Clint Eastwood realiza e protagoniza Gran Torino. Nos últimos dez anos os filmes de Eastwood são um oasis no cinema. Este é mais uma obra prima. Depois de ter visto A Troca em Janeiro já tinha ficado maravilhado com a mestria com que Clint dirige actor mas, principalmente com a forma como brinca com a luz, ou com a falta dela. Já Mystic River, Million Dollar Baby tinham sido filmes "escuros" funcionando como uma espécie de metáfora da "condição humana".
Em Gran Torino, Eastwood é Walt, um americano, veterano da Guerra da Coreia, fechado, resmungão e viúvo. Tem como família apenas dois filhos de que admite não se saber aproximar e uma fiel cadela. É contra toda a cultura oriental resmungando até com o jipe de marca japonesa de um dos filhos.
Passa os dias no seu alpendre a amaldiçoar o seu bairro, em plena Detroit, "ocupado" por "chop-sueys" ou, como mais tarde descobre por "hmongs", um povo originário do Laos,Vietname e China que, combateu com os americanos contra os "vietcongs" e, emigraram em massa para os EUA. No mesmo alpendre onde espanta o jovem padre que promteu à esposa de Walt que olharia para ele.
Walt, reformado da Ford, é o orgulhoso dono de um Ford Gran Torino de 1972 que, desperta a cobiça de um dos "gangs" do bairro. Vendo a sua garagem ser assaltada, este homem de quase oitenta anos não tem problemas em puxar da sua espingarda. Mas, a sua vida só muda quando, vê alguns arruaceiros hmong ("as mulheres hmong vão para a universidade, os homens hmong formam gangs") no seu relvado. Volta a puxar da "riffle" e impõe respeito ao mesmo tempo que se torna um heroi para o bairro.
A família vizinha começa a conquistá-lo aos poucos com o seu agradecimento. Walt rende-se à boa comida oriental, rende-se a Sue, a simpática e bem-humorada vizinha, e , rende-se a Thao, um rapazinho sem perspectivas de futuro, a quem ensina a ser homem (deliciosa a sequência em que entra na barbearia e instrui Thao na arte de falar à homem) e arranja-lhe trabalho (deliciosa sequência em que Thao já fala à homem com o mestre de obras).
Excelente construção da personagem de Walt com os tiques de fúria em que, "rosna", que é xenófobo de forma engraçada e a roçar o carinhoso, que é um duro (frequentemente simula uma pistola com um dedo e aponta-a a quem se mete com ele, antes de mostrar a verdadeira...), que é um homem à antiga que colecciona ferramentas e arranja tudo em casa. Excelente a forma como vemos o resmungão Walt a sentir-se mais próximo dos vizinhos "hmongs" do que dos próprios filhos.
O filme do ano. De 2008 e 2009. Obrigatório.