Nota Ao Programa: Sinfonia Nº5 - Dmitri Shostakovich

Fazer download em docx, pdf ou txt
Fazer download em docx, pdf ou txt
Você está na página 1de 3

Trabalho de História da Cultura e das Artes

Nota ao programa: Sinfonia nº5 – Dmitri Shostakovich

Dmitri Shostakovich, nascido em S. Petersburgo, na Rússia, a 25 de Setembro de 1906,


foi, muito provavelmente o principal compositor de sinfonias de meados do século XX,
tendo composto 15 sinfonias, que revelam o seu estilo de composição próprio. A sua
linguagem musical é complexa e tem inúmeras influências, mas caracteriza-se
essencialmente pela emocionalidade intensa, e pela narração da sociedade de sua época,
naturalmente derivado pelo contexto político-social da sua região, a antiga União
Soviética (USSR).

Em 1936, após, o grande sucesso de sua 1ª sinfonia (estreada em 1926), por conta de
uma grande campanha de repressão política levada a cabo pelo regime, Shostakovich
começou a ser criticado e visado pelo jornal oficial do partido comunista, que
desaprovava, sobretudo, a sua linguagem vanguardista, pretendendo que o jovem
compositor a abandonasse, para obedecer aos ideais estéticos impostos pelo regime
comunista, abdicando da complexidade técnica, para retornar a uma espécie de
nacionalismo, adaptando-a a um carácter heroico e exultativo.

Como uma subtil resposta a esta situação, Shostakovich compôs, entre abril e julho de
1937 a sua 5ª sinfonia em ré menor, que estrou, em Leninegrado (atual S. Petersburgo) a
Novembro desse mesmo ano. A nova obra de arte alcançou um sucesso tremendo, pelo
que restabeleceu a sua aceitação pela crítica e as autoridades políticas. A sua 5ª sinfonia,
é, portanto, uma obra que utiliza uma organização clara, uma linguagem harmónica
menos áspera, com maior tonalidade do que antes, bem como o material temático
encontra-se bem mais acessível, não deixando, porém, de se denotar a marca pessoal de
Shostakovich nesta composição. Apresenta, ainda, a seguinte orquestração: 2 flautas e
piccolo, 2 oboés, 2 clarinetes em Sib e 1 em Mib, 2 fagotes e contrafagote, 4 trompas, 3
trompetes, 3 trombones, 1 tuba, variada percussão, 2 harpas e ainda piano e celesta,
aliados às usuais dimensões de cordas da orquestra sinfónica.

A quinta sinfonia de Shostakovich encontra-se dividida em 4 andamentos:

 I - Moderato-Allegro non troppo;


 II- Allegretto;
 III-Largo;
 IV-Allegro non troppo.

I – Moderato-Allegro non troppo:

Este primeiro andamento está composto em forma sonata e inicia-se com uma melodia
vigorosa apresentada pelas cordas, que subitamente desvanece, insistindo na repetição
de uma figura rítmica que acompanha uma expressiva melodia dos primeiros violinos.
A apresentação do material temático fica completa com o surgimento de um 2º tema,
que é derivado de uma canção tradicional russa. Segue-se a esta exposição, um
desenvolvimento que é visto como uma espécie de “névoa” na, até então, celebração da
cultura eslava, e que apresenta repentinas mudanças de atmosfera, desde a entrada do
piano e dos contrabaixos com a sua versão do tema original, a que se seguem
intervenções das madeiras, metais e percussão, assumindo, logo a seguir um carácter
marcial, até que é retomado, por parte das madeiras e das cordas as linhas melódicas
melancólicas iniciais, que levam ao fim do desenvolvimento, servindo como uma
espécie de ponte para a reexposição, na qual os temas são de novo apresentados, porém,
na ordem inversa, num acumular de tensão até um Clímax que se desintegra logo depois
na mesma atmosfera melancólica, à qual, nos últimos compassos assiste a um breve
vislumbre do motivo de abertura da obra e escalas cromáticas na Celesta, que conduzem
o andamento a um fim.

II- Allegretto

O segundo andamento é um scherzo, tratando-se de uma paródia sobre a valsa, numa


linguagem que concilia a elegância com a ironia, dando origem a uma música cheia de
espírito e também sátira. Depois do primeiro tema, que é uma variação do tema inicial
do 1º andamento, é inserido um trio, que é iniciado por um solo de violino sobre o
acompanhamento da harpa e das cordas em pizzicato, uma atmosfera que rapidamente
se muda para um ambiente ruidoso. Depois, o tema da valsa é novamente apresentado,
com uma orquestração reduzida, consistindo no staccato por parte dos fagotes, e nos
pizzicatos das cordas. Por fim, dá-se um último diálogo entre violino e oboé, como se
fosse uma resolução para o acumular de tensão, mas que, porém, uma espécie de
“detonação” conduz o andamento para um abrupto fim.

III-Largo

O terceiro andamento é um dos melhores espelhos do génio de composição de


Shostakovich, com as suas longas e sentimentais melodias, que dão um ambiente
elegíaco à música. Neste andamento estão presentes referências à Igreja Ortodoxa
Russa, e, ao nível da instrumentação, o compositor destaca-se por não utilizar em
absoluto os metais. Uma primeira longa frase das cordas abre o andamento, seguindo-se
intervenções do oboé, do clarinete e da flauta, expondo uma melodia melancólica.
Segue-se a preparação para um ponto culminante que tem um carácter angustiado,
constituindo o clímax emocional de toda a obra, na qual o compositor explora a
orquestra até ao limite de intensidade máximo, que acaba por se dirigir a um fim de
certa resignação e de volta a uma melodia melancólica.

IV-Allegro non troppo

O último andamento começa abruptamente com um carácter marcial, ao qual se segue


um período mais tranquilo e lírico que é terminado quando um breve solo de caixa e
tímpanos introduz uma lenta marcha em que é evocado o tema inicial deste andamento.
O Finale de extrema grandiosidade, é um triunfante hino, insistente num registo agudo e
no modo menor, o que culmina com a evocação de uma canção que Shostakovich tinha
composto sobre um texto de Púchkin que descreve o momento em que uma obra-prima
pintada por um génio, depois da tentativa de obliteração de um bárbaro cruel, acaba por
se revelar em toda a sua glória, o que leva esta obra de arte à sua triunfal conclusão.

Você também pode gostar