. Aspidosperma pyrifolium. B. Poincianella pyramidalis.
C. Sideroxylon obtusifolium. D. Croton blanchetianus. PE, parênquima
esponjoso. PP, parênquima paliçádico. Seta, cristais. Barras, 100m............... 67
MANUSCRITO II Pág.
Figura 1 Localização da área de estudo e sobreposição do desenho
experimental das parcelas fixadas em campo (100m 2) sobre imagem de
satélite sistema TM (Thematic Mapper)/Landsat-5 de Fazenda Nova, Brejo
da Madre de Deus, Pernambuco....................................................................... 81
Figura 2 Dendograma de similaridade de atributos morfofuncionais foliares
de espécies lenhosas naturalmente estabelecidas em uma área de caatinga
em Fazenda Nova, Brejo da Madre de Deus, Pernambuco, Brasil................... 93
LISTA DE TABELAS
MANUSCRITO I Pág.
Tabela 1 Descrição das bandas e faixas espectrais correspondentes ao
sistema TM/Landsat-5. a. coeficientes mínimos de calibração; b.
coeficientes máximos de calibração; ESUNλ. irradiância solar espectral
no topo da atmosfera................................................................................... 46
Tabela 2 Riqueza de espécies lenhosas naturalmente estabelecidas em
uma área de caatinga em Fazenda Nova, Brejo da Madre de Deus,
Pernambuco, Brasil...................................................................................... 52
Tabela 3 Parâmetros de estrutura e fitossociológicos de espécies
lenhosas de uma área de caatinga em Fazenda Nova, Brejo da Madre de
Deus, Pernambuco, Brasil. DA, densidade de espécies vivas (ind/ha -1).
DoR, dominância relativa (%). DR, densidade relativa (%). FR, frequência
relativa (%). NP, número de parcelas em que a espécie ocorre. VC, valor
de cobertura (m2). VI, valor de importância (%)........................................... 53
MANUSCRITO II
Tabela 1 Atributos morfológicos foliares de espécies lenhosas
naturalmente estabelecidas em uma área de caatinga em Fazenda Nova,
Brejo da Madre de Deus, Pernambuco, Brasil............................................. 86
Tabela 2 Área, comprimento, largura e proporção entre comprimento e
largura da lâmina foliar de espécies lenhosas naturalmente estabelecidas
em uma área de caatinga em Fazenda Nova, Brejo da Madre de Deus,
Pernambuco, Brasil...................................................................................... 88
Tabela 3 Atributos epidérmicos foliares de espécies lenhosas
naturalmente estabelecidas em uma área de caatinga em Fazenda Nova,
Brejo da Madre de Deus, Pernambuco, Brasil............................................ 90
Tabela 4 Atributos do mesofilo foliar em espécies lenhosas naturalmente
estabelecidas em uma área de caatinga em Fazenda Nova, Brejo da
Madre de Deus, Pernambuco, Brasil........................................................... 92
RESUMO
Plants have highly sensitive to climatic factors dominant in the environment and
therefore the investigation of their standards morphofunctional are excellent supports
to understanding of the functioning of the landscape and / or ecosystem. Among the
biomes, the caatinga is notable for its scope territorial (54% in the Northeast and
11% of the Brazil) and high potential and natural resources. These characteristics
made it the target of intensive exploration by making remaining areas susceptible to
environmental disorders, desertification and global climate change. Meet the
standard Functional responses of the characters constituting the species native flora
of this biome indicate attributes that confer plant resilience or those most likely to
stay in their environment. Thus, this study aimed to quantify the characters
morphological and anatomical leaf plants established in a community semi-arid
Pernambucan and identify the functionality thereof. For this, we analyzed the
structure and dynamics of vegetation, biological status of species and structural
landscape morphofunctional response pattern (type and frequency) displayed by
peculiar to these pressures in a caatinga vegetation fragment in Pernambuco. For
this we used the usual methods and techniques floristic and phytosociological
surveys, remote sensing and GIS, hyperspectral analysis (indices vegetation) and
plant anatomy. The fragment vegetation suffered reduction in vegetation cover in the
period 1988 to 2011. The identification of the diversity and abundance of woody
species study area indicated the target of environmental disturbance, in step initial
ecological succession. Drought stress has been identified as a stressor for the plant.
Strategies physiological and morphoanatomical adopted by the species were
different and are an attempt to adjust the conditions specific species environment, to
ensure success in maintaining the environment (Water use efficiency and
photosynthesis). Among the strategies morphofunctional adopted by the species
stand out as standard: individuals with canopy / canopy open, more elongated
leaves, epidermis with thick cuticle, high degree of sinuosity of the walls anticlines
basic cells of the epidermis, the presence of trichomes, mesophyll parenchyma with
different pluri palisade, occupying about 50% of the mesophyll leaf. The formation
occurred regardless of functional groups similarity of systematic classification,
reinforcing the premise that the development of these features is the result of the
degree of influence of environmental conditions and the degree of plasticity of
different species established there, showing behaviors morphofunctional similar.
17
Uma das abordagens adotadas como ferramenta eficiente para o
entendimento do ambiente através da análise vegetal tem sido a identificação de
tipos funcionais vegetais (TFV). Um TFV é composto por um grupo de plantas que,
independentemente de suas relações filogenéticas e/ou taxonômicas, possui
similaridade quanto à frequência de ocorrência de um conjunto de atributos e
comportamento semelhante frente às variações do ambiente (BOX, 1996; GITAY e
NOBLE, 1997; GRIME et al., 1997, ORLÓCI e ORLÓCI, 1985; PILLAR, 2003;
PILLAR e ORLÓCI, 1993). A definição de um TFV é obtida mediante a ocorrência do
agrupamento de caracteres, especialmente os morfológicos associados às funções
vitais de fotossíntese e transporte de água no interior da planta (REICH, WRIGTH e
LUSK, 2007). A maior parte da vida do vegetal é utilizada no desenvolvimento de
órgãos vegetativos responsáveis por mecanismos vitais e a presença de caracteres
morfológicos especializados em diferentes funções é fundamental para o sucesso de
seu estabelecimento em um determinado ambiente.
A análise da composição de um TFV tem sido utilizada para descrever
padrões e processos nas comunidades vegetais e é essencial para a investigação e
previsão das consequências das mudanças globais sobre a vegetação (PILLAR,
2003; MÜLLER, 2005). Uma vez que os vegetais são fortemente influenciados pelo
ambiente, a identificação de padrões e as interpretações dos caracteres
apresentados por eles podem auxiliar na criação de modelos preditores do
comportamento futuro do ecossistema. A maior parte dos dados disponíveis é
relativa apenas às espécies de deserto, florestas pluviais montanas e campos
(CAMERICK e WERGER, 1981; BONGERS e POPMA, 1990; MEDINA et al., 1990;
HALLOY e MARK, 1996; WIEMANN et al., 1998; BOEGER e WISNIEWSKI, 2003); é
necessária a ampliação desses estudos para tipos vegetacionais de biomas
brasileiros, como a caatinga.
Entre os biomas brasileiros, a caatinga tem se destacado por sua abrangência
territorial (54% da região Nordeste e 11% do território nacional) e elevada
potencialidade quanto aos recursos naturais (LEAL et al., 2003; ANDRADE et al.,
2005). Estas características a tornaram alvo de exploração intensiva e uso
insustentável de recursos, ocasionando a perda de quase 50% de seu território
original, com 2% reduzidos somente entre 2002 e 2008 (MMA, 2010). A presente
devastação torna as áreas de caatinga remanescentes susceptíveis às desordens
ambientais, desertificação e mudanças climáticas globais (MMA, 2010). Conhecer o
18
padrão de respostas dos caracteres funcionais das espécies que constituem a flora
nativa deste bioma indicará atributos vegetais que conferem resiliência ou aqueles
mais susceptíveis à sua permanência no ambiente (BÓTTA-DUKÀT, 2005;
RICOTTA, 2005; PETCHEY e GASTON, 2006).
A dinâmica do ambiente, considerando a interação da vegetação com os
aspectos geomorfológicos e climáticos, promove a expressão de duas situações
antagônicas dos vegetais: permanecer ou desaparecer. A permanência implica na
existência de caracteres mais ajustados às condições ambientais, incluindo a
interação entre as espécies vegetais. O grau máximo de ajuste das plantas às
variações ambientais caracteriza o efeito conhecido como resiliência. Neste caso, a
resiliência será definida pela presença de caracteres reconhecidamente atuantes
como resposta a determinados fatores ambientais. O desaparecimento de uma
espécie resulta da existência de um número elevado de caracteres que
reconhecidamente tornem a espécie susceptível aos eventos geomorfológicos e
climáticos do local de estudo. Estes caracteres estarão, obrigatoriamente,
associados aos processos vitais dos vegetais, como a fotossíntese e o transporte de
água no interior da planta. Aqui, o desaparecimento será caracterizado pela
ausência de uma dada espécie em uma comunidade similar àquela mais próxima.
Diante da escassez de estudos e da necessidade em identificar a amplitude
da diversidade funcional dos caracteres morfoanatômicos das espécies vegetais da
caatinga, este estudo visa quantificar os caracteres morfoanatômicos foliares de
plantas estabelecidas em uma comunidade do semiárido pernambucano, identificar
a funcionalidade dos mesmos e caracterizar estratégias de regeneração associadas
em resposta a variáveis geomorfológicas e climáticas.
A diversidade funcional de caracteres morfoanatômicos foliares em espécies
da vegetação de caatinga será identificada através do teste de duas hipóteses: a)
quantificação da divergência funcional, reconhecida através da heterogeneidade dos
caracteres funcionais nas espécies que constituem a comunidade e representada
pela probabilidade de duas espécies, ao acaso, apresentarem o mesmo valor para
um dado caractere. A segunda hipótese testará a ampla recorrência de um caractere
expressado pela presença majoritária em plantas estabelecidas na comunidade.
Estes resultados elucidarão a dinâmica vegetacional de um fragmento de caatinga
em Pernambuco e auxiliarão na prática de gerenciamento desta formação
vegetacional.
19
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1. Caatinga
20
Dados para o início da década de 90 apontavam que cerca de 30% da
caatinga já havia sido alterada como consequência da atividade antrópica (IBGE,
1993). De acordo com Carvalho (2006) se os impactos ambientais produzidos pela
construção de sistemas de estradas fossem considerados, este valor já seria
próximo a 45% de alteração da caatinga de responsabilidade inteiramente humana.
Com este percentual, a caatinga seria o ecossistema brasileiro mais modificado pelo
homem, perdendo apenas para a Mata Atlântica e o Cerrado (LEAL et al., 2003). Em
2008 este percentual de alteração já era equivalente a 60% (OPALC, 2008)
chegando ao recorde de 80% em 2010 somados ao agravante de uma população
crescente de 27 milhões de pessoas estabelecidas nas regiões de caatinga (MMA,
2010).
O principal ecossistema nordestino só recebeu maior atenção de
pesquisadores para a realização de estudos mais detalhados na última década
(TROVÃO et al., 2004). Inventários elaborados para o ecossistema caatinga no
início da primeira década de 2000 registram a presença de 148 espécies de
mamíferos, 240 de peixes, 167 de anfíbios e répteis, 187 de abelhas, 62 famílias e
510 espécies de aves e quase 1000 espécies de plantas vasculares, sendo 180
endêmicas comprovando que a caatinga é um ecossistema rico em biodiversidade
(GIULIETTI et al., 2004; LEAL et al., 2003; ZANELLA e MARTINS, 2003; ROSA et
al., 2003; RODRIGUES, 2003; SILVA et al., 2003).
Além do grande número de espécies, a diversidade das paisagens e
formações vegetacionais presentes na caatinga elevam sua complexidade com
trechos que flutuam entre floresta alta a arbustos isolados e solo quase descoberto
(JOLY, 1970; GIULIETTI et al.,2005).
Ao estudar a vegetação de caatinga, Andrade-Lima (1981) observou essa
grande variação na composição da paisagem. A presente diversidade levou o autor
a propor que a caatinga fosse subdivida em feições distintas com classificação
fundamentada em dados fisionômicos e florísticos associados a fatores edáficos e
climáticos, subdividindo o bioma em 12 tipos de associações vegetais para o seu
melhor entendimento funcional. Esta classificação pioneira suscitou que a presente
diferença estrutural da paisagem era decorrente de fatores externos que
influenciavam na determinação do estabelecimento vegetal.
Estudos realizados por Drumond et al. (2000) indicaram que a densidade,
frequência e dominância dos vegetais são determinadas pelas variações
21
topográficas, tipo de solo e pluviosidade e corroboram as justificativas apontadas por
Andrade-Lima (1981) para a diversidade da composição estrutural da vegetação e
paisagem da caatinga devido a alta capacidade de ajuste dos vegetais ao ambiente.
22
LARCHER, 2000; LEWIS, 1972; MARQUES et al., 1999; MENEZES et al., 2003;
PYYKKÖ, 1979; TAIZ e ZEIGER, 2004).
A grande necessidade de identificação do grau de resiliência vegetal,
sobretudo quanto aos processos de fotoassimilação e condutividade das seivas,
para fins de manejo e/ou manutenção do ecossistema, favorecem o fato de que a
intensidade luminosa e disponibilidade hídrica estejam entre os fatores ambientais
mais estudados acerca de sua influência sobre a estruturação vegetal (BOEGER et
al., 1998; SMITH et al., 1997; MARQUES et al., 1999; MARQUES et al., 2000).
As folhas, quando submetidas à elevada intensidade luminosa e da
temperatura, irão produzir caracteres de resiliência aos possíveis efeitos danosos
causados por estes fatores, a exemplo da perda excessiva de conteúdo hídrico foliar
para o meio, que poderá ocasionar a dessaturação celular e consequente déficit na
produção de fotoassimilados (LARCHER, 2000; LEWIS, 1972; PYYKKÖ, 1979;
MARQUES et al., 1999).
Entre as estratégias morfoanatômicas adotadas pelas folhas, para minimizar
os efeitos da alta luminosidade e temperatura, está a redução da área de captação
luminosa (limbo), o aumento da densidade estomática e de tricomas, maior
espessamento da cutícula, diminuição das células fundamentais da epiderme,
aumento do número de camadas e/ou comprimento das células de parênquima
paliçádico e consequente aumento da espessura da lâmina foliar (LEWIS, 1972;
THOMPSON et al.,1992; FAHMY, 1997; SMITH et al., 1997; MARQUES et al., 1999;
HANBA et al., 2002; HLWATIKA e BHAT, 2002). Lewis (1972) indica que estes
caracteres, presentes na folha madura, foram influenciados pela quantidade de luz
recebida pela mesma ao longo de todas as fases de desenvolvimento até a
maturidade.
Além da densidade de estômatos na folha, a quantidade de luz recebida pelo
órgão irá influenciar na localização dessas estruturas. Na tentativa de minimizar a
perda excessiva de água para meio através dos ostíolos, em ambientes com altas
taxas de luminosidade e longos períodos de raios incididos sobre as lâminas
foliares, os estômatos se concentram em maior número na face foliar oposta a fonte
luminosa (DICKSON, 2000). Os estômatos podem, ainda, ocorrer em caráter
exclusivista na face abaxial, configurando a hipoestomatia, máxima de resiliência
foliar ao aumento da temperatura na superfície do limbo e evapotranspiração
23
(LLERAS, 1977; GIVNISH, 1987; DONG e ZHANG, 2000; HLWATIKA e BHAT,
2002).
Outro traço foliar indicador de resiliência é o grau de sinuosidade das paredes
anticlinais das células fundamentais da epiderme. Embora este caractere seja
apontado como produto da determinação genética para o gênero e/ou família
botânica (ARRUDA e NEVES, 2005), variações no grau de sinuosidade das paredes
anticlinais foram associados à luminosidade, umidade e temperatura (MEIRELLES et
al., 1997; PYYKKÖ, 1966). Meirelles et al. (1997) afirmam que plantas, quando
expostas à alta luminosidade e reduzida disponibilidade hídrica, apresentam alto
grau de sinuosidade das paredes anticlinais. A resiliência conferida por esta
estratégia se deve à ampliação da resistência celular que a sinuosidade das paredes
produz, evitando, assim, o colapso da célula diante do déficit hídrico
(HABERLANDT, 1928).
Estudos apontam que a presença de cristais em folhas de plantas de
ambientes áridos auxilia na redução dos danos causados pelo sol refletindo o
excesso de incidência de energia solar e, assim, preservam o parênquima
clorofiliano, fundamental ao processo fotossintético (ARRUDA et al., 2005; FAHN e
CUTLER 1992, GIBSON e HORAK, 1978; PIMENTEL, 2010; SIMS e GAMON,
2002). A quantidade, localização e morfologia destes cristais também irão influenciar
na qualidade da resposta por eles apresentada (CARRIELO et al., 2003; PIMENTEL,
2010; SIMS e GAMON, 2002).
Alguns caracteres promotores da resiliência vegetal tem seu desenvolvimento
ou maximização associados à baixa disponibilidade hídrica (TURNER et al., 1995;
BOEGER e WISNIEWSKI, 2003). Sob esta condição, as espécies tendem a
apresentar folhas com a lâmina reduzida, espessamento da cutícula, maior
espessura da parede periclinal externa das células epidérmicas, epiderme
pluriestratificada ou hipoderme, presença de estômatos em ambas as faces
epidérmicas, geralmente em depressão, aumento da densidade de tricomas,
mesofilo simétrico, tecidos especializados no armazenamento de água e diminuição
da área ocupada pelo xilema, tecido condutor de água, e do diâmetro dos elementos
de vaso (FAHN e CUTLER, 1992; ROTH, 1984; FAHMY, 1997; TURNER et al.,
1995).
A identificação do aumento e/ou redução da presença e/ou qualidade de
determinados traços das plantas evidenciam a resiliência das espécies e se constitui
24
em uma excelente ferramenta para o entendimento da interação planta-ambiente e
de estratégias que propiciam a permanência das espécies que compõem a
paisagem (HLWATIKA e BHAT, 2002; BRADSHAW, 1965; VIA e LANDE, 1985;
SCHEINER, 1993; SULTAN 1987; SULTAN, 2000; REICH et al., 2003; MARON et
al., 2004; CRAWLEY, 1990; WILLIAMS et al., 1995).
3. REFERÊNCIAS
25
BOEGER, M.R.; WISNIEWSKI, C. 2002. Estrutura e teores de nutrientes foliares de
seis espécies arbóreas ao longo de um gradiente sucessional da planície
litorânea do estado do Paraná, Brasil. Iheringia. Série Botânica, 57(2): 243-262.
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33
4. Manuscrito I
a ser enviado ao periódico Progress in Physical Geography
34
Composição estrutural vegetal de uma paisagem de
semiárido do Nordeste do Brasil1
1
Parte da tese da primeira autora
2
Programa de Pós-Graduação em Geografia, Departamento de Ciências
Geográficas, Universidade Federal de Pernambuco
3
Departamento de Biologia, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Unidade
Serra Talhada
Resumo
A caatinga é um ecossistema exclusivamente brasileiro e abrange 60% da
região Nordeste. Possui uma vegetação com características peculiares decorrentes
do clima semiárido, disponibilidade hídrica estacional e elevadas temperaturas. O
alto índice de desmatamento destas áreas elevou a necessidade da ampliação do
conhecimento deste bioma para auxiliar políticas de manejo e conservação. Neste
sentido, este estudo objetivou analisar a dinâmica vegetacional da caatinga,
composição estrutural e fitossociológica, bem como da análise das condições
biológicas das espécies estruturantes de um fragmento vegetacional de caatinga em
Fazenda Nova, Brejo da Madre de Deus, em Pernambuco. Para isto foram utilizados
métodos e técnicas usuais em levantamentos florísticos e fitossociológicos,
sensoriamento remoto e geoprocessamento, análises hiperespectrais (índices de
vegetação) e anatomia vegetal. O fragmento vegetacional sofreu redução na sua
cobertura vegetal no período de 1988 a 2011. A identificação da riqueza e
abundância de espécies lenhosas indicou a área estudada como alvo de
perturbação ambiental, em etapa inicial de sucessão ecológica. A deficiência hídrica
foi identificada como fator estressor para a planta. As estratégias fisiológicas e
morfoanatômica adotadas pelas espécies foram diferentes entre si e são uma
tentativa de ajuste específico da espécies as condições ambientais, a fim de garantir
sucesso em sua manutenção no ambiente (uso eficiente da água e fotossíntese).
35
I Introdução
36
Araújo et al., 1995). Embora alguns trabalhos que visam o conhecimento da
composição e dinâmica vegetacional da caatinga já tenham sido desenvolvidos,
sobretudo nas últimas décadas, as muitas configurações e associações da
composição vegetal deste ecossistema requerem estudos os quantos forem
possíveis da totalidade da caatinga para o seu melhor entendimento funcional, uma
vez que as plantas respondem às variáveis locais (Box, 1996; Gitay e Noble, 1997;
Grime et al., 1997; Orlóci e Orlóci, 1985; Pillar, 2003; Pillar e Orlóci, 1993).
Os levantamentos fitossociológicos contribuem como precursores de estudos
adicionais sobre a dinâmica vegetacional, além de fornecer informações que
subsidiam a elaboração de projetos de manejo e manutenção do ecossistema.
Com o avanço científico em métodos e tecnologias, surgiram novas
ferramentas passíveis de aplicação aos estudos da dinâmica vegetacional. Entre
eles se destaca o sensoriamento remoto, com a descoberta da interação entre a
energia eletromagnética irradiada pelo sol e os alvos fotossintetizantes (Ponzoni,
2001).
Analisando as respostas do vegetal no espectro eletromagnético é possível
observar o comportamento específico da energia radiante em comprimentos de onda
refletidos por uma folha isolada e/ou pelo dossel (Cardoso, 1996; Jensen, 1991;
Ponzoni, 2001).
A resposta espectral detectada por sensores na região do visível e no
infravermelho próximo são capazes de indicar superfícies vegetadas, permitindo a
identificação e mapeamento de fragmentos vegetacionais (Parkinson, 1997). Isto
possibilita o monitoramento da dinâmica apresentada pela vegetação, auxiliando no
acompanhamento de mudanças ocorridas na paisagem (Junges et al., 2007; Braga
et al., 2003; Ponzoni, 2001)
A dinâmica de ocupação vegetacional pode ser identificada através da
aplicação das técnicas de programas específicos para análises de sensoriamento
remoto e geoprocessamento em imagens com valores matriciais de períodos
distintos (Townshend et al., 1985). Alguns trabalhos como os desenvolvidos por
Eastman e Fulk (1993), Nicholson e Farrar (1994), Almeida (1997), Barbosa (1998),
Gutman e Ignatov (1998), Braga (2000) e Braga et al. (2003) mostraram que a
técnica é uma ferramenta potencial para a indicação de mudanças na vegetação,
cujos valores são influenciados por eventos periódicos e não periódicos .
37
A espectrorradiometria também tem se destacado quanto ao seu uso no
estudo da vegetação. Neste método, o sensor mantém contato direto com o alvo
estudado, excluindo os ruídos que ocorrem frequentemente nos produtos dos
sistemas imageadores, ocasionados pela densidade da copa e/ou manchas de
vegetação subjacente e do solo e pelo relevo, entre outros (Jensen, 2009; Moraes,
2002; Menezes, 2001; Silva, 2007; Steffen e Moraes, 1993; Zanini, 2008).
Os dados obtidos com a espetrorradiometria da folha permitem avaliar as
condições fisiológicas da planta (pigmentação e conteúdo de água) devido à forte
relação da resposta espectral foliar com as propriedades físicas e químicas contidas
no órgão (Babar et al., 2006; Blackburn, 1998; Gitelson et al., 2002; Merton, 1998;
Merzlyak et al., 1999; Penuela et al., 1997; Richardson et al., 2002). Este tipo de
análise fornece subsídios para a identificação das estratégias fisiológicas dos
vegetais para sua manutenção no ambiente (Haboudane et al., 2002; Pereira et al.,
2001; Madeira et al., 2009; Blackburn, 1998; Gates et al., 1965; Jense, 2009;
Cardoso, 1996; Jensen, 1991; Ponzoni, 2001).
A análise da dinâmica vegetacional, da composição estrutural e
fitossociológica, bem como da análise das condições biológicas das espécies
estruturantes da comunidade vegetal permite um melhor entendimento do fragmento
estudado. Neste sentido, e diante da necessidade de ampliação de estudos relativos
à dinâmica da caatinga, este estudo objetivou analisar, sob os referidos aspectos,
um fragmento vegetacional de caatinga em Fazenda Nova, Brejo da Madre de Deus,
em Pernambuco.
II Material e Métodos
38
Toritama e, ao oeste, com Jataúba; inserido nas Folhas da SUDENE de Santa Cruz
do Capibaribe e Belo Jardim na escala de 1:100.000 (BRASIL, 2005).
Brejo da Madre de Deus apresenta Patamares Compridos e Baixas Vertentes,
com relevo suave ondulado, Planossolos mal drenados, fertilidade natural média e
problemas com acúmulo de sais; Topos e Altas Vertentes com solos Brunos não
Cálcicos, rasos e fertilidade natural alta; Topos e Altas Vertentes do relevo ondulado
com solos Podzólicos drenados, fertilidade natural média e Elevações Residuais
com solos Litólicos rasos, pedregosos e fertilidade natural média (BRASIL, 2005).
Quanto aos aspectos geológicos, o município está inserido no Batólito
Caruaru-Arcoverde, se destacando na Província Borborema, por ser a maior unidade
de associação cálcio-alcalina de alto potássio (Melo, 2000).
O clima é do tipo Tropical Semiárido com chuvas de verão, em concordância
com as condições climáticas do semiárido nordestino, mostrando transição gradual
de extrema semiaridez a uma maior umidade, determinadas pela topografia.
A temperatura média anual é equivalente a 22°C, atingindo as máximas
durante os meses de novembro e dezembro (31ºC) e mínimas durante agosto e
setembro (17,9ºC), esta última decorrente da orografia (BRASIL, 2005; Silva et al.,
2009).
Brejo da Madre de Deus apresenta vegetação de brejo e caatinga e está
inserido nos domínios da Bacia Hidrográfica do Rio Capibaribe (BRASIL, 2005).
Quanto à ocupação vegetacional, foi identificado que 56% da área vegetada no
município potencializam o vigor e a densidade da vegetação com o aumento da
altitude (Silva et al., 2008). De acordo com Silva et al. (1998), nas referidas áreas, os
tipos vegetacionais predominantes são correspondentes a uma vegetação arbustiva
arbórea fechada, caracterizada por espécies com altura média de 4,0 m e indivíduos
emergentes de 7,0 m, entre 550 e 750m de altitude, e ao Tipo “Brejo de Altitude”,
com vegetação arbórea fechada, presença de alguns arbustos, altura média de 5,0m
e indivíduos emergentes com mais de 8,0m.
A vegetação rala e esparsa recobre, aproximadamente, 40% do município
(Silva et al., 2008). Esta organização menos densa, aliada, entre outros, às
condições decorrentes da altitude (altitude igual ou inferior a 500m), apresenta uma
configuração característica de vegetação de caatinga. Silva et al. (1998) afirmam
que, nestas áreas, a vegetação predominante é arbóreo-arbustiva aberta (caatinga),
39
com espécies caducifólias de altura média de 3,0m e indivíduos emergentes de
5,0m.
40
precipitações escassas e irregulares devido à sua grande sensibilidade à
disponibilidade de água, apresentando, em sua dinâmica populacional, uma
resposta fortemente relacionada à variabilidade dos fenômenos meteorológicos
atuantes sobre ela (Braga et al., 2003).
2. Procedimentos Metodológicos
41
(Thematic Mapper)/Landsat-5 de Fazenda Nova, Brejo da Madre de Deus,
Pernambuco.
2.1.2 Levantamento florístico
Foram realizadas coletas aleatórias entre os meses de maio e agosto dos
anos de 2009 e 2010. Todo material botânico fértil das espécies lenhosas
encontradas nas parcelas e deslocadas destas em até 1m foi coletado, devidamente
etiquetado, prensado e seco em estufa de lâmpada por 3 a 5 dias.
Depois de secas e etiquetadas, as amostras foram depositadas no herbário
Dárdano de Andrade Lima do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA). As plantas
foram identificadas em diferentes níveis (e.g. família, gênero e espécie), seguindo o
sistema de classificação de Cronquist (1981). As identificações foram realizadas com
auxílio de bibliografia especializada, comparação com material de herbário e
consulta aos especialistas em diversos grupos taxonômicos. A autoria dos nomes
específicos foi confirmada através de consulta aos sites do Missouri Botanical
Garden (http://www.tropicos.org) e da Flora Brasiliensis no site do Centro de
Referência em Informação Ambiental-CRIA (http://florabrasiliensis.cria.org.br).
A descrição e a classificação da estrutura morfológica foliar seguiram a
terminologia de Barroso et al. (2002).
a) Densidade absoluta:
(1)
42
Onde: ni equivale ao número de indivíduos da espécie, A se refere à área total
amostra em m2 e U a unidade amostral (ha=10.000 m2).
b) Densidade relativa
(2)
c) Frequência absoluta
(3)
Onde: Pi equivale ao número total de parcelas nas quais a espécie esteve presente
e P equivale ao número total de parcelas.
d) Frequência relativa
(4)
e) Dominância absoluta
(5)
f) Dominância relativa
43
(6)
Onde: ∑Abi equivale a soma das áreas basais dos indivíduos da espécie i e Abt
corresponde a soma das áreas basais de todos os indivíduos.
g) Valor de importância
(7)
Onde: DRi equivale a densidade relativa da espécie i, DoRi corresponde à
dominância relativa da espécie i e FRi é equivalente a frequência relativa da espécie
i.
h) Valor de Cobertura
(8)
44
As medidas de reflectância foliar foram obtidas utilizando o
espectrorradiômetro FieldSpec HandHeld model, UV/VNIR (325 – 1075 nm). As
medições foram realizadas em agosto de 2010, efetuadas in situ, com auxílio de um
leaf clip (acessório equivalente a uma esfera integradora) utilizando um método
totalmente controlado, com incidência luminosa ortogonal e de mesma intensidade
para todas as amostragens. Foram tomadas 10 medidas para cada uma das 10
folhas adultas, sadias e totalmente expostas ao sol, dos cinco indivíduos de cada
espécie.
As medições foram realizadas na região mediana de folhas verdes, sadias e
adultas, as quais estavam mais expostas ao sol e inseridas em ramos localizados no
terço médio da copa. As leituras foram processadas para obtenção da média de
reflectância foliar para cada espécie.
45
As imagens multiespectrais foram georreferenciadas no sistema de projeção
cartográfica Transversal Universal de Mercator (UTM), coordenadas planas, com
auxílio do programa ENV1 4.5. O processamento das imagens envolveu uma análise
visual e estatística das características espectrais das sete bandas do sistema
TM/Landsat-5, separadamente. Para o mapeamento da cobertura vegetal foram
geradas imagens com valores de reflectância para cada banda analisada. Foram
avaliados os pixels correspondentes as áreas amostradas em campo para análise
botânica (9 pixels contíguos) e os pixels circundantes desta área.
Para obtenção das imagens com valores de reflectância foi realizada a)
calibração radiométrica das imagens para obtenção da radiância espectral
monocromática (Markham e Baker, 1987), com a utilização dos valores da Tabela 1,
e, por fim, b) a razão entre o fluxo de radiação refletida e o fluxo de razão incidente
(reflectância) (Allen et al., 2002), expressas pelas equações abaixo:
a) Radiância espectral
(9)
mínima (Tab. 1), a radiância máxima (Tab. 1), ND a intensidade do pixel (número
inteiro entre 0 e 255).
46
1,55 –
TM-5 -0.37 27.19 -0.37 30.20 -0.37 30.2 215.0
1,75
10,4 – 1.237 15.30 15.30
TM-6 1.2378 15.303 1.2378 -
12,5 8 3 3
2,08 –
TM-7 -0.15 14.38 -0.15 16.50 -0.15 16.50 80.67
2,35
b) Reflectância
(10)
(b4 b3)
IVDN (11)
(b4 b3)
47
anos de 1988 e 2011, e para auxiliar a análise da condição biológica da vegetação
foram utilizados os valores do ano de 2010, disponibilizados pelo CPTEC/INPE
(2011). Como o órgão não disponibilizava os dados para o Município do Brejo da
Madre de Deus foram utilizados os valores de acúmulo diário da pluviosidade do
município mais próximo à área de estudo, Caruaru-PE.
(12)
(13)
48
Onde: R681 é equivalente ao valor de reflectância das folhas no comprimento de
onda em 681 nm e, R498, equivalente aos valores em 498 nm.
(14)
(15)
49
Onde: R529 é equivalente ao valor de reflectância das folhas no comprimento de
onda em 529 nm e, R569, equivalente aos valores em 569 nm.
(16)
(17)
(18)
(19)
50
Onde: R800 é equivalente ao valor de reflectância das folhas no comprimento de
onda em 800 nm e, R650, equivale aos valores de reflectância em 650 nm.
(20)
51
acordo com Pereira (2003) e Andrade et al. (2005), isto é indicativo de que a área
passou/passa por intensa perturbação ambiental, uma vez que a riqueza de
espécies deve ser proporcional ao bom estado de conservação dos fragmentos
vegetacionais.
52
(Fig.3). A média desta classe, se somada às classes 2 (3m - 3,5m) e 3 (3,5m –
4,0m), resulta em uma média de 3,5m para o fragmento vegetacional. Estudos
apontam uma variação de média de altura de 2,5m a 3,5m para a caatinga (Teles et
al., 2005; Francelino et al., 2003; Chaves et al., 2002).
Espécie NP DA DR FR DoR VI VC
53
Anadenanthera colubrina 22 131,8 2,67 5,37 0,02 8,08 2,70
Aspidosperma pyrifolium 72 181,9 12,50 17,60 0,11 30,21 12,61
Bauhinia cheilantha 9 155,5 1,34 2,20 0,01 3,55 1,35
Capparis flexuosa 2 150,0 0,29 0,48 0,002 0,77 0,28
Capparis yco 6 100,0 0,57 1,46 0,004 2,04 0,57
Croton blanchetianus 93 589,2 52,29 22,73 0,55 75,58 52,84
Jatropha molissima 4 150,0 0,57 0,97 0,004 1,55 0,57
Mimosa tenuiflora cf. 38 123,6 4,48 9,29 0,03 13,81 4,52
Myracrodruon urundeuva 15 126,6 1,81 3,66 0,02 5,50 1,83
Piptadenia stipulacea 67 231,3 14,79 16,38 0,07 31,24 14,86
Poincianella pyramidalis 24 154,1 3,53 5,86 0,032 9,43 3,56
Senna macranthera 5 140,0 0,67 1,22 0,008 1,89 0,67
Sideroxylon obtusifolium 33 172,7 5,44 8,06 0,05 13,56 5,49
Ziziphus joazeiro 19 131,5 2,39 4,64 0,03 7,06 2,42
54
área de 10.500m2 houve mudança em quase 6.000 m2 (Fig. 3). Desta, 2.800m2
correspondem a elementos acrescidos (ganho) na paisagem e 3.100 m2
corresponde à perda (Fig. 3). O cenário de não-mudança corresponde a 4.550 m2 e
consideram, também, as perdas menos expressivas para o referido parâmetro.
55
hídrica ou, ainda, em função de mecanismos de adaptação a essa condição, como a
caducifolia (Sampaio e Rodal, 2000).
O regime de precipitação pluvial foi distinto para o primeiro semestre dos anos
de 1988 e 2011 (Fig. 4). Em 1988, houve menor precipitação que no ano de 2011 e
as chuvas ocorreram com distribuição concentrada em poucos dias com valores
máximos de acúmulos diários equivalentes a 25mm/dia (Fig. 4). Isto é justificado
pelo fenômeno meteorológico atuante El Niño (CPTEC/INPE, 2011).
Figura 4. Acúmulo diário de precipitação pluvial para o primeiro semestre dos anos
de 1988 e 2011 em Caruaru, Pernambuco, Brasil.
56
diversos), danos causados pelo gado que é manejado em uma área vizinha e tem
acesso ao fragmento, e/ou ainda pela dinâmica fenológica das espécies que
compõem a paisagem atual (2011), a qual pode ser diferenciada daquela presente
na paisagem em 1988 (Sampaio e Rodal, 2000).
57
de 32ºC. As folhas apresentaram temperatura média em suas superfícies
equivalente a 27ºC.
58
Figura 7. Valores de Plant Water Index (PWI) para Aspidosperma pyrifolium,
Poincianella pyramidalis, Croton blanchetianus e Sideroxylon obtusifolium, espécies
lenhosas dominantes em uma área de caatinga em Fazenda Nova, Brejo da Madre
de Deus, Pernambuco, Brasil.
59
fisiológicos e manutenção/integridade estrutural são dependentes da disponibilidade
de água na planta (Larcher, 2000; Taiz e Zeiger, 2004).
As espécies apresentaram diferentes valores para o PRI (Fig. 10). Este índice
indica a eficiência foliar quanto ao uso da luminosidade para síntese de
fotoassimilados, onde valores mais próximos a zero correspondem às plantas mais
fotossinteticamente ativas. Neste sentido, Croton blanchetianus apresenta uma
maior atividade fotossintética, seguido por Sideroxylon obtusifolium e Aspidosperma
pyrifolium, e Poincianella pyramidalis encontra-se fotossinteticamente
inativo/repouso (Fig. 10).
60
Figura 10. Valores de Photochemical Reflectance Index (PRI) para Aspidosperma
pyrifolium, Poincianella pyramidalis, Croton blanchetianus e Sideroxylon
obtusifolium, espécies lenhosas dominantes em uma área de caatinga em Fazenda
Nova, Brejo da Madre de Deus, Pernambuco, Brasil.
61
Figura 11. Valores de Chlorophyll Normalized Difference Index (ChlNDI) para
Aspidosperma pyrifolium, Poincianella pyramidalis, Croton blanchetianus e
Sideroxylon obtusifolium, espécies lenhosas dominantes em uma área de caatinga
em Fazenda Nova, Brejo da Madre de Deus, Pernambuco, Brasil.
62
Figura 12. Valores de Pigment Specific Simple Ratio (PSSRa) ( clorofila “a”) para
Aspidosperma pyrifolium, Poincianella pyramidalis, Croton blanchetianus e
Sideroxylon obtusifolium, espécies lenhosas dominantes em uma área de caatinga
em Fazenda Nova, Brejo da Madre de Deus, Pernambuco, Brasil.
Figura 13. Valores de Pigment Specific Simple Ratio (PSSRb) (clorofila b) para
Aspidosperma pyrifolium, Poincianella pyramidalis, Croton blanchetianus e
Sideroxylon obtusifolium, espécies lenhosas dominantes em uma área de caatinga
em Fazenda Nova, Brejo da Madre de Deus, Pernambuco, Brasil.
63
Os valores de CRI apresentados pelas espécies indicaram a concentração de
carotenóides, com maior e menor valor exibidos por Poincianella pyramidalis e
Croton blanchetianus, respectivamente (Fig. 14). Estes pigmentos exercem função
auxiliar na captação de energia luminosa, além de atuarem como fotoprotetores
contra danos oxidativos (Uenojo et al., 2007).
64
Figura 15. Valores de Normalized Difference Vegetation Index (NDVIhy) a partir de
dados hiperespectrais para Aspidosperma pyrifolium, Poincianella pyramidalis,
Croton blanchetianus e Sideroxylon obtusifolium, espécies lenhosas dominantes em
uma área de caatinga em Fazenda Nova, Brejo da Madre de Deus, Pernambuco,
Brasil.
65
Sideroxylon obtusifolium apresenta arquitetura foliar com epiderme
unisseriada, onde ocorrem tricomas simples e ramificados (Fig. 16 C). A espessura
total da folha é igual a 199,24±2,02µm, sendo a folha mais espessa entre as
espécies analisadas. O mesofilo é compacto e dorsiventral, com 4 camadas de
parênquima paliçádico que correspondem a 50% do mesofilo. Idioblastos contendo
drusas estão imersos no parênquima.
Croton blanchetianus apresenta epiderme foliar unisseriada, onde ocorrem
tricomas pluricelulares estrelados, em ambas as faces. A espessura total da folha é
igual a 105,35±2,75µm. O mesofilo é compacto e dorsiventral, com uma camada de
parênquima paliçádico com células alongadas que correspondem a mais de 50% da
espessura total do mesofilo (Fig. 16 D). Idioblastos contendo drusas estão imersos
no parênquima e ocorrem, preferencialmente, entre as células do parênquima
paliçádico, naquelas imediatamente abaixo da face superior da epiderme.
As configurações estruturais apresentadas pelas espécies são típicas de
ambientes xerofíticos, como a caatinga, e atuam minimizando os danosos causados
pela irradiação solar direta sobre a folha e atuam como refletores da luminosidade
excessiva (Fahn e Cutler, 1992).
De acordo com Sims e Gamon (2002), a espessura foliar, maior número de
estratos de parênquima clorofiliano, sobretudo parênquima paliçádico, ou o maior
número de área ocupado por este tecido no mesofilo, aumenta a reflectância foliar.
Isto justifica os valores de NDVIhy das espécies analisadas, com maior valor deste
índice exibido pela espécies de maior espessura total da folha, Sideroxylon
obtusifolium.
Além da espessura foliar os tricomas e os cristais também ampliam os valores
de reflectância (Gausman e Cardenas, 1968). Os tricomas atuam como barreira
física à absorção da luz e os cristais, através da sua geometria estrutural
multifacetada, ampliam e espalham a luz no interior da folha (Fahn e Cutler, 1992).
Estes dois caracteres estiveram presentes em Croton blanchetianus e justificam que
esta espécie, embora possua a menor espessura total foliar entre as espécies, exiba
valor de NDVIhy superior a uma espécie que apresenta quase que o dobro de
espessura foliar, Poincianella pyramidalis.
66
Figura 16. Vista transversal da folha de espécies lenhosas dominantes em uma área
de caatinga em Fazenda Nova, Brejo da Madre de Deus, Pernambuco, Brasil: A.
Aspidosperma pyrifolium. B. Poincianella pyramidalis. C. Sideroxylon obtusifolium. D.
Croton blanchetianus. PE, parênquima esponjoso. PP, parênquima paliçádico. Seta,
cristais. Barras, 100m.
IV Conclusões
67
A deficiência hídrica foi identificada como fator estressor para a planta. As
estratégias fisiológicas e morfoanatômicas adotadas pelas espécies são uma
tentativa de ajuste a esta condição, a fim de garantir sucesso em sua manutenção
no ambiente (uso eficiente da água e fotossíntese).
V Agradecimentos
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74
5. Manuscrito II
a ser enviado ao periódico Progress in Physical Geography
75
Atributos funcionais como estratégias de resiliência
em plantas lenhosas em uma paisagem de
semiárido do Nordeste do Brasil1
1
Parte da tese da primeira autora
2
Programa de Pós-Graduação em Geografia, Departamento de Ciências
Geográficas, Universidade Federal de Pernambuco
3
Departamento de Biologia, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Unidade
Serra Talhada
Resumo
A caatinga é um dos principais ecossistemas do semiárido nordestino, tendo
por característica disponibilidade hídrica reduzida, e elevada temperatura e
intensidade de irradiação solar, que atuam como filtro de seleção para as espécies
que compõem a sua biota. Diante de características ambientais tão adversas, as
plantas que compõem a caatinga produzem estratégias funcionais para viabilizar a
sua permanência no ambiente. Este estudo objetivou identificar o padrão de
respostas de plantas às pressões peculiares à caatinga a fim de identificar quais os
recursos morfofuncionais foliares adotados como estratégia e sua frequência nestas
plantas. Para isto foram adquiridos dados morfológicos e anatômicos de folhas de
espécies lenhosas, naturalmente estabelecidas, em um fragmento de caatinga em
Fazenda Nova, Brejo da Madre de Deus, Pernambuco, seguindo metodologia usual
em análises vegetais. Entre as estratégias adotadas pelas espécies destacam-se
como padrão: indivíduos com dossel/copas abertas, folhas mais alongadas,
epiderme com cutícula espessa, elevado grau de sinuosidade das paredes
anticlinais das células fundamentais da epiderme, presença de tricomas, parênquima
clorofiliano diferenciado com parênquima paliçádico pluriestratificado, ocupando
cerca de 50% do mesofilo foliar. A formação de grupos funcionais ocorreu
independentemente da similaridade de classificação sistemática, reforçando a
premissa de que o desenvolvimento dessas características é o resultado do grau de
influência das condições ambientais e do grau de plasticidade das diferentes
espécies ali estabelecidas, mostrando comportamentos morfofuncionais similares.
Palavras-chave: caatinga, tipo foliar, área foliar, índice foliar, tipo funcional vegetal.
76
I Introdução
A caatinga é um dos principais ecossistemas do Nordeste do Brasil, se
destacando por recobrir grande parte do semiárido desta região (MMA, 2010).
As características ambientais deste bioma, como a escassez hídrica,
precipitação pluvial irregular, com sete a dez meses de estiagem, solo raso e baixa
capacidade de retenção hídrica, temperatura e intensidade de irradiação solar
elevadas, atuam como filtro de seleção para as espécies que compõem a sua biota
(Keddy, 1992).
As plantas que compõem a caatinga, frente a características ambientais
adversas, intensificadas pela degradação do solo e mudanças climáticas globais,
devem possuir uma elevada capacidade para apresentar mecanismos adaptativos
que viabilizem sua permanência no ambiente (MMA, 2010, Souza Filho et al., 2008,
Noomen et al., 2003).
Entre as estratégias adotadas pelos vegetais se destacam os ajustes
morfológicos e funcionais desenvolvidos pela folha. Como principal órgão
fotossintetizante com elevada plasticidade, a fim de garantir a produção de energia
para a planta, a folha é capaz de realizar modificações que minimizam os efeitos
danosos das altas temperatura e luminosidade que, entre outros fatores, ocasionam
a perda excessiva de água da planta para o meio e podem interferir nos processos
fisiológicos vitais do vegetal (Fahn e Cutler, 1992; Larcher, 2000; Lewis, 1972;
Marques et al., 1999; Menezes et al., 2003; Pyykkö, 1979; Taiz e Zeiger, 2004).
Alguns dos ajustes foliares são visivelmente perceptíveis, como a redução da
área foliar, modificação desta em espinhos ou acúleos. Outras estratégias ocorrem
em escala microscópica, como espessamento de cutícula, aumento do comprimento
de células e/ou número de camadas de tecidos especializados na produção de
fotoassimilados, como o parênquima paliçádico (Araus e Hogan, 1994; Almeida et
al., 2009).
Estas estratégias são consequência da plasticidade vegetal frente às condições
adversas do ambiente e são comuns às plantas estabelecidas em uma mesma área
ou em áreas distintas que possuam caracteres ambientais semelhantes (Larcher,
2000; Bótta-Dukàt, 2005; Ricotta, 2005; Petchey e Gaston, 2006; Zarco-Tejada et
al., 2004).
A presença de plantas com atributos semelhantes em uma mesma comunidade
vegetal sugere a existência de padrões que se repetem frequentemente, formando
77
grupos de espécies similares quanto à frequência de uma série de atributos
similares e com mesmo comportamento frente às variáveis do ambiente. Este grupo
constitui, assim, um Tipo Funcional Vegetal (TFV) (Weiher e Keddy, 1995, 1999;
Kleyer, 1999; Müller, 2005; Box, 1996; Gitay e Noble, 1997; Grime et al., 1997;
Orlóci e Orlóci, 1985; Pillar, 2003; Pillar e Orlóci, 1993).
A identificação de um TFV e dos atributos que o constituem têm sido utilizados
como ferramenta para a determinação do comportamento das plantas na paisagem,
visando avaliar a influência de fatores ambientais sobre os vegetais (Müller, 2005).
Tais análises possibilitam a descrição de padrões e processos existentes nas
comunidades vegetais e a quantificação do caráter adaptativo das plantas,
essenciais ao estudo e prevenção de consequências advindas das mudanças
globais sobre a vegetação (Pillar, 2003; Pillar e Orlóci, 1993; Díaz et al., 1992; Pillar,
1999)
As plantas que apresentam sucesso no seu estabelecimento têm sido utilizadas
como referência para a realização de estudos que visam ampliar o entendimento do
comportamento do vegetal em um ambiente natural (Ackerly, 2004; Cornellissen et
al., 2003). Sendo assim, este estudo objetivou identificar o padrão de respostas de
plantas às pressões características da caatinga, colaborando com o
desenvolvimento do conhecimento acerca deste bioma, um dos menos preservados
e mais devastados no Brasil.
II Material e Métodos
1. Área de Estudo
Para a realização deste estudo foram selecionadas espécies lenhosas,
naturalmente estabelecidas em uma área de caatinga em Fazenda Nova, Brejo da
Madre de Deus, Pernambuco.
O município está localizado na mesorregião Agreste e na microrregião Vale
Ipojuca, na porção centro-leste do Estado de Pernambuco e ocupa uma área de
2
779,3 km . Está inserido nas Folhas da SUDENE de Santa Cruz do Capibaribe e
Belo Jardim na escala de 1:100.000, limitando-se, ao norte, com Santa Cruz do
Capibaribe e Taquaritinga do Norte, ao sul, com Belo Jardim, Tacaimbó e São
Caetano; ao leste, com Caruaru e Toritama e, ao oeste, com Jataúba (BRASIL,
78
2005). Localiza-se entre as latitudes 07°50’S e 08°18’S e longitudes 36°05’W e
36°30’W. A altitude aproximada da sede do município é de 627 m, distando 202,2
km da capital.
Brejo da Madre de Deus apresenta Patamares Compridos e Baixas Vertentes,
com relevo suave ondulado, Planossolos mal drenados, fertilidade natural média e
problemas com acúmulo de sais; Topos e Altas Vertentes com solos Brunos não
Cálcicos, rasos e fertilidade natural alta; Topos e Altas Vertentes do relevo ondulado
com solos Podzólicos drenados, fertilidade natural média e Elevações Residuais
com solos Litólicos rasos, pedregosos e fertilidade natural média (BRASIL, 2005).
Fazenda Nova possui cobertura pedológica distinta do descrito para a sede
do Município de Brejo da Madre de Deus devido às diferenças topográficas que
estimulam o desenvolvimento de caracteres fisionômicos intrínsecos, influenciando
na formação do solo (Silva et al., 2009). O comportamento exibido pelo solo denota
a sua plasticidade em relação ao meio, sobretudo quanto à quantidade de água que
se infiltra ou excede na superfície. Em Fazenda Nova, a estrutura observada é
consequência do clima semiárido e seu estágio de desenvolvimento é determinado
por sua posição na superfície, exposto em verdadeiras catenas de solos semiáridos
(EMBRAPA – Solos, 2000). Encontra-se uma variedade de solos, com destaque
para os Planossolos, Neossolos Regolíticos e Litólicos. Além destes, há a
participação de outros de tipos de solo, porém em menor expressão areal:
Argissolos, Luvissolos, Glevssolos Háplicos e os Neossolos Flúvicos,
respectivamente, em ordem decrescente de extensão (Silva et al., 2009; EMBRAPA
– Solos, 2002).
Quanto aos aspectos geológicos, Brejo da Madre de Deus está inserido no
Batólito Caruaru-Arcoverde, se destacando na Província Borborema, por ser a maior
unidade de associação cálcio-alcalina de alto potássio (Melo, 2000).
O clima é do tipo Tropical Semiárido com chuvas de verão, em concordância
com as condições climáticas do semiárido nordestino, mostrando transição gradual
de extrema semi-aridez à uma maior umidade, determinadas pela topografia.
O período chuvoso de Fazenda Nova tem início em novembro e término em
julho, porém ocorre de forma descontínua e os valores máximos de precipitação
pluvial são atingidos durante os meses de março, abril e julho. Esta máxima
corresponde a 50% dos 557 mm registrados como precipitação média anual para a
área e é justificado pela influência da zona de convergência intertropical, com
79
apogeu no hemisfério sul em março e abril, ondas de este e pelas correntes
perturbadas do sul. O período seco tem duração de 7-8 meses (Silva et al., 2009).
A temperatura média anual é equivalente a 22°C, atingindo as máximas
durante os meses de novembro e dezembro (31ºC) e mínimas durante agosto e
setembro (17,9ºC), esta última decorrente da orografia (BRASIL, 2005; Silva et al.,
2009).
O município apresenta vegetação de brejo e caatinga e está inserido nos
domínios da Bacia Hidrográfica do Rio Capibaribe (BRASIL, 2005). Quanto à
ocupação vegetacional, foi identificado que 56% da área vegetada em Brejo da
Madre de Deus potencializam o vigor e a densidade da vegetação com o aumento
da altitude (Silva et al., 2008). De acordo com Silva et al. (1998), nas referidas áreas,
os tipos vegetacionais predominantes são correspondentes ao Tipo Florestal AG 3
(vegetação arbustiva arbórea fechada), caracterizada por espécies com altura média
de 4,0 m e indivíduos emergentes de 7,0 m), entre 550 e 750m de altitude, e ao Tipo
Florestal AG 4, “Brejo de Altitude”, com vegetação arbórea fechada, presença de
alguns arbustos, altura média de 5,0 m e emergentes com mais de 8,0 m.
A vegetação rala e esparsa representa, aproximadamente, 40% do município
(Silva et al., 2008). Esta organização menos densa, aliada, entre outros, às
condições decorrentes da altitude (altitude igual ou inferior a 500 m), apresentam
uma configuração característica de vegetação de caatinga. Silva et al. (1998)
afirmam que nestas áreas, a vegetação predominante é Tipo Florestal AG 2,
caracterizada por apresentar uma vegetação arbustiva arbórea aberta (caatinga),
com espécies caducifólias de altura média de 3,0 m e emergentes de 5,0 m.
O fragmento vegetacional selecionado para este estudo a feição Tipo
Florestal AG 2. As espécies neste fragmento apresentam caracteres anatômicos,
morfológicos, fisiológicos e funcionais adaptados a um ambiente de intensa radiação
solar, baixo teor de umidade e precipitações escassas e irregulares devido à sua
grande sensibilidade à presença de água disponível, apresentando, em sua
dinâmica populacional, uma resposta fortemente relacionada à variabilidade dos
fenômenos meteorológicos atuantes sobre ela (Braga et al., 2003; Ribeiro et al.,
2007).
As espécies que constituem o tipo vegetacional predominante em Brejo da
Madre de Deus apresentam caracteres anatômicos, morfológicos, fisiológicos e
funcionais adaptados a um ambiente de intensa radiação solar, baixo teor de
80
umidade e precipitações escassas e irregulares devido à sua grande sensibilidade à
presença de água disponível, apresentando, em sua dinâmica populacional, uma
resposta fortemente relacionada à variabilidade dos fenômenos meteorológicos
atuantes sobre ela (Braga et al., 2003; Ribeiro et al., 2007).
2. Procedimentos em Campo
2.1. Desenho experimental
Para a aquisição do material botânico (folhas adultas e sadias) e obtenção de
dados fitossociológicos foi selecionada uma área com vegetação de caatinga
preservada pertencente à propriedade privada “Fazenda Incó”, situada no distrito de
Fazenda Nova, Município de Brejo da Madre de Deus, PE.
Em uma área equivalente a 1 hectare foram fixadas 100 parcelas contíguas de
10m x 10m (Fig. 1). Todos os indivíduos arbóreos e/ou arbóreo-arbustivos, com
altura superior a 1,5 m estabelecidos nas sub-parcelas ou deslocados até 1 m de
distância do limite total da parcela foram contabilizados para determinação do
número de espécies, frequência e dominância.
81
Figura 1. Localização da área de estudo e sobreposição do desenho experimental
das parcelas fixadas em campo (100m2) sobre imagem de satélite sistema TM
(Thematic Mapper)/Landsat-5 de Fazenda Nova, Brejo da Madre de Deus,
Pernambuco.
3. Procedimentos em Laboratório
As plantas foram identificadas em diferentes níveis (e.g. família, gênero e
espécie), seguindo o sistema de classificação de Cronquist (1981). As identificações
foram realizadas com auxílio de bibliografia especializada, comparação com material
de herbário e consulta aos especialistas em diversos grupos taxonômicos. A autoria
dos nomes específicos foi confirmada através dos sites do Missouri Botanical
Garden (http://www.tropicos.org) e da Flora Brasiliensis no site do Centro de
Referência em Informação Ambiental-CRIA (http://florabrasiliensis.cria.org.br).
82
somatório do número de subunidades em uma folha multiplicado pelo valor médio da
área das subunidades.
A análise das células da epiderme foi realizada em fragmentos resultantes de
imersão em hipoclorito de sódio a 20, 30 ou 50%, até completa dissociação. Os
fragmentos epidérmicos foram lavados em água destilada, corados com safranina e
azul de astra e montados em glicerina 50% (Johansen, 1940), e as lâminas lutadas
com esmalte de unhas incolor.
Para a análise do mesofilo, secções transversais das folhas foram obtidas de
sub-amostras retiradas da porção mediana da lâmina foliar, incluindo a nervura
principal. Todas as secções foram realizadas à mão livre, com auxílio de lâmina
comum de barbear, e imersas em solução de hipoclorito de sódio a 10% até
clarificação. Em seguida, os cortes foram lavados com água destilada, coloridos com
safranina e azul de astra e montados em glicerina 50%.
A descrição e a classificação da estrutura morfológica foliar seguiram a
terminologia de Barroso et al., (2002).
83
Espessura do parênquima paliçádico e esponjoso
Número de camadas do paliçádico e esponjoso
84
Ziziphus joazeiro Rhamnaceae Juá
85
Tabela 1. Atributos morfológicos foliares de espécies lenhosas naturalmente estabelecidas em uma área de caatinga em Fazenda
Nova, Brejo da Madre de Deus, Pernambuco, Brasil.
ATRIBUTOS MORFOLÓGICOS FOLIARES
ESPÉCIE
Tipo Forma Ápice Base Margem
Anadenanthera colubrina composta oval Agudo Obtusa Inteira
Aspidosperma pyrifolium simples oval Agudo Obtusa Inteira
Bauhinia cheilanta composta oval bilobado Cordada Inteira
Capparis flexuosa simples oblonga Agudo Obtusa Inteira
Capparis yco simples oblonga Agudo Oblíqua Inteira
Croton blanchetianus simples oblongo-ovada Agudo Cordada Inteira
Jatropha molissima simples 5-lobada, largamente ovada Agudo Cordada Ciliada
Mimosa tenuiflora cf. composta oblonga redondo Oblíqua ciliada curta
Myracrodruon urundeuva composta oval Agudo Obtusa Serrilhada
Piptadenia stipulacea composta oblonga redondo Oblíqua Inteira
Poincianella pyramidalis composta oblonga Agudo Obtusa inteira - levemente ondulada
Senna macranthera composta ovado-lanceolada redondo Obtusa Inteira
Sideroxylon obtusifolium composta oval redondo Obtusa Inteira
Ziziphus joazeiro simples oval agudo Cordada levemente serrilhada
86
Quanto às formas foliares, foram observadas espécies com folhas ovais,
oblongas, oblongo-ovadas e ovado-lanceoladas (Tab. 1). As margens das folhas da
maioria das espécies apresentaram-se inteiras, excetuando Myracrodruon
urundeuva e Ziziphus joazeiro, com margens serrilhadas, e Jatropha molissima e
Mimosa tenuiflora cf., com margens ciliadas (Tab. 1).
Embora a forma da lâmina foliar seja determinada pela carga gênica, as
características edáficas e climáticas poderão influenciá-la alterando a configuração
foliar da espécie (Fahn e Cutler, 1992; Roth, 1984; Fahmy, 1997; Tanner e Kapos,
1982; Turner et al., 1995; Larcher, 2000; Lewis, 1972; Pyykkö, 1979; Marques et al.,
1999).
Quanto à área foliar, as espécies que apresentaram folhas compostas,
constituídas por número de subunidades variando de 4-56, apresentaram os
menores valores destacando-se Mimosa tenuiflora cf., Piptadenia stipulacea e
Anadenanthera colubrina por (Tab. 2). Alguns autores (Lewis, 1972; Ashton e Berlyn,
1992; Thompson et al.,1992; Fahmy, 1997; Smith et al., 1997; Marques et al., 1999;
Hanba et al., 2002; Hlwatika e Bhat, 2002) indicam que as espécies reduzem a área
foliar para minimizar a perda de água excessiva para o ambiente.
Quanto aos caracteres espaciais da lâmina foliar, as espécies apresentaram
dominância de folhas mais alongadas do que largas, excetuando Bauhinia cheilanta
(isodiamétrica) e Senna macranthera (folhas largas, devido a disposição dos folíolos)
(Tab. 2). Isto é identificado através da relação do comprimento dividido pela largura,
denominado por Reis (2003) de índice foliar, onde os valores numericamente iguais
a 1 correspondem a folhas com lâminas isodiamétricas, <1 são mais largas que
longas e >1 são, proporcionalmente, mais alongadas.
O investimento no maior comprimento foliar, em detrimento da largura da
lâmina, em Piptadenia stipulacea, Mimosa tenuiflora cf., Croton blanchetianus,
Anadenanthera colubrina (Tab. 2), mostraram influenciar na densidade das copas.
Espécies arbóreas e/ou arbóreo-arbustivas que apresentam copas densas
apresentam folhas com dimensões e arranjos morfoanatômicos diferentes para
aquelas que estão no interior e exterior da copa; isto é consequente da quantidade
de luminosidade recebida por essas folhas. Aquelas que ocupam o interior da copa
apresentam uma maior área foliar e consequente maior quantidade de tecidos
fotossintetizantes, a fim de maximizar a absorção luminosa. Isto irá implicar em um
maior investimento do vegetal na produção de biomassa e demanda de energia para
87
a sua manutenção (Lewis, 1972; Ashton e Berlyn, 1992; Thompson et al.,1992;
Hanba et al., 2002; Hlwatika e Bhat, 2002). Neste sentido, podemos conjecturar
acerca da estratégia das plantas que possuem copas menos densas, com
dimensões semelhantes para as folhas no interior e exterior da copa, permitindo
uma maior economia de energia na manutenção das mesmas.
88
frente as altas temperatura e luminosidade e reduzida disponibilidade hídrica
(Meirelles et al., 1997; Pyykkö, 1966; Haberlandt, 1928).
As espécies, em sua maioria, apresentaram espessamento homogêneo da
cutícula em ambas as faces da epiderme (Tab. 3). Este atributo atua como barreira
contra a incidência direta de raios luminosos e impermeabilização da folha, evitando
a perda excessiva de água para a atmosfera (Fahn e Cutler, 1992; Roth, 1984;
Fahmy, 1997; Tanner e Kapos, 1982; Turner et al., 1995).
As espécies, em sua maioria, apresentaram espessamento homogêneo da
cutícula em ambas as faces da epiderme (Tab. 3). Este atributo atua como barreira
contra a incidência direta de raios luminosos e impermeabilização da folha, evitando
a perda excessiva de água para a atmosfera (Fahn e Cutler, 1992; Roth, 1984;
Fahmy, 1997; Tanner e Kapos, 1982; Turner et al., 1995).
Todas as espécies investiram, aparentemente, no desenvolvimento de
tricomas, excetuando Anadenanthera colubrina, Capparis flexuosa e Piptadenia
stipulacea. Os tricomas possibilitam às espécies da caatinga uma atenuação dos
danos causados pela incidência direta dos raios solares, formando um dossel sobre
a lâmina foliar, aumentando a reflectância. Além disso, a presença de tricomas pode
minimizar os impactos causados pelo contato direto das células comuns da
epiderme com o ar em movimento em torno da folha (Niinemets, 1999;
Karabourniotis et al., 1999, Medeiros e Morretes, 1995).
A eficiência da estratégia associada à presença de tricomas nas folhas é
maximizada quando estas estruturas ocorrem em ambas as faces, como observado
em Bauhinia cheilanta, Capparis yco, Croton blanchetianus, Jatropha molissima,
Mimosa tenuiflora cf., Myracrodruon urundeuva, Poincianella pyramidalis e Senna
macranthera (Tab. 3)
Quanto aos estômatos, as espécies apresentaram os tipos paracítico,
anomocítico, actinocítico e tetracítico, com disposição na lâmina variando entre
hipoestomático (localizados apenas na face abaxial) e anfiestomático (localizados
em ambas as faces da epiderme) (Tab. 3). Quando em anfiestomatia, os estômatos
apresentaram-se visivelmente mais abundantes na face abaxial. Embora o tipo
estomático e a localização desta estrutura sejam determinados geneticamente,
estudos apontam a influência do ambiente na sua densidade e maior abundância na
face da epiderme sob menor insolação (Mott et al., 1982; Niinemets,
89
Tabela 3. Atributos epidérmicos foliares de espécies lenhosas naturalmente estabelecidas em uma área de caatinga em Fazenda
Nova, Brejo da Madre de Deus, Pernambuco, Brasil. AD. face adaxial; AB. face abaxial; S. sinuosa; R. reta; LS. levemente
sinuosa; D. delgada; E. espessa; TE. tricoma estrelado; TS. tector simples; TPU. tector pluricelular unisseriado; TGG. glandular
globoso; TGGP. glandular globoso pluricelular; P. paracítico; AN. anomocítico; ANS. anisocítico, AC. actinocítico; TTR. tetracítico.
ATRIBUTOS EPIDÉRMICOS FOLIARES
Células comuns Estruturas anexas
ESPÉCIE
Sinuosidade Cutícula Tricomas Estômato
90
1999; Cintron, 1970; Lleras, 1977; Givnish, 1987; Dong e Zhang, 2000; Hlwatika e
Bhat, 2002).
Quanto à arquitetura do mesofilo, as espécies, em geral, apresentam estrutura
dorsiventral, excetuando Mimosa tenuiflora cf., a qual apresenta mesofilo
indiferenciado (Tab. 4).
As espécies com folhas dorsiventrais apresentaram, em sua maioria, duas ou
mais camadas de parênquima paliçádico, com maior número de estratos em
Sideroxylon obtusifolium (4 camadas) (Tab. 4). Embora Capparis yco, Croton
blanchetianus e Poincianella pyramidalis apresentem apenas uma camada de
parênquima paliçádico, as folhas destas espécies se assemelham às demais quanto
a proporcionalidade na ocupação do mesofilo por este tecido. Cerca de 50% do
mesofilo é ocupado por parênquima paliçádico, com percentuais superiores a 70%
para Croton blanchetianus, a espécie de maior dominância na área.
O formato alongado das células do parênquima paliçádico e o grande número
de cloroplastos localizados próximos à parede celular tornam este tecido o de maior
eficiência na produção fotossintética, quando comparado aos demais tecidos
fotossintetizantes. Sendo assim, quanto maior o número de camadas deste tecido ou
área ocupada por ele no mesofilo, maior o potencial da planta na conversão de
energia luminosa em carboidrato (Larcher, 2000; Ashton e Berlyn, 1992; Thompson
et al.,1992; Hanba et al., 2002; Hlwatika e Bhat, 2002; Meirelles et al., 1997; Pyykkö,
1966; Haberlandt, 1928).
Quanto ao parênquima esponjoso, as espécies apresentaram folhas com três
(Poincianella pyramidalis e Senna macranthera) a nove (Jatropha molissima)
camadas deste tecido (Tab. 4). Além de colaborar com a produção fotossintética
foliar, este tecido possui espaços intercelulares onde ocorre o armazenamento de
água sob a forma de vapor e auxilia nas trocas gasosas (Larcher, 2000; Hanba et
al., 2002; Hlwatika e Bhat, 2002; Meirelles et al., 1997; Pyykkö, 1966; Haberlandt,
1928).
Os espaços intercelulares também influenciaram na espessura foliar total das
espécies, onde os maiores valores para este atributo foram apresentados pelas
plantas com parênquima esponjoso menos compacto (Tab. 4).
91
Tabela 4. Atributos do mesofilo foliar em espécies lenhosas naturalmente estabelecidas em uma área de caatinga em Fazenda
Nova, Brejo da Madre de Deus, Pernambuco, Brasil.
MESOFILO
Espessura Foliar
ESPÉCIE Parênquima Paliçádico Parênquima Esponjoso
Total (µm)
Espessura Espessura
Camadas Camadas
(µm) (µm)
Anadenanthera colubrina 2 33,37± 1,44 4 48,75±3,19 107,12±2,06
Aspidosperma pyrifolium 2a3 58,19± 1,88 5 89,12±10,31 182,31±4,39
Bauhinia cheilanta 2 51,20± 1,17 5a7 101,0±0,98 191,28±2,27
Capparis flexuosa 2 63,27± 6,21 5a7 80,41±4,83 117,41±8,79
Capparis yco 1 43,19± 5,57 4 62,63±9,22 135,82± 5,33
Croton blanchetianus 1 51,4±2,89 5 27,24±2,46 105,35± 2,75
Jatropha molissima 2a3 57,51±6,84 7a9 116,3±21,41 229,8±10,56
Mimosa tenuiflora cf. * 127,19±2,02 140,12±2,25
Myracrodruon urundeuva 2 64,12± 4,13 6 79,97±8,07 179,09± 3,32
Piptadenia stipulaceae 2a3 52,68±1,32 5 43,53± 3,53 133,85±1,76
Poincianella pyramidalis 1 75,04±2,88 3 73,77±2,21 188,18±2,01
Senna mancranthera 2 85,04±1,33 3 93,63±2,55 218,67±1,97
Sideroxylon obtusifolium 4 68,19± 7,06 5a6 85,69±12,29 199,24± 2,02
Ziziphus joazeiro 2 57,28± 3,10 4 70,43±5,15 155,75± 4,31
* Esta espécie apresentou parênquima clorofiliano indiferenciado com sete camadas de células.
92
De acordo com Pezzopane (2001), espécies submetidas a uma alta intensidade
luminosa apresentam lâmina foliar mais espessa que espécies estabelecidas sob
condições de luminosidade mais amena. O autor aponta, ainda, que o comprimento e o
número de camadas de células epidérmicas e do parênquima clorofiliano, bem como as
estratégias adotadas por estas, frente às oscilações ambientais, influenciarão
fortemente no espessamento foliar total.
O agrupamento por nível de similaridade dos atributos foliares identificados nas
plantas da caatinga de Fazenda Nova, Brejo da Madre de Deus, permitiram a
identificação de tipos funcionais vegetais (Fig. 2).
93
Anadenanthera colubrina). O segundo bloco corresponde às que adotaram estratégias
morfofuncionais foliares semelhantes, mostrando a formação de dois grupos funcionais.
O primeiro grupo funcional é formado por duas espécies: Poincianella pyramidalis
e Ziziphus joazeiro (Fig. 3). O segundo grupo concentra as demais espécies, com a
formação de outros grupos com menor nível hierárquico de similaridade (Fig. 3). De
acordo com Leishman e Westoby (1992), em regiões semiáridas, as análises de
agrupamento têm demonstrado pequenas variações dentro de um grupo.
Embora todas as espécies pertençam à mesma classe botânica, os agrupamentos
ocorreram independentemente da similaridade de classificação sistemática.
IV Conclusões
94
V Agradecimentos
VI Referências
95
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101
6. ANEXOS
102
Manuscript Submission Guidelines
Progress in Physical Geography
1. Peer review policy
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policy in which the reviewer’s and submitting author's names are always concealed from
each other. Each manuscript is reviewed by at least two referees once accepted for
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2. Article types
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interdisciplinary approach incorporating the latest developments and debates within
Physical Geography and interrelated fields across the Earth, Biological and Ecological
System Sciences. Contributions which review progress to date; which blend review
material with new and original findings; or which introduce material, methods or
techniques at the forefront of current knowledge, while setting directions for future work
are welcomed. Authors need not be uncritically exhaustive in synthesizing research on a
particular topic, but should concentrate on what they consider to be the most promising
recent productive trends and developments which are likely to be transformative. They
should further aim at the widest possible international coverage and should consider the
relevance of tangential or parallel developments to their fields. In addition, authors are
encouraged to evaluate the general significance of research to date, including practical
and policy applications where relevant.
1
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different interpretations of the approach, and we would welcome any preliminary
discussion of potential author's ideas. Please contact [email protected] in the
first instance.
6. Other conventions
None applicable.
2
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9. Manuscript style
3
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4
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