Abertura 1812 de Tchaikovsky

Fazer download em docx, pdf ou txt
Fazer download em docx, pdf ou txt
Você está na página 1de 8

Abertura 1812 de Tchaikovsky

Nome: Arthur Dianin RA: 174785

Introdução

A abertura 1812 foi escrita em 1880 pelo compositor russo Piotr Llitch Tchaikovsky

para comemora a vitória da Rússia sobre as forças de Napoleão na batalha de Borodino,


em 1812, durante a Guerra Patriótica. a pedido de uma comissão imperial, a abertura
1812 foi concebida com o propósito de acompanhar a inauguração da Catedral do Cristo
Salvador em Moscovo, templo construído para comemorar a vitória russa sobre as
tropas napoleónicas que invadiram o país em 1812.

Em 1880, a vida de Pyotr Llyich Tchaikovsky estava em uma fase de grande atividade
e conquistas musicais, ele era um dos compositores mais aclamados do século XIX.
Nesse mesmo ano, Tchaikovsky estava com 40 anos e já tinha conquistado
reconhecimento considerável por suas composições anteriores, como o balé “O lago dos
Cisnes” e a “Sinfonia n° 4”. Nesse período ele continuou a trabalhar em várias peças
notáveis.

A primeira exibição da abertura 1812 ocorreu em 20 de agosto de 1882, em Moscou,


Rússia. A abertura foi executada por um enorme conjunto musical, incluindo uma
orquestra, coros e sinos de igreja. Além disso, para tornar a performance ainda mais
grandiosa, foram utilizados canhões reais para representar os disparos de canhão
mencionados na partitura. Essa primeira exibição da 1812 foi um evento memorável. A
obra foi executada ao ar livre, em um amplo campo próximo à catedral e milhares de
pessoas se reuniram para assistir. A música intensa e dramática de Tchaikovsky, criou
uma experiência impressionante para o público presente.

Além de uas composições, Tchaikovsky dedicou uma parte significativa de 1880 à


regência e à performance de suas obras. Ele viajou extensivamente pela Europa e pela
Rússia, apresentando suas sinfonias e concertos em várias cidades. Essas performances
ajudaram a consolidar sua reputação como um dos principais compositores da época.

No âmbito pessoal, Tchaikovsky enfrentou desafios emocionais em 1880. Ele lutava


com sua sexualidade e suas frustrações em relação ao casamento. Durante esse período,
ele manteve uma correspondência intensa e controversa com sua patrona e confidente,
Nadezhda Von Meck, embora eles nunca tenham se encontrado pessoalmente. A relação
entre Tchaikovsky e Von Meck proporcionou a ele um suporte financeiro considerável,
permitindo que ele se dedicasse à composição.

Análise da Abertura 1812

O primeiro episódio de 1812 (compassos 1-95) começa com um “Largo” ternário na


tonalidade de Mi bemol maior. Este fragmento cita um coral ortodoxo russo intitulado
Salvai-nos, Ó Senhor, interpretado inicialmente nas violas e cellos, e nas madeiras a
partir do compasso 23. Esse tema pode ser chamado de tema religioso.

O tema religioso desaparece em uma breve passagem transicional e desestabilizadora,

que é finalizada por uma cadência desafiadora no fagote, violoncelos e contrabaixos.

Para apoiar a melodia que merge no compasso 78, o tambor militar intervém, agora em

“Andante”, com a célula rítmica e sobre um pedal de dominante. Embora não

se trate de uma referência direta, a instrumentação, os intervalos melódicos e o ritmo

vigoroso deste fragmento parecem evocar características marciais. Raymond Monelle

sugere que os tópicos militares estabelecem um “canal direto para as associações viris e

ativas de soldados idealizados”, vinculando-os com aspectos morais como “heroismo,

aventura, masculinidade, coragem, força e decisão”. Por isso o tema do compasso 78 é

chamado de heróico. Essa parte delimita ainda o final do primeiro episódio e trava o

impulso das cordas que antecipam o andamento a seguir.


Um intervalo de oitava ascendente e sincopado abre o “Allegro Giusto” do segundo
episódio (compassos 96-357). Durante os compassos iniciais, predomina a indefinição
harmónica e o deslocamento da acentuação; a percussão sublinha a confusão e a
orquestra divide-se em dois grandes grupos. Erguendo-se por cima do desconcerto, na
anacruse do compasso 120, surge um elemento melódico novo, exposto em Si bemol
maior e Fá maior –na corneta e no trompete, respetivamente–, e ouvido ainda
homofonicamente nos metais em FFF. Este material constitui o tema invasor que é
denominado dessa forma devido ao seu contexto cultural. O tema invasor nos remete,
claramente, para o hino francês A Marselhesa, que foi proclamado como hinos nacional
da República Francesa em 1879 (um ano antes de a abertura 1812 ser composta).

Contudo, mais uma nova ideia aparece no compasso 165, após uma abrupta modulação
e sobre outro pedal de dominante. Essa ideia consta de dois elementos de carácter
contrastante: uma melodia circular em valores longos e sem tonalidade estável, e um
outro motivo inquieto em Mi bemol menor, onde a articulação da flauta e do corne
inglês evoca certo ar de dança, reafirmado pela insistente célula rítmica da
pandeireta. O primeiro destes elementos recicla um fragmento da ópera O Voivoda
Enquanto o segundo cita uma melodia popular russa harmonizadas anos antes pelo
próprio Tchaikovsky.

Porém esses dois elementos nunca se desenvolvem de maneira independente. Por isso a
união dos dois pode ser chamada de tema lírico-popular, exposta entre os compassos
165 e 223. Como conclusão dessa segunda parte, o tema invasor inicia um diálogo entre
as trompas e as cordas. Intervém insistente tambor militar. Finalmente, o tema invasor
trata de confrontar o tutti desde a corneta e o trompete em valores longos, sendo nesse
momento interrompido por cinco salvas de canhão. Um gesto descendente apodera-se
da orquestra e conduz o rallentando até o episódio final. Recuperada a tonalidade de Mi
bemol maior, a terceira parte (compassos 359-422) reexpõe o “largo” inicial em ¾. Uma
“banda” apoia o tema religioso do compasso 39, ouvido nos sopros, enquanto as cordas
preenchem os intervalos de oitavas ascendentes e descentes. Entram os sinos e o tema
heroico ressurge no tutti num “Alegro Vivace” quaternário e eufórico. A percussão e as
salvas de canhão que vinham sublinhando as acentuações da linha melódica
estabilizam-se progressivamente. Por fim, no compasso 388 aparece um material novo,
no registro grave da orquestra, em modo de coda. Um breve desenvolvimento do tema
heroico encarrega-se de fechar o discurso. Tchaikovsky cita nesta coda as primeiras
notas do antigo hino russo Deus Salve o Czar (Bozhe, Tsarya khrani).

Deus Salve o Czar implica um anacronismo em relação ao programa da abertura. O


compositor sacrificou o rigor histórico de 1812 para representar um império unido em
torno de seu monarca. Ou seja, um soberano erguido sobre o seu império. Em cinco dos
seis temas examinados encontramos o que Edward T. Cone denominou a persona vocal
de um texto Esta persona, recuperada em algumas versões com coro, divide a abertura
em dois entes culturalmente distinguíveis: uma realidade russa, religiosa, aristocrática,
popular e tradicionalista, e uma realidade francesa, simplista e rígida. sabemos,
seguindo a narrativa do programa e do próprio discurso musical, o tema heroico pode
ser igualmente enquadrado na realidade russa. Desta forma, o compositor apresenta um
primeiro episódio de temas russos onde impera a sobriedade, um segundo episódio
caracterizado pela teimosia desestabilizadora do tema invasor, e um episódio final onde
a realidade russa é triunfalmente coroada. Cone também falou da persona implícita, que
definiu, no caso do Lied, como a voz narradora onde convergem a persona vocal do
poema e a persona virtualmente inferida da parte instrumental, e apontava depois:
“como um narrador, o acompanhamento muitas vezes parece evocar e comentar as
palavras e as ações implícitas da persona retratada pelo cantor. Desse ponto de vista, o
acompanhamento seria considerado o representante mais direto da voz do compositor
ou, como gostaria de dizer, da persona musical completa.” Se por acompanhamento
entendermos o material acrescentado pelo compositor aos temas previamente existentes,
e ainda o tratamento musical experimentado pela dimensão literária dos mesmos,
podemos afirmar que o autor implícito ou a persona musical completa de 1812 não está
apenas a descrever um programa, mas a expressar também uma opinião. O tema
invasor, por exemplo, aparece sempre sobre tonalidades frágeis e acompanhamentos
vertiginosos. Aliás, a fórmula rítmica inicial do hino francês é substituída por um
que evoca um soldadesco “pas accéléré”. Este tema sucumbe, aliás, vítima da sua
própria insistência: quando na anacruse do compasso 328 –após múltiplas tentativas
sem qualquer desenvolvimento tenta afirmar-se de maneira categórica, uma salva de
artilharia impõe a mudança que o discurso musical vinha exigindo. Pelo contrário, os
temas russos conseguem manifestar as suas ideias sem impedimentos, alterações ou
cortes. O acompanhamento das melodias flui sossegado e as tonalidades permanecem
estáveis durante longos períodos; a sua instrumentação é rica e tudo alude a uma maior
variedade de tópicos: coral, militar, estilo cantado.116 A realidade russa ergue-se assim
plural e resiliente frente a uma realidade francesa monolítica. Posto isto, podemos
concluir que em 1812 a persona musical completa situa-se a favor da realidade russa,
facto que se confirma na coda, com o tema religioso e o tema heroico abrangidos pela
melodia do hino czarista. Tchaikovsky não se mostrou satisfeito com o resultado final
da abertura: “Escrevi uma Abertura do Festival […] intitulada O Ano de 1812 […] Não
é de grande valor, e não ficarei nem um pouco surpreso ou magoado se você considerar
o estilo da música inadequado para um concerto sinfônico” escreveu numa carta dirigida
a Eduard Napravnik. Independentemente disto, o compositor conseguiu desequilibrar
musicalmente a balança em benefício de uma identidade nacional e uma dinastia que, na
altura da estreia, ele próprio simbolizava. Tendo em conta, portanto, a nossa análise e as
circunstâncias históricas que rodeiam a obra, podemos concluir que O ano 1812
dificilmente se abre a segundas interpretações.

Conclusão

A Abertura 1812 de Tchaikovsky é uma peça musical icônica que representa um


marco significativo na música clássica, é conhecida por seu estilo dramático e sua
instrumentação imponente. Tchaikovsky incorporou habilmente elementos patrióticos
russos à composição, incorporando o uso estratégico de sins de igreja e canhões, criando
um efeito sonoro espetacular. A peça evoca a atmosfera de guerra e celebração,
retratando vividamente a luta do povo russo contra a invasão do exército francês durante
as Guerras Napoleônicas.

A habilidade de Tchaikovsky em criar uma narrativa musical cativante é evidente na


abertura 1812. Através de seus temas melódicos emotivos, a música evoca uma gama de
emoções, desde a tensão e a agitação da guerra até a alegria triunfante da vitória. A obra
culmina em um clímax poderoso e emocionante, com a combinação majestosa dos sinos
de igreja, os disparos de canhões e a exuberante orquestração, deixando uma impressão
duradoura no público.

A Abertura 1812 de Tchaikovsky se tornou uma das composições mais populares e


amplamente reconhecidas do repertório clássico. Sua combinação única de elementos
históricos, patriotismo e virtuosismo musical conquistou o coração de audiências ao
redor do mundo. Além disso, a peça é frequentemente executada em grandes
celebrações e eventos como pro exemplo o 4 de julho nos Estados Unidos.

Em resumo, a Abertura 1812 de Tchaikovsky é uma obra-prima impressionante que


personifica a maestria musical do compositor russo. Sua rica instrumentação, melodias
evocativas e narrativa cativante a tornam uma peça inesquecível. É uma honra à história
e à coragem do povo russo, além de um tributo à música clássica que continua a inspirar
e encantar o povoa até hoje.

Bibliografia

Schmid, A. L. Adequação acústica dos espaços para a música.

Santos, P. (2017). Programação musical e multimédia.

Fernández Durán, R. (2020). A change in the language, a change in the thinking,


a change in the music: a música na obra de Alan Moore adaptada ao
cinema (Doctoral dissertation).

Tchaikovsky, M. (2018). The Life & Letters of Peter Ilich Tchaikovsky. BoD–
Books on Demand.

Bullock, P. R. (2016). Pyotr Tchaikovsky. Reaktion Books.

Brown, D. (2010). Tchaikovsky: the man and his music. Faber & Faber.

Você também pode gostar