Ferreirafilho J Me Prud
Ferreirafilho J Me Prud
Ferreirafilho J Me Prud
Presidente Prudente
2016
JOÃO FERREIRA FILHO
Presidente Prudente
2016
FICHA CATALOGRÁFICA
AGRADECIMENTOS
A Deus, por me ter dado a vida, a capacidade de ser e a família que tenho.
Ao meu pai que, na sua simplicidade fez de seus filhos aquilo que não conseguiu
para si, sem nunca medir esforços para isto, pois acreditava ser o melhor.
A minha mãe, mulher guerreira e de fibra que, ainda hoje, sonha, vive, vibra e chora
por nossos sonhos.
A minha orientadora e amiga que acreditou em mim e me conduziu. Sua paciência,
dedicação, e seu desejo insaciável de buscar cada vez mais, foram para mim o maior
aprendizado nesta caminhada. Minha gratidão eterna.
A amiga Vanda que me estendeu a mão amiga no início desta caminhada.
Aos amigos e companheiros que fiz ao longo destes quase três anos de caminhada e
que permanecerão para sempre nas minhas memórias. Com a licença deles, três nomeio:
Célia, Vanessa e Pamela. Meu muito e eterno obrigado por tudo.
A todos meus amigos e companheiros de caminhada na educação pública estadual.
Embora ao citar nomes corra o risco de cometer injustiça, deixar de citar alguns deles também
me faria incorrer no mesmo risco, por isto opto por registar alguns deles: Célia Frias, mulher
guerreira que fez muito por mim e para mim enquanto eu me dedicava aos estudos; às minhas
supervisoras: Benirdes, que me ajudou a dar os primeiros passos na direção de escola e a
Luciene, que me manteve caminhando quando o caminho se fazia de pedras. A Alvina Rotta e
Augusta Klebis grandes exemplos de diretoras que acreditavam e fizeram a diferença na
escola pública. Ainda: Eliane, Márcia, Lucimara, Maria Teresa e tantos outros que comigo
caminham e acreditam. São amigos, são parceiros, são educadores.
Muito, mas muito obrigado mesmo.
10
LISTA DE TABELAS
LISTA DE QUADROS
RESUMO
ABSTRACT
This research is linked to the Post-graduate in Education of the Faculty of Science and
Technology University Estadual Paulista – Unesp – Campus of Presidente Prudente, and
inserted in the search line 4: Public Policy, School Organization and Teachers Formation. In
this training seek, the constitution of a public state school has a principle that is the
democratic management. Although provided by law and recognized as necessary and urgent,
the democratic management in schools constitutes a great challenge because it involves
changing habits end ingrained habits for decades in school administration and replacing them
requires heaking social paradigms, political, personal and, in some cases, legal. To make this
reflection, Traise central questions: How the story oh my life contributed to the formation of
the state public school principal who I am today? How I myself formed as a democratic
director wovied about the quality of teaching? From these questions define the objective of
this reserch that was to understand how I, in my cultural historical experiences, I was myself
constituting the public school principal I’m concerned about the democratic management and
the quality of teaching. The way of methodology that I used was the autobiography, so, I,
John, director of school – author/actor – looked at my life story built on the school ground and
analyzed whether these experiences and practices constituted the director who I am, with
democratic trend. The narrative which was born of my practice over eighteen years as a
principal of school, is structured following four great moments of my life. I, as a student I
observe the school; I, as a director that sought to use democratic practices, end was forming
me the school principal, and finally; I, principal and school community where I read and I try
to organize my practice in the light of comments and evaluations developed by the school
community. Interlace at my school experiences is the story of our society, the history of
education and of the academic theory production performed over time discussing topics such
as School Administration and Management School. I finish showing that the school principal
that I am today is done throughout my experiences and today exercised between allegiances
and normative search infidelities that were based on democratic management to improve the
quality of teaching.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 17
1 EU, ALUNO E O DIRETOR ...................................................................................... 44
2 EU, PROFESSOR E O DIRETOR ............................................................................ 78
3 EU, DIRETOR E O DIRETOR ................................................................................. 111
4 EU, DIRETOR E A COMUNIDADE ........................................................................ 185
CONSIDERAÇÕE FINAIS ........................................................................................... 214
REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 220
APÊNDICES ................................................................................................................... 225
APÊNDICE I – QUADRO DE REFERÊNCIA PARA A COLETA DE DADOS ... 225
APÊNDICE II – MODELO DA AVALIAÇÃO FINAL ............................................. 230
APÊNDICE III – AVALIAÇÃO FINAL – DIREÇÃO ............................................... 237
APÊNDICE IV – AVALIAÇÃO FINAL 2014 ............................................................. 247
APÊNDICE V – AVALIAÇÃO FIANL 2015 .............................................................. 257
17
INTRODUÇÃO
A educação escolar pública brasileira vem registrando mesmo de forma lenta, com
avanços e retrocessos, modificações ao longo da história. No início era uma educação
colonizadora voltada, principalmente, à catequese cristã dos nativos da terra, mas que logo se
elitiza para atender aos colonizadores que aqui chegavam; uma educação que precisou de
mais de 300 anos para ser entendida como dever do Estado e ter as séries iniciais oferecidas
para todas as pessoas.
Percebo que até o início da República brasileira a educação nada tem de democrática,
pelo contrário, temos é uma educação elitista e conservadora,
[...] é desanimador o saldo das medidas educativas nos primeiros tempos da história
do Brasil, com um ensino elementar precaríssimo e o acesso à escola como
privilégio de uma minoria, fato que, sem dúvidas, vai marcar a sociedade brasileira.
(DI GIORGI; LEITE, 2010, p. 309-310)
atende a quantidade, pois assim se terá garantido a qualidade social. Fora isto o que se tem é
uma educação elitizada, de privilégios, que atende uma parcela da sociedade.
Quando penso em democratização do ensino estou pensando no acesso de todos, na
permanência destes nos bancos escolares e na excelência da qualidade do ensino oferecido,
como já bem nos lembraram Cortella (1998), Libâneo (2015), entre outros e, assim
democratização da escola implica em real transformação da qualidade do processo ensino e
aprendizagem.
Em face desse lento processo de democratização do ensino e da rapidez e facilidade
com que circulam atualmente as informações na sociedade é urgente que a escola repense seu
tradicional papel de mera transmissora de conhecimentos aos alunos. Nóvoa (1995), ao reler a
história da educação, afirma que a partir dos anos de 1965 é impossível se pensar a escola fora
do universo social, a escola não está isolada de seu meio e por isto, afirma o autor, aspectos
sociais, culturais e familiares interferem e contribuem para promover a desigualdade nas
aprendizagens escolares.
É igualmente urgente que se repense e altere o papel e a função do diretor e demais
profissionais da educação diante desse novo cenário. Acredito que hoje é papel da escola
formar pessoas críticas e reflexivas; pessoas que assumam seu espaço na sociedade como
sujeitos históricos, que reflitam sobre a contemporaneidade histórica da escola, que
compreendam o mundo e escolham o modo de atuar na sociedade. Uma escola que consiga
assegurar a todos uma educação com sólida base científica e formação crítica de cidadania,
que assegure a todos o acesso ao conhecimento universal acumulado, para dele se apropriar,
[...] uma escola que corresponda aos interesses populares não será, nunca uma escola
que se limite a ensinar leitura, escrita, cálculo e outras noções elementares. Esta
escola deverá ser, também um escola que discuta, ao mesmo tempo, o próprio
conhecimento que está sendo transmitido, explicite os conceitos, os conteúdos
ideológicos que estão sendo transmitidos (BEISIEGEL, 1988, p. 21).
Essa escola descrita por Beisiegel (1988) é reafirmada por Libâneo, Oliveira, Toschi
(2012) ao ser entendida como espaço privilegiado para a formação da cidadania e não apenas
para ensinar a leitura, a escrita e o cálculo, habilidades importantes, mas insuficientes para
promover a consciência cidadã.
Estamos vivendo um período histórico de transição de valores, costumes e hábitos
que fazem com que a escola repense seu papel diante da sociedade que se impõe. Segundo
Libâneo (2015, p. 43-44), fazem parte destas mudanças sociais:
O que nos parece indiscutível é que, se pretendemos a libertação dos homens, não
podemos começar por aliená-los ou mantê-los alienados. A libertação autêntica, que
é a humanização em processo, não é uma coisa que se deposita nos homens. Não é
uma palavra a mais, oca, mitificante. É práxis, que implica a ação e a reflexão dos
homens sobre o mundo para transformá-lo. (FREIRE, 2014, p. 93)
Para alcançar esses objetivos acredito ser essencial que haja na escola um trabalho
com todos os sujeitos que estão envolvidos no processo ensino e aprendizagem.
O que me parece como Diretor de Escola é que a SEE/SP ainda não encontrou seu
caminho enquanto órgão central e gestor de políticas educacionais ou, se o encontrou, este
caminho seria o de fazer tudo para que as coisas permaneçam da forma como estão. Todavia,
eu não gostaria de pensar que seja este o caminho, porque isto é triste e trágico para a maioria
da população brasileira.
Mas, voltemos ao rumo de nossa reflexão.
O Plano Nacional da Educação (PNE), aprovado e regulamentado pela Lei nº 13.005,
em 25/6/2014 e válido para a próxima década, estabelece como uma de suas metas a Gestão
Democrática e estipula prazo para a sua implantação, dando aos Estados as condições para
que de fato isto se realize.
Meta 19: assegurar condições, no prazo de 2 (dois) anos, para a efetivação da gestão
democrática da educação, associada a critérios técnicos de mérito e desempenho e à
consulta pública à comunidade escolar, no âmbito das escolas públicas, prevendo
recursos e apoio técnico da União para tanto. (PNE, Meta 19, 2014)
Não quero ser pessimista e entendo o valor do Plano Nacional da Educação, mas não
enxergo a abertura para os diretores agirem com suas comunidades, fixar metas, construir
estratégias olhando com carinho e realidade de sua comunidade.
Há muitos problemas que atravessam o caminho da educação e que atrapalham a
realização dos ideais propostos, a começar pela dificuldade que se tem de trazer os pais para a
escola. São trabalhadores, a maioria de trabalhadores que labutam pesadamente o dia todo e
que, cansados, não conseguem vir à escola ou que, por sua pouca instrução acreditam que
poucos podem contribuir, assim, juntam cansaço com o desacreditar-se e não aparecem nas
23
reuniões. Entendo que entre a legalidade e a realidade há um abismo que tem se alargado ano
a ano e que precisamos, urgentemente, aterrar.
Também não percebo o Estado de São Paulo preocupado com a qualidade de seu
ensino. Uma rede de ensino com mais de cinco mil escolas não pode ter “bolsas de escola de
excelência” criadas e financiadas com dinheiro público e à custa do esquecimento e da
desgraça de outras escolas também públicas. Sim, o modelo atual de Escola de Tempo
Integral proposto pelo governo Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) do Estado de
São Paulo, parece ser muito bom, porém, seus professores são selecionados 1 entre os que se
candidatam por escolha ou por indicação, seus coordenadores, vices diretores e diretores
também são assim escolhidos e, esta “elite”, prestando as mesmas 32 horas semanais de
trabalho recebe um salário com 75% de aumento e ainda com o privilégio de poderem atuar
de forma integral nestas escolas, tudo o que todos nós queremos, mas que se tornou privilégio
de nem 1% das escolas públicas do Estado de São Paulo. É possível chamar a isto ensino de
qualidade? Ou, como já nos lembrou Cortella, seria apenas um ensino de privilégios para
privilegiados?
Garcia e Correa (2009) afirmam que é direito da sociedade ter e controlar a qualidade
dos serviços educacionais prestados pelo Estado, mas este direito também lhe confere
obrigações como garantia do exercício de cidadania, pois
Dessa perspectiva, ser usuário da escola pública é mais do que “fazer uso” de um
serviço, mas, representa ser sujeito na concretização de um direito, uma vez que o
ensino público é um bem social, produzido a partir da renda dos trabalhadores. Por
tanto, nada mais justo que a sociedade controle a qualidade do serviço prestado a
partir dos esforços que realiza para mantê-lo. Participar da gestão da educação por
meio dos diferentes conselhos [...] e da gestão escolar é, assim, exercício de controle
democrático legítimo, direito de todo cidadão. (GARCIA e CORREA, 2009, p. 226-
227)
Também precisamos entender que, embora sejam muitos os sujeitos que atuam no
espaço escolar e que poderiam provocar e articular as mudanças visando a gestão
democrática, se o Diretor de Escola não estiver aberto a acatar e colocar em prática tais ações,
muito difícil será a implantação destas mudanças.
Neste trabalho concebo como concepção de gestão democrática escolar aquela em
que o trabalho é realizado por todos os que estão envolvidos no processo do ensino e
aprendizagem, trabalho este firmado no diálogo, na discussão, na deliberação, na realização e
1
Os critérios de seleção destes profissionais me parecem bastante subjetivos. Ele é constituído – ao
menos em nossa diretoria de ensino – de uma avaliação de conhecimentos, uma entrevista e uma
ficha de pontuação atribuída de acordo com o olhar dos componentes da comissão de escolha e
seleção.
24
Além de:
Parece-me que ao diretor não cabe mais se colocar como aquele indivíduo isolado e
solitário que traz apenas sobre seus ombros o peso da responsabilidade do sucesso ou do
fracasso dos resultados pedagógicos; ele é o eixo fundamental da engrenagem escolar e
precisa estar alinhado com os anseios da equipe escolar e em concordância com o que lhe
cabe enquanto gestor.
Aqueles diretores que ainda insistem em manter sobre seu comando e direção todos
os afazeres da escola, sem delegar poderes e afazeres, corre o risco de sobrecarregar-se e não
dar conta de todas as dimensões que envolvem a gestão escolar, além disto, a escola não anda
em sua ausência, o trabalho fica dependente de sua pessoa e o diálogo entre a equipe escolar é
truncado e unilateral, portanto, um monólogo. Por mais que este diretor tenha ideias
inovadoras e que seu trabalho vise o bem comum, sua prática não é democrática e o bem
comum almejado por ele é fruto de suas percepções e não da vontade do coletivo.
É preciso também ter em mente, conforme nos ressaltam Libâneo, Oliveira, Toschi
(2012), que a forma de gestar a escola é apenas um meio que não pode ter outro fim que não o
do sucesso do processo ensino e aprendizagem. O elemento de trabalho da escola é o humano
e não podemos esquecer que este é composto de razão, mas também por sentimentos, desejos,
escolhas e paixões e que estas nem sempre dependem de sua livre escolha.
Além da dificuldade pessoal que o Diretor de Escola muitas vezes encontra em
buscar ser o articulador do processo democrático de gerir as escolas públicas estaduais, outro
fator de suma importância é o cotidiano escolar, que geralmente dificulta a ação do diretor. O
dia a dia do Diretor de Escola é composto por várias atividades aparentemente desconexas,
mas que, direta ou indiretamente passam por ele. O cotidiano do Diretor de Escola vai, desde
o assinar um Atestado de Frequência até a preparação e a participação de uma Aula de
Trabalho Pedagógico Coletivo (ATPC) são atividades que passam cotidianamente pela mesa
do Diretor de Escola. Organizar este cotidiano de modo a se ter clareza e prioridades
atendidas é uma habilidade que precisamos desenvolver.
Vale ressaltar também que, numa crítica ao papel do diretor, Paro (2011b) nos
lembra que este tem uma tarefa desafiante no cotidiano das escolas públicas, principalmente
as estaduais, pois ele é o representante legítimo do Estado no espaço escolar e tem a tarefa de
executar as incumbências que lhes são exigidas diariamente por intermédio da diretoria de
ensino e ou da própria SEE/SP.
Será, portanto, muito útil aos objetivos da gestão participativa que os professores
compreendam os processos de tomadas de decisões do Estado e do sistema
educativo, entendendo que a escola não está isolada do sistema social, político e
27
cultural, como, ao contrário, não só ela depende das estruturas sociais, como
também as práticas de imposição normativa podem estar retirando dos professores a
autonomia de assumir suas próprias decisões. Por outro lado, os instrumentos
normativos e as diretrizes curriculares e organizativas não podem ser uma camisa de
forças para as escolas. Podem, sim, ser objeto de interpretação, ser rediscutidos, ser
apenas parcialmente acatados e até propiciar as decisões mais apropriadas ao
contexto das escolas. (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2012, p. 418)
Neste sentido, na escola (exemplo privilegiado por esta perspectiva) ora se ligam
objetivos, estruturas, recursos e actividades e se é fiel às normas burocráticas; ora se
promove a sua separação e se produzem regras alternativas; ora se respeita a
conexão normativa, ora se rompe com ela e se promove a desconexão de facto.
(LIMA, 2011, p. 51, itálico do autor)
Isto posto, partimos para a busca da relevância deste trabalho investigativo, assim,
definimos alguns descritores e passei a fazer a busca deles junto ao banco de dados das
universidades estaduais e federais do Estado de São Paulo.
Como neste trabalho estudo a atuação do diretor de uma escola pública vista por ele
mesmo, dividi o trabalho de pesquisa dos estudos de teses e dissertações em dois momentos.
Num primeiro momento pesquiso descritores ligados à figura do diretor e à forma deste de
administrar/gestar a escola; num segundo momento investigo descritores ligados à
metodologia que adotei para pensar e redigir este trabalho, ou seja, a autobiografia e suas
relações com o diretor e com a administração/gestão.
Os descritores inicialmente definidos para o primeiro momento da pesquisa foram:
Escola Pública Estadual, Gestão Escolar, Gestão Democrática e Gestão Democrática e
Diretor. Com estes as buscas não correspondiam às predições anunciadas – muitos trabalhos –
ao contrário, encontrei poucos trabalhos e os pesquisadores de vulto na área das políticas
públicas não apareciam entre os resultados. Resolvi ampliar minhas buscas e defini como
descritores: Diretor de Escola, Escola Pública e não mais Escola Pública Estadual, Escola
Pública Democrática, Gestão Democrática, Gestão Escolar, Gestão Escolar Democrática e
Diretor.
As universidades de busca e os parâmetros continuaram os firmados inicialmente, ou
seja, buscaria as universidades estaduais e federais localizadas no Estado de São Paulo e com
28
Gestão Escolar
(Est. e Munic.)
Escola Pública
Democrática
Seguimento
Total Geral
Total Parcial Total Geral
Diretor de
Total por
Diversos
Gestão
Escola
Tipo
Descritores
Relativ Relativ
% %
o o
Ms 301 3 6 2 1 1 13 4,3
UFSCAR 472
Dr 171 1 2 - 1 - 4 2,3 17 3,6
UNESP – Ms 298 - - 3 4 - 7 2,3
531
Araraquara Dr 233 - - 1 3 - 4 1,7 11 2,1
UNESP – Ms 300 2 - 7 6 - 15 5,0
512
Marília Dr 212 - - 7 4 - 11 5,2 26 5,1
UNESP – Ms 235 - - 1 1 - 2 0,8
253
Pres. Pte. Dr 18 - - - - - - - 2 0,8
UNESP – Rio Ms 161 - - 3 2 - 5 3,1
161
Claro Dr - - - - - - - - 5 3,1
Ms 965 - 27 7 7 2 43 4,4
UNICAMP 1769
Dr 804 - 20 3 9 2 34 4,2 77 4,3
USP – São Ms 703 - 73 6 2 5 86 12,2
1301
Paulo Dr 598 1 51 6 2 4 64 10,7 150 11,5
Totais 4999 7 179 46 42 14 288 5,8
Fonte: Elaborado pelo autor, 2015.
31
Como podem ter notado, dos sete descritores propostos para a pesquisa restaram
apenas quatro, os outros três não apresentaram trabalhos. Um quinto, se assim posso chamar e
que denominei de “Diversos”, são dos trabalhos que se repetem em mais de um descritor,
conforme pode ser observado no Quadro 2.
Além disso, coloquei o descritor “Narrativas autobiográficas” porque esta forma de narrativa
também se difere das Autobiografias.
Grosso modo entendo Narrativa como toda e qualquer forma de descrever ou narrar
ou contar algo; por narrativa autobiográfica a narrativa da vida ou dos feitos de alguém que
não o escritor e autobiografia a narrativa da vida e dos feitos do próprio narrador.
Sintetizo a seguir esta segunda parte da pesquisa no Quadro 3.
35
Quadro 3 – Síntese da segunda parte da pesquisa dos descritores – realizada em 26/05/2016 (de 2003 a 2015)
autobiográ
Narrativas
Narrativas
Seguiment
Autobiogr
Total por
em geral
Autobiografias Narrativas (Autobiografia)
Geral
Total
Tipo
ficas
afia
Descritores
o
Absolut Porcent Absolut Porcent Absolut Porcent
o agem o agem o agem
Ms 308 0 0 2 0 0% 2 0,64%
UFSCAR 479 0 0%
Dr 171 0 1 3 0 0% 4 2,34%
UNESP – Ms 298 0 0 4 0 0% 4 1,34%
531 0 0%
Araraquara Dr 233 0 0 1 0 0% 1 0,43%
UNESP – Ms 335 0 0 4 0 0% 4 1,19%
559 0 0%
Marília Dr 224 0 0 3 0 0% 3 1,34%
UNESP – Ms 258 0 1 2 0 0% 3 1,16%
284 0 0%
Pres. Pte. Dr 26 0 0 0 0 0% 0 0%
UNESP – Rio Ms 230 0 0 3 0 0% 3 1,86%
161 0 0%
Claro Dr - - - - - - - -
Ms 1023 4 0 25 4 0,39% 25 2,44%
UNICAMP 1903 5 0,29%
Dr 880 1 0 31 1 0,11% 31 3,52%
USP – São Ms 771 1 0 14 1 0,13% 14 1,81%
1443 5 0,34%
Paulo Dr 672 4 0 12 4 0,59% 12 1,78%
Totais 5360 10 2 104 10 0,18%
Fonte: Elaborado pelo autor, 2016.
36
Olhando o Quadro 3 chamo a atenção para o fato de que só encontrei dez trabalhos
com o descritor Autobiografia distribuídos em duas universidades. Na UNICAMP encontrei
um doutorado e quatro mestrados; e na USP exatamente o oposto, quatro doutorados e um
mestrado.
Com o descritor “Narrativas autobiográficas” encontrei dois trabalhos: um doutorado
na UFSCAR e um mestrado na UNESP de Presidente Prudente. Quando ampliei para o
descritor “Narrativas”, encontrei:
- UFSCAR: dois mestrados e três doutorados;
- UNESP – Araraquara: quatro mestrados e um doutorado;
- UNESP – Marília: quatro mestrados e três doutorados;
- UNESP – Pres. Prudente: dois mestrados;
- UNESP – Rio Claro: três mestrados;
- UNICAMP: 25 mestrados e 31 doutorados;
- USP: 14 mestrados e 12 doutorados.
Com o descritor “Narrativas” encontrei nos trabalhos analisados grande diversidade
de formas narrativas tais como: “Das memórias narrativas às representações míticas [...]”;
“Narrativas orais infantis [...]”; “[...] estruturas e significados em narrativas de história [...]”;
“[...] escola da infância narrada na juventude [...]”; “[...] narração de estórias e formação
humana [...]”; “[...] da poética à teoria da narrativa e à identidade [...]”. Estes exemplos
comprovam a diversidade de formas de uso de narrativas, mas duas coisas eu gostaria de
chamar a atenção: primeiro, todas elas são narrativas externas, ou seja, alguém narra uma
história ou estória para justificar ou elucidar um fato; segundo a porcentagem de trabalhos no
Estado de São Paulo com a presença de narrativas é pequena, a maior porcentagem
encontrada está na UNICAMP com 2,44% das dissertações de mestrado e 3,52% das teses de
doutorados.
Quando, porém, olho para o descritor “Autobiografia” propriamente dito, vejo que
estes números são ainda menores. Na UNICAMP apenas 0,39% de dissertações trazem como
palavra chave a autobiografia e 0,11% das teses. Dos trabalhos encontrados na USP temos
0,13% de dissertações e 0,59% das teses. Isto pode nos dizer que a autobiografia ainda não
figura entre as metodologias mais usadas nas universidades estaduais e federais do Estado de
São Paulo, já que são conhecidos alguns centros de estudo em autobiografia em outros
Estados do Brasil.
37
A novidade que tento trazer está justamente no fato de que não sou uma segunda
pessoa que entra e analisa a história, não possuo e nem sou intermediário, narro minha própria
vivência e, em minha própria estória trago as histórias que a fizeram e me fazem ser o diretor
que hoje sou.
Percebam! Uma coisa é eu distanciar-me do objeto e olhá-lo de fora para dentro,
como observador-pesquisador, desconhecendo os meandros e as sutilezas dos fatos do dia a
dia da escola e que resultam naquilo que se mostra visível aos olhos do observador; outra
coisa bem diferente é você olhar este objeto sem se distanciar dele, olhá-lo de dentro, olhar
sendo parte dele, conhecendo e convivendo com todos os atores do processo que o faz ser o
que ele é, e a melhor forma de se fazer isto é através da autobiografia.
Assim, “[...] por ser o narrador, concomitantemente, sujeito e objeto da pesquisa, ele
desenvolve um mais apurado conhecimento de si, num movimento constante de
construção/reconstrução da identidade pessoal e profissional”. (ABRAHÃO, 2008, p. 173).
Sob esta visão este meu trabalho é singular e diferente, por isto entendo que vale a
pena continuar e investigar.
Nesta perspectiva, me proponho a responder as seguintes questões:
- Como, em minha história de vida se constitui a formação do Diretor de Escola
pública estadual que sou hoje? Como me constitui como diretor democrático preocupado com
a qualidade do ensino?
Subsidiando esta questão principal pensarei:
1) Que exemplos de direção vivenciei na minha vida enquanto aluno de escola
pública e que influência tudo isto teve em minhas escolhas?
2) Em que medida e como eu professor de escola pública estadual fui me
formando através das experiências vividas em sala de aula e sob influências de
diretores de escola?
3) Como as experiências vividas no dia a dia do chão da escola foram me fazendo
ser (constituíram) o Diretor de Escola que sou hoje?
Esta dissertação tem como objetivo geral
Compreender como eu, em minhas vivências histórico-culturais, na minha história
me constitui o Diretor de Escola pública que sou, preocupado com a gestão democrática.
Para atender ao objetivo geral, proponho como objetivos específicos, itens teóricos
necessários para a elaboração da dissertação de mestrado:
39
Em resumo o material biográfico [...] permite aos autores que desejam isso e
mediante um esforço de reflexividade, responder a um conjunto de macro-
questões tais como:
- Sobre o que eu apoio para pensar ser aquele ou aquela que penso ser e
quero tornar-me? Como me configurei como sou? E como me transformei?
- Sobre o que me baseio para pensar o que penso? De onde vêm as ideias que
acredito serem minhas?
- Sobre o que me apoio para fazer o que foço da maneira como faço e/ou
pretendo fazer? Com quem e como aprendi meu “saber-fazer” em suas
dimensões técnicas, pragmáticas e relacionais?
- Sobre o que me apoio para dizer o que digo (a escolha das técnicas,
abordadas nos relatos) da maneira como o enuncio (de onde vem o meu
linguajar e o meu vocabulário). De onde vem minha inspiração, minhas
aspirações e meus desejos? (JOSSO, 2006, p. 25-26)
40
Nela acontece a
narrativa é externo, mas quando olho para a minha própria narrativa, este olhar é interno”.
Destes dizeres concluo:
1- Há mais de uma forma se fazer narrativa: alguém me narra algo que viveu e eu
transcrevo esta vivência conforme ouvi, assim o que me é narrado é externo a
mim e por isto o meu escrever deve ser aético e ajuízo; há igualmente a narrativa
redigida por quem a viveu, esta é interna ao narrador e a ética e o juízo estão no
sujeito mesmo.
2- O fato de minha memória estar na memória do outro ou na cabeça do outro me
fez ver que, pessoas que caminharam comigo durante minha vida ou parte dela,
trazem em suas memórias parte da minha porque em algum lugar elas estão
cruzadas e caminham juntas. Claro que precisa ser ressaltado que cada um tem o
fato à sua maneira de lê-lo.
3- Quando narro algo eu me aproprio do narrado e aquilo faz parte de mim, passa a
ser uma verdade para mim, mas também para o outro, pois não há como emitir
juízo na minha memória.
Esta narrativa que nasce dos meus olhares, das minhas vivências enquanto aluno
depois como professor e finalmente de minha prática de quase vinte anos como Diretor de
Escola, vai se fortificar na teoria acadêmica, por isto acompanhará meu trabalho a pesquisa
bibliográfica do conhecimento da produção acadêmica desenvolvida sobre o tema desse
estudo, e a pesquisa documental da legislação promulgada pelos órgãos centrais da União, do
Estado e da Secretaria da Educação que têm norteando as Políticas Públicas Brasileiras e as
do Estado de São Paulo. Nesta pesquisa documental ainda incluo o Conselho de Escola, a
Associação de Pais e Mestres (APM) e o Grêmio Estudantil, como espaços de participação
coletivos. Usarei ainda alguns documentos internos da escola, a saber: a Avaliação de Final de
Ano.
Esta narrativa autobiográfica foi estruturada seguindo quatro grandes momentos de
minha vida: eu, enquanto aluno que observo a escola; eu, enquanto professor que trabalho e,
de certa forma faço a escola, eu, como diretor que, busquei usar de práticas democráticas, e
fui me constituindo Diretor de Escola e, finalmente, eu, diretor e a comunidade escolar, que
leio e procuro organizar minha prática à luz dos comentários e avaliações elaboradas pela
comunidade escolar. Pensando nisto apresento nesta dissertação quatro capítulos: 1- Eu,
Aluno e o Diretor; 2- Eu, Professor e o Diretor, 3- Eu, Diretor e o Diretor e 4- Eu, Diretor e a
Comunidade Escolar.
Em cada um dos capítulos tento resgatar a história social do momento vivido;
igualmente resgato os fatores históricos da educação, com suas mudanças e implicações no
dia a dia da escola e sua influência na vida do aluno e trago para apoiar e significar minha
reflexão alguns pensadores que marcaram época e que contribuíram para elucidar, não só a
educação como um todo, mas principalmente o papel do diretor em todo o processo escolar.
Ao narrar cada um dos momentos de minhas experiências na escola buscarei
entender o papel desenvolvido pelo diretor e que influência este papel teve e como contribuiu
para que eu decidisse ser o diretor que sou. Abrahão (2008), ao falar de sua pesquisa aponta-
nos três dimensões da narrativa: a do fenômeno, a do método de investigação e a do
processo de ressignificação do vivido. Assim, ao narrar minha história de vida, investigo o
que permaneceu em minha memória e que “fez surgir” – usando a expressão de Abrahão – a
minha história de vida, com isto busco entender o (re)significado de minha caminhada
enquanto Diretor de Escola.
43
No seu instinto materno fazia valer a finalidade da Lei e, ao mesmo tempo requeria
seu direito de mãe.
Passamos pela casa de Dona Madalena e partimos em direção à escola. Dona
Madalena era amiga de minha mãe, professora primária e trabalhava no “Navio” (apelido
2
A Escola Dr. João Franco de Godoy, embora em 1966 já estivesse localizada na zona urbana da
cidade de Presidente Prudente, ainda mantinha seu nome original de Grupo Escolar Rural. Hoje,
após o processo de municipalização iniciado com a reforma estadual proposta nos anos de 1997, a
escola recebe a denominação de Escola Municipal de Educação Infantil e Fundamental (EMEIF) Dr.
João Franco de Godoy.
45
carinhoso, com o qual ainda é conhecido o antigo Grupo Escolar Rural Dr. João Franco de
Godoy em virtude de seu formato arquitetônico), onde o diretor nos esperava. Ainda
voltaremos a falar de Dona Madalena.
Da escola neste dia só me lembro de que entramos por um portão grande, onde
descobri mais tarde ser o portão de entrada de alunos, atravessamos um pátio espaçoso e nos
encaminhamos para um corredor que tinha à esquerda um palco e à direita um dos lances de
escada que conduzia às salas de aula. Em uma das portas deste corredor sombrio estava a sala
do diretor. Uma sala pequena, com móveis escuros, mas bem iluminada. Sentei-me junto com
minha mãe à frente da mesa do diretor. Não tenho na memória o teor da fala que tiveram, sei
apenas que no dia seguinte lá estava eu na fila do 1º ano do Grupo Escolar.
A escola que eu encontrei e que pude desfrutar não era apenas fruto daquele
momento histórico e social, mas resultado de incansáveis lutas de grandes educadores.
Homens que, imbuídos do espírito do pós-guerra mundial e em vista da necessidade de se
fortalecer a indústria nascente, travaram durante as décadas de 1920 e 1930 a luta contra o
analfabetismo e receberam apoio de educadores de vulto que marcaram época na nossa
educação.
O Brasil havia passado por mudanças relativamente rápidas e significativas de
governo que culminaram no chamado “Golpe Militar”. Tínhamos uma República que buscava
caminhos para se firmar e que enfrentou no seu início a disputa de dois dos seus mais
representativos Estados, São Paulo e Minas Gerais, gerando o que conhecemos ainda hoje por
política dos “coronéis do café com leite” em virtude da economia e da oligarquia que os
mantinha. Dessa disputa de poder havia um acordo, que não sei precisar se tácito ou não, de
sucessão de poder.
Quebrando, porém, este “acordo”, assume a presidência da República Getúlio
Vargas, primeiramente como governo provisório. Acontece, porém, que em 1932, eclode no
Estado de São Paulo a Revolução Constitucionalista liderada pela “Coluna Prestes” e que,
mesmo depois de derrotada, deixa no ar o medo do “comunismo” que serviu de justificativa
para a promulgação da Lei de Segurança Nacional que deu ao Governo Federal amplos
poderes.
Concomitante a isto se inicia no Brasil o primeiro e significativo movimento de
reforma na educação brasileira. Movimento que teve início com Manuel Bergstron Lourenço
Filho que dirigiu a reforma da educação no Ceará, depois foi nomeado professor de psicologia
na Escola Normal de Piracicaba e dai passou para a Escola Normal Caetano de Campos em
46
São Paulo, de onde publicou o livro Introdução ao estudo da Escola Nova e se destacou pela
incansável luta pela psicologia da educação. Junto com Lourenço Filho encontramos nomes
como Fernando de Azevedo e Anísio Teixeira, que juntos formaram a “trindade cardinalícia
do movimento brasileiro da Escola Nova” (SAVIANI, 2010, p. 207).
À força e ao entusiasmo da tríade acima se juntam outros nomes de grande valor e,
de suas lutas e ideias resultaram o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova de 1932.
particular, espírito que trouxe de volta os ideais do Manifesto. Sua nova publicação em 1960
contou com “55 textos com a colaboração de 12 autores” e, continua Saviani, “subscrito por
190 dos mais expressivos nomes da intelectualidade brasileira da época” (2010, p. 293). O
autor citado, explicando o teor da reiteração do Manifesto afirma:
[...] esse novo manifesto, em razão das circunstâncias em que surgiu, mais
ainda do que o de 1932, tem como móvel a defesa da escola pública vista
pelo ângulo do dever do Estado de manter e expandir os sistemas de ensino e
da necessidade de que os recursos públicos reservados à educação sejam
destinados exclusivamente ao ensino público. (SAVIANI, 2010, p. 296-297)
Esse movimento pela educação, que iniciou em 1932 vem adquirindo forças e chega
em 1960 com grande folego e significativa representação de educadores que, pela primeira
vez, lutam por uma educação de qualidade e que fosse de direito de todos.
Em janeiro do ano seguinte, em 1961, assume a presidência da República Jânio
Quadros, que sete meses depois renuncia deixando em seu lugar o vice, João Goulart.
Um mês depois, em fevereiro de 1961, acontece o I Simpósio Brasileiro de
Administração Escolar na Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da Universidade de São
Paulo (USP) onde é fundada a ANPAE – Associação Nacional de Professores de
Administração Escolar, hoje Associação Nacional de Política e Administração da Educação.
Segundo Sander (2007b), o ano de 1961 ficou marcado como o ano “divisor de águas
na história da construção do conhecimento e da prática profissional no campo da política e da
gestão da educação no Brasil” (SANDER, 2007b) 3 e completa em outro texto: “As
publicações da ANPAE e seus simpósios brasileiros e congressos internacionais
desempenharam um papel importante no desenvolvimento e na difusão do pensamento
administrativo na educação brasileira” (SANDER, 2007a, p. 55).
Anísio Teixeira participou do I Simpósio e publicou na Revista Brasileira de Estudos
Pedagógicos o texto Que é Administração Escolar?4. Nesse texto reflete sobre a dificuldade
de se estudar a Administração Escolar por ser um tema sem precedentes no Brasil, por isto
dizia ele: “A função de administrador é função que depende muito da pessoa que a exerce; o
administrador depende de quem ele é, do que tenha aprendido e de uma longa experiência”
(TEIXEIRA, 1961). Até este momento no Brasil, o administrador era alguém que se fazia na
prática,
3
Versão utilizada e citada foi retirada da Série Cadernos ANPAE, n. 4 e não contém paginação.
4
Este texto foi consultado em versão online publicada no site:
http://www.geocities.ws/angesou/anisio.pdf, acessado em 04/09/2015, às 21h28, e não contém
paginação.
48
Isto tinha uma razão de ser. Até este momento as escolas eram pequenas, atendiam
um número reduzido de alunos; os professores, bem formados davam conta de não só
ministrarem suas aulas, como também de organizar a escola, já que suas leis e instruções se
encontravam bem definidas, dispensando a figura de um administrador.
No entanto, Teixeira coloca duas questões: na primeira delas se pergunta o porquê do
ensino particular contar com o administrador escolar, já que a ideia corrente era a de que este
era dispensável? A segunda é por que hoje, com as escolas abertas à população, o professor já
não consegue ser também o administrador?
Para responder à primeira questão Teixeira (1961) se vale da ideia de que na escola
particular o administrador tem poder, decide as coisas; segundo define o administrador como
o “homem que dispõe dos meios e dos recursos necessários para obter alguns resultados.
Resultados certos, e isso é um administrador. Logo, determinados, propositais, estabelecidos
pela ação intentada” (TEIXEIRA, 1961).
Diz ainda que o bem estar da vida humana depende da administração e por isto
precisamos distinguir dois tipos de administração: a administração mecânica ou fabril em que
tudo é planejado com cuidado para se obter o fim esperado, assim “a função de planejar é
suprema e a função de executar, mínima” (TEIXEIRA, 1961) e há a administração escolar,
que é mais difícil de ser exercida e pode ser comparada à Administração Hospitalar. A grande
diferença entre a administração mecânica e a escolar é que esta é “aquela na qual o elemento
mais importante não é o administrador, mas o professor” (TEIXEIRA, 1961).
A segunda questão é mais delicada, mas não difícil de ser entendida. Uma vez aberta
as escolas para atender a um número maior de crianças e jovens, há a necessidade de se ter
maior número de professores para dar conta da demanda, assim se é “forçado a buscar um
magistério em camadas intelectuais mais modestas” (TEIXEIRA, 1961) e, quanto menos tem
o professor a oferecer, mais se exige do administrador, por isso “precisa-se de Administrador
com qualidade para superar a defasagem da formação de professores e tentar segurar a
qualidade do ensino; porque, competente, o Administrador ajuda o professor a administrar a
sala de aula” (TEIXEIRA, 1961).
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Penso que diante de tal quadro de rápidas mudanças é necessário se pensar com mais
propriedade na figura do Administrador Escolar, sujeito capaz de organizar o ensino em
rápido desenvolvimento e que tenha a consciência profissional necessária para dar conta de
suas funções frente à modernização das escolas.
Neste mesmo desejo de se buscar caminhos para a educação foi promulgada, em 20
de dezembro do mesmo ano, a Lei nº 4.024, a primeira Lei de Diretrizes e Base da Educação
Brasileira (LDB), pelo então Presidente da República João Goulart.
Como era de se esperar, a LDB/1961 teve um caráter revolucionário por pretender
organizar o sistema educativo no país, tornando-o sistêmico e porque chamou a
responsabilidade da educação – ao menos parte dela – para o Estado, dando à família a
responsabilidade que lhe cabia com a liberdade necessária, embora eu não saiba dizer se a
sociedade tinha consciência deste seu papel.
A Lei 4.024/1961 inicia exaltando os “princípios de liberdade” e “ideais de
solidariedade humana” e elenca como finalidade, seis pontos:
Percebo aqui uma forte preocupação com a formação do sujeito, da pessoa humana e
do cidadão e uma leve ressalva aos valores patrióticos “fortalecimento da unidade nacional”.
Embora já contasse com setenta e dois anos, a República ainda buscava se assentar no
processo democrático, mesmo porque acabara de passar por um longo período de oscilações
entre ditadura e democracia com Vargas. Mas são muito claro os ideais de igualdade e
equidade propostos, evidenciados principalmente na alínea “g” do texto citado.
As inovações e avanços da lei não pararam ai. No tocante ao direito a educação, a
LDB/1961 propõe dois artigos simples e objetivos. Neles lemos:
Parágrafo único. À família cabe escolher o gênero de educação que deve dar
a seus filhos.
Art. 3º O direito à educação é assegurado:
I - pela obrigação do poder público e pela liberdade de iniciativa particular
de ministrarem o ensino em todos os graus, na forma de lei em vigor;
II - pela obrigação do Estado de fornecer recursos indispensáveis para que a
família e, na falta desta, os demais membros da sociedade se desobriguem
dos encargos da educação, quando provada a insuficiência de meios, de
modo que sejam asseguradas iguais oportunidades a todos. (BRASIL, 1961)
O que me chama a atenção nestes artigos é o fato de a educação ser entendida como
algo que extrapola os bancos escolares – “será dada no lar e na escola” –, muito
provavelmente resquício da tradição colônia-imperial em que as “primeiras letras” eram
exercitadas nas casas grande através de preceptores e ou das próprias mães.
Porém, se resquício ou não do Brasil-colonial, o artigo deixa claro que não cabe à
escolar julgar-se como único espaço de discussão e construção do saber.
Evidencio também o fato de que o direito à educação estava assegurado tanto pelo
poder público como pela iniciativa privada em todos os graus. E finalmente por ter o Estado
assumido a responsabilidade de fornecer recursos para aqueles que, mesmo não tendo família,
pudessem usufruir dos benefícios da educação.
Neste sentido, vejo que a Educação ascendeu do patamar caseiro, informal e de
desobrigação, para o patamar estatal, formal e de cunho obrigatório.
Preciso lembrar ainda que a LDB/1961 trata a figura do diretor com significativa
relevância. Assim, no seu Título V, “Dos Sistemas de Ensino”, § 1º do Artigo 16, assim dizia:
“São condições para o reconhecimento (dos cursos primários e de ensino médio): a)
idoneidade moral e profissional do diretor e do corpo docente; [...]” (BRASIL, 1961); ainda,
no Artigo 42: “O Diretor da escola deverá ser educador qualificado.” (BRASIL, 1961). Além
destas qualificações cabia ainda ao diretor
A assistência social escolar será prestada nas escolas, sob a orientação dos
respectivos diretores, através de serviços que atendam ao tratamento dos
casos individuais, à aplicação de técnicas de grupo e à organização social da
comunidade. (BRASIL, 1961, Art. 91)
51
Até 1932 não havia uma carreira de magistério do Estado de São Paulo. Com
a homologação do Decreto nº. 5.804, de 16 de janeiro de 1933, foi instituída
a carreira do magistério público primário, mas somente com a aprovação do
Código de Educação do Estado de São Paulo (Decreto Estadual nº 5.884/33),
que se reestruturou todo o ensino paulista, é que passou a ser exigido o
concurso público de provas para o provimento dos cargos de diretor de
grupo escolar. Somente poderiam participar do concurso os professores que
tivessem no mínimo cinco anos de experiência como docentes ou três anos
para os formados pelo Instituto Caetano de Campos. (LEITE, 2006, p. 70,
parênteses incluídos por mim)
Percebo que, embora o Estado de São Paulo tenha se adiantado nesta questão, esta
não parece ser uma regra aplicável a todos os demais estados da União. No entanto, no
momento em que a LDB/1961 se manifesta sobre, o assunto passa a ser de preocupação
federal. Mesmo que a Lei não tenha tratado diretamente do assunto, apenas qualificando a
pessoa do Diretor de Escola, esta figura passa a ser referência para a educação em todo o país.
Mas deixe-me voltar aos fatos. 1964!
52
A sociedade política temerosa pela posição política do então presidente João Goulart,
em 31 de março de 1964, apoiada pelos Estados Unidos, aplica o Golpe Militar e o presidente
João Goulart é deposto. Assume a presidência da República o general Humberto de Alencar
Castelo Branco. Nos lembra Vainfas et all (2010) que foram cassados Juscelino, Jânio e João
Goulart, alguns militares e mais 55 congressistas, ao todo se chega à cifra de 441 pessoas.
Ainda, 2.985 funcionários civis e 2.757 militares são demitidos ou forçados à aposentadoria.
A lista de “inimigos do Estado” chega a 5 mil pessoas. Há que se lembrar de que, além do
apoio norte americano, os grandes meios de comunicação interna apoiaram o golpe, entre eles
temos “O Globo”, o “Jornal do Brasil” e o “Diário de Notícias”.
A história ainda nos lembra de que as principais cidades brasileiras foram tomadas
por soldados armados, e armamentos militares. Todo local que poderia significar alguma
resistência ao Golpe, recorda-nos Vainfas et all (2010), foi destruído ou tomado, a exemplo da
sede da União Nacional dos Estudantes (UNE), localizada no Rio de Janeiro, que foi
incendiada. Em 1965, as liberdades civis foram reduzidas, o poder do governo aumentou e foi
concedido ao Congresso escolher o Presidente e o Vice-Presidente da República do Brasil. No
mesmo ano foi abolido o pluripartidarismo e instituído o bipartidarismo com a Aliança
Renovadora Nacional (Arena) e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB). Como no dito
popular, temos dois partidos, um do “sim”, outros do “sim senhor”, recorda-nos Saviani
(2010).
Muito embora os grandes centros fervilhassem com toda esta movimentação político-
social, a “pacata” Presidente Prudente mantinha seu ritmo “normal” e nós crianças
deleitávamos daquilo que a vida nos oferecia, sem percebermos o que estava ocorrendo a
nossa volta. Sim, estávamos em 1966, já há dois anos sob o regime militar e foi sob a égide
deste regime que recebi minha primeira educação escolar.
Esta foi a escola que encontrei quando iniciei meus estudos primários. A organização
dos anos e séries obedecia a seguinte ordem: Educação de Grau Primário, que compreendia a
Educação Pré-Primária para menores de sete anos e o Ensino Primário que ia dos sete anos até
o término desta fase que poderia se dar em quatro ou seis anos se acompanhadas das técnicas
de artes (BRASIL, 1961, Arts. 23-27). Esta Educação de Grau Primeiro tem por finalidade
“desenvolvimento do raciocínio e das atividades de expressão da criança, e a sua integração
no meio físico e social” (BRASIL, 1961, Art 25).
Minha professora da primeira série! Ah, Dona Lucinda! Esguia, voz suave, cabelos
longos, levemente encaracolados e castanhos. Uma paciência conosco que dava gosto. Até
53
hoje carrego em minha caligrafia o seu modo de traça o “l” maiúsculo. A volta de sua barriga
é um pouco maior que a grafia convencional, por vezes se confunde com um “D” e, por ele já
fui acusado de erro ortográfico. Mas não o largo, apropriei-me dele como que de um legado
daquela que pela primeira vez me fez ver que os sons têm formas que podem ser registradas e,
mais tarde relembradas e se tornam sons novamente numa espiral ascendente e infinita.
Da sala de aula me recordo pouco. Sei que não fui alfabetizado com a Cartilha
Caminho Suave ainda em voga na época. Minha Cartilha, cujo nome também se foi da
memória, tinha um personagem típico chamado “Dudu”, só isto me resta. Mas percebo que
esta possibilidade estava prevista em lei5, embora muitos preferissem a cartilha Caminho
Suave, Dona Lucinda, apesar dos desmandos do regime militar, nos mostrou caminhos
diferentes. Rompia, de certa forma a normalidade e a homogeneidade do sistema.
Se a regra era a cartilha Caminho Suave, por que Dona Lucinda rompeu a regra?
Teria sido um romper de regras de fato ou outro olhar para a mesma regra? Não sei responder.
Na escola “Navio” lembro-me que saíamos em fila do pátio em frente ao palco,
subíamos as escadas da direita e entrávamos na segunda sala a esquerda. Era uma sala ampla,
iluminada, com janelas grandes (acho que tudo é grande quando somos pequenos, as coisas
encolhem depois, quando crescemos). Fui colocado na primeira carteira da fila do meio e lá
permaneci por todo o ano.
Dos colegas de sala recordo de duas meninas. Uma pouco obesa e da qual não se
falava bem por seus modos, o que não posso comprovar, já que nada vi, devia mesmo ser
intrigas da nossa infantilidade; a outra linda, cabelos castanhos claros, tinha o nome mais
lindo da escola – Heloisa – e sua mãe trabalhava na secretaria da escola. Nunca conversei com
ela, pelo menos não me recordo de tê-lo feito, mas mantive um amor infantil secreto por ela
que guardo alegremente em minha memória ainda hoje.
5
Art. 20. Na organização do ensino primário e médio, a lei federal ou estadual atenderá:
a) à variedade de métodos de ensino e formas de atividade escolar, tendo-se em vista as
peculiaridades da região e de grupos sociais;
b) ao estímulo de experiências pedagógicas com o fim de aperfeiçoar os processos educativos.
(BRASIL, 1961)
54
Todos os dias fazíamos fila, meninas na frente e meninos atrás, cantávamos o Hino
Nacional, ouvíamos alguém declamar uma poesia, os recados e, uma a uma as filas partiam
guiadas por suas professoras e seguiam para suas salas. Tudo numa ordem perfeitamente
militar, até mesmo a nossa disposição nas filas, primeiro os maiores e por último os mais
baixos.
Durante o ano letivo de 1966 mudamos da Av. Ademar de Barros e fomos morar na
chácara de meu tio. Era um pouco mais afastada do centro do que o local onde morávamos,
mas o lugar era muito bonito. A casa de meus tios era muito grande e na parte de baixo
ficávamos nós. Para subir até a cozinha da casa de cima tinha uma escada “enorme” com um
corrimãozinho de um só cano de ferro, eu temia tanto que a descia sentado. No entanto, o
espaço para brincarmos era grande; no lado esquerdo, saindo da sala de nossa casa tinha um
grande espaço com forno à lenha, engenho manual de cana e mais algumas coisinhas; mais a
frente dois grandes galinheiros, o primeiro de meus tios, o segundo nosso; frutas de muitas
espécies e qualidades. Vez ou outra estavam minha mãe e a irmã dela, minha tia-madrinha a
fazer pães no forno à lenha ou ralando milho para as famosas pamonhas, curaus e bolos. Sem
contar os doces e outras coisas mais. Mas a vida não era tão simples e fácil como
imaginávamos.
Minha mãe foi sempre guerreira, pé no chão e meu pai um guerreiro sonhador. A
vida para ele era dura, mas ele a conduzia com suavidade; minha mãe sempre se cobrou mais.
Porém, nada, em nenhum momento, algo lhes tirara a doçura da maternidade / paternidade.
Terminada a primeira série meus pais me matricularam no Grupo Escolar Domingos
Ferreira de Medeiros situado no Jardim Guanabara. A Escola Domingos de Medeiros ficava a
dois ou três quarteirões da chácara e podíamos ir sozinhos e a pé, o que não era novidade, pois
não se tinha conduções e nem transporte escolar na época. Era uma escola recém-inaugurada e
que visava atender aos bairros que cresciam na periferia da cidade. Construída de madeira,
possuía duas classes com carteiras geminadas, algumas outras dependências (acho que era
secretaria e direção, embora eu não me recorde muito bem do diretor – apenas que era uma
pessoa muito séria e pouco acessível sempre).
As salas de aula eram amplas, escuras e calorentas, sentávamos de dois em dois e se
quem sentasse na frente se mexesse, já tínhamos que apagar nosso escrito, pois era rasura na
certa. A escola possuía muito espaço externo onde brincávamos de “Esconde-esconde”,
“Pega-pega”, “Piques” e outras brincadeiras de correr. Moleque adora correr!
55
Agora éramos três na escola: Fátima, eu e a Rosângela, temos um ano e alguns meses
de diferença na idade, mas minha ligação na escola sempre foi com a Fátima, pois a partir
deste ano ela passou a estudar na mesma sala que eu e este caminhar juntos nos uniu até o
final do Ginasial. Acontece que no ano anterior ela ficara muito doente e perdeu aulas, para
prejudicar menos meu pai a levava à escola no colo, eram cerca de 2 km para ir e mais 2 para
voltar, mas em vão, foi retida. Escola era Escola; vida, vida. Nada de se misturar estes dois
espaços de uma mesma pessoa.
Bom, agora era vida nova, escola nova e professora nova. Nossa professora do 2º ano
foi a Dona Carmem. Sempre de salto alto, fala forte e muito ativa, mas nos queria bem. Com
ela aprendi a somar, multiplicar, dividir e a redigir. As aulas eram boas, sempre gostei muito
de estudar, mas os recreios eram maravilhosos.
Assim transcorreu mais um ano de minha vida escolar. Engraçado, por que, embora o
mundo acadêmico estivesse imbuído das discussões a respeito do papel e da função do Diretor
de Escola, eu me recordo tão pouco da presença dos meus diretores de escola daquela época?
Suas raras aparições eram rápidas e temerosas. Quem eram eles? Como se constituíram
diretores? Que papéis desempenhavam na escola? Não sei dizer.
Hoje, passados quase 50 anos, a figura do Diretor de Escola, em especial o da escola
Domingos Ferreira de Medeiros me é desconhecida. Soube quem ele era quando, já adulto,
minha mãe me apresentou a ele. Agora, vez ou outra o encontro na feira, ele com a esposa e
eu com minha mãe, eles se conhecem e trocam falas, nós ainda nos desconhecemos e apenas
trocamos cordiais bom dia. Aquele estereótipo sisudo, bravo, sério e solitário parece ter
incrustado nele – ou talvez em mim –, que mesmo ali, na feira, ele não deixa de ser o diretor
que foi e eu não deixo de vê-lo o que ele era.
As discussões sobre o papel do Diretor de Escola e sobre a administração escolar
continuaram durante todo esse período no meio acadêmico. Em 1968, na Bahia, acontece o I
Simpósio Interamericano de Administração Escolar e nele Anísio Teixeira tem a oportunidade
de expor suas ideias sobre a Natureza e Função da Administração Escolar, tema de sua
palestra.
Comparando a saúde com a educação, Anísio primeiro levanta a hipótese que a
diferença destes dois bens humanos está no preparo do profissional, depois traça o seguinte
paralelo:
A saúde é um bem espontâneo da vida, cabendo à medicina a sua preservação,
garantia e cura; assim também é a educação primitiva, espontânea, porém, quando pensamos
56
na educação nas civilizações mais modernas percebemos que esta é um bem a ser adquirido
com esforço e continuidade ao longo de toda a vida. À saúde cabe readquiri-la caso a
percamos; à educação o problema está sempre em adquiri-la, o que a torna mais complexa e
por isto mesmo seus critérios deveriam ser mais severos.
Curar é relativamente mais fácil do que ensinar. Os benefícios da primeira são
básicos e urgentes, da segunda, duradouros e permite se viver melhor; a saúde é um bem
individual, tem a ver com as condições culturais, mas reconhecemos mais rapidamente seu
bem.
A educação também era vista como um bem social, “falava-se no cultivo das letras,
das ciências e das artes, mas ninguém se referia, com isto, ao cultivo de cada um nas letras,
nas ciências e nas artes” (TEIXEIRA, 1968, p. 11), isto é, não podemos da educação como um
bem individual, esta cabia à família e as instituições privadas existentes.
Completa Teixeira (1968, p. 12) “E isto retirou à arte de educar o aspecto de certo
modo sempre científico que teve a arte de curar. Médico seria quem pudesse, professor, quem
quisesse. Bernard Shaw levou sua sátira mais longe: quem pode faz, quem não pode ensina.”
Tanto a saúde como a educação são bens devidos a todos e a cada um
indistintamente, explica-nos Teixeira (1968, p. 12-13). E continua: a saúde é um bem em si,
sempre se teve primor no preparo de seus profissionais, é ofertada a todos, não se adquire de
qualquer modo e sob qualquer condição. A cultura não é um bem em si, mas relativo, e seu
valor só é percebido quando ela for adequada e funcional; embora não se limite a cultura aos
bancos acadêmicos, ela não pode ser adquirida sem nenhum critério e condição como se pensa
nos países subdesenvolvidos.
As escolas, boas no início, expandiram-se e, de diferente só receberam os alunos, o
que é perfeitamente plausível. A qualidade de trabalho do professor, no entanto, deve ser a
mesma.
educação aconteça com tranquilidade, pois seu “alvo é o educando”, é por isto que o seu
“processo é absolutamente humano”, não se está trabalhando aqui com máquinas, mas com
pessoas para formar pessoas.
Neste sentido Teixeira se manifesta preocupado com a formação do administrador
escolar em cursos de graduação. Para ele o adequado seria uma formação em cursos de pós-
graduação, com alunos que já possuem a graduação e longa experiência na função de educar.
Anísio Teixeira entende também que “os estudos de administração escolar podem
desenvolver-se a ponto de se tornar algo parecido com a administração pública e que esses
estudos constituirão matéria a ser estudada pelo candidato à carreira de administrador escolar”
(1968, p. 16). Mesmo assim, entende que na graduação os alunos devam ter apenas algumas
noções, é na pós-graduação que se deverá formar o administrador escolar.
Por fim, Teixeira deixa claro que entende o
E finaliza: “Se alguma vez a função de direção faz-se uma função de serviço e não de
mando, esse é o caso do administrador escolar.” (TEIXEIRA, 1968, p. 17). O administrador
escolar é o articulador do processo para que a educação que se efetiva na intermediação entre
professor e aluno aconteça com eficiência. Para isto promove e cria as condições necessárias.
Possui um papel de comando, mas não de autoritarismo.
Outro pensador de vulto que também refletiu o tema da administração escolar e que
eu não poderia deixar de lembrar aqui foi José Quirino Ribeiro. Este também participou do I
Simpósio Interamericano de Administração Escolar com o texto Introdução à Administração
Escolar, igualmente publicado pela ANPAE. Neste, José Querino Ribeiro parte de suas
experiências enquanto administrador escolar elencando, ao final os elementos que julga
necessários para se pensar a administração escolar.
Ribeiro entende que a direção de uma escola “[...] é função do mais alto nível que,
como a própria denominação indica, envolve linha superior e geral de conduta, inclusive
capacidade de liderança para escolha de filosofia e política de ação” (RIBEIRO, 1968, p. 22),
portanto o diretor, profissional que deve ocupar o cargo/função da direção de uma escola não
pode ser uma pessoa com uma formação qualquer.
59
Diante destas diferenças e dificuldades Ribeiro (1968) propõe que o melhor espaço
para se formar diretores é o da pós-graduação, mas a exemplo do que tem feito na USP, a
formação mais econômica é a realizada junto com o bacharelado.
60
administração em nosso país, Maia (2008) observa o quanto esta discussão ainda é nova no
Brasil.
Maia (2008) evidencia a diferença de concepções e definições de administração
escolar ao longo do tempo. Assim, em Anísio Teixeira destaca as ideias de que a
administração escolar deve ser curso de formação posterior à da graduação e que esta
administração tem “algumas coisas” a aprender com a administração empresarial.
Em Querino Ribeiro, Maia (2008) destaca que a administração pode despertar mais
de uma natureza e função (técnica, didática, cultural) e, diferencia direção – “função de alto
nível que envolve uma linha superior de conduta e a responsabilidade pela escolha da filosofia
de ação” (MAIA, 2008, p. 37) da Educação em geral e da escola em particular – de
administração – “tarefa de instrumentalizar a direção para desempenhar o que esta deliberou”
(MAIA, 2008, p. 37).
E completa.
a garantia de uma formação mínima e básica para todos os cidadãos. Mas tenho dificuldade de
aceitar uma escola, portanto um espaço que deveria formar, abrir consciências, despertar para
a vida e para o amanhã; uma escola que, como hoje pregamos “formadora de cidadãos”, seja
apenas “reflexo reprodutor” do status quo de uma sociedade injusta e desigual.
Dona Neide nos conduziu por dois anos, sim ela foi nossa professora no 3º e 4º anos
primário.
Interessante, recordo de todas as minhas professoras primárias. Sei não apenas seus
nomes – e olha que sou péssimo para guardá-los – mas tenho na memória também suas
feições, no entanto, dos demais professores de minha vida acadêmica sobram apenas
lembranças de alguns deles.
Mas voltemos ao nosso rumo. Dona Neide era, melhor, é, pois ainda está na ativa,
uma mulher maravilhosa, cabelo castanho claro, curto e sempre penteado, elegante, porém,
muito simples – dizia-se que era casada com um médico, mas isto nunca soube de fato – e
sempre muito gentil, desenhava como ninguém. Numa comemoração do folclore, desenhou
para mim em uma cartolina o mais lindo Saci-Pererê que eu já vi e em outra a Iara Mãe
D’Água, eu só os pintei. Das aulas em si poucas me recordo, mas me resta a lembrança de sua
calma e paciência conosco ao nos conduzir pelas letras e números. A tranquilidade da aula só
era quebrada quando o diretor chegava.
Em pé o recebíamos e aguardávamos que ele nos desse permissão para sentar. Falava
conosco com a mesma seriedade de sempre, cenho fechado e voz forte, um a um ele passava
pelas carteiras apontando-nos e perguntava: “3 x 15”; “4 x 12”; “8 x 16” e assim afora; muito
embora usualmente trabalhemos com o sistema numérico decimal e que nos basta entender a
tabuada até o dez, como regularmente fazemos. Mas sem entender esta lógica e como o medo
de errar era maior do que a bronca que recebíamos, tentávamos decorar. Quando finalizava
recomendando sempre que estudássemos mais e saia da sala, levantávamos e em seguida
sentávamos, para então respirarmos.
- Ufa! Sobrevivemos a este dia.
Como sempre os intervalos eram os momentos mais esperados. Aqui pouco se
brincava de correr, a rapaziada gostava de jogar gude, eu sempre chamei estas bolinhas de
vidro de “biroca”, agora sei que um dos seus nomes correto é birosca. Eu possuía um vidro
repleto delas. Tinha de todas as cores e com desenhos diversos. Jogava alegremente, mas com
medo de perdê-las.
64
Foi num destes intervalos que tive minha primeira briga de moleque. Embaixo de
uma das escadas que subia para as salas de aula, troquei um ou dois socos com outro menino
de meu tamanho. O motivo, desconheço, mas tinha o apoio de três ou quatro amigos; também
quem saiu vitorioso – se é que alguém sai vitorioso de tal situação – não sei, mas acho que
não deu em nada e que ninguém ficou sabendo, pois não recordo de ter levado bronca de
nenhum adulto e nem mesmo de minha mãe.
Na metade do ano em que cursava a 4ª série ginasial meus pais matricularam eu e a
Fátima na classe de Admissão no Ginásio Industrial Estadual. Calma! Agora estávamos
morando em uma casa de material bonita que fica na Rua Sete de Setembro, e hoje a vejo
quando por lá passo. Tem três quartos: o maior e na frente da casa era de meus pais, o do
meio ficou para mim e meu irmão e o outro para minhas irmãs, uma sala de visitas onde, com
o tempo, meus pais instalaram uma televisão branca e preta, com uma espécie de insulfilme
colorido na frente imitando cores; uma copa na qual almoçávamos e jantávamos aos
domingos; a cozinha era ampla com uma mesa ao centro onde fazíamos a maioria das
refeições.
O quintal era pequeno e todo cimentado, só sobrava um pequeno quadrado de terra
que dava lugar a um pé de mamão. Havia uma pequena acomodação no fundo, uma sala onde
minha mãe e tia “Xiquinha” costuravam, um pequeno banheiro e um quarto onde ela dormia.
Tia Xiquinha era viúva do irmão mais velho de minha mãe e morou conosco um bom tempo.
Uma pessoa geniosa. Também a minha avó, mãe de minha mãe morava conosco neste
período. Vó Carmela morou conosco por muitos anos, ia e voltava entre nossa casa e a de meu
tio em Amparo, mas acabou permanecendo conosco até que nos deixou. Uma pessoa
deliciosa.
Bem, eu estava falando das aulas de Admissão. Pois é, nesta época, para se passar do
Grupo Escolar para o Ginasial era preciso prestar uma prova de seleção chamada de “Exame
de Admissão”6, somente os que passassem nesta prova poderiam seguir estudos. Era 1969 e
continuávamos regidos pela LDB nº 4.024, em vigor desde 1961.
A Educação de Grau Médio dava prosseguimento ao ensino ministrado na escola
primária e destinava-se à formação de adolescentes; esta dividia-se “em dois ciclos, o ginasial
e o colegial e abrangerá, entre outros, os cursos secundários, técnicos e de formação de
6
Art. 36. O ingresso na primeira série do 1° ciclo dos cursos de ensino médio depende de aprovação
em exame de admissão, em que fique demonstrada satisfatória educação primária, desde que o
educando tenha onze anos completos ou venha a alcançar essa idade no correr do ano letivo.
(BRASIL, 1961). O exame de Admissão foi extinto com a promulgação da Lei nº 5.692/1971.
65
professores para o ensino primário e pré-primário” (BRASIL, 1961, Art. 34). Uma novidade
aqui é que os dois ciclos eram compostos de disciplinas obrigatórias, indicadas pelo Conselho
Federal de Educação (CFE), e disciplinas optativas indicadas pelo Conselho Estadual de
Educação (CEE).
Eu e a Fátima chegávamos da escola “Navio” depois de caminhar quase 1 km,
trocávamos os uniformes, almoçávamos e pegávamos os cadernos do curso de Admissão
partindo para o Ginásio Industrial que ficava a 1,5 km de distância de nossa casa. Trilhamos
este percurso por um semestre inteiro. Ao final, ou início do ano seguinte, não sei ao certo
prestamos o Exame de Admissão em duas escolas: no Instituto Educacional Fernando Costa
(IE) – escola almejada por muitos – e no Ginásio Industrial Estadual – escola
profissionalizante. Eu só passei no Industrial, a Fátima nas duas, mas, como tínhamos que
estar juntos, fomos para o Ginásio Industrial, que na época ficava no Bairro do Bosque.
À medida que estudávamos em nossa “pacata” cidade, não percebíamos o quanto a
sociedade brasileira sofria como consequências do golpe militar.
Em 1969, com a assunção do general Emílio Garrastazu Médici à Presidência da
República o Brasil sofre seu pior período ditatorial. Censuras, prisões, mortes e
desaparecimentos ocorreram com frequência e sem nenhum direito a defesa, pessoas
desapareceram como em passe de mágica sem nenhuma explicação.
A repercussão internacional das torturas realizadas pelos órgãos de controle criados
pelo Regime Militar levou os representantes políticos do regime a se preocuparem com as
repercussões externa que denegriam a imagem do Brasil.
Estávamos em 1970 e eu a Fátima iniciamos a 1ª série ginasial.
O Ginásio Industrial era uma escola profissionalizante, “moda”,
Era preciso formar mão de obra de média especialização para entrar cedo no mercado
do trabalho. Além das aulas de português, matemática, história, os meninos estudavam
também desenho técnico, marcenaria, eletricidade e mecânica industrial e as meninas faziam
Prendas Domésticas: aprendiam a cozinhar, bordar e outras coisas que cabiam às mulheres na
época fazer. A Fátima sempre guardava um pedaço das guloseimas que aprendia a fazer para
mim. Vantagens de se ter irmã estudando junto.
66
Em 1968 é a vez do ensino superior que, no dizer de Vieira e Farias (2003) precisa
ser organizado para articular-se com a escola média, assim, em 28 de novembro é promulgada
a Lei nº 5.540 reformando as universidades com a finalidade de “oferecer respostas às
demandas crescentes por ensino superior” (VIEIRA; FARIAS, 2003, p. 122); ao que Saviani
completa:
O início dos anos 1970 foi marcado pela efervescência do pensamento tecnicista.
Lembra-nos Saviani (2010, p. 370-371) que este é o período em que nomes como Frederick
Taylor e Burrus Frederic Skinner se despontam, o primeiro na área da administração e da
economia o segundo na psicologia da educação.
São dessa época também a valorização dos Ginásios Industriais e das Escolas
Técnicas que tinham como intenção a capacitação de mão de obra suficiente para lidar com o
trabalho das indústrias nascentes.
Saviani (2010, p. 372) ainda nos aponta que é difícil refutar o tecnicismo, pois suas
bases ideológicas coincidem com a do liberalismo e da escola nova. A incorporação das ideias
pedagógicas tecnicistas na organização do sistema de ensino foi empreendida pelas iniciativas
de reforma que começou com o ensino superior a partir de estudos desenvolvidos no âmbito
do então Conselho Federal de Educação (SAVIANI, 2010, p. 373).
68
7
Disponível em <(https://www.google.com.br/ ?gws_rd=ssl#q=qualifica%C3%A7%C3%A3o)>
8
Disponível em <(https://www.google.com.br/?gws_rd=ssl#q=prepara%C3%A7%C3%A3o)>
69
E “em 1972 todas essas escolas foram enquadradas no regime comum instituído pela
Lei nº 5.692, de 11 de agosto de 1971” (SAVIANI, 2010, p. 337). O ensino passou a vigorar
com a seguinte estrutura:
O Primeiro Grau, com oito anos de duração, que incluía o ensino primário a partir
dos 7 anos e o ensino ginasial, eliminando o exame de Admissão;
O Segundo Grau, compreendendo o Colegial com duração mínima de três anos e de
caráter profissionalizante. Lembramos que estamos num período de busca de expansão
econômica, as escolas se abrindo para formar pessoas capazes de operacionalizar máquinas
nas indústrias e ter seus pequenos negócios, assim boa parte das escolas ginasiais e a maioria
das escolas colegiais eram profissionalizantes. Era preciso formar mão de obra mais
qualificada para dar conta do crescente mercado industrial brasileiro.
Além desta nova organização que encontramos ao longo da Lei, vemos no artigo 4º e
seus parágrafos claramente a sua intencionalidade:
desejava estudar. Mesmo assim, somente o magistério se estendia por um ano a mais, os
demais cursos deveriam ser realizados em três anos.
Traz ainda a preocupação em estender o tempo regular de estudo para atender
estudos de recuperação, ministrar disciplinas de cursos semestrais, promover estudo de
aperfeiçoamento de professores que pretendem atuar nos cursos supletivos.
Quanto ao Ensino de 1º grau, encontramos também algumas novidades como a
possibilidade de crianças com sete anos incompletos ingressarem na 1ª série do 1º grau (§1º
do Art 19). A Lei também deixa demarcada a idade mínima para se cursar o supletivo: 18
anos para o ingresso no 1º grau e 21 anos para o ingresso no 2º grau. (§1º do Art 26).
Mas é somente ao final da Lei, já nas Disposições Transitórias que aparece a
preocupação com o Diretor de Escola. Claro que subentende-se que a implantação e o
cumprimento desta lei, assim com as demais leis educacionais estão a cargo do Diretor como
uma de suas funções, mas não se define o perfil deste diretor e quais as formas mais
adequadas de sua formação e escolha ao cargo. Diz apenas os dois parágrafos desta Lei:
O Artigo 79 fala sobre quem deve ocupar a função de diretor quando não houver
alguém habilitado para isto e o Artigo 84 salvaguarda o direito dos diretores, inspetores,
orientadores e administradores que já ocupam estas funções na condição de servidor público
estável. E só.
Assim, as mudanças iam acontecendo em forma de leis e na organização do ensino e
das escolas de acordo com o contexto político da época. Nós alunos em nada interferíamos,
apenas sofríamos estas mudanças sem questionar. Éramos agentes passivos em todo o
processo da educação.
Eu e a Fátima fomos para a 6ª série do primeiro grau e a Rosângela entrou na 5ª. Ao
fazer memória destes fatos duas coisas me vem à mente: perto de nossa casa morava uma
amiga de minha irmã que estudava conosco, muitas das vezes íamos e voltávamos juntos,
fazíamos tarefas e coisas de “coleguiçe” juntos, não sei por que, mas ela morava com a avó e
71
Em mim via o “médico”. Eu até me deixei levar por esta ideia, mas a descartei mais
tarde. Filho mais velho, seu herdeiro, colocava em mim virtudes que não as tinha. Por isto
qualquer fracasso meu era penoso para ele. Lembro-me que, quando cursava a 7ª série
ginasial, tirei nota 3,0 (três) em geografia. Ficou furioso:
- Você não faz nada, só estuda e me tira uma nota dessas!
- Quero só ver, se isto se repetir te ponho para fora de casa!
Fiquei cabisbaixo, nunca tinha tirado uma nota vermelha, mas havia falhado. De fato
nunca mais tirei outra nota vermelha e não foi só por medo, mas muito mais porque aprendi,
naquele gesto de amor enfurecido, a importância do estudo.
Nós da classe média-baixa entendíamos, na época, a importância dos estudos como
forma de mudança de vida, como, se não a única, mas a melhor alternativa de melhoria da
qualidade de vida. Estudar era crescer.
Este zelo paternal ele o exercia com todos os filhos, não era um privilégio meu, pelo
contrário, não me recordo uma única vez meu pai preferindo um de nós. Sorria para todos,
beijava a todos e chorava por todos. Meus pais são assim, são muito pais.
A professora ficou sabendo do ocorrido, me chamou no canto, perguntou se era
verdade, confirmei. Quando o boletim chegou minha média estava 5,0 (cinco), não sei onde
ela arrumou esta nota, mas lá estava.
Terminamos a 8ª série e era hora de pensar no futuro. A Fátima foi finalmente
estudar no IE e optou por cursar o Magistério, eu resolvi fazer o Colégio Agrícola, uma
mudança e tanto, mas precisava de uma profissão, já que o curso universitário era para
poucos. Expressei minha vontade para meus pais e para lá fomos, tomamos as informações
necessárias, meus pais providenciaram o meu enxoval. Na época não atinei para este fato, mas
para uma escola pública o enxoval pedido era bastante caro e creio que meus pais passaram
meses pagando as prestações que fizeram para comprar tudo o que pediam. Enfim estava eu
lá.
Já estávamos em 1974, os cursos profissionalizantes cresciam e multiplicavam-se,
mas como sabemos só o Magistério e o Colégio Agrícola duraram um pouco mais, os demais
acabaram na rapidez que surgiram.
Eu ia fazer 15 anos ainda, era o mais novo da turma e sem nenhuma experiência de
roça, embora em minha turma – iniciamos o 1º ano com 120 alunos – havia muitos jovens
como eu, mas nas turmas mais adiantadas os estudantes eram homens feitos, barbados e de
diversas localidades do Brasil, havia até uns acreanos entre os mais antigos. Numa das
73
primeiras vezes em que me dirigia à fila do refeitório, alguém da fila dos veteranos me
perguntou:
- “Hei, menino! Quantos dias você vai ficar aqui?”
Eu sem olhar para traz para não ver quem era, respondi: “Três anos” e ouvi apoios,
- “Isto ai, é assim que se fala”.
Cumpri minha palavra.
No Colégio Agrícola éramos internos. Os novatos dormiam em um grande
alojamento com incontáveis beliches. Eu dormia na parte de cima de um deles. Os das séries
mais avançadas ocupavam os apartamentos que estavam em construção. Dois ou três meses
depois fui convidado para ocupar um desses apartamentos com mais cinco amigos do
primeiro ano. Coisas de politicagem.
Uma pessoa extraordinária, cuja memória conservo em meu coração ainda hoje e foi
o meu melhor amigo, Vagner Ricci, comunicativo, mais velho que a maioria dos alunos do 1º
ano, logo se enfronhou na direção e na cooperativa de alunos e conseguiu um apartamento,
para lá fomos. Se por um lado era bom porque havia mais tranquilidade, por outro foi ruim
porque perdi o convívio coletivo.
Tínhamos dois turnos de estudo, um teórico em que compartilhávamos disciplinas do
currículo comum com as técnicas e outro com as chamadas “aulas práticas” quando íamos
para o campo – cada semana em um setor, que se revezavam entre os agrícolas e os pecuários
– e lá cuidávamos da lavoura e dos animais.
Durante o período do colegial conheci dois diretores e tive minha primeira
experiência com a diretoria, mas falo dela a seguir. Nesta época a pessoa do diretor era mais
acessível, mas não mais fácil de conversar e não menos ausente do convívio com os alunos.
Ainda era uma função de gabinete. Para se ter ideia o prédio da administração do Colégio
Agrícola fica, porque ainda hoje é assim, a uns 300 metros do prédio onde estão as salas de
aula. O pedagógico ficava distante do administrativo.
Durante uma aula de Práticas Agrícolas, nas quais o professor ficava aulas e aulas
nos mostrando como fazer um canteiro, com minúcias milimétricas de tamanho, altura e
coisas mais; ele gastou um semestre para explicar como cultivar rabanetes que, uma vez
semeado, 28 dias depois está pronto para colher. Um pequeno grupo conversava e o professor
já estava irritado, levantei a mão ou falei um pouco mais alto lhe perguntando algo, pronto, foi
o suficiente para nos mandar para a diretoria e não adiantou eu protestar. Quando lá chegamos
e o diretor me perguntou o que eu fazia na direção, respondi que também não sabia. Deu-nos
74
uma bronca e retornamos para a sala com raiva do Beltrão, pelo menos eu estava. Este foi o
dia que cheguei mais perto de um de meus diretores e com ele troquei duas ou três palavras.
Há muitas histórias do Colégio que renderiam mais um volume, mas estas não veem
ao caso agora, quem sabe uma próxima vez.
Passaram-se os três anos e, em dezembro de 1976, finalmente terminamos o curso
agropecuário. Ah! Preciso registrar aqui, era a primeira turma mista do colégio de Presidente
Prudente. Nossa turma era composta por um grupo de meninas que faziam Economia
Doméstica; elas moravam em uma casa a parte dos alojamentos dos meninos e tinham uma
professora só para atendê-las. Porém, cada um seguiu seu rumo. Os únicos contatos que
conservei da época foram com o Vagner (que já nos deixou e de forma trágica) e com o
Massayoshi, com quem ainda troco falas e, vez ou outra, aparece em casa – meus pais o
batizou quando ele já tinha seus 19 para 20 anos. Depois outros contatos foram se refazendo e
hoje temos um grupo grande que se reúne uma vez ao ano.
Fui trabalhar, ingressei no Estado como técnico Auxiliar de Veterinário e sai de casa,
pois assumi o cargo em Junqueirópolis, onde passei dois agradáveis anos de minha vida. Mas
ao final do primeiro ano já estava cansado de só trabalhar, me matriculei em uma escola
estadual que tinha o profissionalizante de Técnico em Contabilidade. Não estava satisfeito
ainda, então, junto com um grupo de jovens prestamos vestibular e fui cursar Ciências em
Dracena, cidade vizinha de Junqueirópolis. O curso era bom, mas queria mais, então, depois
de conversar com o padre da cidade, pessoa maravilhosa que deve estar olhando-nos lá de
cima agora, resolvi ingressar no seminário. Ele providenciou tudo o que precisava. Fiz
inscrição no curso de Filosofia da Unesp de Marília, passei no vestibular e para lá fui.
Sempre fui muito ligado a religiosidade e frequentador de atividades junto às
comunidades religiosas e, quando terminei o Colégio Agrícola já havia manifestado aos meus
pais a vontade de ingressar no seminário e seguir a vida celibatária, mas não encontrei apoio
e, naquela época não tive coragem de enfrentar e tentar minha vocação. Em Junqueirópolis, já
com certa autonomia social e financeira tomei a decisão e fui.
A rotina do seminário era a mesma todos os dias. Levantávamos por volta das 6
horas, íamos para a capela rezávamos e participávamos da missa. Tomávamos o café da
manhã e depois tínhamos aulas ligadas ao seminário: latim, cultura religiosa, documentos da
Igreja e assim por diante. Depois do almoço descansávamos e tínhamos a tarde para os
estudos. Um dia ou outro jogávamos futebol e entre este, rezávamos o terço. Oração da tarde,
75
jantar e por volta de 18h20 e 18h30 partíamos para a faculdade. Sim, as louças das refeições
eram nossas.
O Seminário Provincial, hoje FAJOPA, fica no bairro São Miguel, de lá saíamos em
turmas, caminhávamos pelo acostamento da rodovia até chegarmos na Unesp. A volta era
feita por dentro da cidade, algumas vezes com carona até determinado lugar e caminhada até
o Seminário. Uns poucos faziam uso de circulares. Mas éramos jovens, tínhamos energia
sobrando.
Eu fazia parte da segunda turma do Seminário Provincial. Era uma experiência na
tentativa de minimizar gastos e trazer os seminaristas mais para perto de suas dioceses. Em
minha turma éramos em 22 estudantes, das cinco dioceses da Província de Botucatu9 e nem
todos passaram no vestibular, por isso eram ouvintes na faculdade. O grupo vindo de Prudente
era bem preparado e sabiam a que vinham, nós outros, das demais dioceses, mal sabíamos de
nossas vocações.
Eu não tinha noção do que se tratava a “filosofia”, não tinha a menor ideia e fiquei a
me buscar nas primeiras aulas. Aos poucos, entre uma aula e outra, uma e outra leitura fui me
encontrando vagarosamente. Um dos professores dava aula com quatro livros abertos sobre
sua mesa: um em português, outros em francês, outro em alemão e outro em grego e, por
vezes lia trechos de um e de outro para nós como se todos soubéssemos uma dessas línguas.
Eu, que mal sabia soletrar o português, que ao receber de volta meu primeiro trabalho,
encontrei nele mais observações em vermelho do que as escritas em azul que fizera. Eu era
um peixe fora d’água, mas não era o único.
Junto conosco havia cinco outros alunos que não eram seminaristas. Estes estavam
ali por escolhas pessoais, queriam fazer Filosofia para serem Filósofos. Nós estávamos ali
para sermos padres e a Filosofia era um caminho necessário, mas não desejado por todos.
Penso que este foi um dos primeiros dos paradoxos que tínhamos que enfrentar: estudar algo
que não se quer para alcanças algo que se deseja. Por fim, tomei gosto pela filosofia e fui me
familiarizando, embora sem nenhum brilhantismo.
Pensando nisto, olho hoje para os alunos nos bancos escolares e tento imaginar o que
há em comum entre eles e eu naquela época. Sabem eles o que querem e por que estão e
precisam estar ali? Quantas vezes o professor de matemática, de ciências ou de geografia não
lhes fala como se falasse em grego? E nós julgamos que eles não possuem interesse, são
9
Em virtude do aumento populacional algumas dioceses foram divididas e a Província de Botucatu é
composta hoje por oito dioceses: Araçatuba, Assis, Bauru, Botucatu, Lins, Marília, Ourinhos e Pres.
Prudente.
76
relapsos, não querem “nada com nada”. Pode até ser que Heráclito tenha razão e que não
conseguimos nos banhar duas vezes com as mesmas águas de um mesmo rio, mas ainda assim
águas correm no rio como se ambos fossem os mesmos, e nós continuamos a nos banhar, sem
nos darmos conta do constante devir.
Num outro momento, uma professora recém-chegada deu-nos um curso sobre
Feuerbach. Lemos, discutimos e refletimos. Ao final nos perguntou: o que vocês acharam? A
pergunta era provocativa sim, ela queria saber como nós seminaristas tínhamos passando pelo
curso. A sala estava em silêncio, acho que todos pensávamos na questão proposta pela
professora. Então, num dos poucos momentos em que tive coragem a abrir a boca e falar,
disse:
- As aulas foram muito boas, as ideias de Feuerbach são interessantes e nos ajudam a
responder algumas coisas, só que para mim não sevem como princípios.
Outros fizeram suas ponderações e o curso terminou.
Antes de terminarmos o terceiro ano de faculdade estava eu de mudanças para São
Paulo. Junto com dois amigos recusávamos cursar Teologia no seminário provincial da cidade
de Marília; era um curso iniciante, com os mesmos professores/padres que víamos quase
todos os dias a nossa volta. Em janeiro já estava empregado, seis meses depois consegui
minha transferência para a Universidade de São Paulo e continuava meu curso de filosofia em
São Paulo e ao final do ano já havia feito as “pazes” com o bispo da diocese da cidade de
Marília, a qual estava incardinado e, em 1985 comecei a cursar Teologia na Faculdade
Redentorista.
Passei a morar na casa paroquial da Freguesia do Ó, em São Paulo. Às 5 horas da
manhã já estava no ponto de ônibus, ia até a Praça de Sé, lá pegava o ônibus elétrico até o
Ipiranga. Às 7 horas estávamos em sala de aula na Faculdade de Teologia.
Terminava as aulas após às 12 horas e de lá eu partia para a Casa Verde. Embora
contra as regras da Diocese, não parei de trabalhar na fábrica, nunca aceitei facilmente a ideia
de ser sustentado pelo dízimo paroquial, fruto do trabalho de pessoas nem sempre favorecidas
na vida. Saia da fábrica às 18 horas, uma hora ou pouco mais de ônibus e estava eu na Cidade
Universitária. Às 19h20 iniciava as aulas de Filosofia, era preciso terminar o curso de
Filosofia e ter uma profissão. Agora a Filosofia não era um mero caminho para a Teologia,
era desejo de saber, necessidade de profissão, motivo para ser mais que um simples sacerdote,
ela me alicerçava, eu tinha propósitos.
77
Os três amigos que fomos a São Paulo juntos e dividimos apartamento, agora cada
um de nós morava em um canto da cidade, mas estudávamos teologia na mesma faculdade e
mesma sala. Estávamos realizando nossos sonhos. Mas cada um a seu tempo e por seus
motivos foi deixando o curso e a vocação sacerdotal.
Um ano e meio depois de ter iniciado meu curso de teologia em São Paulo, estava em
meu quarto na casa paroquial da igreja Nossa Senhora do Ó e chega minha irmã mais velha –
a do coração – para me intimar a sair do seminário, voltar à vida cotidiana e assumir minhas
responsabilidades junto a família. Eu era o mais velho e precisavam de mim.
Estava em uma encruzilhada, precisava decidir entre meus desejos e sonhos ou
ajudar a família. Pesava em minha consciência eu viver tranquilamente em meus estudos,
trabalhando e me sustentando, e minha família com dificuldades. Na época não me passou
pela cabeça que eu era um dos seis filhos e que os cinco outros poderiam estar ajudando.
Pesava-me o fato de ser mais velho e ter obrigações familiares. Creio também que a
intensidade de minha vocação sacerdotal não foi suficiente para me manter no seminário.
No final do semestre fui até a cidade de Marília e falei com o padre que me
orientava, expus meu dilema, mas ele relutava em querer me entender ou eu relutava em
entendê-lo. Não sei ao certo e ainda hoje não me esforço por saber. O certo é que na manhã
seguinte falei com o bispo diocesano e deixei de lado o que acreditava ser minha vocação na
esperança de um dia, quem sabe, retornar.
Assim, parei a Teologia, me desliguei da diocese e terminei o curso de filosofia.
Continuei a trabalhar na mesma fábrica em que trabalhava quando cheguei a São Paulo, mas
agora o dia todo. Passei a vir mais para a casa de meus pais e a contribuir com as finanças.
Minha ajuda em casa não era grande e nem creio que fosse significativa, pois agora precisava
pagar moradia e alimentação para me manter em São Paulo, porém, meu pai, quem sabe
minha mãe, e um ou dois de meus irmãos, estavam mais satisfeitos já que nunca aceitaram
minha ida para o seminário.
Decisão tomada, agora era vida nova. Precisava trabalhar e seguir com a vida. Entre
o trabalho na fábrica e as aulas na faculdade, comecei a lecionar em uma escola particular e
quando sai da fábrica intensifiquei minhas aulas dando início à minha vida profissional.
Minha experiência com os diretores agora era outra. Eu era professor.
78
Em 1988 a sociedade brasileira ainda passava por apertos. O regime militar, embora
começasse a dar sinais de abertura, mantinha o poder sob seu controle. No entanto, a
repercussão internacional das torturas levava os representantes políticos do regime militar a se
preocuparem com a imagem externa do Brasil. Entre as organizações denunciantes estavam o
Conselho Mundial de Igrejas, o Comitê Internacional de Juristas, a Comissão de Direitos
Humanos da ONU, a Cruz Vermelha, a Anistia Internacional e o Tribunal Bertrand Russell,
que realizaram, na cidade de Roma, em 1974 o julgamento simbólico da ditadura brasileira.
Embora envolto em toda esta crise política e social, mesmo assim o Brasil ainda
ganhava na economia. Em seis anos de “milagre”10 o PIB cresce 88,4%, o PIB per capita
60,8%; a indústria de transformação cresce 111,2%; a produção de veículos vai de 225 mil
para 709 mil unidades e se torna o carro chefe da economia. A energia elétrica sobe 88,8%; as
exportações quadriplicam-se. Mas a população estava empobrecida. O “milagre econômico”
brasileiro dura pouco. A crise econômica mundial afeta o petróleo e diretamente o Brasil.
10
O período entre 1968-1973 é conhecido por "Milagre" econômico brasileiro, em virtude das altas
taxas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Como consequência ao "milagre" tivemos o
rápido crescimento econômico acompanhado de inflação declinante e relativamente baixa para os
padrões brasileiros, além de superávits no balanço de pagamentos.
79
11
Diretas Já foi um movimento político democrático com grande participação popular que ocorreu no
ano de 1984. Este movimento era favorável e apoiava a emenda do deputado Dante de Oliveira que
restabeleceria as eleições diretas para presidente da República no Brasil. Durante o movimento
ocorreram diversas manifestações populares em muitas cidades brasileiras como, por exemplo,
passeatas e comícios. Estes eventos populares contaram com a participação de milhares de
brasileiros, entre eles: Franco Montoro, Fernando Henrique Cardoso, Tancredo Neves, Ulysses
Guimarães, José Serra, Mário Covas, Teotônio Vilela, Eduardo Suplicy, Leonel Brizola, Luis Inácio
Lula da Silva, Miguel Arraes, entre outros. Teve também a participação de artistas, jogadores de
futebol, cantores, religiosos. Em 25 de abril de 1984, a emenda constitucional das eleições diretas foi
colocada em votação. Porém, para a desilusão do povo brasileiro, ela não foi aprovada. Em 15 de
janeiro de 1985, ocorreram eleições indiretas e Tancredo Neves foi eleito presidente do Brasil.
Porém, em função de uma doença, Tancredo faleceu antes de assumir o cargo, sendo que o vice,
José Sarney, tornou-se o primeiro presidente civil após o regime de Ditadura Militar (1964-1985). As
eleições diretas para presidente do Brasil só ocorreriam em 1989, após ser estabelecida na
Constituição de 1988. (http://www.suapesquisa.com/historiadobrasil/diretas_ja.htm, Acessado em
14/09/2016, às 17h50).
80
por isto penso que chegou a hora de deixar claras as bases conceituais que me apoio para o
uso de tais conceitos, mesmo porque os ideais neoliberalistas já entram pela porta da sala
brasileira.
No âmbito do Estado de São Paulo, em 27 de dezembro de 1985 foi promulgada, no
panorama educacional, a Lei Complementar nº 444/1985 – Estatuto do Magistério Público do
Estado de São Paulo – impregnada dos ideais neoliberais e democráticos; ao mesmo tempo,
no panorama político nacional tivemos Fernando Henrique Cardoso sendo eleito Presidente da
República, em cujo governo o Brasil conhecerá, com maior força e evidência, a prática e os
efeitos de tais ideais. Para me auxiliar nesta reflexão farei uso do pouco conhecimento que me
resta da Filosofia, evidentemente com apoio da filósofa brasileira Marilena de Souza Chaui.
A ideia de propriedade privada é muito recente. Na Idade Média a terra, por tradição
judaica, era um bem divino, cedida aos reis, que por sua vez, a cedia aos senhores feudais para
dela cuidar e fazer produzir. O pensamento moderno inicia vendo a propriedade como um
bem civil e não mais como um direito natural, por isto só consolidada legalmente ao homem
após o pacto social, pois este transforma a sociedade natural em sociedade civil, que, através
das suas leis garante a propriedade privada.
Acontece, porém, que a burguesia buscava seu espaço social, trabalhava, adquiria
riquezas, comprava suas terras, mas não conseguia o prestígio social da nobreza. Era
necessário então ter uma teoria que garantisse ao seu poder econômico um fundamento
natural, daí pensar a propriedade como um direito natural. John Locke, filósofo inglês do final
do século XVII e início do século XVIII, fará isto com propriedade.
Em sua explicação sobre o liberalismo, Chaui (2010, p. 348) afirma “Locke parte da
definição do direito natural como direito à vida, à liberdade e aos bens necessários para a
conservação de ambas. Esses bens são conseguidos pelo trabalho.” (negrito da autora). Locke
irá buscar a fundamentação do trabalho como a base do direito natural no texto bíblico do
Gênesis, capítulo 3, ai Deus expulsa o homem do Paraíso e determina que ele deve trabalhar
para obter o seu sustento, assim Deus não tira do homem o domínio do mundo dado no início
da criação, apenas diz que este será obtido pelo trabalho. Ora, sendo dado por Deus, o
trabalho é, portanto, um direito natural.
Desta forma, conclui Chaui
Triste conclusão que vem, de forma falaciosa, justificar a pobreza, definindo-a como
culpa do trabalhador e não como fruto da exploração do trabalho alheio.
Finalmente temos que, segundo as teorias liberais, “[...] o indivíduo é a origem e o
destinatário do poder político, nascido de um contrato social voluntário, no que os
contratantes cedem poderes, mas não cedem sua individualidade. O indivíduo é o cidadão”.
(CHAUI, 2010, p. 349, itálico da autora)
Com as lutas populares contra a exploração crescente do capitalismo avançado da
Europa surge o Estado de Bem-Estar Social que se define sob três aspectos: 1- produção no
estilo fordista, com a organização do trabalho, o controle de produção e o controle de preços;
2- crescente inclusão dos indivíduos no mercado de trabalho e 3- as grandes multinacionais ou
transnacionais que tinham o Estado como reguladora.
Se na Europa o trabalhador adquire seus direitos sob menor peso do capitalismo, nos
países subdesenvolvidos ou, como são chamados, em desenvolvimento, a exploração da mão
de obra passou a ser ainda mais pesada e cruel ao trabalhador.
Ideais contrários ao Estado do Bem-Estar Social fizeram surgir o Neoliberalismo
como fruto de um detalhado projeto econômico e político que se opunha aos encargos sociais
e ao controle das atividades do mercado pelo Estado de Bem-Estar, alegavam que estes
destruíam a liberdade dos cidadãos e a competição “sem as quais não há prosperidade”
(CHAUI, 2010, p. 358). Duas figuras mundiais têm seus governos marcadamente neste estilo.
Inaugurando o chamado neoliberalismo tivemos a primeira ministra da Inglaterra (de 1979 a
1990), Margaret Thatcher e o presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagen (de 1981 a
1989). No Brasil figurará o ex-Presidente de República Fernando Henrique Cardoso, como
mais adiante veremos.
Sem as regras de controle do mercado e sob o comando do mercado livre e da
competição temos o fenômeno das privatizações e a busca do Estado mínimo.
Outro conceito que é necessário esclarecer é o de democracia e, em decorrência o de
escola democrática. De forma muito simples e até corriqueira podemos dizer que
“democracia” é o governo dos cidadãos, do povo e, talvez esta seja a melhor definição que
82
possamos usar. Podemos ainda dizer que usamos a palavra democrático/democracia para nos
referir à forma de governo e, democracia como uma das formas de exercício de/do poder de
um governo. Assim, democracia tanto é um sistema político, como uma forma de exercer o
poder político.
Transpondo o conceito de democracia para a educação, entendo como educação
democrática aquela em que o povo, os cidadãos, participam igualmente desde o pensar até o
fazer a educação; participação que se dá em particular junto e com aos seus pares e
coletivamente nos colegiados escolares, entre os seguimentos dos que participam da escola e
em outros momentos informais. Claro que cada qual contribui com o que lhe é específico,
opina de forma geral, mas também respeita e acata o outro em suas especificidades. É
igualmente educação democrática aquela que é oferecida a todos em semelhantes
circunstâncias, situações e intensidade, sem discriminação de classe, cor, posição social,
credo, competência e ou habilidade, de forma a atender a cada um dentro de suas
particularidades e necessidades.
Entendo que, neste sentido também a educação democrática tem dois sentidos, um
que diz respeito ao governo da escola, o que compreende desde a legislação que assim define
a forma de governo das escolas brasileiras à efetiva participação das pessoas nos espaços
escolares, outro é o como o ideal democrático se concretiza na prática cotidiana, garantindo
assim que os valores, as culturas, os saberes acumulados pela sociedade através dos tempos
sejam ministrados a todos e por todos com igualdade e equidade.
Esclarecidos tais conceitos volto aos meus pensamentos. Quem é o Diretor de Escola
e como ele é constituído legalmente?
A Lei Complementar (LC) nº 444, de 1985, vem em decorrência da Lei nº
5.692/1971, que embora esta última já esteja revogada, a LC nº 444/1985 se mantêm em
muitos de seus artigos. Por pretender organizar o magistério paulista, nela encontramos
maiores referências sobre o Diretor de Escola, por isto me deterei nela.
Acredito que um dos primeiros ganhos da LC 444/1985 foi a de classificar o Diretor
de Escola entre os especialistas de educação e denominar seu posto de trabalho como “cargo”
e não de função.
Para esclarecer. Denomina-se cargo o posto de trabalho ocupado por servidor que,
através de concurso público de provas e títulos, é empossado no posto para o qual fez o
concurso, tornando-se assim efetivo, após os três anos de estágio probatório. Função é o posto
83
ocupado por um servidor que não passou por concurso público ou que não necessita de
concurso por ser posto de confiança e ou provisório.
Ora, o Estado de São Paulo, através da LC nº 444/1985 institui que o posto de
Diretor de Escola é um cargo e deve ser ocupado por pessoa concursada para tal fim.
Acontece, porém, que por falta de concursos públicos e pela rotatividade de pessoas no
trabalho em virtude de aposentadoria entre outros fatores, muitos dos diretores de escola
ocupam o cargo na categoria de função, ou seja, são nomeados através de escala elaborada a
partir de tempo de serviço e títulos. E isto é interessante se ter em mente, pois com isto se
percebe a vulnerabilidade da pessoa que ocupa a direção. Retomarei a esta ideia no próximo
capítulo.
Com os professores também acontece esta dupla categorização visando atender os
alunos em salas de aula. Há os efetivos que prestaram concurso público e assumem seus
cargos de professor e há os não efetivos, isto é, os que são contratados como professores pelo
período de um ano letivo. Estes, porém, não são tão vulneráveis quanto aos diretores, pois
uma vez que lhes foram atribuídas as aulas, permanecem com elas e na escola enquanto
perdurar o período de atribuição ou o de substituição, e o Diretor de Escola não tem
autonomia para cessar a atribuição do professor, mesmo que este seja negligente em seu
ofício.
Há, no entanto algumas classes no magistério que são ocupadas apenas na forma de
função porque fazem parte de projetos e ou Políticas Públicas de governos, como é o caso dos
atuais Coordenadores Pedagógicos, dos Vice-Diretores de Escola e dos Professores
Mediadores Escolares e Comunitários.
Portanto, a LC nº 444/1985 afirma que o provimento do cargo de Diretor de Escola
se dará por “Concurso Público de Provas e Títulos - Nomeação e Acesso” (SÃO PAULO,
1985, Anexo I) e são requisitos para tal:
As regras agora para prover o cargo de Diretor de Escola estão melhores definidas e
as exigências são maiores. É preciso ser Pedagogo e ter habilitação em Administração Escolar
e, o que julgo muito importante, ter no mínimo cinco anos de experiência docente. Entendo
84
que sem esta experiência o diretor tenderá a ser muito mais burocrático, sem entender os
meandros da sala de aula.
Finalmente ressalto que o Estatuto do Magistério não elenca em seu corpo os direitos
e deveres do Diretor de Escola em especial, traz sim, nos Artigos 61 e 62 os direitos dos
integrantes do quadro do magistério e no Artigo 63 os deveres dos integrantes do quadro do
magistério, mas são direitos e deveres que cabem a todos que se incluem na classe do
Magistério. No entanto, é preciso ressaltar ainda a importância deste Estatuto ao dar clareza
sobre quem é a pessoa que pode prover o cargo de Diretor de Escola.
Muito bem, este é o panorama que encontrei em 1988, quando cursando os últimos
anos de faculdade e ainda morando em São Paulo, comecei a lecionar em uma escola
particular de suplência para adultos. Dava aulas de história e geografia. De início era para
atuar em duas turmas, mas na primeira semana de trabalho aumentaram minhas aulas e passei
a trabalhar mais noites.
Meu grande desafio foi entrar, logo de início, em uma turma de 3ª série do antigo
colegial, trabalhando o conteúdo de geografia. Loucuras que se faz na juventude, quando não
se tem noção dos aspectos morais e muito menos da responsabilidade do trabalho com
educação. Mas, pelo medo de não conseguir responder adequadamente um questionamento de
meus alunos e pela vontade de que o trabalho desse certo, eu estudava muito e preparava
minhas aulas com textos sínteses, pois os alunos não tinham livros, e questões para que
exercitassem seus conhecimentos, e, desta forma logo adquiri credibilidade com os alunos e
com a escola.
Quando se diziam cansados, respondia:
- Coragem, é certo que estamos num curso de supletivo, mas por isto mesmo
precisamos andar mais rápido para vencer todo o conteúdo. Vocês não pagam para ficar para
traz.
A Lei nº 5.692/1971 já citava o ensino de suplência ou supletivo indicando o exame
de suplência e as formas de sua organização, mas não o determinava como obrigação do
Estado. Assim, muitos empresários da Educação viram no Supletivo um bom filão comercial.
Era numa escola desta que eu trabalhava.
Outro problema que vejo está na minha resposta aos alunos. Nitidamente conteudista,
porque era assim que eu via a educação, foi assim que passei pelos bancos escolares e assim
reproduzia, sem refletir.
85
Os alunos se convenciam e caminhavam comigo. Eu, sem muita noção pensava que a
qualidade estava na quantidade, que precisava vencer o conteúdo de um ano em seis meses, e,
pela falta de habilidade com as disciplinas trabalhadas, tinha dificuldades em selecionar
apenas o que era essencial.
No meio do percurso e nesta mesma escola supletiva, um professor de história foi
demitido e convidaram-me para dar suas aulas, aceite. Não sabia os motivos e razões da
demissão, menos ainda de sua relação com a sala. Sei que na primeira aula percebi a sala fria,
de pouco sorrisos, séria. Comecei meu trabalho e não recebia de volta as respostas às
indagações que fazia. Os dias de entrar naquela sala me deixavam apreensivo e angustiado,
mas continuava fazendo o que julgava ser minha parte. O clima foi melhorando
vagarosamente e no final do semestre alguns alunos tiveram coragem e falaram:
- Professor, o senhor sabia que fizemos abaixo-assinado para tirá-lo das aulas e para
voltar o outro professor?
Surpreso, respondi:
- Não.
- Pois é, o outro professor era muito bacana, conversava conosco, contava piadas e
nos divertíamos com ele. Você chegava sério, enchia a lousa de matéria, explicava e mal dava
tempo para conversarmos. Não gostávamos de suas aulas. Mas com o passar do tempo fomos
percebendo o quanto estávamos aprendendo e o quanto deixamos de aprender com o outro
professor que só contava piadas.
Fiquei feliz com este desabafo dos alunos, pois senti que meu caminho não estava
totalmente errado. Por estas e outras coisas fui tomando gosto pela educação.
Hoje, porém, refletindo sobre estes fatos percebo o quanto estava equivocado e como
reproduzia uma educação bancária (FREIRE, 2014), não reflexiva e conteudista. Penso que
começo a entender o que Bosi (2016) se referiu ao falar do “olhar interno” que lanço sobre
mim ao fazer minha autobiografia, eu me revejo e me reconstruo, eu me “desidentifico”
(JOSSO, 2006) para me reencontrar no presente.
Em 1988 eu já havia terminado o bacharelado em Filosofia e cursava a licenciatura,
por isso só tinha aulas duas vezes por semana; neste ano a faculdade entrou em greve, então
aproveitei para pegar mais umas aulas, agora no Estado, e garantir um ou dois meses com um
orçamento menos apertado. Foi a primeira e única vez que trabalhei como professor com o
ginasial. Nesta época o próprio diretor tinha autonomia para atribuir as aulas; melhor dizendo,
o diretor, em sua unidade escolar, era quem atribuía suas aulas durante o ano letivo.
86
12
O ditado completo diz: “O hábito não faz o monge, e há quem, vestindo-o, seja tudo menos um
frade” e é atribuída a François Rabelais, monge e escritor francês que viveu entre os anos de 1494 a
1553.
87
Entendo que não estou só nesse pensamento, outros, de reconhecido valor acadêmico
reforçam minha crença e me conduzem por seus pensamentos. Entre estes destaco Sander que
tece o seguinte comentário:
Segundo Freire a escola, pensada e concebida da forma como estava, não tinha
conseguido atender a formação da consciência crítica do homem e, nem tão pouco a sua tão
desejada democracia.
Sabemos que nossas escolas estavam (e não sei até que ponto ainda não estão)
moldadas para atender uma sociedade hierarquizada, autoritária, dominante e que não queria e
nem buscava mudanças. Embora o princípio democrático regesse, e reja, a sociedade
brasileira e, por mais que entendamos que a democracia seja a melhor forma de garantir os
direitos e as obrigações dos indivíduos que dela participam, não dá para, com a instituição
legal da democracia, garantir a justiça social, pois esta depende de valores humanos que estão
além da legalidade institucional de um governo democrático, ou de outra forma qualquer de
governo. Para que haja democracia enquanto valor a ser seguido, é preciso que haja também
valores éticos e morais, pois são estes que constituem no homem o humano.
Conforme Freire (2014), nossas escolas estavam concebidas para produzirem e
reproduzirem uma educação bancária e acrítica que mantivesse o status quo da sociedade. No
falar de Larrosa (2016), temos em nossa sociedade um discurso podre, de cartas marcadas e
que reproduz as mazelas da sociedade também podre; onde “a linguagem fabrica um mundo a
sua medida, um mundo que já não é um mundo, e sim uma armação, ou jaula, ou um armário,
ou um esquema ao qual tudo o que existe se submete ou deveria se submeter” (LARROSA,
2016, p. 89). Por isto,
Neste pequeno trecho de Pedagogia do Oprimido, Paulo Freire deixa claro o que ele
entende por educação bancária, mas vale a pena debruçar-se um pouco mais sobre o texto. Em
primeiro lugar se percebe que aqui o “educador” é um sujeito ativo que “comunica” o saber
por que o detém, o domina. Do outro lado temos o receptor, aquele que recebe este saber e, o
recebe “pacificamente”, não há reflexão, não há crítica, muito menos construção. O saber está
pronto, acabado, inalterado, é, o que entendo, o discurso podre de Larrosa (2016).
Daí se poderia perguntar: Em que o sujeito está sendo construído? É possível
emancipar-se a partir deste tipo de saber? E parece-me que uma só seria a resposta: Não. Aqui
o sujeito não está se construindo, primeiro porque não há sujeito, mas receptáculo, depositário
de algo que se tem nominado de “conhecimento” e, segundo porque para que o sujeito se
construa ele precisa ser ativo numa relação também ativa, o que não acontece neste tipo de
educação. E aqui lembramos uma bela e conhecida afirmação de Paulo Freire: “Ninguém
educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo
mundo” (2014, p. 95), sem esta inter-relação entre os sujeitos, mediada pelo mundo, não há
conhecimento qualitativo.
Outra ideia que o trecho citado me propicia é a de que cabe ao indivíduo 13 ser apenas
o guardião do ou de um saber que lhe foi entregue. Saber determinado, manipulado,
previamente organizado para atender apenas aos propósitos de quem domina e pretende
manter-se no poder. Aqui, quase foge de nossa percepção a sutil frase empregada por Freire:
“porém, os grandes arquivados são os homens”. Sem nos darmos conta de que somos
manipulados, transformados em simples objetos de uso de uma classe dominante, num
sistema igualmente dominante e perverso; sistema que nos arquiva enquanto sujeitos e nos
transforma em “coisas”/“objetos” de uma grande massa uniforme e alienada.
13
Uso propositadamente os substantivos sujeito e indivíduo e, cada qual na sua concepção mais
elementar. Sujeito enquanto pessoa que tem o domínio da ação e ou participa desta sua construção
como ator, portanto sempre sujeito composto (acredito ser a concepção freiriana) e indivíduo como
pessoa só, isolada, individual e que, quando sujeito é sempre sujeito simples.
89
vida social do país.” (BEISIEGEL, 2008, p. 130). Sem este espírito é muito difícil formar o
sujeito proposto por Freire.
Por isto, completa Beisiegel, não basta “recomendar aos educadores a necessidade do
diálogo. É preciso criar procedimentos que obriguem à busca permanente de sua prática.”
(2008, p. 13314). Assim, Beisiegel (2008) nos recorda que para Freire era necessária uma
escola democrática, capaz de manter o diálogo interno e com a sua comunidade, capaz de ler e
entender a sociedade em que está inserida e consciente de seu papel político e social.
Seria este um caminho para rompermos com uma sociedade que aliena e coisifica o
homem através de um discurso forjado? Rompermos com “a linguagem que15 fabrica um
mundo a sua medida, um mundo que já não é um mundo, e sim uma armação, ou uma jaula,
ou um armário, ou um esquema no qual tudo o que existe se submete ou deveria se submeter”
(LARROSA, 2016, p. 89). Nossos discursos e nossas leis estão impregnados da palavra
democracia, mas nossas ações em sua direção são lentas, vagarosas e tímidas. É preciso uma
mudança de costumes, uma mudança de ações, é preciso reconstruir o humano freiriano.
Garantido o processo democrático na escola, com a abertura de suas portas a toda a
população (Beisiegel, 2008) e com a participação nos colegiados (Libâneo, 2015); garantido
igualmente que para estes que buscam a escola e para a comunidade em seu redor um discurso
que liberte (Freire, 2014) e não que apenas reproduza as desigualdades sociais estaremos a
caminho do ensino de qualidade.
Mas é preciso estar atento e recordar o que nos diz Lima (1991)
14
O original traz os verbos no passado.
15
O pronome relativo “que” foi incluído por mim para dar continuidade ao pensamento desenvolvido e
porque acredito não ter mudado a ideia do texto original.
16
Reproduzo a nota do autor ao usar os termos em itálicos: “Recorremos aqui a dois termos centrais
utilizados por John Gaventa na sua importante obra sobre o poder e a participação, intitulada Pawer
and Powerlessness. Quiescence and Rebelion in an Appalachian Valley, University of Illinois Press,
1980.
90
A democracia é algo a ser conquistada e por aqueles que creem nela. Se a esperarmos
de cima, isto é, do poder instituído, dificilmente a teremos na sua plenitude. Assim como
aponta Lima (1991) é preciso “estudar em que medida as ações consagradas são
efectivamente reproduzidas e realizadas na organização”. Acredito ainda que entre a
“aquiescência” e a “rebelião” há caminhos perfeitamente possíveis que podemos encontrar
para sair de nosso comodismo e passividade. Assim como “a sociedade portuguesa, a
centralização promove efetivamente a passividade e a não participação” (LIMA, 1991, p.
143), os últimos fatos da história da educação paulista tem nos mostrado isto.
No final de 2015, alunos tomam escolas e a administram de forma exemplar, contra o
projeto neoliberal do Estado de reformas e reorganizações que não levou em conta os desejos,
anseios e necessidades da população. Enquanto alunos se manifestavam e agiam, professores
discutiam com alunos nos portões das escolas exigindo o direito de “dar aulas”! Caso
semelhante ocorre em uma das universidades paulista em 2016, professor empurra aluna para,
furar a greve de alunos alegando seu direito de “cátedra” e porque quer “dar aula”.
Dar aula, penso que seja o verbo mais propício para estes casos. Estamos
acostumados a receber e isto nos tornou uma sociedade de rebanho, pacífica e conformada.
Há, no entanto, o outro lado desta história. Por mais precária que tenha sido a escola
pública, por mais que receba críticas ao trabalho oferecido às suas comunidades, não podemos
negar que ela tem, ao menos em alguns pontos, formado cidadãos, pessoas críticas capazes de
pegarem seu destino nas mãos e construir sua história.
Penso ainda que outro fator interessante e que contribui para a melhoria do ensino
nos é proposto por Silva Junior (2015) que elenca três pontos essenciais para a melhoria da
qualidade de ensino das escolas municipalizadas, pontos que cabem perfeitamente às escolas
estaduais públicas: a autonomia da escola, a construção do projeto pedagógico e o trabalho
coletivo. Lembrando que estes pontos não caminham sozinhos e estão diretamente
relacionados entre si como bem sabemos.
Lembra-nos ainda que a autonomia requerida não pode ser confundida com
soberania, já que as escolas públicas devem prestar contas de seus atos, assim a autonomia
precisa ser construída; que o projeto pedagógico não pode ser confundido com plano diretor
ou do diretor e que o trabalho coletivo requer a valorização das pessoas e a relativização das
suas funções para não cair no individualismo.
91
Ainda ressalto aqui o que nos lembra Maia quando descreve a análise da
subcategoria “administração da escola” elencado dos artigos apresentado na Revista Brasileira
de Política e Administração da Educação (RBPAE). Quando analisa o terceiro período
marcado pelos termos “Administração” e “Gestão”, ela nos lembra:
- Presente.
Olhou-me espantado e disse que eu havia faltado muito e que deveria fazer
novamente sua matéria. Não questionei, sabia que as faltas não tinham sido tantas assim e
que, da forma como respeitei sua greve esperava que, ao menos, me perguntasse o porquê de
minhas faltas. Como não houve a pergunta, fiz, embora me achando injustiçado, a disciplina
novamente.
São as incoerências entre o que se fala e propaga como saber e o como se age no dia
a dia. Novamente aqui Escola era escola e vida, vida, nada de se misturar as duas coisas.
Havia e, não vou negar, há ainda, uma só regra a ser cumprida, a da escola.
No ano de 1988 também é promulgada a nova Carta Magna, a chamada
“Constituição do Povo” ou “Cidadã”, pois gerada no pós-regime militar e com a ânsia e o
desejo de liberdade democrática.
fatos para se formar juízos? Como ser cidadão sem educação transformadora que capacite
criticamente a pessoa para que ela possa exercer de fato sua cidadania? No que diz respeito a
este princípio só me restam as dúvidas.
O Artigo 208 da CF/1988, em seus incisos e parágrafos, diz como se efetivará o
dever do Estado:
I – erradicação do analfabetismo;
II – universalização do atendimento escolar;
III – melhoria da qualidade do ensino;
IV – formação para o trabalho;
V – promoção humanística, científica e tecnológica do País;
95
Sem dúvidas algumas que as ideias elencadas aqui como princípios da educação são
inquestionavelmente legítimas e essenciais, mas algumas delas gostaria de tecer um ou outro
questionamento pela relevância que nelas vejo. A primeira é sobre a igualdade de condições,
numa sociedade marcada pelas diferenças sociais e econômicas com garantir esta igualdade
de acesso e permanências? De fato todos os indivíduos podem chegar até as escolas e
conseguir uma vaga, pelo menos no Estado de São Paulo, mas manter-se é um problema a
parte.
Depois, temos garantido o direito democrático e a eliminação do ranço da ditadura
militar com o inciso III, do artigo 206, que trata do pluralismo de ideias, de concepções
pedagógicas e a coexistência entre o ensino público e privado.
Porém é questionável o princípio que diz sobre a valorização do profissional da
educação, o item diz respeito a valorização sob vários aspectos, mas não toca no plano
salarial, a não ser para estipular um piso salarial. Fico me perguntando se, além das garantias
aqui previstas – piso, plano de carreira, concurso público para ingresso etc. – não seria
necessário garantir salário digno e condizentes com as necessidades do profissional da
educação que, para se manter com certa dignidade, dobra o seu período de trabalho chegando
96
a fazer até 64 horas aulas semanais, quando a própria CLT e a CF/1988 falam em 44 horas
semanais, sem mencionar as condições em que estes professores são expostos. Mas há aqui
uma expressão que não consigo entender: “na forma da lei”, ela, por nada dizer, diz muito e
muito justifica, infelizmente.
Não posso terminar esta reflexão sem fazer uso de trechos de Vieira e Farias (2003)
que, embora longo, resume de forma clara e fiel o fim que damos a nossa democracia.
Concluem as autoras:
É lamentável e triste chegar a esta conclusão do país que se vive e no qual se tem
afeto, mas a realidade não pode ser escondida e, elucidá-la e denunciá-la faz parte do processo
de transformá-la.
Por fim lembro que a Constituição Federal de 1988 traz dez artigos sobre educação e
apenas no inciso VI, do artigo 206, encontramos expresso: “gestão democrática do ensino
público” (Brasil, 1988), deixando a cargo dos Estados da União a definição e a implantação
da gestão democrática em seus sistemas de ensino.
Em 1990, finalmente havia terminado a licenciatura e a faculdade de Filosofia e
resolvi me dedicar, de fato, às aulas. Estava decidido, seria professor.
Logo no início do ano fui até a diretoria de ensino de Santana, São Paulo, e participei
da atribuição de aulas. Um processo longo e cansativo. Fui um dos últimos a ser chamado
para a escolha, pois minha pontuação era mínima. Já sem esperanças, pois as poucas aulas de
Filosofia que existiam já tinham sido atribuídas.
No entanto, quando fui chamado, uma das pessoas que estava na banca disse-me:
97
Talvez a aproximação de alguns diretores aos ideais constitucionais nos explique por
que alguns, de espírito mais abertos, de ideais sociais e que pensavam a educação como
espaço de formação de si e do outro, tivessem posições mais engajada, atuante, presente e
transformadora nas escolas que trabalhavam.
O certo, porém, é que nem todos nós que ocupamos o cargo de Diretor de Escola
temos a dimensão social de nosso trabalho. Para com um professor recém chegado a escola e
raso de conhecimento pedagógico, não é perder tempo, mas ganhar qualidade. Este diretor se
fazia presente na escola não por mim, mas pelo ofício que desempenhava. A escola era sua
preocupação e o ser diretor seu oficio. Do demais diretores que tive contato naquele ano não
tenho como dizer algo, não os conheci.
Recebi o convite para trabalhar integralmente em uma escola rural agrícola
particular, mantida por uma fundação e localizada no município de Mairinque/SP. A
Fundação mantinha, na cidade de São Paulo, uma escola de Educação Básica e uma
Faculdade e, na zona rural de Mairinque, a escola agrícola com finalidade filantrópicas e que
atendia alunos de baixa renda, a maioria deles proveniente do Vale do Ribeira. Aproveitei
meus conhecimentos em agropecuária e aceitei. A princípio viajava todos os dias até a
fazenda-escola, dava minhas aulas e retornava para São Paulo. Com o tempo fui convidado
para assumir a parte da pecuária da escola, para isto precisava morar ali e teria a
responsabilidade de cuidar dos animais e dar minhas aulas.
Foram três ou quatro anos de muito trabalho, mas também de aventuras sem igual.
Levantar cedo, correr os setores, verificar como estava a criação e se os alunos tiveram algum
problema no trato com eles. Corrigir algumas coisas que não estava tão certa; socorrer em
casos de emergência; ora um parto demorado de uma novilha, ora porque um dos alunos tinha
resolvido, por sua conta própria, corrigir uma hérnia de um leitão e, agora não consegui
suturar o corte que fizera porque o intestino do animal insistia em pular fora. E assim passava
meus dias.
Neste meio tempo, enquanto servia de motorista e levava alguns dos formados para
cursarem faculdade em Itu, resolvi eu também fazer Pedagogia.
Acontece que o presidente da fundação de ensino deu bolsa para alguns dos recém-
formados para cursarem disciplinas curriculares: Matemática, Letras, História. Sua intensão
era formar seu próprio corpo docente para dar continuidade em seu trabalho. Como alguém
precisava dirigir e conduzi-los até a cidade mais próxima e nenhum deles era maior de idade,
99
ou dirigia, acabou sobrando para mim. O que poderia ser um fardo acabou sendo a
oportunidade de ouro.
Matriculei-me no curso de Pedagogia. Na realidade uma complementação
pedagógica. Tinha aulas de segunda, quarta e sexta a noite e sábado de manhã. Foi um ano e
meio de estudos, de retorno aos bancos universitários, mas este banco não era tão rígido e
seco como foram os de filosofia. Os pedagogos e nós alunos conversávamos, discutíamos e
trabalhávamos com mais descontração, mas não sem seriedade.
Em 1993, quando o mantenedor da fundação da fazenda-escola já se encontrava
muito doente e sem condições de dirigir ele mesmo os negócios, a família tomou a frente e
resolveram fechar a escola agrícola. Fomos atrás de escolas para transferir nossos poucos
alunos e no final do ano, após encerrar o ano letivo deixei a cidade de Mairinque e retornei
para Presidente Prudente.
Aqui estava minha família e se tinha que começar de novo, pelo menos aqui tinha um
bom porto seguro.
Em fevereiro de 1994, já instalado na cidade de Presidente Prudente, fui participar da
atribuição de aulas. Já havia acontecido a atribuição aos efetivos e as aulas que sobraram
estavam sendo oferecidas para os professores não efetivos em escolas-polos. Fui até o polo
mais próximo de casa e quando a secretária chamou a disciplina de Filosofia me apresentei.
Eu era o único professor formado em filosofia pura ali presente – o que fez algumas das
professoras se espantarem – por isto fui o primeiro a escolher e tive a oportunidade de pegar
uma carga horária completa em uma única escola.
Assim comecei a lecionar filosofia. Foi a primeira vez que de fato trabalhava com
filosofia. Tinha aulas de manhã e a noite e, alguns dias da semana eu ia para a escola a tarde
para cumprir a reunião de HTPC – Hora de Trabalho Pedagógico Coletivo – e os professores
se juntavam para conversar sobre a escola e alguns afazeres.
Como ainda era relativamente novo (35 anos) o diálogo era fácil, sempre me
relacionei muito bem com a moçada e a rapaziada. As aulas de Filosofia também propiciavam
o diálogo e a troca de corresponsabilidade. Mas confesso nada tinham de inovadoras. Eu sabia
a teoria, gostava da História da Filosofia, da Filosofia Política e da Lógica Aristotélica que
tentei ensinar, mas era sem sentido para os alunos. Quando aprendiam, o faziam
mecanicamente.
A filosofia voltara ao currículo de forma optativa e sem o preparo adequado da rede
(o que não é novidade). Não havia professores suficientes para atender toda a rede de ensino
100
do Estado de São Paulo. Muitos dos professores eram pedagogos que, por terem carga horária
em filosofia da educação, podiam dar aulas de filosofia. Eles sabiam mais da arte da
pedagogia, eu de filosofia, mas não trocamos as informações nas HTPC, cada um ficou na sua
e o aluno no meio.
O regime ditatorial cedeu espaço para a democracia e conquistamos uma
Constituição Cidadã; a sociedade se transforma; os “Caras Pintadas” foram às ruas e exigiram
“Diretas Já” e conquistamos o direito de eleger nossos Presidentes da República; a imprensa
conquistou sua liberdade de expressão; o peso da ditadura não recai mais sobre as escolas
inibindo a livre manifestação de professores e alunos. A educação não era mais vista com
olhar rígido de antes, mas começava a ser vista como conquista e promoção do indivíduo;
tentava-se agora ver o ser humano por inteiro. Isto foi fácil para nós da área das humanas e
mais novos no caminhar na educação, mas muito complicado para os das áreas biológicas e
exatas ou com mais tempo de caminhada.
O diretor que substituía a diretora efetiva da escola onde eu atuava enquadrava-se no
segundo grupo, e vez ou outra o ouvíamos dizer que “as coisas estavam muito mudadas”,
“agora os alunos podem tudo”, “é o fim da educação”, “ainda bem que estou para aposentar”.
Infelizmente ele pertencia ao grupo de professores, mas também pessoas, que não
conseguem absorver a novidade a as mudanças. Não consegue perceber que o mundo evolui,
as ideias se transformas que não há um tempo absolutamente bom e nem tão pouco puramente
mal. O tempo muda, os homens evoluem e as necessidades se transformam.
O diretor era muito acessível para nós professores, de pouco mando pedagógico, por
isto exigia pouquíssimo de nós, mas quando se tratava do aluno era a “moda antiga”, rígido e
2 e 2 só podiam dar 4 e ponto final, não conseguia entender a escola e a educação como
espaços do aluno.
Lembro-me que em um dos Conselhos Finais em que participávamos tivemos uma
discussão acalorada. Um rapaz que não era muito chegado aos estudos e às normas sociais,
vinha para a escola sem muito asseio e mal abria seus cadernos, mas era de boa conversa,
educado e tranquilo, só sem motivação. Acontece que na metade do ano arrumou um emprego
e tudo mudou. Cabelos cortados e rigorosamente penteados, calça comprida, cinto e camisa
para dentro, sapatos nos pés, um pouco de perfume e um largo sorriso no rosto. Não melhorou
muito nas notas, tinha lá suas defasagens por não ter acompanhado os estudos anteriores. Mas
conseguiu média com todos os professores, menos com a de biologia, que por toda a lei queria
repetir o aluno, indagamos de todos os lados, argumentamos a favor do aluno e nada a
101
convencia e nem ao diretor, mas foram vencidos por nós e o aluno promovido. Ou seria
melhor dizer que a educação foi promovida?
Escola era Escola; vida, vida. Mas agora escola também é vida e vida também é
escola. Estávamos saltando de uma educação bancária, fechada e pronta, de saber instituído e
acabado, para a concepção de uma educação que se faz no dia-a-dia e em cada indivíduo, com
suas angustias, buscas, desejos, deficiências e saberes, uma educação que se faz pelos e
através dos múltiplos saberes. E então recordamos a ideia de Candido (1987) de que tanto a
escola influencia o meio como o meio é influenciável pela escola. Aquele aluno largado e
desmotivado se (re)encontrou como ser humano e se (re)fez como pessoa e a escola não podia
deixar de ver e valorizar este aprendizado.
Por sorte as coisas mudam. A diretora efetiva da escola onde eu trabalhava voltou
para o seu cargo e novos ares surgiram. Durante um tempo o diretor substituto continuou,
agora como Vice-diretor, até que chegou sua tão almejada aposentadoria.
A diretora era uma daquelas mulheres que Içami Tiba denomina de “polvo”, capaz
de estar e lidar com múltiplas situações com a mesma eficiência e eficácia. Impecável na
administração da escola ia da limpeza da escola à contagem de nossas aulas previstas e dadas
(incrível, nos Conselhos de Classe dizia a cada um de nós professores: “você teve “x” aulas
previstas e “y” aulas dada”, habilidade que nestes mais de 18 anos de direção não consegui
adquirir); igualmente impecável era na parte pedagógica, dava trabalho às coordenadoras
porque, não só sabia onde estava e onde queria chegar, mas qual seria o caminho a ser
trilhado.
Atributos como: diálogo, paciência, tolerância, liberdade, respeito, lhe cabiam muito
bem; isto não significava falta de rumo, condescendência, apatia, libertinagem, pelo contrário,
sabia quando e porque dizer “não”; acertava rumos dos que precisavam de cadência; ajudava
quem precisasse de ajuda e não dispensava uma boa conversa sobre educação com quem
tivesse que falar.
Com ela a escola teve novos ares e isto foi percebido por todos, professores,
funcionários, alunos e pais. Todos nós entendemos que estávamos num processo de direção
diferente, aberto ao diálogo competente e que buscava resultados qualitativos. Aprendemos
muito.
Lembram-se do diretor da escola “Navio”, que mencionei quando falei da minha
passagem pelo 3º e 4º anos do grupo escolar, aquele senhor de cenho fechado, “bravo”, voz
102
forte, que tomava a tabuada até o 20 e que falei que voltaria a referir-me a ele! Pois bem, é
hora.
Tive o prazer de reencontrá-lo depois de vinte e seis anos. Nesta minha volta de São
Paulo, além de dar aulas no Estado, fui também chamado para dar aulas de filosofia em uma
das Faculdades particulares de Direito de Presidente Prudente. Quando lá cheguei tive o
prazer de encontrar o meu diretor da escola “Navio”, também lecionava ali e coordenava o
curso. Mantinha sua voz firme, mas agora um sorriso farto se desenhava em seu rosto, embora
sério naquilo que dever ser, e, longe de ser “bravo”, conheci a pessoa que estava por detrás do
diretor, aquele homem de grande sabedoria e de um coração imensurável, mas, humano, no
sentido usual da palavra.
Ele me recebeu alegremente, me felicitou, mostrou-me e explicou-me o currículo e
as salas com as quais trabalharia. Comecei a trabalhar e penso que ele gostou de meu trabalho,
pois logo dobrou o número de minhas aulas e, quando percebi meus dias estavam tomados.
Enquanto criança que era não sei e nem tenho condições de falar sobre o diretor que
ele foi, mas agora adulto e profissional conheci não só o trabalho que conduz com seriedade e
eficiência, com zelo pelo educador, mas ainda maior diálogo e carinho pelos alunos. Conheci
o humano, gentil, capaz de tirar de si para servir o outro sem que lhe seja pedido. Tenho e
guardo por ele um carinho especial que o tempo não apagará.
Depois de alguns anos sem concurso para Diretor de Escola o Governo do Estado de
São Paulo resolveu abrir novo concurso. Fiz a minha inscrição, na época tinha exatamente os
5 anos de magistério exigidos no Anexo I, do Artigo 9º da LC nº 444/85. Era por volta de
1995 e havia 36 mil candidatos para 1200 vagas aproximadamente. A prova se daria em duas
fases: a primeira de conhecimentos gerais; a segunda de conhecimentos específicos. Chegou o
dia e eu fui para a Escola Arruda Mello, no centro da cidade de Presidente Prudente. Lá, numa
de suas salas pequenas fiz minha prova. O dia não estava bom e eu não estava preparado, mas
quando o resultado chegou, eu estava entre os classificados para a segunda fase.
Somente cerca de dois anos depois é que saiu a convocação para a segunda fase, já
nem me lembrava mais. Fomos para São Paulo para realizar a tão esperada prova. Fiz sem
esperanças.
Um ano depois de lançar o Plano Real, em 1995, Fernando Henrique Cardoso foi
eleito Presidente da República em primeiro turno. Sustentou o Real e governou por oito anos
em meio às crises, houve denúncias de corrupção, mas o povo não voltou às ruas, pois o Plano
Real foi lentamente cumprindo seu papel a ponto do governo excluir os juros da dívida
103
externa o que deu, ao Brasil, credibilidade interna, com o equilíbrio fiscal, e externa, com o
cumprimento de suas obrigações financeiras.
Para fazer os ajustes necessários o Presidente da República, Fernando Henrique,
retomou o processo de privatização iniciado pelo Ex-presidente Collor, acreditava que os
lucros das vendas das estatais deficitárias ajudariam a obter superávit primário. Os efeitos não
foram os esperados, pois as estatais não eram atrativas ao mercado privado, com exceção da
Embratel, o que lhe trouxe desgastes políticos, pois a população, movida pelos sindicatos, se
mostrou contra as privatizações. Outra ferida aberta pelo PSDB do Presidente Fernando
Henrique foi o ajuste na Previdência Social, muito trabalho para pouca coisa, e só o povo
continuou pagando as contas. Ainda para melhorar criou o “imposto do cheque”, chamado
inicialmente de Imposto Provisório sobre Movimentação Financeira (IPMF) e mais tarde de
Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) e congelou a tabela do
Imposto de Renda, tudo para aumentar a arrecadação de tributos para o governo e com maior
ônus para a população.
Já tratei sobre os ideais neoliberais e apontei o governo do Presidente Fernando
Henrique como o seu exemplo maior no cenário brasileiro. Aqui percebemos claramente a
ideia da minimização do Estado quando privatiza as estatais e joga com o mercado exterior.
Outra reflexão que sou tentado a fazer é que o Brasil, que com Vargas conseguiu
construir os meios de produção de sua matéria prima para sustentar as indústrias de base
conforme já vimos, agora cede tudo às empresas estrangeiras e delas voltamos a depender.
É certo que podemos dizer que o poder de compra da população aumentou, mas ficou
cerceado pela alta inflação, agora não mais controlada e com o dólar em alta. O mercado
interno foi invadido por produtos importados e não houve corrida ao consumismo
desenfreado. Empresários cortam gastos e custos e o desemprego aumenta; com a crise
econômica mundial o Brasil é pego de surpresa, sua dívida externa aumenta e chega à casa
dos 40 bilhões de dólares e o Fundo Monetário Internacional (FMI) se vê no direito de nos
fazer algumas exigências a mais.
Acontece, porém, que seguindo o exemplo do Presidente Fernando Henrique estão os
governos de alguns Estados brasileiros, como é o caso do governador do Estado de São Paulo
que há mais de 20 anos, de 1995 com Governador Mário Covas Júnior, mantém o poder nas
mãos do PSDB e na mesma estratégia neoliberal globalizante de governo adotada pela
presidência da República.
O povo empobrece e a saúde e a educação são os setores mais prejudicados.
Promove-se a quebra das patentes dos medicamentos criando os genéricos o que trouxe algum
benefício à população; na educação teremos a segunda Lei de Diretrizes e Base da Educação
Brasileira. Estamos em 1996.
A promulgação da Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional nº 9.694, em 20 de
dezembro de 1996, não foi simples e nem tranquila como pode parecer, pois a lei não foi fruto
do trabalho e das reflexões que a precederam.
Recordamos que, em 1988 tivemos promulgada a nova Constituição Federal.
Antecedendo a ela e na busca de direcionar as discussões do Congresso com respeito aos
capítulos sobre educação, educadores se unem e preparam o material para a reflexão dos
constituintes. Em 1987, no discurso de abertura da Associação Nacional de Pós-Graduação e
Pesquisa em Educação (ANPEd), o professor Saviani tece uma lista de itens que a nova LDB
deveria conter para dar conta de atender com a devida qualidade a reorganização do ensino
brasileiro.
Com 68 artigos, o projeto “Saviani”, como ficou conhecido, foi encaminhado para o
deputado Otávio Elísio. Nas mãos deste o projeto passa a ter 83 artigos e ainda passa por
mudanças, consultas populares, ementas, projetos complementares e especiais que são
incorporados ao projeto inicial, resultando num projeto com 172 artigos e 20 capítulos.
105
A gestão do Presidente Collor de Mello foi marcada por séria crise econômica,
grande descontentamento popular e visível descaso com a educação. “A educação, como as
demais áreas, torna-se refém do clima de suspeitas que se instala em torno da administração
no poder. Os fatos políticos determinam seu afastamento da Presidência da República.”
(VIEIRA; FARIAS, 2007, p. 164) e posterior renúncia em 1992.
O projeto da nova LDB/1996 finalmente vai para o Senado em 1995, depois de um
caminhar de aproximadamente 10 anos, entre idas e vindas, emendas, ideologias e
convicções. Sander (2007b) ao falar da importância da ANPAE nas discussões sobre gestão
escolar como disciplina acadêmica e como prática “nas instituições e sistemas educacionais” e
as modificações gerada a partir destas, indica também a importância da instituição nos
movimentos sociais e debates tanto na elaboração da nova Carta Magna como na da
LDB/1996.
A LDB/1996 define o que entende por educação e mais, desvincula educação que
acontece em outros meios da educação que acontece na escola ou por meio da escola,
posicionando-se como disciplinadora desta última e vinculando-a ao trabalho e à prática
social. Assim com a LDB/1961, a LDB/1996 também não restringe o saber aos bancos
escolares, pelo contrário reconhece e nomeia os múltiplos espaços em que o conhecimento
acontece, porém, a LDB/1996 se propõe a tratar e normatizar a educação que acontece na
escola.
Seguindo o mesmo viés democrático liberal pós-ditadura que a Constituição de 1988
nos trouxe, a LDB/1996 propõe como princípios
Que a gestão será democrática, não há dúvidas, mas deixa aos sistemas de ensino a
liberdade de definir as normas que assegurarão esta gestão. Além disso, e, de forma que
parece tímida, a LDB/1996 assegura a gestão democrática de duas formas: na participação dos
profissionais da educação na construção do projeto pedagógico, e não estamos falando apenas
em professores ou especialistas, mas em profissionais da educação. Igualmente prevê e
garante a participação da comunidade escolar nos conselhos escolares, o que abre margem
não só para o Conselho de Escola, mas também para os Conselhos de Classe.
Acontece, porém, que embora a “gestão democrática” seja regra e norma para a
gestão do “ensino público na educação básica”, ela ainda acontece muito timidamente nestes
espaços. Sabemos que a prática de nós diretores nem sempre corresponde com tais normas. A
construção dos Projetos Pedagógicos, por exemplo, nem sempre acontece com o
envolvimento de pais e comunidade, a maioria são documento para atender as exigências
107
Embora à primeira vista e numa leitura rápida possa parecer que o Estado queira se
desincumbir de suas obrigações quanto à educação (o que não parece ser verdadeiro, já que
estamos na lógica da minimização do Estado), creio mais que este é um passo a mais no
processo de democratização e, um passo lógico já que as escolas precisam respeitar seu
entorno e sua comunidade naquilo que lhes seja peculiar, assim, nada mais lógico que tenha
autonomia pedagógica e administrativa.
Acontece, porém, que a “autonomia” é um conceito relativo e que depende do ponto
de referência que se toma para entendê-lo. Se pensarmos na relação União-Estados esta
autonomia acontece quando a União dá aos Estados a liberdade de organizar seus sistemas de
ensino de acordo com suas concepções de gestão democrática, como vimos há pouco. Não se
trata de uma autonomia plena, já que os Estados estão sujeitos à Lei de Diretrizes. O mesmo
acontece na relação Estado-Municípios, mas a autonomia daqueles é maior do que a destes,
visto que, além se submeterem a LDB, precisam acatar as normas estaduais. Quando esta
relação se estabelece entre o órgão estatal e o Diretor de Escola esta autonomia quase que
desaparece, pois o diretor é o “representante legítimo do estado” (PARO, 2011b) e, muito
embora “os instrumentos normativos e as diretrizes curriculares e organizativas não podem
17
Estou chamando aqui “equipe de trabalho” aquele grupo de trabalho na escola que vai além do
grupo gestor e por isto envolve também a pessoa do GOE e do professor mediador e, por vezes, um
ou outro professor e ou aluno, mas ainda não pode ser considerado um grupo representativo da
comunidade, por isso também não se pode falar em democracia ou ação democrática, mas talvez
ação partilhada.
108
ser uma camisa de forças para as escolas” (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2012, p. 418),
ele precisa garantir aos alunos um currículo mínimo aceito e acolhido socialmente, até para
garantir a liberdade do próprio aluno.
Também no final de 1996 resolvi que deveria retomar minha vocação sacerdotal. O
trabalho pastoral e o meu envolvimento com a Igreja e com o povo sempre me atraíram.
Assim, mesmo antes de sair o resultado do meu concurso para Diretor de Escola e logo após o
Conselho Final na escola me despedi dos colegas e da escola. Pedi demissão da faculdade e
me organizei para retomar meus estudos no seminário da cidade de Marília. Meu pai, como da
primeira vez, foi contra minha ida ao seminário.
- Onde já se viu ser padre! Dizia ele.
Assim, no ano seguinte não participei da atribuição de aulas na diretoria, estava
resolvido meu futuro. Meu pai fizera alguns exames médicos, passou por um cateterismo e
precisaria passar por uma cirurgia cardíaca e esperávamos o agendamento da mesma. Nada de
tão sério, centenas fazem as chamadas “pontes de safena” e terminam muito bem. Chegou o
carnaval, na sexta-feira recebemos a ligação do hospital agendando a cirurgia para segunda-
feira, alguém tivera um problema e abriu uma vaga. Receoso meu pai aceitou.
Claro que todos estávamos apreensivos, meu pai sempre fora muito saudável, era
forte, mas cirurgia era cirurgia. Eu incentivava meu pai e o tranquilizava dizendo que tudo
daria certo. Queria partir e deixar tudo bem encaminhado.
Chegou o dia e acompanhei minha mãe para aguardarmos a cirurgia. Fomos ao
quarto e meu pai já estava saindo para a sala, sedado. Um longo tempo de espera se passou e
nada de notícias, até que o médico chegou. Sério e as notícias não eram boas.
- Entrou ar na circulação sanguínea e se alojou no cérebro, infelizmente não há o que
fazer.
Estava sentado, um filme passou por minha cabeça, então levantei e fui fazer o que
era necessário ser feito. Quando na rua, sozinho, encostei-me no muro e chorei, mas restava a
esperança e a certeza de que o melhor aconteceria. Dois dias depois, às 2h30 meu pai foi
recolhido.
Minha vida virou de pernas para o ar. O que pensei estar certo virou incerteza.
Busquei aulas na Diretoria de Prudente, vagando pelas escolas sem resultado. Falei na
diretoria de ensino, pois sabia que pessoas não habilitadas estavam dando aulas, mas minha
voz ecoava pelos corredores sem respostas, a não ser:
- Vá as escolas e vê na secretaria se tem alguém não habilitado, ai você pega as aulas.
109
Foi um dos momentos mais importantes de minha vida. Definia ali minha carreira e
meu futuro, mas eu estava só e em meio a toda aquela gente e de todo aquele barulho do
auditório, eu me sentia só.
111
Eram 6h30 minutos do dia 1 de julho de 1998. Eu dirigia meu gol branco pela
Rodovia Raposo Tavares rumo a cidade de Anhumas. Minha cabeça borbulhava com tantas
indagações, meu coração palpitava de ansiedade e não me continha num misto de alegria e
medo. O caminho não tinha fim, não iria chegar a tempo para ver a entrada dos alunos. Eu
pedia para o carro ir mais rápido, mas meus pés estavam inertes, não respondiam ao meu
desejo. Até que finalmente estava lá, em frente ao portão da Escola Estadual Coronel
Francisco Whitacker, onde entraria pela primeira vez como Diretor de Escola.
- O que deveria fazer?
- Eu não sei o que é ser diretor, e se me perguntarem algo, como responderei?
- Como saberei se estou fazendo a coisa certa?
- Acho que não vou conseguir? Mas, que Deus me ajude!
Tomei coragem, desci do carro apertei a campainha, alguém abriu o portão, me
apresentei e entrei. Tenso, nervoso, feliz, não sei descrever ao certo o que sentia, era uma boa
mistura de muitos sentidos.
Quando cheguei até o pátio a Delegada de Ensino (como era conhecida na época a
Dirigente Regional de Ensino) me aguardava na escola, queria ela mesma me apresentar aos
alunos e professores. Pedi desculpas pelo atraso, pois me dispersei pela estrada. Mesmo
assim, estava sorridente e feliz, um a um fui apresentado. Os alunos já estavam em sala.
Eu já conhecia a Delegada de Ensino, pois, como manda o protocolo, no dia anterior
fora a Delegacia de Ensino de Regente Feijó me apresentar e assinar o termo de posse do
112
18
Artigo 5 º - As indicações para designação e cessação para as funções de Vice-Diretor de Escola
são de competência do Diretor de Escola, do Decreto nº 43.409, de 26 de agosto de 1998. Deste
artigo se infere que, uma vez sendo uma função de confiança do Diretor, quando um novo diretor
assume a escola, é de bom tom que o Vice deixe o seu posto de serviço à disposição.
113
Depois do intervalo visitei as salas de aula. Quando entrei na primeira delas levei um
susto, todos os alunos se levantaram e uníssono disseram:
- Bom dia!
Não via mais isto desde minha infância, fiquei inerte e queria que todos se sentassem
rapidamente.
Em cada sala que passei troquei uma ou outra palavra com os alunos me
apresentando e tentando conhecê-los.
A supervisora de ensino responsável pela escola logo veio me dar às boas vindas.
Sabem de uma coisa! Eu tenho muita sorte na vida, Deus me conduz sempre. A supervisora
era tudo o que eu precisava naquele momento. Uma pessoa humana, boníssima, justa,
atenciosa, sensata em suas palavras e com vasto conhecimento pedagógico e legal; me
ensinou tudo o que eu precisava saber. Construímos uma relação forte de trabalho e
aprendizado que ainda hoje perdura na forma de amizade.
Para falar a verdade nunca tive problemas com a supervisão.
Única escola do município, a EE Coronel Francisco Whitacker era estadual e nela
tínhamos da 1ª série do Ensino Fundamental à 3ª série do Ensino Médio. Na época contava
com pouco mais de 700 alunos, parte deles da zona rural, trazidos diariamente por transporte
escolar. A escola contava ainda com uma escola agrupada rural, onde funcionava uma sala
multisseriada, atendendo alunos da 1ª a 4ª séries do Ensino Fundamental I. Lembro-me de ter
ido a esta escola duas ou três vezes, conhecer e me fazer conhecido pelos alunos.
A escola “Whitacker” possuía dois prédios distintos. Um mais antigo e ao fundo do
terreno, com salas amplas e bem ventiladas. Teto alto e forro de madeira. Neste bloco havia
também a sala de leitura, a cozinha, uma modesta cantina conduzida pela Vice-diretora e um
amplo pátio coberto onde as crianças faziam suas refeições e brincavam.
Subindo por uma rampa coberta tínhamos à esquerda a quadra poliesportiva coberta
e iluminada e à direita o novo prédio. Todo de laje, piso de granilite e impecavelmente limpo.
As salas de aula eram amplas e com grandes janelas que possibilitavam claridade, ventilação e
visão das árvores que perfilavam pelo corredor lateral do prédio. Todas as salas saiam para
um pátio central. Neste havia um grande palco frente ao qual as crianças perfilavam-se ao
bater o sinal de entrada. Este palco fazia frente à quadra coberta e, em continuidade a rampa
saía-se para o portão de entrada e saída das crianças e carros.
114
Era muito bonita, pintada com cores claras – branco e salmão – e de uma limpeza
impecável. A Prefeitura Municipal ajudava a escola cedendo-lhe serventes que se juntavam
aos do Estado e formavam um bom grupo.
Como toda cidade pequena, Anhumas possuía na época cerca de 3,5 mil habitantes,
entre zona rural e urbana, nela, como acredito ser em todas as cidades pequenas, todos são
“compadres” de todos, salvo as divergências políticas, então temos os da situação
“compadres” da situação e os da oposição “compadres” da oposição. A grande facilidade é
que como todos se conhecem, facilmente se chega até às famílias e poucos problemas ficam
sem solução. Mas a escola não tinha problemas disciplinares.
As coordenadoras eram professoras da casa e que conheciam bem seus ofícios. Nas
HTPC19 tive contato com o Ensino Fundamental I, na realidade meu primeiro contato, pois
minha licenciatura e minhas experiências em sala de aula só me permitiram atuar a partir da 5ª
série do Ensino Fundamental II, mais especificamente, no Ensino Médio. O Ensino
Fundamental I é outro universo da educação. As professoras têm uma dedicação e um zelo
que até então não conhecia. Eu procurava estar presente em todas as HTPC. Antes sentava
com as coordenadoras, discutíamos a pauta e elas punham em prática.
Entre as muitas professoras que atuavam no Ensino Fundamental I, uma ficou mais
presente em minha memória, a da 2ª série. Era de uma calma e paciência invejável e quando
eu estava com a cabeça um pouco quente, entrava na sala de aula dela e ficava lá por um
tempo, tudo parecia desaparecer, seu jeito de ser, de falar e de conduzir a aula me
tranquilizava, então voltava para meus afazeres.
É fato que eu era inexperiente na direção de escola e que encontrei pessoas que me
ajudaram nestes meus primeiros passos na direção; porém, é neste momento também que a
educação brasileira passava por mudanças significativas. Para situar esse momento retomo a
história social do Brasil.
Fernando Henrique Cardoso iniciou seu governo como Presidente da República em
1995 e o estendeu por dois mandatos, findando em 2002. Marca, significativamente, o seu
primeiro mandato o acolhimento do Projeto Lei do deputado Darcy Ribeiro que resultou na
promulgação da LDB/1996. No segundo mandato Fernando Henrique se dedicou a tentar
manter a estabilidade do país, recorrendo a novos empréstimos junto ao FMI, ampliando o
endividamento externo brasileiro e aplicando novas políticas recessivas, a fim de controlar a
19
Neste momento as HTPC ainda recebiam o nome de Hora de Trabalho Pedagógico Coletivo
115
inflação. Ao final, desgastado pelas crises, pela recessão e por novos escândalos envolvendo
amigos próximos, não conseguiu fazer seu sucessor.
Em período concomitante ao governo do Presidente Fernando Henrique temos no
governo do Estado de São Paulo Mário Covas que governou de 1995 a 2001 e teve como
Secretária de Estado da Educação Rose Neubauer, esta assumiu posição polêmica durante seu
comando o que lhe rendeu muitas críticas.
Alicerçava a educação brasileira a LDB/1996 com espírito liberal e possibilidades de
novos ares. Tanto a União como o Estado já haviam aprovado seus Planos de Educação,
conforme já vimos. Estávamos afoitos e desejosos de fazer a diferença.
Aproveitando este momento, o governo do Estado de São Paulo 20 sai à frente e,
numa sucessão de leis e decretos, que iniciou com a própria Constituição Estadual e chegou às
Instruções Conjuntas da CENP, reorganiza as escolas públicas da rede estadual de ensino e a
educação do Estado.
Começou pela mudança de nomenclatura. Todas as escolas da rede pública estadual
passaram a denominar-se “Escola Estadual” (EE). Acompanhando a proposta da LDB/1996,
dividiu a Educação Básica em Ensino Fundamental e Ensino Médio. O Fundamental, por sua
vez ficou dividido em dois ciclos: o ciclo I – de 1ª a 4ª séries – e o ciclo II – de 5ª a 8ª séries.
E reorganizou o atendimento das escolas, umas atenderia especificamente o fundamental I,
outras o fundamental II e outras o Ensino Médio. Poucas escolas atenderiam dois segmentos,
mas preferencialmente não junto com o Fundamental I, já que estes foram foco da política de
municipalização do ensino público.
O quadro 4 a seguir exemplifica a reorganização do ensino da rede estadual de São
Paulo.
20
Para a elaboração da primeira parte desta reflexão referente ao primeiro governo de Mário Covas e
a reforma proposta por Rose Neubauer tomei por base os dados registrados no texto A Organização
do Ensino na Rede Estadual citado entre as Referências. Espécie de manual elaborado pela SEE e
distribuído para as escolas estaduais com o intuito de colaborar com os diretores de escola na
compreensão das mudanças aprovadas e nos procedimentos a serem tomados. Este manual me foi
muito útil o início de minha carreira como Diretor de Escola.
116
Além disso, a educação do Estado de São Paulo assumiu o mínimo de 200 dias
letivos a serem distribuídas em 40 semanas anuais. O diurno com cinco ou seis aulas diárias
(dependendo dos períodos de aula oferecidos pela escola) e o noturno com cinco aulas diárias.
Deste modo o Estado de São Paulo passou a oferecer de 200 a 400 horas aulas a mais do que
o previsto na LDB/1996. Um ganho quantitativo razoável que precisa e pode ser também
transformado em ganho qualitativo.
Quanto à organização da vida escolar encontramos algumas modificações
significativas, começando no ato da matrícula. A matrícula na 1ª série do Ensino Fundamental
I é por ingresso e, por isto, sem novidades, mas as matrículas nas demais séries passaram a ser
feitas por classificação, tanto para os alunos da mesma escola, como para os alunos que
chegam por transferência ou que não tenham comprovação de escolaridade anterior, neste
caso a escola avalia e classifica o aluno.
Iniciado o ano letivo, alunos da própria unidade escolar, com idade avançada à
desejada para a série que está cursando, podem pedir a reclassificação no decorrer do primeiro
bimestre letivo. Se atender ao mínimo exigido será reclassificado para a série posterior a partir
do segundo bimestre. Alunos que chegam à escola durante o ano e que apresentam o mesmo
problema idade-série podem ser reclassificados no ato da matrícula.
Esta prática é muito boa e permitiu à escola corrigir seu fluxo. Hoje dificilmente se
vê alunos com idade avançada estudando com crianças de menor idade.
Outro aspecto interessante da reorganização do ensino proposto pela professora Rose
diz respeito à promoção ou não de alunos. Já vimos acima como se dá o processo por meio da
aprendizagem, mas há também o índice de frequência estipulado pela LDB de 1996 em 75%,
assim alunos com menos de 75% de frequência são considerados retidos desde que a escola
tenha cumprido alguns requisitos e, o mais importante destes, é o de acompanhar a vida do
aluno, verificar a causa das faltas, repor as aulas perdidas com causas justificadas21, acionar a
família, em seguida o Conselho Tutelar quando as faltas persistem e se elevam acima de 20%
do total das aulas dadas.
O não cumprimento de parte dos requisitos acima ou de sua totalidade dá ao
responsável pelo aluno, razões suficientes para entrar com recurso contra a decisão final do
Conselho de Escola.
21
Para se justificar uma falta não há a necessidade de um atestado médico formal, basta a fala da
mãe. Em alguns casos pode-se pegar esta justificativa do responsável por escrito, assim a escola fica
documentada.
119
Bom, mas antes da decisão final do Conselho de Escola o aluno ainda tinha direito a
recuperação, que passou a ser ofertada em três momentos diferentes. A contínua que acontece
em sala de aula e no dia a dia; a paralela que acontece em horário e dias estipulados e fora da
sala de aula; e a recuperação intensiva que acontecia após o Conselho “Final” e em janeiro
(por isto chamada de recuperação de férias), onde o aluno passou a ter mais três semanas de
aulas com revisão de conteúdos essenciais e uma nova oportunidade de avaliação. O resultado
deste trabalho passava pelo Conselho Final da escola que decidiria se os estudos foram
suficientes ou não para a promoção.
Como observamos, as mudanças não são ruins e nem dizem contra a educação ou ao
professor, apenas faz cumprir ao propósito mesmo do educar, isto é dar condições para que o
processo do ensino e aprendizagem aconteça de forma a favorecer o educando. Dá trabalho?
Claro que sim, mas se as escolas estiverem adequadamente servidas, o trabalho se faria na
normalidade. Só precisamos estar cientes de que a filosofia que embasa todo este pensamento
é a neoliberal.
O grande problema que vimos na época e que gerou um mal estar que não se desfez
ainda hoje, foi a forma como as mudanças aconteceram, sem diálogo, de cima para baixo e
sem dar às escolas as condições necessárias para desenvolver o trabalho com qualidade e,
então as coisas passaram a ser feitas à revelia de toda a orientação da reorganização da
Secretaria da Educação, causando, no meu entender, um grande retrocesso e um enorme
distanciamento entre o papel da educação e o resultado final do trabalho desenvolvido nas
escolas. O exemplo mais significativo disso está na Progressão Continuada que passou a ser
tratada e trabalhada como sinônimo de Promoção Automática.
Além deste manual e de toda a legislação divulgada na época, que esclarecia e
direcionava a reorganização do ensino no Estado de São Paulo, os diretores ingressantes
foram chamados a São Paulo, na antiga Coordenadoria de Ensino e Normas Pedagógicas –
CENP – e lá tivemos dois dias de orientações e explicações dos procedimentos do “ser
diretor”, “intensivão” que passou do controle financeiro à reorganização do ensino. Num
destes dias a própria Secretária da Educação se fez presente com uma fala inflamada a favor
das mudanças e valorizando nosso papel, como diretores de escola da rede pública de ensino.
Mas a escola Francisco Whitacker era de fácil direção. Havia passado por um longo
período sendo dirigida pela Vice-diretora, pois seus diretores se afastavam para ocupar outras
funções na diretoria de ensino ou para ocupar a direção em outras escolas em seus municípios
de moradia. Dirigida com pouco diálogo, sem nenhum direcionamento pedagógico e com
120
autoridade de imposição. Havia uma forte separação política partidária dentro da escola e, aos
favoráveis à situação política em vigor tinham-se os favores, aos demais, a lei. Reflexo do que
acontecia no dia a dia nas ruas da cidade.
Percebendo a situação, não tomei partido. Fiz meu papel, liguei e fui à Prefeitura, me
apresentei ao Prefeito, trocamos algumas palavras e nos pusemos à disposição para o trabalho
na escola.
Conhecendo melhor a escola Francisco Whitacker percebi que na sala da direção
havia dois grandes armários de aço abarrotados de material escolar, alguns já vencidos.
Cadernos com folhas amareladas e canetas porosas já secas. As salas de aula também
possuíam armários embutidos e alguns deles igualmente abarrotados. Em contra partida,
quando alguém solicitava um lápis para aluno, lhe era dado os “pedaços de lápis”, ou, quando
muito, um lápis com forte recomendação de cuidado.
A situação me incomodou. Perguntei para a Vice:
- Para quem são estes materiais nos armários?
- Para os alunos. Ela me respondeu. Temos crianças da roça e quando precisam
fornecemos.
- Entendo! Mas há muita coisa e as verbas têm vindo regularmente, melhor seria
distribuir aos alunos em suas necessidades do que deixar amarelar nos armários.
Ela não gostou, resistiu, mas falei para as coordenadoras agirem. Eu mesmo, na
solicitação de alunos e professores pegava do material “novo” e em condições de uso e
distribuía. Era desumano fazer aquelas crianças que mal tinham um chinelinho para proteger
os pés, comprar material, quando tínhamos tanto. Renovamos os estoques em pouco tempo.
Em outra ocasião, quando o Plano de Carreira do Quadro do Magistério da Secretaria
de Educação do Estado de São Paulo – LC nº 836 de 1997 – já estava em vigor e as mudanças
proposta pela Secretaria da Educação já aconteciam na rede, a escola precisou elaborar seu
Projeto Político Pedagógico adequando-o às novas orientações organizacionais. Como as
instruções eram para que este fosse fruto de um processo democrático e como democrático
entendo a participação de todos ou dos representantes legítimos de todos os segmentos, não
tive dúvidas.
Em reunião bimestral com os pais coloquei o problema e perguntei se alguns deles
gostariam de fazer parte do grupo que estudaria as mudanças e pensaria o Projeto. Três pais se
dispuseram e a eles juntei dois funcionários, um da secretaria e outro do pátio, professores e
121
como professora efetiva escolhia sempre as 4ª séries – faria um estrago sem reparos para a
aprendizagem dos alunos. Além da idade avançada, havia mais de duas décadas que não
entrava em sala de aula, tinha a letra quase que ilegível em virtude da artrose e sua paciência
com os alunos era mínima. Definitivamente melhor seria mantê-la ao meu lado como vice-
diretora e, se os alunos ficassem privados de algo, lutaria de outra forma.
Tempo depois recebi um recado do prefeito dizendo que estava aguardando minha
resposta.
Devolvi falando que não havia o que pensar, minha decisão estava tomada. Embora
entendesse suas rusgas políticas, minha obrigação era com os alunos e com os pais que me
confiaram seus filhos.
Mais tarde, quando ele soube que eu estava sendo designado para trabalhar no
CEFAM, procurou a Dirigente e solicitou que me mantivesse na escola. Penso que entendeu
minha posição e a respeitou ou julgou que eu era o mal menor.
Em março ou abril de 2000 tive a oportunidade de vir trabalhar na Escola Estadual
Prof. Arruda Melo em Presidente Prudente. Sua diretora havia se aposentado e o cargo ficou
vago, cabendo substituição. Aproveitei e vim, era a oportunidade de deixar a estrada.
O “Arruda Melo” era uma escola tradicional de Presidente Prudente. Foi a primeira
escola instalada na cidade de Presidente Prudente, muito embora tenha passado por grandes
modificações quanto ao local de instalação do seu prédio e do tipo de sua construção. Em
2000 sua diretora se aposentou. Era uma profissional respeitadíssima na Diretoria de Ensino,
séria e competente, que ali permaneceu por muitos anos.
Logo na primeira semana e por hábito meu, estava fazendo meu turno da noite e
resolvi andar pelos corredores da escola. Os andares superiores eram razoavelmente
tranquilos, mas o andar do porão, assustador. Quando desci as escadas e me deparei com a
cena tive o impulso de voltar, mas freei-me e continuei caminhando. Haviam alunos para todo
canto do corredor fora das salas, fumando e conversando. Sem brigar, mas sério, passei e fui
falando:
- Apaga este cigarro e volte para a sala!
Confesso que não sei se me acataram, pois não tive coragem de olhar para trás ou
voltar. Quando cheguei a minha sala, chamei a vice-diretora e perguntei sobre o que acabara
de presenciar. Ela disse que era assim mesmo, no período da noite os alunos eram maiores,
trabalhavam o dia todo e tinham sua independência. Calei-me sem me conformar.
123
eles adotada era de livre escolha, melhor, era consciente? Tinham, eles, ideia do que perdiam
e dos valores que tomavam para si quando abandonavam a escola? Numa sociedade liberal,
em que o indivíduo só vale pelo que produz, em nossa sociedade que mais aliena do que
promove a integridade humana, sociedade em que a ascensão social se dá de forma lenta e
para poucos, apesar das promessas dos jogos de azar e dos “BBBs” 22 da vida, o que é
liberdade? O que é garantia de direito?
Desta forma, acreditei que ser democrático nesta situação seria garantir a educação
para todos, mesmo que de forma autoritária. A liberdade do aluno estava em vir ou não a aula,
mas vindo precisavam participar das aulas, mesmo assim, faltando ou abandonando as aulas e
acumulando faltas, seriam convocados para se justificarem na escola ou nos órgãos
competentes. Era também uma forma de romper com um vicio negativo e que denegria o
papel da escola. Não era possível compactuar com esta situação imoral.
Lembra Alonso que o papel do administrador escolar é maior e mais complexo.
“Desta forma, atuar sobre pessoas ordenando e integrando o seu comportamento, liderar para
conseguir as mudanças necessárias, mediar entre a organização e o sistema social maior
constituem atribuições necessárias do administrador.” (ALONSO, 1976, p. 141). Isto não é
uma tarefa simples e nem encarada pela maioria dos administradores. “A maior dificuldade
parece decorrer do fato de que eles não estão preparados para considerar de maneira analítica
as diversas funções – inclusive a sua – nem de relacioná-las entre si ou com o ambiente.”
(ALONSO, 1976, p. 141, a expressão em itálico é minha).
Outra forma de se ver e administrar uma escola é olhando-a através da visão
institucional. Apesar do tempo e das mudanças sociais acontecidas na história, a função social
da escola permanece basicamente a mesma, embora com características apropriadas ao tempo
e espaço atuais. Hoje a escola tem compromisso firmado com o desenvolvimento científico e
tecnológico, lembra-nos Alonso (1976) e que buscam praticidade, que necessariamente não
incluem os humanos, melhor, os exclusivamente humanitários. “A fim de se encaminhar para
um objetivo desta ordem, a escola atual precisa rever toda a sua estrutura, todo o seu sistema
de trabalho e mesmo os papeis definidos tradicionalmente.” (ALONSO, 1976, p. 146).
Completa:
Administração escolar é o processo pelo qual meios e fins são reunidos para
alcançar os objetivos da escola, que estão constantemente evoluindo. É
22
BBB – Big Brodher Brasil, Reality Show exibido pela rede televisiva de televisão brasileira e que
promete valores vultuosos ao vencedor, além das vantagens como fama e sucesso. Reality Show
semelhantes acontecem igualmente em outros canais de televisão.
125
muito mais do que dirigir um sistema “tutorial”. Uma vez que as escolas
refletem os valores sociais, morais e políticos da sociedade a que servem, a
administração compreende a identificação e a definição das proposições de
uma política educacional.
Envolve a mobilização e a ativação da liderança política potencial de todos
os elementos que compõem o governo – comunidade, estado, e nação – com
o fim de identificar as aspirações educacionais, morais e políticas e
estabelecer os meios para atingi-los. (ALONSO, 1976, p. 147-14823)
Assim sendo, o Diretor de Escola não é apenas o mediador das ações internas à
escola, mas aquele que articula fora e dentro da escola. Conversa com a administração geral
ouvindo suas propostas e levando as necessidades da escola que administra; traz para a escola
os resultados das propostas discutidas e ou recebidas; e colhe resultados. Nesta inter-relação
23
Definição dada pela Associação Americana de Administradores Escolares
126
do diretor com os níveis mais elevados e com a comunidade, é importante que o diretor
mantenha o clima favorável e descontraído do trabalho.
Ainda em relação à EE Prof. Arruda Melo, outra medida foi tomada junto com as
Coordenadoras Pedagógicas. Havia um sem número de alunos evadidos ou com excesso de
faltas e nenhuma atitude havia sido tomada até então. Pedi a listagem geral destes alunos,
montamos um comunicado aos pais ou responsáveis e encaminhamos carta social a todos
agendando suas vindas à escola e conversamos com um por um. Eu e os dois vice-diretores
passamos a semana toda recebendo e falando como pais, explicando da necessidade do
retorno as aulas e da responsabilidade da família. Este foi um trabalho penoso, mas que deu
bons frutos.
Nesta escola também passei por uma situação que não encontrei “receita” já pronta
para resolver, então coube o bom senso e minha caminhada pela Filosofia. Havia na escola
um grupo de alunos com declarada opção homoafetiva que deixava os inspetores e os outros
alunos incomodados. Havia, também, os que insistiam em fumar cigarro de papel e outros no
interior da escola e, as reclamações também eram grandes.
Chamei os dois grupos para uma conversa um de cada vez, claro. Primeiro o grupo
da homoafetividade, os coloquei sentados em minha sala falei sem muitos rodeios, mas
procurando não rotulá-los. Era preciso que entendessem que tinham seus direitos, mas que
estávamos numa comunidade e que os direitos dos outros também precisavam ser respeitados,
assim, podiam ficar juntos, conversarem, mas sem outras intimidades, como também não era
permitido aos demais.
A conversa foi amigável e gostosa, falamos sério, rimos e entramos em acordo.
Com o grupo do cigarro fui mais firme dizendo que estava conversando, que queria
um acordo, pois ali não era o lugar de fumar e nem de fazer uso de outras substâncias, mas
que eles eram alunos da escola e seriam respeitados como tais. Porém, se eu os pegasse
descumprindo o acordo, seus pais seriam avisados e eu acionaria a polícia.
Não tive mais problemas com os dois grupos. Quando uma conversa ou outra surgia
fazia a pessoa refletir sobre seus direitos e deveres de todos e, assim todos entendíamos que
estávamos numa coletividade e precisávamos exigir, mas também ceder.
O Diretor de Escola é o sujeito que, tomando dos princípios administrativos, portanto
torna-se administrador, dirige, conduz, dá o norte para a escola que trabalha. O diretor faz uso
dos princípios administrativos para bem conduzir sua equipe e a escola que tem como
responsabilidade para atingir fins propostos pela administração geral, porque mesmo em se
127
tratando de uma escola particular, ela possui intenções gerais, às propostas por sua equipe e
pela comunidade pertencente à escola.
Assim, traduz a autora
[...], embora a posição ocupada pelo diretor lhe confira poder para atuar
sobre a escola e seus membros, ao mesmo tempo que lhe proporciona uma
situação em que a liderança efetiva pode ser desenvolvida, o comportamento
do diretor irá sofrer uma série de condicionamentos decorrente das inúmeras
formas de pressões a que está sujeito. (ALONSO, 1976, p. 168)
A liderança pode ser uma qualidade nata do indivíduo, mas também pode ser
construída, “desenvolvida”. Para o Diretor de Escola não é diferente e não é facilitada pelo
cargo que ocupa, suas ações e a forma como conduz os problemas e as soluções apresentadas
no seu cotidiano lhe dará a credibilidade necessária para liderar sua equipe e ser acreditado
por ela e pelos que o lidera. Mas percebam, o papel do diretor é outro, sua função é outra.
Assim Alonso chega a concluir que
A sua (diretor) função essencial não é mais uma “função logística”, isto é, de
mobilização de recursos, mas sim uma “função estratégica”, ou seja, de
condicionador de reações daqueles que serão afetados por certos objetivos e
ações. Cabe ao diretor, portanto, dentro desta concepção, antecipar as
reações prováveis, com o objetivo de contorná-las ou ajustar aqueles
objetivos e ações às consequências previsíveis. O grande desafio para o
diretor esta justamente em alcançar resultados por meio de outros e não pela
sua própria realização pessoal, o que nem sempre produz satisfação.
(ALONSO, 1976, p. 169, parênteses meus)
Numa outra ocasião fui procurado pelo zelador da escola que me solicitou o
empréstimo da quadra para jogarem bola no fim de semana. De pronto cedi e disse apenas
para ele tomar conta para que não tivéssemos excessos. Um dia em reunião na Diretoria de
Ensino em que estavam presentes alguns professores da Unesp de Presidente Prudente e
falávamos sobre participação da comunidade nas escolas, uma professora da Unesp disse que
morava num prédio vizinho a escola “Arruda Melo” e que num sábado acordou com barulho
de vozes e ao olhar pela janela observou pessoas jogando bola nas quadras da escola e que
isto virou um hábito. Pensei comigo:
- “Vichi”, vem bronca e reclamação e eu nem falei nada para a dirigente.
Longe de reclamar, achou o fato extraordinário. Eu simplesmente o vi como um
serviço à comunidade, meu dever de servidor, diretor e cidadão.
Fiquei nesta escola apenas oito meses, mas foram intensos e produtivos. Aqui mais
aprendi do que fiz.
A escola Arruda Mello passou por remoção e outro diretor teve seu cargo removido
para ela. No ano seguinte, mesmo sabendo que o diretor permaneceria afastado na Diretoria
de Ensino como supervisor de ensino, eu voltei para Anhumas.
Um dia, andava pelos corredores da Diretoria de Ensino e a dirigente me chamou.
- A escola Francisco Pessoa do bairro Ana Jacinta está sem diretor, a antiga acabou
de aposentar e eu gostaria que você a assumisse, pois é uma escola grande e precisamos de
cuidados com ela.
Eu estava desiludido de sair da escola onde estava meu cargo. As coisas mudam
quando saímos e quando voltamos precisamos fazer tudo de novo. Então agradeci e disse que
também os alunos de Anhumas precisavam de mim naquele momento.
Não passou muito tempo e novamente fui chamado pela Dirigente que me disse:
- Agora não aceito desculpas e nem “não”.
Assim, em 2001 assumi a direção do CEFAM.
O CEFAM – Centro Específico de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério 24 –
estava se tornando unidade escolar por Resolução estadual e precisava de alguém que
cuidasse da escola com zelo.
24
Os Centros Específicos de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério – CEFAM – surgiram,
enquanto proposta do Ministério da Educação e Cultura – MEC –, no fim da década de oitenta, como
uma das alternativas para o resgate da formação do professor para as séries iniciais de escolarização
e para a atualização dos professores que atuavam nesta habilitação e nas séries iniciais do 1º grau.
[...] Os CEFAM, no estado de São Paulo, estão organizados para oferecerem cursos de formação em
período integral e com a duração de quatro anos letivos. (GODOY, 2000, p. 235; 237)
129
Aleguei que nada sabia de formação de professores, nunca fiz magistério, mas nada a
convenceu. Então disse que iria.
Quando cheguei em Anhumas e falei com o secretário, de imediato perguntou:
- Quem ficará em seu lugar?
- Pela regra, a vice, até que vá para a escolha. Respondi.
O problema político voltou à tona e a dirigente precisou intervir para a solução. Eu
fui para o CEFAM.
Por fora o prédio onde funcionava o CEFAM era até bonito, mas por dentro era
muito feio. Construído à prestação. Tem dois blocos que foram unidos por uma passarela que,
visivelmente, foi feita depois e fora do projeto. A escola era pintada de branca e azul, mas
desgastada pelo tempo. Pensei comigo: “Nossa, que escola horrível! Deixei minha escolinha
tão bonita e olha aonde vim parar”.
O tempo passou, este pensamento se dispersou e me apaixonei pelo trabalho ali. Era
muito fácil administrar uma escola em que todos têm o mesmo propósito. Os professores
eram escolhidos por projetos e trabalhavam ali porque gostavam do que faziam. Os alunos
vinham em busca de um ensino profissionalizante e que, apesar de ser integral, lhe garantiria
uma bolsa de estudo, o que custeava seus estudos, alguns ajudavam em casa e assim não
precisavam trabalhar fora para completar as despesas.
A indisciplina era praticamente zero e os projetos pedagógicos nota dez. Como
tinham ideias e folego aqueles professores e aqueles alunos!
Com os meninos precisei apenas ajustar o uso correto do vestiário e acabar com as
reclamações e “preocupações” das serventes que diziam achar ali coisas indevidas para uma
escola; com as meninas era mais o dia-a-dia de algumas intrigas que surgiam entre elas, mas
nada de trabalhoso.
De manhã aulas teóricas para todos, à tarde estágio. Neste período só ficava na
escola o pessoal administrativo e, vez ou outra uma turma trabalhando com o professor do
estágio.
A secretaria era bem organizada e fácil de ser cuidada. Além do trabalho rotineiro de
uma escola, a secretária tinha que cuidar da prestação de conta das bolsas de estudo dos
alunos. O acordo era que, a partir da décima falta do mês começaria o desconto na bolsa,
assim todas tomavam muito cuidado e não se tinha problemas com faltas, muito menos com
evasão escolar.
130
[...] manutenção de ações que vinham da gestão anterior, como por exemplo,
o Programa de Municipalização do Ensino Fundamental e a manutenção do
regime de progressão continuada no ensino fundamental, ao mesmo tempo
em que explicita alguns princípios inovadores, como são o caso da adoção
do conceito de escola acolhedora e a forte insistência na questão da inclusão
social. (PALMA FILHO, 2010, p. 162)
Família abrindo as escolas nos finais de semana com projetos de jogos, cursos e atendimentos
à comunidade.
Para abarcar e dar conta das ações desenvolvidas pela Secretaria da Educação, o
professor Chalita cria o programa “Teia do Saber”. Entre as ações estão:
Não sei se foi pior, ou melhor. O rapaz era bem magro e evidenciava sua debilidade,
mas tinha tantos sonhos e tanta vontade de fazer as coisas acontecerem que eu mal podia me
conter em minhas palavras. Era impressionante o valor que ele dava à sua vida, os sonhos que
tinha para o futuro e como era apaixonado pela educação.
Falou-me um pouco de si e eu falei da vida dele na escola, perguntei se era muito
pesada e como ele dava conta dos estágios, ao que respondeu ter sempre a compreensão e
apoio de todos. Ele tinha ciência do suor que exalava, então pedi apenas para que nos dias
mais pesados para ele, que se mantivesse em casa e, se fosse preciso a escola faria
acompanhamento domiciliar 25. Ele acabou se formando com o grupo, mas não sei de sua vida.
Ainda no CEFAM tive um pequeno problema com algumas alunas durante seus
estágios. Soube que algumas delas, depois que a professora responsável pelo estágio de sua
turma passava pela escola, iam embora, abandonando as salas de aula de estágio.
Combinei com a coordenadora e no dia do estágio para lá nos deslocamos. Passado
um tempo vimos as meninas saírem, me fiz ver e me apresentei na escola. Peguei-as no pulo,
não tinham como negar.
Depois de nos reunir com elas e juntamente com a professora orientadora de estágio,
fizemos um acordo. Perderiam metade do tempo do estágio já realizado até aquela data e
tinham que refazê-lo ou devolveriam a bolsa. Fizeram o estágio novamente. Aqui a questão
era ética e não de democracia.
Em 2004 tivemos a informação que o Projeto CEFAM seria extinto. Assim, sem
mais nem menos. Sem consulta à comunidade, sem aviso prévio, sem grandes explicações. O
que fora a “menina dos olhos” de um secretário da educação, passou a ser um peso para o
outro. Não adiantou protestos, tentativas de conversas, nada. Estava decidido e pronto. O Sr.
Geraldo Alckmin era Governador de Estado e Gabriel Chalita o Secretário da Educação.
Vejam o que disse o Secretário da Educação Gabriel Chalita na ocasião, em
entrevista ao jornal Diário do ABC:
25
O acompanhamento domiciliar é garantido pelo Decreto-lei nº 1.044, de 21 de outubro de 1969, que
dispõe sobre tratamento excepcional para os alunos portadores das afecções e atualmente também
pela Resolução SE nº 25, de 1-4-2016 que dispõe sobre atendimento escolar domiciliar a alunos
impossibilitados de frequentar as aulas em razão de tratamento de saúde que implique permanência
prolongada em ambiente domiciliar, e dá providências correlatas.
133
26
Disponível em <(http://www.dgabc.com.br/Noticia/114361/cefam-sera-mesmo-extinto-em-2006-
afirma-secretario)> acessado em 3/4/2016, às 17h33
134
bairro no início diz que ali era um grande vale que foi aterrado, mesmo assim desce-se escada
para entrar na escola.
Não foi uma época fácil, mas gostei da escola assim que lá cheguei. O vice-diretor
era uma figura extraordinária, zeloso ao extremo e muito organizado quando se tratava das
finanças, com ele eu dormia com a cabeça fria. Ele já sabia de minha ida e me aguardava
ansioso.
Os funcionários eram em número muito reduzido, tínhamos duas inspetoras para
cuidar de toda a escola e mais duas funcionárias na secretaria. Era uma labuta cotidiana sem
conta. Nos intervalos todos virávamos inspetores de alunos. Estranhei no início, pois no
CEFAM um inspetor dava conta de todo o trabalho, mas me acostumei.
Uma das coordenadoras passou no concurso de Diretor de Escola e, um mês depois
de minha chegada ela nos deixou, a outra se manteve firme e sozinha por um longo tempo e,
apesar de ser considerada geniosa por muitos, era eficiente e determinada, me ajudou muito e
juntos fizemos muitas coisas boas.
Os alunos, de forma geral, davam muito trabalho disciplinar, sabiam que os pais
trabalhavam o dia todo e que não poderiam vir à escola, mas não desistíamos. Não eram mal
educados, eram traquinas. A maioria dos pais trabalhavam fora e próximo ao centro da cidade,
o que dá cerca de 10 km e para os que dependiam de condução coletiva era difícil atender a
escola no tempo propício. Vinham pouco a escola, mas acreditavam em nosso trabalho e
exigiam qualidade.
Um bom grupo dos professores efetivos já estava na escola há algum tempo e tinham
com os alunos e familiares alguma intimidade. Os professores que foram chegando depois
entraram no mesmo esquema, “vestiram a camisa” e trabalhamos como uma boa equipe.
Chegamos a ter 43 salas entre manhã, tarde e noite, o que dava quase 2 mil alunos
matriculados.
Dois ou três anos depois a antiga coordenadora saiu e dois outros coordenadores
foram escolhidos por mim, formamos um quarteto muito bom e muitos eventos e trabalhos
pedagógicos puderam ser desenvolvidos. Ambos eram muito compenetrados no trabalho e
levavam a sério o que faziam, pois acreditavam na educação.
Haviam alunos participativos e cooperativos, mas durante os seis anos que ali
permaneci não conseguimos montar um grêmio estudantil. E olha que tentamos. Porém, nas
conversas e reuniões de representantes de sala íamos colhendo suas necessidades e atendendo
à medida do possível.
135
Apesar das muitas necessidades e dos poucos recursos, mas da boa administração
financeira do Vice-diretor, conseguimos muitas melhoras no prédio escolar. Só para registrar:
o prédio da escola foi construído com uma mistura de capim prensado, aramado de aço e
reboco, uma experiência usada em cinco escolas estaduais. O esqueleto do prédio e o piso
eram de bloco de concreto pré-moldado. Com o tempo as paredes que ladeiam o prédio
tiveram que ser trocadas, o material do qual ela era feita apodreceu e os alunos percebendo a
fragilidade das paredes as chutavam, abrindo enormes buracos. Mas, apesar do piso parecer
solto a escola era segura e boa.
Com o tempo pusemos telas de alambrado em todas as janelas externas da escola o
que diminuiu a quase zero o número de vidros e o perigo das pedras lançadas da rua atingirem
alunos e professores. Pusemos toldos em todas as janelas diminuindo a incidência do sol, já
que a escola era insuportavelmente quente. Arrumamos o banheiro masculino que era
indecente, mal cheiroso e vergonhoso. Tudo graças ao zelo financeiro do Vice. Eu chegava e
dizia:
- “Fulano” os alunos estão reclamando disto ou daquilo.
Ele ficava quieto e um tempo depois vinha:
- João, temos “X” dinheiro e dá para fazer a tal coisa, vamos fazer?
E as coisas caminhavam.
Conseguimos uma reforma dos banheiros e finalmente estes foram azulejados e
espelhados, com pias de pedra de mármore e torneiras de pressão. Agora sim, ficaram
decentes!
Algumas coisas me faziam rir. Certa tarde estava em minha sala e uma das
funcionárias da secretaria da escola chegou e disse-me:
- João, tem algo de estranho com seu carro. Os alunos o estão empurrando de um
lado para o outro.
Fui ver. Deixei o carro sem puxar o freio de mão e os alunos brincavam de carrinho
com ele. Não chamei a atenção de ninguém, eles só brincavam. Quantas vezes deixei o carro
com os vidros baixados e nada sumia de dentro? Nunca mexeram ou estragaram meu carro,
encontrei bilhetes escritos em sua lataria e à caneta, mas sem danos.
No ano que cheguei à escola Francisco Pessoa encontrei ali uma sala de aceleração 27.
O que era aquilo, meu Deus! Era para ser a classe dos alunos que, por dificuldade de
27
Com relação às classes de aceleração a LDB/1996 traz:
136
aprendizagem não conseguiam ser promovidos. A sala só possuía 15 ou 20 alunos, mas eram
mais velhos que a maioria dos alunos do período da tarde, assim, além de repetentes,
segregados de seus grupos de amizade, estudavam no período da tarde, no meio dos pequenos.
Davam um trabalho incalculável.
A legislação fala em dois casos de aceleração: para atender alunos com idade e série
em defasagem e para atender os alunos com necessidades educacionais especiais. Na escola
Francisco Pessoa coube o primeiro caso. A sala de aceleração que encontrei deveria atender
alunos com idade e série em defasagem para a 8ª série do ensino fundamental, acontece,
porém, que além da defasagem da idade, os alunos em questão possuíam dificuldades de
aprendizagem e esta dificuldade se expressava também em indisciplina. Juntava-se a isto o
fato de terem colocado a turma de aceleração para estudar no período da tarde, junto com as
5as, 6as e 7as séries, o que diminuía ainda mais a alta estima do grupo.
Percebam que o que faltou foi um projeto pedagógico consistente de valorização do
aluno e que levasse o grupo a diminuir suas defasagens. É preciso perceber também que,
defasagens vinda de longos anos (lembrando, era uma 8ª série, o que hoje chamamos de 9º
anos) não se elimina ou resolve em apenas um ano e sem um projeto consistente.
Com muita conversa e acordo, consegui um espaço para colocá-los de manhã e
convenci os professores a trocarem, informalmente, seus turnos de trabalho e, assim,
resolvemos ao menos parcialmente o problema com a indisciplina.
No ano seguinte resolvi que não mais montaria salas de recuperação de ciclo, mas os
professores insistiram. Porém, os professores me procuraram e alegavam que a experiência
Art. 24. A educação básica, nos níveis fundamental e médio, será organizada de acordo com
as seguintes regras comuns:
V - a verificação do rendimento escolar observará os seguintes critérios:
b) possibilidade de aceleração de estudos para alunos com atraso escolar; (BRASIL, 1996)
Atendendo ao proposto de LDB/1996, o Estado de São Paulo promulga a Resolução nº 77, com a
seguinte justificativa:
A Secretária da Educação, tendo em vista o contido no Parecer CEE nº 170/96, homologado
pela resolução 13.5.96, e considerando que:
- significativa parcela de alunos de 1º grau se encontra matriculada em série incompatíveis com
sua idade cronológica;
- para correção da trajetória escolar desses alunos há necessidade de se criar condições
didático-pedagógicas que atendam às demandas de aprendizagem específicas dessa clientela;
- a implantação de classes de aceleração se constitui numa proposta de trabalho viabilizadora
dessas aprendizagens; resolve:
Artigo 1º - Fica instituída na rede estadual de ensino, a Reorganização da Trajetória Escolar no
Ensino Fundamental, através da implantação de Classes de Aceleração integradas às séries
desse grau de ensino.
Artigo 2º - As Classes de Aceleração visam a eliminar distorção idade/série no Ensino
Fundamental através da implantação de uma estrutura didático-pedagógica própria, inserida na
proposta educacional da escola e flexibilizada em termos de seriação e organização curricular.
(SÃO PAULO, 1996)
137
anterior fora ruim porque o critério usado para formar a turma fora errado, misturaram alunos
com dificuldade de aprendizagem, com alunos que apresentavam sérios problemas de
indisciplina. Diante da alegação dos professores, resolvi ceder.
Fizemos um acordo: os professores efetivos da casa pegariam a maioria das aulas e
tentaríamos um trabalho diferenciado, com um projeto específico. Isto garantiria professores
nas salas de aula, com estratégias de ensino apropriadas às dificuldades dos alunos. Eles
concordaram e montamos duas turmas de aceleração de 6ª série e, no dia da escolha de aulas,
cada professor escolheu se assumiria uma ou as duas classes de aceleração.
Foi uma labuta o ano todo. A escola com mais de 30 classes e uma única
coordenadora para dar conta do trabalho, o que tornou quase impossível um projeto
consistente junto com as salas de aceleração. Conseguimos um trabalho diferenciado,
produzimos algum material específico para atender turma/defasagem/disciplina curricular e
com isto tivemos apenas um trabalho diferenciado, mas não suficientemente eficaz para
atender a todos os alunos destas salas. Os professores, no entanto, cumpriram suas palavras
sem reclamar e heroicamente. Uma experiência que não pretendo repetir em minha vida
profissional, pois, muito embora ainda faça parte das políticas públicas do Estado de São
Paulo, não conheço escola em que uma dessas experiências que tenha dado certo.
Minha dúvida sobre o projeto de aceleração pairava, e ainda paira, sobre o fato de
reunir, num único agrupamento, alunos com acentuada dificuldade de aprendizagem e tentar
um trabalho diferenciado com eles. Teoricamente eles aprenderão, pois contarão com trabalho
diferenciado, menor número de alunos por sala e, consequentemente, maior atenção do
professor, mas e o ano seguinte, quando forem incluídos nas salas regulares e não mais
contarem com este respaldo? Não se perderão novamente? Um ano é suficiente para
restabelecer o que fora perdido? Não entendo o problema da aprendizagem como sendo
pontual. Acredito que o aluno, quando deixou de participar da construção de saberes durante
seu processo, perde mais que conteúdo, perde conhecimentos e perde as relações possíveis
que este lhe proporcionaria, perde, portanto cultura.
A partir destas experiências mudei de atitude quanto a recuperação. Passei a reunir as
aulas não dadas durante o bimestre, montava o plano de reposição, conforme requer a lei, e o
encaminhava para aprovação na diretoria de ensino. Quando aprovado convocava grupos de
cinco ou seis alunos indicados pelos professores e pagava, com as aulas de reposição, um
professor para trabalhar no período imediatamente antes ou após as aulas regulares com os
alunos que apresentavam dificuldades.
138
Lima (1991) explica que o “corpus” da lei é marcado por “incongruências e por
contradições”, mais, que “a centralização promove efectivamente a passividade e a não
participação” (LIMA, 1991, p. 143), assim, não creio que tenha cometido imoralidade ou
ilegalidade sem propósito, o que realizei, e ainda realizo com relação a reposição das aulas
não dadas, nada mais é que uma “desconexão normativa”. A lei tem a função de regular o
todo, mas cabe ao Diretor de Escola administrar e, na “desconexão” fazer o que é o melhor
para a aprendizagem dos alunos que tem sob seus cuidados.
A reposição nos moldes proposto pelo Estado também não funciona. É difícil para o
aluno vir fora de seu período e, em grupos de 15 a 20 alunos, fazer um trabalho diferenciado.
Resolve para os alunos de 6º e alguns dos 7º anos que ainda acatam bem o que a escola
propõe, mesmo assim dificilmente juntamos os 15 ou 20 alunos legalmente convocados. Para
os alunos dos demais anos não há rendimento, quando aparecem teremos um ou dois alunos.
Além disso, o agrupamento composto de 15 a 20 alunos é grande e improdutivo para este fim.
Repor as aulas não dadas era ainda pior. Que aluno deixará seu futebol ou sua pipa
para vir à escola para repor aula só porque o professor faltou e a escola não conseguiu um
substituto?
Lembranças me vêm à mente ...
Desde o ano que cheguei na escola havia dois garotos gêmeos, uma graça de
crianças, quietos sempre unidos e num asseio de dar gosto de se ver. A mãe, uma senhora
simpática, sorridente e simples, trazia nas mãos as marcas da labuta diária. Era muito
presente. Os meninos tinham deficiência mental de leve para mediana e acompanhavam muito
pouco as aulas, na realidade nada escreviam a não ser “garatujas”. Iniciaram conosco na 5ª
série.
Depois de iniciado o ano letivo (2007 ou 2008), dei por falta dos garotos. Já estavam
grandes, quase adolescentes, estavam defasados idade/série em virtude de suas dificuldades.
Perguntei para os professores e disseram que estavam faltando já há algum tempo. Pedi para
139
chamar a mãe que atendeu prontamente. Perguntei o motivo da ausência dos meninos, se
estavam bem de saúde e tudo o mais. Ela disse que estavam bem, mas,
- Seu João, acho que eles estão percebendo que seus amigos do lado fazem coisas
que eles não conseguem fazer. Eles estão percebendo que não sabem ler e escrever. Estão com
vergonha e não querem mais vir para a escola.
Pensei um pouco e propus:
- Mãe, vamos tentar uma coisa diferente. Eu consigo uma professora para tentar
alfabetizá-los. Eles vêm para a escola, ficam juntos em uma sala a parte e esta professora dará
aulas para ele. Quando quiserem, voltam para a sala deles.
A mãe pensou e disse:
- Será que eles vão aceitar. O “Antônio”28 é mais esperto e não vai querer vir.
- Traga-os para falar comigo.
Assim fizemos. Chamei uma professora amiga que estava com aulas na escola.
Tínhamos trabalhado no CEFAM e ela possuía experiência com alfabetização. Coloque o caso
para ela e de pronto aceitou. Os meninos vieram e trabalhamos um bom tempo. Depois o
“Antônio” desanimou e seu irmão o seguiu e mesmo com a ajuda da mãe não conseguimos
mais trazê-los para a escola, queriam trabalhar.
Percebi, mais tarde, que errei ao deixá-los sozinhos, poderia ter colocado junto mais
um ou dois com dificuldades semelhantes, quem sabe os incentivariam!
Penso que um dia poderemos chegar à maturidade cidadã tal que Politica será
politica e não mais politicagem. Numa das eleições municipais, já em Presidente Prudente, a
Dirigente Regional se candidatou à vereadora. Sempre tivemos bom relacionamento, confiava
em meu trabalho e buscava minha ajuda na diretoria quando era preciso. Também sempre me
coloquei à disposição. Bem, em uma conversa de corredor da Diretoria saiu a questão do voto
e ela falou:
- Você vai votar em mim, né?
Respondi:
- Desculpa, mas em seu partido eu não voto, nem pela senhora.
Acho que a honestidade faz mal. Tornei-me personae non gratae, mas resisti. Errei
por ter falado? E os outros quase 20 mil professores e funcionários da educação que falaram
sim e não votaram? Ela não ganhou aquela eleição e nem a outra que concorreu. Era uma boa
pessoa, com bons ideais, mas, no meu entender, num partido de posição.
28
Nome fictício usado apenas para dar forma ao diálogo.
140
Em 2007 assume o governo do estado de São Paulo, José Serra e com ele, Maria
Lúcia Vasconcelos, assume a Secretaria de Estado da Educação, mas que por problemas de
saúde logo deixa o cargo, mas deixou como marca o aumento no número dos ciclos no Ensino
Fundamental. Assim, de dois ciclos de quatro anos cada, passou a quatro ciclos de dois anos
cada. Esta mudança preocupou algumas pessoas, pois com ciclos menores diminui-se o tempo
do aluno de adquirir conhecimentos e sanar suas dificuldades e, como consequência corre-se o
risco de retornar o velho hábito das reprovas e o problema da defasagem idade/série.
No mesmo ano de 2007 assume a Secretaria da Educação Maria Helena Guimarães
de Castro. Com ela o governo instala as dez metas para a melhoria da qualidade da educação,
que se estendem da alfabetização até a melhoria dos prédios escolares, passando pela
diminuição da retenção; melhoria no desempenho dos alunos; incentivo ao ensino
profissionalizante; ampliação do Ensino Fundamental para nove anos; formação continuada e
descentralização da merenda escola.
Entre as medidas adotadas por Maria Helena Guimarães de Castro “destaca-se a
criação da função professor coordenador e o fortalecimento do papel do diretor da escola na
liderança do processo de implantação do modelo de gestão”. (SANFELICE, 2010, p. 149,
itálico do autor)
Mas, como nem tudo são flores, na escola Francisco Pessoa também passei por
experiências tristes. Uma aluna caminhando pelo pátio de mãos dadas com a amiga no
intervalo caiu desmaiada. O Vice-diretor que estava na escola no momento, percebeu que algo
de estranho acontecera, chamou o resgate e ligou para a família. O resgate veio e o irmão mais
velho a acompanhou. Ele dizia:
- Ela desmaia sempre, mas dessa vez está demorando para voltar!
Conduziram-na para o hospital, mas sem chances. Mais difícil foi consolar a mãe
uma semana depois. Os professores ficaram inconformados a ponto de eu ter que chamar o
bombeiro que a atendeu para nos explicar o ocorrido. Disse-nos que ela caiu desfalecida,
quando a conduziram perceberam que nada mais havia a ser feito. Soubemos mais tarde que
ela tinha desmaios quase que constantes e naquela manhã passara mal. Mas isto tudo era
desconhecido por nós.
Daquele ano em diante montamos um questionário que os pais tinham que preencher
na matrícula nos informando sobre a saúde do filho e sua rotina. Quando percebíamos algo,
logo chamávamos os pais para nos orientar.
141
Também foi nesta escola, mais especificamente em 2009, que sofri meu primeiro, e
espero que tenha sido o último, inquérito civil. Foram dois anos de trabalho e provas daqui e
dali; aguentei desaforos e tive que comprovar até por que respirava. Tudo o que eu fazia e
pensava em fazer, era imediatamente sabido pela promotoria e eu tinha que justificar, até que
tudo se resolveu e para o bem da escola e meu, é claro. Não envolvi professores nem
funcionários no problema, não queria que se posicionassem a meu favor e que achassem que
estava manipulando os professores e funcionários ao meu favor. Estava ciente que não
cometera nenhum mal e que as coisas se resolveriam.
Dois fatos mal entendidos se uniram e lá estava eu no meio de um inquérito. Em
2008 a promotoria e o juizado da infância e da juventude, após um trabalho com os diretores
sobre justiça restaurativa, iniciou um ciclo de visitas às escolas. Quando vieram à escola
Francisco Pessoa, chegaram dizendo ter um pouco de pressa e quiseram de imediato falar com
os alunos. Eu acompanhei o senhor juiz da infância e solicitei que o coordenador do ensino
médio acompanhasse o senhor promotor. Apesar de estarmos sem dois professores na casa
naquele dia, tudo transcorreu, aos meus olhos, bem.
Uns quinze dias depois recebi um ofício do senhor promotor falando que a escola
estava mal administrada e que se precisasse de ajuda estava a disposição. Confesso que não
gostei do tom do ofício. Acho que meu lado siciliano falou alto. Não respondi ao ofício. Dias
depois um agente da promotoria me fez uma visita perguntando se estava tudo bem e se havia
recebido o ofício. Disse que sim, mas não dei ênfase. Não contente o agente insistiu e então
respondi:
- Já que você insiste, recebi e não gostei do tom do ofício. Eles vêm para à escola
escoltados com 20 policiais. Passam duas horas aqui e voltam para suas salas. Não dão conta
de que a escola estava com duas salas sem professores e que apenas um aluno saidinho gritou
pelos corredores quando ia ao banheiro. Depois vem me chamar de negligente. Não, não
gostei e não respondi ao ofício porque nele não havia o pedido de resposta.
O outro aconteceu no ano seguinte. Todo primeiro dia de aula faço questão de
recepcionar a série iniciante – 5ª série/6º ano –, porém, em 2009, por um motivo pessoal que
não me recordo, não consegui ficar na escola no período da tarde, mas pedi ao vice e à
coordenadora do fundamental que cuidassem para mim. No dia seguinte uma comissão de
quatro pais me procurou e cobrou minha presença no dia anterior. Expliquei os meus motivos,
e afirmei que o vice e a coordenadora lá estavam. Não aceitaram, mas se puseram a
142
disposição para participarem da escola, ao que agradeci e disse que logo seriam chamados
para reunião de pais onde elegeríamos nosso Conselho de Escola e a APM.
Entre outras vindas à escola e conversas, ora comigo e ora com o vice, umas das
mães, que se sobressaia no grupo, se disse irritada e desgostosa com a escola. Soube, mais
tarde que fez queixa por escrito à promotoria. Depois solicitou a transferência do filho
fazendo questão de falar comigo dizendo que saia, mas se não gostasse da outra escola
voltaria, pois era direito dela. Respondi que sem dúvidas, pois se tratava de escola pública. Se
a memória não me falha, alegou que seu filho estava sendo pressionado. O que não acredito,
já que não era do conhecimento dos professores as conversas que tivemos em minha sala.
A união da promotoria com a queixa da mãe resultou em um inquérito.
Ao final de dois anos estava exausto, tive insônia, apareceram as “psoríases” e por
vezes fiquei angustiado; perdi a alegria de trabalhar aquela escola. Na primeira oportunidade,
depois de encerrado o caso, pedi minha remoção. A desculpa foi a de ficar mais perto de casa.
Neste momento de luta e de angústias, caminhou comigo, sem nunca arredar os pés, o vice-
diretor e a supervisora da escola, e só. Quanto a agradecer! A diretoria se manteve à distância
e tratou o caso formalmente.
Ainda no governo de José Serra, assume a Secretaria da Educação Paulo Renato
Souza que tentará dar rumo à educação paulista em busca de sua qualidade. Para tal propõe
como ações:
29
O governador José Serra e a Secretária Estadual da Educação, Maria Helena Guimarães de Castro,
lançaram nesta segunda-feira, 20, um amplo plano para a educação paulista. São 10 ações para atingir 10
143
metas até 2010. O foco das ações anunciadas é melhorar a qualidade do ensino público paulista. São
Paulo já venceu o desafio da inclusão, com 98,6% das crianças de 7 a 14 anos em escola e 90% dos
jovens de 15 a 17 anos estudando. O objetivo agora é melhorar cada vez mais o aprendizado oferecido.
(http://www.saopaulo.sp.gov.br/spnoticias/lenoticia.php?id=87011, acessado em 13/08/2016, às 0h28min.)
Metas: 1- Todos os alunos de oito anos sejam plenamente alfabetizados. 2- Redução de 50% das taxas de
reprovação na 8ª série. 3- Redução de 50% das taxas de reprovação no ensino médio. 4- Implantação de
programas de recuperação de aprendizagem nas séries finais de todos os ciclos de aprendizagem: 2ª, 4ª e
8ª séries do ensino fundamental e 3ª série do ensino médio. 5- Aumento de 10% nos índices de
desempenho do ensino fundamental e médio nas avaliações nacionais e estaduais. 6- Atendimento da
demanda de jovens e adultos de ensino médio com currículo profissionalizante diversificado. 7- Implantação
do ensino fundamental de nove anos com prioridade à municipalização das séries iniciais: 1ª à 4ª série. 8-
Programa de formação continuada e capacitação das equipes de ensino. 9- Descentralização ou
municipalização do programa de alimentação escolar nos 30 municípios que ainda são descentralizados.
10- Obras e melhorias de infraestrutura nas escolas, desde a ampliação do número de salas, chegando até
a cobertura de quadras que é uma demanda muito forte, por todo o Estado.
(http://www.saopaulo.sp.gov.br/spnoticias/lenoticia.php?id=87022, acessado em 13/08/2016, às 0h33min.,
adaptado por mim)
144
Não temos como negar que as reuniões eram boas e pareciam promissoras. Havia as
críticas, havia os diálogos e por vezes também o monólogo. Mas a sensação era de que
estávamos sendo ouvidos e isto gerava ânimo.
Parece-me que a Secretaria da Educação tem consciência de que para que haja um
trabalho que conduza à qualidade da educação todos têm que se envolver, do Executivo e
Secretaria às escolas e seus atores. Percebem que qualidade tem a ver com indicadores, mas
somente enquanto sinalizadores de problemas, lembram-nos que “educação é processo
contínuo que requer diálogo preferencialmente ininterrupto, de políticas consistentes, gestadas
no âmbito escolar, local onde quase tudo acontece.” (SÃO PAULO, 2013c, p. 18).
A esperança crescia, o Secretario adjunto Palma Filho é uma pessoa respeitada no
campo da educação e sempre se mostrou empenhado e compromissado com suas questões.
O caminho parece que está claro e condiz com falas de muitos outros acadêmicos da
educação ao conclamarem o “chão da escola”, “a experiência da sala de aula”, o “dia a dia da
escola” e assim por diante, mas me pergunto: por que as vozes de tantos educadores ainda
ecoam sem encontrar ouvidos que as percebam?
Estranho também, quando leio entre as páginas dos feitos da Secretaria da Educação,
o espanto do Secretário ao relato de uma educadora que se declarava honrada por estar
falando com ele. “Incrível.”, se lê, “Isto nos causam surpresas. Entendíamos que o que deveria
ser ato rotineiro, era ali considerado como algo extraordinário” (SÃO PAULO, 2013c, p. 23).
Penso que nos falta um pouco de memória. Pouco antes, o então Secretário da
Educação Chalita já fizera suas visitas às diretorias de ensino, discursava lindamente numa
oratória que misturava Heráclito com Freire, Diderot com Vygotsky, uma mistura de
“filosofês”, com “pedagogês” e com autoajuda. Depois distribuía beijinhos e fotos, tudo
145
estava resolvido. Muitos saiam extasiados com os passos da educação. A diferença era que
com ele só tínhamos discurso, agora também temos o diálogo ou pelo menos a sensação do
diálogo ...
Percebo que o diálogo realizado pela Secretaria de Estado da Educação com os polos
de Diretorias de Ensino lhes deu uma boa visão do que é a rede e qual é sua realidade.
Entenderam as dificuldades dos professores que trabalham com poucos recursos, em salas
numerosas, calorentas e em escolas vulneráveis. Entenderam que os baixos salários
obrigavam os que trabalham na educação a procurarem um segundo ou terceiro cargo ou outra
profissão para completar a renda necessária para o sustento da família.
Entendo igualmente que perceberam a necessidade de melhor preparar os futuros
professores em curso universitários mais comprometidos com a qualidade do ensino. Não há
como negar que muitas melhorias advieram destes diálogos e que refletiram positivamente no
espaço escolar e na aprendizagem dos alunos. A título de exemplo e seguindo o que retém a
minha memória, relaciono:
- Reorganização dos módulos de funcionários, especialmente os dos AOE;
- Reajuste salarial, embora parcelado em três anos, mas que diminuiu a faixa de
perdas salariais acumulada nos últimos 15 anos;
- Melhorou a forma de aplicação do bônus, tornando-a menos injusta;
- Criou a função do PCAGP para atender as escolas “prioritárias”, isto é, aquelas
escolas que têm dificuldade de encontrar meios para melhorar sua qualidade de ensino e que
permanecem aquém dos índices desejado e propostos, e também aquela que, saindo da faixa
das “prioritárias” precisam de reforço para se manterem em crescimento;
- Colocou nas escolas os estagiários universitários em número de quatro por
seguimento e, tentando atender os quatro eixos do currículo: linguagem e códigos,
matemática; ciências e tecnologia e ciências humanas. Estes acompanhavam professores,
atendiam alunos junto como os professores em sala de aula, davam o suporte para o aluno
acompanhar as aulas;
- Contratou estagiários de nível médio e, preferencialmente entre os alunos do Ensino
Médio da própria escola, para monitorarem e gerenciarem as salas do Acessa Escola, o que
facilitou em muito no atendimento a professores e alunos;
- Transformou o secretário de escola em GOE, ampliando suas funções para gerente
de organização escolar, o que em tese diminuiria o trabalho do diretor.
146
projetos prontos ou manda fazer e, após aprovados mandam construir nesta e naquela cidade
com o único objetivo de “construir” escolas e cumprir meta. Não há nada de personalização
no projeto, não se leva em conta a topografia, a finalidade, o clima, a posição solar, nada
disso. Depois surgem os “remendos”.
Embora a escola fique próxima ao centro da cidade, encontra-se separada destes por
um córrego semi canalizado e, até 2015, contava com apenas duas vias de acesso que os
ligava. Além disto, o bairro ainda é muito mal servido pelo transporte coletivo, o que nos
causam transtornos na escola, quanto aos horários de entrada e saída de alunos nos três
períodos.
Terminada minhas férias caminhei para a escola. Entrei com o carro no
estacionamento, desci e caminhei até a entrada. O estacionamento estava bem organizado. É
todo gramado e com pedras de brita espalhadas. Tem um jardim na frente da escola, mas que
fica escondido por um alto muro de divisa. Apertei a campainha e entrei. Me apresentei na
secretaria e logo a vice-diretora veio me atender. Já a conhecia de reuniões na diretoria de
ensino.
O rol de entrada é bonito, servido com vários vasos de folhagens bem cuidados,
paredes com grafiato e de uma limpeza de dar gosto de se ver. Do rol para o corredor da
direção e coordenação havia uma grade e um portão de ferro, estranhei.
A Vice-diretora me apresentou para o grupo da secretaria e cumprimentei também a
coordenadora que já conhecia de muito tempo. Me mostrou a sala que deveria ser a minha e
onde alojei minhas coisas. Fui conhecer o restante da escola e do pessoal.
A sala que reservaram para mim é a primeira do corredor e possui uma porta que dá
comunicação com a sala da vice, embora as duas salas tenham entradas individuais, todos que
queriam falar com a vice e ela própria passavam por minha sala, além disso, todo o barulho do
rol vinha parar na sala. Incomodado porque não conseguia me concentrar e não tinha
privacidade para atender e conversar com as pessoas, sugeri a mudança e fui para a sala do
fundo uma semana depois. Perdi parte do movimento da escola, mas ganhei privacidade para
trabalhar.
Ao entrar no corredor das salas de aula percebi um ambiente frio, sem vida e com
uma limpeza nada invejável. De duas, uma: ou limparam o rol da escola na véspera porque
sabiam que eu chegaria ou havia uma supervalorização do estético-burocrático. Mas isto só
pensei.
149
A vice-diretora estava na escola há mais de vinte anos. Iniciou como professora, mas
na fragilidade e na inconstância das direções por que passou a escola, assumiu a vice direção
e, consequentemente a direção da escola nas ausências dos diretores que por lá passaram.
Pessoa boníssima, um grande coração e amiga. Todos da escola a queriam muito bem. Porém,
não tinha tino administrativo e pouco conhecia da rotina administrativa e pedagógica da
escola, deixou estas incumbências para a secretaria e para a coordenadora. Nutria pela escola
uma paixão visível, a ponto de ali ficar por horas a fio além de seu expediente.
Os alunos gostavam muito dela. Ela ralhava com eles, mas passava a mão em suas
cabeças; ouvia, suspendia, chamava os pais, enfim, agia como mãezona, puxava a orelha e
embalava.
A secretária também estava na escola há quase vinte anos. Conhecedora de seu ofício
e eficiente ao extremo. Tinha o controle de todo o administrativo da escola; sabia do serviço,
dos professores e funcionários. Era uma pessoa de gênio forte, gostava das coisas certas na
hora certa e do jeito dela. Aqueles que não “rezam em sua cartilha” encontram problemas com
ela. Falava severamente com as pessoas e, em alguns casos, alto e na frente de quem quer que
fosse. Na sua eficiência ao trabalho mantinha todos os prazos da Diretoria de Ensino em dia e
feitos com o menor número de erro possível, o que deixava a vice-diretora despreocupada.
Duas coordenadoras dividiam a coordenação da escola. Uma que coordenava o
Ensino Fundamental II e outra que coordenava o Ensino Médio. A primeira era uma pessoa
muito “antenada” nas coisas, trazia seu trabalho bem organizado e sistematizado. Séria, firme
nos seus propósitos e no trato com alunos e professores. Estava na escola há uns três ou
quatro anos.
A outra era o oposto da primeira. Estava na escola há mais de 20 anos e na
coordenação, entre vindas e idas, uns quinze anos. Eu a conheci em 1997 quando fui
coordenador da EE Prof. Marrey Júnior, como esta escola pertence ao mesmo setor da escola
“Fantini”, fizemos alguns trabalhos de Planejamento e Recuperação de alunos juntos.
Em virtude do tempo que estava no “Fantini”, a coordenadora do Ensino Médio
conhecia os alunos nas palmas de suas mãos, sabia dos pais, da moradia, dos problemas,
quase tudo do que é possível conhecer de alguém e, se por um lado isto é muito bom, por
outro é ruim porque dispensava os registros. Para se ter ideia, a coordenadora não possuía
uma escrivaninha para seu trabalho, ela o fazia, ora cá, ora lá. No período em que esteve como
coordenadora não consegui que me arrumasse uma lista de alunos com “Dependência” de
estudos; controle de frequência dos alunos do Ensino Médio, menos ainda. Não falo que o
150
serviço não saia, refiro-me à sua qualidade, planejamento, meta, controle, estas coisas não
faziam parte do rol de qualidades dela.
Quando em nossas reuniões perguntava:
- “Fulana”, cadê a lista dos alunos com “DP”
Ela dizia:
- Eu sei de todos eles, pode ficar tranquilo.
- Sim, mas eu não sei, e preciso saber.
- Tá certo, já te arrumo!
He, he, he! Estou aguardando até hoje.
A escola era o retrato fiel do “tarefismo”, caminhava ao toque do que era cobrada.
A coordenadora do Fundamental logo se adaptou ao meu modo de agir, bastaram
algumas reuniões e pedidos e as coisas foram se organizando; a do Médio aposentou sem
mudar uma vírgula de seu comportamento no trabalho, a não ser o fato de ter aceito uma mesa
para trabalhar. Uma pessoa linda por dentro, sofrida e amiga que aguardei pacientemente sua
aposentadoria merecida.
Da escola que idealizo para a escola que encontrei havia um bom caminho a ser
trilhado, eu sabia que a tarefa não seria fácil. Algumas mudanças administrativas eram
urgentes e necessárias e não podiam esperar a conversa. O pedagógico e a caminhada diária
necessitavam de muita conversa e acordos, eu precisava conhecer a escola para entender sua
dinâmica antes de propor qualquer mudança.
Creio ser necessário esclarecer um pouco meu modo de pensar e entender a escola
antes de dar continuidade à minha trajetória.
Entendo que uma escola pública existe para atender ao público em geral e, em
especial aquele localizado à sua volta e que precisa de seus serviços. Não cabe à escola
escolher seus “servidos” apenas deve servir. Isto é um imperativo em minha cabeça. Há
limites neste serviço? Em minha cabeça, não. Porém, tenho que ser realista e entender que há
momentos e pessoas que extrapolam o convívio e o bom senso. Preciso ter claro também que
não é decisão exclusivamente minha manter um aluno que causa problemas sérios contra a
comunidade escolar.
Meus ideais de justiça, igualdade, fraternidade, amor ao próximo e serviço, são meus
e cabe a mim segui-los, não posso impô-los a outros. O que também não quer dizer que devo
abrir mão sem tentar algo. A escola não é filantropia, mas nela se trabalha com o humano
(Freire, 2014).
151
Também entendo que o serviço a ser oferecido deve ser fruto do meu melhor. Ser
profissional da educação, como ser um profissional qualquer, é escolha minha que, se não me
agrada, busco outra. Sendo a educação fruto de minha escola devo desempenhá-la bem. Não
posso simplesmente negligenciá-la ou executá-la com desdém mediocremente.
Quando terminei o meu curso de Pedagogia e recebi de volta minha pasta de estágio
nela estava escrito: “Tudo o que vale a pena ser feito, vale a pena ser bem feito.” Máxima
que, se não consegui cumprir em todos os momentos de minha vida, levo a sério. Escolhi ser
professor e consegui ser diretor. Posso me julgar injustiçado no meu salário, desacreditado
socialmente e uma porção de outras coisas, mas escolhi e sou diretor, e outros não podem ser
prejudicados pelas injustiças que julgo sofrer.
É meu dever ético, moral, pessoal e social fazer bem feito aquilo que precisa ser
feito. É meu dever fazer da escola e de seu trabalho um local onde todos sejam
equitativamente olhados, valorizados e servidos.
Libâneo, Oliveira, Toschi (2012, p. 438) definem o trabalho do diretor como “a
atividade pela qual são mobilizados os meios e procedimentos para atingir os objetivos da
organização, envolvendo basicamente, os aspectos gerenciais e técnico-administrativos”.
E completam
Para dar conta desta complexidade que é a escola, o diretor, enquanto eixo central da
administração escolar e responsável pela sua gestão pode e deve propor a forma e o processo
pelos quais pretende direcionar as tarefas do cotidiano escolar.
Tenho ciência que esta tarefa não é fácil, que exige de mim escolhas e
posicionamento frente a situações e frente à vida. Creio que ficou claro pelo exposto até agora
que, a lei determina uma coisa, mas o dia a dia da escola é outra coisa bem diferente. A
Constituição/1988 e a LDB/1996 pregam a gestão democrática; o Estado também propõe
melhor, exige uma gestão democrática em belíssimos discursos quando nos propõe projetos
educacionais e ou quando participamos das orientações pedagógicas; a Diretoria nos cobra
esta gestão quando lhe apraz. No entanto, o “tarefismo” a que somos submetidos e as
cobranças que recebemos indicam o oposto.
152
Nas reuniões de diretores as informações e tarefas são passadas para nós como se
nossa única função e obrigação fossem apenas cumpri-las e como se não existissem
problemas nas escolas que nos dificultasse realizá-las. Além disso, o discurso nem sempre é
acolhedor e reconhecedor de nossa competência, falam como se não soubéssemos de nada e
como se nada fizéssemos. Tudo é fruto deles, só eles sabem e por isto nos ensinam
banalizando nossa inteligência e capacidade. O discurso é imperativo e impositor, mas o que é
mais trágico, a maioria dos meus pares não abrem a boca e como cordeiros, somente
obedecem. Poucos questionam, e quando o fazem são logo convencidos ou vencidos, e
obedecem.
Em pesquisa que participei, inicialmente como Diretor de Escola e depois também
como aluno de pós-graduação, junto com pesquisadores da Unesp de Presidente Prudente, no
período de 2012 a 2015 e que terei oportunidade de me alongar mais sobre ela mais a frente,
levantamos o perfil dos diretores de escola da Diretoria de Ensino da Região de Presidente
Prudente e tivemos: “Quanto à situação funcional, 69% exercem o cargo de diretor e 31%, a
função de vice-diretor. Do total, 54% são efetivos e os demais, substitutos ou designados.”
(LEITE, 2015, p. 13)
Talvez estes dados me ajudem entender esta passividade ou “medo” dos diretores.
Apenas 69% dos entrevistados eram diretores de escola, os demais eram vice-diretores; dos
diretores, apenas 54% são efetivos, isto é, concursados. Isto nos indica que aproximadamente
46% das escolas são administradas por diretores designados ou por vice-diretores, dados
suficientes para mostrar a fragilidade do grupo na hora de se levantar e tomar uma decisão. O
medo de perderem suas designações e terem que voltar para suas escolas de origem ou suas
salas de aula, ou ainda, a “gratidão” por ter-lhe sido confiado o “status” de diretor, faz de
muitos serviçais e subservientes.
Porém, este não é um “privilégio” apenas nosso. Lima, ao falar da centralidade da
administração escolar e da reprodução das regras, assim caracteriza a sociedade portuguesa:
Isto me faz entender por que diretores se calam diante de falas como: “Vocês não
podem escolher alunos, se a criança chega até você e é de seu bairro, vocês têm que arrumar
vaga”. Aliás, fala perfeita e desnecessária em se tratando de escolas públicas e democráticas e
se todos cumpríssemos, mas sabemos que isto não vale para todos. Uma ou duas escolas da
cidade de Presidente Prudente se reservam no direito e no luxo de escolher seus alunos pelos
resultados apresentados no boletim escolar ou pelo sobrenome familiar, o que é ainda pior,
sem que ninguém reclame ou tome providências contrárias.
Das muitas vezes que levantei a voz para falar, falo só e ninguém toma posição
comigo. Talvez se esqueçam de que são diretores de escola pública e que esta precisa ser
democrática não só por força da lei, mas principalmente para minimizar a injustiça social e a
discriminação dos menos favorecidos socialmente. Esquecem que seu cargo é de concurso e
não de favor, que estão garantidos pela lei e, por isto não precisam temer em dizer “não”
quando é preciso. Mas apenas obedecem.
Entendo, como já discutido na Introdução deste trabalho, que sou servidor público
“represento o Estado” (Paro, 2011a), mas não preciso me curvar a todos os mandos e
desmandos de meus superiores (Libâneo; Oliviera; Toschi, 2012), há o espaço da escola que
eu, como diretor, preciso acha e respeitar, porque este espaço não é meu, nem do Estado, mas
dos alunos que se servem dele e de seus pais que confiam nele.
A gestão democrática requer a participação de todos nos afazeres da escola; requer
também a distribuição tarefas e obrigações e a união no fazer, mesmo diante da diversidade de
ideias; requer igualmente que se defina linha de conduta e que se trabalhe em sua direção.
Porém, esta gestão não se faz só de leis, mas se constrói no dia a dia da escola e com um
passo de cada vez. É abrindo mãos de convicções aqui, acatando outras ali; cedendo espaço cá
e solicitando compromisso acolá, é no diálogo franco e aberto que se faz a democratização da
gestão escolar.
Em minha caminhada como Diretor de Escola procurei adotar a gestão democrática e
participativa como meta, respeitando os olhares, as percepções e as opiniões dos que
caminham na escola; procuro discutir as opiniões para juntos encontrarmos o melhor caminho
a ser trilhado. Penso também que não há um único caminho certo a ser percorrido, mas sim
uma filosofia de caminhada que precisa ser clara para todos e, mais que isto, aceita por todos.
O papel do diretor é administrar bem a escola que tem sob sua responsabilidade, mas
tendo em mente que a administração é meio e não fim em si mesmo, assim a administração é
154
para a escola e não o contrário. O administrar tem que ter como meta os objetivos
pedagógicos da escola, porque aqui está a razão de ser de uma escola.
O pedagógico, por sua vez não é algo isolado e da cabeça do diretor, mas é fruto de
estudos, de caminhos discutidos e construídos com as muitas contribuições de todos os atores
e autores que fazem a escola ser o que é: professores, pais, alunos, funcionários,
coordenadores, vice e diretor. O pedagógico é, portanto uma construção diária, mas prevista e
esboçada no Projeto Político Pedagógico da Escola, porque deve ser pensada dentro de uma
filosofia de trabalho.
Em linhas gerais esta é a escola que procuro praticar, não a que encontrei.
O “Fantini” era uma escola em que a aparência contava muito. Percebi isso logo
quando cheguei nela pela primeira vez e encontrei o rol de entrada limpíssimo, enfeitado com
plantas, mas separado drasticamente dos alunos por uma grade. Entendo a necessidade da
grade que se mantem até hoje, o que me espanta é o aluno não ter o mesmo tratamento que
funcionários e professores. Por que a ala dos alunos não pode ter plantas?
- Eles destroem tudo.
Esta era a resposta que recebia. Com o tempo ajudei a remanejar alguns vasos para o
corredor dos alunos.
- Não vão durar uma semana. Profetizavam.
Mas estão lá até hoje.
A direção da escola Fantini esteve nas mãos de muitas pessoas e por muito tempo nas
mãos da Vice-diretora. Reclamavam muito da última diretora porque esta agia de rompante,
não dava direcionamento, preocupava-se com assuntos pessoais. Mas se esqueceram que ela
estava afastada na Diretoria de Ensino justamente por suas dificuldades pessoas de gerir uma
escola e que de lá foi trazida para a escola por uma comissão de professores e funcionários
que esteve na diretoria e a buscou com a finalidade de se livrarem da diretora substituta. Então
era preciso assumir os erros e não apontá-los em direção desta diretora, e foi isto que falei
quando cansei de ouvir as lamúrias.
Lamuriavam que no passado tinham isto e aquilo; que fizeram isto e aquilo outro;
que a escola era reconhecida e respeitada pela comunidade. De fato, quando trabalhei como
coordenador na escola Marrey Júnior e fiz parceria de Planejamento e Recuperação de janeiro
com a escola Fantini, sempre ouvi falar boas coisas e de seus projetos, festas e
comemorações. Onde isto se perdeu? Estas ações eram frutos de um Projeto Pedagógico ou
atendiam datas festivas e fatos pontuais? Havia intencionalidade pedagógica nestes fazeres?
155
Encontrei uma escola onde alunos tidos como “bonzinhos” transitavam livremente e
outros, já condenados a priori, recebiam suspensões e mal eram ouvidos.
Em relação aos professores havia na escola muitas “panelinhas” e “apadrinhados”.
Professores efetivos e mais velhos de casa tinham preferência na escolha do horário das aulas;
as muitas faltas de uns não eram cobradas enquanto a ideia de falta de outros era
excomungada. Alguns professores por ajudarem a escola em horário de aula recebiam uma
espécie de “bônus”. Isto gerava muita desconfiança e insatisfação, mas mais que isto, gerava
espírito de desunião.
A escola não construíra uma linha de postura pedagógica com os professores. A
coordenadora do Ensino Fundamental caminhava com seus professores ao seu modo,
dialogando, colaborando na montagem de seus projetos, ajudando-os a conduzirem suas aulas.
Controlava e caminhava dos seus alunos quanto a aprendizagem e frequência. Enfim tinha
uma organização de trabalho que era sua, que adquirira com as experiências quando
coordenadora em outras escolas e por meio das orientações da Diretoria de Ensino.
Já a coordenadora do Ensino Médio, nada disso fazia. Quando lhe era solicitado algo
ia e fazia, mas não tinha um plano de trabalho, agia por intuição. Reafirmo, com isto não
quero dizer que o trabalho era mau feito e que havia deszelo, não, ela era uma pessoa
responsável e gostava da escola, apenas aprendeu a trabalhar assim, se acomodou em sua
função, nunca foi cobrada, então não se transformou como o tempo. Acreditava que o que
dera certo no passado, também daria no futuro.
As ATPCs30 eram de pouca qualidade. Muitos recados e soluções de “coisinhas”
miúdas, pouquíssima reflexão e estudo. Nelas também se cumpria as tarefas da Diretoria. As
reflexões feitas junto com o grupo sobre um texto ou outro eram muito rasas. No segundo
Planejamento que participei na escola, sentamos e programamos a pauta. Escolhemos um
texto para reflexão e depois analisaríamos os resultados do SARESP (Sistema de Avaliação
de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo) e IDESP (Índice de Desenvolvimento da
Educação do Estado de São Paulo) especificar o que é cada um deles. Antes do Planejamento,
sentamos, revimos a pauta, lemos o texto juntos, grifamos as partes que julgamos mais
interessantes e discutimos, estávamos prontos. Na hora do Planejamento foi uma negação.
30
A partir da Resolução SE nº 08, de 19/1/2012 em que o Estado de São Paulo reorganiza a carga
horária dos docentes da rede estadual de ensino, ampliando de três para quatro os tipos de jornadas
do professor efetivo, cada uma delas prevendo 2/3 de atividade com alunos e 1/3 de atividades
extraclasse e, para isto transformou a hora aula relógio em hora aula de 50 minutos, as HTPC (Hora
de Trabalho Pedagógico Coletivo), passaram a ser chamadas de ATPC (Aula de Trabalho
Pedagógico Coletivo).
156
Duas palavras proferidas pela coordenadora resumiram o texto e outras duas sobre a análise
dos resultados. Os professores ficaram de ouvintes. Não havia maldade nisto, o que existia era
dificuldade de caminhar, pois não se tinha clareza do que fazer nem para que fazer. O desafio
era maior do que eu havia imaginado.
Porém, há o lado humano que precisa ser visto e respeitado. Tanto a coordenadora,
como a Vice-diretora estavam muito próximas da aposentadoria. Dispensa-las de suas funções
depois de quase vinte anos que estavam fora da sala de aula e servindo a escola às suas
maneiras, seria justo naquela altura da vida? Melhor não seria continuar com elas por mais um
ou dois anos e então buscar novos ares? Elas não se opunham ao novo, apenas não se
enquadravam nele.
Quando cheguei à escola elas colocam seus postos de serviço à disposição, mas
prometi a mim mesmo que aguardaria o tempo de suas aposentadorias, para que depois de
mais de 35 anos de trabalho aposentassem com dignidade. E assim foi.
Aos que vieram até mim pedi um pouco mais de calma.
Minha caminhada como Diretor de Escola nunca foi passiva e nem mesmo pacífica.
Também não posso me vangloriar de ser uma pessoa organizadíssima e seguidora de regras e
protocolos, por que isto é mentira. Sei o que quero; acredito no que sonho; então caminho em
sua busca. Faltava-me traçar um caminho bem definido, com propósitos, metas, objetivos,
estratégias, ações e momento de parada para avaliar a caminhada. Em muitos momentos só o
falar e o sentar junto sem a definição de propósitos no papel não adiantava, as coisas
desandavam com facilidade. Bastava uma saída de férias. Ou a falta de atenção no início do
ano, ou ainda a troca de alguns elementos do grupo de trabalho e tudo vinha por água abaixo.
E as únicas coisas que posso afirmar até aqui são: minhas convicções eram acertadas
e é possível uma escola democrática que conte com a participação de todos; que para
concretizar isto é preciso buscar parcerias e traçar planos de trabalho conjunto; que haverá
muitas barreiras, mas fortalecidos no conjunto de pessoas somos mais resistentes em nossas
convicções e por elas teremos força de luta.
Muito bem, a escola Fantini era minha realidade agora e eu precisava trabalhar,
precisa afinar uma equipe para trabalhar comigo.
Fui à Diretoria de Ensino e me informei sobre os procedimentos para se reabrir a
Escola da Família. Além de abrir a escola aos finais de semana dando oportunidades
diferenciadas de lazer a comunidade, agora seu responsável precisaria ser um professor com
Pedagogia e habilitado em Administração Escolar. Este professor é contratado por 40 horas,
157
trabalha sábado e domingo, num total de 16 horas, mais quatro horas de planejamento na
Diretoria de Ensino e às 20 horas restantes trabalha como segundo vice-diretor da escola. Isto
deu à escola e a mim uma pessoa a mais para o trabalho diário.
Outra pessoa que se agregou à equipe, por solicitação minha, foi a Professora
Mediadora31. Projeto instituído em 2010 pelo Governo do Estado de São Paulo que visa
diminuir os conflitos dentro da escola e facilitar o trabalho diário.
Com estas duas pessoas conversei em particular antes de indicá-las para as funções.
Expliquei meu modo de trabalhar e pensar a escola e perguntei se estavam dispostas a
trabalhar comigo nesta linha. Aceitaram, então dei o meu sim. Estava formando minha equipe
de trabalho. É preciso entender que eu não estava buscando a pessoa ideal, mas pessoas que
estavam dispostas a trabalhar comigo tendo o aluno como foco central.
A escola tinha um caminhar que não me agradava e que a meu ver precisava ser
corrigido. Havia vícios encrustados e difíceis, que para eliminá-los passaria por ditador e por
persona non grata, mas eram coisas que não podiam continuar e eu precisava de pessoas de
fora, sem os vícios e que pudessem me ajudar neste momento. Coisas como: professor deixar
a sala para ajudar na digitação de algo para alguém da direção ou coordenação; professor que
faltaria uma semana para acompanhar um grupo da terceira idade nos jogos e, por sempre
ajudar a escola, nunca ficava com faltas, dava-se sempre o “jeitinho”. Para isto só há uma
palavra: não. Numa escola não dá para trabalhar com “jeitinho”, com “panelinha”, com
“protegidos”, os direitos são iguais e os deveres também. O privilégio causa sempre a
segregação e a discórdia do grupo.
Embora seja necessário um olhar respeitador e compreensivo para com o professor,
que por “n” razões sofre no exercício de suas funções, a escola é o espaço do aluno, facilitar a
vida do professor e deixar o aluno sem aulas por uma semana, não é algo que entra na minha
cabeça como sendo possível e moral.
Desta forma o meu primeiro ano na escola Arlindo Fantini foi cheio de “nãos”. Não a
professor que quer deixar a escola por uma semana e acompanhar seu grupo de terceira idade
e ficar sem faltas; não para a professora que queria ter horário privilegiado; não para vice e
professores que insistiam em fazer da escola ponto de comércio; não para professor
readaptado que fazia da escola seu escritório particular. Não para horário reduzido de
31
Função criada pela Resolução SE nº 19, de 12 de fevereiro de 2010 tendo em vista que “as escolas
devem promover modelos de convivência pacífica e democrática, assim como práticas efetivas de
resolução de conflitos, com respeito à diversidade e ao pluralismo de ideias” (SÃO PAULO,
Preambulo). Esta Resolução foi completada posteriormente pelas Resoluções SE 07, de 19/01/2012
e SE nº 54, de 22/08/2013.
158
Planejamento para ir mais cedo para casa; não para economizar dinheiro na compra de
material escolar para se gastar com vasos e flores; não para deixar alunos espalhados num
vasto pátio, com um único inspetor, sem controle e à disposição da rua; não para punições em
causa e sem direito a defesa. Não, não e não. Até que os “sins” tiveram sua vez.
A questão era: Para quem existe a escola? E entendo que cabe como resposta apenas:
Para o aluno. Melhor, para promover o aprendizado do aluno. No entanto ainda resta
perguntar: Quem são os alunos que procuram as escolas públicas? O que procuram quando
nelas chegam? E o que encontram?
Destas questões talvez a segunda seja a mais difícil de responder, embora
provavelmente a que poderá nos dar mais pistas para acharmos os melhores caminhos para
trilharmos em educação. Talvez ainda fosse a resposta que desse a nós gestores maiores
informações sobre como nosso trabalho deve acontecer na escola. Não sei!
Sanfelice na introdução do texto A Política Educacional do Estado de São Paulo:
apontamentos, nos diz:
[...] o Estado de São Paulo está sendo governado por um mesmo partido há quatro
mandatos.
[...]. Os últimos governantes do executivo paulista tiveram e, na medida do possível,
continuam tendo uma inspiração ideológica razoavelmente comum. Respeitadas as
diferenças dos estilos individuais de governo e as ambições pessoais geradoras de
atritos, todos eles perseguiram, e José Serra também persegue, políticas públicas
alimentadas pela visão neoliberal.
[...] os governantes paulistas oriundos do PSDB olham o mundo de um mesmo e
único pedestal que nada mais é senão o estado burguês capitalista. (SANFELICE,
2010, p. 147)
Por outro lado, temos as famílias que, em meio à luta diária sobreviveram às mazelas
da sociedade e caminham por patamares mais folgados. Trabalham o dia todo para dar um
pouco mais e melhor para seus filhos, muitos ainda estão presos nas armadilhas da sociedade
e sofrem em consequência destas (é o caso das drogas que não escolhe cor, sexo, raça,
condição econômica), mas que conseguem ver soluções por entre as veredas da vida. Outras,
no entanto, saem ilesas de tais mazelas e conseguem um bom convívio familiar e social.
Filhos de todos estes compõem o alunado da escola. Uns que mal sabem o que
querem; outros que querem algo que independe da escola e nada tem a ver com ela; outros
que querem o que a escola oferece e lutam por isto; outros que embora querendo o que a
escola deveria oferecer, aqui não encontram porque a escola não se preparou para cumprir seu
papel.
As dificuldades são múltiplas e diversas. Há algumas delas impostas pelo próprio
Estado, como o excesso de atividades burocráticas administrativas e as dicotomias das
políticas públicas; há ainda outras impostas por visões distorcidas de grupos diversos que
compõem a nossa sociedade. Conforme salienta Garcia e Correia (2009), o trabalho é
estruturado de maneira que a cooperação entre os profissionais é estritamente técnica, isto
vale inclusive para os profissionais que não atuam na sala de aula, os do quadro de apoio,
estes dificilmente têm acesso ao projeto pedagógico da escola e da intencionalidade dos
professores.
Mas há a contrapartida da escola que pode e tem meios de reverter a história e
reescrevê-la a partir de diferentes moldes de se organizar e se gestar e, é aqui que entra a
importante figura do Diretor de Escola como articulador da equipe gestora e de práticas
democráticas.
Libâneo, Oliveira, Toschi (2012) dividem a gestão escolar em duas modalidades ou
concepções, a técnico-científica e a sociocrítica. A primeira concepção ele a define com as
seguintes características: divisão acentuada de tarefas, com ênfase na técnica; poder
centralizado no diretor com hierarquia de autoridade; ênfase na administração regulada,
descuidando-se, por vezes do objeto foco da instituição; comunicação linear e sob regras e,
ênfase nas tarefas e não nas pessoas.
A segunda concepção Libâneo, Oliveira, Toschi (2012) subdivide em três: a
autogestionária, a interpretativa e a democrático-participativa. Estas três concepções
sociocríticas têm ênfase democrática, não se pautam no trabalho autoritário de um líder, nem
muito menos se prendem à burocracia administrativa. Assim, a autogestionária procura a
160
autonomia dos agentes, recusa as normas de controle e crê no poder advindo da instituição,
isto é, o poder adquirido pela prática, enfatizando muito mais as relações do que as tarefas. Já
a interpretativa privilegia mais a “ação organizadora” do que o ato de organizar,
compartilhando os valores e as práticas de cada um dos agentes da equipe. Ao entender a
organização como uma “realidade objetiva”, opõe-se à concepção científico-racional,
valorizando as construções sociais baseadas nas experiências.
A concepção democrático-participativa, ainda segundo Libâneo, Oliveira, Toschi
(2012), tem, por parte da equipe escolar, definição clara e explicita dos objetivos
sociopolíticos e pedagógicos da escola; busca a qualificação e o desenvolvimento das
competências dos seus profissionais; trata as questões com objetividade buscando sua origem
real; avalia e acompanha as ações de organização e as pedagógicas, reorientando os rumos;
nela, todos dirigem e são dirigidos, avaliam e são avaliados e sua ênfase não está sobre a
tarefa ou nas relações, mas em ambas, isto é, os meios são formas de se alcançar os fins
desejados.
À frente das concepções de gestão apontadas acima entendo que esta última, a
concepção democrático-participativa, seja a que atende mais amplamente aos propósitos
elencados neste trabalho. Aqui entendo que o diretor tem papel relevante na condução das
metas propostas e no alinhamento de suas conduções; que os professores, funcionários, alunos
e pais participam, idealizam juntos e decidem sobre os rumos a serem tomados para se
alcançar a escola que se quer.
Ainda nesta construção do conceito e ou concepção de gestão/administração Libâneo
nos ajuda quando diferencia organização de administração, gestão de direção explicando-nos:
Libâneo completa que muitos autores usam as duas expressões de forma indistintas,
outros atribuem mais peso a uma ou a outra e que o mesmo acontece com os termos gestão e
direção. De fato, o Diretor de Escola não só organiza como também administra o espaço
escolar e os recursos e pessoas que dele faz parte.
161
[...] Gestão é a atividade pela qual são mobilizados os meios e procedimentos para
se atingir os objetivos da organização, envolvendo, basicamente, os aspectos
gerenciais e técnico-administrativos. Neste sentido é sinônimo de administração.
A direção é um princípio e atributo da gestão, mediante a qual é canalizado o
trabalho conjunto das pessoas, orientando-as e integrando-as no rumo dos objetivos.
Basicamente a direção põe em ação o processo de tomada de decisões na
organização, e coordena os trabalhos, de modo que sejam executados da melhor
maneira possível. (LIBÂNEO, 2015, p.88, itálicos do autor)
suas relações interpessoais travadas no dia a dia e com a comunidade, pelo compromisso de
seus membros a começar da direção até seus alunos e pais, enfim no compromisso de todos
por uma escola de qualidade.
Neste mesmo sentido podemos reforçar esta ideia completando que:
Entendemos como o exposto pelos autores citados aqui, que a escola possui
especificidades que a sua administração precisa levar em conta. É inconcebível ver a
administração de uma escola como se vê a administração de uma empresa, aqui temos gente,
pessoas, seres humanos; temos finalidades que estão muito além do lucro e da mera
produtividade (mesmo porque produtividade na escola tem outro sentido). O que se espera de
uma escola é que propicie a educação, e uma educação de qualidade.
Retomo aqui a visão de Ribeiro, já trabalhada no capítulo 1 dessa dissertação.
“Administração é instrumento que o diretor pode usar pessoalmente ou encarregar outo de
fazê-lo sob sua responsabilidade.” (RIBEIRO, 1968, p. 22). Ainda, que o diretor não precisa
olhar o macro, mas sim ter a visão de todas as partes que compõe a escola para atuar com
eficácia no seu todo. Percebo com isto que a administração é parte “relativamente modesta”
(RIBEIRO, 1968, p. 22) da escola, mas não insignificante, pois entendo a administração como
sendo o ordenamento do ato, ou dos atos, que dão suporte para que o pedagógico aconteça e
aconteça com qualidade. Assim, a administração escolar não tem o fim em si mesmo, mas
visa o pedagógico, este sim, coração da escola.
Também entendo que a administração escolar não é exercida apenas pelo Diretor de
Escola, ele pode coordená-la, norteá-la, mas não precisa exercê-la sozinho, pelo contrário.
163
Assim, pensando a direção escolar e, nela, um pouco de sua administração e dos demais atos
que compõem a sua rotina.
Falar em “rotina” na ou da escola é algo, no mínimo complicado, pelo menos no
sentido usual do termo rotina. Cada dia na escola é impar. Querer planeja e sistematizar o dia
é algo quase que utópico32, pois a escola é um organismo vivo e dinâmico e que não obedece
a uma lógica regular. Assim quando falo em rotina me refiro aos serviços que se repetem
periodicamente, como por exemplo, a assinatura de Atestados para alunos ou o Conselho de
Classe. São rotinas que se repetem em tempos variados e de acordo com a necessidade que se
tem delas.
Por outro lado, é possível chamar de rotina os fazeres impares que vão se tecendo no
dia a dia da escola, isto é, o seu ser inconstante. Neste sentido posso afirmar que há na escola
vários ciclos rotineiros. Há também alguns hábitos que vamos criando no nosso dia a dia na
escola.
Assim chego na escola “Fantini” e ao passar pelo corredor vou cumprimentando o
pessoal na secretaria e Vice direção. Entro em minha sala, abro as janelas, ligo o computador
e o ventilador e enquanto renova o ar da sala onde trabalho, dou uma passada pelos corredores
das salas de aula, tomo um cafezinho e vou para a secretaria despachar. Salvo evidente se já
tiver alguém me esperando.
Engraçado que as atividades diárias da escola consomem o tempo da gente de forma
assustadora, mas na hora de se pensar sobre elas poucas coisas surgem, porque o grosso da
ação da direção e dos gestores está nas relações que vão se tecendo e se travando durante o
dia.
É o falar na secretaria e discutir duas ou três coisinhas; passar na copa e durante o
cafezinho planejar com a ASE como se dará a limpeza da escola durante os dias de Conselho
de Classe, ou descobrir que o pó de café acabou e que o açúcar está no fim; falar com um ou
outro AOE e entender que no dia estamos com falta de um ou outro professor e que nem
sempre há substitutos para todos; ver com a professora mediadora os agendamentos de
conversas e mesa redonda; trocar duas ou três palavras com um professor que cruza conosco
no corredor.
32
Quando me refiro à rotina escolar como algo utópico, não estou afirmando, de forma alguma, sobre
a falta de planejamento e sobre a não necessidade deste, na escola, muito pelo contrário. O
planejamento escolar é imprescindível para que as ações desenvolvidas na escola alcancem os fins
almejados, sabemos disso. Além disso, não é o meu intento discutir planejamento escolar aqui.
164
Um ou outro pai chega para conversar e precisa da atenção; um estagiário que vem
agendar suas vindas à escola e que precisa ser orientado. Enfim, há tantos afazeres informais e
que tomam o dia a dia da direção e dos gestores que, ao final do período de trabalho se está
cansado, mas com a sensação de não se ter feito tudo o que era preciso fazer.
Isto não quer dizer que não se tem uma organização, pelo contrário, apenas que a
escola é dinâmica e viva, muitas coisas vão acontecendo simultaneamente, algumas já seguem
um ordenamento porque fazem parte de seu dia a dia, outras precisam ser pensadas e vistas na
hora que acontecem.
Assim, para facilitar a nossa vida na escola sentamos no início do ano, organizamos
nossa agenda. Primeiro decidimos sobre as reuniões coletivas: ATPC, dias e horas que serão
oferecidas; dia e hora da reunião com a Coordenação para decidir as ATPC, os processos de
avaliação, Conselhos de classe, as atuações em sala de aula e o dia a dia; as reuniões com os
demais gestores para distribuirmos tarefas, pensarmos a semana, combinarmos a agenda e
socializarmos situações acontecidas e decisões tomadas.
Além das reuniões com os representantes de classe, com os funcionários e com a
comissão de pais. Desta forma vamos trocando ideias, vendo necessidades e ajustando arestas.
Não é possível pensar e nem quero deixar a ilusão que as coisas são assim tão
redondinhas, há muitos desencontros pelo caminho e acertos que precisam ser feitos. Em
alguns casos a reunião acontece só com uma pessoa e num breve encontro, pois a urgência de
outras atividades vai se fazendo.
Acontece que a chamada autonomia da escola é relativa, ainda mais em se tratando
de uma escola pública estadual. Já tivemos oportunidade de falar brevemente sobre isto. Nós
fazemos parte de uma rede e estamos inseridos em um grande Projeto Pedagógico que
envolve o Estado de São Paulo e que denominamos de Políticas Públicas. Este, por sua, vez
também está inserido num Projeto maior que envolve todos os Estados da União. Já deixamos
isto claro quando trouxemos para a reflexão Paro (2011b) falando que o diretor é o
representante legítimo do Estado no espaço escolar, e de Libâneo; Oliveira; Toschi (2012)
afirmando que ele tem sua autonomia de trabalho.
Uma unidade escolar é apenas uma célula de todo este organismo vivo que é a
educação e a todo o momento precisa atender solicitações de um ou outro órgão, com prazos e
metas a serem cumpridos. É o Censo Escolar que precisa estar digitado até tal dia, sem que se
pergunte se temos ou não funcionário para isto, sem que se pergunte se o sistema de digitação
esta funcionando ou se há equipamentos em condições de uso para tal. Estas coisas paralelas,
165
mas necessárias para que o trabalho apareça, ficam por conta dos gestores, mas mais
especificamente do diretor da escola.
Em 2011, portanto no início do primeiro mandato do Governador Alckmin, a
Secretaria da Educação lançou um projeto de estudo com o nome “Gestão da Escola: olhares
possíveis – Ações necessárias”. Diretores e supervisores foram chamados a São Paulo na
Escola de Formação de Professores “Paulo Renato Costa Sousa” – EEAP, divididos em
quatro turmas, com dois dias de trabalho para cada turma, já que somos em muitos. Lá
ficamos um dia todo tentando refletir sobre nossa prática, nosso dia a dia, pois este era o
objetivo.
Todo trabalho foi pautado sobre as cinco dimensões da gestão: a de resultados; a
participativa; a pedagógica; a de pessoas e a de serviços e recursos. Deste dia de estudo
surgiram duas propostas de trabalho. A primeira foi a de Formação de grupos de estudo por
polos de diretorias de ensino e monitorado, organizado e dirigido por membros da Secretaria
da Educação e sob a metodologia da Pesquisa-ação participativa. O grupo coordenador era
formado por um supervisor de ensino, um Diretor de Escola escolhido por nós e um professor
coordenador. Este grupo coordenador, representante da diretoria de ensino, participava das
reuniões de polos e depois tinham que repassar para o grupo de escolas de suas DEs chamadas
de “Prioritárias33”. Cada escola “prioritária” era representada por seu Diretor de Escola e por
um de seus professores coordenadores, participava também o supervisor de ensino
responsável pela escola.
O outro trabalho era bem mais penoso e difícil. As escolas “Prioritárias” precisaram
fazer o “Plano de Ação Participativa” (PAP). A primeira informação que tivemos, ainda em
São Paulo, era de que o PAP constituiria num levantamento, com a comunidade, dos
problemas mais emergentes da escola e a proposição soluções a curto, médio e longo prazo.
Cada um dos problemas se constituiria em um miniprojeto, com seu responsável, suas
estratégias, ações, finalidade e tempo de execução e a somatória destes miniprojetos formaria
o que se denominou de “Plano de Ação Participativa” – PAP.
Retornei para a escola, coloquei a proposta para a equipe gestora e administrativa,
convidamos os pais e alunos do Conselho de Escola e APM, constituímos cinco grupos de
estudo, cada qual pensando uma das dimensões da gestão e iniciamos nosso trabalho. Quando
nosso PAP já estava pronto a SEE liberou a plataforma para digitarmos, mas, para nossa
33
Prioritária foi o adjetivo atribuído às escolas que não atingiram os índices proposto pela SEE no
SARESP
166
34
Continuarei usando as aspas porque este termo me deixa irritado e indignado. A Secretaria da
Educação já nos qualificou de muitos modos. Deu-nos notas; nos deu cores e premiou. Agora nos
classifica com os adjetivos “Prioritária”, “Emergentes” e demais escolas.
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fui contrário ao curso. Falar que se melhorar a gestão também se melhora a escola é colocar a
culpa de escolas “prioritárias” nas costas do diretor e, olhar o grande problema da educação
com “tapas”. Também não estou dizendo que nós diretores não temos nosso quinhão de culpa,
mas ela não é só nossa e, cobrados pelos milhões de afazeres, muitos de nós, diretores, nos
deixamos levar no dia a dia sem a necessária reflexão do trabalho realizado. O curso não deu
em nada. Foram alguns encontros sem proveito que tinham por base impor uma administração
gerencial.
Nós, representantes da DE, desistimos das reuniões com os diretores das escolas
“prioritárias” na diretoria de ensino. Primeiro porque ela não gerava fruto algum, servia de
“muro de lamentações”, sem caminhar. Os diretores não se comprometiam com as leituras
nem mesmo com as observações nas suas escolas; muitas das vezes mandavam para a reunião,
justificando sua ausência por uma ou outra “necessidade” ocorrida na escola, sem dar o
devido valor ao trabalho.
O grupo polo permaneceu por mais um ano e meio. Com a mesma dinâmica de
trabalho e reflexão caminhamos bem, mas os ânimos foram se esfriando. A representante da
SEE começou a falhar nas reuniões em virtude de trabalhos outros na própria SEE, até que,
em uma das reuniões, disse que não poderia mais vir, mas nos informaria quem a substituiria.
Estamos aguardando. O grupo morreu da forma como nasceu. Nada foi concluído e as coisas
permaneceram da mesma forma como eram, o que é típico da SEE, dá início a ações como se
elas fossem a salvação de todos os males da educação e finda-as como se fossem peso morto,
sem avaliação, sem propósito, sem perspectivas. A única explicação que nos deram era que
não havia quem, da SEE, nos acompanhasse. Enfim, este acabou sendo mais um dos projetos
“milagrosos” da SEE que acabava em nada.
Foi neste momento, meados de 2013, que a Diretoria de Ensino de Presidente
Prudente foi procurada por um grupo de professores da Unesp de Presidente Prudente e
propuseram um diálogo de parceria e construção junto com os diretores, um trabalho com
vínculos próximos ao que a SEE vinha desenvolvendo com o Grupo de escolas prioritárias.
Mas, antes de prosseguirmos com este assunto, preciso me deter um pouco sobre
minha caminhada na escola, pois nela os “vícios” antigos ainda perduravam.
No início do ano de 201235, uma professora me procurou e perguntou:
- Senhor João, ao fazer o horário o senhor manterá a mesma regra que seguíamos?
35
Recordo que cheguei à escola Fantini em meados de 2011 e, portanto, 2012 seria o meu primeiro
ano que daria início aos trabalhos de fato, ano que o “tom” do trabalho já seria dado por mim no
Planejamento.
168
Não tinha noção do que a professora estava me perguntando, então respondi com
uma outra pergunta:
- Mas que regra é esta professora?
- Os professores mais velhos de casa têm prioridades no horário. Disse-me.
Franzi a testa e ela percebeu que achei aquilo muito estranho. Respondi:
- Professora, depois que vocês pegam aulas, são todos professores da casa,
independentes de serem efetivos ou não. Por isto o bom é que a senhora faça sua opção e, na
medida do possível, eu a seguirei. Mas farei isto para todos igualmente e lembrando sempre
que o horário de uma escola é para atender as necessidades da escola e não as nossas.
Não sei se concordou e se aceitou, mas acatou e hoje trabalhamos muito bem juntos.
Prefiro eu fazer o horário das aulas do que tirar um professor da sala de aula para
fazê-lo. Há no mercado programas de computador que ajudam muito neste serviço, por isto, é
melhor eu fazer o horário que tirar o professor da sala e deixar o aluno sem aula, além de o
aluno perder, o professor ainda leva bronca dos amigos, por ter deixado de ajuda-lo nisto ou
naquilo.
Ainda em 2012, quando estávamos em uma das reuniões de ATPC, um professor
pediu a fala e disse:
- Você quando chegou aqui disse que era do diálogo e democrático, mas eu só vejo o
seu autoritarismo.
- De fato professor. Mas infelizmente ainda verá mais um pouco, pois enquanto as
coisas não estiverem em ordem, não agirei de outro modo.
Acontece que haviam muitos erros e acordos velados na administração da escola que
punham em risco, não só a credibilidade de quem a administrava, mas também poderiam da
margem a se pensar em improbidade administrativa. Entendo que eu, como Diretor de Escola,
posso até ter minhas falhas e meus ajustes quanto a interpretação da legislação visando o
melhor aprendizado do aluno, mas não posso ser conivente com erros, quer sejam
administrativos quer sejam pedagógicos. Em um grupo que se pretende democrático não pode
haver “panelinhas” e “privilegiados”. Não pode para uns ter a lei e para outros a amizade e o
“jeitinho brasileiro”. Não podemos confundir democracia com favoritismos. Ser democrático
é também tratar a todos com equidade e, se alguma situação me levar a “infidelidade
normativa” (LIMA, 1991) esta deve vir nos moldes proposto por Lima, isto é, para melhor
atender o pedagógico.
169
Por mais de uma ocasião fui procurado por um grupo de professores se pondo a
disposição para o trabalho e para o que eu precisasse. Diziam:
- Percebemos que você tem boas intenções, mas que as coisas não caminham.
Aqueles que o cercam não te acompanham.
Pedi calma, a equipe estava se renovando e alguns estavam próximos da
aposentadoria, serviram a escola por mais de vinte anos e mereciam nosso respeito. De minha
parte faria o que estava ao alcance. Sempre entenderam e tiveram a paciência necessária para
a espera.
Outra coisa de estranho que acontecia era a saída da última aula do noturno. Quando
dava 22h30, 22h35, no máximo, os alunos já se punham nos corredores e abriam-se os
portões. Aquilo me incomodava muito. A última aula começa às 22h15, estava na metade
dela, portanto. Oficialmente esta aula deveria terminar às 23h. Mas a direção e a coordenação
falavam que era por causa dos horários dos ônibus, fui deixando, até que investiguei e
constatei que nada tinha a ver com o dito ônibus. Então fui avisando:
- Aproveitem este ano, porque em 2012, ninguém sairá mais cedo. O sinal soará às
23 horas.
Não foi fácil cumprir com a palavra. Os primeiros seis meses do ano seguinte foi
uma guerra entre de um lado eu e do outro lado professores e alunos. Venci. É claro que os
libero faltando cinco minutos para às 23 horas, tempo suficiente para chegarem aos pontos de
ônibus.
Em 2013, depois que os professores e alunos já haviam se acostumado a cumprir o
horário de início e final de períodos, estava eu lá aguardando a saída do período noturno no
rol da escola, conversando com um dos inspetores do período e vejo uma sala saindo e vindo
em direção à porta de saída da escola, e a professora os acompanhava, olhei o relógio, eram
22h40. Ela era nova na escola, por isto a chamei de lado e disse que o horário de saída era às
23 horas e que ela poderia, tranquilamente, aguardar em sala de aula que o sinal soaria. Ela
respondeu-me:
- Acabei o conteúdo e os liberei.
- Professora, em português não se acaba conteúdo assim tão facilmente.
- No noturno eles trabalham e a esta hora já estão cansados. Retrucou-me.
- Exatamente professora, por trabalharem o dia todo e estudarem a noite é que
precisamos ter mais respeito por eles e cumprirmos nosso horário.
Não contente, respondeu-me:
170
36
Antes da reforma proposta pela Senhor Rose Neubauer em 1997, os Conselhos de Classe eram
realizados somente com a presença do diretor, do coordenador e dos professores da classe
analisada. Após a reforma, passamos a realizar o Conselho de Classe também com a presença dos
alunos e nós, desde a escola Francisco Pessoa, criamos o hábito de convidarmos os pais para
também participarem conosco. Chamamos de Participativo porque todos são chamados a opinar e
discutir o processo de aprendizagem da classe. Para garantir um diálogo produtivo, deixamos claro
que trataremos de assuntos pertinentes à aprendizagem do aluno e que outros assuntos podem ser
tratados de forma mais reservada, salvo quando estes interferirem no pedagógico, mas, mesmo
assim, deve ser feito com respeito de qualquer que seja a parte.
171
referindo a forma como o realizamos, já que a ideia de Conselhos Participativos não é nova.
Para os pais que conseguem participar do Conselho o ganho também é maior, ele não vê seu
filho isoladamente, mas o grupo que o filho participa e o andamento da sala como um todo.
Na escola Fantini percebi que mesmo o exercício para a democracia exige de nós
muitos “não”. Priorizar uma pessoa ou um grupo, diferenciando-o do coletivo é um exercício
pernicioso e que só conduz às rivalidades e insatisfações. Entendo que, quando os “não” nos
conduzem ao exercício da igualdade e da equidade, eles não são sinônimos de autoritarismo e,
neste sentido, são rapidamente entendidos pelo grupo. Claro que nesta caminhada sempre
encontramos os que acreditam do “jeitinho” para benefício próprio e se julgarão injustiçados.
Com estes não há muito o que fazer, a não ser esperar que aprendam com o convívio social.
Terminada as considerações primeiras sobre a escola Fantini, retomo à parceria
Diretoria de Ensino e Unesp de Presidente Prudente.
Neste tempo, aproximadamente meados de 2013, a diretoria de ensino foi procurada
por um grupo de professores da Unesp de Presidente Prudente que se prontificou a fazer o
trabalho junto com os diretores, mas com a condição de que, apresentaria o Projeto a todos,
colheria alguns dados gerais e cada escola, diretor, decidiria se participaria ou não e, claro, o
participante deveria ser o diretor sempre. A metodologia também seria de pesquisa-ação
colaborativa.
O grupo foi montado com a junção de três outros grupos: os pesquisadores da Unesp;
os representantes do grupo de pesquisa-ação da diretoria de ensino e os diretores de escola da
Diretoria de Ensino de Presidente Prudente.
O trabalho proposto pelo grupo da Unesp, discutido e aceito por todos, teve como
objetivo geral “aprimorar a formação dos diretores escolares da Diretoria de Ensino de
Presidente Prudente, na busca de uma nova qualidade para a escola pública.” (LEITE, 2015,
p. 8). Mas para que isto fosse possível seria necessário conhecer quem eram os diretores;
entender a origem e as transformações de suas representações; compreender suas dificuldades
e desafios, para finalmente construir com o grupo uma proposta de ação.
Começamos bem, o grupo pareceu empolgado, mas quando partimos para o trabalho
no chão da escola, quando precisamos nos questionar e colocar “dedos” em alguns
machucados, o grupo foi se rarefazendo até concluirmos, após dois anos de trabalho e 18
encontros no total, com apenas um quarto dos diretores, os mais comprometidos com
mudanças e desejosos de que o trabalho se desenvolvesse agora na escola.
172
Mas os dados colhidos e registrados deste trabalho que rendeu um denso relatório
nos ajudam a entender alguns posicionamentos dos diretores. Primeiro, dos diretores da
diretoria de ensino de Presidente Prudente, apenas “54% são efetivos e os demais, substitutos
ou designados” (LEITE, 2015, p.13), o que nos ajuda a entender a passividade que assumem
em uma reunião de diretores, embora não justifica, porque o medo de perder benefício não
pode nos fazer calar.
Passividade já apontada por mim quando em reuniões somos submetidos a tarefas
alheias a nosso trabalho e somos obrados como se fossemos irresponsáveis. Passividade
diante de mandos e desmandos por parte da Diretoria de Ensino e de outros órgãos que
trabalham em prol da criança e do adolescente, mas que não percebem os problemas da escola
e nos impõe ordens sem nos ouvir. Passividade de diretores que parecem muito mais
tarefeiros, ou organizadores de tarefas em suas escolas, fazem de tudo para que só apareçam
as flores e que extirpam os espinhos a todo custo.
Indignado por não ver reação daqueles que deveriam ser os formadores de cidadãos.
Indignado porque a figura do “Principal Teacher” parece ter morrido. Indignado porque
professores assumem a direção de escolas não para promover melhor educação, mas muito
mais pelo status e pelo pseudo poder que ela representa, mais indignado ainda, porque querem
fugir das salas de aula.
Não gostaria de deixar aqui a impressão de que desvalorizo as ações dos
profissionais que estão na direção, pelo contrário, eu possuo um cargo e não uma função. E
meu cargo me dá ônus e não bônus.
Fico indignado igualmente quando os diretores reclamam de seus salários, mas não
saem às ruas para reivindicar melhorias salarias e de serviço, pelo contrário, cumprem
determinação da Diretoria de Ensino, colocam faltas para os grevistas e substitutos em sala de
aula. Isto para mim é o ponto final da imoralidade e do descompromisso com o educar.
Quanto à concepção de gestão de meus colegas diretores a pesquisa chegou aos
seguintes dados: quanto ao termo “coletivo” usado por 77,1% dos diretores, somente 18,5%
destes usa o termo “sintonizado com o princípio da gestão democrática, envolvendo a equipe
gestora da escola, professores, funcionários, alunos e pais” (LEITE, 2015, p. 18) o que vale
dizer que nós diretores, embora brademos a bandeira da gestão democrática, não sabemos o
que isto quer dizer. Mas cantamos de arrogados nas ATPC e nos corredores das escolas que
dirigimos, sem termos clareza de nosso ofício.
173
Apenas para registro e exemplo do que consiste o dia a dia de uma escola, mais
especificamente de um diretor, reproduzo aqui um exercício que fizemos em um dos
encontros com o grupo da Unesp de Presidente Prudente.
Para que nós, diretores de escola, entendêssemos e pensássemos em nossa prática
diária, já que as reclamações eram sempre que nos encontrávamos assoberbados de afazeres:
“muito trabalho”, “não dá tempo para nada”. Montamos uma planilha muito simples e nela
fomos registrando nosso dia a dia por uma semana. O resultado foi este:
37
Com o propósito de exemplifica, trago para este trabalho apenas um, dos meus dos cinco dias da
semana registrados no trabalho proposto para os diretores.
174
Ai está um dia de trabalho meu, e olha que nem foi o dia que mais tive ocupações,
pois estava voltando de licença prêmio. Havia me proposto a somente verificar como a escola
andou durante minha ausência e não consegui, porque os afazeres se fizeram urgentes e
necessários.
Na socialização deste quadro que é composto de cindo dias, percebemos que o
problema de nossas correrias era os múltiplos fazeres que se impõem em nosso cotidiano e
que precisávamos achar uma forma de nos organizar. Este foi o desafio que nos propusemos a
resolver após a reflexão.
Para ajudar na reflexão fomos olhar a Resolução SE nº 52, de 14 de agosto de 2013,
que dispõe os perfis dos profissionais da educação. Embora a resolução fosse conhecida pelos
diretores, foi só neste momento que o grupo deu conta do que se esperava dos diretores de
escola. Para o perfil do Diretor de Escola são elencadas cinco competências e 32 habilidades
para a Educação Básica e quatro dimensões da gestão com um total de mais 27 habilidades.
Assim, o Diretor de Escola precisa dar conta de 59 habilidades diferentes.
No documento aparece, por exemplo: a habilidade de: “Compreender a importância
da construção coletiva da proposta pedagógica da escola, com base na gestão participativa e
democrática.” (SÃO PAULO, 2013c) Como empreender tal habilidade se apenas 18,5% de
nós sabemos o que é trabalho coletivo? Eis o desafio!
Embora o grupo de diretores que permaneceu até o final do Projeto da Unesp tenha
sido pequeno, os ganhos que tivemos foram significativos porque acresceu em qualidade de
vida profissional, qualidade de ações, perspectivas de mudanças e valorização do profissional
diretor.
Na avaliação final do Projeto da Unesp apareceu a sugestão de que se mantivessem
as reuniões do grupo a cada 60 dias para discutirmos a ação da escola, do diretor e o plano de
ação que traçamos. Isto garantiria a continuidade do processo e daria ao diretor o apoio
necessário às suas ações.
Das sete questões avaliativas do curso dirigidas aos diretores ressalto:
Questão 1 – O que significaram esses 16 encontros realizados na sua vida como
pessoa/sujeito? E respostas como: “amadurecimento”, “aprendizado”, “reflexão
desmistificando a visão de que a Universidade tem receitas prontas para resolver os problemas
da Escola Pública e que a solução deles está dentro da própria escola” e ““algumas luzes no
fundo do túnel” na lida com a gestão escolar, apontando que, com poucas mudanças, há
possibilidades reais de que os objetivos sejam atingidos, de maneira organizada”. Respostas
175
que indicam que o trabalho valeu a pena. Que trouxe e agregou aos diretores valores e
conhecimento, mais, deu-nos o desejo de continuar acreditando e fazendo a diferença.
Quero acrescentar que este Projeto que nasceu da desconfiança, pois os diretores se
sentiam cansados dos cursos oferecidos pela SEE e ministrados pela Unesp, que pouco
contribuíam como o nosso dia a dia porque teorizavam sem chegar na escola. Ao contrário
este curso foi ganhando credibilidade, foi trazendo o chão da escola no cotidiano das
discussões e fez da escola o seu eixo central. Se no início havia as lamurias, estas cederam
espaço para reflexões, debates e construções. Deixamos de nos ver apenas como vítimas e nos
pusemos na posição de sujeitos, claro, em construção sempre.
Cresceu em mim o desejo de mudança, o desejo de querer fazer diferente e de
procurar fazer o melhor, não para mim, mas para os que buscam os serviços que oferecemos
em nossa escola. Por isto voltei aos bancos universitários apesar dos 55 anos de idade e da
estabilidade profissional alcançada.
Em 2014 tivemos uma supervisora muito gentil e competente. Aparentava e de fato
possui bom conhecimento pedagógico, fruto de sua função anterior, foi coordenadora
pedagógica. Mas não passou pela experiência como diretora de escola – a legislação não
coloca isto como obrigatório –, por isto em suas falas e orientações administrativas há certos
desencontros, há também certo entendimento legal de sua posição enquanto supervisora que,
nós diretores mais antigos, não nos acostumamos. Muito embora a Resolução SE nº 52 seja
clara
Em meados de 2014 recebi a reclamação de uma aluna alegando ter sido mal tratada
pela professora. Como era uma sala que continha um aluno com necessidades especiais e por
isto contava com uma professora acompanhante, perguntei se a outra professora tinha visto e
se fez algo.
- Viu sim, mas não fez nada. Disse-me a menina.
Chamei as professoras e perguntei se o fato ocorrera. Disseram que sim, mas com a
versão delas. Disse-lhes que precisávamos tomar cuidado, que não podemos tocar no aluno e
nem mesmo ofendê-lo com palavras ou gestos e assim por diante.
A professora de Libras virou e me disse:
- Não estou entendendo por que estou aqui.
- Professora, disse eu, a senhora esta na sala e acompanha os alunos, se vê algo que
vai contra o ECA tem que tomar uma atitude, falar e acalmar sua colega, aconselhá-la ou até
mesmo comunicar a coordenação ou a direção, se não o faz torna-se conivente.
- Não tenho nada com isto, estou na escola para outra coisa.
Tentei argumentar, mas não teve como fazê-la entender.
No dia seguinte estava a professora, com um oficio em mãos, me pedindo
explicações por escrito por tê-la constrangido.
- Bem professora, se é assim que deseja, cumprirei a lei e encaminharei o caso para a
Diretoria de Ensino.
Assim o fiz. E ganhei uma inimiga eterna, mas a aluna não se queixou mais. Faz
parte, o que não posso é fechar os olhos e querer agradar simplesmente. A escola não é um
agrupamento de pequenos grupos (alunos, professores, funcionários, pais), mas sim o
conjunto de todas estas pessoas com vistas ao bem comum. Com já nos apontou Freire
(2014), do aluno que se educa e nos educa; dos professores e funcionários que ao educar nos
educa; dos pais e comunidade que ao confiarem na escola e nela atuarem veem seus filhos
caminharem.
Bom, assim é a vida e, se queremos e acreditamos nas mudanças, se cremos em
valores e julgamos estes mais acertados que outros, precisamos nos posicionar, mesmo
contrariamente ao que outros pensam e mesmo sabendo que isto desagradará pessoas.
Mas avancemos em nossa reflexão.
Infelizmente, em nosso país, quando se fala em “crise”, necessidade de “contenção
de despesas”, ou coisa parecida, é a Educação a primeira a ser vitimada com os cortes. Assim,
quando pensávamos que a educação poderia caminhar com mais autonomia e que seria
177
Eu falo diminuir, embora acredite que esteja exagerando, porque por mais que
façamos os problemas parecem permanecer e aumentar. Mas chamamos, conversamos,
falamos com pais, orientamos, ficamos de marcação cerrada, não desistimos e sobrevivemos,
nem sempre da forma como gostaríamos e nem sempre com as vitórias que desejamos, mas
sobrevivemos. Uma coisa é certa, não fazemos o jogo que muitos dos diretores fazem: desistir
de nossos alunos e os encaminhar para outras escolas. Nossos alunos são nossos, por eles
brigamos, com eles brigamos, mas é para ele que estamos e trabalhamos na escola.
Há outro grupo de alunos que precisam de acompanhamento especializado. Sua falta
de atenção, seu desinteresse, às vezes até sua agressividade, é fruto da sua dificuldade de
aprendizado. Estes recebem de nossa escola um olhar também diferenciado. Os pais são
chamados e quando aceitam são encaminhados para acompanhamento com psicóloga e
fonoaudióloga. Não é um processo tão rápido quanto desejaríamos, mas tem funcionado.
Aos que apenas um pequeno e precioso empurrão já é o suficiente para fazê-lo andar
fazemos uso das aulas não dadas, montamos reforço com grupos não superior a cinco alunos e
trabalhamos com eles.
Como projeto da escola adotamos participar maciçamente das Olimpíadas de
Matemática, Língua Portuguesa e Física. Incentivamos e fazemos atividades de apoio para os
alunos que participarão do ENEM, com aulas extras em períodos opostos, fruto do
voluntariado de nossos professores; incentivamos e encorajamos nossos alunos a participarem
do SAREP de forma tranquila, dando a todos iguais direitos e sem exclusão de alunos.
As turmas de Atividades Curriculares Desportivas (ACD) começaram a entrar em
ritmo de trabalho com seriedade e qualidade, diferentemente do encontrado quando cheguei
na escola e, contrariando os pedidos para fechar, lutamos para melhorar a qualidade e já
percebemos melhorias. Incentivamos nossos alunos a participarem dos campeonatos e damos
o suporte que precisam.
Por vontade dos professores mantenho as semanas de avaliação. Embora haja alguns
que queixam porque os alunos ficam boa parte da semana sem aulas, os ganhos em qualidade
nas avaliações têm compensado. A cada semana as avaliações têm se apresentado mais
reflexivas, mais de acordo com as competências e habilidades propostas nos Parâmetros
Curriculares. Assim, mesmo que teoricamente eu seja contra, mantenho a semana de
avaliação a pedido dos professores.
179
Por solicitação dos próprios professores a regra das avaliações bimestrais é: primeiro
e terceiro bimestres, semana de avaliação; segundo e quarto bimestres, simulado. Outros
instrumentos de avaliação são utilizados pelos professores no transcorrer dos bimestres.
Durante o ano a coordenação se organiza, conversamos e elaboramos um plano para
que ela possa assistir algumas aulas dos professores. O plano é mostrado para o professor e no
dia agendado os PCs vão para as salas. Depois disto agendam um encontro, que pode ou não
ter minha presença, e conversam. Os professores não se sentem invadidos em sua privacidade,
primeiro porque tudo é planejado antes e tem o acordo dele, segundo porque percebem que
todo o processo e orientação tem por finalidade a melhoria de seu trabalho e a eficiência de
suas aulas. É a qualidade do ensino que está em jogo.
Por fim quero salientar duas ações que, embora já as tenha comentado anteriormente,
mas percebo que preciso dar-lhes o valor merecido. Por iniciativa da coordenação e com a
colaboração de um dos nossos professores, a escola mantém um blog e através deste divulga
suas atividades, notícias, agendamento, avaliações, planos de aula e projetos. Este é um canal
aberto para alunos, professores, pais e comunidade.
A segunda ação foi a elaboração e divulgação mensal do Calendário de Atividades da
Escola. De grande importância porque nele há tudo o que irá acontecer na escola durante o
mês: reunião, avaliação, gincana, palestras, visita odontológica, e todos os setores da escola
recebem uma cópia, os professores recebem suas cópias, mesmo os que não fazem ATPC na
escola, alunos recebem suas cópias. Com isto resolvemos o problema da comunicação. Agora
não podemos mais dizer “não me avisaram”, “eu não sabia”.
O caminho até o diálogo foi longo e, por vezes, áspero. Precisei dos “nãos” para
mostrar que no espaço coletivo todos precisam ter os mesmos direitos e cada um de nós têm
os seus deveres. As mudanças foram aparecendo e o diálogo se fez à medida que começaram
a perceber que a direção não era inimiga, mas parceira. Os alunos também entraram neste
processo de construção e foram percebendo que o “não” recebido individualmente, representa
um “sim” para o grupo. Hoje, embora não possamos falar que tudo esteja na mais perfeita
ordem, é possível afirmar que consolidando, no exercício de cada dia, o processo democrático
na gestão da escola. Mais, que tem nos apresentado resultados qualitativos na aprendizagem
do aluno, quer enquanto cidadãos, quer como apropriadores dos saberes acumulados
historicamente. E, ouso dizer que esta aprendizagem não é só do aluno, mas também nossa.
Em meados de 2015 a Secretaria propôs a reorganização das escolas. Igual novela já
vista com a então Secretária da Educação Rose Neubauer, com os mesmos capítulos. Mas
180
dessa vez parte da sociedade reagiu, e o que é melhor, esta parte é constituída de alunos das
escolas públicas que acamparam em suas escolas, não temeram ameaças, perderam prazo de
vestibulares, mas não arredaram o pé de SUAS escolas e com isto ganharam a batalha.
Os problemas ainda são muitos, mas a escola já tem outra cara. Não acredito que seja
o melhor Diretor de Escola, porque reconheço meus muitos limites e minhas muitas
fraquezas. Mas caminho confiante sempre e hoje tenho uma equipe muito afinada no trabalho,
na maturidade e na amizade.
Quanto ao funcionamento do Grêmio Estudantil só o ano de 2015 é que conseguimos
um grupo que valesse a pena. Calma, outros grupos também fizeram bem seu trabalho,
agudaram e atuaram muito bem na escola, mas infelizmente na exceção. Com esta nova
equipe de coordenação que temos no “Fantini”, em que uma delas sabe e entende de
participação e democracia – é professora de história e das boas – conseguimos com uma
chapa formada de 99% de alunos da 3ª série do Ensino Médio que disseram:
- Este é nosso último ano e vamos fazer a diferença!
De fato fizeram. Participativos, comprometidos, conscientes, abertos ao diálogo.
Qualidades não lhes faltavam. Revolucionaram a escola sem bagunçar, sem atrapalhar o
andamento das aulas, sem que professores se irritassem, em fim agiram de forma exemplar e
sempre em dialogo com a coordenadora e comigo.
Confesso que não me vejo como o “melhor diretor” e que tenho muitos problemas e
limites, um deles é ser chato e não gostar que cuidem e se intrometam no meu espaço.
Não consigo aceitar que a Diretoria de Ensino venha para o interior da escola com
seus Projetos de “Ajuda Instantâneas”, mude o caminhar da escola, dê ordens e exijam
resultados para aquele ponto. Não. Podem vir, vamos sentar, vamos discutir, venham ouvir e
conhecer nosso plano de trabalho; palpitem a vontade e vamos trocar ideias, mas quem fará e
o que será feito resolvemos nós que estamos na escola. O rol das atividades do Professor
Coordenador do Núcleo Pedagógico (PCNP) é claro.
Não vejo isto como um problema de autoritarismo ou de ciúmes ou crise de poder,
pelo contrário, delego responsabilidades a cada um dentro de seu campo de atuação, só que
não acredito em interferências externas e pontuais; em ações prontas, fechadas como se fosse
uma pílula a ser tomada e os males desfeitos.
Aceito e acato orientações sempre que a percebo útil e necessária. Vou atrás de quem
sabe para me ajudar quando preciso, não descarto mãos amigas e parceiras. Mas fale comigo
181
primeiro antes de querer se intrometer no trabalho que está sendo feito na escola pelo grupo
da escola.
Assim, em muitos momentos, quer de reuniões de diretores, quer na escola me vejo à
contra mão do que é determinado e imposto, quer pela Diretoria de Ensino, quer pela própria
legislação educacional. Lima (1991) diz que a escola é o local, “locus”, para ser mais exato,
da representação normativa, ou seja, é o lugar onde as leis são efetivamente cumpridas. Já
falamos sobre isto e reitero parte da citação já apresentada no momento em que discutimos
este assunto, mas me atenho a este pormenor.
Há então um espaço definido onde a lei é “feita”, isto é, pensada e elaborada, e outro
onde esta lei será aplicada e deve ser cumprida. Há que se perceber também que o discurso
legal é imperativo, não pede, determina, impõe. Ainda, a lei expressa a vontade do Estado.
Assim, na perspectiva daquele diretor criticado por Paro (2011a) como o “representante
legítimo do Estado”, só cabe ao diretor o cumprimento da lei e ponto final.
Mas ao diretor não cabe somente a passividade do cumprimento legal, afirmam
Líbânio; Oliveira; Toschi (2012) cabe-lhe também a autonomia de gerir o espaço escolar.
Segundo Lima “[...] a centralização promove efectivamente a passividade e a não
participação” (LIMA, 1991, p. 143). O diretor que passivamente aceita e faz cumprir a lei pela
lei, sem olhar a escola e seus alunos, faz da lei um fim em si mesmo e tira dos atores da escola
a possibilidade de agirem e participar.
Ninguém está falando que a lei não tem o seu papel, claro que tem, mas o papel dela
é facilitar o caminhar da instituição escolar e de seus agentes, para que cumpram sua função
da melhor forma possível, e garantam todos os direitos e deveres daqueles que fazem e usam
do espaço escolar. Assim, ela não é fim, mas um meio.
Além do mais sabemos perfeitamente que a lei tem suas falhas e seus entraves e
também isto Lima (1991) nos recorda e nos faz perceber as fragilidades que a lei está exposta.
Em suas falhas a lei deixa lacunas e estas precisam ser preenchidas pelas normas escolares,
desta forma, afirma Lima (1991) a escola deixa de ser mero “locus de reprodução” e passa a
ser também “locus de produção” de leis.
182
Ainda, “Mesmo que seja aceite como dominante, o normativismo não tem uma vida
fácil nas escolas – muitos factores intrínsecos e extrínsecos poderão contribuir para que se
verifiquem rupturas.” (LIMA, 1991, p. 146). O dia a dia da escola exige que se tomem
decisões que, embora não estejam previstos em lei, precisam de respostas.
Um exemplo muito simples disto está no fato de quando o aluno adquire “Dengue”.
Vai ao Posto de Saúde, é consultado e constata-se Dengue, mas não recebem Atestado
Médico, porque a maior parte dos Postos de Saúde de Presidente Prudente não emite
Atestado. O aluno com isto perde avaliações, pois ficou impossibilitado de vir para as aulas.
Tem direito de fazer as avaliações perdidas? Pela lei, não, porque este direito está reservado
para quem comprove, através de atestado, a impossibilidade de vir a escola. Mas acima da lei
está o bom senso, então se aplica a avaliação. O que interessa para a escola é o cumprimento
da lei que resultará no “zero” do aluno, ou verificar o quanto o aluno aprendeu e dar
continuidade no processo do ensino e aprendizagem?
Percebam que
À escola interessa o aluno, ele é o ator principal e nossas ações todas devem se voltar
para ele. Claro, que para isto acontecer todos os demais segmentos precisam estar agindo em
harmonia e sintonizados.
A infidelidade normativa também não pode ser vista como regra, do contrário nós
cairemos no mesmo erro apontado acima com relação à lei. Seremos infiéis por sermos, e
assim a infidelidade passaria a ser fim. A infidelidade existe e continuará existindo em
benefício do grupo que atua na escola e em especial do aluno.
Todo excesso é perigoso e complicado porque tende a nos conduzir para o erro.
Aristóteles já nos orientava e termos o bom senso e a caminharmos na “justa medida”. Este é
183
um exercício que precisamos aprender e praticar diariamente para não incorrermos em erros e
injustiça.
Temos que lembrar sempre: ao nosso lado e conosco caminham pessoas e algumas
delas ainda indefesas demais.
Escolas são espaços de pessoas e de suas insustentáveis levezas.
Começamos 2016 com mudanças sérias. Perdemos o monitor do Acessa Escola; o
modulo dos Professores Coordenadores foi alterado e agora a escola com até 30 classes só
tem direito a um professor coordenador, o que é impossível trabalhar com um mínimo de
qualidade; as máquinas de xerox instaladas na escola para atender o administrativo e o
pedagógico e que nos ajudava a dar prosseguimento em quase todos os projetos da escola,
estão sendo recolhidas porque o Estado não renovará os contratos; o módulo de ASE esta
defasado e incompleto. Temos notícia que não haverá novas contratações e nem mesmo
terceirização e, o mais lamentável, não se abre contrato novo para professores enquanto existir
contratos antigos. Na ausência dos professores titulares para o trabalho, a escola deve procurar
um professor que tenha contrato vigente. Custando o que custar. Lamentável.
A Resolução SE nº 52, de 14/08/2013, fixou os perfis dos profissionais da educação
para direcionar as avaliações de mérito e concursos. Na introdução ao perfil do Diretor de
Escola encontramos:
Acredito que uma última questão precisa ser anunciada: O que os professores, os
alunos, os funcionários e os pais pensam da escola após minha chegada? Minha direção,
gestão, mudou seus modos de ver a escola? O que provocou esta mudança? Que outros
olhares pairam sobre a escola? Desta forma, este capítulo poderia, mui justamente, ser
descrito como uma biografia, como nos lembrou Passeggi na Introdução deste trabalho, pois
retrata o olhar de outros atores sobre a direção da escola. Porém, como me debruço sobres
estes outros olhares apenas para verificar o caminhar de minha prática, mantenho a
autobiografia
Entendo que uma escola se faz como a soma do trabalho coletivo. O diretor,
responsável legal pela escola, tem a incumbência de agrupar os seus vários segmentos
formando uma única equipe que definirá a filosofia da escola e os caminhos necessários para
sua implantação. Trabalham com o diretor os vices diretores, os professores coordenadores, os
professores da escola, os funcionários, os pais e os alunos. Juntar todos estes grupos é coisa
bastante complicada, mas o Diretor de Escola pode trabalhar com a Comissão de Normas e
Convivência38.
O Artigo 18 do Regimento Escolar assim constitui a Comissão de Normas e
Convivência:
38
Por decisão do Conselho de Escola, e com a finalidade de dinamizar sua atuação, fica instituída na
escola a comissão de normas e convivência, com as seguintes atribuições:
I- analisar e julgar todo descumprimento do regimento escolar, salvo a que considerar falta grave,
caso em que será ouvido o conselho pleno para aplicação de sanções ou encaminhamento às
autoridades competentes;
II- analisar e decidir sobre os pedidos de justificativa de faltas de alunos para fins de compensação de
ausências;
III- analisar todos os procedimentos que atentem contra as normas de convivência da escola;
(Regimento Escolar, Art. 18)
186
Pelo tamanho desta comissão e pela clareza de suas atribuições, fica mais fácil
organizar e viabilizar as reuniões semanais ou quinzenais na escola e o trabalho é facilitado.
Com a ajuda da Comissão de Normas o peso das decisões dos ombros do diretor da escola
alivia, porque se tornam compartilhadas. Assim mesmo não estando definidas como suas
atribuições, outras deliberações podem fazer parte das discussões promovidas com este grupo,
como por exemplo, as avaliações semestrais do Estágio Probatório dos novos funcionários e
professores.
Confesso que gosto muito mais de trabalhar com a Comissão do que com todo o
Conselho de Escola. Entendo também que, pela dinâmica dos acontecimentos da escola, as
decisões relacionadas aos alunos sejam delegadas ao diretor de escola, mas acredito que a
Comissão precisa inteirar-se principalmente dos casos que se repetem com mais constância.
Embora exista a Comissão de Normas regimentalmente reconhecidas esta não
dispensa e nem diminui o papel e a importância de órgãos superiores, inclusive o próprio
Conselho de Escola que a institui e legitima.
O Conselho de Escola é um órgão colegiado, com função deliberativa, consultiva,
fiscalizadora, mobilizadora e pedagógica e é constituído para atuar com o Diretor de Escola
em decisões de amplo alcance e é assim constituído:
Escola é feita a partir da convocação e manifestação da Assembleia Geral dos segmentos que
compõe a escola e, por vontade própria, os pais, alunos e professores manifestam seus desejos
de participar do Conselho de Escola. Aceitos pela Assembleia são empossados pelo Diretor de
Escola em reunião específica.
O rol das atribuições do Conselho de Escola está no parágrafo 5º do artigo em foco,
que assim traz:
[...] o Conselho de Escola, tal como está constituído, é uma conquista que evidencia
a política adotada pelo Governo do Estado, viabilizando a efetiva participação da
comunidade na discussão, reflexão e solução dos problemas que lhes são inerentes,
188
legitimando a autonomia da Unidade Escolar. (SÃO PAULO, 1986, alínea “b”, item
1)
Fica evidente neste comunicado que o Conselho de Escola é uma conquista e está
para auxiliar e fortificar as ações da escola, de forma alguma ele tira a autonomia do diretor,
pelo contrário, fortifica suas ações e dá a escola autonomia administrativa e pedagógica
porque tem a anuência e o desejo de professores, pais e alunos.
Sua constituição, ainda diz o documento citado, é “paritária”, pois 50% dos seus
membros pertencem diretamente à escola e os outros 50% são pais e alunos. Neste sentido e
levando em conta a sociedade que temos e o fim da educação, o papel do Conselho de Escola
é parte integrante do processo de democratização da educação.
39
a. ter foco na realidade territorial onde a unidade escolar se insere e comprometer-se com a
transformação social, por meio do fomento à participação democrática de todos os segmentos que
compõem o Conselho de Escola; b. ter finalidade precípua em preparar cidadãos; c. propiciar que a
escola seja local de vivência da cidadania; d. integrar escola, família e comunidade na participação e
na ação em rede em favor da educação de crianças, adolescentes e jovens; e. ser espaço rico de
possibilidades no exercício da cidadania como referência no seu território; f. promover o
conhecimento e o saber, visando à formação de cidadãos críticos, transformadores, participativos e
democráticos. (SÃO PAULO, 2014, p. 15)
190
Lendo estes artigos imagino o quão bom seria a sua efetivação. Confesso que nunca
consegui um terço desta participação de pais. Acredito que ele foi possível um dia, mas já não
cabe na sociedade de hoje e para pais de escola pública. Nossos pais estão, em sua maioria,
entre os menos favorecidos socialmente, trabalham o dia todo em serviços, que na maior parte
40
Com a colaboração do professor de filosofia e dos alunos do Grêmio Estudantil, turma 2015-2016,
a escola montou um blog e o mantém ativo desde 2014, o que tem tornado nossas ações mais
visíveis para a comunidade.
191
das vezes requer a força física, não têm tempo de participar com tamanha efetividade nas
escolas. Estou falando de efetividade e não de capacidade ou competência.
Fico pensando: Como os pais podem colaborar para que a escola atinja seus objetivos
educacionais? E a resposta é clara e objetiva: participando da construção de seu Projeto
Político Pedagógico; participando dos Planejamentos anuais da escola; tendo participação
ativa nos projetos escolares; participando das reuniões de pais e conhecendo os professores de
seus filhos. Até aqui temos uma participação efetiva na escola.
Também podem participar em casa. Quando acompanham os deveres escolares dos
filhos; propiciam espaços mínimos, mas adequados para seus estudos e outras pequenas mais
significativas ações.
Mas nada disso é tão fácil assim se pensarmos na vida sofrida de nosso povo. Hoje
conseguimos uma participação mais tímida, embora de estrema valia. Por isto a constituição
anual da APM não é um exercício simples, precisa ser incentivada com muito afinco e, a
pergunta que mais ouvimos é:
- Mas tem muita reunião durante o ano?
O tempo, sempre o tempo.
Encontramos nos artigos 10 e 11, do referido Decreto, uma lista de direitos e deveres,
respectivamente, dos associados que vão desde o ato de votar e ser votado, até
responsabilidades que requerem participação efetiva, presente e constantes nos afazeres da
escola. Preciso ressaltar novamente que não sou contra esta participação, pelo contrário,
entendo que se assim conseguíssemos as escolas teriam outra cara e os diretores menos pesos
a carregar, mas nos moldes que nossa sociedade está posta, isto é complicado. Das 500 ou 600
famílias que compõe os pais de alunos da escola Fantini, meia dúzia se propõe a desdobrar
seu tempo e vir para a escola para colaborar.
Sei que a escola é pública. Sei também que sendo pública, ela é minha, sua, nossa;
que assim cabe a nós o seu cuidado e o seu zelo. Mas a noção do público não está muito bem
incorporada na cabeça do brasileiro, dele se cobra muito e a ele se devolve pouco e com baixa
qualidade. A luta contra esta lógica é árdua e nem sempre conquistada com a participação.
O decreto de 1978 coloca que a APM será administrada por quarto órgãos: a
Assembleia Geral, composta de todos os associados da APM; o Conselho Deliberativo,
composto de 11 membros e eleito entre os associados e na seguinte proporção:
[...] considerando:
* a importância da participação da sociedade civil no processo de recuperação e
melhoria da qualidade do ensino público paulista;
* a necessidade de descentralizar e desconcentrar ações de forma a propiciar a
autonomia de gestão em nível local, [...] (SÃO PAULO, 2005, preambulo)
No artigo 1º lemos com quem podemos buscar parcerias e com vistas à qualidade de
ensino; o 2º artigo anuncia o tipo de trabalho que os parceiros podem realizar para a escola.
Vejam isto não é diminuir as responsabilidades do Estado; minimizar suas ações e terceirizar
seu papel? E mesmo assim estas parcerias precisam dar conta de seus feitos para o Estado e a
ele responder. Ou seja, você pede favor e ainda exige o muito obrigado. Não estou querendo
dizer que as escolas devem caminhar ao bel prazer de seu diretor, não, somos órgão estatal e
temos diretrizes que precisamos seguir para garantir a equidade de nosso serviço à população.
Reflito apenas sobre o discurso camuflado do governo.
No entanto, há aqui uma abertura para a participação da comunidade que precisa ser
pensada com mais carinho e racionalidade por nós diretores de escola. Articulados com o
Conselho de Escola e com a APM, os diretores escolares podem ir muito além de
simplesmente locar espaços para a instalação de outdoor, podemos reorganizar espaços, como
a sala de leitura, ambientalizar as salas de aula, modernizar os espaços esportivos, dignificar o
refeitório dos alunos, tantas coisas são possíveis de se pensar e fazer, coisas que só agora me
dou conta.
Embora eu tenha salientado as dificuldades e os problemas que se tem para reunir
Conselho de Escola e APM, em nenhum momento retiro deles seus valores e suas funções no
processo de construção da autonomia da escola pública, como já vimos salientado por Silva
Júnior (2015).
Confesso, porém, que tenho meus limites e, um deles é a dificuldade que tenho de
lidar com o Conselho de Escola e com a APM. Reuni-los é sempre uma tortura sem fim. Não
se acha os pais, não dá certo o dia, outro quer dispensa porque tem aulas, então me adaptei a
trabalhar com grupos e comissões.
Por isto prefiro reunir-me sistematicamente com os alunos conselheiros de classe e
por turno, trocamos conversas ouço suas falas, pedidos, reclamações e sugestões. Reúno-me
com a Coordenação Pedagógica semanalmente e discutimos os trabalhos semanais e o que
temos a fazer; faço a mesma coisa com os vice-diretores, mediação e GOE e trocamos ideias.
Tenho um grupo de pais que nos reunimos esporadicamente para falarmos sobre a
escola. Do ano passado para este o assunto é o Projeto Político Pedagógico. São pais
194
participativos que é só ligar para um que os outros são avisados. Este trabalho parece dar mais
certo e se torna mais rápido.
Para garantir as reuniões e a participação de todos os segmentos para pensar,
organizar e gerir a escola temos, na escola Fantini, trabalhado com as Comissões. Assim
elegemos em cada um dos segmentos duas ou três pessoas que tenham a disponibilidade de se
reunir, verificamos o melhor dia e horário para que isto aconteça e neste dia trocamos ideias e
informações. Assim fazemos com os alunos representantes de classe que colhem com seus
colegas em sala seus desejos e suas dificuldades de aprendizagem e de convivência na escola,
nos reunimos por período e buscamos soluções conjuntas.
Também fazemos com professores e funcionários o mesmo processo. São eleitos
dois representantes de cada segmento e com estes nos reunimos. Trazem as aflições do grupo
e buscamos soluções conjuntas.
Quando a necessidade do assunto exige, reunimos todos os representantes dos
segmentos. Nestas reuniões normalmente contamos com a participação do Grêmio, da
professora Mediadora, das vices diretoras e da GOE.
Com isto resolvemos o problema do tempo e da dificuldade de se encontrar o dia
melhor todos. Quero salientar que estas comissões resolvem e deliberam sobre aquilo que é
corriqueiro na escola, que estudam (como agora o fazem em relação ao Projeto Político
Pedagógico da escola) e elaboram propostas para a escola, mas é o Conselho Escolar que de
fato delibera as decisões de mudança de rumo que envolve toda a escola.
Embora pareça mais trabalhoso reunir-se com todos os segmentos em separado, o
trabalho é bem calmo. Cada grupo tem sua autonomia de caminhada e as reuniões são para
tirar dúvidas e ou tomadas de decisões. Não podemos nos iludir achando que todos os
problemas se resolveram, há muitas dificuldades e entraves nesta caminhada ainda. Tempo,
disponibilidades das pessoas, necessidade de atendermos as solicitações da diretoria de
ensino, entre tantos outros, continuam a pesar em nosso trabalho diário e nas reuniões das
comissões.
Outro momento muito rico de trabalho são as chamadas “Mesa Redonda”.
Convocadas pela Professora Mediadora, por sua própria conta ou a pedido. Reúnem-se: aluno
com dificuldade de aprendizagem ou com problemas disciplinares, seus pais, a Mediadora, a
direção e um ou dois professores. De forma muito clara e aberta trocamos informações e
buscamos soluções para a aprendizagem do aluno e para o seu ajustamento às regras para
195
melhor ser atendido. Aqui família, mas muito mais especificamente o aluno, toma decisão e se
compromete.
Antes de finalizar esta parte gostaria de salientar dois outros agrupamentos que,
embora já os tenha citado anteriormente, entendo que aqui é o lugar adequado para salientar
seu papel relevante na escola.
O primeiro dele é o Grêmio Estudantil. Vejo o Grêmio sempre com bons olhos,
embora eu ouça de colegas diretores que o Grêmio seja isto ou aquilo; que controla quem fará
parte das chapas do Grêmio, ou coisa semelhante, eu não tenho esta preocupação. Para mim o
Grêmio é uma espécie de “sindicato de alunos” e necessário para a organização e crescimento
cívico e político dos alunos.
Claro que pela falta de experiência e mais pelas dificuldades em organizar o registro
das chapas, de fazer seus “comícios” eleitoreiros, porque precisam se organizar para passar
nas salas de aula e exporem seus projetos, a escola sempre ajuda, mesmo porque este é nosso
papel.
Na escola “Fantini” a coordenadora do Ensino Fundamental e que permanece
conosco ainda hoje, também tem este gosto com o Grêmio e o acompanha dando-lhes os
suportes necessários, mas a autonomia devida. Não interferimos na composição das chapas e
nem em seus projetos.
Os alunos têm conseguido estabelecer um ritual interessante na eleição de novas
chapas a cada ano e este ritual tem sido implementado a cada ano. Neste ano de 2016, por
exemplo, além da parte burocrática dos registros das chapas candidatas, de estabelecerem
critérios e tempos para a campanha eleitoral, regras para os cartazes e outras coisas mais,
sugerimos e as chapas aceitaram fazer um debate e uma apresentação especial para os
professores em ATPC.
O outro agrupamento é o formado pelos Representantes de Sala. Reunir-me com eles
tem sido frutífero. É momento de ouvir muito, porque os alunos têm muito a dizer e falar da
escola. Como usuários diretos do que a escola fornece e da forma como o fornece, os alunos
nos trazem este olhar para nós.
Quantas vezes fazemos coisas achando que é o melhor para todos, quando na
realidade é o melhor para nós. Outras vezes damos broncas nos alunos e quando percebemos
o erro é nosso. Assim, colocar um bebedouro com água gelada a mais e no corredor principal
das salas de aula facilitou a vida dos alunos que agora não precisam descer até o pátio; colocar
196
espelho no banheiro dos homens parou com as entradas furtivas dos meninos no banheiro das
meninas para olharem seus cabelos.
Coisas aparentemente pequenas e triviais fazem a diferença na administração da
escola e saber ouvir sem ter medo das críticas e sem ter medo de fazer. Críticas as teremos
sempre e nos fazem crescer, pessoas dizendo que não vale a pena também, então o melhor é
caminhar, acertar de um lado, errar do outro e corrigir para voltar a caminhar.
Bom, mas entre as consultas junto com os alunos, professores, funcionários e pais,
entre os fazeres necessários e solicitados, é preciso parar e verificar se os caminhos
percorridos estão nos conduzindo na direção acertada. Por isto é preciso avaliar.
Percebi nestes anos de direção que nenhum funcionário é mais querido pelos alunos
que os chamados inspetores – AOE –, se você quer saber de um aluno é só perguntar para o
AOE e ele te dirá tudo: se pai ou mãe esta doente, se terminou o namoro, se esta envolvido
com o que não deve, qualquer coisa. O AOE é o carrasco e o confidente.
Desta forma para ter esta múltipla visão da escola desenvolvi o hábito de realizar
algumas avaliações do trabalho e, na medida do possível esta avaliação é estendida a todos os
segmentos, porém, seus registros nem sempre foram guardados adequadamente e acabaram se
perdendo no tempo. No entanto a Avaliação realizada no Final de cada Ano, feita com toda a
equipe escolar e que procura envolver também pais e alunos, tem sido instrumento para
nortear nosso trabalho no ano seguinte.
A Avaliação Final, como a chamamos na escola, é realizada no último dia de
trabalho previsto no Calendário Escola. Neste dia fazemos um balanço do que foi realizado
durante o ano. Todos os professores são convocados para este trabalho, além deles são
chamados os alunos representantes de sala, o Grêmio Estudantil, os pais que fazem parte das
comissões, colegiados e associações em especial e os demais que puderem vir; todos os
funcionários.
A Avaliação Final inicia com as exposições dos feitos durante o ano, uma espécie de
balanço. A coordenação relata o que realizou, a professora mediadora faz um balanço de suas
atividades, a direção e o Grêmio Estudantil fazem o mesmo. Assim cada segmento tem a
oportunidade de expor seus feitos, em seguida fazemos uma pequena discussão.
Paramos para o café e logo após cada pessoa recebe seu questionário e responde a
Avaliação Final. Em 2013 e 2014 procedemos desta forma e tivemos o registro escrito das
avaliações, porém, em 2015 resolvemos informatizar o questionário para facilitar o trabalho,
mas não soubemos trabalhar corretamente com esta novidade. Organizamos os participantes
197
em grupos de 10 que foram para a sala do Acessa e responderam no site, mas a demora em
responder gerou a dispersão dos participantes. Com o correr da hora aceitamos que se
comprometessem a responder em casa, mas acabamos com pouco participantes para o registro
final da Avaliação.
Aqui trago os resultados parciais das avaliações de 2013, 2014 e 2015, na tentativa
de verificar se o trabalho desenvolvido por mim e pelos demais membros da equipe gestora
tem produzidos bons frutos. Focarei minha análise nos olhares tecido sobre a Direção porque
esta é o foco deste trabalho.
A avaliação de 2013 contou com a participação de 40 pessoas entre professores,
alunos, funcionários e gestores. Como não houve identificação na folha da avaliação, não sei
precisar o número de cada segmento e nem qual deles disse isto ou aquilo. A Avaliação Final
foi composta de duas questões abertas e de amplo aspecto e um espaço para que as pessoas
pudessem registrar suas sugestões tanto para a parte administrativa como a pedagógica e, em
especial para as ATPCs.
A primeira questão proposta para avaliar as ações do diretor perguntava: O que foi
bem desenvolvido em 2013? Como essa ação repercutiu em resultados melhores para a
escola? Na realidade tratava-se de uma questão genérica e que foi realizada igualmente para
todos os seguimentos avaliados.
Lendo as respostas destaco alguns pontos. Em primeiro lugar percebo que um
significativo número de avaliadores identificou o meu trabalho como sendo democrático 41, e o
fez de forma positiva. Vejam: “A Direção é democrática e respeita a “humanidade” de todos
os sujeitos envolvidos no processo educacional (especialmente o diretor João). Com isso, o
clima institucional fica agradável e os conflitos são mediados com sabedoria”, além de
identificar a gestão como democrática ainda ressalta que o trabalho é “humanizador” por
respeitar a todos, o que repercute em ponto positivo para o “clima da escola”. Entendo que
havia algo, no passado, que incomodava alguns funcionários ou professores e que com minha
chegada o “clima institucional fica agradável”, isto é, algo nas relações interpessoais
melhorou e a isto chamam de “democrático e humanizador”.
41
Pelas respostas apresentadas neste questionário de Avaliação Final induzimos que o conceito de
“democrático” empregado pelos professores está muito próximo da ideia de “modo humanitário de
tratar as coisas”, pessoa boa, pessoa justa, isto é, está muito mais ligado de um conceito ético do que
político-administrativo. Já assinalamos neste trabalho algumas definições clássicas deste conceito e
indicamos o que entendemos por “democrático”, por isto não é possível destas inferências, concluir
que a atual gestão da escola é democrática.
198
Outro ainda disse: “A maneira humana e democrática que a Direção utiliza com
todos os segmentos da escola”, deixa entender que não há separações e panelinhas. Assim,
sou levado a pensar que minhas suspeitas já expressas neste trabalho tinham fundo de verdade
ou pelo menos eram sentidas por outros e isto os incomodava.
O fato de eu ter encontrado coisas fora do lugar na escola e ter passado o primeiro
ano organizando-as e tendo que dizer muitos “nãos”, foi notado por alguns que se
manifestaram da seguinte forma: “Sempre os vi com pulso firme e postura adequada com os
alunos e conosco”, ainda: “Colocou a casa que não tinha dono, onde todos mandavam e
ninguém obedecia, em ordem. Percebo que tem muito o que fazer, e tem algumas coisas que
não me adaptei, mas estou disposta a mudar para melhorar o ambiente escolar”. Parece que a
sensação de alguns dos participantes da escola era de que esta se encontrava “largada”, sem
“rumo”, sem um norte e que com a minha chegada algumas coisas forma se ajustando.
Interessante que parece que a pessoa que deu esta resposta também foi tirada de sua
zona de conforto, mas que não vê isto como ruim, mas como um “colocar a casa em ordem”,
por isto se prontifica a também mudar.
Fica claro também que os avaliadores gostaram da organização da escola e do
envolvimento da direção nos trabalhos pedagógicos. Vejam “O João é um líder discreto e
sereno. Aparece quando deve aparecer e tem se mostrado um aliado dos professores, o que é
ótimo”, outros, “Organização para adquirir as metas. Este ano nossa escola fluiu melhor” e
ainda, “A organização geral da escola, no empenho com ações para melhoria da
aprendizagem”. Todos demonstram que a escola ficou mais organizada e por isto fluiu melhor
inclusive e principalmente no pedagógico. E, apesar dos “nãos”, me veem como “aliado dos
professores”.
Minha figura ainda ficou marcada pelo envolvimento que tive com os afazeres da
escola. Entendo que estar presente nos afazeres cotidianos da escola é meu dever como diretor
e como funcionário. Se os que me antecederam não tinham este hábito, nada posso dizer
sobre. Digo apenas que isto faz parte de minha rotina de trabalho, meu papel é estar na escola
e participar de seus projetos.
Vejam o que disse esta pessoa: “Outro aspecto muito bem desenvolvido pela direção
é o envolvimento com a escola e a importância dada às questões pedagógicas. Há incentivo
aos projetos; há compreensão sobre o processo de ensino”. De fato, quando me apresentam
um determinado projeto analiso, verifico se precisa de algo mais para se concretizar e aprovo.
Tenho algumas restrições é claro, coloco meu ponto de vista, mas procuro dar a liberdade de
199
escolha. Um exemplo disto foi o Projeto de Leitura realizado pelos professores do ensino
fundamental e a coordenadora deste seguimento. Eles queriam comprar 20 exemplares de
cada volume e três títulos diferentes, eu defendi que deveriam comprar 20 ou 30 títulos
diferentes e, circular a leitura dos livros entre os alunos, mas disseram que assim seria difícil
trabalhar, então respeitei, mesmo não concordando.
Ações nossas, no cumprimento de nosso dever também foram vistas positivamente e
contribuíram para dar credibilidade em nosso trabalho. “Alunos que foram mandados para
Direção, foram tomadas ações chamando os pais imediatamente (período da tarde); e com isso
o professor se sente valorizado”, algo corriqueiro como este foi visto como positivo, porque o
professor sentiu o eco de sua voz. Acontece, porém, que aqui precisamos de cautela e clareza
na situação. Há casos que os pais precisam ser avisados e até chamados na escola, para outros
casos basta uma conversa nossa e o retorno do aluno para a sala de aula e isto também precisa
ser entendido pelo professor.
Outro exemplo de nosso agir ficou retratado na fala: “Forma de administrar sempre
atencioso e humano. Destaca também que não houve privilégios e diferença no tratamento aos
professores”. Entendo como um bom elogio. Claro que nossas ações, independentes de serem
ou não democráticas, precisam estar pautadas na ética e na moral. Penso que a democracia
exige ainda mais tal atitude, se não houver igualdade de condições e tratamento equitativo a
democracia não se sustenta. Mas este agir é um exercício constante que busco fazer, e que
nem sempre consigo.
A presença do diretor na escola faz a diferença. Parece que sua presença traz
segurança e tranquiliza o grupo; mesmo que o diretor não seja o articulador direto de uma ou
de outra ação, e ele não precisa ser, mesmo assim é ele que é visto no seu desenrolar. Sua
figura legitima e aprova o que esta sendo realizado. Dá segurança em quem faz.
A questão seguinte foi: O que poderá ser mais bem desenvolvido em 2014? Quais
as ações? Como podem ser realizadas tais ações?
Esta questão é muito interessante porque as pessoas demonstram seus desejos e
angústias, o que pode nos levar a melhorar os serviços prestados pela escola.
Em uma das respostas lemos: “Penso que o diretor tem que estar mais na escola (Para
que tanta reunião e O.T. fora da U.E.?) “Exigir” dos órgãos superiores que aliviem esse fardo
do gestor”. O que a princípio parece uma crítica, na realidade pede maior presença do diretor
na escola, o que corrobora com a questão anterior quando solicita a presença do diretor para
apoiar, legitimar e dá segurança aos atores da escola. Professores e ou funcionários
200
reconhecem que a ausência do diretor não é por sua culpa ou por negligência em seu trabalho,
mas fruto de excessivas reuniões e afazeres inerentes ao seu cargo.
Em decorrência das muitas reuniões, muitas das reuniões com as equipes da escola
deixam de acontecer e a equipe sente falta dessas reuniões para troca de ideias e acerto da
caminhada: “O diretor precisa se reunir com os funcionários para ouvir sugestões e
reivindicações com mais frequência”; interessante que entende que estas reuniões fortificam o
grupo: “Reuniões periódicas para orientação e resolução de problemas, nos mostrar uma
imagem de equipe”. Muito provavelmente estes sejam AOE, a posição que eles ocupam na
escola é delicada conforme já apontei, pois estão entre alunos, professores e gestores. De
forma geral recebem as críticas de todos os lados, assim, se as coisas deram certas é porque
eles cumpriram sua obrigação, mas se as coisas deram erradas, é porque eles agiram mal.
Em meios às respostas dadas pelos professores e funcionários, uma me chamou a
atenção e me fez procurar saber as causas para tentar solucionar: “É preciso banir o grito e
instalar a cultura do respeito e da ação eficaz”. Que gritos são estes e o que ou quem os causa?
Descobri que havia duas situações em que os gritos apareciam: uma professora que ao chamar
a atenção da sala porque conversa muito durante suas explicações, grita, ou melhor, fala alto
com sua voz aguda, o que dá sensação ainda maior de gritos. A outra situação acontece com a
Vice-diretora da escola da família. Ao chamar a atenção de alunos por um fato ou outro, o faz
no corredor e falando alto.
Falei com as duas pessoas. A Vice se organizou bem e hoje isto só acontece
raramente, não havia em seu agir maldade, agia por hábito; a professora ainda continua com
seus altos e baixos, já que a mudança no timbre da voz é difícil de acontecer.
Um grupo de respostas parece estar vinculado aos funcionários da parte
administrativa. Assim dizem: “Ter sempre uma pessoa da direção na escola, revezando os
horários”; e “Ser mais rigoroso com os alunos indisciplinados”. Ter uma pessoa na entrada e
saída dos períodos é uma indicação muito positiva e necessária e isto foi fácil de resolver, só
bastou reorganizar os horários dos vices e o meu. Quanto à sugestão de ser mais rigoroso com
os alunos percebemos a posição mais tradicionalista que entende ser a punição a única
solução dos problemas, principalmente se se tratar de alunos.
Mais uma vez se evidencia o desejo dos funcionários de terem um pouco mais de
atenção, falas como: “Fazer a designação das funções”; “Preciso que algumas regras fiquem
mais claras, percebi que faço algumas coisas que os gestores não aprovam, gostaria que me
chamasse e falasse abertamente o que está dentro ou fora da proposta da escola”. Acontece
201
que passamos, nos últimos anos, por mudanças de funcionários em virtude do ingresso e de
remoção e os novos que ingressaram ao longo do ano se sentem perdidos no serviço, não
conhecem a escola, não conhecem o serviço e nem os procedimentos que devem tomar diante
das situações que vão surgindo e precisam aprender suas funções trabalhando. Isto é algo que
eu preciso dar melhor atenção.
Há também setores da escola que se encontram bem organizados a ponto dos
professores elogiarem e solicitarem que permaneça como estão – “Manter a mesma linha de
trabalhos; Que essa harmonia se estenda ao grupo, pois falar a mesma linguagem fortalecerá a
equipe, com certeza dará melhores resultados”.
Mas parece que há a necessidade de se melhorar a organização dos AOE. Isto fica
claro quando leio: “Deixar bem claras as metas esperadas sob cada setor/funcionário. Há
também a dúvida em relação a que funções cada setor é responsável. As vezes, quando temos
uma dúvida, ninguém sabe onde solucionar e um pedido de algo pode demorar meses a ser
resolvido (ex: alunos do reforço em horário oposto só foram passe liberado no final do ano).
Temos que informatizar as informações os conselhos nunca são mostradas o número de
ocorrências que o aluno tem e não é feita a tentativa de atualizar o cadastro dele na escola
(somente quando é lembrado)”.
Claro que é preciso atenção nesta fala. O AOE parece que se sentem desamparados e
sem orientação quanto a alguns procedimentos e não sabem solucionar alguns problemas, e,
embora já saibamos as causas (o ingresso e a remoção já apontados acima), precisamos
intervir e criar o hábito de acolher ao que chegam na escola com mais propriedade. Outra
coisa que aparece nesta fala é a liberação dos passes escolares para que os alunos possam
participar do reforço, perfeito, mas esta não é competência da escola e nem do diretor, cabe-
nos solicitar para as companhias de transporte coletivo urbano e o fazemos sempre que
necessário. A fala ainda diz sobre o fato de não mostrar as ocorrências dos alunos no
momento do conselho de classe, mas cabe lembrar que o conselho é o espaço do pedagógico,
nele tratamos do rendimento do aluno.
Aqui também é preciso esclarecer que logo em fevereiro, na reunião de Planejamento
sentamos, eu, GOE, AOE e vices diretoras para organizar os horários de trabalho do grupo e
suas posições – corredores ou secretaria –, pois, atendendo um pedido deles, mantenho na
secretaria um rodízio de AOE, assim todos passam pela secretaria da escola e conhecem a sua
rotina e todos passam pelos corredores e conhece sua rotina.
202
Embora isto pareça confuso no início, mas ajuda muito, saber o serviço do outro
ajuda a entendê-lo em suas dificuldades e a colaboração vem automaticamente. Ajuda
também no trabalho da secretaria que, principalmente em janeiro, quando a maioria do
pessoal está de férias, o rodízio de trabalho pode ser maior já que todos conhecem a rotina.
Por fim percebemos um grupo que, embora veja melhoria ainda entende que há mais
a ser feito e que tudo pode melhorar. Estes afirmam: “Confio nas intenções da equipe, mas
acho que temos muito a evoluir em vários aspectos: disciplina, evasão, rendimento escolar,
dentre outros”. Ótimo, para mim isto é sinal que estão vendo a escola com olhar de que se
preocupa com ela, que quer e busca seu melhor.
De fato temos muito a crescer e a melhorar em nossa escola e este questionário
demonstra que o trabalho que tem sido realizado caminha bem, com algumas críticas é certo,
mas bem. As críticas são bem vindas porque nos fazem refletir sobre nossa caminhada, nos
faz crescer e torna o processo mais democrático.
Ao final do ano de 2014 aplicamos o mesmo questionário usado em 2013 para
avaliar os trabalhos do ano e na época contamos com 48 participantes. Infelizmente também
aqui não nos importamos com a suas identificações nem mesmo que identificassem o
segmento que pertenciam. Temos então respostas gerais. A intenção era saber como caminhou
a escola e o que, aos olhos dos demais seguimentos, precisa ser melhorado.
Para a pergunta: O que foi bem desenvolvido em 2014? Como essa ação
repercutiu em resultados melhores para a escola?
Percebemos que em relação aos AOE com respeito às reclamações apontadas no ano
anterior, as coisas parecem ter melhorado e a visão que ficou das atividades do diretor foram
positivas e aprovadas pela grande maioria dos professores, funcionários e alunos presentes na
Avaliação Final-2014.
Falas como: “Atende as necessidades.”; “Muito bem, nada a reclamar, só dar os
parabéns.” Confirmam minha fala.
Entendo também que a escola foi tomando um novo modo de ser, foi modelando-se
num novo formato. Isto pode ser sinal apenas da mudança e da permanência, por tempo mais
prolongado, de um diretor na escola. Lembram que apontei em minha fala que a escola não
tinha uma direção efetiva fixa e que a vice-diretora se revezava nesta função há mais de vinte
anos. Um novo diretor, com ideias novas e tendo a estabilidade de ser efetivo, trouxe mais
segurança à escola que passou a acreditar em si mesma.
203
Preciso salientar também que os “sim” começaram a surgir de minha parte, a “casa já
estava em ordem”, ou pelo menos não havia mais os antigos vícios perniciosos. “As decisões
para melhoria da escola foram satisfatórias juntamente com as informações passadas aos
professores, deixando os bem informados.” É possível perceber nesta fala a aprovação das
ações da direção.
Curiosamente ações, que para mim dizem respeito à rotina e obrigação de um diretor,
foram bem sucedidas e vistas com bons olhos. “Reunião de pais no início do ano letivo”.
Reunir-se com os pais no início do ano, apresentar a escola e seu projeto é o mínimo que a
escola tem que fazer, é o exercício de meu compromisso com a comunidade e com os pais que
deixam seus filhos sob nossos cuidados. Por isto mesmo esta reunião precisa ser bem
planejada e organizada. Dividimos o grupo de três ou quatro dias, de acordo com o número de
alunos e sala que temos no ano. As reuniões normalmente iniciam na terça-feira, pois, assim
conseguimos repassar a sua organização na ATPC de segunda-feira. Neste primeiro dia de
reunião atendemos apenas os pais dos alunos dos 6º anos. Apresentamos a equipe escolar e os
professores. Falamos sobre a rotina da escola, entregamos-lhes o livreto com as Normas de
Convivência e a Professora Mediadora fala sobre ele; indicamos quem procurar quando
houver problemas ou dúvidas, nosso objetivo é esclarecer o máximo possível os pais e deixá-
los tranquilos, pois estão deixando seus filhos conosco pela primeira vez e “coração de mãe é
coração de mãe”, o de pai também.
A reunião segue o mesmo ritmo nos demais dias com os agrupamentos dos 7º e 8º
anos na quarta-feira; 9º na quinta e Ensino Médio na sexta-feira. Percebam que o 9º ano
também tem um dia só para eles, é final de ciclo, já fazem parte da progressão parcial e estão
finalizando uma parte importante da educação básica, por isto precisam de atenções especiais
e cuidados. É importante falar que chegamos a esta organização após ouvir as reclamações
dos pais e dos professores, que diziam que havia muita gente nas reuniões, e que eles não
tinham tempo de falar e atender todos. Percebemos agora que eles estão satisfeitos com a
organização.
Outro exemplo positivo das pequenas ações e cuidados, que também entendo ser da
obrigação do diretor foi o olhar dado a disciplina de Educação Física. Destinar um espaço
para o professor organizar seu material, ter suas coisas em ordem, adquirir jogos de camisa e
shorts para os times se apresentarem, preocupação que o diretor tem que ter em vista na hora
de planejar o ano e o gasto das verbas. “Cuidado e atenção para melhorias e reformas na
204
escola. Olhar respeitoso a disciplina Educação Física” foi o que colhemos como fala na
Avaliação Final.
Outras falas demonstram que houve mais sincronia e respeito com todos os
segmentos, assim, “Cumpriu o seu papel, educação com professores, funcionários e alunos”.
Outras falas caminham nesta mesma direção:
- “Direção presente, e em parceria com os professores”;
- “Manutenção do prédio, atendimento ao público, organização e relacionamento”;
- “Uma direção bem comprometida com a escola, alunos mais disciplinados”;
- “Muito boa, a escola está de cara nova”;
- “A escola melhorou muito em vários aspectos, até na disciplina”.
Houve mudanças na coordenação no ano anterior. A do ensino médio se aposentou e
do fundamental passou à vice direção da escola, dois outros coordenadores foram escolhidos.
A resolução que normatiza a escolha dos coordenadores diz que isto é atribuição do diretor,
que se reúne com o supervisor e decide pelo novo coordenador. Mas, se a gestão pretende ser
democrática, penso que cabe ao grupo escolher. Recebemos as propostas, lemos e chamamos
para as entrevistas, na realidade uma pequena conversa. Para esta conversa reuni: a vice-
diretora, o PC em exercício, a Mediadora, um professor e a supervisora da escola, juntos
conversamos e no final decidimos. Isto é bom porque gera o compromisso de todos para com
a pessoa escolhida.
Além dos novos coordenadores também se juntou a nós o PCAGP, e esta renovação
deu folego novo ao trabalho pedagógico da escola e isto começou a refletir positivamente no
grupo. Com a PCAGP e os novos coordenadores o trabalho passou a ter mais ordenamento e
objetividade. O grupo preparou um Projeto de trabalho com metas e ações definidas e fruto
das reflexões que tivemos como os segmentos e das sugestões colhidas na Avaliação Final de
2013. Reunimo-nos todas as segundas-feiras para pensar e refletir sobre o que vai acontecer
na semana; as ATPCs passaram a ter momentos de estudo e reflexão sobre temas escolhidos
pelos professores; voluntariamente alguns passaram a expor suas ações bem sucedidas em
sala de aula, tudo isto começou a refletir no grupo de forma positiva. Assim lemos:
- “Percebi que o diretor deu mais autonomia as coordenadas, e esse crédito repercutiu
ao bom trabalho desenvolvido por eles”;
- “Houve muita sincronia em relação a equipe, isso favoreceu o desempenho de
todos”.
205
desenvolvido em 2015? Quais as ações? Como podem ser realizadas tais ações? Tivemos
como respostas:
- “Zelar pela área externa (frente – jardim); maior rigor no trato com a indisciplina”;
- “Atendimento aos alunos melhorou, e a mesa redonda começou acontecer”.
Sinais de que os olhares já estão abrangendo outros espaços da escola. Quando se
tem um problema muito localizado nossos olhares tendem a concentrar-se nele, mas quando
este problema se resolve abrimos nossos olhares e outras coisas passam a fazer parte de nosso
campo de visão. Percebo que os professores, alunos e funcionários começam a ver outros
ambientes escolares, o “jardim”, por exemplo. Em falas pelos corredores alunos também
citam o pátio externo em volta da quadra de esporte.
A solicitação da presença de alguém da direção nos portões aparece aqui também,
sinal de que de fato precisa ser resolvido este problema, muito embora nos fazemos presentes
sempre que possível.
- “A presença de alguém da direção em ponto estratégico na entrada dos alunos”;
- “Mais presença da direção em horário especiais (entrada e intervalo), organização e
distribuição de tarefas e dar a escola uma aparência agradável, cobrar mais da zeladoria
quanto a limpeza”.
A figura da direção de fato impõe mais respeito e dá mais segurança às meninas
(AOE) do corredor, pois os momentos de entrada e saída somos visitados por pessoas
estranhas, alunos de outras escolas e pais de alunos. Não é raro pais ou alunos encontrarem
neste momento o espaço para resolverem suas “pendengas” de vizinhanças e outras. Por isto a
presença da direção pode ajudar e inibir tais fatos.
Fico contente porque, apesar dos erros, há também muitos acertos e coisas boas
sendo feita pela equipe. E isto aparece em falas como:
- “Continuar zelando pela integridade da escola”;
- “Continuar com a mesma filosofia, enérgico quando precisa e elogiar quando for o
caso em conjunto com toda a equipe escolar e pais”;
- “Continuar com a você, por ser uma pessoa humana que não desfaz de ninguém”;
- “Manter o respeito com todos os profissionais tornando a escola um ambiente
interativo e reflexivo”;
- “Continuar o projeto de melhorar a escola, elegendo prioridades e “enquadrando”
as posturas inadequadas de alguns colaboradores”.
207
O conselho implícito nesta fala: “Ter um plano de trabalho claro, objetivo e eficaz,
reunião semanais ou quinzenais de avaliação e planejamento, prever para não remediar,
trabalho mais coeso e integrado, acompanhar e atender mais os professores e funcionários” é
interessante. Embora, como já esclareci anteriormente, haja um plano e há as reuniões
semanais como os PCs e com a equipe gestora, isto não está sendo percebido por todos, o que
demonstra falhas em nosso agir, ou de comunicação na escola. Pode acontecer, de uma
semana ou outra a reunião não acontecer em virtude de algum problema alheio a nós ou nas
semanas de Conselho de Classe, mas são coisas esporádicas.
Como tem acontecido ingresso de AOE, ainda há muita movimentação deles na rede,
escolhem onde tem vaga e depois buscam lugares mais próximos de casa. Assim, o falar, o
ajustar e o organizar os AOE deverá ser uma prática constante na escola ainda por um tempo
razoável. Por isto, falas como: “Melhorar com relação a gerência dos funcionários, ainda
percebemos problemas na organização dos corredores da escola”; são importantes porque não
nos deixa esquecer este detalhe precioso no dia a dia da escola.
Cabe salientar que a caminhada é conjunta. Eu, João e diretor, não faço nada sozinho
e nem consigo mudanças sozinho, mas nós equipe, num trabalho de parceria e acordos que se
estende por toda a escola quando as decisões são tomadas em conjunto é que fazemos.
Reaparece aqui a reclamação da professora de libras: “Acredito que faltou tato para
repreender a equipe, isto deve ser individual e não expositiva, e depois de solucionado o
problema levar até a equipe a situação sem muitos detalhes para evitar fofocas”; “Ter atitudes
com mais educação e ética profissional; o cargo não condiz com a boa educação”. Entendo
que fiz minha parte. Não posso ouvir falar que um professor agiu com agressividade com uma
criança e ficar passivo. Tomarei medidas sempre que o fato acontecer, independente de quem
seja. Se a professora se ofendeu, das duas uma coisa: ou nunca leu o Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA) e não conhece seu papel como adulta na situação; ou conhece o ECA,
mas prefere tomar partido dos professores, o que é um erro, pois não se trata aqui de dizer de
que lado você esta, mas sim de proteção ao menos favorecido.
No entanto, acredito que isto tenha marcado fortemente a pessoa e que preciso ficar
mais atento em minhas falas. O velho hábito que adoto na grande maioria das vezes em minha
vida precisa prevalecer aqui também, isto é, deixar a cabeça esfriar, pensar e depois agir. Mas
uma coisa é certa, não chamei a atenção em público e nem expus pessoa alguma, há
interpretação errada ou pelo menos unilateral aqui.
208
A Tabela 3, abaixo, apresenta mostra que mais de 55% dos participantes entenderam
que o apoio dado pelo diretor em sala de aula esteja na faixa entre bom e excelente, e isto é
muito significativo para o nosso trabalho e demonstra que estamos caminhando
acertadamente. Vejo, por outro lado, que apenas 17,25% classificou este apoio como ruim,
péssimo ou indiferente, embora eu entenda que preciso ficar atento a esta porcentagem para
entender como meu agir está sendo percebido pelas pessoas e quais necessidades deles deixei
210
de atender. Em reunião de Planejamento e ATPC é preciso deixar mais claro que sentido tem
este “apoio” para os professores, o que de fato desejam. Insatisfeitos e sem apoio adequado os
professores tendem a produzir menos e ou sem a qualidade de ensino desejada para o sucesso
do aluno em sua aprendizagem.
A Tabela 4 a seguir confirma que uma parte significativa da equipe está satisfeita
com a organização da escola; 65,52% classificaram a organização como excelente ou boa,
denotando, mais uma vez, que estou no caminho certo.
No que diz respeito à gestão democrática, 62,07% classifica como excelente e boa e
isto indica que o trabalho caminha bem e que as comissões estão fazendo seu papel. Ainda
encontramos 10,35% entre indiferente, ruim e péssimo, mas precisamos entender que há um
grupo de professores que possui uma ou duas salas e que só aparecem na escola para dar sua
aula e pouco ou nada participam do coletivo e, neste momento acabou fazendo a avaliação
porque estava na escola. Suas opiniões são importantes para percebemos o alcance de nossas
ações. Relembro aqui que a professora de Libras ainda faz parte do grupo e mantem sua
opinião sobe mim.
Para a questão: 14. Faça sugestões para melhoria do trabalho do Diretor para
2016. Tivemos as seguintes falas:
- Estar sempre presente no espaço escolar.
- Nenhuma sugestão.
- Vejo que a direção está aberta aos posicionamentos dos professores, mas acredito que
alguns combinados deveriam ser feitos na primeira reunião pedagógica com todos
(equipe diretiva, coordenadores, professores, agentes de organização) para todos
falarem a mesma língua. Como fizemos no caso dos alunos que chegavam atrasados.
- Por exemplo o uso de uniforme por parte dos alunos, ser cobrado de forma intensa
desde o início do ano e outras coisas que a escola queria implantar. Pois quanto todos
estão bem informados as coisas andam mais tranquilas.
212
Percebam que algumas reivindicações ainda persistem, acredito que nós não
tenhamos encontrado o caminho correto para sua solução ou falta perguntar ao grupo o que
querem e se este querer é de fato papel da direção. Falas como estar “presente em momentos
importantes”; “estar na entrada e saída”, são coisas que faço em meus horários de serviço e
que as Vice-diretoras fazem nos horários delas. Então por que ainda permanecem como
sugestões? Seria a segurança que esta figura pode apresentar? Seria a necessidade de ter
alguém que tenha mais “autoridade”? Ou seria a insegurança de ter que assumir determinada
posição, quando necessário? De qualquer forma não dá para evitar contratempos.
Acompanho o trabalho de todos os segmentos, porque me reúno com eles e nos
organizamos juntos; o uso do uniforme é cobrado e é pedido aos AOE que vistoriem na
entrada e em sala de aula, temos alguns uniformes que mantemos limpos e na vice direção
para empréstimos aos alunos, pois os alunos sem uniforme e sem material escolar não podem
ser retirados da sala e mandados para casa simplesmente, pois como fica seu direito à
educação e cabe também à escola a garantia deste direito e não o contrário.
É preciso ter em conta também que não podemos dispensar os alunos, principalmente
os do período da tarde, eles são pequenos e, se os pais estiverem trabalhando quem cuidará
deles em suas casas? Há também os pais que não permitem que seus filhos caminhem
sozinhos para casa e por isto vem trazê-los e buscá-los todos os dias. Muitos alunos quando
estão doentes permanecem na escola porque não encontramos seus pais em casa, por isto é
melhor que permaneçam conosco, assim cuidamos deles. O mesmo cuidado precisamos ter
com os que estão sem uniformes ou sem material escolar. Assim, à medida do possível
suprimos as necessidades e garantimos o aluno na sala de aula. Quando o fato se torna
repetitivo os pais são avisados para que organizem seus filhos.
Ressalto que toda transcrição aqui apresentada foi mantida na integra conforme o
registro do avaliador e seu modo de expressar.
213
Antes de finalizar estas páginas gostaria de registrar duas coisas que julgo
importante. É fato que minha primeira opção de vida foi o sacerdócio e que, por razões
diversas, caminhei para a educação e nela me mantive até hoje. Arrependimento? Não.
Frustração? Menos ainda. Em nenhum momento de minha vida optei pela Educação como um
segundo plano, talvez pudesse dizer que a opção veio num segundo momento de minha vida.
Porém, me sinto realizado, faço o que gosto e o faço com carinho e prazerosamente. Não
poderia ter feito escolha melhor em minha vida e a faria novamente, se fosse preciso.
Finalmente, a caminhada de um Diretor de Escola pública, que pretende ter um
trabalho firmado nos ideais democráticos, de parceria e de diálogo, não é fácil e nem muito
menos simples. Há momentos em que o universo parece conspirar contra tudo o que você
acredita e tem procurado construir. Há outros que você mesmo parece perder a esperança de
tudo e em todos, então, esmorece e desanima. Há fatos que te tiram o chão e, desiludido, se
quer abandonar o bardo e deixa-lo à deriva. Há pessoas que são nossos esteios, mas, em
momentos de cansaço, quebram o encanto da possibilidade do diferente e nos deixam só,
frente ao vazio. No entanto, estes são apenas momentos isolados e passageiros. A alegria do
fazer junto, do construir em equipe, de ver sonhos se realizando e vidas se transformando, de
se deparar com um sorriso infantil e ingênuo de uma criança que te olha envergonhada e te
diz: “Bom dia!”; a felicidade de um jovem que, realizado, vem mostrar seu resultado no
vestibular. Estas coisas, e muitas outras, fazem valer a pena, fazem o dia seguinte ser novo e
com novas esperanças.
Esta é nossa caminhada. Muito é feito e muito há para se fazer. E caminhamos, um
passo por dia.
214
CONSIDERAÇÕES FINAIS
seminário. Fé que inicia e se firma em um Deus, mas que se realiza e concretiza nas pessoas,
no próximo, no outro. A filosofia me consolidou nesta escolha pelo próximo, me mostrou
caminhos, me ensinou a argumentar a favor do próximo e, entre os próximos, àqueles que são
esquecidos e, não na busca da assistência, mas da liberdade e justiça social. Me deu
conhecimento, me fez provar da cultura e me fez mais crítico que o comum das pessoas. E
então me fiz professor de filosofia.
Caminhei por minha escolha profissional por um tempo relativamente curto. Nele
passei da escola pública para a particular e, da escola particular, de volta para a pública.
Tentei entender a escola como ela é e como querem que ela seja. Entendi que Políticas
Públicas não são feitas apenas para o bem comum, mas também para atender ideologias
sociais, econômicas e políticas; que o humano da classe menos favorecida nem sempre é
olhado com os olhos merecidos, mas acabam se tornando peões no tabuleiro da vida.
Entendi também que neste jogo da vida não há inocentes ou culpados, há leituras
incompletas ou parciais da realidade que nos impedem de fazer a diferença, que nos faz olhar
para aquilo que é menor ou de menos importância e, assim perder a oportunidade de lutar pelo
que de fato vale a pena. Assim foi, por exemplo, com a implantação da reforma educacional
proposta pela professora Rose Neubauer em 1978. Uma reforma autoritária, de cima para
baixo, sem refletir e sem preparar a base para ela.
Na ocasião nós professores ficamos preocupados com as perdas que teríamos com as
mudanças. Pensávamos que os alunos passariam de ano independente da nota que lhe
atribuíssemos, onde ficaria nosso poder de controle? Pensando nisto esquecemo-nos de ver o
quanto a educação e, por ela, o quanto que as crianças poderiam ser favorecidas se tivéssemos
entendido e aproveitado aquilo que a lei nos propunha, e feito de nossas escolas espaços de
aprendizagem compartilhada. Sim, compartilhada, já que também aprendemos quando
ensinamos (FREIRE, 2014). E assim, lutando contra a ideologia dominante, caímos numa
maior e mais cruel que foi a da manutenção do status quo, deixamos que a qualidade do
ensino se perdesse ao mesmo tempo em que as portas da escola se abriu para atender a todos.
Erro? Culpa? Não sei, digo apenas: escolhas.
De professor para Diretor de Escola foi um salto, embora conquistado, impar e ao
mesmo tempo grandioso. É grandioso porque rompeu com a regra, fez do filho de barbeiro,
um estudante universitário, e não de uma universidade qualquer; fez igualmente dele, um
professor e o fez Diretor de Escola que sou.
216
Tenho certeza que meu pai, se estivesse entre nós, vibraria muitíssimo com esta
conquista que também é dele. É de meu pai também esta conquista porque ele acreditou, ele
impôs a seus filhos a condição e a paixão pelos estudos. Mas é de minha mãe também, pois
ela sublimou sua vida para que nós tivéssemos as nossas com mais doçura, sem, contudo nos
iludir dos possíveis tropeços e quedas.
Minha experiência como Diretor de Escola iniciou com minha posse no cargo em
1998. Cheguei à escola Francisco Whitacker temeroso e inseguro, dei meus primeiros passos
sem saber ao certo o rumo que tomaria. Tinha mais dúvidas que certezas, na verdade as únicas
convicções que trazia eram as que adquirira no caminhar de minhas estradas: é preciso ouvir e
fazer junto.
Me abri para o diálogo. Me propus a caminhar junto. Com o tempo aprendi que
minha posição me ajudaria a conquistar um caminho melhor e mais frutuoso para os que
buscavam o conhecimento, então tateei caminhos sem saber ao certo quais eram.
Experimentei situações que não imaginava dar conta. Primeiro a escola Arruda Mello, grande,
com problemas múltiplos e diferentes dos que enfrentara na escola Francisco Whitacker. Nela
encontrei o problema das drogas, da violência, tive que tratar a homo afetividade presente
entre os alunos, a dificuldade de se falar com as famílias, mas, mais que isto, deparei com
uma escola que não cumpria a legislação a favor do aluno. Estes eram esquecidos e deixados
ao abandono da evasão. No entanto faltou-me o olhar para o pedagógico, faltou eu olhar para
o professor e ajudá-los na caminhada pelo aluno.
Depois da escola Arruda Mello fui para o CEFAM. Neste os problemas sociais eram
menores e os administrativos pequenos. Porém, o desafio pedagógico era gigantesco. Eu que
aprendi a ser diretor administrativo, agora precisava ser pedagógico. Caminhei lentamente,
mas a cada reunião pedagógica aprendia um pouco mais, a cada aprendizado surgiam novas
possibilidades, novas dúvidas, mas também novos quereres e novos desejos de fazer e fazer
melhor.
Quando cheguei à escola Francisco Pessoa estava ansioso, evidentemente, um frio
perpassava minha barriga, mas não temia, tinha convicções mais amadurecidas, mesmo assim
não fui afoito. Passei alguns meses analisando e conhecendo a escola, seus alunos, os
professores, os funcionários e a comunidade. Ouvi muito mais do que fiz, até que, com uma
equipe que já me conhecia e eu a eles, comecei a agir e não mais separava o administrativo do
pedagógico. Eu era Diretor de Escola e administrar o espaço escolar fazia parte deste ser,
assim como o pedagógico, cada qual no seu momento e na sua necessidade. Mesmo que, em
217
Igualmente é o ser Diretor de Escola. Não se faz um Diretor de Escola nos bancos
acadêmicos, mas também não se faz um diretor sem eles. O saber é extremamente necessário
e nos permite encurtar caminhos e facilitar as escolhas e decisões. Porém, o saber sem a
prática, sem o dia a dia, sem o chão da escola, não produz os efeitos desejados. Ser Diretor de
Escola é uma construção que se faz cotidianamente, na leitura diária da escola e da realidade
que nela se apresenta.
No saber que construí para chegar até este trabalho percebi que minha caminhada,
embora tenha produzido bons frutos e que tenha elementos democráticos, precisa de ajustes e
direcionamentos em busca de posições de fato democráticas. É preciso rever meu
posicionamento junto com o Conselho de Escola e com a APM. É preciso ouvir o grupo com
mais assiduidade e aprender a partilhar as escolhas com os anseios de desejos deles. É preciso
aprender a confiar mais e delegar mais.
Nos relatos da equipe com a qual partilho o trabalho na escola percebo que estamos
caminhando de forma acertada, percebo também que alguns poucos não sabem exatamente o
que é ou como é o processo democrático, mas que concordam com a forma como
caminhamos. Outros tantos, mais conscientes do fazer pedagógico compartilham, comungam
e buscam caminhar nesta mesma toada. Com mais segurança e de forma crescente, pais e
alunos compartilham conosco seus desejos e se juntam a nós no fazer a escola e nosso grupo
vai se tornando qualitativamente maior e melhor.
Quanto às questões levantadas e que deram o impulso necessário a estas reflexões
creio que com segurança posso afirmar: não sou furto do acaso, nem muito menos do destino,
me fiz ao longo de minhas experiências de vida e, à medida que fui me fazendo, meus olhares
foram de transformando, fui aprendendo a ler os fatos e a história com olhares outros e assim
me constitui no Diretor de Escola que hoje sou, isto é, um diretor que possui convicções
democráticas com vistas à qualidade do ensino.
Nesta caminhada alguns saberes foram me constituindo e me fazendo o Diretor de
Escola que sou.
Assim, ser diretor é ...
... lutar contra o tempo.
... conviver com a ilusão da autonomia.
... viver na corda bamba entre os valores e as necessidades de alunos e professores.
... não se deixar encantar pelos pequenos poderes.
... fazer valer o direito de todos.
219
REFERÊNCIAS
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Papel do Diretor na Administração Escolar. São Paulo/Rio de Janeiro: EDUC. 1976. Cap.
V, p.129-173.
BAUER, Martin W. e GASKELL, George (org.). Pesquisa Qualitativa com textos, imagens
e som: um manual prático. Tradução de Pedrinho A. Guareschi. 13 ed. Petrópolis, RJ: Vozes,
2015.
BEISIEGEL, Celso de Rui. Relações entre a quantidade e a qualidade no ensino comum. In:
CONFERÊNCIA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO, 1980. Anais, 1980. p. 49-56.
BOSI, Ecléa. Memória e Sociedade: Lembranças de velhos. 18. ed. São Paulo: Companhia
Da Letras, 2015.
DAVIS, Claudia; GROSBAUM, Marta Wolak. Sucesso de todos, compromisso da escola. In:
DAVIS, Claudia. (et al). Gestão da escola: desafios a enfrentar. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.
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FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 58 ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
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FREYRE, Gilberto. Casa-Grande & Senzala: Formação da Família Brasileira sob o regime
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LIBÂNEO, José Carlos. Organização e gestão escolar: teoria e prática. 6 ed. rev e ampliada.
São Paulo: Heccus Editora, 2015.
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VIEIRA, Sofia Lerche e FARIAS, Isabel Maria Sampaio de. Política Educacional no Brasil:
introdução histórica. Brasília: Plano Editora, 2003.
225
APÊNDICES
TÍTULO DA PESQUISA: O DIRETOR E A GESTÃO DEMOCRÁTICA NA ESCOLA PÚBLICA: UMA ANÁLISE AUTOBIOGRÁFICA.
QUESTÃO DA Como a prática do diretor no cotidiano da escola pública pode efetivar uma gestão democrática de forma a refletir,
PESQUISA: decidir as atividades que permeiam o dia-a-dia da escola em busca de sua qualidade?
Compreender a prática do diretor no cotidiano de uma escola pública estadual enquanto articulador de uma gestão
OBJETIVO GERAL:
democrática em busca da melhor qualidade de sua escola
ORIENTANDO: João Ferreira Filho ORIENTADORA: Profa. Dra. Yoshie Ussami Ferrari Leite
Análise
1.3.2.1. Instrumentos legais que o Documental:
institui e mantém - CF/88
1. Como pensar a 1.3.2 Associação de Pais
1.3.2.2. Funções e finalidade - LDBEN
gestão 1.3 Caracterizar os e Mestres
1.3.2.3. Da legalização burocrática à 9394/96
democrática frente espaços de
ação democrática - Documentos da
a estrutura atual organização
SEE/SP
das escolas democrática na
- Regimento
públicas do Estado escola.
1.3.3.1. Instrumentos legais que o Escolar
de São Paulo?
1.3.3 Conselho de institui e mantém
Classe/série/ano 1.3.3.2. Funções e finalidade Pesquisa
1.3.3.2. Da legalização burocrática à Bibliográfica
ação democrática
- CF/1988
2.1.1.1 O representante legal do
- LDB/1996
2.1.1 O diretor de escola: Estado Análise
- PNE/2014
na legalidade. Documental:
- PEE/2015
2. Como atua o 2.1 Analisar a 2.1.1.2 Funções e Atribuições legais
- Decretos e outros
diretor de escola legislação atual
na perspectiva referente às
legal e real? atribuições do - Pesquisa-ação
diretor de escola. dos diretores da
2.1.2.O diretor de escola: 2.1.2.1 Como acontece a gestão no Análise
DERPP
no realidade dia a dia Documental:
- Trabalho da
Patrícia
229
Entrevistas*:
3. Quais os
3.1 Analisar as 3.1.2 O diretor na equipe 3.1.2.1 João a equipe gestora e - professores
desafios e as
possibilidades e os gestora e os demais atores demais atores - funcionários
possibilidades - Paro
desafios de se fazer - alunos
reais de se - Bossi
uma gestão - pais de alunos
concretizar tal - Ganzeli
democrática a partir
gestão no “chão da
da ação do diretor. Questionário*:
escola”?
3.1.3.1 Olhando a escola com os - professores
3.1.3 O diretor e a olhos de seus atores: ontem - funcionários
possibilidades da gestão - alunos
democrática. 3.1.3.2 Olhando a escola com os - pais de alunos
olhos de seus atores: hoje
Nome completo:______________________________________________________
Mensagem do dia:
O tempo
A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando se vê, já é sexta-feira!
Quando se vê, já é natal...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado...
231
Mário Quintana
Você já percebeu como é fácil se que representa um olhar para si, para as
lembrar do rosto de alguém? Você próprias virtudes e desvios.
consegue se lembrar do rosto de seu
melhor amigo? Provavelmente, sim!
Agora pense no seu próprio rosto.
Como ele é? Quais as formas? Geralmente,
parece mais rápido e menos duvidoso
lembrar-se do rosto dos outros, mas a
avaliação precisa da metáfora do espelho,
c) Que aspecto de seu trabalho poderá ser mais bem desenvolvido em 2015? Que
pessoas da equipe precisarão se envolver com suas ações? De que maneira?
Pensando nisso, avalie os diferentes setores e grupos que compõem a equipe escolar:
A)
Agentes de organização escolar – funcionários que cuidam da organização geral e da
relação direta com os alunos – corredores
O que foi bem desenvolvido em 2014? Como essa ação repercutiu em resultados melhores
para a escola?
O que poderá ser mais bem desenvolvido em 2015? Quais as ações? Como podem ser
realizadas tais ações?
B)
Agentes de serviço – limpeza
O que foi bem desenvolvido em 2013? Como essa ação repercutiu em resultados melhores
para a escola?
O que poderá ser mais bem desenvolvido em 2014? Quais as ações? Como podem ser
233
C)
Coordenação
O que foi bem desenvolvido em 2014? Como essa ação repercutiu em resultados melhores
para a escola?
O que poderá ser mais bem desenvolvido em 2015? Quais as ações? Como podem ser
realizadas tais ações?
D)
Direção
O que foi bem desenvolvido em 2014? Como essa ação repercutiu em resultados melhores
para a escola?
O que poderá ser mais bem desenvolvido em 2015? Quais as ações? Como podem ser
realizadas tais ações?
E)
Mediação
O que foi bem desenvolvido em 2014? Como essa ação repercutiu em resultados melhores
para a escola?
O que poderá ser mais bem desenvolvido em 2015? Quais as ações? Como podem ser
realizadas tais ações?
F)
Professores
O que foi bem desenvolvido em 2014? Como essa ação repercutiu em resultados melhores
para a escola?
234
O que poderá ser mais bem desenvolvido em 2015? Quais as ações? Como podem ser
realizadas tais ações?
G)
Sala de Leitura
O que foi bem desenvolvido em 2014? Como essa ação repercutiu em resultados melhores
para a escola?
O que poderá ser mais bem desenvolvido em 2015? Quais as ações? Como podem ser
realizadas tais ações?
H)
Secretaria
O que foi bem desenvolvido em 2014? Como essa ação repercutiu em resultados melhores
para a escola?
O que poderá ser mais bem desenvolvido em 2015? Quais as ações? Como podem ser
realizadas tais ações?
Para que o aluno possa ter mais momentos de “luzes” acesas em seu cotidiano, quais
ações podem ser desencadeadas? Quais projetos podem ser mantidos ou criados? Que
mudanças podem ocorrer no cotidiano da escola?
Ariadne ajudou Teseu a se libertar do labirinto de Minotauro. Agora é sua vez de ajudar a
escola oferecendo sugestões para os temas a seguir:
Número de participantes: 40
D)
Direção
O que foi bem desenvolvido em 2013? Como essa ação repercutiu em resultados
melhores para a escola?
- Acho que a participação deste tem sido pontual, todas as mediações e ações da sua
responsabilidade foram realizadas, as nossas solicitações atendidas e o envolvimento
necessário com a equipe escolar e a comunidade.
- Não tomei muito conhecimento de área, mas o pouco que vi, creio que foi bem realizado. Na
sua principal parte em que estive presente foi na conversa com alunos e pais, algo bem
executado.
- Não tenho o que reclamar, meu relacionamento com a direção e de fácil acesso devido ao
conhecimento, principalmente do diretor, anteriormente a minha vinda para esta escola.
- Sempre os vi com pulso firme e postura adequada com os alunos e conosco.
- Bom desenvolvimento da escola.
- Observei mais interação com a equipe pedagógica e a partir daí um maior comprometimento
dos professores com os resultados esperados pela unidade.
- Na área de História foi desenvolvida a atividade da maioridade penal e a Direção da escola
convidou profissionais (assistentes sociais) do município para elucidar questões inerentes.
- O Dia Nacional da Consciência Negra, também tivemos atividades com a culminância na
sala de vídeo. Sem a direção não ocorreria.
- Despertar.
- A Direção é democrática e respeita a “humanidade” de todos os sujeitos envolvidos no
processo educacional (especialmente o diretor João). Com isso, o clima institucional fica
238
- A autonomia.
- Foi bem desenvolvido tudo de maneira geral. Este meu Diretor é muito inteligente,
esforçado, educado, carinhoso e sabe tratar bem todos nós. No meu modo de ver, só tenho que
lhe dar os parabéns e pedir a Deus que lhe de muita saúde.
- Forma de administrar sempre atencioso e humano. Destaca também que não houve
privilégios e diferença no tratamento aos professores.
- O “compreendimento” e apoio que há com todos que nessa escola trabalham.
- Sintonia entre todos e interação, com pais, alunos e comunidade. Sim.
- O trabalho em equipe da direção com os professores A presença da direção no inicio de
todos os períodos.
-A democratização do projeto político-pedagógico possibilitou o conhecimento da estrutura
escolar, limites e avanços.
- Houve uma melhora principalmente com a troca de vice-direção. A escola ficou mais calma
e obteve acesso no trabalho.
-Acho que a direção fez um ótimo trabalho. Cada ano melhor.
- A motivação aos colaborados foi grande. Houveram confraternizações, comemorações,
encontros, etc. tudo isso quase sempre com comes e bebes. As reformas na escola.
- Com esse grupo coeso os resultados foram satisfatórios.
- O bom relacionamento entre os professores e a equipe escolar.
- O bom relacionamento entre direção e professores e a presença da direção na entrada doa
alunos em sala de aula e a presença da direção na sala de aula para saber quem está com
celulares.
- A equipe está bem harmônica, dessa forma, os resultados são positivos na maioria das vezes.
- A acessibilidade e a disposição da direção tornou as ações nas salas mais fácil.
- Nesta escola acredito que cada um que compõe o grupo, tem sua função com autonomia
respeitando os demais.
O que poderá ser mais bem desenvolvido em 2014? Quais as ações? Como podem ser
realizadas tais ações?
- Busca de objetivos/metas entre todos os envolvidos na equipe escolar, mas reuniões com a
presença do maior número de envolvidos no processo, ações direcionadas a cada segmento
com a cobrança das responsabilidades para cada um.
- Para pensar sobre tal deveria ter mais conhecimento disto, mas penso que sempre pode-se
melhorar. Infelizmente e sinceramente não posso opinar como neste caso.
240
- A direção ao permanecer pode aprimorar suas ações e observações nos detalhes que, por
ventura, escaparam na gestão anterior.
- Continue assim.
- Penso que o diretor tem que estar mais na escola (Para que tanta reunião e O.T. fora da
U.E.?) “Exigir” dos órgãos superiores que aliviem esse fardo do gestor. Talvez os PCAGPs,
Vice e GOES possam representar o diretor em alguns momentos.
- O diretor precisa se reunir com os funcionários para ouvir sugestões e reivindicações com
mais frequência.
- Os temas são muito amplos, no entanto, poderá ser dado sequência (por sala e necessidade)
- O convite de profissionais que falariam sobre determinado tema.
- Durante ao planejamento, pensar sobre prováveis assuntos (previamente).
- O regimento escolar deve funcionar de fato, a fim de restaurar a disciplina na sala de aula.
Assim, o registro sistemático das ações dos alunos deve desencadear tomadas de atitude e
reuniões do Conselho de Escola.
- É preciso banir o grito e instalar a cultura do respeito e da ação eficaz.
- Reuniões com os segmentos para informar o ocorrido na semana e traçar metas.
- Sentar com alguns professores para direcionar o trabalho.
- Reuniões periódicas para orientação e resolução de problemas, nos mostrar uma imagem de
equipe.
- Um maior empenho no apoio aos professores quanto ao uso de celular e fone de ouvido.
- Projetos.
- Palestras (legislação) com autoridades.
- A escola não pode ficar sem equipe gestora no horário de almoço e saída dos alunos.
- Realizar designação de funções.
- Precisamos melhorar a sintonia entre todos os integrantes da Equipe Gestora.
- A escola não pode ficar sem direção (horário de almoço, principalmente).
- Designar funções, “fiscalizar” os trabalhos.
- Ações mais enérgicas referente ao uso de celulares, e quando o aluno levar advertência
chamar os pais.
- Ter sempre uma pessoa da direção na escola, revezando os horários.
- Fazer a designação das funções.
- Revezamento da equipe gestora para que a escola nunca fique sem um responsável – horário
de entrada e saída de aulas (1º horário 7h e o último 23h).
241
sabe onde solucionar e um pedido de algo pode demorar meses a ser resolvido (ex: alunos do
reforço em horário oposto só foram passe liberado no final do ano). Temos que informatizar
as informações os conselhos nunca são mostradas o nº de ocorrências que o aluno tem e não é
feita a tentativa de atualizar o cadastro dele na escola (somente quando é lembrado).
- Mutirão da limpeza.
- Manter a mesma linha de trabalhos.
- A direção na primeira semana de aula se apresentar e falar sobre o regimento escolar,
normas e leis, para cada sala de aula.
- Que a presença da direção na entrada dos alunos em sala de aula possa continuar. Logo no
inicio do ano letivo, falar sobre as normas da escola.
- Que essa harmonia se estenda ao grupo, pois falar a mesma linguagem fortalecerá a equipe,
com certeza dará melhores resultados.
- Repensar as regras da escola e aumentar o rigor nas punições dos alunos.
Sugestões:
Para que o aluno possa ter mais momentos de “luzes” acesas em seu cotidiano, quais
ações podem ser desencadeadas?
- premiação para alunos-destaque
- gincana de novos talentos
- gincana de conhecimentos
- eventos artísticos
- mais atenção para os alunos
- projetos – protagonismo juvenil
- projeto de leitura associado à música e ao teatro
- projetos voltados à preparação para o mercado de trabalho
- The Voice
- valorizar as datas de atividades cívicas
- Valorização da autoestima positiva do aluno
- reforço desde o 1º dia de aula
- alfabetização em português e matemática
- jogos interclasse
- passeios culturais
- sessões de cinema
243
- professor auxiliar
- mais elogio e menos crítica
- aulas na sala de Internet
- estimular a liderança dos alunos – delegar funções rotativas
- Atividades fora da sala de aula
- ter regras claras que sejam cumpridas
- tornar o ambiente agradável
- ter enfeites interativos, feitos pelos próprios alunos
- interdisciplinaridade – envolve as disciplinas e dá sentido à escola
- preparo pedagógico para saber agir com os alunos
- retirar as grades – espaço livre melhora a disciplina
- palestras com o tema “deveres”
- debates com temas que interessem aos alunos
- ações humanizadas desenvolvidas com amor, dedicação e compromisso
- a escola precisa de mais cor (pintura)
- área verde – espaço para aluno estudar
- mutirão de limpeza
Reunião de pais (como podem ser realizadas?)
- ter uma mensagem especial
- ter espaço de troca e não só de informação
- ter a presença de mais professores
- exigir a presença dos pais
- nos casos críticos, ter a presença e intervenção da mediação
- devem ser mais divulgadas
- os horários precisam ser mais específicos para que os pais participem
- palestras de incentivo aos pais
- parceria com minicursos, para trazer os pais para a escola
- ter um dia todo de reunião para que todos os pais possam vir à escola (atendimento integral)
– da manhã até à noite
- atrair os pais para a reunião
- incentivar os pais a implantarem horário de estudo para caca aluno: de 1h diária
- realizar 1 reunião por bimestre, aos sábados
- ter apresentação de alunos, de trabalhos de alunos etc – fazer o pai se sentir orgulhoso pelo
244
filho
- pode ser desenvolvida após as 18h, para aumentar a frequência dos pais
- seria melhor uma conversa coletiva e não só entrega de boletim e assunto sobre indisciplina
- fazer uma pesquisa junto aos pais para saber o melhor horário para reuniões
- reuniões com palestras num único dia, oferecer um chá, um brinde – não falar apenas do
rendimento do aluno
Temas de estudo para ATPC
- Currículo Geral – Currículo do Estado de SP
- Temas e objetos para o currículo
- Materiais Didáticos
- Recursos tecnológicos e visuais
- Interdisciplinaridade (história/sociologia/filosofia) e projetos (ética)
- Projetos: com filmes, jogos, leitura
- Aluno para o mercado de trabalho
- Autoestima e relacionamento (entre alunos; entre funcionários)
- Metodologia – resolução de problemas
- Planejamento das aulas
- Acompanhamentos das ações aplicadas em sala de aula
- Abordagens para Saresp – Enem
- Sequência Didática
- Como fazer o aluno aprender eficientemente?
- Autores educacionais
- Teorias de ensino-aprendizagem
- Casos de alunos portadores de NEE ou com necessidade de acompanhamento
- Inclusão
- Problemas em sala de aula (troca de experiências)
- Como desenvolver alunos cidadãos?
- Indisciplina e postura pedagógica
- Alfabetização
- Leitura
- Escrita
- Avaliação
- Saúde funcional
245
Número de participantes: 48
D)
Direção
O que foi bem desenvolvido em 2014? Como essa ação repercutiu em resultados
melhores para a escola?
- Gostaria que fosse com menos abuso de poder, não discriminar alguns professores e mais
educação, com ética e respeito pelos outros A vice não se enquadra, ela é muito ética.
- A chamada da participação de pais ou comunidade a escola.
- Construção da quadra melhoria na área externa para os alunos; período da tarde as
advertências funcionam; encaminhamento de proposta de construção de refeitório.
- Atende as necessidades.
- Cumpriu o seu papel, educação com professores, funcionários e alunos.
- As decisões para melhoria da escola foram satisfatória juntamente com as informações
passadas aos professores, deixando os bem informados.
- Cuidado e atenção para melhorias e reformas na escola. Olhar respeitoso a disciplina
Educação Física.
- O respeito que a Célia tem para com os professores.
- Muito bem, nada a reclamar, só dar os parabéns.
- Manutenção do prédio, atendimento ao público, organização e relacionamento.
- Reunião de pais no início do ano letivo.
- Implantação de regras para todos e fiscalização para cumprimento delas.
- Direção presente e atuante, melhor para professores e alunos
248
- Percebi que o diretor deu mais autonomia as coordenadas, e esse crédito repercutiu ao bom
trabalho desenvolvido por eles.
- Houve muita sincronia em relação a equipe, isso favoreceu o desempenho de todos.
- Modo de trabalho, organização foi bem desenvolvido.
- Atuação proporciona um ambiente de trabalho harmonioso e agradável.
Direção presente, e em parceria com os professores.
- A formação de uma boa equipe de trabalho e a cobrança dos resultados dos professores.
- Foi boa, pois estava sempre presente quando necessário.
- Melhorar mais a dedicação com maior permanência na escola.
- O apoio dado nos momentos de conflitos entre alunos e professores foi fundamental.
- Uma direção bem comprometida com a escola, alunos mais disciplinados.
- A gestão como um todo, a ponderação no tratamento com os alunos.
- Apoio.
- Vice: acompanhar bem ao alunos, principalmente os que apresentam dificuldades
disciplinares, orientando aluno e pais.
- Atuou bem na organizaçã0 da escola, ampliando a construção da identidade da instituição.
- Vice direção fica a desejar por falta de pulso firme.
- Atendimento as principais solicitações.
- Muito boa, a escola está de cara nova.
- O estabelecimento de rodízios entre os agentes, apoio dado para as ações desenvolvidas
pela coordenação.
- Combate a indisciplina, o auxílio aos AOES e não ter medo de combater as coisas erradas
que aconteceram.
- O período que tivemos o substituto da vice direção foi ótimo.
- Compreensão com os funcionários, professores e alunos.
- Buscar manter a disciplinas dos alunos melhorando assim o convívio.
- Praticidade em resolver conflitos tanto de alunos como professores.
- Tem correspondido as expectativas.
- A escola melhorou muito em vários aspectos, até na disciplina.
O que poderá ser mais bem desenvolvido em 2015? Quais as ações? Como podem ser
realizadas tais ações?
- Ter atitudes com mais educação e ética profissional; o cargo não condiz com a boa
educação.
249
- Isso deverá ser discutido em conjunto e estudarmos o que melhor funcionou efetivamente ao
desenvolvimento dos anos anteriores.
- Zelar pela área externa (frente – jardim); maior rigor no trato com a indisciplina.
- A presença de alguém da direção em ponto estratégico na entrada doa alunos.
- Continuar zelando pela integridade da escola.
- Manter o respeito com todos os profissionais tornando a escola um ambiente interativo e
reflexivo.
- Projetos de leituras envolvendo toda escola, passeios com turmas diferenciadas.
- A interação profissional, presença da direção no período da tarde. Lucimara manda muito
bem, cumprindo satisfatoriamente seu papel, porém a presença do próprio diretor, por ora é
fundamental em algumas situações.
- Ações junto a secretaria com relação aos alunos faltosos e evadidos para providenciar as
baixas.
- Continuar com a você, por ser uma pessoa humana que não desfaz de ninguém
- Nada a dizer.
- Mais a presença da direção na escola. A frequência nos 3 períodos. Tirar o celular dos
alunos.
- Acredito que faltou tato para repreender a equipe, isto deve ser individual e não expositiva, e
depois de solucionado o problema levar até a equipe a situação sem muitos detalhes para
evitar fofocas.
- Continuar presente e atuante.
- Resolução de problemas e organização.
- Gosto de sua gestão, só gostaria de ter uma sala de leitura melhor, mas não depende de sua
vontade.
- Dar sequência as atividades e suporte aos professores.
- Melhorar com relação a gerência dos funcionários, ainda percebemos problemas na
organização dos corredores da escola.
- Manter o respeito para com todos, com clareza e humildade que todos as ações serão
respeitadas.
- Acredito que participar ativamente da vida da escola. Mais presença.
- Continuar com a mesma filosofia, enérgico quando precisa e elogiar quando for o caso em
conjunto com toda a equipe escolar e pais.
- Estou satisfeita com a direção.
250
Sugestões:
Para que o aluno possa ter mais momentos de “luzes” acesas em seu cotidiano, quais
ações podem ser desencadeadas?
- Aceitar o aluno como ele é, dando oportunidade para que desenvolva suas habilidades.
- Para os alunos do Ensino Médio, com ênfase no 3º Ano, continuar com as oficinas de
Língua Portuguesa e Matemática, as oficinas para o Enem e fazer aulas especiais sobre o
Saresp. Trazer palestrantes, profissionais de diversas áreas, para conversar com os alunos.
- Tudo depende da formação/preparação que estes alunos tragam/tenham, pois despertar tais
aspectos é função da escola; mas atividades que envolvam os alunos é muito importante.
Assim, as atividades devem ser sempre pensadas em coletividade, com o maior número de
professores e disciplinas possíveis.
251
- Em 1º lugar temos que saber olhar para dentro de cada aluno, somente com isso poderemos
criar ações e projetos para que o aluno possa se desenvolver sem traumas e brilhar, nas suas
atividades. Quanto aos projetos, continuar na mesma linha, pois todos deram certo.
- Participação ativa da direção, da Coordenação para o bom desenvolvimento do aluno, buscar
realizar atividades que professores, alunos e equipe gestora participem. Fazer Formaturas.
Passear, conhecer lugares diferentes. Visitar lugares que eles irão se identificar e levar para a
vida deles.
- A sala de leitura pode contribuir muito para uma maior integração dos alunos com a escola.
- Professores responsáveis e comprometidos com o desempenho escolar de seus alunos,
procurando sempre o melhor para a formação dos mesmos. Pesquisas extraclasse, culturais.
Uma escola mais interativa com a comunidade.
- Ações de cidadania, higiene pessoal e mesmo sexologia poderiam entrar em pauta, para a
melhor compreensão dos cuidados com a própria saúde e qualidade de vida.
- Criar mais atividades que demonstrem a importância do conhecimento no cotidiano do aluno
como um todo. Atividades extraclasse e vivenciamento de situações problema.
- Psicóloga na escola e palestras com profissionais.
- Acolhimento ao aluno em sala de aula (corredor não é espaço de aprendizagem).
Aperfeiçoar os projetos do PA e do PAA (se estes forem mantidos pela SEE). Manter a
organização pedagógica (calendário/cronograma). Manter e aperfeiçoar as atividades da Sala
de Leitura.
- Definir um projeto interdisciplinar por turma, organizando passeio/visita técnica com os
alunos. Ampliar a atuação do Grêmio Estudantil, com responsabilidade e consciência política.
- Projetos e pesquisas para que eles se sintam úteis; eventos com os pais; palestras; diálogos.
Coisas que demonstrem sua importância e desenvolva a sua capacidade.
- Projetos que atendam aos alunos fora da sala de aula (na escola) para desenvolver um
melhor relacionamento professor/aluno (estilo Gincana, futsal e ou The Voice).
- Trabalhar valor moral e cristão. Higiene no ambiente escolar e manter todos os projetos que
já fazem parte do PPP da escola. Isso melhora a autoestima dos nossos alunos.
- Acompanhamento mais sistemático das aulas; desenvolver projetos de orientação de estudo
para os alunos; orientar mais as famílias sobre como ajudar os alunos a melhorar seu
rendimento; desenvolver mais ações que levem os alunos a serem protagonistas.
- Todos nós que fazemos parte da escola, devemos ser “luzes” para os alunos.
- Projeto Troféu: os alunos que vão bem na escola, ganhar pontuação positiva ao longo do
252
ano, notas, comportamentos, presença, participação, serão levados em conta. No final do ano
letivo esses alunos receberiam uma homenagem em um jornal com foto, por ser bom aluno.
Os alunos bons devem ser tão ou mais enxergados do que os que dão trabalho.
- O reconhecimento dos melhores alunos com certificado foi ótimo, devendo continuar.
- Olhar para o aluno e ver refletido nele a imagem de Deus, pois eu acredito que todos têm
solução, é uma questão de oportunidade, respeito e humanidade. Todos têm direito de ser
felizes e conseguir seus objetivos e devemos colaborar para isso.
- As atividades culturais devem ser mantidas, mas com acompanhamento de pessoas mais
responsáveis, que planejam o evento, e não deixar nas mãos de alunos de onde gera muita
bagunça.
- Mesmo com as luzes acesas que queremos para nossos alunos devemos colocar limites... não
sempre só apoiarmos, e desvalorizar o professor, principalmente na frente dos mesmos.
- Os projetos que ocorrem na escola leitura, trabalho de campo com visitações a recintos
culturais, relatórios, trabalhos relacionados a assuntos pertinentes e interações disciplinares.
Necessitamos também a maior participação e ou presença dos familiares.
- Melhorar a convivência professor/aluno. Aulas mais dinâmicas e instigantes. Projetos:
Morro do Diabo, Hidrelétrica, Eclusa, reforço.
- Respeitar o aluno, enxergar nele um sujeito em formação e que isso pode ser melhorado
muito com uma ação diferenciada da escola. Criar um ambiente adequado, na questão das
instalações, da organização, da limpeza. Espaço de leitura, informática que efetivamente
atenda aos alunos.
- Aulas mais interativas e dinâmicas com apoio da Coordenação; projetos de leitura,
informática, teatro na escola, dança, isso faz com que o aluno goste da escola,
consequentemente de estudar.
- Poderíamos fazer em projeto com os alunos de uma série escolhida pelos professores; um
projeto que fizesse o aluno ajudar o próximo com uma visita num lar, ou num asilo, acho que
esse tipo de projeto ajuda o aluno a ser melhor, ser mais humano.
- Competições (quiz) sobre as matérias e conhecimentos específicos para estimular o interesse
pelas aulas. É claro que dar um prêmio, como chocolate, seria legal.
- Aulas diferenciadas: cinema, shopping.
- Ofertar mais projetos de passeio, cinema e aulas interativas.
- Fazer um bom projeto para tirar o celular dos alunos durante as aulas.
- Leituras críticas e análises de filmes e músicas sobre questões sociais (atividade
253
- Horário adequado a presença de todos, portanto não impede a presença dos mesmos.
Com a presença do aluno, ser criado um dia e horário exclusivo para atender pais que não
poder vir em reuniões.
- Em horários que atendem as suas necessidades.
- Gostei do formato das reuniões do ano de 2014.
- Dividir em dois ATPC, pois diminui o fluxo e os professores podem atender melhor os pais.
- Ser em dias diferentes, pois três turmas na mesma sala é difícil atender aos pais.
- A maneira que está sendo realizado é melhor.
- A fórmula atual está sendo eficaz.
- As falas dos professores tem que ser de orientação e não de acusação. O horário está ótimo.
- A escola poderia aproveitar o Sábado que temos que vir para reunião.
- Deve permanecer.
- A mesma coisa.
- Manter, mas diminuir a quantidade de papel.
- Palestras com profissionais de saúde e bem estar físico e mental.
Temas de estudo para ATPC
- Trabalhar valores e ética
- Avaliação, boa aula e relacionamento com alunos.
- Recuperação, leitura escrita e relação professor/aluno.
- Projeto Político Pedagógico: a função da escola e os múltiplos papéis que fazem estas
engrenagens funcionar.
- Fazer uma prévia pesquisa sobre dúvidas com o professores.
- Diversidade sexual/conscientização,
- Drogas e como os jovens veem seu uso.
- Bullyng e relações entre os alunos.
- Temas voltados a legislação educacional, mais métodos para ajudar os professores a
desenvolver as atividades do caderno atividades do aluno.
- Interdisciplinaridade e formação continuada de professores.
- Sem muito papel, um pouco mais dinâmico.
- Uma orientação maior para concursos, novidades para sala de aula, atualização nas leis.
- Conscientização sobre cidadania para os alunos, projetos de manutenção, limpeza do
ambiente escolar e projetos de estudo do meio para alunos,
- Metodologias de avaliação, recursos tecnológicos.
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- Da maneira como já são, mas providenciar no telão as notas individuais para o aluno possa
visualizar melhor seu desempenho.
- Talvez com maior responsabilidades dos alunos e pais.
- Com menos discriminação de alunos para eles se sentir com muito poder, é muito longo me
sinto um jure popular, não vejo necessidade de tantos questionamentos, o que a professora
trabalhou em sala, qual professor é melhor, etc...
- Pode manter o mesmo formato.
- O questionário da sala deve ser preenchido conforme a realidade de cada classe.
- Está bem direcionada, mas os alunos que faltaram não deveriam ser comentados, somente os
que estão presentes e só depois que eles forem embora falaria dos faltosos.
- Continuar como está; horário bom e participação de professores.
- Da mesma forma.
- Já não há pais, isso melhorou muito.
- Aquele papel que passam nas salas para os alunos responderem não é válido, os alunos
falam dos professores durante a sua aula e não é verdadeiro.
- Deve permanecer.
- O mesmo.
- Com menor discriminação a professores, pois acredito que trabalhamos com honestidade.
- Manter.
- Acho que funciona bem nosso conselho.
Verba Trato na Escola – sugestões de uso dos recursos para embelezamento (o que pode ser
melhorado na escola?)
Fonte: Síntese elaborada pelos PC da EE Arlindo Fantini, Prof., 2015
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Diretor de Escola