Aprendizagem Metacognição

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ

CENTRO DE TEOLOGIA E CIÊNCIAS HUMANAS


MESTRADO EM EDUCAÇÃO

MARIA GABRIELA ZGÔDA CORDEIRO AFONSO

OS ESTILOS DE APRENDIZAGEM, A METACOGNIÇÃO E A


ORGANIZAÇÃO DA PRÁTICA DOCENTE NA EDUCAÇÃO INFANTIL

CURITIBA
2010
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MARIA GABRIELA ZGÔDA CORDEIRO AFONSO

OS ESTILOS DE APRENDIZAGEM, A METACOGNIÇÃO E A


ORGANIZAÇÃO DA PRÁTICA DOCENTE NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Dissertação apresentada como requisito parcial
para obtenção do título de Mestre em Educação
no programa de Pós-Graduação- Mestrado em
Educação- da Pontifícia Universidade Católica
do Paraná, sob a orientação da Professora Dra.
Evelise Maria Labatut Portilho.

CURITIBA
2010
Dedico está dissertação ao meu Pai
Carlos Alberto, a minha mãe Jussara,
e aos meus irmãos Lucas e Nina
Fernanda, pelo amor incondicional,
por todo incentivo e apoio.
ETERNOS AGRADECIMENTOS

A Deus, que sempre ilumina meus passos e está sempre presente na minha
vida.
Ao meu Pai Carlos Alberto, exemplo de pessoa ética e batalhadora, modelo
vivo do que é ser mestre. Você me instiga a crescer e a buscar sempre novas
formas de superar os desafios
À minha mãe Jussara, minha mestra da vida. Tudo que sou, devo a você.
Ao meu irmão Lucas, ombro amigo e companheiro de todas as horas. Obrigada
por compartilhar momentos únicos e preciosos de nossas vidas e, acima de
tudo, obrigada por ter a paciência de me ensinar a trabalhar de modo mais
eficiente com o computador.
À minha irmã Nina Fernanda, que mesmo tão distante, sempre se fez presente
durante a escrita deste trabalho, Obrigada por levantar constantemente meu
ego.
Aos meus cunhados Bernardo e Verônica, pela torcida e confiança.
À minha sobrinha Maria Fernanda, fonte inesgotável de energia e curiosidade.
Com você aprendi uma nova forma de amar.
Ao meu amor Andreas, por ter entrado em minha vida de uma forma tão
delicada e ter tido a paciência e o carinho para caminhar comigo ao longo
deste trabalho. Obrigada por estar ao meu lado. Amo você.
Às minhas amigas de infância Carol, Rosane e Thali, obrigada por
compreenderem todos os momentos que não pude estar presente para poder
realizar esse sonho.
Às minhas colegas de trabalho Isabel, Vânia, Silviane, Karina, Luciana,
Mariana, Susan, Gleice, Ana Paula e Priscila, obrigada por todas as
intermináveis horas de conversas e discussões a cerca do que é ser professor.
À professora Romilda Ens, pelo valioso incentivo no momento em que pensei
em desistir dos sonhos e ideais. Suas palavras foram fundamentais para que
eu conseguisse abrir as portas do mestrado.
Ao professor Peri Mesquida, pelas maravilhosas histórias dentro e fora da sala
de aula.
Ao professor Ricardo Tescarolo, que me ensinou a ver a Educação a partir de
outras perspectivas.
Ao Grupo de pesquisa GAE, pelas intermináveis elucubrações, discussões e
ressignificassões. Com todas vocês aprendo a ser uma melhor Educadora.
Ao grupo de estudo GEA, fonte de iluminação e esclarecimento. Muitas de
nossas discussões estão aqui presentes.
As amigas do mestrado Thalita, Lia, Simone, Grazi, Renatinha, Kátia e Ju.
Obrigada por serem ombro amigo ao longo dessa caminhada e por dividirem os
conhecimentos construídos.
Aos meus alunos, pessoas responsáveis pelas minhas inquietações e
questionamentos. Sem Vocês nada disso valeria a pena.
À professora Rosa de Portugal, por ter me ensinado o prazer e o maravilhoso
caminho que é aprender. Nasci como Educadora em suas mãos.
Em especial, à professora Evelise Portilho, por ter sido orientadora, amiga e
companheira das diversas construções ao longo desses seis anos de parceria.
Com você, Evelise,reaprendi a aprender. Obrigada por sempre acreditar em
mim!
Quem não compreende um olhar
tampouco compreenderá uma longa
explicação.
(Mário Quintana)
RESUMO

Atualmente, no Brasil, encontramos poucas pesquisas desenvolvidas no âmbito


da Educação Infantil, especialmente no que se refere à formação de
professores e suas conseqüências na aprendizagem e no ensino. Nota-se uma
tendência para escrever sobre esse segmento de ensino, apenas, do ponto de
vista lúdico, ou das relações de cuidados assistencialistas. De acordo com a
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a LDB 9394/96, exige-se do
profissional que atua nessa área da educação básica uma formação mínima de
nível superior. Na Educação Infantil a criança inicia o processo de
sistematização dos conhecimentos elaborados socialmente. Sendo assim, esta
pesquisa se propôs a identificar os diferentes estilos de aprendizagem dos
alunos e das professoras de Educação Infantil, estimular a professora a
repensar sua prática, objetivando o aprendizado dos alunos. A investigação é
definida como pesquisa qualitativa, na modalidade de pesquisa-ação, uma vez
que as professoras foram convidadas a serem investigadoras de suas
realidades. A parceria entre a pesquisadora e as três professoras envolvidas foi
o procedimento que possibilitou a ressignificação da prática docente. Os
instrumentos de pesquisa utilizados foram: entrevistas semi-estruturadas com
as professoras, observação de sala de aula por meio de protocolos,
Questionário Honey/Alonso de Estilos de Aprendizagem, Inventário
Portilho/Beltrami de Estilos de Aprendizagem e a avaliação metacognitiva. A
aplicação do instrumento com as crianças ocorreu em três momentos
diferentes, sendo que, no intervalo do segundo para o terceiro momento, houve
a partir dos dados uma reelaboração do planejamento de aula. Essa
reelaboração por parte da professoras teve, como resultado nos alunos, um
maior equilíbrio entre os estilos de aprendizagem e proporcionou a elas uma
nova visão sobre o ensinar e o aprender.

Palavras-chave: Estilos de Aprendizagem, Metacognição, Educação Infantil,


Professor e Aluno.
ABSTRACT

Currently, in Brazil, we find only a few studies developed on the topic of


Childhood Education. This is even more evident on the topic of developing new
educators and its consequences on learning and teaching. There is a general
tendency of writing about this topic only from a ludic or a welfare perspective.
According to the Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDB 9394/96
(Law of National Education Guidelines), there is a minimum requirement of a
bachelor‟s degree for the professional working in the area of basic education. In
Childhood Education, a child begins the process of systematization of socially
elaborated knowledge. Therefore, this study‟s objective is to identify the
different learning styles in both students and teachers in Childhood Education,
and stimulate the teachers to rethink their teaching practice based on their
students‟ learning styles. The investigation is defined as a qualitative study,
under the action-research methodology, since the teachers were invited to be
their own investigators of their realities. The partnership between the researcher
and the three teachers involved was what allowed for the reassessment of the
teaching style. The research methodologies utilized were as follows: semi-
structured interviews with the teachers; in-class observations via protocols;
Honey/Alonso Learning Styles Questionnaire; Portilho/Beltrami Styles of
Learning Inventory; and a Metacognitive evaluation. The research
methodologies were applied in three different instances with the children and,
based on the analysis of the data collected, there was an introduction of a new
teaching plan from the second to the third instance. This new plan from the
teachers affected the students by providing a larger balance between the styles
of learning, and provided the teachers themselves with a new understanding of
teaching and learning.

Keywords: Styles of Learning, Metacognition, Childhood Education, Teachers


and Student.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1- Construção da Aprendizagem ........................................................... 33


Figura 2- Sujeito e Experiências - Geração de aprendizagem ......................... 39
Figura 3- Os Três Elementos das Estratégias Metacognitivas ......................... 85
Figura 4- Componentes metacognitivos propostos por Mayor (1995) .............. 89
Figura 5- Estratégias metacognitivas e sub-estratégias ................................... 90
Figura 6- Apresentação da proposta, subdividido em três momentos. ........... 101
LISTA DE TABELAS

Tabela 1- Estabelecimentos de Educação Infantil por Localização e Etapas. 20


Tabela 2- Funções Docentes, por localização e nível de formação. ................ 59
Tabela 3- Diferença entre Estratégia Metacognitiva e Estratégia Cognitiva ..... 88
Tabela 4-Professoras presentes na apresentação da proposta de pesquisa. 102
Tabela 5- Professora A, da sala 1 da Escola Particular ................................. 117
Tabela 6- Professora B, da sala 2 da Escola Particular ................................. 119
Tabela 7- Professora C, da sala 3, da Escola Pública ................................... 120
Tabela 8- Sala A- Primeira Aplicação............................................................. 122
Tabela 9- Sala B – Primeira Aplicação ........................................................... 123
Tabela 10-Sala C- Primeira Aplicação ........................................................... 125
Tabela 11: Sala A- Segunda Aplicação .......................................................... 128
Tabela 12-Sala B- Segunda Aplicação ........................................................... 131
Tabela 13- Sala C- Segunda Aplicação ......................................................... 133
Tabela 14- Sala A- Terceira Aplicação ........................................................... 142
Tabela 15- Sala B- Terceira Aplicação ........................................................... 146
Tabela 16- Sala C- Terceira Aplicação ........................................................... 150
LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Histórico escolar dos alunos da 1ª série do Ensino Fundamental .. 19


Gráfico 2- Estilo de Ensinar X Estilo de Aprender: Primeira Aplicação ............ 75
Gráfico 3- Estilo de Ensinar X Estilo de Aprender: Segunda Aplicação ........... 76
Gráfico 4- Estilo de Ensinar X Estilo de Aprender: Terceira Aplicação ............ 77
Gráfico 5-Professoras que aceitaram fazer parte da pesquisa....................... 103
Gráfico 6- Estilos de Aprendizagem da Professora A. ................................... 117
Gráfico 7- Estilos de Aprendizagem da Professora B. ................................... 119
Gráfico 8- Estilos de Aprendizagem da Professora C. ................................... 120
Gráfico 9- Sala A- Primeira Aplicação ............................................................ 122
Gráfico 10- Sala B – Primeira Aplicação ........................................................ 124
Gráfico 11- Sala C- Primeira Aplicação .......................................................... 125
Gráfico 12- Sala A- Segunda Aplicação ......................................................... 128
Gráfico 14- Sala B- Segunda Aplicação ......................................................... 131
Gráfico 15- Sala C- Segunda Aplicação ......................................................... 134
Gráfico 16- Sala A- Terceira Aplicação .......................................................... 142
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CHAEA- Cuestionário Honey- Alonso de Estilos de Aprendijagem.

INEP- Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais

LDB- Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

MEC- Ministério da Educação e do Desporto

PUCPR- Pontifícia Universidade Católica do Paraná

QHAEA- Questionário Honey- Alonso de Estilos de Aprendizagem

RCNEI- Referencial Curricular Nacional de Educação Infantil

SI- Sociedade de Informação

TICs - Tecnologia da Informação e da Comunicação

EI- Educação Infantil

EF- Ensino Fundamental


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................. 15
1 A APRENDIZAGEM E SUAS IMPLICAÇÕES ..................................... 26
1.1 A SOCIEDADE ATUAL E A APRENDIZAGEM ................................... 27
1.2 A APRENDIZAGEM ............................................................................ 31
1.3 OS ESTILOS DE APRENDIZAGEM ................................................... 40
1.4 OS ESTILOS DE APRENDIZAGEM ................................................... 42
2 O PROFESSOR E O ENSINO NA EDUCAÇÃO INFANTIL ................ 52
2.1 HISTÓRIA E POLÍTICA DA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE
EDUCAÇÃO INFANTIL NO BRASIL. ............................................................... 54
2.2 FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO BRASIL: UM ENFOQUE NO
PROFESSOR DE EDUCAÇÃO INFANTIL ....................................................... 63
2.3 REDIRECIONAMENTO DO CUIDADO SEGUNDO A VISÃO DE
LEONARDO BOFF........................................................................................... 66
2.4 A FORMAÇÃO DO PROFESSOR NA VISÃO DE JOHN BRANSFORD,
ANN BROWN E RODNEY COCKING. ............................................................. 74
3 METACOGNIÇÃO ............................................................................... 82
3.1 A METACOGNIÇÃO E SEU PERCURSO HISTÓRICO...................... 83
3.2 AS ESTRATÉGIAS METACOGNITIVAS ............................................ 87
3.2.1 Consciência e/ ou conhecimento ........................................................ 94
3.2.2 Controle ou Autoregulação.................................................................. 96
3.2.3 Autopoiese .......................................................................................... 97
4 O PERCURSO DA PESQUISA ......................................................... 100
4.1 Primeiro Momento de Intervenção .................................................... 104
4.1.1 Entrevista semi-estruturada .............................................................. 105
4.1.2 Aplicação do Questionário Honey-Alonso de Estilos de Aprendizagem.
116
4.1.3 Aplicação do Inventário Portilho/Beltrami de Estilos de Aprendizagem
121
4.2 Segundo Momento de Intervenção. .................................................. 127
4.2.1 Segunda Aplicação do Inventário Portilho/Beltrami. ......................... 127
4.2.2 Proposta para repensar o planejamento e as atitudes em sala de aula.
136
4.3 Terceiro Momento de Intervenção .................................................... 141
4.3.1 Terceira Aplicação do Inventário Portilho/Beltrami. ........................... 142
5 CONSIDERAÇÕES, LIMITES E PERSPECTIVAS DO TRABALHO
REALIZADO. .................................................................................................. 155
6 REFERÊNCIAS ................................................................................. 159
APÊNDICES................................................................................................... 164
APÊNDICE 1 .......................................................................................................... 165
APÊNDICE 2 .......................................................................................................... 166
APÊNDICE 3 .......................................................................................................... 167
ANEXOS ........................................................................................................ 172
ANEXO A ................................................................................................................ 173
ANEXO B ................................................................................................................ 177
ANEXO C ................................................................................................................ 178
ANEXO D ................................................................................................................ 179
ANEXO E ................................................................................................................ 180
ANEXO F................................................................................................................. 192
15

INTRODUÇÃO

O anseio pela presente pesquisa foi fruto das experiências vividas em


sala de aula como professora de Educação Infantil, pelos estudos realizados no
grupo de pesquisa do qual faço parte e, ainda, pelas experiências próprias
enquanto aluna ao longo da vida.
Desde o início da minha caminhada escolar, encontrava grande
dificuldade em aprender sem entender o porquê de estudar tantos conteúdos
que não integravam o meu dia-a-dia. Entrar na sala de aula era sempre um
martírio e motivo de grandes angústias e frustrações. Gostava do ambiente
escolar, sentia-me bem com os colegas, mas dentro de sala de aula era
sempre uma aluna apagada que sabia como passar despercebida pelos
professores.
Anos se passaram até que em 1998, acompanhada de minha família,
passei a morar em Portugal devido ao Doutorado que meu pai cursava.
Tudo era novo: a casa, o jeito de falar, a cidade, a escola, os colegas
de sala e, principalmente, os professores. Já estava com 15 anos e era
consciente de minhas dificuldades. O medo de falhar num ambiente novo e ser
estigmatizada como aluna com dificuldades fazia-me perder o sono. Mas
aceitei o desafio e vi nessa nova cultura a oportunidade de deixar para trás os
problemas no estudo que me acompanhavam durante tantos anos.
No primeiro mês de aula procurei entender esse novo universo,
esforcei-me muito para dar conta dos conteúdos e das atividades propostas.
Percebi, contudo, que as dificuldades formadas na base de minha educação
não se apagaram, e as notas das avaliações foram os primeiros sinais de
problemas com a aprendizagem.
Entretanto, a atitude de uma professora da escola portuguesa foi
totalmente contrária àquela a que estava acostumada.
Minha professora de Português (uma mulher fantástica) passou a fazer
um trabalho paralelo e individual com o objetivo de me fazer entender o melhor
jeito pelo qual eu aprendo. Este trabalho, em linhas gerais, resumia-se em
horas extras de estudos, deveres, análises, pensamentos sobre e como eu
16

aprendia dentro de cada tarefa proposta, reflexões, explicações e aproximação


do conhecimento já adquirido com os conhecimentos a serem apreendidos.
Nesta dedicação, até mesmo a volta para casa passou a se tornar uma
aula viva. Todas as explicações eram dadas partindo daquilo que eu sabia, e
minhas experiências fora do ambiente escolar passaram a dar vida aos
conteúdos trabalhados em sala e, assim, tudo passou a ter relação mais íntima
com o estudo. Percebi que a vida externa à sala de aula tinha uma relação
plena com os conteúdos ministrados pelos professores.
O resultado deste período me ensinou a aprender e isso me fascinou.
Finalmente, depois de 15 anos, eu havia tomado consciência de como aprendo
e quais são os melhores caminhos para que os conteúdos se tornem parte
integrante da minha vida.
No momento em que tomei consciência de minhas dificuldades,
ajudada pela professora, passei a regular minhas aprendizagens,
transformando, de maneira significativa, o resultado acadêmico.
Assim, adotei outra atitude perante o aprender e passei a gostar do que
estudava. Ir à escola e expressar minhas opiniões na sala de aula já não era
mais fator de angústia e medo, mas de prazer, alegria e conhecimento.
Durante os três anos de parceria com essa professora, passei a me
apaixonar pela educação e a acreditar nela.
No retorno para o Brasil, já em 2001, e com o Ensino Médio (EM)
concluído, deparei-me com a necessidade de ingressar na vida acadêmica do
Ensino Superior por meio dos testes de seleção na universidade. A experiência
obtida em Portugal me chamou a atenção a um só curso dentre tantos
oferecidos: a Pedagogia.
Aprendi a amar a educação e, imediatamente após o ingresso
acadêmico, iniciei o trabalho como professora na Educação Infantil.
Logo nos primeiros contatos com as crianças, achei contagiante ver
tanta diversidade na sala de aula, tantos caminhos diferentes para aprender e
tanta vontade pelo saber. Sempre procurei respeitar as diferenças existentes
nesta área e, em meio a tanta diversidade, refletia sobre minha prática na
busca do caminho que atingisse todos meus alunos.
Todavia, com o tempo, o amadurecimento e a experiência, percebi que
era impossível encontrar um único caminho para que todos pudessem
17

percorrer em iguais condições. E percebi que estava trilhando um caminho


contrário àquele pelo qual havia aprendido a aprender.
Neste momento, comecei a procurar respostas para a minha dúvida.
Questionei os professores, li livros e artigos sobre aprendizagem, mas nada me
saciava. A resposta desejada nunca vinha. Tudo o que eu queria era fazer
pelos meus alunos o mesmo que minha professora de português fez por mim
em Portugal, ou seja, fazer com que eles conhecessem a sua maneira própria
de aprender.
Durante esta procura, em 2004, fui convidada pela professora Evelise
Portilho a fazer parte de um grupo de pesquisadores, cujo título de investigação
era Aprendizagem e Conhecimento na Formação Docente (carinhosamente
chamado pelos seus integrantes de GAE). O objetivo primeiro desta pesquisa
era entender o processo de aprendizagem de quem aprende e de quem
ensina. Neste grupo havia as seguintes metas: a) diferenciar as modalidades
de aprendizagem das crianças de 1ª série com históricos escolares distintos; b)
conhecer os diferentes estilos de ensinar das professoras alfabetizadoras e
relacioná-los com os seus estilos de aprendizagem dos alunos e; c) observar o
ambiente escolar, especificamente a sala de aula.
Aceitei o desafio e, enquanto acadêmica de Pedagogia, tive o prazer e
o privilégio de conviver e aprender com profissionais atuantes em diversas
áreas da Educação. Após minha entrada nesse projeto de pesquisa, sempre
ouvi com muita atenção todas essas profissionais que integravam o grupo, pois
o “tempo de estrada” de cada uma delas era muito maior que o meu. Para
minha surpresa, percebi que a minha angústia não era só minha, mas também
de cada uma das integrantes. Imaginava que encontraria imediatamente as
respostas para os meus questionamentos, porém, o número de dúvidas e
perguntas somente aumentou diante das conversas e resultados de pesquisas
que vinham sendo obtidas no grupo.
Perante este desafio, decidi buscar, no Mestrado em Educação, um
novo caminho para trilhar em busca de respostas. Iniciei o curso freqüentando
disciplinas isoladas, que eram: Aprendizagem e Conhecimento, Cenários e
Tendências e Políticas Sociais e Educação.
Ao cursar essas disciplinas, passei a entender que era necessário parar
e repensar meu estilo de aprender, uma vez que ele está diretamente ligado ao
18

meu estilo de ensinar. Compreendi que deveria ajustar minha prática ao meu
discurso.
E neste momento de integração entre as angústias vividas em sala de
aula, estudos realizados no grupo de pesquisa e, somado às aulas do
mestrado e às reflexões do grupo de estudos, passei a relacionar e a direcionar
o foco para o aprender consciente, tanto do professor quanto do aluno.
Nesta experiência é que as respostas que tanto me atormentaram nos
últimos anos passaram a dar o sinal de vida e, junto com elas, também
descobri novas perguntas para serem respondidas.
Os primeiros resultados obtidos pela pesquisa me surpreenderam e me
fizeram repensar sobre o caminho percorrido pelas professoras durante suas
aulas, como elas podem se auto-regular a fim de tornar a aprendizagem de
seus alunos mais significativas.
Ao relacionar minhas experiências profissionais com os estudos
realizados no grupo de pesquisa, decidi pesquisar sobre estilos de aprender e
ensinar e as estratégias metacognitivas como meio de ajudá-la a tomar
consciência de seu trabalho como professora de Educação Infantil. Esse
destaque na professora tem como conseqüência um foco especial em seu
trabalho de sala de aula (seu estilo de aprender e ensinar), assim como o
reflexo que um ensinar e aprender consciente gera na educação de seus
alunos.
Esse foco de estudo se aguçou com os resultados da pesquisa do GAE,
pois, atualmente, grande parte das crianças que freqüentam o Ensino
Fundamental já passaram por experiências de estudos na Educação Infantil.
Tal afirmação pode ser comprovada por meio dos dados obtidos pelo
grupo de pesquisa1. Esse grupo detectou que as crianças que se encontram no
Ensino Fundamental já freqüentaram creches, CEMEIS (Centro Municipal de
Educação Infantil), Centros e Escolas de Educação Infantil conforme pode ser
apreciado na leitura do gráfico abaixo.

1
Pesquisa “Aprendizagem e Conhecimento na Formação Docente”, que faz parte da linha de
pesquisa Teoria e Prática Pedagógica na Formação de Professores, vinculada ao Mestrado em
Educação da PUCPR.
19

Gráfico 1 - Histórico escolar dos alunos da 1ª série do Ensino


Fundamental

Histórico escolar dos alunos da 1ª série do


Ensino Fundamental
A. Sem escolaridade
Anterior
14% 13% B: CMEI + etapa inicial
na escola
C: (c) CMEI + Jardim III
17% no CMEI
27% D: Esducação Infantil
Particular
11% E: Etapa Inicial na
Escola
18%
Sem dados

FONTE: Dados da Pesquisa Aprendizagem e Conhecimento na Formação Docente.

Somente 13% das 403 crianças da amostra não havia freqüentando a


Educação Infantil e, diante desse dado, outro fato chamou mais atenção: o de
não haver significativas diferenças quanto às estratégias de aprendizagem
entre as crianças que cursaram a Educação Infantil e aquelas que entraram
direto no primeiro ano do primeiro ciclo do Ensino Fundamental.
Em todo o Estado do Paraná é possível encontrar diversas instituições
que atendem a essa demanda da população (crianças de 0 a 5 anos). Esses
dados podem ser comprovados por meio do último senso escolar realizado e
disponibilizado pelo INEP2 no ano de 2007.

2
Dados Recolhidos do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP) no
endereço eletrônico www.inep.gov.br.
20

ESTABELECIMENTOS
Educação Infantil

Tabela 1- Estabelecimentos de Educação Infantil por Localização e Etapas.

Estabelecimentos de Educação Infantil - Etapas


Unidade da
Localização / Etapas
Federação /
Dependência Total Urbana
Administrativa Creche Pré-Escola Creche Pré-Escola

Paraná 2.255 3.967 2.183 3.567

FONTE: Senso Escolar 2007

Verifica-se nos dados que, somente na região urbana do Paraná,


existem mais de 2.183 creches e 3.567 pré-escolas destinadas, única e
exclusivamente, ao trabalho com crianças de 0 a 5 anos.
Pelos dados carreados, algumas questões são colocadas à tona:
Como é vista a Educação Infantil na sociedade atual?
De que forma é construído o conhecimento na Educação Infantil?
Quem atua nesse segmento?
Quais são as estratégias utilizadas pelo professor para fazer seu aluno
aprender?
O professor de Educação Infantil é um cuidador ou é um Educador?
Os professores promovem momentos de reflexão sobre suas práticas
em sala de aula?
Como essa profissional se auto-regula para melhorar a aprendizagem de
seus alunos?
Como o educador, a partir do conhecimento dos estilos de
aprendizagem dos seus alunos, refaz o seu planejamento de sala de
aula?
Posto esses questionamentos, compreendo a Educação Infantil como
sendo o início da educação sistematizada da criança. É nesse segmento de
ensino que ela re-elabora suas estruturas cognitivas de acordo com suas
experiências. O papel do professor, por sua vez, passa a ser o de agregar as
experiências vividas fora do ambiente educacional para introduzir novos
conceitos e temas, gerando aprendizagens significativas. Ou seja, a partir da
21

teoria sócio-interacionista de Vygotsky, os professores devem partir da zona de


desenvolvimento proximal (aquilo que ela já sabe e tem a capacidade de
resolver sozinho), para desenvolver a zona de desenvolvimento potencial
(aquilo que ela tem capacidade de aprender, mas ainda necessita da
orientação de um adulto ou colega para compreender)

É importante destacar que, além do apoio dos adultos e professores, a


criança pode aprender com seus colegas por meio das atividades, jogos e
brincadeiras em grupo, desenvolvendo hipóteses e conceitos compartilhados. A
troca entre crianças é importante para o estabelecimento de relações e a
expressão de sentidos e pensamentos.

Na Educação Infantil, as crianças se convertem em sujeitos ativos do


processo de aprendizagem quando despertadas para o prazer e a
responsabilidade de aprender. Essa atitude participativa é o ponto de partida
indispensável para a capacidade de pensar, discriminar, cooperar e ter a
habilidade de se adaptar às novas exigências do grupo e do meio.

Frente às colocações mencionadas, chegou-se ao seguinte problema


de pesquisa:
De que maneira a reflexão sobre os estilos de aprendizagem dos
alunos, auxilia a professora de Educação Infantil a se auto-regular e
transformar-se para uma prática pedagógica significativa?
Atrelado a esse problema de pesquisa, encontra-se como objetivo
principal desse trabalho, analisar o estilo de aprender e ensinar da professora
de Educação Infantil e seus mecanismos de auto-regulação durante sua prática
pedagógica na sala de aula. Desse objetivo central decorreram
necessariamente os seguintes objetivos específicos:
Identificar os estilos de aprendizagem predominantes dos alunos e
da professora de Educação Infantil;
Estimular a professora de Educação Infantil a repensar,
cotidianamente, sua prática e o reflexo no aprendizado dos alunos;
Oportunizar um ambiente de parceria entre pesquisadora e
professora a fim de ressignificar a prática docente a partir da reflexão do
processo;
22

Verificar se, ao longo do ano, as crianças de Educação Infantil


mudam seus estilos de aprendizagem ou não.
A pesquisa apresentou uma abordagem qualitativa que, segundo
Lüdke e André (1986, p.13), significa a obtenção de dados descritivos,
conseguidos no contato direto do pesquisador com a situação estudada,
enfatiza mais o processo do que o produto e se preocupa em retratar a
perspectiva dos participantes. Tais dados serão utilizados para fundamentar e
embasar a parte teórica desta dissertação.
A pesquisa qualitativa ainda é subsidiada por três abordagens, sejam
elas o estudo de caso, a pesquisa participante e a pesquisa ação. Nessa
pesquisa qualitativa a abordagem escolhida é referente à pesquisa ação, que
segundo Ludwig (2009, p.60) é uma atividade cooperativa entre os
representantes de uma determinada situação e os pesquisadores convidados,
com vistas a solucionar um problema coletivo. Optou-se por tal abordagem e
enfoque a fim de não reduzir a pesquisa a um mero levantamento de dados,
pois, segundo Severino (2002, p. 22)

Às vezes, a dissertação de mestrado e até mesmo as teses de


doutorado são reduzidas a um levantamento puramente
experimental de dados observados e quantificados, fundados em
procedimentos prioritários ou puramente estatísticos.

Assim, a pesquisa apresenta a abordagem qualitativa porque houve


momentos de imersão na prática do dia a dia de sala de aula a fim de ter um
maior contato com os fenômenos que se desenrolam no cotidiano desse
ambiente, bem como uma descrição mais fiel destes movimentos de
aprendizagem e ensino existente no campo de pesquisa.
Entende-se dessa maneira que a pesquisa-ação realizada propôs a
analisar o ambiente da Educação Infantil a fim de buscar soluções para os
desafios vividos no dia a dia da realidade escolar. Nesse viés, a professora não
se tornará apenas objeto de pesquisa, mas também pesquisadora de suas
próprias práticas e realidades, por meio da parceria entre a professora de sala
de aula e a pesquisadora.
Esse trabalho foi realizado em duas escolas de Educação Infantil da
cidade Curitiba/PR, com três professoras de Educação Infantil que trabalhavam
com crianças de 3, 4 e 5 anos e 26 alunos selecionados.
23

Para a coleta dos dados sobre o estilo de aprendizagem das


professoras foi utilizado o Questionário Honey-Alonso de Estilos de
Aprendizagem (QHAEA) – (Anexo A), com tradução e adaptação para Língua
Portuguesa realizada pela Profa. Dra. Evelise Maria Labatut Portilho (2003).
Esse instrumento comporta os 4 Estilos de Aprendizagem (reflexivo,
ativo, teórico e pragmático), sendo mesclados e distribuídos ao longo dos 80
itens que compõem o questionário.
Cada estilo de aprendizagem comporta 20 das 80 perguntas.
Para definir o estilo predominante da pessoa analisada foi necessário
que o entrevistado lesse e marcasse todas as respostas que considerava
adequadas ao seu estilo de aprender. Em seguida, foi necessário fazer a soma
da pontuação que o entrevistado alcançou em cada estilo e destacar aquela
que apresentou maior destaque.
O estilo que apresentou maior pontuação foi considerado como
predominante.
Para detectar o estilo predominante de cada criança, foi utilizado o
instrumento de estilos de aprendizagem para crianças Portilho/Beltrami,
composto de 12 perguntas, com quatro opções de respostas referentes aos
quatro Estilos de Aprendizagem (reflexivo, ativo, teórico e pragmático), sendo
mesclados e distribuídos ao longo das 12 perguntas que compõem o
questionário.
Como é um instrumento destinado para crianças, as perguntas
apresentam-se no topo do instrumento sendo seguido de uma ilustração de
modo a possibilitar que a criança indique qual a melhor resposta para seu
estilo. Para que isso se tornasse possível, foi necessário que cada criança
escutasse atentamente a leitura da frase feita pela pesquisadora. À medida que
a pesquisadora realizava a leitura da frase, ela apresentava para a criança a
figura correspondente e deixava que ela fizesse sua própria escolha, indicando
a figura desejada.
Para que as crianças participassem da pesquisa foi necessária a
assinatura dos pais ou responsáveis do Termo de Consentimento Livre
Esclarecimento (Anexo C).
Para realizar as observações das salas de aula, foi criado um
instrumento de observação (anexo D).
24

Segundo Lakatos e Marconi (2001)

A observação é uma técnica de coleta de dados para conseguir


informações e utilizar os sentidos na obtenção de determinados
aspectos da realidade. Não consciente apenas em ver e ouvir, mas
também em examinar fatos ou fenômenos que se desejar (p.190)

Desse modo, essas observações tiveram como finalidade anotar a


prática das professoras nas aulas ministradas, descrever as atividades, e
registrando a postura dos alunos frente às aulas.
Esse instrumento foi usado para apresentar às professoras exemplos
de seu modo de dar aula, com a finalidade de fazê-las refletir suas práticas a
fim de reavaliar sua postura em sala de aula e seu trabalho de modo geral.
Deste modo, os participantes da pesquisa foram convidados a perceber
o seu trabalho sob dois ângulos distintos por meio da observação.
Por fim, utilizou-se, uma entrevista semi-estruturada que, segundo
Ludwig (2009, p.66), é baseada em questões específicas, porém sem
ordenamento rígido.
Nessa entrevista estabeleceu-se o primeiro contato a fim de captar
informações sobre sua trajetória enquanto profissional do ensino, os aspectos e
causas que as levaram a optar pela docência na Educação Infantil, bem como
os itens que a levaram, ou não, a buscar uma formação continuada, entre
outros aspectos. (Anexo D)
Para participar da pesquisa houve um momento de apresentação da
proposta para as professoras dessa faixa etária e, depois de explicado o
objetivo e a intenção da pesquisa, as professoras tiveram a possibilidade de
decidir se fariam parte desse trabalho, uma vez que era imprescindível que as
professoras se voluntariassem, pois exigiu delas comprometimento e reflexão
para o re-significar da prática pedagógica docente.
As professoras que optaram fazer parte da pesquisa assinaram o
termo de consentimento livre e esclarecido (anexo B).
Para essa pesquisa, três professoras se voluntariaram a fazer parte:
duas da escola particular e uma professora da escola pública.
Essa dissertação está dividida em quatro capítulos.
25

O primeiro capítulo “Aprendizagem na Educação Infantil, Nele


desenvolve uma revisão conceitual sobre a aprendizagem humana, suas
características e implicações; assim como uma revisão a cerca da teoria dos
estilos de aprendizagem.
No segundo capítulo, “A professora e o ensino na Educação Infantil, o
foco está na formação de professores de Educação Infantil na perspectiva
histórica e legal. Realiza-se, ainda, uma reflexão sobre o cuidado na Educação
Infantil, a partir da visão de Leonardo Boff. A perspectiva atual da formação de
professores está contemplada na fundamentação do grupo de pesquisadores
do Conselho Nacional de Pesquisa dos Estados Unidos, representados nesta
obra por Bransford, Brown e Cocking (2007).
O terceiro capítulo sobre a Metacognição apresenta a fundamentação
relativa a esta teoria e as estratégias metacognitivas realizadas pelas
professoras durante o repensar do processo educativo.
O quarto e último capítulo apresenta a análise realizada a partir dos
dados de pesquisa, com o enfoque nos estilos de aprendizagem e as
estratégias metacognitivas da professora de Educação Infantil.
E por fim, elaboraram-se as considerações finais, apontando limites e
perspectivas da pesquisa que ora se apresenta.
26

1 A APRENDIZAGEM E SUAS IMPLICAÇÕES

Este capítulo está dedicado à aprendizagem humana a partir de uma


revisão conceitual, suas características, implicações, particularidades.
Tal necessidade surgiu após estudar e analisar a dissertação de
mestrado de Kátia Beltrami (2008) que apresenta um instrumento de avaliação
para crianças, o Inventário Portilho/Beltrami de Estilos de Aprendizagem, a
dissertação de mestrado de Simone de Souza Dreher (2009) sobre a
metacognição e, ainda, a tese de doutorado da professora Evelise Maria
Labatut Portilho (2003) acerca dos estilos de aprendizagem e da
metacognição.
A partir dos estudos acima citados, sentiu-se a necessidade de
transportar tais conhecimentos para dentro do ambiente da Educação Infantil,
pois, segundo a pesquisa de Estado da Arte voltada para a formação de
professoras que atuam com crianças de zero a seis anos, detectou-se que,
após o ano 2005, há por volta de 281 pesquisas realizadas no âmbito da
Educação Infantil. Porém, somente nove desses trabalhos são destinados à
formação do professor que atua nesse seguimento de ensino. Dessas
pesquisas, a maioria é oriunda de programas da região Sudeste do país. No
estado do Paraná, até o inicio de 2009, não foi encontrada nenhuma pesquisa
específica sobre esse tema no banco de dados da Capes.
No site da Unicamp, foi verificado apenas um estudo voltado para a
formação de professores de Educação Infantil, enquanto que no banco de
dados da PUCPR foram encontradas duas dissertações voltadas
especificamente para a formação de professores desse seguimento, sendo
uma com enfoque histórico e a outra com ênfase em Estado da Arte.
Sobre os estilos de aprendizagem, encontrou-se no banco de dados da
Capes somente uma tese com esse foco e seis dissertações, sendo a maioria
focada no ensino superior. Somente a dissertação de Kátia Beltrami tinha o
enfoque na Educação Infantil.
Em relação à metacognição foram encontradas no banco de dados da
Capes, seis teses de doutorado que se fundamentam nos princípios
27

metacognitivos e dez dissertações, todas escritas a partir da realidade


educacional e tendo maior incidência a partir do ano de 2008.
Tais constatações demonstraram a necessidade de utilizar o espaço
da Educação Infantil como foco de pesquisa, a fim de possibilitar à professora a
transposição do papel de assistencialista3 para o de pesquisadora cuidadora4
de sua realidade, tornando-se agente ativa de transformação em seu ambiente
de trabalho.
Para compreender essa dinâmica, fez-se necessário iniciar com a
contextualização da sociedade atual, privilegiando aspectos salientados pelos
autores elegidos na bibliografia e que, por sua vez, contribuem para uma
análise mais ampla do processo de aprendizagem.

1.1 A SOCIEDADE ATUAL E A APRENDIZAGEM

Diversos estudiosos escrevem e discorrem a respeito de como educar,


o que e para que ensinar na sociedade moderna. Todavia, um discurso
coerente implica, acima de tudo, entender qual sociedade é essa, quais tipos
de laços se criam e que seres humanos se forma a partir dessas relações.
Segundo Bauman (2001), vivemos atualmente numa “modernidade
líquida”, interpretada como a vida numa sociedade que tem possibilidade de
adaptação às diversas necessidades o que, em outras palavras, significa
fluidez, transbordamento, inundação, desprendimento de espaço e luta contra a
perda de tempo. O que importa é a extraordinária mobilidade que essa
modernidade proporciona sem desperdício de tempo.
Com isso, o tempo passa a ser um dos focos da sociedade moderna,
e, conceitos como gerenciar processos, otimização de recursos, mapeamento
de informações e roterização passam a fazer parte do vocabulário
contemporâneo, de modo a conter a perda de tempo.

3
Aquela que está somente para dar assistência as necessidades básicas da crianças, ou seja,
está designada somente para zelar pela integridade física da criança, bem como alimentar e
higienizá-la.
4
O termo cuidado apresenta-se nesse trabalho, fundamentado nas idéias de Leonardo Boff
(2008), que enfoca a dimensão ontológica do ser humano, ou seja, ele faz parte da essência do
homem. “Sem cuidado deixamos de ser humanos” (Boff, 2008, p. 89).
28

Aparentemente, essa nova “modernidade líquida” causa a impressão


de liberdade plena das escolhas, do indivíduo ir e vir, ou seja, ser o que bem
entender. Contudo, Bauman (2001, p.12) alerta sobre essa mudança

(...) da sociedade sólida (pouca mobilidade, regras rígidas e pouca


possibilidade de escolhas individuais) para a sociedade líquida
quando salienta que os sólidos que estão para serem lançados no
caminho e os que estão derretendo neste momento – modernidade
fluida – são os elos que entrelaçam as escolhas individuais em
projetos e ações coletivas.

A aparente liberdade é nada mais nada menos do que a escolha que a


pessoa faz para se redistribuir e/ou relocar num poder ainda maior.
Essa perspectiva de fluidez atinge todos os âmbitos sociais, incluindo
a infância. Vêem-se nos dias atuais crianças correndo de um lado para o outro,
mas não para brincar e sim para dar conta de agendas apertadas de
compromissos, como aulas de computação, línguas estrangeiras,
musicalização, entre outras. O tempo da infância mudou, e nas raízes dela
encontramos elementos nítidos dessa modernidade líquida.
Nessa tentativa de fazer com que as crianças se façam presentes em
algum seguimento, as famílias acabam por alterar os rumos da infância, a fim
de prepará-las para um futuro competitivo e acirrado. É nesse momento que
doenças como depressão, hiperatividade, distúrbio de atenção, bipolaridade,
entre tantas outras, passam a caracterizar gerações que se encontram
irritadas, aflitas e precoces.
O cenário atual deve-se, principalmente, à fragilidade das relações
estabelecidas nos dias atuais, bem como a quantidade e rapidez das
informações.
A esse respeito Pozo (2002, p. 35) complementa,

Um traço característico de nossa cultura da aprendizagem é que, em


vez de ter de buscar ativamente a informação com que alimentar
nossa ânsia de previsão e controle, estamos sendo abarrotados,
superalimentados de informação, na maioria das vezes em formato
fast food.
29

A pessoa, ao andar na rua, ligar uma televisão, escutar um rádio,


navegar na internet, etc, tem acesso a milhares de informações, oriundas de
espaços diferentes, muitas vezes sem significado à realidade que vive.
Aquele que apresenta maior habilidade para selecionar as novas
informações, distinguindo o que, o porquê, e para que delas, tem a
possibilidade de se ajustar com maior facilidade aos novos padrões sociais.
Nesse sentido, a sociedade atual recebe de alguns autores o nome de
sociedade da informação (SI), devido à grande gama de informações a que
está imersa e submetida. Isso se efetivou, segundo Beltrami (2008, p.24), “em
decorrência das inúmeras tecnologias que possibilitam a difusão das
informações”, ou seja, atualmente as pessoas têm uma facilidade imensa em
acessar dados e conteúdos por meio das tecnologias desenvolvidas para
comunicar as massas.
O conjunto dessas tecnologias é denominado de TICs (tecnologias da
informação e da comunicação) e estão difundidas em todos os setores sociais,
encontrando-se ao dispor de todos.
Assmann (2007, p. 17) faz uma pertinente reflexão sobre as TIC,
indicando que

A profundidade e a rapidez da penetração das TIC está


transformando muitos aspectos da vida cotidiana. Isso constitui uma
das principais marcas do atual período histórico. Ao longo de toda a
evolução da espécie humana, nunca houve mutações tão profundas e
rápidas.

A esse respeito Pozo (2002, p. 35) complementa,

não é preciso buscar ativamente a informação, desejar aprender algo,


para encontrá-la. É, antes, a informação que nos busca, através da
mediação imposta pelos canais de comunicação social.

Tais pontuações indicam que existe uma fácil acessibilidade às


diversas informações, entretanto ressalta-se que ter informação não é garantia
de convertê-la em conhecimento aprendido.
Pelo motivo acima citado é que Assman (1998) e Pozo (2002), trazem
uma nova denominação à sociedade, intitulando-a de “Sociedade do
30

Conhecimento” (knowledge society). Ambos compartilham a idéia de que a


capacidade de aprender e transformar as informações em conhecimento é a
grande riqueza de uma pessoa ou nação.
Na busca pela excelência, o conhecimento deveria ser foco das
atenções sociais. Não é para menos que Assman (1998, p.19) afirma que “O
conhecimento- e não os simples dados digitalizados- é, e será, o recurso
humano, econômico e sociocultural mais determinante na nova fase da história
humana que já se iniciou”.
Essa nova fase acaba por atingir os espaços da Educação Infantil,
transformando a criança em sujeito de possibilidades para o aprender e não
somente reproduzir, como muitos acreditavam. Em conseqüência deste estilo
de vida moderna, surge no século XXI a denominada “sociedade aprendente”
(learning society), utilizada por Assman (1998), na qual pressupõe exigências
relacionadas à educação desde sua base - Educação Infantil - até os cursos de
aprimoramento – Ensino Superior- mudando, por sua vez, as tendências atuais
a respeito do conhecimento e da aprendizagem.
Frente a esse novo contexto, cabe à escola, em especial ao professor,
rever conceitos importantes em relação à aprendizagem do aluno, tendo como
base os conhecimentos necessários para compreender os caminhos da
aprendizagem, suas possibilidades e limitações, bem como ensinar o aprendiz
a ser autor de seus pensamentos.
Parolin (2007, p. 34) afirma

Cada pessoa tem sua forma pessoal de aprender, que chamamos de


estilos de aprendizagem. Aprender é um processo contínuo e
gradual. Isso quer dizer que vamos aprendendo, pouco a pouco, e
durante toda a vida. Sendo esse processo, portanto, pessoal e
individual, apesar de estar vinculado ao contexto socioafetivo a que
cada um está ligado e à qualidade das relações que estabelece, é
fundamental que seja conhecido e tipificado, tanto pela pessoa que
aprende como pela pessoa que se propõe a ensinar. A esse
movimento chamamos de conhecimentos metacognitivos, que é o
aprender do seu próprio conhecimento.

Nesse sentido, fica explícito que ninguém pode aprender por ninguém
e, ao mesmo tempo, para aprender necessita-se do outro. O processo de
aprendizagem acontece na interação do sujeito com o objeto, do aprendiz com
31

aquilo ou aquele que lhe oportuniza assimilar e acomodar as informações que


recebe.
Desse modo, por compreender o papel importante que a aprendizagem
ocupa na vida das pessoas ao longo de suas caminhadas, apresenta-se nas
páginas a seguir o conceito de aprendizagem adotado nessa dissertação.

1.2 A APRENDIZAGEM

O que se entende por aprendizagem? Quando aprendemos? Por que


aprendemos?
Para responder a essas questões, é oportuno compreender que o
processo de aprendizagem humana inicia com os movimentos que a criança
realiza na interação com o meio em que está inserida. Esses movimentos são
caracterizados, segundo Pozo (2005), como sendo o comportamento, isto é,
tudo que a pessoa faz e que envolve ação e resposta. Por sua vez, ao agir, a
criança recebe informações do ambiente as quais transformam em
representações, não apenas de processos de construção pessoal, mas
também de construção mútua com o mundo. Estas por sua vez são construídas
a partir da interação com os diferentes objetos.
Se entrarmos em uma sala de aula de Educação Infantil, ficaremos
surpresos em ver como as crianças passam por essas etapas até a aquisição
do conhecimento. De maneira natural, os questionamentos frente às situações
de aprendizagens tornam-se naturais, uma vez que estão sempre perguntando
por que fazemos certas coisas, o que significa um termo utilizado em sala, etc.
Nessa dinâmica, podemos perceber os caminhos distintos que cada
criança encontra para aprender, dinamizando assim as estratégias de
aprendizagem utilizadas em sala de aula.
Por compreender que a aprendizagem ocorre na interação entre os
aspectos genéticos e sociais, buscou-se nas teorias sobre aprendizagem
aquelas que compreendem a pessoa como uma totalidade, isto é, aquela que
pensa, age e interage e sente.
Partindo desse pressuposto, optou-se nessa pesquisa por estudar a
aprendizagem do ponto de vista cognitivista, priorizando os trabalhos do
32

Comitê de Pesquisas da Aprendizagem e da Prática Educacional, Comissão de


Educação e Ciências Sociais e do Comportamento e do Conselho Nacional de
Pesquisa dos Estados Unidos representados por Bransford, Brown e Coocking
(2007); Pozo (2002; 2005), Claxton (2006), Portilho (2003; 2009), entre outros.
Para Portilho (2009, p. 72),

Os teóricos cognitivos contemporâneos estudam uma quantidade


extensa entre os quais se encontra a aprendizagem, a memória, a
formação de conceitos, a solução de problemas, a tomada de
decisões e a linguagem. Esses mesmos pesquisadores destacam
que o conhecimento resulta dos processos mentais (dados inato), da
interpretação que o sujeito faz e do sentido que empresta aos fatos
em interação com o meio em que vive.

Ferreras (1998) complementa a definição de Portilho (2009), afirmando


que
Los psicólogos modernos consideran que las personas realizan
procesos de elaboración e interpretación de los eventos y estímulos
del medio ambiente. Estas elaboraciones e interpretaciones son tan
importantes que el comportamiento de las personas se ajusta sobre
todo a estas representaciones internas. Tales representaciones,
pensamientos, expectaciones, y percepciones son conocidas como
5
cogniciones, un término que se refiere a los procesos mentales (p.
43).

A partir do exposto, é possível afirmar que a aprendizagem ocorre,


quando o sujeito consegue interpretar, transformar e significar as informações
que recebe, sendo capaz de resgatá-las em diferentes situações e tempos. Por
isso, nem todas as informações recebidas pelo sujeito é transformada em
conhecimento.
Nesse espaço de interação entre sujeito e meio é que ocorrem os
processos mentais. Portilho (2009, p.17) atribui ainda à conduta na concepção
cognitivista “não mais a sucessos externos, mas a certas estruturas de caráter
interno, ou seja, ainda que os sujeitos tenham capacidades ou inteligências
para aprender, é necessário que o ambiente os brinde com oportunidades ao
desenvolvimento de tais capacidades e inteligências”.

5
Os psicólogos modernos consideram que as pessoas realizam processos de elaboração e
interpretação dos eventos e estímulos do meio ambiente. Estas elaborações e interpretações
são tão importantes que o comportamento das pessoas se ajusta sobre tudo a estas
representações internas. Tais representações, pensamentos, expectativas, e percepções são
conhecidas como cognição, um termo que se refere aos processos mentais.
33

Partindo desse ponto de vista, compreende-se que as interações entre


sujeito e meio são essenciais para a construção da aprendizagem, expressa
em condutas mais elaboradas e conscientes. Esse movimento de relação entre
natureza e criação define a forma como o sujeito irá estruturar seu
pensamento, tornando sua aprendizagem única.
A situação acima descrita pode ser interpretada na figura abaixo:

Figura 1- Construção da Aprendizagem


Construção da
aprendizagem

Sujeito Meio Corpo


“S” Ambiente constantemente
em
conhecimento

Uma das maneiras de se perceber que a aprendizagem ocorreu é


quando a pessoa utiliza os conhecimentos construídos em outras situações,
seja por transferências, analogias, etc.
Como exemplo, apresenta-se uma situação vivida pelo pesquisador
durante o trabalho com o tema texturas, onde uma aluna, ao experimentar a
sensação da lixa, relata:

Professora: Essa é a lixa, de textura áspera; vejam, passem a mão.


Aluno 1: Ai, isso arranha a mão.
Aluno 2: É arranha mesmo.
Aluno 3: Ha ha, ha, isso parece com a careca do meu pai. Faz
cócegas.
Professora: É mesmo! Por quê?
Aluno 3: Porque quando meu pai deixa o cabelo crescer, fica parecido
com a lixa, e toda vez que eu passo a mão, eu dou risada. Faz
cócegas.

Conforme se verifica no exemplo, é nesses movimentos de


aprendizagem que novas definições são geradas, ressignificando o conceito de
aprendizagem. Tal situação impulsionou e ainda impulsiona a comunidade
34

acadêmica a desbravar novos caminhos e, é nessa busca que nos últimos


anos ocorreram transformações nas investigações acerca da aprendizagem
humana, gerando uma evolução significativa nesse campo. Segundo
Bransford, Brown e Coocking (2007, p.19)

a revolução nos estudos da mente ocorrida nas últimas três ou quatro


décadas tem conseqüências importantes para a educação. A final o
mundo vive uma expansão expressiva dos estudos científicos sobre a
mente e o cérebro, os processos de pensamento e aprendizagem, os
processos neuronais que acontecem durante o pensamento e a
aprendizagem e, também, sobre o desenvolvimento da competência.

Os estudos sobre a mente humana impulsionam a comunidade


acadêmica a ampliar seu olhar sobre a aprendizagem, concebendo-a como um
processo que articula tanto aspectos inatos como ambientais do sujeito que
aprende. O ambiente social ou a cultura social a que o indivíduo se encontra
inserido, tem sua contribuição na forma como esse constrói seus conceitos e
idéias acerca das situações de mundo com que se depara.
Nessa perspectiva, as necessidade de mudanças nas dinâmicas de
ensino/aprendizagem encontradas dentro das salas de aula tornam-se
necessárias, uma vez que, segundo Pozo (2002, p.23), a aprendizagem vivida
atualmente está relacionada com as necessidades da mudança. Senão, veja-
se:

ligada cada vez mais a exigente demanda de novos conhecimentos,


saberes e habilidades que propõe a seus cidadãos uma sociedade
com ritmos de mudanças muito acelerados, que exige continuamente
novas aprendizagens e que dispor de múltiplos saberes alternativos
em qualquer domínio requer dos alunos, e dos professores, uma
integração e relativização de conhecimentos que vai além da mais
simples e tradicional reprodução dos mesmos .

Neste raciocínio, o ambiente impulsiona as pessoas a buscarem novas


aprendizagens em ritmos cada vez mais acelerados, e, ao construírem suas
aprendizagens, os sujeitos se adaptam e se desenvolvem nas diferentes
situações vividas. Pozo (2002), define que a “aprendizagem é sempre uma
construção e não uma mera réplica da realidade” (p. 49). As alterações que a
aprendizagem causa no sujeito o modificam, não somente nas relações
estabelecidas entre sujeito/sujeito, mas também sujeito/sentimentos,
35

sujeito/sociedade, bem como nas relações estabelecidas entre


aprendizagem/sujeitos.
Durante um período de observação em uma das escolas pesquisadas,
pode-se detectar momentos de aprendizagem entre duas crianças de cinco
anos, durante uma aula de matemática. As crianças protagonizaram uma
situação de ensino/aprendizagem significativa.

Aluna 01 - Eu não sei encher bexiga!


Aluna 02- Deixa que eu te ensino! Faz assim coloca a boca aqui e
assopra e quando você for colocar mais ar pra dentro, segura essa
parte aqui para o que você já encheu não sair!
Aluna 01- Deixa eu tentar!
Aluna 01- Assim?
Aluna 02 -Isso!
Aluna 01- Tia, eu consegui encher a bexiga!!! Eu consegui!

Observação 01 - Rede Particular, Turma A

A situação descrita acima demonstra que a aprendizagem humana não


necessita de espaços, recurso ou tempo determinado ou sistematizado.
Constantemente, os sujeitos alternam seus papéis entre aquele que ensina e
aquele que aprende, haja vista que a aprendizagem, para a espécie humana, é
considerada uma característica determinante e singular.
Determinante porque aprendermos coisas novas durante todo o ciclo
da vida, e em cada estágio desenvolvemos mais a nossa capacidade de
aprender. Somos, com isso, orientados a saciar nossas necessidades básicas
e também instruídos a sobreviver às novas estruturas da sociedade, bem como
manipular as novas tecnologias e, com isso, aprendemos a viver no dia a dia
da aprendizagem sem fim.
E singular porque cada sujeito tem suas ferramentas próprias para
interpretar os fatos e associá-los com experiências anteriormente vividas, pois,
segundo Pozo (2002, p.49) “o que aprendemos, depende em boa parte do que
já sabíamos. Portanto, duas pessoas confrontadas com a mesma realidade
podem não ver a mesma coisa”, ou seja, as experiências anteriores de cada
sujeito são determinantes para acomodar os novos conhecimentos.
Seguindo essa mesma linha de raciocínio, Claxton (2005, p.17) afirma
que “a aprendizagem modifica não somente o nosso conhecimento e o nosso
agir, mas também o nosso ser”. Assim, a cada nova aprendizagem são
36

alteradas as ações a fim de dar espaço aos novos conhecimentos adquiridos,


desenvolvendo uma nova mudança de postura por parte do sujeito, o qual
passa a relacionar-se no mundo do conhecimento de outra forma. Bransford,
Brown e Coocking (2007, p.156) afirmam ainda que “a aprendizagem modifica
também a estrutura física do cérebro, que, por sua vez, gera alterações na
organização funcional do mesmo, organizando-o e reorganizando-o a cada
nova aprendizagem”. Com essas afirmações, os autores indicam que partes
distintas do cérebro podem estar preparadas para aprender em tempos
diferentes.
O sujeito se forma a partir da interação nos diferentes contextos em que
se encontra inserido, indicando que o ato de aprender ultrapassa os muros da
escola e se instala em toda a existência humana. Segundo Pozo (2002), é
“graças à aprendizagem que incorporamos a cultura, na qual, por sua vez, traz
incorporadas novas formas de aprendizagem” (p. 25). Com isso, cada
sociedade associada às suas culturas geram suas próprias formas de
aprendizagem.
Certo é que todos os dias se aprendem coisas novas dentro da interação
social, havendo, assim, uma reestruturação cognitiva que permite ao sujeito
passar a utilizar esse novo objeto de conhecimento. Portanto, a aprendizagem
da vida não se dá de forma estanque, uma vez que os conhecimentos
adquiridos tem significado e se apresentam unidos.
A esse respeito, Portilho (2009) aponta que

Pessoas que vivem em um mesmo ambiente e em uma mesma


realidade aprendem diferentemente umas das outras. A resposta que
ambas propõem reside na maneira distinta de cada um reagir,
justificada pelas diferentes necessidades diante da aprendizagem que
lhes é oferecida. (p.78)

Nesse caso, cada sujeito tem uma forma de olhar para o mesmo objeto
e interpretá-lo de maneira distinta de seu colega, o que faz com que cada um
processe uma informação diferente. Perraudeau (2009) afirma ainda

(...) que a aprendizagem é dependente da situação na qual se


desenvolve. Para uma mesma aprendizagem, certas situações serão
consideradas facilitadoras, contrariamente a outras. A aprendizagem
está, assim, no centro de uma rede de variáveis cujas
interdependências agem sobre os efeitos (p. 14).
37

Muitas vezes, a reação que cada sujeito tem perante um fato ocorrido
pode gerar sentimentos contrários, o que torna a aprendizagem de certas
situações prazerosas para uns e difícil para outros. É partindo desse foco que
Claxton (2005, p.24) define que aprender

Significa ter a capacidade de lidar de modo inteligente com a


incerteza e a persistir diante da dificuldade, quando isso for
importante. Significa fazer escolhas sobre quais convites de
aprendizagem aceitar e quais declinar, tendo por base uma
avaliação astuta de seus próprios objetivos e recursos, e não sua
insegurança ou incerteza. Significa ter uma caixa de ferramentas
variadas de abordagens de aprendizagem; ter a capacidade, a
coragem e o entusiasmo para empregá-los eficientemente.

Tal reflexão aponta para algo extremamente importante relacionado com


a aprendizagem, o “objeto” a ser apreendido. Afinal, só se aprende quando se
tem desejo de fazê-lo, ou então, necessidade ou vontade. Pensar nos sujeitos
em relação à aprendizagem é pensar neles com “fome” de aprender.
Se os sujeitos não sentem fome, não vão comer nem buscar por comida.
Assim ocorre com o aluno: se não sentir “fome de conhecimento”, não vai
desejar aprender.
Para despertar o desejo, é necessário lançar desafios – afinal, somente
através dos desafios é que as crianças irão buscar o conhecimento e, com
isso, a aprendizagem. Desse modo, o professor jamais deve trabalhar com a
criança partindo do que ela não sabe, mas sim ter como o termo inicial a zona
de desenvolvimento real6 da criança (o que ela já sabe) para a zona de
desenvolvimento potencial7 (alargar o que ela sabe, por meio de desafios).

A esse respeito, PETERSON e COLLINS (2002, p.19) complementam

o professor deve entender o interesse e sua relevância no


aprendizado. Quando uma criança é encorajada a seguir seus
interesses, ela se envolve no verdadeiro processo da descoberta do
conhecimento por si própria. Em suas tentativas de encontrar sentido
no que vê e de resolver os problemas com os quais se depara, ela é
automotivada a descobrir ou criar “respostas”.

6
Vygotsky afirma que o desenvolvimento real (ou proximal) é o nível de desenvolvimento das
funções mentais da criança que se estabelece como resultado de certos ciclos de
desenvolvimentos já completados (1991, p.95).
7
Para Vygotsky o nível de desenvolvimento potencial é aquele determinado pela resolução de
problemas sob orientação ou em colaboração com companheiros mais capacitados. Assim
aquilo que é zona de desenvolvimento proximal hoje, será a zona de desenvolvimento real
amanhã, ou seja, aquilo que uma criança pode fazer com assistência hoje, será capaz de fazer
sozinha amanhã. (1991, p.98)
38

Pode-se constatar nas palavras dos autores, que o despertar do


interesse na criança é o principal caminho para a construção de uma
aprendizagem significativa. Para Ausubel (1968, p. 42)

o objetivo da aprendizagem significativa – ou seja, a aquisição de


novos significados- se completa por definição, antes mesmo de
qualquer tentativa de aprendizagem. De fato, na grande maioria das
tarefas da aprendizagem potencialmente significativas, as partes
componentes do material são também significativas; entretanto,
nesses casos, a tarefa como um todo é apenas potencialmente
significativa

Quando o sujeito é convidado a trazer para seu processo de


aprendizagem seus desejos e necessidades, a aprendizagem deixa de ser
dolorosa para ser prazerosa. Tal fato pode ser observado na pesquisa na
situação abaixo apresentada:

Durante uma aula sobre os dinossauros, uma aluna pergunta a


professora:
Aluna: “Tia, como os dinossauros viviam?
Professora: Boa pergunta “X”, vamos pesquisar!
Turma: Vamos! Eba!
Professora: Será que eles viviam juntos? Será que eles viviam em
cavernas? Que tal antes de pesquisarmos, cada um criar o seu
dinossauro para depois nós reproduzirmos como os dinossauros
viviam?
Turma: Uhuuu

Observação 02: Rede Particular, Turma A

Na observação acima, a professora partiu do interesse de um aluno da


turma e o alargou, fazendo com que os demais colegas da sala também se
interessassem pelo tema proposto. Nesse momento de desejo e interesse, o
professor deve se utilizar de estratégias e desafios diferentes para cada criança
ou grupo, pois se não ocorrer à reflexão sobre o trabalho executado, não
desenvolverá a aprendizagem, mas tão somente a memorização momentânea
da situação aprendida.
A esse respeito, Bransford, Brown e Coocking (2007, p. 167) discorrem
que “os diversos aspectos da aprendizagem contribuem para a durabilidade ou
a fragilidade da memória”. Ou seja, quando ocorre aprendizagem significativa,
o sujeito é capaz de resgatá-la em outras situações e reutilizá-la em outro
39

momento. Entretanto, tal fator não ocorre quando o sujeito somente


compreendeu a informação, e não conseguiu estabelecer relações a fim de
transformá-la em aprendizagem. Dessa forma, a aprendizagem necessita ter
sentido para que se torne durável e acessível ao sujeito em outras situações da
própria aprendizagem, conforme mostra a figura 2

Figura 2- Sujeito e Experiências - Geração de aprendizagem

Sujeito faz suas


Ambiente que brinda escolhas de
o sujeito com aprendizagem,
oportunidades relacionando-as
com experiências
anteriores para
gerar uma nova
aprendizagem.

Complementando o pensamento dos autores, Alonso, Gallego e Honey


(1994, p.22) afirmam que a aprendizagem “es el proceso de adquisición de una
disposición, relativamente duradera, para cambiar la percepción o la conducta
como resultado de una experiencia”8.

A partir dessas idéias, nota-se que são as experiências que permitem


que o sujeito transforme as informações recebidas do meio em que se encontra
inserido em aprendizagem significativa para si9. Segundo Moreira e Masini
(1982, p.04),

aprendizagem significativa, processa-se quando o material novo,


idéias e informações que apresentem uma estrutura lógica, interage
com conceitos relevantes e inclusivos, claros e disponíveis na
estrutura cognitiva, sendo por eles assimilados, contribuindo para sua
diferenciação, elaboração e estabilidade.

8
É o processo de aquisição de uma disposição, relativamente duradoura, para auxiliar a
percepção ou a conduta como resultado de uma experiência.
9
Considera-se nessa pesquisa a aprendizagem significativa, aquela que possibilita o sujeito
ser autônomo de seu pensamento, munindo-o de estruturas cognitivas que valorizem e
legitimem um pensamento coerente de libertação intelectual de quem o detém.
40

Ausubel (1968) apud Moreira e Masins (1982, p. 04) ainda


complementa que “uma experiência consciente, claramente articulada e
precisamente diferenciada, que emerge quando sinais, símbolos, conceitos e
proposições potencialmente significativos são relacionados à estrutura
cognitiva e nela incorporados”.
A aprendizagem significativa ocorre quando o sujeito toma consciência
dos caminhos necessários para realizar uma atividade e auto-regula aquilo que
deve ser transformado. Cada nova aprendizagem gera no sujeito mudanças na
sua maneira de se relacionar com o objeto. Esse movimento de construção de
aprendizagens significativas nada mais é que o processo metacognitivo, que
será abordado no terceiro capítulo.

1.3 OS ESTILOS DE APRENDIZAGEM

As considerações apresentadas acerca da aprendizagem no enfoque


cognitivista trouxeram à luz outro fator importante: a forma como cada sujeito
aprende, focada, especialmente, na relação de ensino/aprendizagem de
professores e alunos da Educação Infantil.
O caminho que cada pessoa escolhe no momento de aprender indica
sua preferência para obter melhores resultados na tarefa que se propõe a
realizar. Nesse sentido, os Estilos de Aprendizagem (styles of learning) são,
segundo Portilho (2009, p. 95), “centrados geralmente em como as pessoas
gostam de aprender”, ou seja, estão vinculados à forma como estruturam seus
pensamentos. Beltrami (2008, p. 50) entende ainda que “essas maneiras
diferentes de pensar englobam o modo como a pessoa recebe, interpreta e
desenvolve a informação”. Nesse sentido, a teoria dos Estilos de
Aprendizagem é um caminho importante a ser seguido pelas professoras de
Educação Infantil, para conhecer a forma como cada um de seus alunos gosta
de aprender, podendo assim realizar um trabalho que construa aprendizagens
significativas em sua sala de aula, auxiliando-os a articular de diferentes
maneiras, seus estilos de aprendizagem.
Vindo ao encontro do pensamento acima citado, Alonso, Gallego e
Honey (1994, p.21), afirmam que “El profesor pasa de ser el que “ensenã” a ser
41

“el que facilita el aprendizaje”10. Nessa mudança de visão, ocorre uma


alteração no papel da escola e do professor em relação ao ato de
ensinar/aprender.

Ao entender que cada pessoa tem seu estilo próprio de aprender,


compreende-se porque a pessoa se adapta melhor ao modo de certos
professores ensinarem, em comparação com outros.
A esse respeito, Alondo, Gallego e Honey (1994, p.44) propõem que

Este proceso interno, inconsciente en la mayoría de los profesores,


aflora y se analiza cuando cada docente tiene la oportunidad de
estudiar y medir sus preferências de aprendizaje, que luego
11
desembocan en preferências em sus Estilos de Enseñar.

Os professores tendem a ensinar da mesma forma que aprendem. Esta


atitude, muitas vezes, inconsciente, pode excluir os alunos que não
apresentam as mesmas características de aprender do professor.
Ao tomar consciência do seu estilo de aprender e do aluno, o professor
pode regular o ensino em direção a atender as diferenças, possibilitando a
esse obter melhores resultados diante das diversas atividades. A esse respeito,
Alonso, Gallego e Honey (1994, p.45) destacam que “El análisis de los Estilos
de Aprendizaje oferece indicadores que ayudan a guiar las interacciones de la
persona con las realidades existenciales. Facilitan un camino, aunque limitado,
de auto y heteroconocimiento”.12

O autoconhecimento permite que o professor perceba, não somente


seu estilo de aprender, mas também o estilo predominante de aprendizagem
de seus alunos, buscando realizar em sala de aula, atividades que contemplem
todos os estilos a fim de gerar maiores oportunidades de aprendizagem.
Além de identificar o estilo predominante de aprendizagem de cada
aluno, o professor poderá desenvolver atividades que contemplam os demais
estilos, proporcionando-lhe flexibilidade no seu processo de aprender.

10
O professor passa de ser o que ensina, para ser o que facilita a aprendizagem.
11
Este processo interno, inconsciente na maioria dos professores, aflora e se identifica quando
cada docente tem a oportunidade de estudar e medir suas preferências de aprendizagem, que
logo desembocam em seus Estilos de Ensinar.
12
A análise dos Estilos de Aprendizagem oferece indicadores que ajudam a orientar a pessoa
em sua interação com as realidades existenciais. Facilitam um caminho, ainda que limitado, de
auto e heteroconhecimento.
42

Este fato ajuda a compreensão do que a teoria alerta sobre o equilíbrio


dos estilos, isto é, o interessante é que a pessoa possa desenvolver
características diferentes em sua maneira e gosto de aprendizagem.
Frente à introdução feita sobre os “Estilos de Aprendizagem”, far-se-á,
nas páginas a seguir, um aprofundamento sobre essa teoria utilizando como
base de referencial teórico Catalina Alonso, Domingos Gallego e Peter Honey
(1994), Evelise Portilho (2003 e 2009) e Kátia Beltrami (2008), com o desejo de
justificar a importância dos estilos de aprendizagem na educação de crianças
de Educação Infantil e seus respectivos professores.
A escolha dos autores para o aprofundamento teórico resultou dos
estudos de doutorado da professora Evelise Portilho, que trouxe para o Brasil
(em 2003) o instrumento de Estilos de Aprendizagem, anteriormente traduzido
do Inglês, para a língua espanhola por Catalina Alonso e reformulado para a
aplicação com crianças por Evelise Portilho e Kátia Beltrami (2008), assumindo
a denominação Inventário Portilho/Beltrami de Estilos de Aprendizagem.

1.4 OS ESTILOS DE APRENDIZAGEM

A teoria dos Estilos de Aprendizagem teve como marco inicial os


estudos do norte americano David Kolb na década de 70. Durante suas
13
pesquisas, o autor criou o “Learning Style Inventory” (LSI). Seus estudos
tinham como proposta apresentar a aprendizagem de modo cíclico e
experimental, que ocorria, segundo ele, em quatro estágios: experimentação
concreta, observação reflexiva, conceitualização abstrata e experimentação
ativa.

A experimentação concreta é o estágio referente ao primeiro ponto do


processo de aprendizagem, ligado ao interesse e à vontade da pessoa em
aprender, ou seja, querer aprender. O segundo estágio, o da observação
reflexiva, é aquele em que o sujeito analisa as situações em que se encontra,

13
Inventário de Estilos de Aprendizagem.
43

fazendo reflexões sobre as informações recebidas e suas aprendizagens


anteriores, gerando uma ponte entre o que sabe e as novas informações, para
analisar todas as possibilidades que a situação pode lhe oferecer. Já o terceiro
estágio, denominado “conceitualização abstrata”, é a fase em que o sujeito cria
seus conceitos e teorias que vão sustentar suas aprendizagens. O último
estágio, intitulado experimentação ativa, é aquele em que o sujeito coloca em
prática todas as suas aprendizagens, desde o nível da vontade, até as teorias e
idéias anteriormente aprendidas, utilizando-as para solucionar problemas e
criar novas situações de aprendizagem.
Pelos fatos acima citados, a aprendizagem, na teoria de Kolb, é
apresentada de modo cíclico e individual, pois parte do sujeito e suas
necessidades e vontades. Dentro dessa teoria, Kolb apud Alonso, Gallego e
Honey (1994, p.47) define Estilos de Aprendizagem como “algunas
capacidades de aprender que se destacan por encima de otras como resultado
el aparato hereditário de las experiencias vitales proprias, y de las exigencias
del medio ambiente actual”14.
Partindo das habilidades que cada sujeito apresenta ao aprender, Kolb
constatou que os sujeitos se apóiam mais em algumas características do que
em outras durante suas relações de aprendizagem. Com isso, ele mapeou
quatro estilos de aprendizagem, que possuem características próprias. Esses
estilos ganharam os nomes de convergente, divergente, assimilador e criativo.
O estilo convergente tem como característica pessoal utilizar o
raciocínio hipotético-dedutivo para chegar a uma solução sobre um
determinado problema. Segundo Portilho (2009, p.98), “a conceitualização
abstrata e a experimentação ativa são dois aspectos importantes encontrados
nos aprendizes que utilizam este estilo, uma vez que definam bem os
problemas e a tomada de decisão”. As pessoas, que tem predomínio desse
estilo preocupam-se bastante com a empregabilidade das teorias e idéias.
O estilo divergente tem como características a habilidade da
imaginação e a atenção aos valores e significados da aprendizagem. Segundo
Portilho (2009, p. 98), o estilo divergente tem “a habilidade para contemplar as
situações a partir de muitos pontos de vista e para estabelecer relações dentro

14
Algumas capacidades de aprender que se destacam por cima de outras como resultado do
aparato hereditário das experiências vitais próprias, e das exigências do maio ambiente atual.
44

de um todo significativo, obtendo, assim, novas idéias, é algo marcante na


aprendizagem dos que têm predomínio neste estilo”. São pessoas que têm
como marca de aprendizagem as novas idéias.
Em contrapartida, o estilo assimilativo, tem como característica o
raciocínio indutivo. Segundo Portilho (2009, p.98), são as pessoas que
“apresentam habilidade para criar modelos teóricos e assimilam observações
diferentes, embasando-as a uma explicação racional integrada”. Ou seja, são
as pessoas que se interessam pelos conceitos das novas idéias ao invés do
seu uso prático.
Por fim, apresenta-se como característica do estilo criativo a
capacidade de adaptação às novas situações. Segundo Portilho (2009, p.99),
as pessoas com características do estilo criativo, “utilizam a experimentação
ativa e a experiência concreta, aprendendo principalmente fazendo coisas,
aceitando os riscos e atuando pelo que sentem mais do que pela lógica”.
Nesse sentido, são as pessoas que aprendem por meio de situações de ensaio
e erro.
Os estilos de aprendizagem predominantes nas pessoas podem ser
detectados por meio do instrumento “Learning Style Inventory” (LSI), elaborado
por Kolb, dentro de sua teoria sobre de Estilos de Aprendizagem. Entretanto,
deve-se ressaltar que uma pessoa que tem predominância de um estilo pode
apresentar, em outras situações, características de outro estilo, uma vez que,
segundo Portilho (2003), os estilos de aprendizagem são situacionais.
Alguns anos mais tarde, com a divulgação dos estudos de Kolb, Peter
Honey e Alan Munford, a teoria dos Estilos de Aprendizagem foi levada para a
Inglaterra e adaptada para o trabalho com empresários. Seus estudos ficaram
registrados em duas grandes obras intituladas de “The Manual of Learning
Styles15“ (1982) e “Using Your Learning Styles” 16 (1983).

Segundo Portilho (2009, p.99), Peter Honey e Alan Mumford,


“encontraram na proposta de Kolb alguma referência para seus trabalhos,
como é o caso do processo circular de aprendizagem composto por quatro
passos.” Entretanto, na teoria desses autores, os estágios de aprendizagem
foram renomeados para atender seu publico alvo de gerentes de negócios,
15
Manual dos Estilos de Aprendizagem.
16
Utilizando seu Estilo de Aprendizagem.
45

passando a ser nomeados como: tendo uma experiência (a experiência em si);


revendo a experiência (reflexão do que foi vivido); conclusões da experiência
(elaboração de hipóteses); planejando o próximo passo (aplicação do que foi
aprendido em outras situações de aprendizagem).
Alonso, Gallego e Honey (1994, p.69) explicam ainda que três
mudanças foram significativas na transição da proposta de Kolb com a
proposta de Honey e Mumford

a) Las descripciones de los Estilos son más detalladas y se


basan em la acción de los sujeitos;
b) Las respuestas al Cuestionario son um punto de partido y no
um final. Um punto de arranque, um diagnóstico seguido de
um tratamiento de mejora. Se trata de facilitar una guia
prática que ayude y oriente al individuo en su mejorapersonal
y también em la mejora de SUS colegas y subordinados.
c) Describen un Cuestionario com ochenta itens que permiten
analize una mayor cantidad de variables, que el test
17
propuestopor Kolb.

Devido a essas alterações no ciclo de aprendizagem e nos Estilos de


Aprendizagem, Honey e Mumdord criaram um instrumento diferente chamado
de “Learning Styles Questionnaire”18 (LSQ), que tinha como objetivo auxiliar a
detectar os estilos de aprendizagem desse grupo de profissionais.

Segundo Portilho (2009, p.100), o que motivou os autores acima


citados a estudar a fundo os Estilos de Aprendizagem foi o fato de “quererem
conhecer por que as pessoas que vivem em um mesmo ambiente e em uma
mesma realidade aprendem diferentemente uma das outras”. E foi na busca
por respostas a essa indagação que os autores encontraram como explicação
o fato de que o Estilo de Aprendizagem de cada pessoa origina diferentes
respostas e diferentes comportamentos frente à aprendizagem.
Partindo desse fato, Honey (1986, apud Alonso, 1994, p.69) afirma que
“los Estilos de Aprendizaje serán algo como la interiorización por parte de cada

17
a) As descrições dos Estilos são mais detalhadas e se baseiam na ação do sujeito. b) As
respostas do questionário são um ponto de partida e não um ponto final. Um ponto de
arranque, um diagnóstico seguido de um tratamento de melhora. Trata-se de facilitar um guia
prático que ajuda a orientar o indivíduo em sua melhora pessoal e também na melhora de seus
colegas e subordinados. c) Descrevem um questionário com 80 questões que permitem
analisar uma maior quantidade de variáveis, que o teste proposto por Kolb.
18
Questionário de Estilos de Aprendizagem
46

sujeito de uma etapa determinada del ciclo19”, ou seja, o sujeito interioriza uma
parte das etapas de aprendizagem, demonstrando maior afinidade com um
estágio do processo do que com outro. Advindo desse conceito, Honey e
Mumford criaram quatro Estilos de Aprendizagem que se encontram inseridos
no ciclo de aprendizagem e foram nomeados de ativo, reflexivo, teórico e
pragmático.

Como característica marcante, o estilo ativo é geralmente


predominante em pessoas que gostam de novas experiências, têm a mente
aberta e gostam de estar em grupo.
Os indivíduos que apresentam o estilo reflexivo têm como
característica principal observar as situações em diferentes perspectivas antes
de chegar a uma conclusão e distinguem como pessoas prudentes.
Já as pessoas com o estilo teórico predominante na sua aprendizagem,
apresentam como característica a integração das observações nas teorias
lógicas e complexas, encarando os problemas de modo escalonado, ou seja,
etapa por etapa. São geralmente as pessoas perfeccionistas e metódicas.
Os pragmáticos são as pessoas que tendem a analisar as idéias pela
sua funcionalidade, gostando de agilidade e aplicabilidade do que conhecem
no dia a dia.
Para detectar o estilo predominante de aprendizagem das pessoas,
Honey e Mumford dispuseram em seu instrumento 80 questões, 20 referentes
a cada estilo, no qual os sujeitos deveriam marcar as situações em que se
enquadra. A tabulação dos dados ocorre no final do instrumento, onde se
encontram 4 colunas com vintes números cada. Cada coluna corresponde a
um estilo de aprendizagem. Verifica-se o estilo predominante de cada sujeito a
partir da coluna que tiver o maior número de respostas assinaladas.
Foi por meio dos estudos de Honey e Munford que a espanhola
Catalina Alonso tomou conhecimento sobre os estilos de aprendizagem, sendo
orientada por Honey em seu estudo de Doutorado (1993).
Em sua tese, Catalina traz um novo campo de introdução à teoria dos
estilos de aprendizagem, tirando-o no entorno empresarial e introduzindo-o ao
entorno educacional superior. Catalina não apenas traduziu o instrumento
19
Os Estilos de Aprendizagem serão algo assim como a interiorização por parte de cada
sujeito de uma etapa determinada do ciclo.
47

criado pelos ingleses, como também acrescentou questões com enfoques


sociais e educacionais, originando assim o Cuestionario Honey-Alonso de
Estilos de Aprendizaje – CHAEA..
A aplicação do questionário se deu em 25 faculdades e escolas
Universitárias da Universidade Complutense e a Politécnica de Madri, somando
um total de 1.371 alunos de quarto e quinto ano. Seus estudos tornaram-se
referência na área educacional, gerando um ano depois (1994), a publicação
do livro “Los Estilos de Aprendizaje: Procedimentos de Diagnostico y mejora 20”,
em parceria com Peter Honey e Domingo Gallego.

Os Estilos de Aprendizagem são fundamentados por Alonso segundo a


visão de Keefe (1994, p.48), que afirma

Los Estilos de Aprendizaje son los rasgos cognitivos, afectivos y


fisiológicos, que sirven como indicadores relativamente estables, de
cómo los discentes perciben, interaccionan y responden a sus
21
ambientes de aprendizaje.

Para Alonso, essa definição é o ponto inicial de seus estudos sobre


estilos de aprendizagem e a relação com as diversas teorias de aprendizagem
que circundam o tema.
Traços cognitivos, afetivos ou fisiológicos são características que as
pessoas desenvolvem em suas relações no ambiente em que vivem. Portanto,
não é adequado classificar as características dos estilos de aprendizagem em
valências, isto é, destacá-las como positivas ou negativas a priori. É necessário
que o sujeito tenha a oportunidade de entrar em contato com diferentes
situações de aprendizagem, para que possa flexibilizar a sua maneira de
aprender.
As pessoas que têm o estilo ativo predominante de aprendizagem
apresentam as seguintes características: são animadas, descobridoras,
ousadas, espontâneas, criativas, aventureiras, inovadoras, divertidas,
desejosas para aprender, líderes, competitivas, participativas, criadoras de
idéias, aptas a resolver problemas, a representar papéis e usam a

20
Os Estilos de Aprendizagem: Procedimentos de Diagnósticos e melhora.
21
Os estilos de aprendizagem são traços cognitivos, afetivos e fisiológicos que servem de
indicadores relativamente estáveis sobre como os alunos percebem, interagem e respondem a
seus ambientes de aprendizagem.
48

improvisação e renovação em grande parte das suas atitudes. Sentem prazer


no risco, na novidade e na mudança.
Já as pessoas que apresentam predominância no estilo de
aprendizagem reflexivo, as características mais presentes são: observação,
ponderadas, conscientes, receptiva, analítica, paciente, detalhista, elaboradora
de argumentos, prevê alternativas, é prudente. Ainda têm preferência por
observar e refletir, para posteriormente tomar uma atitude em respeito à
situação.
As pessoas que têm o estilo teórico predominante caracterizam-se por
serem metódicas, lógicas, objetivas, críticas, estruturadas, perfeccionistas, que
buscam modelos, teorias e conceitos. Suas aprendizagens ocorrem em
situações mais metódicas, planejadas e objetivas.
Por fim, as pessoas que têm a predominância no estilo pragmático, são
sujeitos experimentadores, práticos, diretos, eficazes e realistas. Buscam a
utilidade e a praticidade nas coisas que fazem, aplicam o aprendido, São bons
técnicos, gostam de experimentar novidades, são planejadores e
solucionadores de problemas. Também são positivos, objetivos, claros e
seguros de si.
Alonso ainda contribuiu com a expansão da teoria dos estilos de
aprendizagem, criando os Congressos Mundiais de Estilos de Aprendizagem,
sendo a primeira edição sediada em Madrid, na Espanha em 2004. A segunda
edição ocorreu na América do Sul em 2006 no Chile. Já a terceira edição
ocorreu em Cáceres na Espanha no ano de 2008 e a próxima está agendada
para 2010 no México.
Foi devido aos estudos de Catalina Alonso e a publicação de seu livro
com Gallego e Honey, que Evelise Portilho tomou conhecimento da Teoria dos
Estilos de Aprendizagem. No ano de 1999, já estudante de doutorado, Portilho
em visita à Alonso, passa a ter maior contado com a teoria e os estudos
referentes ao tema, utilizando-os como objeto de estudo em um capítulo em
sua tese de Doutorado.
Ao regressar ao Brasil, já doutora, Portilho passa a ser a referência
sobre a teoria dos Estilos de Aprendizagem, traduzindo e adaptando não
somente o instrumento CHEA do espanhol para o português, como também
difundindo a teoria pelo país.
49

Foi devido a essa abertura de horizontes que, em 2006, Kátia Beltrami,


teve a ideia, junto com Portilho, de criar um instrumento de Estilos de
Aprendizagem, destinado a crianças de Educação Infantil, criando, no ano de
2008, o Inventário Portilho/Beltrami de Estilos de Aprendizagem.
A criação desse instrumento foi tema de dissertação de mestrado de
Beltrami, sob a orientação de Portilho. Nesse estudo, Beltrami (2008) adaptou
as qualidades referentes a cada estilo às características essencialmente
infantis, transferindo para esse universo as possíveis atividades, bem como as
situações típicas que acontecem no mundo infantil.
O resultado desse levantamento foi à criação do instrumento
Portilho/Beltrami, que contem 12 situações (ver anexo E) de aprendizagem,
distribuídas em 24 lâminas com figuras coloridas, uma frase explicativa que
determina o contexto da situação e as respostas, correspondentes aos quatro
estilos de aprendizagem: ativo, reflexivo, teórico e pragmático sendo
mescladas e distribuídas ao longo do instrumento.

Essa criação passou pelo processo de validação e fidedignidade, por


meio do método de teste-reteste. Para atingir o critério de validade, as autoras
contaram com a colaboração de professores e pesquisadores especialistas na
área de Aprendizagem. Na opinião dos especialistas envolvidos, as figuras e as
frases medem adequadamente cada estilo de aprendizagem, tornando válido o
instrumento, e que em virtude dos comentários realizados ao longo do
processo de validação, algumas situações e desenhos foram adaptados.

A partir das adaptações realizadas, o Inventário foi criado para ser


aplicado pelo professor, em forma de instrumento de aprendizagem, que
mostra situações como a criança gosta de aprender.

Segundo Beltrami (2008, p.60) a identificação dos Estilos de


aprendizagem em crianças de Educação Infantil, pode ser constatada

na espontaneidade e naturalidade de suas atitudes, que tornam as


características dos estilos evidentes e perceptíveis tanto nas
situações de aprendizagem formal como nas situações de
aprendizagem assistemáticas, no relacionamento com os pares, em
qualquer espaço, a qualquer hora.

Devido a essas situações observáveis, Beltrami definiu as


características de aprendizagem de cada estilo, em situações do cotidiano.
50

Segundo o Instrumento Portilho/Beltrami (2009, p.03) de


aprendizagem, a criança que apresenta a predominância no estilo ativo
demonstra

ser alegre, comunicativa, rápida ao realizar suas tarefas ou aquilo que


lhe foi solicitado, curiosa, ou seja, gosta de descobrir novidades. Ela
também prefere diversificar o ambiente onde estuda ou brinca. Em
sala de aula, é o aluno ou aluna que, no mesmo instante que
trabalha, também conversa, não permanece por muito tempo fazendo
a mesma atividade. Sua criatividade permite fazer coisas que vão
além do solicitado. A professora o (a) identifica por ser o (a) aluno (a)
que está sempre pronto a auxiliar tanto os colegas quanto ela.
Demonstra encantamento frente aos conteúdos novos, revelando seu
desejo de aprender. Nas brincadeiras com os colegas é o (a) líder,
inventa jogos e atividades, podendo ser considerado (a) o (a)
“protagonista” das situações apresentadas. Ele (a) é o (a) extrovertido
(a), que gosta de chamar a atenção dos demais. É também o (a)
responsável por conciliar as situações de conflito que surgem entre
os colegas, mostrando-se disposto (a) a ajudar.

Nessas circunstâncias, é a criança que está sempre liderando as


atividades e brincadeiras na sala auxiliando professores e colegas.

Já a criança que apresenta a predominância no estilo reflexivo, tem


como característica segundo Portilho/Beltrami (2009, p.04)

Primeiramente observa, analisa o ambiente, para em seguida


começar a participar dele. Em situação escolar, especificamente na
sala de aula, a professora a identifica como aquele aluno ou aluna
que primeiro espera os demais colegas falarem para depois se
colocar e tecer algum comentário ou conclusão. Essa prudência o (a)
faz considerar as alternativas antes de se expor. Portanto, pensa e
analisa as lições antes de realizá-las, e essa mesma atitude se repete
no momento das brincadeiras. Nas atividades lúdicas, nos jogos e
nas brincadeiras, observa primeiro os colegas brincarem, para depois
se unir a eles. Diante de várias opções de cores, por exemplo,
primeiramente observa, pensa, para em seguida selecionar a que
mais lhe agrada. Outra característica desse estilo é a criança
detalhista: tanto ao pintar quanto ao realizar outra atividade, ela
procura caprichar e ter muito cuidado para fazer o melhor e o mais
perfeito que puder.

Segundo a descrição acima, identifica-se na sala de aula o aluno com


predominância no estilo Reflexivo aquele que pensa bem antes de opinar sobre
qualquer situação, sendo muito detalhista e caprichoso em suas atividades

A criança que apresenta predominância no estilo teórico tem como


características segundo Portilho/Beltrami (2009, p.05),
51

em geral ela é organizada e planeja suas tarefas. Ao lidar com o


computador e video-game nas brincadeiras com os colegas, ela já
inicia a atividade sabendo o que quer e o que vai fazer primeiro. Esse
planejamento também se estende à realização das lições, pois a
criança teórica espera as indicações dadas pela professora antes de
iniciá-las. A questão da organização pode ser identificada durante a
montagem do quebra-cabeça, quando as peças são previamente
separadas por ela antes de iniciar a brincadeira. Outra característica
que indica a predominância desse estilo é o fato de a criança querer
saber os “porquês” dos fatos, buscando uma explicação para tudo.

É a criança que espera as informações iniciais da professora, para


iniciar a atividade já sabendo o que vai fazer. Costuma ser a criança dos
“porquês”, para saber a explicação de tudo.

Por fim, a criança que apresenta a predominância no estilo pragmático


é segundo Portilho/Beltrami (2009, p.05),

identificado nas crianças cujas atitudes são baseadas na confiança


em si mesmo e na determinação diante do que tem que ser feito. Isso
implica não escutar, não levar em consideração o que colegas
comentam a respeito de suas tarefas. Elas são decididas e práticas, o
que pode ser percebido na hora da escolha das brincadeiras, da cor
para pintar um desenho, da roupa para sair. As escolhas são
realizadas de maneira rápida, objetiva e útil. Essas crianças
apresentam autonomia na realização das tarefas. Se surge algum
problema, a criança pragmática quer logo resolver a situação, agrada-
lhe a praticidade das coisas e as novidades que surgem nas tarefas.

São crianças que confiam em suas decisões, não levando em conta a


opinião dos demais colegas, demonstrando autonomia em seus atos. As
aprendizagens que mais lhe convidam a adquirir são aquelas de caráter prático
e utilitário.

A partir das características acerca de cada estilo, cada professor pode


elaborar uma lista de sugestões de atividades que se adaptem melhor a cada
estilo de aprendizagem, buscando contemplar em suas aulas, situações que
atinjam a todos os estilos. Dessa maneira, contribui para o equilíbrio dos estilos
nas crianças, e prepara-os prepará-lo para aprender nas mais diferentes
situações.

Dessa forma, considera-se que a teoria dos estilos de aprendizagem é


um caminho para ressignificar o processo de aprendizagem tanto dos alunos
como dos professores, aprimorando constantemente a ação de aprender ao
52

longo da vida. Nessa teoria encontramos caminhos ilimitados para nossas


práticas de aprendizagens, que diversificam nossas ações de acordo com as
necessidades cotidianas.

É nesse sentido que os estilos de aprendizagem encontram-se


intimamente ligados à sociedade aprendente, uma vez que permite ao sujeito
saber como melhor aprender, oportunizando a si mesmo uma melhor
flexibilização dos seus estilos de aprendizagem.

2 O PROFESSOR E O ENSINO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

O presente capítulo tem como objetivo refletir sobre a formação de


professores de Educação Infantil no Brasil ao longo dos tempos, bem como
sobre as leis que regem a formação desses profissionais.
Essas reflexões pretendem realizar um levantamento histórico acerca
dos processos de formação de professores no Brasil, tendo como suporte as
visões de Haidar (2001), Tanuri (2000), Gatti (1997), Azanha (2001), entre
outros.
Num segundo momento, esse capítulo apresenta um entendimento
sobre a formação de professores, inicial e continuada, a partir da visão de
Nóvoa (1997), juntamente com uma análise sobre a recuperação da prática
pedagógica dos professores, por meio da reflexão, segundo a visão de
Behrens (2000).
Em um terceiro momento, indica-se um redirecionamento do cuidar na
Educação Infantil, tendo como referencial a proposta de Leonardo Boff (2008),
que propõe para a atuação do professor de Educação Infantil o trabalho a partir
de duas perspectivas. A primeira, denominada solicitude e atenção com o
outro, e a segunda, preocupação e inquietação.
E, encerrando esse capítulo, destaca-se a influência do professor no
processo de aprendizagem, segundo a visão de Bransford, Brown e Cocking
(2007), que trazem reflexões e considerações importantes acerca da
aprendizagem do professor e sua relação com o ensinar e aprender em sala de
53

aula, indicando a necessidade de o professor ser pesquisador de sua própria


realidade.
A Educação Infantil é a base da educação. Nesta perspectiva, Claxton
(2005, p.185) afirma que é nessa etapa de aprendizagem das crianças que
“pode desenvolver-se uma confiança geral em seus potenciais de
aprendizagem, na disposição de buscar oportunidades de aprendizagem e na
competência para persistir na aprendizagem e recuperar-se da frustração ou
fracasso”. Ou seja, é nesse momento que o professor tem um papel
fundamental na construção da base de aprendizagem da criança, auxiliando-a
na aquisição de ferramentas para encarar o mundo e as relações que nele
desenvolve.
Zabalza (1998, p.49 a 54) aponta a existência de “dez aspectos-chaves
de uma Educação Infantil de qualidade”, que segundo ele são fundamentais
para o desenvolvimento de uma educação de qualidade nesse seguimento de
ensino. São eles

1. Organização do espaço: Espaços amplos, bem diferenciados, de


fácil acesso e especializados. O espaço acaba tornando-se uma
condição básica para poder levar adiante muitos outros aspectos.
2. Equilibrio entre iniciativa infantil e trabalho dirigido no momento
de planejar e desenvolver as atividades.
3. Atenção privilegiada aos aspectos emocionais.
4. Utilização de uma linguagem enriquecida.
5. Diferenciação de atividades para abordar todas as dimensões do
desenvolvimento e todas as capacidades.
6. Rotinas estáveis.
7. Materiais diversificados e polivalentes.
8. Atenção individualizada a cada criança.
9. Sistemas de avaliação, anotações, etc, que permitam o
acompanhamento global do grupo e de cada uma das crianças.
10. Trabalho com os pais e as mães e com o meio ambiente (escola
aberta).

Verifica-se, assim, que é justamente nessa fase da vida que as


crianças entram em contato com os conhecimentos acadêmicos, fazendo do
professor, um agente importante para seu desenvolvimento. A esse respeito,
Hadji (2001, p.120) aponta que, na educação, cada um tem seu papel, “O
educador como auxiliar-organizador; o educando como sujeito que executa um
trabalho sobre si, facilitado pela ação do educador”. Nessas vias, fazendo um
paralelo entre o pensamento de Zabalza (1998) e Hadji (2001), cabe, como
papel do professor, estabelecer o equilíbrio entre iniciativa infantil e trabalho
54

dirigido, respeitando as fases de desenvolvimento de cada criança, enquanto


as impulsiona a aumentar seu vocabulário, e sua visão de mundo. O educando
encara o papel de demonstrar iniciativas, conhecimentos prévios e temas que
sejam de seu interesse, para que o professor possa conectá-los aos conteúdos
acadêmicos.
Assim, aponta-se, nesse capítulo, a importância de haver uma
formação de professores de qualidade, para que eles sejam capazes de
interpretar e atuar perante as ações de seus alunos, tomando consciência da
importância de seus atos para com a formação cognitiva, afetiva, relacional,
entre outras, dessa faixa etária.

2.1 HISTÓRIA E POLÍTICA DA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE


EDUCAÇÃO INFANTIL NO BRASIL.

A Educação Infantil é considerada a primeira etapa da educação


básica (lei 9394/96, título V, capítulo II, seção II, art. 29) tendo como finalidade
principal o desenvolvimento integral da criança até os seis anos de idade.
Segundo o documento introdutório do Referencial Curricular Nacional
para a Educação Infantil (RCNEI) de 1998, o número de instituições
responsáveis nesta faixa etária de ensino está crescendo, devido aos seguintes
fatores:

A expansão da educação infantil no Brasil e no mundo tem ocorrido


de forma crescente nas últimas décadas, acompanhando a
intensificação da urbanização, a participação da mulher no mercado
de trabalho e as mudanças na organização e estrutura das famílias.
Por outro lado, a sociedade está mais consciente da importância das
experiências na primeira infância, o que motiva demandas por uma
educação institucional para crianças de zero a seis anos (RCNEI,
1998, p.11).

Entretanto, a história da Educação Infantil é bem anterior a 1996


(período de início de vigência da lei n.º 9394). Seu início pode ser observado já
em 1549 com a Chegada da Companhia de Jesus, liderada pelos padres
jesuítas, que desembarcaram em nosso país juntamente com o primeiro
governador geral Tomé e Souza.
55

Por mais de 200 anos, a política educacional colonizadora ficou


entregue aos padres jesuítas até sua expulsão de todo o território português,
incluindo seus domínios, em 1759, por Marquês de Pombal, via decreto.
Sobre este tema, é oportuno transcrever o entendimento de Haidar

A expulsão dos jesuítas criou um vazio escolar. A insuficiência de


recursos e a escassez de mestres que substituíssem os jesuítas
desarticularam o trabalho educativo do país, com repercussão que se
estendeu por décadas, alcançando o período imperial. Nessas
condições, os efeitos da reforma que Pombal realizou na educação
portuguesa foram, no Brasil, sobretudo negativos (Haidar apud
Azanha, 2001, p.103).

A mencionada expulsão afetou profundamente a educação brasileira,


deixando-a abandonada. Segundo Tanuri (2000), a escassez de pessoal
habilitado e disposto a exercer o magistério, certamente dificultaria a aplicação
do Alvará de 6/11/1772, que regulamentou os exames a que deveriam ser
submetidos os professores de ensino elementar em Portugal e nos domínios.
D‟Azevedo (1893) apud Tanuri (2000) ainda complementa que, no final do
século XVIII, o estado das escolas primárias em todas as capitanias do Brasil
era deplorável, sendo que as poucas que existiam eram exercidas por homens
ignorantes. Não havia sistema nem norma para a escolha de professores e,
ainda, o subsídio literário não bastava para pagar o professorado.
Foi somente em 1820, que ocorreu, no Brasil, a primeira tentativa de
preparação de professores que, segundo Tanuri (2000), apresentava uma
forma exclusivamente prática, sem qualquer base teórica.
Em 1827, foram criadas as primeiras escolas normais brasileiras.
Contudo, tiveram uma breve vivência em virtude do baixo prestígio social que a
carreira do magistério gozava. Foi nesse momento da história que as mulheres
passaram a integrar os cargos de professoras da educação primária, pois era a
única profissão que conciliava as funções domésticas da mulher com o trabalho
fora do lar, como se fosse um prolongamento do seu papel de mãe dentro da
sociedade.
Nos dias atuais, esses aspectos ainda são fatores de relevância,
segundo aponta Gatti (1997) quando afirma que a representação desse curso
se traduz no estereótipo como de um curso adequado para mulheres, pois
permite combinar trabalho e constituição de família.
56

Fatores como o acima citado podem ser encontrados no discurso das


professoras de Educação Infantil, quando questionadas sobre quais são suas
maiores facilidade para atuar nesse seguimento de ensino. A professora B, da
sala 2, da escola particular aponta

Acho que minha maior facilidade é o nível de compreensão que tenho


pelo fato de ser mãe. Isso me possibilita compreender melhor as
crianças.

Professora B da sala 2 da Escola Particular

Nessa fala, pode-se detectar que a maternidade ainda é, na sua visão,


um pré-requisito para se trabalhar na Educação Infantil, estando embutida nela
uma crença secular a respeito das educadoras que atuam nesse seguimento
de ensino.
Retornando ao contexto histórico, vale destacar que durante o período
imperial as mudanças feitas na educação nacional foram de cunho imediatista,
com a finalidade de suprir as necessidades da coroa portuguesa, a qual,
seguindo tal pensamento, fixou o investimento educacional no âmbito superior.
Desta forma, a expressão referente à formação de professores para o ensino
básico teve insignificantes respaldos históricos.
Ainda, quanto ao transcurso histórico, a situação anteriormente
exposta passou a sofrer algumas alterações após a independência do Brasil,
com a proclamação da República. Assim, com a lei n° 169 de 07/08/1893, as
elites paulistanas firmaram a criação de um sistema de ensino com duração de
8 anos, no qual criou também um curso superior anexo às escolas normais
com a finalidade de formar professores para atuar nas escolas normais e nos
ginásios.
A escola normal responsável pela formação dos professores tinha uma
única cadeira, responsável pela formação pedagógica do professor.Essa
cadeira era denominada de Pedagogia e Direção de Escolas. Essa
transformação não era generalizada, pois ocorreu somente nos estados
brasileiros que tiveram a tendência de elevar o nível de formação nos cursos
normais, tais como São Paulo e o Distrito Federal.
57

No ano de 1930, iniciaram no país vários movimentos salvacionistas


que viam, na educação, uma esperança para solucionar os problemas sociais,
políticos e estruturais da época. Assim, começou a prevalecer o pensamento
sobre um Sistema Nacional Integrado que tinha a principal finalidade de reger
de norte a sul do país um sistema único educacional.
Todavia, as mudanças relacionadas à educação básica, mais
especificadamente da Educação Infantil, ocorreram apenas em 1945 com o fim
da denominada era Vargas. Neste período foi promulgada uma nova
Constituição, a qual delegou, à União, a competência para legislar sobre o
ensino do país. Com isso, promulgou-se em 1971 a conhecida Lei de Diretrizes
e Bases – LDB – Lei n° 4.024.
Esta Lei teve como objetivo a unificação do sistema de ensino,
eliminando o dualismo administrativo que vinha sido herdado desde a época do
império no Brasil.
A LDB concedeu ao Estado consideráveis margens de autonomia, mas
nem por isso trouxe soluções inovadoras, visto que manteve conservadas as
grandes linhas da organização anterior.
Ressalta-se, também, a criação da Lei Orgânica de 1942, na qual a
União englobou o ensino secundário e profissional sob a denominação comum
de “Ensino Médio”, ao qual atribuiu a finalidade genérica de formação do
adolescente.
Nesse Ensino Médio, era possível encontrar a primeira fase para a
formação do professor de Educação Infantil, que, por meio do curso técnico do
magistério, habilitava o profissional para o exercício da profissão na Educação
Infantil e no ensino de 1ª a 4ª série.
Porém, com a crise do comércio de café, a questão educacional, e
conseqüentemente o magistério, ganhou destaque Nacional.
Segundo Azanha (2001)

Foi nesses termos que os diversos movimentos sociais que então


apareceram ligados ou não aos partidos políticos passaram a se
preocupar com a escola popular, a sua reforma e a sua
disseminação. Várias tentativas reformistas ocorreram em diferentes
estados; foi nesse período que se iniciou uma efetiva
profissionalização do magistério (p.105).
58

Em seguida, muitos outros manifestos, decretos e leis foram surgindo


no cenário educacional, mas somente com a criação da LDB n.º 9394 de 20 de
Dezembro de 1996 que os profissionais da Educação Infantil ganharam seu
espaço na política de formação de professores por meio dos artigos 61 a 67 e
70 inciso I. Veja-se, a título de ilustração, o contido nos artigos 62 e 63 da
referida Lei

Art. 62. A formação de docentes para atuar na educação básica far-


se-á em nível superior, em curso de licenciatura de graduação plena
em universidades e institutos superiores de educação, admitida como
formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil
e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida em
nível médio, na modalidade Normal.

Art. 63. Os institutos superiores de educação manterão:


I - cursos formadores de profissionais para a educação básica,
inclusive o curso normal superior, destinado à formação de docentes
para a educação infantil e para as primeiras séries do ensino
fundamental;
II - programas de formação pedagógica para portadores de diplomas
de educação superior que queiram se dedicar à educação básica;
III - programas de educação continuada para os profissionais de
educação dos diversos níveis (LDB, 1996).

Conforme se verifica, foi com o artigo 62 da LDB 9394/96 que se


consolidou a formação dos profissionais de Educação Infantil e séries iniciais
em nível superior. Até aquele momento, era exigido o magistério como
formação mínima no Ensino Médio para trabalhar na Educação Infantil e nas
primeiras séries do Ensino Fundamental.
O fator acima pode ser constatado quando as professoras
entrevistadas, ao longo da pesquisa, relatam que tiveram que realizar cursos
Superiores para continuar atuando. Abaixo segue o relato da professora B.

Quando fui fazer o vestibular, minha primeira opção foi farmácia e a


segunda Pedagogia. Passei na minha segunda opção. Em outra
instituição eu passei no curso de matemática e acabei fazendo 3
anos, enquanto atuava como professora de Educação Infantil, então
minha chefe me obrigou a fazer Pedagogia e desde então atuo como
professora de Educação Infantil.

Professora B, da sala 2 da Escola Particular

O fato relatado ocorreu durante o ano em que a lei entrou em vigor,


resultando em quatro anos de estudo no curso de Pedagogia.
59

Em uma segunda entrevista, a professora A, ao ser questionada sobre


sua formação, afirma:

Quando a nova LDB entrou em vigor, o colégio onde eu trabalho,


solicitou que eu fizesse um curso superior para pode continuar meu
trabalho, foi assim que em 2003 fiz o curso Normal Superior de
Professores, porque eu só tinha o magistério.

Professora A, da sala 1 da Escola Particular

Outra situação muito semelhante é o caso da professora C da sala 1 da


Escola Pública
Devido às novas exigências da escola onde trabalhava, fui convidada
a ingressar em um curso superior, para complementar meus estudos
do magistério. A escola alegou que sem esse diploma de nível
superior eu não poderia continuar dando aula. Depois de muitos
anos, foi difícil voltar a estudar, mas eu dei conta.

Professora C, da sala 1 da Escola Pública

Os depoimentos demonstram que com a implantação da nova LDB, as


escolas de Educação Infantil tiveram que colocar seus funcionários novamente
nos bancos das escolas superiores. Segundo o Deputado Federal Ivan Valente,
no Plano Nacional de Educação (2001), a maioria dos ambientes, até então,
não contava com profissionais qualificados e, por conseqüência, não se
desenvolviam programas educacionais, não havia mobiliário, brinquedos e
outros materiais pedagógicos adequados.
Tal fator pode ser melhor explicado com a leitura da tabela abaixo, na
qual se indica que, ainda hoje, milhares de pessoas atuam na Educação Infantil
sem dispor de uma Formação inicial superior, realidade que o governo
pretendia sanar em 10 anos contados da publicação da LDB em todo o
território Nacional.

Tabela 2- Funções Docentes, por localização e nível de formação.

Educação Infantil - Pré-Escola

Urbana Rural
Fundamental Fundamental
Total Médio Superior Médio Superior
Total Total
Incompleto Completo Completo Completo Incompleto Completo Completo Completo

309.881 249.451 625 3.091 116.353 129.382 60.430 548 2.079 45.771 12.032
60

* Dados recolhidos do site do INEP22.

Conforme demonstra a tabela anterior, quase metade dos profissionais


que atuam nas zonas urbanas e mais da metade dos profissionais que atuam
nas zonais rurais, não possuem formação superior exigida pela LDB 9394/96.
Essa constatação diverge do depoimento de Tanuri (2000), ao afirmar que a
aprovação da nova LDB (lei 9394/96) – que superou a polêmica relativa ao
nível de formação médio ou superior – elevou a formação do professor das
séries iniciais ao nível superior, estabelecendo que ela se desse em
universidades e em institutos superiores de educação, nas licenciaturas e em
cursos normais superiores. Ainda que muitos professores tenham buscado
melhor formação em nível superior, essa ainda é uma realidade distante em
diversas regiões do país.
Destaca-se que os tradicionais cursos normais de nível médio foram
apenas admitidos como formação mínima (art. 62) e por um período transitório,
até o final da década da educação no ano de 2007 (título IX. Art 87, parágrafo
4).
A lei que tinha como meta corrigir uma falha existente no Plano
Nacional de Educação, que somente previa o diploma obrigatório em nível
superior aos professores do Ensino Médio (Item cinco dos objetivos e metas
p.85), ainda necessita de maior impulsão para atingir os demais profissionais
que ainda não obtiveram formação em nível superior.
Além da exigência da formação em nível superior, uma outra
perspectiva do PNE tem como objetivo central a melhoria da qualidade de
ensino através da valorização do magistério em três níveis, e formação
profissional inicial, condições de trabalho, salário e carreira e formação
continuada.
O primeiro item que diz respeito à formação profissional inicial vem
destacar a importância e a obrigatoriedade estabelecida após a lei de Diretrizes

22
Dados recolhidos do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP), no
endereço eletrônico www.inep.gov.br
61

e Bases de 1996, que exige a formação em nível superior dos professores que
atuavam e atuam na Educação Infantil.
Em seguida, assegurou a necessidade de que cada instituição de
ensino criasse condições de trabalho, salário digno e carreira. Neste sentido,
vale transcrever o entendimento do Deputado Federal Ivan Valente (2001) e
José Carlos Libâneo (2001) respectivamente

Ano após ano, grande número de professores abandona o magistério


devido aos baixos salários e às condições de trabalho nas escolas.
Formar mais e melhor os profissionais do magistério é apenas uma
parte da tarefa. É preciso criar condições que mantenham o
entusiasmo inicial, a dedicação e a confiança nos resultados do
trabalho pedagógico (p.137).

A necessidade de a organização escolar ter objetivos comuns e


compartilhados busca o envolvimento da equipe de profissionais com
esses objetivos, contarem com uma estrutura organizacional em que
as responsabilidades estejam muito bem definidas, dispor de várias
formas de comunicação entre a organização e as pessoas, ter uma
liderança que consiga motivar e mobilizar as pessoas para uma
atuação conjunta em torno de objetivos comuns (p.80).

Com base nestas considerações, é possível refletir que não basta


investir na formação inicial do professor de Educação Infantil, mas também
promover políticas internas em cada instituição de modo a criar um ambiente
participativo, apoiado em responsabilidades e estímulos proporcionando e
garantindo um ambiente próspero de formação continuada.
Nas escolas pesquisadas, encontraram-se duas realidades bem
distintas em relação ao item condições de trabalho, salário digno e carreira. Na
escola particular, a professora A, ao ser questionada sobre o que falta para
melhorar sua prática, aponta

A falta de estímulo por parte da instituição.


A falta de reconhecimento por parte da instituição e a baixa
remuneração que não me permitem fazer cursos e capacitações, bem
como a escassez de materiais para a prática com as crianças.

Professora A, da sala 1 da Escola Particular

Não tão diferente do relato apresentado, a professora B, da mesma


escola indica
62

Ainda me sinto inexperiente em determinadas situações e a falta de


conhecimento sobre certos assuntos me faz querer buscar mais,
entretanto como ganho pouco e o estímulo financeiro é baixo, não
tenho como pagar para fazer os cursos, e além do mais o colégio
acha que é obrigação minha fazer por fora não me oferecendo nada.
Ai fica difícil superar as dificuldades. Eu também tenho que comer,
né!

Professora B, da sala 2 da Escola Particular

Em ambos os relatos, a baixa remuneração e a falta de incentivo à


formação continuada caminham lado a lado. Tais aspectos demonstram que
algumas instituições de ensino estão negligenciando as condições básicas de
atuação do profissional.
Com isso o último nível apontado pelo PNE de garantir a valorização
do magistério no que diz respeito à formação continuada do professor, fica
muitas vezes restrito ao papel.
Com isso, vale transcrever o entendimento do Deputado Federal Ivan
Valente (2001)
A implementação de políticas publicas de formação inicial e
continuada dos profissionais da educação é uma condição e um meio
para o avanço científico e tecnológico em nossa sociedade e,
portanto, para o desenvolvimento do país, uma vez que a produção
do conhecimento e a criação de novas tecnologias dependem do
nível e da qualidade da formação das pessoas (p.141).

A professora C, da escola pública, apresenta um relato bem diferente


dos anteriormente transcritos, demonstrando que as palavras de Valente se
fazem presentes em determinadas instituições. Pode-se notar, na fala da
professora, que o plano de carreira, aliado à formação continuada, são
estimuladores para que o professor busque ir além da formação inicial

Todas as dificuldades que tenho, procuro acabar me inscrevendo nos


cursos que a prefeitura oferece todo o mês. Se tenho dificuldade em
alfabetizar, então vou para o curso que me ajude. Se tenho
dificuldade em tratar com a família, procuro algum curso que possa
me dar algumas respostas. Além de aprender mais, também ganho
aumento de salário com esses cursos, e isso é bom!
Professora C da sala 1 da Escola Pública

Assim, é no espaço escolar que se ressignificam os conhecimentos e


se fazem novas descobertas pedagógicas, tendo o diálogo um papel de
personagem principal com vistas à troca de experiências. Somente assim a
63

educação se transformará num movimento que vem de dentro das escolas e


não de fora delas, que nasce e se desenvolve por aqueles que a fazem.
Por último, é importante destacar que com a Lei n.º 11.114, de 5 de
fevereiro de 2006, estabeleceu-se uma mudança nas leis de diretrizes e bases
da educação Nacional (LDB 9394/96). A partir da promulgação da lei, o Ensino
Fundamental passa de oito para nove anos, e ocorreu, assim, a matrícula
obrigatória a partir dos seis anos de idade. No artigo 5 dessa mesma lei, há a
especificação do prazo limite para que Municípios, Estados e Distrito Federal
implantarem a lei até o ano de 2010. Tal medida restringiu o atendimento da
Educação Infantil para crianças de 0 a 5 anos e não mais de 0 a 6 anos, dada a
reformulação ocorrida no Ensino Fundamental que afetou a Educação Infantil.
Destaca-se que no Estado do Paraná, a referida implantação ocorreu
no ano de 2007, dando margem para inserção e adaptação de suas escolas
até o anos de 2010, conforme a Lei Federal.

2.2 FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO BRASIL: UM ENFOQUE NO


PROFESSOR DE EDUCAÇÃO INFANTIL

O Período de transição pelo qual a humanidade está passando é


marcado por mudanças rápidas em diferentes setores da sociedade. A
agilidade dessas mudanças provoca importantes rupturas, cujos conceitos,
valores e ações necessitam ser questionados, reconstruídos e ressignificados.
Um dos focos dessas alterações tem sido sobre os professores.
Atualmente exige-se que esses profissionais realinhem seu papel às novas
necessidades e demandas sociais, como a formação dos cidadãos melhor
preparados para enfrentar o mercado de trabalho, bem como aos novos estilos
de vida e, saber lidar com as novas exigências da sociedade contemporânea.
Como ensinar uma sociedade para um futuro incerto? Que métodos
utilizar? Que caminhos percorrer? Será que uma reforma educativa por si só
responde às novas demandas sociais?
Segundo Nóvoa (1997, p.09), “não há ensino de qualidade, reforma
educativa, muito menos inovações pedagógicas sem uma adequada formação
de professores”. Vale dizer, mesmo com tantas transformações ocorridas no
64

ambiente educacional, ela só terá o efeito real se o professor buscar uma


formação inicial adequada, bem como uma formação continuada que
fundamente seu trabalho e o faça refletir sobre sua ação pedagógica.
Fica evidente que não basta os professores participarem de palestras e
cursos de aperfeiçoamento, uma vez que esses são apenas desencadeadores
do processo de reflexão de seu trabalho. Para o professor ser competente
naquilo que faz, é necessário ir muito além. É necessário que o professor
almeje uma perspectiva crítico-reflexiva, tanto na sua formação pessoal
enquanto cidadão como também na formação profissional para construir um
pensamento autônomo em todos os sentidos.
Juliatto (2009, p.195) complementa

Todos os professores se envolvem com o ensino, que basicamente


trabalha com o domínio do conhecimento. Os educadores vão além:
procuram alcançar a sabedoria, que é o conhecimento que passa
pelo coração e é aplicado á vida. A espiritualidade do educador
consiste, principalmente, em unir a sabedoria ao conhecimento. Ele
tem a possibilidade de falar sobre a vida, não apenas como alguém
que conhece, mas como alguém que vive. O professor espiritualizado
procura juntar lições de vida ás suas lições de ciências.

É nessa construção que vai se moldar sua história de vida juntamente


com sua história profissional. Quando ocorre essa fusão de conhecimentos, o
docente deixa de ser um mero professor e passa a ser educador.
Behrens (2000, p.114) ainda indica que é necessária

(...) a recuperação da prática pedagógica na capacidade de reflexão


crítica, apoiando-se nas experiências vivenciadas e nas histórias de
vida dos professores. Práticas estas que não são construídas por
acumulação (cursos, técnicas), e sim por reflexão crítica do caminho
percorrido e das possibilidades de construir novos saberes ou recriar
os já conquistados.

Urge que o professor reflita suas ações de maneira individual e


coletivamente a fim de buscar uma formação continuada que possibilite
percursos educativos com eles (o professor faz parte dessa busca, constrói
com o grupo suas descobertas) e não para eles (professor não deve ser
passivo, esperar que os outros pensem por ele, criando suas teorias).
Complementando, Nóvoa (1997) ainda afirma que a troca de experiências e a
65

partilha de saberes consolidam espaços de formação mútua, nos quais cada


professor é chamado a desempenhar simultaneamente o papel de formador e
de formado, ou seja, não haveria mais espaço para as certezas absolutas dos
conhecimentos, mas sim daria lugar à busca de novas argumentações,
investigações e conseqüentemente de novos por quês. Essa postura agregaria
uma nova função ao professor, a de ser pesquisador.
Ao tornar-se pesquisador, o professor estará reformando seus saberes.
Nesse viés, Behrens (2000, p. 115)) afirma que

A formação de professores é um meio útil, necessário e fundamental


para consolidar a mudança, mas por si só, nenhum curso de
formação e capacitação docente leva a mudanças substanciais no
meio educacional, principalmente se for apresentada ao grupo de
professores de maneira estanque e desligada da prática pedagógica
realizada na escola. A formação não se faz antes da mudança, mas
durante o processo.

Esse processo de pesquisar a própria realidade em que atua, faz com


que o professor desenvolva uma autocrítica de seu conhecimento, avaliando-o
e reciclando-o a cada nova investigação. O pensamento de Freire (1991, p.71)
é pertinente ao afirmar que o professor deve estar sempre se preparando para
seu trabalho, e desse modo escreve: “Ninguém começa a ser educador numa
certa terça-feira às quatro horas da tarde. Ninguém nasce educador. A gente
se faz educador, a gente se forma como educador, permanentemente, na
prática e na reflexão sobre a prática.
Por isso, existe a necessidade do diálogo entre os professores, para
que os erros e acertos de suas ações sejam compartilhados e discutidos de
maneira a buscar o apoio coletivo que, por sua vez, tem a finalidade de
construir a ação pedagógica do docente agregando o pensar e o fazer.
Ao realizar esse processo durante a prática educativa, estamos
realizando os três movimentos na capacitação docente que Schön (1997)
propõe, que são: a) conhecimento na ação, b) reflexão na ação e sobre a ação;
c) sobre a reflexão na ação.Por este raciocínio, a Educação básica brasileira
tem sofrido alterações e, com elas, a formação de professores tem sido
novamente foco de estudo e observações. Por isso, esse trabalho propõe um
breve levantamento do histórico da formação de professores de Educação
66

Infantil no Brasil, assim como as prementes necessidades e demandas desse


nicho educacional.

2.3 REDIRECIONAMENTO DO CUIDADO SEGUNDO A VISÃO DE


LEONARDO BOFF

O cuidado é um ato que acompanha a humanidade desde os


primórdios até os dias de hoje. Cuidamos de nossas famílias, de nossos entes
queridos, do nosso corpo e da nossa mente. Dito de outra forma, o cuidado é,
segundo Boff (2008), a essência da humanidade, aquilo que constrói pessoal e
socialmente o ser humano.
Dessa forma, quando se fala em Educação Infantil, dois termos são
frequentemente encontrados na literatura: “educar e cuidar”. Segundo Sousa
(1996), sabe-se que há inúmeras discussões a respeito da dimensão do educar
e cuidar nesse segmento de ensino, uma vez que ainda não foi possível
encontrar uma linguagem única em nível nacional para esses termos.
No documento introdutório do Referencial Curricular Nacional para a
Educação Infantil (RCN‟S, p. 23), o governo indica que “nas últimas décadas,
os debates em nível nacional e internacional apontam para a necessidade de
que as instituições de Educação Infantil incorporem de maneira integrada as
funções de educar e cuidar”. Assim, fica implícita a obrigatoriedade das
instituições que atendem crianças de 0 a 6 anos de prover os cuidados
básicos, além de “valorizar e ajudar a desenvolver capacidades” (RCN‟S, p.
24).
Vale ressaltar que, durante muitos anos, o termo cuidado foi visto como
uma bandeira de salvação para crianças carentes que eram desprovidas dessa
assistência em seus lares, tornando-se responsabilidade das creches e centros
de Educação Infantil suprir essa carência e prover a garantia das necessidades
básicas, como banho, alimentação e higiene em seus estabelecimentos de
ensino.
Tal fato pode ser comprovado nas palavras de Zabalza (1998, p. 70)
quando afirma que “a creche era considerada como refúgio assistencial para a
população infantil desprovida de cuidados domésticos”. Assim, esses
67

seguimentos de ensino tinham como responsabilidade suprir carências e,


durante muitos anos essa foi a principal finalidade dessas instituições.
A esse respeito, Cerisara (1999) alerta que toda instituição social tem a
tarefa de educar, mas também de cuidar, sem dicotomizar essa relação, uma
vez que é nos primeiros anos de vida que a criança forma seu pensamento e
identidade. Complementando o pensamento supracitado, Kramer (2007, p. 19),
afirma

a função pedagógica do trabalho com crianças de 0 a 6 anos, capaz


de favorecer o desenvolvimento infantil e a aquisição de
conhecimentos, e consideramos como extremamente relevantes as
contribuições que pode conferir à escola de primeiro grau.

Nesse sentido, a expansão das pesquisas científicas sobre o


desenvolvimento infantil gerou uma nova percepção entre o cuidar e o educar.
A esse respeito, Bujes discorre no documento organizado pelo Movimento
Interfóruns de Educação Infantil do Brasil (2002) afirmando que

a educação da criança pequena envolve simultaneamente dois


processos complementares e indissociáveis: educar e cuidar. As
crianças desta faixa etária, como sabemos têm necessidades de
atenção, carinho, segurança, sem as quais elas dificilmente poderiam
sobreviver. Simultaneamente, nesta etapa, as crianças tomam
contato com o mundo que as cerca, através das experiências diretas
com as pessoas e as coisas deste mundo e com as formas de
expressão que nele ocorrem. Esta inserção das crianças no mundo
não seria possível sem que atividades voltadas simultaneamente para
cuidar e educar estivessem presentes. O que se tem verificado, na
prática, é que tanto os cuidados como a educação têm sido
entendidos de forma muito estreita (p. 115).

Tal aspecto pode ser observado na pesquisa quando, durante a


entrevista, a professora A aponta que existe uma preocupação entre educar
(voltado aos conteúdos de sala), com o cuidado físico e social necessários para
a inserção do sujeito no mundo.

Ao mesmo tempo que você tem que proteger a criança do perigo,


você tem que dar continuidade o que ela traz de casa. Se ela não
tiver, você tem que trabalhar conceitos como obrigada, por favor,
cuidado com seu corpo e com os colegas. E é por meio da
brincadeira que ensinamos os diversos conteúdos, por meio da
ludicidade.

Professora A, da Sala 1 da Escola Particular


68

A escola, assim como a sociedade, ainda tem uma visão restrita do que
seja educar e cuidar, mantendo-as num plano assistencial.
Leonardo Boff (2008) vai muito além em relação a esse tema na
educação de crianças pequenas. Para ele, é no cuidado que “identificamos os
princípios, os valores e as atitudes que fazem da vida um bem-viver e das
ações um reto agir “(2008, p. 12). É por meio dessas atitudes que as crianças
passam a estruturar seus valores e ideais em relação a sua vida e a vida do
próximo, compreendendo o significado de liberdade e dignidade, bem como
construindo, por meio dele, seu espírito de gentileza para com tudo o que está
a sua volta. Completando esse pensamento, O‟Sullivan (2004, p.313) ainda
destaca dois itens essenciais para essa nova visão: a recuperação da terra e a
necessidade de recuperar a humanidade como uma espécie, salientando que a
capacidade de cura, de regeneração e de renovação serão alcançadas por
meio do cuidado.
Segundo Boff (2008, p.91)

o termo cuidado vem do latim cura, que se escrevia coera e era


usada num contexto de relação de amor e amizade. Expressava a
atitude de cuidado, de desvelo, de preocupação e de inquietação pela
pessoa amada ou por um objeto de estimação.

Nesse sentido, a ação de cuidar surge quando algo ou alguma coisa


tem importância para o outro, quando se torna parte essencial da vida desse
sujeito, seja ele um amigo, filho, amado, um ser da natureza, ou até mesmo um
objeto que é estimado, provocando no outro atitude de responsabilidade para
com a sua existência.
Na Educação Infantil, esse conceito torna-se essencial, uma vez que o
professor passa a ser o responsável pelo existir do aluno que está sob sua
responsabilidade ao longo do ano letivo. Juntamente com a família, o docente
tem a corresponsabilidade perante o aluno, o que remete a considerar não
somente o aspecto físico, mas também intelectual e emocional, como o
imaginário infantil e seus medos e temores. Por isso, o professor tem o papel
de auxiliar o discente a desenvolver suas potencialidade e superar os desafios
que venha a encontrar ao longo do seu desenvolvimento e aprendizagem.
69

Assim, o cuidado pode adotar dois significados para Boff (2008, p.91)

Por sua própria natureza, cuidado inclui, pois duas significações


básicas, intimamente ligadas entre si. A primeira, a atitude de
desenvolvê-lo, de solicitude e de atenção para com o outro. A
segunda, de preocupação e de inquietação, porque a pessoa que tem
cuidado se sente envolvida afetivamente ligada ao outro.

Ao se garantir que se vela por algo ou alguém, está se alterando o


modo de ser no mundo, uma vez que a convivência nos faz interagir de forma
mais respeitosa com ela.
O cuidado passa a ser visto, agora, não somente como a parte básica
da vida da criança, mas sim, sob duas perspectivas que afetam a dinâmica do
ambiente educacional como um todo. Para Boff, essas duas dimensões de ser
no mundo estão vinculadas a ação de cuidar como um modo de ser e ao
trabalho.
Na primeira perspectiva, apresenta-se como relação de afeto e
importância na vida de ambos. O professor e o aluno, ao estabelecerem
relacionamentos diários, tornam-se importantes na vida um do outro, tanto na
esfera pessoal, quanto na esfera emocional e intelectual. Cabe a eles serem
responsáveis por essa relação.
A forma como interagem será ponto factual para a estruturação desses
sujeitos, tornando a relação bilateral; sujeito/sujeito. Entende-se aqui por
sujeito/sujeito a relação não somente de professor aluno, mas de sujeito/saber,
sujeito/natureza, sujeito/objetos, todas as relações são vistas como seres que
podem ensinar e aprender.
De acordo com O‟Sullivan (2004, p.288), outrora ”fomos ensinados a
nos enxergar como criaturas separadas e distanciadas do mundo natural”, e
esse distanciamento fez-nos esquecer do cuidado básico com os vários
seguimentos da vida que nos envolvem. Com esse redirecionamento do
cuidado e da relação bilateral, a escola passa a ensinar o aluno a ver-se como
alguém pertencente à natureza e a tudo ao que dela faz parte.
A esse respeito Boff (2008, p.95) afirma
70

Experimentamos os seres como sujeito, como valores, como


símbolos que remetem a uma realidade fontal. A natureza não é
muda. Fala e evoca. Emite mensagens de grandeza, beleza,
perplexidade e força. O ser humano pode escutar e interpretar esses
sinais. Coloca-se ao pé das coisas, junto delas e a elas sente-se
unido. Não existe, co-existe com todos os outros. A relação não é de
domínio sobre, mas de con-vivência. Não é pura intervenção, mas
inter-relação e comunhão.

O cuidado na Educação Infantil apresenta-se como sentimento de


corresponsabilidade com a existência do outro, fazendo com que estejam todos
ligados em uma rede. Quando os sujeitos percebem que suas atitudes podem
afetar a vida e o bem estar físico, emocional ou intelectual do próximo, então
necessitam ter atenção em suas ações, uma vez que elas podem vir a interferir
na vida e na dinâmica de terceiros.
Boff (2008, p. 96) complementa

Todos os sentimentos ligados e re-ligados uns com os outros,


formando um todo orgânico único, diversos e sempre includente.
Esse todo remete a um derradeiro Elo que tudo re-liga, sustenta e
dinamiza. Irrompe como Valor supremo que tudo se vela e se re-vela.

Essa atenção tem a finalidade de ensinar a todos os sujeitos do meio


educacional e fora dele, a respeitar, sintonizar e complementar reciprocamente
suas existências.
O cuidado apresenta-se na esfera educacional também como um ato
de desenvolvimento intelectual. Quando nos preocupamos com o outro,
passamos a nos preocupar com sua forma de pensamento e estruturação de
ideias. Nesse sentido, a relação professor/aluno, professor/professor e
aluno/aluno, transforma o conceito de aprendizagem, uma vez que nossa forma
de pensar interfere e influencia na maneira do outro pensar, expande o zelo
para a esfera intelectual.
Esse movimento com o próximo e seu progresso intelectual, pode ser
constatado durante uma observação de atividade conforme o diálogo
demonstra.

- Olha, eu encontrei o seu “B” de Bernardo e Beatriz!


- Eu achei o M do Matheus e da Mel!
-Tia eu não enxergo direito as letras dessa revista, são muito
pequenas, aí eu não consigo recortar!
71

Duas crianças se levantam com as suas revistas e trocam com o


colega dizendo:
- Toma, essa revista tem letras maiores e eu enxergo as letras da
sua!
Turma A, da Escola Púbíca

Quando a criança vive essas corresponsabilidades em relação ao


cuidado desde a tenra idade, aprende a internalizar essas condutas, tornando-
o parte dela e não para ela.
A afirmação acima pode ser novamente comprovada em situações
simples do cotidiano da criança, quando ela é chamada a ser corresponsável
pelo cuidado coletivo. Nas palavras da professora B

Acho que a partir do momento que a criança começa a brincar com o


brinquedo, ela passa a ter que cuidar do brinquedo dos amigos e a
reparti-los, bem como acho importante porque enquanto ela brinca,
ela cuida também do colega.

Professora B, da sala 2, da Escola particular

Esse redirecionamento implica que a criança também é responsável


por cuidar de si e do próximo, alterando a visão que se tinha que a Educação
Infantil era local de zelar pela crianças e não local onde se aprende a sobre a
vida e as relações que a ela se articulam.
Num segundo momento, Boff redireciona o termo na esfera do
trabalho, apontando que “o grande desafio para o ser humano é combinar
trabalho com cuidado. Eles não se opõem, mas se compõem. Limitam-se
mutuamente e ao mesmo tempo se complementam” (2008, p. 97).
Para o autor, o trabalho nos tempos atuais tem sido tratado como
forma de conquistar e dominar o outro, estando integralmente relacionado com
o capital e sua escravização.
Essa forma de pensar necessita de alterações, e acredita-se que é por
meio de uma educação desde a infância que se pode mudar a visão de
trabalho, inserindo-o na ação de cuidar, a fim de resgatar a ternura e a
corresponsabilidade por tudo que está a nossa volta.
Para Boff (2008, p. 98)

ou pomos limites à voracidade produtivista associando trabalho e


cuidado, ou vamos ao encontro do pior. Pela exasperação do trabalho
72

produtivo se exauriram recursos não renováveis da natureza e se


quebraram os equilíbrios físico-químico da Terra.

Neste sentido, a dissociação do trabalho e do cuidado, estão trazendo


conseqüências irreversíveis para tudo que se conhece. A falta deste durante o
trabalho, está colocando em risco a própria existência humana. Isso quer dizer
que se está deixando de lado o trabalho corresponsável pela vida, pelo respeito
ao próximo e pela essência humana.
Os indicadores acima apontam a necessidade de educar as crianças
da Educação Infantil a serem precursoras na nova maneira de entender e
realizar o trabalho. Uma vez que segundo O‟Sullivan (2004, p.323),

Atualmente, a comunidade humana está tão envolvida nos processos


científicos e tecnológicos que não temos como nos afastar deles,
mesmo que agora se saiba que as conquistas desejáveis são
inseparáveis de uma miríade de efeitos indesejáveis. A vida humana
passou a dispor de vantagens maravilhosas graças a esses recursos
junto a enormes dificuldades. Na verdade, foi a partir das proezas
extraordinárias da ciência e da tecnologia que muitas de nossas
dificuldades atuais surgiram

Nessa perspectiva, o trabalho deve ser ensinado para a criança como


uma ação de criatividade, capaz de realizar o ser humano, mas sempre
integrado à natureza e todo o seu universo. Implica desenvolver a forma de
compartilhar e co-existir, sem explorar ou devastar tudo aquilo que se vive e se
conhece.
Para Boff (2008p. 102), isso significa

Conceder direito de cidadania à nossa capacidade de sentir o outro,


de ter compaixão com todos os seres que sofrem, humanos e não
humanos, de obedecer mais à lógica do coração, da cordialidade e da
gentileza do que à lógica da conquista e do uso utilitário das coisas.

Cabe ao professor de Educação infantil, ensinar seus alunos a


sentirem o mundo e a interpretar essas sensações e dar significado a elas.
Cabe às instituições de crianças pequenas colocarem em seus planos de
formação, a meta de formarem seres mais humanos e cordiais com tudo que
os envolve. Significa aprender a trabalhar sem o propósito de dominar, mas de
73

compartilhar e cuidar do interesse coletivo a fim de cuidar da terra e


compartilhar com ela sua existência.
Esses trabalhos de formação e cuidado com o humano e com a terra,
já podem ser observados nas salas de aula, quando as crianças são
convidadas a estudar os problemas da água potável, a reciclagem e o
desmatamento.
Durante a observação da sala 1 da escola Pública, foi possível
identificar a mudança de mentalidade e atitude perante com os temas citados.
Aluno 1- Tia, a turma da Tia “D”está deixando a torneira da pia do
banheiro aberta!
Aluno 2- Vai lá e fecha! A água do planeta vai acabar!
Aluno 1- E o peixinho vai ficar sem casa!
Professora C- Isso mesmo!!! Temos que tomar a atitude de cuidado
com nossa água potável. O que vocês acham de irmos todos até a
sala da Tia “D”e conversarmos com os alunos dela?
Aluno 3- Legal, vamo ensinar eles a não fazer mais isso!
Aluno 4- Vamo agora!

Sala 1 da Escola Pública

Nesse sentido, o cuidado na Educação Infantil vai muito além do


simples cuidar e aprender brincando, o cuidado apresenta-se nas atividades
simples do dia a dia, como lavar a mão, trocar uma revista com um amigo que
não enxerga direito, respeitar a fila, entre tantas outras atitudes.
A esse respeito, bem afirmou a professora C da sala 1 da Escola
pública
Acredito que da mesma forma que o educador precisa dar um
cuidado físico, psicológico, intelectual e emocional, ele precisa
interagir com a criança por meio da brincadeira trazendo assim as
necessidades da infância e da vida a consciência da criança e com
elas discutir a respeito.

Dadas as indicações e explicações acima, considera-se que o termo


“cuidar e educar” ganha novas perspectivas na esfera da Educação Infantil,
tornando a criança e o professor responsáveis pela aprendizagem e
corresponsáveis nos mais diversos âmbitos dessa relação - âmbito dos
cuidados básicos, da emoção, do trabalho, da aprendizagem, da
corresponsabilidade sobre a terra e seus seres, entre outros-.
74

2.4 A FORMAÇÃO DO PROFESSOR NA VISÃO DE JOHN BRANSFORD,


ANN BROWN E RODNEY COCKING.

A presente reflexão é fruto das discussões realizadas no grupo de


estudos (GEA), cujos levantamentos e análises foram de grande importância
para esta pesquisa e para o novo olhar que se constrói acerca do professor de
Educação Infantil.
Conforme abordado no capítulo 2, atualmente vivemos uma educação
que vai muito além da aquisição de habilidades de leitura e escrita
(alfabetização) e a realização de cálculos matemáticos básicos. Atrelado a
essas habilidades, necessitamos encontrar no aluno dos dias de hoje,
habilidades como interpretação e utilização de diversas linguagens (atividade
de letramento), bem como saber se expressar com clareza e estar apto a
encarar situações nunca vividas, com desenvoltura, a partir dos seus
conhecimentos prévios.
A esse respeito, Bransford, Brown e Cocking (2007, p.21) relatam:

hoje em dia esses aspectos do letramento avançado são exigidos de


quase todos, para que possam lidar com sucesso com as
complexidades da vida contemporânea. As exigências de qualificação
para o trabalho aumentam sensivelmente, assim como a necessidade
de que as organizações e os trabalhadores mudem para atender as
pressões competitivas do ambiente de trabalho. A participação
consciente no processo democrático também se tornou cada vez
mais complexa, à medida que o foco de atenção se deslocou do
interesse local para o nacional e o global.

Essa globalização e transição de informações ao redor do globo


enfatizam ainda mais a existência da sociedade da informação. Esses novos
desafios sociais incentivaram e despertaram o interesse do Comitê de
Desenvolvimento da Aprendizagem, pertencente ao conselho Nacional de
pesquisa dos Estados Unidos, a estudar a influência da ciência cognitiva sobre
a ciência da Aprendizagem.
Nesses estudos, o professor foi um dos principais sujeitos foco da
pesquisa. Bransford, Brown e Cocking (2007, p.19) apontaram que “os
pesquisadores cognitivos estão dedicando mais tempo ao trabalho com
professores, testando e refinando suas teorias em sala de aula reais, onde
75

podem ver como os diversos ambientes e as interações nas salas de aula


influenciam as aplicações das suas teorias”.
As afirmações acima trazem uma nova proposta para o papel do
professor, que seja também o de pesquisador de sua realidade, alinhando seu
trabalho às novas teorias e desenvolvendo a partir dele novos métodos e
propostas de ensino.
Conforme citam Bransford, Brown e Cocking (2007, p. 21),

Ajudar os estudantes a desenvolver as ferramentas intelectuais e as


estratégias de aprendizagem necessárias para a aquisição de
conhecimentos, permitindo que possam pensar produtivamente,
sobre a história, a ciência e a tecnologia, os fenômenos sociais, a
matemática e as artes, é uma concepção melhor dos objetivos da
educação. Os entendimentos básicos dos temas, inclusive sobre
como estruturar e formular questões significativas a cerca de diversos
tópicos, contribui para que o indivíduo tenha uma compreensão mais
fundamental a respeito dos princípios de aprendizagem que podem
ajudá-lo a se tornar aprendiz vitalício e independente.

Os aspectos supracitados demonstram que os professores lidam


cotidianamente com questões significativamente importantes para o
desenvolvimento da independência intelectual de seus alunos.
No início da pesquisa, grande parte dos alunos apresentaram estilos de
aprendizagem diferentes de seus professores, conforme pode ser verificado no
Gráfico 2.

Gráfico 2- Estilo de Ensinar X Estilo de Aprender: Primeira Aplicação


76

Os dados demonstram que as crianças, no início do ano letivo,


apresentam características próprias de aprender e que o convívio com a
professora lhes faz absorver o estilo de ensinar da professora, alterando seu
estilo de aprender, uma vez que esses ainda estão sendo adaptados pelas
crianças. Tal aspecto indica que a professora é referencial no processo de
aprendizagem de seus alunos, pois, como demonstra o Gráfico 3, à medida
que os alunos passaram mais tempo com a professora, seus estilos de
aprendizagem foram ficando o mais próximos aos da professora.

Gráfico 3- Estilo de Ensinar X Estilo de Aprender: Segunda Aplicação

Entretanto, quando a professora torna-se pesquisadora de sua


realidade, ela percebe que ao repensar o trabalho realizado em sala de aula,
pode mesclar os estilos de ensinar, e privilegiar os diversos caminhos de
comunicação, possibilitando uma maior diversidade de entendimento a ser
percorrida por seus alunos.
Quando existe essa diversidade de estratégias, os aprendizes têm a
possibilidade de produzir seus conhecimentos a partir do que está sendo
trabalhado em sala de aula, compreendendo de modo significativo o que estão
fazendo. Nesse sentindo, notou-se que a força do grupo colabora para o
77

desenvolvimento de libertação dos modelos docentes “exclusivos” de


aprendizagem.

Gráfico 4- Estilo de Ensinar X Estilo de Aprender: Terceira Aplicação

Conforme se verifica no Gráfico 4, após as professoras repensarem o


processo de ensino/aprendizagem desenvolvidos em sala e alterarem seus
modos de planejar e executar os temas propostos, percebeu-se que os alunos
apresentaram maior combinação de estilos de aprendizagem, demonstrando
que a tomada de consciência por parte do professor e a alteração de seu estilo
de ensinar na sala de aula permitem que o aprendiz torne-se mais heterogêneo
no momento de aprender.
A partir dos dados coletados, observou-se que as professoras podem
ser agentes de transformações de suas práticas ao pesquisar seu próprio
ambiente de trabalho.
Essas ações conscientes permitem que o aluno, seja liberto da
dependência intelectual de seu mestre. Essa reflexão pode ser enfatizada por
meio das palavras de Freire (2005, p.78) quando afirma que “ninguém educa
ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si,
mediatizados pelo mundo”, ou seja, por mais que a professora liberte seu aluno
78

intelectualmente, esse sempre carregará marcas de seu mestre, pois a


educação e a libertação do pensamento se dão por meio da construção
coletiva.
Essa libertação do pensamento ocorre quando a professora toma
consciência de suas aprendizagens e auxilia o aluno a fazer o mesmo, ou seja,
compreender os caminhos que percorre ao longo de sua aprendizagem.
Segundo Dreher (2009, p. 47)

As pessoas precisam: aprender a identificar quando entendem e


quando necessitam de mais informações; quais as estratégias que
podem utilizar; como podem elaborar suas próprias teorias sobre os
fenômenos e testá-las com eficácia; e assim por diante. [...] Para isso
o professor deve repensar o que é ensinado, a maneira de ensinar e
o modo de avaliar a aprendizagem.

Mais do que nunca o papel da professora é o de auxiliar o aluno a


entender quais caminhos ele percorre com maior facilidade e destreza e quais
caminhos de aprendizagem ele necessita buscar maior fundamentação para
poder caminhar com maior segurança.
Para os autores Bransford, Brown e Cocking (2007, p. 33-38), existem
três formas de aprender que refletem nossa forma de ensinar. São elas; as
ideias pré-concebidas; os conhecimentos factuais e por fim a abordagem
metacognitiva.
A abordagem das ideias pré-concebidas refere-se ao fato de que
alunos chegam às salas de aula com ideias acerca do desenvolvimento de
como o mundo funciona. Se o professor, ao longo do seu trabalho, não
considerar essas idéias iniciais, os autores consideram que os alunos podem
não conseguir compreender os novos conceitos e as novas informações
oferecidas pelo professor ,ou que as compreendam de forma imediatista a fim
de realizar tão somente um prova, tornando o conhecimento oferecido em mera
informação momentânea, retornando, posteriormente, para suas idéias
preconcebidas.
Segundo Bransford, Brown e Cocking (2007, p. 33) “um aspecto
decisivo do ensino efetivo é trazer à tona a compreensão que os alunos têm
sobre o assunto a ser ensinado e proporcionar oportunidades para que
elaborem ou contestem a compreensão Inicial”.
79

Desse modo, é importante sempre levar em consideração as idéias


preexistentes dos estudantes, seja em qualquer nível de ensino, para,
posteriormente, expandir a compreensão existente e elaborá-la de modo a
perceber em que ponto suas idéias preexistentes são deficientes e necessitam
de reestruturação.
Já ao que diz respeito aos conhecimentos factuais, as autores indicam
que todo estudante (inclui-se aqui os professores) para desenvolverem
competências em um área de investigação, devem possuir algumas
características, como por exemplo, possuir uma base sólida de conhecimento
factual23, em seguida, entender os fatos e as idéias a ele submetidas dentro de
um contexto conceitual e, por fim, organizar o conhecimento para facilitar a
recuperação e a aplicação do mesmo.
Bransford, Brown e Cocking (2007, p. 35) alertam que

“para desenvolver competências numa área de investigação, os


estudantes precisam ter oportunidades de aprender e compreender.
A compreensão profunda do assunto transforma a informação factual
em conhecimento utilizável”.

Desse modo, o desenvolvimento das competências permite que o


sujeito se enquadre entre um especialista ou um iniciante dentro do tema
estudado. O que diferencia um especialista de um iniciante é o domínio dos
conceitos que ambos têm.
Bransford, Brown e Cocking (2007, p. 35) destacam como diferenças
entre o sujeito especialista e o iniciante os seguintes aspectos;

“o especialista molda seu entendimento a respeito da nova


informação: permite que perceba padrões, relacionamentos ou
discrepâncias que não são evidentes para os principiantes. Os
especialistas não necessariamente possuem uma memória geral
melhor que a das outras pessoas. No entanto, seu entendimento
conceitual permite que extraíam da informação um nível significativo
que não é evidente para os principiantes, e isso os ajuda a selecionar
e lembrar informações relevantes.Os especialistas são capazes de
acessar fluentemente o conhecimento, pois sua compreensão do
assunto permite que rapidamente identifique o que é importante”.

23
Entende-se por conhecimento factual o conhecimento dos fatos
80

Dessa forma, os estudantes ao ingressarem na escola de Educação


Infantil, iniciam como principiantes e, à medida que os temas vão sendo
desenvolvidos, alguns vão se tornando especialistas e outros permanecem
iniciantes.
O grande desafio da escola de Educação Infantil é o de auxiliar esses
novos estudantes na direção de uma compreensão mais formal, com maiores
competências interpretativas, de observação, de questionamentos. Essa
atitude necessitará que as professoras aprofundem mais os temas trabalhados,
trazendo uma gama de informações para as crianças, conceituando os temas e
permitindo que eles possam irrigar novas descobertas e expandir seu
conhecimento.
Se desde a Educação Infantil o aluno for desafiado a compreender os
fenômenos que o cercam por meio de experiências científicas e por meio de
pesquisas, então a base da aprendizagem desse sujeito está sustentada por
uma maior compreensão conceitual dos fatos, permitindo que os conceitos
trabalhados vão para além da sala de aula e tomem espaço na vida cotidiana
do sujeito.
Por fim, o último item destacado por Bransford, Brown e Cocking diz
respeito à abordagem metacognitiva. Essa abordagem refere-se a ajudar o
estudante a aprender a assumir o controle de sua própria aprendizagem por
meio de monitoramento interno.
Essa atitude metacognitiva nada mais é do que uma conversa do
indivíduo com seu interior um monitoramento importante que o sujeito faz dos
temas de trabalho e das informações que recebe. Essa atitude acaba por fazer
com que o sujeito crie estratégias interiores, para prever resultados, de dar
explicações a si mesmo de modo a compreender melhor sua percepção dos
fatos e desse modo ser capaz de perceber e preencher lacunas, utilizando
esse conhecimento para planejar a frente ou retomar velhos conhecimentos.
Para que o aluno seja capaz de desenvolver essa conversa interior, é
necessário que, desde a Educação Infantil, a professora trabalhe com o grupo
momentos de discussões sobre o que está sendo trabalhando, permitindo que
eles reflitam os temas, e aprendam a estabelecer essas conversas, para que
gradativamente não necessitem do auxílio do grupo e possam realizá-las
sozinhas. Segundo Bransford, Brown e Cocking (2007, p. 38), “As discussões
81

em classe são utilizadas para apoiar o desenvolvimento de habilidades,


visando à independência e a auto-regulação”.
Esse processo deve ser enfatizado pelo professor ao longo de toda a
Educação Infantil, para que as crianças tomem consciência de sua importância.
Ao aprender as fazer as perguntas corretas em cada disciplina, os aprendizes
tornarão essas reflexões habituais, fazendo com que os resultados de ensino
melhorem significativamente.
A esse respeito, os autores Bransford, Brown e Cocking (2007, p. 40),
indicam que o ensino das habilidades metacognitivas devem estar integradas
ao currículo das diversas áreas temáticas, pois segundo os autores

A integração da instrução metacognitiva com a aprendizagem


baseada na disciplina pode acentuar o progresso dos alunos e
desenvolver neles a capacidade de aprender sozinhos. Deve ser
incorporada aos currículos em todas as disciplinas e faixas etárias.

Quando os três princípios são incorporados pelas professoras, é


possível que os conhecimentos prévios trazidos pelas crianças para a sala de
aula, tornem-se instrumentos para que eles assumam novas atitudes e
competências que os ajudem a construir o seu mundo e a dar-lhe novos
significados, por meio da criação de hipóteses e reflexão sobre estas. Esse
novo olhar perante o ensino/aprendizagem faz com que a professora
identifique-se enquanto pesquisadora reflexiva e participativa do movimento
que se estabelece na sala de aula.
Será abordado no capítulo a seguir, um aprofundamento sobre a
metacognição, seus processos e estratégias.
82

3 METACOGNIÇÃO

O presente capítulo tem como objetivo realizar um estudo aprofundado


sobre a metacognição e suas conseqüências no ensino da Educação Infantil
tanto para a aprendizagem das professoras, quanto para dos alunos.
Esse aprofundamento tem como primeiro objetivo realizar um
levantamento acerca dos conceitos sobre metacognição, tendo como suporte
os estudos de Mateos (2001), Flavell, Miller e Miller (1999), Ferreras (1998),
Portilho (2009), Dreher (2009), entre outros.
Num segundo momento, esse capítulo realiza um levantamento acerca
das estratégias metacognitivas e suas conseqüências para o ensinar e o
aprender na Educação Infantil. Adotou-se, nessa parte, o modelo de
componentes metacognitovos propostos por Mayor (1995), bem como as
reflexões sobre essa proposta realizadas por Portilho (2009) e Dreher (2009).
Este subitem será dividido em quatro momentos: um com a apresentação geral
das Estratégias Metacognitivas; outro dando uma explicação mais aprofundada
da estratégia de Consciência e suas características; o seguinte, explicando a
estratégia de controle e/ou autorregulação; e, por fim, uma explicação sobre a
Autopoiese.
Compreender como as crianças entendem os novos conteúdos e os
fenômenos que ocorrem a sua volta é uma das funções das professoras de
Educação Infantil. Essa descoberta necessita estar atrelada a iniciativas que
construam, junto com os alunos, estratégias para adaptar os conteúdos da
escola com as experiências vividas em suas realidades, para poder ensiná-los
a aprender de modo consciente e eficiente.
Neste desafio dialético, a professora deve ser ao mesmo tempo, aquela
que ensina e aquela que aprende. Desse modo, Ontoria apud Portilho (2007,
p.04), indica algumas exigências para que essa dialética ocorra na
aprendizagem tanto das professoras como dos alunos de Educação Infantil.

1. A aprendizagem deve ser centrada na compreensão promovendo o


aprender a aprender.
83

2. Potencializar a aprendizagem a partir da valorização do


pensamento autônomo, criativo e divergente.
3. Flexibilidade no processo aprendizagem/ensino, priorizando a
pluralidade de estilo de ensinar, favorecendo os diferentes estilos
de aprender.
4. O ensino e o ambiente escolar devem estar voltados para a
valorização de cada estudante sem rótulos.
5. O professor deve favorecer um espaço em que o aluno possa
reconstruir-se, mudando o que já está estabelecido.

Para concluir, cita-se as palavras de Freire (1996, p.13) que afirma

Ensinar inexiste sem aprender e vice-versa, e foi aprendendo


socialmente que, historicamente, mulheres e homens descobriram
que era possível ensinar. Foi assim, socialmente aprendendo, que ao
longo dos tempos mulheres e homens perceberam que era possível –
depois, preciso- trabalhar maneiras, caminhos, métodos de ensinar.
Aprender precedeu ensinar ou, em outras palavras, ensinar se diluía
na experiência realmente fundamente de aprender.

Aprender e ensinar estão intimamente ligados, os sujeitos ora são


mestres, ora são aprendizes na interminável relação com o conhecimento.

3.1 A METACOGNIÇÃO E SEU PERCURSO HISTÓRICO

No início da década de 70, surgiu na literatura, a terminologia


Metacognição. Um dos percussores deste termo foi o psicólogo norte
americano John Hurley Flavell (1971), especializado em desenvolvimento
cognitivo da criança. Segundo Portilho (2007, p. 52), Flavell destinou sua visão
“inicialmente à memória, estendendo seus estudos a outros processos mentais,
como a linguagem e a comunicação, percepção e atenção, compreensão e
solução de problemas”.
Essa mudança de foco alterou a direção do desenvolvimento da
psicologia nos Estados Unidos. Dreher (2009, p.56) ainda complementa
afirmando que esse redirecionamento na visão de Flavell também se deve “a
84

partir da análise das teorias de Piaget” que, juntamente com esses novos
olhares, foram os responsáveis pelo desenvolvimento da Teoria da
Metacognição.
Mas o que é Metacognição?
Segundo Flavell ( ) apud Portilho (2009, p.106)

A metacognição se refere ao conhecimento que alguém


tem sobre os próprios processos e produtos cognitivos ou
qualquer outro assunto relacionado a eles, por exemplo,
as propriedades da informação relevantes para a
aprendizagem. Pratico a metacognição (metamémória,
meta-aprendizagem, meta-atenção, metalinguagem etc)
quando me dou conta de que tenho mais dificuldade em
aprender A que B; quando compreendo que devo verificar
pela segunda vez C antes de aceitá-lo como fato...

Dessa forma, a metacognição recebe esse nome porque trabalha


inicialmente com a cognição acerca da cognição. Segundo Flavell, Miller e
Miller (1999, p.125), a metacognição ainda pode ser definida como “qualquer
conhecimento ou atividade cognitiva, que toma como seu objeto, ou regula
qualquer aspecto de qualquer iniciativa cognitiva”. Assim, a metacognição é a
capacidade do sujeito pensar sobre seu próprio conhecimento.
Essa nova visão acerca de como o pensamento se constrói e como
tomamos consciência desse conhecimento, contribuiu,segundo Mateos (2001,
p.12), “para uma nova configuração de concepções de aprendizagem e
instruções24”, tornando a metacognição um dos principais tópicos da
aprendizagem e da psicologia.
A partir do momento que o sujeito passa a ter consciência de como
aprende, ele também passa a refletir sobre o desempenho que tem durante a
realização das tarefas com as quais se envolve.
Bransford, Brown e Cocking (2007, p.30) reafirmam essa idéia ao
mencionarem que

A metacognição refere-se à capacidade de uma pessoa prever o


próprio desempenho em diversas tarefas... e de monitorar seus níveis

24
Há contribuído a La configuración de lãs nuevas concepciones Del aprendizaje y de
La instrucción.
85

atuais de domínio e compreensão. O ensino de práticas compatíveis


com a abordagem metacognitiva da aprendizagem inclui práticas que
focalizam a criação de sentido, a auto-avaliação e a reflexão sobre o
que funciona e o que precisa ser melhorado.

Ao adquirir maior conhecimento de si, o sujeito passa a ganhar a


habilidade de analisar as demandas de uma determinada tarefa, podendo
relacioná-la com a realidade em que se encontra. Dessa forma, pode-se refletir
sobre a informação recebida, examinando o objetivo da atividade que deve
cumprir, bem como observar o que há de novo e familiar, tornando-se assim
autônomo em suas aprendizagens.
Portilho e Tescarolo (2006, p. 1) ainda afirmam que “quando temos
consciência do que sabemos, pensamos e sentimos tornamo-nos virtualmente
aptos a exercer controle sobre nossa experiência, processo denominado
metacognição”.
Entretanto, até meados dos anos 90, os estudos desenvolvidos na área
da metacognição apresentavam somente os dois componentes básicos
presentes em todos os modelos: a consciência e/ou regulação e o controle.
Mas no ano de 1995, Mayor e seu grupo de pesquisa introduzem um novo
componente à metacognição, denominado autopoiese. Esses três elementos
juntos formam os pilares das estratégias metacognitiva, conforme demonstra a
Figura 3.

Figura 3- Os Três Elementos das Estratégias Metacognitivas

Consciência

Sujeito e suas
experiências
cognitivas

Controle e/ou
Autopoiese regulação
86

Os monitoramentos da cognição ocorrem por meio das estratégias que


cada sujeito seleciona para dar conta da tarefa que se pré-dispôs a realizar.
Em outras palavras, as estratégias são, segundo Portilho (2009, p. 108), “uma
atividade consciente e intencional por parte do sujeito, sobre o que e como ele
encaminha os procedimentos apropriados para conseguir uma determinada
meta”.
Algumas pessoas recorrem a essas estratégias, mesmo sem ter a
consciência de que as estão utilizando, conforme se verifica no diálogo
observado ao longo da pesquisa.

Professora: Crianças, o que vocês fizeram hoje pela manhã?


Aluno 1: Eu assisti Bem 10 e fiquei andando de bike no play!
Aluno 2: Eu fiquei dormindo!
Aluno 3: Eu fiquei estudando!
Professora; Estudando?
Aluno 3: Sim!
Professora: Estudando o quê?
Aluno 3: Eu fiquei fazendo atividade de números, depois eu fui
escrever umas palavras, e antes do almoço eu fui construir uma
maquete de cidade.
Professora: É mesm?! E Como você fez para construir essa
maquete?
Aluno 3: Primeiro eu fiz o desenho dela no papel, depois eu juntei
com a minha mãe vários objetos, ai eu pintei algumas caixas para
serem os prédios e as casa e depois eu deixei secando.
Professora: Então você ainda não terminou a sua maquete?
Aluno 3: Não, porque tem que secar a tinta das coisas, depois que
secar eu termino.

Observação Sala 2 da Escola Particular

No caso do exemplo citado, foi possível verifica, que o aluno 3


apresentou ao longo de sua fala aspectos de planejamento quando relata que
fez um desenho da sua maquete antes de iniciá-la, controle ao coletar todos os
materiais necessários para sua execução e avaliação quando disse que sua
maquete ainda não estava acabada. Apresentou também a dificuldade surgida
devido a tinta não ter secado a tempo, o que possibilitará uma nova fase da
construção após o término da aula.
Nas páginas a seguir, encontrar-se-á um estudo mais aprofundado
sobre as estratégias metacognitivas.
87

3.2 AS ESTRATÉGIAS METACOGNITIVAS

Os desafios existentes no campo do aprender e ensinar na sociedade


do conhecimento é cada vez maior. Desse modo, os educadores são
chamados a refletir e a encontrar novas estratégias que auxiliem os alunos a
ser autônomos em seus pensamentos.
Frente a esse panorama, Pozo (2002, p.30) indica:

Já que ninguém pode nos oferecer um conhecimento verdadeiro,


socialmente relevante, que devemos repetir cegamente como
aprendizes, teremos de aprender a construir nossas próprias
verdades relativas que nos permitam tomar parte ativa na vida social
e cultural.

Concordando com o autor, salienta-se que não basta sermos


aprendizes, mas temos que ser, acima de tudo, sujeitos que compreendam os
fatos em sua profundidade, atuando deste modo sobre nossos conhecimentos,
a fim de adquirirmos consciência das capacidades e limitações dos processos
de pensamento que nos pertencem. Ou seja, o papel fundamental do educador
hoje é fazer com que o aluno tome consciência cognitiva dos seus pontos
fortes e fracos para auxiliá-lo na superação destes.
Para que essa superação ocorra, Pozo (2002, p.235) indica:

O aprendiz deve compreender o que está fazendo e por que o está


fazendo, o que por sua vez exigirá uma reflexão consciente, um
metaconhecimento, sobre os procedimentos empregados. Além
disso, implicariam um uso seletivo dos próprios recursos e
capacidades disponíveis.

Ao conhecer-se cada vez mais, o sujeito vai ganhando autonomia e por


conseqüência aprende a usar suas estratégias nas mais variadas situações. De
acordo com Portilho e Tescarolo (2006, p.3), ao compreender suas estratégias,
o sujeito vai adquirindo um grau maior de reflexão sobre os seus processos
cognitivos, o que implica “considerar o cotidiano humano imerso em uma
realidade cheia de contradições, mistérios, incertezas e esperanças, em um
contraponto de perplexidade e admiração”.
88

Mateos (2001, p.71) faz uma diferenciação entre os sujeitos que têm
sucesso ou não em suas atividades, incentivando o uso da metacognição para
o alcance da autonomia de pensamento.

los aprendices más competentes planifican lãs estratégias que


consideran más adecuadas para alcanzar lãs metas deseadas,
partiendo Del conocimento que poseen acerca de sus propios
recursos para aprender, acerca de lãs demandas de las tareas y de la
efectividad de las estratégias alternativas, se Dan cuenta de cuando
no están aprendiendo y buscan remédios para superar las dificultades
detectadas y evalúan los resultados de sus esfuerzos. Los aprendices
menos competentes, em cambio, rara vez planifican y evalúan su
propioaprendizaje para tratar de ajustar-los a las demandas de lá
25
tarea y conseguir, así, um rendimiento más satisfactório.

As pessoas não nascem com um conhecimento metacognitivo acerca


de seus processos de pensamento. Isso deve ser ensinado desde a Educação
Infantil, para que aprendam não só a adquirir consciência sobre seus
conhecimentos, mas também usá-los em diferentes situações com propósitos
coerentes, para tornar-se competente em suas ações.
Mas será que estratégia cognitiva é igual à estratégia metacognitiva?
Ao colocar esses dois conceitos em paralelo, percebemos que existem
diferenças entre eles, conforme pode ser verificado na Tabela 3.

Tabela 3- Diferença entre Estratégia Metacognitiva e Estratégia Cognitiva

Estratégias Metacognitivas Estratégias Cognitivas


Conhecimentos que a pessoa Habilidades que a pessoa
tem sobre a cognição. possui para realizar tarefas
Análise interna que o sujeito (como uma caixa de
faz para saber que estratégias ferramentas).
utilizar. Procedimentos empregados

25
Os aprendizes mais competentes planejam as estratégias que consideram mais adequadas
para alcançar as metas desejadas, partindo do conhecimento que possuem sobre seus
próprios recursos para aprender, as demandas da tarefa e a efetividade das estratégias
alternativas, dando-se conta de quando não estão aprendendo e buscando soluções para
superar as dificuldades detectadas, e avaliando os resultados de seus esforços. Ao contrário,
os aprendizes menos competentes, raramente planejam e avaliam sua própria aprendizagem
para poder ajustá-la às demandas da tarefa e conseguir, assim, um rendimento mais
satisfatório.
89

Conhecimentos do sujeito. para realizar a estratégia


Forma de regular a própria selecionada.
atividade desenvolvida Resolução efetiva da tarefa
Análise cognitiva de uma situação. Procedimento adotado para colocar
a análise em ação.

A esse respeito, é importante perceber que uma atividade


metacognitiva depende de uma atividade cognitiva. Uma complementa a outra
no momento em que o sujeito decide agir sobre seus conhecimentos, de forma
a construir-se constantemente, reciclando o que já está estabelecido. Dreher
(2009, p.59) ressalta que “aprendemos sobre as estratégias cognitivas para
fazermos progressos cognitivos e sobre as estratégias metacognitivas para
monitorar o progresso cognitivo”.
A seguir, destacam-se os três fundamentos das estratégias
metacognitivas propostos pelo grupo de estudos de Mayor (1995), conforme
indica a Figura 4.

Figura 4- Componentes metacognitivos propostos por Mayor (1995)

Níveis de
Consciência

Feedback
Intencionalidade
Recursividade
Introspecção e
Verbalização
Dialética
Ação Controle Auto-
dirigida executivo controle
a metas

Fonte: Mayor, Suengas e Marqués, 1995, p.57


90

A primeira estratégia proposta por Mayor é denominada consciência,


referindo-se ao conhecimento sobre o conhecimento que segundo Dreher
(2009, p.61), “seria a tomada de consciência dos processos e das
competências necessárias para realização da tarefa”. A segunda estratégia
proposta recebe o nome de controle e/ou autoregulação, pois se refere ao
controle das atividades cognitivas. Dreher (2009, p.61) complementa
afirmando que “é a capacidade para avaliar a execução da tarefa e fazer
correções quando necessário”. A terceira e última estratégia recebe o nome de
autopoiese, que se refere à idéia de regulação da tomada de consciência, bem
como as transformações necessárias que o sujeito faz dando significado a
essas novas construções. Portilho (2009, p.115) explica que “a autopoiese
aparece como um movimento de articulação entre a consciência e o controle”.
Frente a essa nova interpretação, Portilho, faz uma nova leitura da Figura 4 e a
apresenta disposta de forma diferente conforma demonstra a Figura 5.

Figura 5- Estratégias metacognitivas e sub-estratégias

METACOGNIÇÃO
METACOGNIÇÃO

CONSCIÊNCIA/ CONTROLE/
CONHECIMENTO AUTORREGULAÇÃO

pessoa tarefa estratégia planejamento Supervisão avaliação


regulação

AUTOPOIESE

Fonte: PORTILHO, 2003.


91

Ao fazer a leitura da Figura 5, percebe-se que a autora incluiu três sub-


estratégias na estratégia de consciência /conhecimento e três sub-estratégias
na estratégia de controle/ autorregulação.
Na estratégia de conhecimento/ consciência, encontramos em primeiro
lugar a sub-estratégia Pessoa. Para Flavell, Miller e Miller (1999, p. 126), a
categoria pessoa inclui

quaisquer conhecimentos e crenças que você possa adquirir quanto


aos seres humanos como processadores cognitivos. Ela pode ser
ainda mais subcategorizada em conhecimentos e crenças sobre
diferenças cognitivas dentro das pessoas, diferenças cognitivas entre
as pessoas e semelhanças cognitivas entre todas as pessoas – isto
é, sobre propriedades universais da cognição humana.

Compreende-se que essas três subcategorias dentro da categoria


pessoa referem-se ao conhecimento intra-individual, que diz respeito ao
conhecimento que o sujeito tem sobre si próprio, ou seja, seus pontos fortes e
fracos, atitudes e motivações. A segunda refere-se ao conhecimento inter-
individual, ou seja, as diferenças que o sujeito percebe em si em comparação
com as outras pessoas. A terceira denominada de universal, refere-se aos
conhecimentos e idéias que são dominantes na cultura do sujeito.
Já a sub-estratégia denominada Tarefa é composta por duas
subcategorias que Flavell, Miller e Miller (1999, p. 126- 127) explicam assim

Uma delas tem a ver com a natureza da informação que você


encontra e processa em qualquer tarefa cognitiva.Você aprendeu que
a natureza desta informação tem efeito importante em como você lida
com ela [...]. A outra subcategoria diz respeito as exigências da
tarefa. Mesmo recebendo exatamente a mesma informaçãopara
trabalhar, você aprendeu que algumas tarefas são mais difíceis e
exigente do que outras.

Percebe-se que na sub-estratégia tarefa, os diferentes tipos de tarefa


são processados por diferentes tipos de informação, ou seja, quanto mais
familiarizado o sujeito estiver com a informação que a tarefa demanda, maior
será seu conhecimento frente a informação e melhor será seu desempenho e
vice versa.
Por fim, encontra-se a sub-estratégia chamada de Estratégia que
Flavell, Miller e Miller (1999, p. 127) explicam
92

Você deve ter aprendido muitas coisas sobre quais meios ou


estratégias tem mais probabilidade de lhe fazer alcançar quais
objetivos cognitivos – para compreender X, lembrar Z, resolver o
problema Y, e assim por diante. [...] Você provavelmente também tem
conhecimentos de estratégias cognitivas mais sofisticadas, como a de
passar mais tempo estudando materiais mais importantes ou menos
familiares do que materiais menos importantes e já aprendidos.

Nessa sub-categoria, percebe-se que ela lida com os processos e


ações sobre os meios, com o objetivo de auxiliar o sujeito a atingir com maior
eficácia sua finalidade na tarefa. Ele por sua vez reconhece seu repertório e
percebe quais caminhos lhe permitirão ter maior êxito em suas tarefas.
Já na estratégia de planejamento, encontram-se três sub-estratégias –
planejamento, supervisão e avaliação-. Portilho (2006, p. 54) afirma:

O controle metacognitivo, de acordo com a maioria das propostas


descritas na literatura, inclui os processos de planejamneto das
estratégias mais adequadas na hora da resolução do uso que a
pessoa faz destas estratégias para atingir as metas estabelecidas e a
avaliação dos resultados que obteve.

A primeira sub-estratégia denominada Planejamento, destina-se à


previsão das etapas que o sujeito irá percorrer, bem como as estratégias que
irá selecionar para dar conta da tarefa proposta. Para Dreher (2009, p.67) “Nela
são considerados os resultados de cada ação, são as tarefas reconhecidas na
gestão do pensamento e consistem em organizar a forma como as informações
serão tratadas”. Ou seja, é fundamental que o aluno antes de resolver qualquer
problema, planeje os passos que percorrerá. Assim, ele terá uma visão
consciente e global das estratégias selecionadas, construindo um guia mental,
que permitirá ao mesmo fazer ajustes e reflexões durante o processo.
Biggs (1984, apud Portilho 2009, p.121) apresenta um modelo de
planejamento em sete passos que auxiliará o professor a planejar sua aula por
meio de um texto elaborado pelos alunos. A partir desse texto, o professor
pode acompanhar mais de perto o desenvolvimento de cada aluno, seu modo
de pensar, agir e interagir, bem como possibilitará por parte do aluno, a
utilização de diferentes estratégias para escrever o texto.

1. Interpretar o tema a ser desenvolvido, caso seja o professor


que o tenha escolhido;
93

2. Dar uma idéia global do que se quer, traçando um mapa mental


ou gráfico;
3. Trabalhar com as informações, definindo as lacunas, para obter
os conhecimentos necessários;
4. Ordenar hierarquicamente os conteúdos, selecionando os mais
significativos para aquele determinado grupo, utilizando esta
ordem como guia para a elaboração do texto;
5. Mudar a direção ou a forma de escrita, caso necessário, com
novas leituras ou colocar-se a escrever um novo ponto de
vista mais conveniente;
6. Controlar os critérios que guiaram o texto, segundo o grupo em
questão, o grau de originalidade que pretende ou o estilo
característico.
7. E, por último, elaborar intenções focais ou específicas

A segunda sub-estratégia, chamada de supervisão/regulação, está


ligada à revisão que o sujeito faz para verificar suas atividades realizadas. De
acordo com Mateos (2001, p. 69), “Mediante la supervisión obtemos
información sobre el estado em que se encuentra nuestro conocimento y
mediante la regulación modificamos ese estado iniciando, continuando o
terminando alguna acción”.26 Desse modo, para que seja possível regular uma
ação, é necessário que o sujeito tenha consciência sobre a atividade inicial,
para poder operar sobre ela, a fim de controlar o processo com o intuito de
atingir o objetivo da tarefa. Portilho (2009, p. 122) destaca

Se no caminho se observam erros e dificuldades, as pessoas


estratégicas, neste caso, professores e alunos, modificarão o plano
estratégico em desenvolvimento, dispondo de recursos técnicos
alternativos para alcançar as metas previstas. A supervisão ou a
regulação contribui para que as atividades se realizem de forma
flexível e se adaptem ás exigências da tarefa.

Desse modo, sempre que o sujeito for realizar uma tarefa, ele deve
elaborar um plano de supervisão que contemple o antes, o durante e o depois
de seus atos e pensamentos, para controlar suas ações e consequentemente
operacionalizar o centro da autorregulação, Portilho (2009, p.109) ainda
destaca que “a possibilidade do sujeito para elaborar suas próprias ações de
regulação é, sem dúvida, a apropriação mais significativa do conhecimento”.
Por último, encontramos a sub-estratégia Avaliação. Segundo Dreher
(2009, p. 68), está ligada “à vigilância daquilo que se faz à verificação dos

26
Mediante a supervisão, obtemos informações sobre o como se encontra nosso
conhecimento e por meio da regulação modificamos esse estado inicial, para continuar ou
terminar alguma ação.
94

progressos e à avaliação da conformidade e da pertinência das etapas


seguidas, dos resultados”, ou seja, refere-se à avaliação dos resultados obtidos
pelo sujeito.
Dessa forma, é importante destacar as palavras de Mateos (2001, p.
71), que conclui

Em suma, los aprendices más competentes planifican las estrategias


que consideran más adecuadas para alcanzar las metas deseadas,
partiendo del conocimento que poseen acerca de sus propios
recursos para aprender, acerca de las demandas de las tareas y de la
efectividad de las estrategias alternativas, se Dan cuenta de cuando
no están aprendiendo y buscan remédios para superar las
27
dificuldades detectadas y evalúan los resultados de sus esfuerzos.

Para melhor aprofundar as estratégias metacognitivas, optou-se por


realizar uma divisão em subitens, apresentados nas páginas a seguir.

3.2.1 Consciência e/ ou conhecimento

A tomada de consciência é o início do processo metacognitivo e,


graças aos avanços nas pesquisas sobre a mente humana, por meio da
psicologia cognitiva foi possível desenvolver inúmeros estudos. Para Pozo
(2002, p.82) “a psicologia cognitiva, em vez de ser uma teoria compacta, é
antes um enfoque, uma forma de se aproximar do comportamento e do
conhecimento humanos, através das representações que a mente humana
gera e dos processos mediante os quais as transforma ou manipula”.
O conhecimento metacognitivo se desenvolve a partir da consciência
ou conscientização dos fatos. Entretanto, essa tomada de consciência pode
passar por diferentes níveis que, segundo Portilho (2009, p.111, pode ser “da
intencionalidade até a introspecção”.
Dessa forma, compreende-se que a cognição não é um organismo
puramente mecânico, uma vez que é possível tomar consciência de suas

27
Em suma, os aprendizes mais competentes planejam as estratégias que consideram mais
adequadas para alcançar as metas desejadas, partindo do conhecimento que possuem sobre
seus próprios recursos, para aprender, as demandas da tarefa e a efetividade das estratégias
alternativas, dando-se conta de quando não estão aprendendo e buscando soluções para
superar as dificuldades detectadas e avaliando os resultados de seus esforços
95

atividades e por conseqüência refletir sobre como elas foram realizadas.


Flavell, Miller e Miller (1999, p.127) indicam que “a mente é um instrumento rico
e variado. Ela engloba atividades mentais diferentes, mas relacionadas, tais
como compreender, relembrar, considerar e inferir”. Cada sujeito armazena
uma informação de acordo com sua capacidade de relacionar os novos
conteúdos com os já existentes. Essa relação possibilita que esse mesmo
sujeito pense sobre suas ações, tomando consciência de seus processos de
aprendizagem.
Esse processo não se encontra reduzido ao estímulo e resposta de
certa aprendizagem, mas, segundo Pozo (2002, p.157),

está se assumindo que o sistema cognitivo humano não é apenas um


complexo e sutil mecanismo para adquirir e armazenar
representações, mas que, ao contrário de outros sistemas de
conhecimento meramente mecânicos, também é capaz de adquirir
consciência de si mesmo, de regular sua própria atividade e de refletir
sobre suas próprias produções.

A consciência é um processo efetivo e interminável de aprendizagem,


por meio da qual cada sujeito pode refletir e redirecioná-la de acordo com as
necessidades, aprendendo a controlá-la. Para isso, é necessário ter atenção
aos seus aspectos mais relevantes. Essa aprendizagem, segundo Portilho
(2009, p. 112), “implica que aprendemos a realizar certas tarefas com nossos
próprios recursos cognitivos, de maneira estratégica para atingirmos as metas
determinadas”.
Mas para que os aspectos anteriormente citados tenham resultados, é
necessário agregar a eles um terceiro item a reflexão sobre os processos de
consciência ou conhecimento. Para Portilho (2006, p. 52) “A reflexão supõe
que a pessoa, além de falar do novo conhecimento, saiba como pegá-lo, isto é,
tenha intencionalidade”.
Considera-se assim que os 3 níveis necessários para a tomada de
consciência são: atenção, controle e reflexão. Nesse complexo
desenvolvimento de tomada de consciência, as pessoas descobrem suas
próprias características pessoais, sua forma de agir sobre uma tarefa, bem
como quais são suas necessidades. Entretanto, para se ter uma postura
96

metacognitiva, o sujeito necessita de mais duas estratégias metacognitivas. A


seguir explicar-se-á sobre o controle ou autorregulação.

3.2.2 Controle ou Autoregulação

A estratégia de controle ou autorregulação leva o sujeito a refletir


constantemente sobre suas ações. Segundo Portilho (2006, p.52), “qualquer
atividade, mesmo que realizada de maneira automática, conserva ou até
mesmo exige certo grau de regulação ou controle cognitivo”.
Controlamos nosso conhecimento cognitivo por meio da supervisão
detalhada das atividades que realizamos, conforme anteriormente falado, e
devemos planejar nossas ações no começo, meio e no fim delas para que seja
possível avaliar nosso desempenho e monitorar as áreas de maior dificuldade,
com a finalidade de buscar novos caminhos para saná-la.
Segundo Mateos (2001, p. 69)

Evidentemente, la regulación afectiva de la actividad cognitiva


necessita de la información sobre el estado actual de la mesma. De
este modo, la regulación debe ser cosecuencia de la supervisión. Si
como resultado de la supervisión que hacemos de nuestro próprio
conocimiento observamos que el progreso hacia la meta que
previamente hemos estabelecido es suficiente para la cantidad de
28
tiempo y de esfuerzo que hemos invertido.

A auto-regulação e seu monitoramento metacognitivo podem levar ao


desenvolvimento de novos conhecimentos e estratégias. Portilho (2009, p.113)
ainda afirma que

Ao falarmos de controle, estamos nos referindo à ação dirigida a


metas, ou seja, o sujeito que aprende é responsável pela seleção das
estratégias a serem utilizadas para que o objetivo proposto se realize.

28
Evidentemente, a regulação efetiva da atividade cognitiva necessita de informação sobre o
seu estado atual. Deste modo, a regulação deve ser conseqüência da supervisão. Como
resultado da supervisão que fazemos de nosso próprio conhecimento observando que o
progresso da meta que previamente havíamos estabelecido, é suficiente para a quantidade de
tempo e de esforço que temos investido.
97

Desse modo, o autocontrole é o controle executivo da tarefa, da


motivação e da vontade, considerando o sujeito, o principal responsável pela
seleção de estratégias para realizar a tarefa proposta, até a elaboração da
resposta final.

3.2.3 Autopoiese

Esta última estratégia metacognitiva não fazia parte dos trabalhos de


Flavell, sendo acrescentado posteriormente pelo grupo de pesquisa
Mayor(1995). Segundo Portilho (2009, p.113), autopoiese vem da “palavra
grega “autos poiesis”, que tem como significado o autofazer-se. É a produção
de si mesmo ou a auto-organização de um sistema orgânico”.
O termo autopoieses encontra-se na literatura geralmente para
caracterizar a capacidade autoconstrutiva dos seres vivos, ou seja, a
capacidade de se adaptar às situações mais adversas. Para Bruner (1987
apud Mayor ,1995, p.59), a autopoiese é

Um componente de la metacognicíon tan básico como la conciencia y


el control: gracias a él, la actividad metacognitiva, no solo es
consciente de si misma, no solo se controla a si misma, sino que va
29
más allá de la conciencia y del control, construyéndose a si misma.

Nessa perspectiva, compreende-se que a vida e seus diversos


movimentos estão em um processo contínuo de conhecimentos. Isso implica
que um sujeito ao tomar consciência de um objeto, tem que compreender como
olhou para ele, sendo capaz de explicar esse olhar e as ações que gerou ao
agir sobre ele.
Desse modo, é possível tirar as aprendizagens da subjetividade do
pensamento e trazê-las para a realidade da compreensão de quem a
aprendeu. Esse movimento permite que o aprendiz explique como
compreendeu e crio para si a representação do que estava olhando.

29
É um componente básico da metacognição, assim como a consciência e o controle. Graças a
ela, a atividade metacognitiva não só é consciente de si mesma e não só controla a si mesma,
como ultrapassa a consciência e o controle, construindo-se a si mesma.
98

Para Maturana e Varela (2001, p.08), “o conhecimento é um fenômeno


baseado em representações que fazemos do mundo” e “o mundo conteria
„informações‟ e a nossa tarefa seria extraí-las por meio da cognição”.
Dessa forma, os homens são vistos como produtores ativos de
conhecimento, pois agem e interagem socialmente, fazendo um movimento
dialético de transformação entre o conhecimento e o homem. Um transforma o
outro nas suas interações.
Maturana e Varela (2001, p. 12) afirmam

“Se a vida é um processo de conhecimento, os seres vivos constroem


esse conhecimento não a partir de uma atitude passiva e sim pela
interação. Essa posição é estranha a quase tudo que nos chega por
meio da educação formal”

Desse modo, para os autores, a autopoiese é usada para definir os


homens como seres que autoproduzem de modo ininterrupto a si mesmo e a
sua realidade, por meio de seus processos de pensamento.
Portilho (2009) ainda salienta que essa estratégia metacognitiva possui
três subcomponente chamados de: análise e síntese; recursividade e
retroalimentação ou feedback.
O primeiro subcomponente chamado de análise e síntese refere-se às
categorias fundamentais da dialética, que estão centradas na resolução da
antinomia entre dualidade e a unidade (Portilho, 2009, p.114).
O segundo subcomponente chamado de recursividade de acordo com
Mayor, Suengas e Marqués (1995, p. 59) é o “que permite la incrustación
30
progresiva y sistemática de la metacognición em el decurso de la cognición”.
E, por fim, o terceiro subcomponente da autopoiese é chamado de
retroalimentação ou feedback porque está ligado à autoaprendizagem e à auto-
organização, permitindo, segundo Portilho (2009, p. 114), “a metacognição
alimentar-se a partir dos efeitos que produz no próprio ambiente, em um
movimento circular e aberto”.
Devido às análises acima feitas, conclui-se que a metacognição pode
ser aplicada tanto no conhecimento, quanto no controle da própria atividade
cognitiva do sujeito. Desta forma, as atividades metacognitivas devem ser

30
Que permite a incrustação progressiva e sistemática da metacognição no curso da cognição.
99

ensinadas para os alunos desde a Educação Infantil, com o objetivo de ensinar


as pessoas a gerirem seus conhecimentos desde a infância, para que, ao
chegar à vida adulta, o sujeito tenha se tornado verdadeiramente autônomo
nas suas construções mentais e elaboração de hipóteses.
É com a metacognição que ensinamos as pessoas aprenderem a
aprender, a serem livres e conscientes nos seus processos de pensamento,
tornando-se autores de sua consciência.
100

4 O PERCURSO DA PESQUISA

A pesquisa foi realizada em duas escolas de Educação Infantil da


Cidade de Curitiba, particular e outra Pública. Essa escolha se deu com o
intuito de observar possíveis variações significativas entre as diferentes redes
de ensino.
A pesquisa foi primeiramente, idealizada para ser aplicada com duas
professoras de Nível 3, 4 e 5, com o objetivo de comparar os estilos de
aprendizagem entre as crianças e suas respectivas professoras. Essa
aplicação ocorreria em dois momentos: um no primeiro semestre de 2009, e a
segunda, no final do segundo semestre do mesmo ano. Entre a primeira
aplicação e a segunda, um dossiê seria elaborado para a professora de
Educação Infantil contendo seu estilo de aprender (que por conseqüência
reflete seu estilo de ensinar), bem como os estilos de cada aluno. Seria
oferecida a proposta de trabalho e depois de dois meses seria reaplicado o
inventário Portilho/Beltrami com as crianças para verificar se ocorreu o
equilíbrio dos estilos por parte dos alunos. Entretanto, durante a leitura e
interpretação da teoria sobre os estilos de aprendizagem, considerou-se melhor
criar três momentos de aplicação para verificar se os alunos, com o passar do
tempo, absorvem para si o estilo predominante da professora de ensinar ou
não.
A seguir, encontram-se explicados os momentos de apresentação da
proposta nas escolas e suas repercussões.
No início do ano letivo de 2009, a pesquisadora compareceu nas duas
escolas e explicou a proposta da pesquisa para as diretoras que autorizaram a
realizar o trabalho assinando o termo de consentimento livre e esclarecido
(anexo B). Feito esse primeiro contato, solicitou-se uma reunião com todas as
professoras de Educação Infantil com a intenção de apresentar-lhes a proposta
de trabalho. Foi explicado que somente as professoras que trabalhassem com
crianças de 3, 4 e 5 anos poderiam participar da pesquisa devido à limitação de
um dos instrumentos a serem aplicados com as crianças.
101

A reunião da escola particular ocorreu no dia 26 de fevereiro de 2009,


com a presença de quatorze professoras (incluindo as que atuam com crianças
de um e dois anos). Acompanhando a reunião, estavam presentes a diretora da
escola e a orientadora educacional. A reunião iniciou-se com a apresentação
da proposta de trabalho que seria desenvolvida em três momentos ao longo do
ano letivo. Abaixo, na figura 6, está o quadro dos momentos conforme foi
explanado.

Figura 6- Apresentação da proposta, subdividido em três momentos.

Primeiro Momento Segundo Momento Terceiro momento


Apresentação da proposta Observação de sala de aula Observação de sala de aula
para as professoras. (Apêndice 2). (Apêndice 2).
Assinatura do termo de Reaplicação do inventário Recolhimento das fichas
consentimento livre e Portilho Beltrami (Anexo E) metacognitivas e análise das
esclarecido, pelas com as crianças que foram anotações feitas pelas
professoras que se autorizadas a participar da professoras.
comprometerem a fazer parte pesquisa.
da pesquisa.

Realização de uma entrevista Entrega da carta com as Reaplicação do inventário


semi-estruturada com as análises feitas durante as Portilho Beltrami (Anexo E)
professoras voluntariadas observações e aplicações com as crianças que foram
(apêndice 4) dos instrumentos Honey- autorizadas a participar da
Alonso e Portilho/Beltrami pesquisa
Aplicação do questionário Apresentação da proposta de Devolutiva dos dados,
Honey-Alonso de Estilos de repensar o planejamento e as agradecimentos e despedida
Aprendizagem (Anexo A) atitudes em sala de aula e da pesquisadora do ambiente
entrega da Ficha escolar.
Metacognitiva (Apêndice 1).
Observação de sala de aula
(Apêndice 2).
Envio do termo de
consentimento livre e
esclarecido para as famílias
das crianças (Anexo D).
Aplicação do inventário
Portilho Beltrami (Anexo E)
com as crianças que foram
autorizadas a participar da
pesquisa

Após a apresentação da proposta e dos passos a serem


desenvolvidos, abriu-se um espaço para as professoras fazerem perguntas e
comentários. Depois do esclarecimento das dúvidas, somente duas
professoras se voluntariaram para a realização do trabalho. Outras professoras
alegaram não desejar fazer parte da pesquisa, porque julgaram que esse
102

processo seria uma invasão ao seu modo de atuar e trabalhar com as crianças,
e que se sentiriam expostas e fragilizadas perante a instituição.
As professoras que aceitaram fazer parte da pesquisa, trabalhavam
respectivamente com o nível quatro (crianças de 4 e 5 anos) e nível 5 (crianças
com 5 e 6 anos).
Já a reunião da Escola Pública foi realizada no dia 19 de Março de
2009, estando presentes somente seis professoras de nível 3, 4 e 5. A reunião
iniciou-se com a apresentação da proposta, conforme demonstrado na figura 6.
Após a apresentação, cinco professoras se levantaram e foram embora
alegando que não tinham interesse em participar da pesquisa, por falta de
tempo ou por não acreditar na proposta apresentada.
Somente uma professora de nível 3 permaneceu na sala para
esclarecer suas dúvidas.
O que é estilos de aprendizagem?
Para que serve essa teoria?
Como isso pode ajudar no meu trabalho?
Você vai publicar meu nome na pesquisa?
O que eu terei que fazer?

Professora C, da sala 1 da Escola Pública

Ao término do esclarecimento das dúvidas, a professora concordou


fazer parte da pesquisa.
Como pode ser observada na tabela exposta a seguir, a pesquisa
contou com a participação de três professoras, sendo que cada uma atuava
respectivamente nos níveis 3, 4 e 5 da Educação Infantil.

Tabela 4-Professoras presentes na apresentação da proposta de pesquisa.

Número de
professoras Número de
presentes na professoras
Professoras reunião da presentes na
dispostas em escola Voluntárias reunião da Voluntárias
Níveis particular. por nível escola publica por nível

Nível 1 3 0 0
Nível 2 3 0 0
Nível 3 3 0 2 1
Nível 4 3 1 2
Nível 5 2 1 2
Total 14 2 6 1
103

Gráfico 5-Professoras que aceitaram fazer parte da pesquisa

Como se pode observar, somente 15% das professoras aceitaram


fazer parte da pesquisa, enquanto 85% não se interessaram por ela. Tais
dados demonstram que existe uma barreira entre a pesquisa e a prática de
sala de aula, conforme as falas transcritas a seguir

Prof. 01- Não quero. Me sentiria vigiada e não seria eu mesma.


Prof. 02- Acho que isso não vai dar em nada. Essas pesquisas são
só para atrapalhar minhas aulas.
Prof. 03- A proposta é legal, mas eu não tenho tempo de ficar
fazendo as tarefas necessárias em casa. Eu trabalho o dia todo,
quero chegar em casa e descansar. Desculpe, pode parecer
egoísmo, mas eu chego em casa e não quero mais saber de escola.
Prof. 04- Obrigada pelo convite. Acho uma proposta legal, mas creio
que posso comprometer meu emprego se algo que eu estiver fazendo
não agrade.

Apresentação da proposta na escola Particular e Pública

Pelo receio de abrir o seu trabalho para a comunidade acadêmica, as


professoras das salas de aula acabam por vetar a participação de
pesquisadores em seu ambiente de trabalho, não percebendo que a partir das
suas práticas elas podem ensinar muito para os pesquisadores. Dando
relevância a esse fator, Bransford, Brown e Cocking (2007, p.20) afirmam “os
pesquisadores estão descobrindo maneiras de aprender a partir da “sabedoria
104

da prática”, graças a professores bem-sucedidos, que são capazes de partilhar


suas competências”. Na educação brasileira, hoje, temos que auxiliar as
professoras a perceberem que podem contribuir de modo significativo com o
desenvolvimento das pesquisas científicas no campo da Educação Infantil.
Devido à pouca adesão de professoras, optou-se por fazer uma re-
adequação da proposta entre o momento dois e três.
Na escola particular, entre a segunda e a terceira aplicação do
instrumento Portilho/Beltrami, foi respeitado o período de férias de inverno das
crianças, possibilitando a acomodação dos conteúdos estudados ao longo do
primeiro semestre. Já na escola pública, a segunda aplicação foi realizada no
mês de agosto e a terceira em novembro, com a finalidade de manter uma
constância dos trabalhos, a fim de perceber se haveria diferença entre o estilo
de aprendizagem apresentado na primeira aplicação e o estilo apresentado na
segunda aplicação, levando em consideração a variante férias.
Por solicitação das professoras, iniciamos a primeira etapa do projeto
no final do mês de abril, início de maio, pois, segundo elas, o primeiro bimestre
é um período de adaptação das crianças e, devido a esse fato, seria
inapropriado ter uma pessoa estranha na sala de aula, até que já estivessem
familiarizadas com a professora, e com as rotinas de sala. Nesse período de
adaptação, a criança está conhecendo os novos colegas e se preparando para
lidar com outra realidade, que inclui a separação dos pais, o ciúmes da
professora em relação aos outros colegas, entre outros.
Nas páginas a seguir, apresentam-se os três momentos de intervenção
realizado com as professoras e seus respectivos alunos.

4.1 Primeiro Momento de Intervenção

Esta etapa do processo de intervenção teve como proposta,


realizar uma entrevista semi-estruturada com cada professora e a aplicação do
questionário Honey-Alonso de estilos de aprendizagem, por meio do qual foi
possível identificar o estilo predominante de aprender e ensinar das mesmas.
Ainda foi aplicado o inventário Portilho/Beltrami com os alunos e, por fim, foram
realizadas observações das aulas.
105

4.1.1 Entrevista semi-estruturada

Conforme combinado com as professoras, no final do mês de abril, a


pesquisadora retornou à escola e iniciou as entrevistas semi-estruturadas
(Apêndice 4).
Na primeira questão: Por que você escolheu atuar como professora,
tinha-se por objetivo compreender, na história de vida, o porquê da oprção pela
carreira docente.
Das três professoras, duas colocam como fator principal de sua
escolha o gosto pelas crianças e uma indica a opção pelo magistério como
mera causalidade.

Professora A: Principalmente? Por que gosto muito de crianças e


porque gosto de compartilhar com eles meu conhecimento e para
aprender com eles.
Professora B: (...) eu passei em matemática e acabei fazendo 3
anos e atuando como professora de Educação Infantil, então minha
chefe me obrigou a fazer pedagogia.
Professora C: Porque sempre gostei de crianças!

Os depoimentos acima transcritos demonstram que a escolha por uma


carreira vem sempre entrelaçada com a história de vida da pessoa, os
caminhos trilhados ao longo dos anos fazem-se presentes. A esse respeito
Nóvoa (1992, p. 16) indica os três AAA que sustentam o processo identitário
dos professores:
A de Adesão, porque ser professor implica sempre a adesão a
princípios e a valores, a adoção de projectos, um
investimento positivo nas potencialidades das crianças e dos
jovens.
A de Acção, porque também aqui, na escolha das melhores
maneiras de agir, se jogam decisões do foro profissional e do
foro pessoal.
A de Autoconsciência, porque em última análise tudo se decide
no processo de reflexão que o professor leva a cabo sobre a
sua própria acção.

Pelas indicações feitas por Nóvoa, bem como pelos depoimentos das
professoras, a história de vida é ponto importante nas escolhas para atuar na
carreira do magistério. Segundo Pimenta (2002, p. 4), “a profissão de
106

professor, como as demais, emerge em dado contexto e momento históricos”,


Nóvoa (1992, p.17) ainda complementa” que é impossível separar o eu
profissional, do eu pessoal”. Todas as nossas escolhas profissionais estão
relacionadas com nossas escolhas pessoais, uma é inseparável da outra.
Na segunda questão, (Por que você escolheu atuar na educação
Infantil?) as professoras apontam diferenças nas suas escolhas, ora porque
não se adaptam com as crianças ora de Ensino Fundamental (EF), ora porque
preferem essa faixa etária ora devido às oportunidades de emprego.

Professora A: Por me identificar mais com essa faixa etária. Porque


gosto de ver o processo de desabrochar deles.
Professora B: Na verdade várias pessoas já me falaram que eu não
tenho perfil com Educação Infantil, mas pelas oportunidades, acabei
atuando com Educação Infantil. As pessoas falam isso porque sou
fechada.
Professora C: Eu já atuei no Ensino Fundamental, mas não me
adaptei. Não gosto de Ensino Fundamental, prefiro a Educação
Infantil.

Nos depoimentos, percebe-se a existência de uma fragilidade na


escolha pelo magistério da Educação Infantil, deixando subentendido em
alguns deles que o caminho para atuar com crianças pequenas foi o mais fácil,
aquele que exigiu pouco para se chegar aonde chegou. Desse modo, faz-se
um alerta a respeito da atuação nesse seguimento a partir das idéias de Garcia
(1989, p. 22) ao afirmar que, para as professoras exercerem seu papel, é
necessário que tenham “um domínio adequado da ciência, técnica e arte da
mesma, ou seja, possuam competência profissional”.
Atuar na Educação Infantil vai muito além do simples “gostar” de
crianças. É necessário ter conhecimentos sobre suas fases do
desenvolvimento, para trabalhar com elas questões que as ensinem a refletir o
mundo e seus acontecimentos. Essa constatação reflete-se mais
explicitamente na questão a seguir.
Ao serem questionadas sobre, as maiores facilidades para atuar nesse
seguimento, as professoras, no geral, colocam a afetividade e o carinho como
principais fatores, e ainda apresentam a maternidade como algo positivo.
107

Professora A: Afetividade!
Professora B: Acho que minhas maiores facilidades é o nível de
compreensão que tenho e também pelo fato de ser mãe! Isso me
possibilita compreender melhor.
Professora C: Meu jeito meio infantil de cativar as crianças já ajuda
bastante. Meu jeito de dar carinho, entretanto quando tem que ser
rude eu sou. Eu falo a língua deles e eles me adoram!

O afeto ainda é visto como o elemento primordial no exercício do


magistério na Educação Infantil, explícito nas falas das professoras.
Para elas, o que facilita seu trabalho é, em primeiro lugar, o fato de
darem carinho e os conhecimentos prévios que possuem sobre as fases do
desenvolvimento e as didáticas das disciplinas encontra-se em segundo plano.
Nesse sentido, as reflexões feitas no documento introdutório do
Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCN‟S, p. 23) são
pertinentes ao indicar “as necessidade de que as instituições de Educação
Infantil incorporem de maneira integrada as funções de educar e cuidar”.
Assim, fica implícita a obrigatoriedade das instituições que atendem crianças
de 0 a 6 anos de prover os cuidados básicos, além de “valorizar e ajudar a
desenvolver capacidades” (RCN‟S, p. 24).
Mais do que só dar afeto e cuidar das necessidades básicas, o
profissional tem que ter conhecimentos vastos sobre as crianças e suas
necessidades emocionais, físicas, intelectuais, entre outras, a fim de auxiliar o
discente a desenvolver suas potencialidade e superar os desafios que venha a
encontrar ao longo do seu desenvolvimento e aprendizagem.
Já quando indagadas sobre suas maiores dificuldades, as professoras
apontam a interferência da família, a falta de limites das crianças e a inclusão,
a desvalorização da instituição e o período de adaptação das crianças.

Professora A: A maior dificuldade que sinto é ter que interagir com


os pais. Eles me estressam, e também a parte burocrática da
instituição.
Professora B: Trabalhar com a falta de limites das crianças e nesse
ano ter um aluno de inclusão. Mesmo tendo pós em psico, me sinto
atada para trabalhar com ele. A falta de valorização da empresa, a
falta de cursos para poder se aperfeiçoar e a falta de comunicação
aberta.
Professora C: Não considero uma dificuldade, mas acho que a
adaptação me incomoda um pouco, porque quando acalmo um, outra
criança começa a chorar.
108

As dificuldades apresentadas representam sérios problemas pelos


quais a escola vem passando atualmente. A falta de limites está atrelada à
dificuldade de interação entre professor e família. Crianças sem limites são
amostras vivas dos problemas que as famílias enfrentam hoje e, por
conseqüência, demonstram a fragilidade das escolas em perceber que
necessitam mudar sua atitude frente à educação das crianças, pois as famílias
estão compartilhando com a escola o ato de educar. Enquanto ambas as
partes não perceberem que necessitam encontrar ações comuns, a dificuldade
permanecerá e terá como reflexo a aprendizagem do aluno.
Parolin (2007, p.36) ressalta que “a qualidade do relacionamento que a
família e a escola construírem será determinante para o bom andamento do
processo de aprender e de ensinar do estudante e o seu bem viver em ambas
as instituições”. Boza (2006, p.15) ainda complementa

embora com o mesmo peso e de igual importância, esses papéis não


deveriam se mesclar, porém se completar. O lar e a escola formam e
informam, incentivam e desafiam, apóiam e cobram. Tudo isso em
esferas distintas.

Ainda se destaca nas respostas das professoras a desvalorização das


instituições para com elas. Essa desvalorização acarreta baixa produtividade e
estraga o espírito de unidade da instituição. Destaca-se aqui a necessidade
das instituições de ensino ser parceiras dos professores e promover, junto com
eles, momentos de reflexão e formação continuada, uma vez que é
imprescindível para o professor manter-se atualizado e preparado para lidar
com as adversidades do dia a dia de sala de aula.
Piletti (2007, p. 177) complementa

A atualização é outro requisito essencial para o educador não


alienado, que exerce suas funções num mundo real, em permanente
transformação. A atividade escolar será tanto mais produtiva quanto
mais estiver integrada no mundo dos educandos. Escola e vida
devem formar uma só e mesma realidade. Para tanto, é necessário
que o educador não só esteja a par do que se passa a sua volta, mas
também participe dos acontecimentos. Jornais, revistas, cinema,
teatro, literatura, etc. são meios indispensáveis a qualquer educador
que pretenda se manter atualizado em relação ao mundo em que vive
e atua.
109

Ainda referente à formação continuada, encontramos no artigo 67 da lei


LDB 9394/96 alguns termos referentes ao plano de carreira, conforme se lê:

II Aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive com


licenciamento periódico remunerado para esse fim;
IV progressão funcional baseada na titulação ou habilitação e na
avaliação do desempenho;
V período reservado a estudos, planejamento e avaliação, incluindo
na carga de trabalho.

Nessa perspectiva legal, percebe-se que está assegurada, por lei, a


necessidade das instituições de ensino possibilitar aos seus profissionais,
momentos de formação continuada, para atingirem o êxito no processo de
ensino-aprendizagem.
Quando perguntado em que medida a formação acadêmica ajudou e
dificultou a atuação em sala de aula, as professoras responderam

Professora A: Facilitou pelo embasamento teórico que você adquire


e facilitou para entender as fases do desenvolvimento da criança e
em nenhum aspecto dificultou. Pelo contrário só ajudou.
Professora B: Sempre me ajudou em questão de conhecimento
apesar de achar que meu último ano ter sido difícil devido à gravidez.
Professora C: Não ajudou em nada e não dificultou em nada. Na
Educação Infantil o que facilita é ter jeito com crianças, você aprende
no dia a dia. Eu digo isso porque já tinha o magistério e o que
realmente me ajudou foi à especialização em Educação Infantil pelo
fato de fazer estágio específico em Educação Infantil, fazendo
observações.

A formação superior auxilia as professoras a compreenderem melhor o


seu trabalho, dando-lhes suporte para desenvolver, com consciência, as
atividades com as crianças a fim de gerar em suas turmas aprendizagens
significativas.
Para Pimenta (2000, p. 4),

Espera-se da licenciatura que desenvolva nos alunos conhecimentos


e habilidades, atitudes e valores que lhes possibilitem
permanentemente irem construindo seus saberes-fazeres docentes a
partir das necessidades e desafios que o ensino como prática social
lhes coloca no cotidiano.

Quando a formação das professoras as ajuda a fazer o intercâmbio


entre as metodologias, a cultura, as experiências de vida e as emoções, entre
110

outros, então a formação acadêmica se torna um novo produtor de cultura da


professora em sala de aula.
Desse modo, os conhecimentos adquiridos por elas em sua formação
inicial são agregados a sua cultura de aprendiz e transportados a sua cultura
de ensinante, permitindo um intercâmbio de conhecimentos.
Entretanto, a resposta dada pela professora C é extremamente
preocupante, pois desenvolve seu trabalho nas tentativas de ensaio e erro em
seu dia a dia, não tendo consciência de que os conhecimentos acadêmicos são
extremamente importantes para o trabalho com as crianças. Quando um
professor não conhece as fases do desenvolvimento e não percebe quais
conhecimentos as crianças devem apresentar com certa idade, ele
provavelmente não irá realizar um trabalho louvável com a turma, e estará
apenas transmitindo conteúdos ao invés de proporcionar momentos de
aprendizagem.
Quando não se tem essa consciência, não se tem ponto de partida,
nem metas a serem alcançadas ao longo do desenvolvimento infantil.
Quando perguntadas sobre o que falta para melhorarem a sua prática,
as professoras responderam

Professora A: A falta de estímulo por parte da instituição. A falta de


reconhecimento da instituição e a baixa remuneração que não me
permite fazer cursos e capacitações, bem como a escassez de
material para a prática.
Professora B: Ainda me sinto inexperiente em determinadas
situações e a falta de conhecimento sobre certos assuntos me faz
querer buscar mais, entretanto como ganho pouco e o estímulo
financeiro é baixo, não tenho como pagar para fazer os cursos, e
além do mais o colégio acha que é obrigação minha fazer por fora
não me oferecendo nada. Ai fica difícil superar as dificuldades. Eu
também tenho que comer, né!
Professora C: Não sinto falta de nada!

Percebe-se que duas professoras apresentam consciência de suas


limitações e os caminhos que devem percorrer para saná-las, entretanto a
professora C aponta que não necessita de nada para melhorar a prática de
sala de aula, o que é fator preocupante, uma vez que enquanto seres
inacabados estamos sempre em constante transformação, na busca de novos
caminhos sempre. Chalita (2001, p. 51) ainda adverte que
111

Alguns mestres se colocam em patamares de conhecimento absoluto,


de um saber divino, e com isso deixam de lado a atualização, o olhar
crítico sobre o mundo, e ficam anos e anos, com os mesmos fichários
e métodos

Freire (1996, p. 123) também salienta que

É preciso que, ao respeitar a leitura do mundo do educando para ir


mais além dela, o educador deixe claro que a curiosidade
fundamental à inteligibilidade do mundo é histórica e se dá na
história, se aperfeiçoa, muda qualitativamente, se faz metodicamente
rigorosa.

Nessas palavras, compreendemos que o professor necessita sempre


estar buscando novas respostas, pois a leitura de mundo de cada educando é
diferente, o que demonstra que o educador não terá sempre as respostas,
necessitando aperfeiçoar-se sempre para lidar com as diversas realidades.
Nessa diversidade, o educador se faz educando e vice versa.
Destaca-se ainda a necessidade de valorizar a carreira docente,
proporcionando salários dignos, ambiente adequado de trabalho, com a
finalidade de atingir uma educação de qualidade.
A esse respeito Piletti (2007, p. 188) complementa

A remuneração do trabalho do educador é uma condição necessária


para o eficiente exercício profissional. Poderíamos até pensar na
hipótese em que tal remuneração não seria tão necessária: se todas
as necessidades do educador, se todas as condições de que precisa
para educar fossem providenciadas pela escola, sua remuneração
não seria tão importante em termos de educação. Entretanto, na
medida em que seu aperfeiçoamento e sua atualização e portanto,
seu próprio exercício profissional dependem de interesse e dedicação
pessoais, a remuneração adquire importância decisiva.

A partir da realidade educacional brasileira que se apresenta, constata-


se que existe a necessidade das instituições de ensino remunerar melhor os
professores, para que eles tenham condições de buscar a formação continuada
que respondam as suas dúvidas e ajude a sanar suas dificuldades em sala de
aula.
Quando questionadas sobre se o colégio oferecia programas de
formação continuada, as professoras relataram
112

Professora A: Sim! Palestras, mini cursos, oficinas.


Professora B: Não! Eles acham que é obrigação nossa. E não tem
plano de carreira, e isso desestimula, porque não tem como crescer.
Professora C: Sim, sempre tem oficinas e palestras para poder me
aperfeiçoar, é só eu me inscrever.

Algumas instituições de ensino necessitam mais do que nunca, investir


na formação de seus professores e exigir deles também a busca por novos
conhecimentos. O professor é a alma da instituição e, segundo Chalita (2001,
p. 161),

Por mais que se invista em equipamentos, em laboratórios,


bibliotecas, anfiteatros, quadras esportivas, piscinas, campos de
futebol – sem negar a importância de todo esse instrumental-, tudo
isso não se configura mais do que aspectos materiais se comparados
ao papel e à importância do professor.

Desse modo, o investimento no capital intelectual dos professores deve


ser visto como uma das prioridades de qualquer instituição educacional.
Entretanto, há uma discrepância nas respostas das professoras A e B.
Ambas pertencem à mesma instituição de ensino e ao mesmo segmento da
Educação Infantil, mas suas respostas são contraditórias.
Na questão anterior, a professora A aponta que existe falta de estímulo
e de reconhecimento por parte da instituição,e em seguida informa que o
colégio proporciona formação continuada por meio de mini cursos, oficinas e
palestras. Já a professora B mantém sua linha de pensamento e continua
afirmando que não existe formação continuada dentro da instituição.
Quando indagadas sobre quais são os cursos de formação que elas
buscam fazer, todas as professoras apontam o desejo em fazer pós-graduação
em psicomotricidade.
Professora A: quero fazer de dificuldades de aprendizagem e
psicomotricidade.
Professora B: Eu gostaria muito de fazer psicomotricidade aquática
se eu ficar na área de Educação e se minhas finanças ajudarem.
Professora C: Eu queria fazer pós em psicomotricidade porque eu
acho que existem vários exercícios e atividades que você pode
realizar com a criança no cotidiano, me dando mais apoio na hora de
trabalhar certos conteúdos, me ajudando a melhorar minha prática.
Ou sobre alfabetização, porque me daria suporte para trabalhar com
nível 4 e 5.
113

A psicomotricidade apresenta-se como um desejo de capacitação das


professoras entrevistadas, devido ao período de desenvolvimento que as
crianças se encontram.
Segundo Zílio (1994, p. 60), o desenvolvimento motor é um processo
seqüencial, contínuo e relacionado à idade pelo qual o indivíduo progride do
movimento simples, desorganizado e inábil para o alcance de habilidades
motoras complexas e, finalmente, ao ajuste das habilidades que acompanham
o envelhecimento. Dessa forma, as professoras vislumbram na
psicomotricidade um caminho para prevenir dificuldades de desenvolvimento
nas crianças e também para auxiliar seus alunos a caminhar de forma correta,
a pegar em um lápis, a utilizar uma tesoura, a pular, a coordenar a marcha do
caminhar e correr, entre outros.
Entretanto, a questão que se coloca é se as professoras realmente
querem saber o significado da psicomotricidade e importância para o
desenvolvimento infantil, ou se querem apenas aprender a ter mais técnicas de
trabalho.
Tal questionamento é importante, uma vez que se percebe em muitos
profissionais a necessidade de obterem receitas educacionais para trabalhar
em sala de aula, técnica pela técnica, e não aprendizagens que possibilitem
caminhar com o aluno sobre novos caminhos do conhecimento.
Já sobre como elas planejam suas aulas, duas professoras apenas
citaram as áreas de conhecimento que costumam utilizar para planejar suas
aulas, enquanto que somente uma professora citou, em poucas palavras, os
procedimentos que costuma adotar para planejá-la.

Professora A: utilizando o manual pedagógico dos professores,


fazendo pesquisas virtuais, em livros e revistas e até mesmo
montando aulas digitais.
Professor B: os conteúdos de linguagem, natureza e sociedade,
matemática, datas comemorativas e movimentos.
Professora C: Matemática, linguagem, natureza e sociedade.

Planejar é o ato de organizar e estruturar os conhecimentos. Quando


ocorre o planejamento, a professora prevê os passos de suas aulas e as
possíveis dúvidas que poderão ocorrer, preparando-se devidamente para
introduzir o conteúdo.
114

Nesse sentido, ao planejar, o professor não somente prepara sua aula,


como também se modifica, pois percebe a necessidade de buscar novos
caminhos para trilhar diferentes conteúdos ou reestruturar possíveis falhas do
planejamento anterior.
Quando esse processo é pensado de forma consciente, o professor
desenvolve estratégias para desempenhar melhor seu papel, adequando-se às
necessidades da turma. Esse processo reflexivo permite ao professor trabalhar
com as 3 estratégias metacognitivas- consciência, controle e autopoiese -,
permitindo-lhe adquirir o conhecimento do seu próprio conhecimento e, por
conseqüência, aprendem a aprender.
A professora A, em seu relato, apresenta um breve retrato de como
costuma planejar, demonstrando que a filosofia da escola encontra-se presente
em seus planejamentos, quando segue o manual pedagógico da escola, bem
como, aponta que a pesquisa é uma ferramenta que caminha com ela para dar
vida ao seu planejamento. Existe aí uma preocupação em trazer os novos
conhecimentos e as diferentes realidades para dentro da sala de aula.
Ao serem questionadas sobre como se percebem como profissionais
da Educação Infantil, duas responderam que acham que são boas
profissionais, e a terceira professora está passando por uma crise de
identidade profissional e de identidade pessoal.

Professora A: Que ainda tenho muito que aprender e muito que


melhorar minha prática! Mas acredito que realizo um bom trabalho!
Professora B: Às vezes me pergunto o que eu estou fazendo aqui!
Eu gosto do que faço, mas ainda não consegui priorizar as coisas na
minha vida! Será que vale apena ser professora e ganhar uma
aposentadoria de 500 reais? Hoje estou dando um chute para o alto!
Professora C: Como uma boa profissional, entretanto as pessoas
quando me vêem, dizem que sou louca por trabalhar com crianças
tão pequenas.

O processo de dúvida e angústia que a professora B relata, está de


acordo com o perfil histórico que a profissão vem adquirindo ao longo dos
anos, conforme anteriormente citado no capítulo sobre formação de
professores. Esse fator se agrava, quando a imagem profissional que a
comunidade tem dessa professora é desvalorizada, conforme foi verificado na
pergunta como os outros lhe vêem como profissional de Educação Infantil.
115

Professora A: Como se não fosse tão importante, você sente uma


certa depreciação na verdade.
Professora B: Como eu disse, algumas pessoas acham que sou
uma boa professora, entretanto outros acham que isso não tem nada
haver comigo. Meu marido em 10 anos diz que não tem nada haver
comigo.
Professora C: Elas olham com uma cara estranha! Como quem diz
ah, só isso.

Segundo Moscovici (2009, p. 8)

As representações sustentadas pelas influências sociais da


comunicação constituem as realidades de nossas vidas cotidianas e
servem como principal meio para estabelecer as associações com as
quais nós nos ligamos uns aos outros.

Nesse sentido, a forma como a sociedade encara o papel do professor,


demonstra a depreciação que essa profissão vem ganhando ao longo dos anos
e como isso está intimamente ligado à representação social que o seu papel
tem frente às comunidades.
Em outras palavras, as crenças sociais ajudaram a depreciar a carreira
docente, construindo uma imagem negativa sobre sua função. Essa imagem
negativa se espalhou pela sociedade e contribuiu para a formação de uma
baixa representação social.
Tal imagem deve ser quebrada e redirecionada, através de um forte
movimento que deve emergir de dentro das escolas, a fim de construir uma
nova representação social dos professores.
Esse movimento ganhará força à medida que os professores se
comprometerem em fazer pesquisas em seus próprios ambientes de trabalho,
re-significando suas práticas e difundindo seus conhecimentos para a
sociedade, demonstrando assim comprometimento e força para mudar.
O caminho a ser trilhado pelas professoras de Educação Infantil ainda
é longo e árduo, e necessita de profissionais que estejam engajados com a
árdua tarefa de quebrar barreiras e educar com consciência e para a vida,
assim como reverter à imagem que a comunidade tem da profissão docente.
Paulo Freire (1996, p.102), nesse sentido, adverte:

Não posso ser professor, se não percebo cada vez melhor que, por
não poder ser neutra, minha prática exige de mim uma definição.
116

Uma tomada de posição. Decisão. Ruptura. Exige de mim que


escolha entre isto ou aquilo. Não posso ser professor a favor de quem
quer que seja e a favor de não importa o quer. Não posso ser
professor a favor simplesmente do homem ou da humanidade, frase
de uma vaguidade demasiado contrastante com a concretude da
prática educativa. Sou professor a favor da docência contra o
despudor, a favor da liberdade contra o autoritarismo, da autoridade,
contra a licenciosidade, da democracia contra a ditadura de direita ou
esquerda.(...) sou professor a favor da esperança que me anima
apesar de tudo.

4.1.2 Aplicação do Questionário Honey-Alonso de Estilos de Aprendizagem.

A aplicação do questionário Honey-Alonso ocorreu no mês de maio de


2009, com três professoras de Educação Infantil de nível 3, 4 e 5. Todas elas
são formadas em nível superior e possuem pós-graduação na área de
educação. O tempo de atuação das professoras varia entre 9 e 26 anos.
As idades das professoras variam, sendo que a professora A tinha 43
anos no início da pesquisa, a professora B,32 anos e a professora C 45 anos.
Durante o preenchimento do questionário, as professoras dialogavam
com elas mesmas dizendo

Professora A: eu me encaixo em partes, serve?


Professora B: e se eu achar que sou as duas coisas?
Professora C: ai, nunca parei para pensar nisso!

Professoras respondendo ao questionário Honey- Alonso

O preenchimento total do instrumento levou entre 10 e 15 minutos. Ao


término, as professoras demonstraram ansiedade para saber o significado do
estilo predominante, uma vez que o instrumento é auto-aplicativo.
Para a apresentação dos resultados, optou-se por organizar os dados
em uma tabela, que contém a freqüência das respostas das professoras em
cada estilo e, na coluna ao lado, a porcentagem referente aos mesmos.
O resultado da aplicação do questionário pela professora A, da sala 1
da escola particular, pode ser observado na tabela 5 e no gráfico 6.
117

Tabela 5- Professora A, da sala 1 da Escola Particular

Estilos Freq. %
Ativo 6 25%
Reflexivo 8 33%
Teórico 3 13%
Pragmático 7 29%

Para melhor visualização dos resultados, o gráfico 6, contém somente


as porcentagens de cada estilo.

Gráfico 6- Estilos de Aprendizagem da Professora A.

Conforme demonstram os resultados, o estilo de aprendizagem


predominante da Professora A, é o reflexivo, com 33%, seguido do pragmático
com 29%. Essas características puderam ser notadas durante o
desenvolvimento das aulas da professora como segue no exemplo abaixo

Profª: Agora eu quero que todo mundo pense em um lugar que


gostaria de passear com a prof.
Aluno 1: para a praia.
Profª: A prof .não pode levar vocês para a praia! Tem que ser um
lugar que eu possa.
Aluno 2: No parque São Lourenço!
Aluno3: No shopping estação.
Aluno 4: No zoológico.
...
118

Profª: Agora todo mundo fecha a matraca que nós vamos fazer uma
votação! Quem gostaria de ir no estação? Quem quer ir ao parque?
Espera pessoal só pode escolher um lugar, vamos fazer
novamente!Quem quer ir ao estação? E ao zoológico? E ao parque
São Lourenço?
Ihhhhh, estamos com um problema, ficamos empatados entre o
estação e o zoológico. Quem quer ir ao estação? E ao zoológico?
Isso agora vamos fazer um bilhete para tentarmos ir ao zoológico. A
diretora vai ver a possibilidade de fazermos o passeio. Oba, vamos
ver tudo ao vivo e a cores!!!!!
Aluno 5: Eba!!!! Vamos passear!!!!

Conforme a atividade relatada, podemos identificar algumas


características no estilo ativo da professora que, segundo Portilho (2009, p.
102), é uma pessoa criatividade, animação, aventura, diversão,
competitividade, ter novas experiências, etc.
Ainda em decorrência dessa mesma atividade, podemos ver outro
exemplo do estilo reflexivo presente nas atitudes da professora.

Profª: então para fazermos esse passeio, temos que elaborar um


bilhete. Vocês me ajudam a fazer um?
Turma: Sim!!!!
Profª: Para quem vamos escrever?
Aluno 1: Queridos Pais!

Professora começa a escrever o que o aluno disse no quadro.

Profª: não é para copiar ainda, pois pode mudar e também temos que
ver se vai ficar detalhado. Primeiro vamos escrever e analisar e
depois vocês copiam. Pode ser?
Turma: Sim!!!
...

Profª: A prof. Vai ler o bilhete e vocês vejam se ficou certinho ou se


falta alguma informação:
Queridos Pais: Na terça feira , 16/06/2009, iremos ao zoológico.
Devemos chegar na escola no horário de sempre, com as
autorizações assinadas e também devemos trazer um lanche bem
saudável.
Ass:_____________________
Profª: o que vocês acharam?
Turma: legal!!!
Profª: Então podem copiar, mas lembrem-se de fazer uma letra bem
bonita e caprichada, e cuidado com o tamanho da letra, se não, não
vai caber!

Na observação transcrita, encontram-se características do estilo


reflexivo da professora ensinar. De acordo com Portilho (2009, p.101), a
pessoa que tem o estilo reflexivo predominante possui como características a
observação e a análise antes de chegar a alguma conclusão; gostando de
119

valorizar todas as possibilidades antes de tomar uma decisão. Preferindo ouvir


mais, para depois agir.
A aplicação do questionário com a professora B obteve resultados
muito parecidos com a professora A, conforme demonstra a tabela 6 e o gráfico
7.
Tabela 6- Professora B, da sala 2 da Escola Particular

Freq.
Estilos %
Ativo 12 29%

Reflexivo 13 32%

Teórico 9 22%

Pragmático 7 17%

Gráfico 7- Estilos de Aprendizagem da Professora B.

De acordo com os resultados, o estilo predominante da professora B,


também é o reflexivo com 32%, seguido do ativo com 29%. Conforme Alonso
(1994), a característica desse estilo é de alguém ponderado, observador,
consciente, investigador. Tais características marcantes puderam ser
constatadas nas atitudes da professora ao longo das observações feitas em
suas aulas.
- Lembre-se que não estamos apostando corrida para ver quem
termina primeiro, quero ver quem faz com atenção e capricho a
atividade.
- E como você fez para construir essa maquete?
- O que vocês costumam fazer antes de dormir?
120

- Vamos pesquisar as letras D_O_R_E_M_I_F_A_S_L.

Falas obtidas nas observações da sala B

O estilo reflexivo predominante é muito comum em adultos. Esses


resultados podem ser confirmados, na Tese de Doutorado de Portilho (2003, p.
272), onde a maioria dos estudantes universitários analisados apresentou
como estilo predominante o reflexivo.

De los cuatro Estilos de Aprendizaje estudiados, El estilo reflexivo ES


El que difiere de los demás en su utilización mientras que los estilos de
Aprendizaje activo, teórico y pragmático son utilizados casi con la
misma intensidad. Esto permite concluir que los universitarios que
participaron en la investigación, de manera general, presentan
características de ponderación, observación, receptividad, análisis y
persistencia en mayor grado que las otras características, referentes a
31
los otros estilos.

Diferentes das duas primeiras professoras, a professora C, da escola


pública, apresentou um resultado bem diferente, conforme demonstra a tabela
7 e o gráfico 8.

Tabela 7- Professora C, da sala 3, da Escola Pública

Freq.
Estilos %
Ativo 9 45%
Reflexivo 3 15%
Teórico 6 30%
Pragmático 2 10%

Gráfico 8- Estilos de Aprendizagem da Professora C.

31
Dos quatro Estilos de Aprendizagem estudados, o estilo reflexivo é o que se diferencia dos
demais em sua utilização mental, uma vez que os estilos de aprendizagem ativo, teórico e
pragmático são utilizados quase que na mesma intensidade. Isso permite concluir que os
universitários que participaram da investigação, de modo geral, apresentam características de
ponderação, observação, receptividade, analise e persistência em maior quantidade, que as
outras características referentes aos outros estudos.
121

Esta professora apresentou como estilo predominante o ativo, com


45% das respostas, sendo seguido pelo teórico com 30%.
De acordo com Alonso (1994), o estilo ativo, apresenta como
característica a animação, ousadia, criatividade, inovação, competitividade,
participação, entre outros, fatores observados no estilo de dar aula da
professora C
- Pessoal, vamos lá para a grama criar nosso quadro de girassóis
com os pés!
- Hoje eu serei a professora maluquinha, então nossas atividades
hoje serão todas malucas!!
- Quero ver quem vai à mesa e acha no alfabeto móvel a letra A! O
primeiro que encontrar ganha uma estrela!

Os estilos de aprendizagem de cada professor são marcas fortes no


seu estilo de ensinar, uma vez que ambos estão estreitamente relacionados.
Desse modo, far-se-á nas páginas a seguir uma análise dos estilos de
aprender dos alunos e a relação que eles têm ao longo do ano letivo com o
estilo de ensinar da professora.

4.1.3 Aplicação do Inventário Portilho/Beltrami de Estilos de Aprendizagem


122

Como já exposto, o Inventário Portilho /Beltrami de Estilos de


Aprendizagem foi aplicado em três diferentes momentos, observando as
diferenças e semelhanças entre os períodos.
A primeira aplicação do Inventário Portilho/Beltrami tinha como objetivo
detectar o estilo de aprendizagem dos alunos no início do ano letivo, antes de
conviverem muito tempo com sua professora.
Os resultados das aplicações seguiram o mesmo critério estabelecido
para apresentar os dados das professoras.
O Inventário Portilho/Beltram foi aplicado pela primeira vez na turma A,
da sala um, da escola particular, no início do mês de maio.
Composta por 18 alunos, a turma contou somente com a participação
de nove, pois alguns pais não assinaram o termo de consentimento livre e
esclarecido (anexo D).
A aplicação ocorreu de forma individual, levando em média 20 minutos
de aplicação por criança.

Tabela 8- Sala A- Primeira Aplicação

Aluno Estilo Predominante % Freq.


A1 Teórico 42% 5
A2 Reflexivo 42% 5
A3 Pragmático 50% 6
A4 Ativo 50% 6
A5 Pragmático 42% 5
A6 Todos 100% 12
A7 Ativo/Reflexivo 67% 8
A8 Ativo 50% 6
A9 Reflexivo 42% 5

Conforme demonstra da tabela 8, pode-se perceber que os estilos de


aprender das crianças da sala A, é variado, estando presentes todos os estilos
em uma mesma turma.

Gráfico 9- Sala A- Primeira Aplicação


123

Durante essa primeira aplicação, as crianças escutavam as instruções


com atenção, não sendo necessário utilizar nomes de colegas e da professora
para exemplificar as ilustrações do inventário, uma vez que elas compreendiam
perfeitamente as situações apresentadas.
Conforme demonstra a tabela 8 e o gráfico 9, as crianças da sala A
apresentaram estilos variados no início do ano letivo. Somente os alunos A2 e
A9 apresentaram o estilo reflexivo igual ao de sua professora. E os alunos A6 e
A7, apresentam combinações com o estilo reflexivo, o que demonstra que a
sala contava com uma diversidade de estilos de aprendizagem.
Já a aplicação do Inventário com a Turma B contou com a participação
de nove dos doze alunos, pelo mesmo fato ocorrido com a Turma A.
A média de aplicação do instrumento por crianças variou de 25 a 30
minutos. Durante essa primeira aplicação, as crianças escutavam as instruções
com atenção e foi necessário utilizar o nome de colegas e da professora para
exemplificar as ilustrações do inventário, fato que se justifica uma vez que as
crianças dessa turma eram menores, entre 4 e 5 anos.
O resultado desse primeiro momento pode ser visto na Tabela 9 e no
Gráfico 10.

Tabela 9- Sala B – Primeira Aplicação


124

Aluno Estilo Predominante % Freq.


B1 Pragmático 50% 6
B2 Reflexivo 42% 5
B3 Teórico 42% 5
B4 Teórico 50% 6
B5 Reflexivo 42% 5
B6 Ativo 42% 5
B7 Teórico 33% 4
B8 Teórico 58% 7
B9 Pragmático 33% 4

Gráfico 10- Sala B – Primeira Aplicação

Como pode ser observado, um grupo significativo de alunos da turma,


apresenta como estilo predominante o Teórico – alunos B3, B4, B7, B8.
Somente dois alunos têm como estilo predominante o reflexivo- alunos
B2 e B5, iguais aos da professora, o que demonstra, mais uma vez, uma
variedade de estilos na sala de aula.
A aplicação do instrumento na sala C da escola pública contou com a
adesão de todos os alunos da sala, necessitando de ajustes, pois o Inventário
Portilho/Beltrami foi desenvolvido para ser aplicado com crianças de 5, 6 e 7
anos. Entretanto, devido a suas ilustrações e questões também fazerem parte
125

do cotidiano de crianças de 3 e 4 anos, optou-se por aplicar o instrumento


nessa faixa etária, expandindo suas possibilidades de aplicação.
Pelo fato de ter sido aplicado pela primeira vez com crianças de 3 e 4
anos, reapliquei o instrumento dois dias depois da primeira aplicação com a
mesma turma, para verificar se as respostas das crianças eram coerentes com
seu estilo de aprender, ou se elas estavam aleatoriamente apontando uma
resposta. Em ambas as aplicações o tempo médio foi de 25 a 30 minutos.
Ao avaliar os dados das duas aplicações, percebe-se que as respostas
foram exatamente as mesmas, sem alteração. O que comprova que as
crianças estavam pensando sobre o seu estilo de aprender por meio do
instrumento e não dando simplesmente uma resposta para dar conta da
pergunta.
Na tabela 10 e no gráfico 11 pode-se verificar os resultados da
aplicação

Tabela 10-Sala C- Primeira Aplicação

Aluno Estilo Predominante % Freq.


C1 Reflexivo 50% 6
C2 Teórico 33% 4
C3 Ativo 33% 4
C4 Ativo 50% 6
C5 Ativo 33% 4
C6 Ativo/Pragmático 83% 10
C7 Ativo/Pragmático 67% 8
C8 Teórico 33% 4

Gráfico 11- Sala C- Primeira Aplicação


126

Ao fazer a leitura do gráfico 11, observa-se a predominância do estilo


ativo, aparecendo em 5 crianças (C3, C4, C5, C6 e C7). Nessa faixa etária
(crianças de 3 e 4 anos), é natural que a criança seja ativa. Segundo o RCNI
de Formação Pessoal e Social (1998, p. 27), a criança entre os 3 e 4 anos está
aprofundando e ampliando seu autoconhecimento e o conhecimento que tem
sobre o mundo, por isso ela está progressivamente sendo capaz de

Ter uma imagem positiva de si, ampliando sua autoconfiança,


identificando cada vez mais suas limitações e possibilidades,
e agindo de acordo com elas;
Identificar e enfrentar situações de conflitos, utilizando seus
recursos pessoais, respeitando as outras crianças e adultos e
exigindo reciprocidade;
Valorizar ações de cooperação e solidariedade, desenvolvendo
atitudes de ajuda e colaboração e compartilhando suas
vevências;
Identificar e compreender a sua pertinência aos diversos
grupos dos quais participam, respeitando suas regras básicas
de convívio social e a diversidade que os compõe.

A infância é o momento em que a criança brinca aprendendo. A esse


respeito, Parolin (2007, p. 55) afirma: “a infância é tempo de brincar,
experimentar, aprender. É um tempo precioso que não pode ser impedido nem
postergado”. Assim, encontramos com maior facilidade nas salas de crianças
de 3 e 4 anos situações mais dinâmicas, diferenciadas e que exigem desafios,
127

uma vez que esse sujeito está constantemente necessitando de novos


conhecimentos e situações para aprender.
Quanto maior a diversidade de situações, maior a possibilidade de ele
aprender, socializar-se e desenvolver-se.

4.2 Segundo Momento de Intervenção.

O segundo momento de intervenção teve como marco a segunda


aplicação do inventário Portilho/Beltrami com as crianças, bem como uma
análise das duas primeiras aplicações que culminou com uma intervenção com
as professoras, a fim de fazê-las repensar os aspectos que permeiam sua
prática educativa.
Encontrar-se-á nas páginas que se seguem, as análises referentes a
esse segundo momento de intervenção.

4.2.1 Segunda Aplicação do Inventário Portilho/Beltrami.

A segunda aplicação do Inventário Portilho/Beltrami, teve como


objetivo, verificar se os estilos de aprendizagem dos alunos no meio do ano
letivo se alteravam. Caso a resposta fosse positiva, o foco de atenção cairia na
relação entre o estilo de aprendizagem das crianças e da professora.
O Inventário Portilho/Beltrami, foi aplicado pela segunda vez na turma
A, da sala 1, da escola particular, no início do mês de julho, respeitando dois
meses de intervalo.
A aplicação seguiu os mesmo padrões da primeira aplicação e teve o
mesmo tempo médio de 20 minutos por criança.
O que surpreendeu, foi à variação dos estilos das crianças ao longo do
período. Essa constatação pode ser observada na leitura da tabela 11 e do
gráfico 12.
128

Tabela 11: Sala A- Segunda Aplicação

Aluno Estilo Predominante % Freq.


A1 Teórico 42% 5
A2 Reflexivo 50% 6
A3 Reflexivo 50% 6
A4 Reflexivo 42% 5
A5 Todos 100% 12
A6 Reflexivo 42% 5
A7 Ativo 42% 5
A8 Ativo 42% 5
A9 Ativo 42% 5

Gráfico 12- Sala A- Segunda Aplicação

Os dados demonstram que houve a alteração do estilo de aprender das


crianças, em comparação com a primeira aplicação.
Ao ler os dados, percebe-se que os dois estilos predominantes da
professora da sala A1 (reflexivo 33% e ativo 25%) estão presentes nos estilos
de aprender dos alunos, excluindo apenas o A1 que manteve a predominância
do estilo teórico.
Desse modo, pode-se dizer que as aprendizagens desenvolvidas
dentro do ambiente de sala de aula são situações individuais construídas por
129

cada sujeito a partir de situações anteriormente assimiladas, reorganizando


seus conhecimentos e construindo juízo de valores. Entretanto, mesmo sendo
uma situação individual, ela recebe influências do meio. A esse respeito,
Parolin (2007, p. 35) afirma que

A natureza das aprendizagens tem uma relação direta com a


qualidade dos estímulos e das relações afetivas que foram
proporcionadas à criança, com a cultura em que ela está inserida

Pode-se dizer, desta forma, que o modo de ensinar (que se encontra


estritamente ligado ao modo de aprender da professora) está influenciando o
estilo de aprender das crianças, conforme as constatações anteriormente
indicadas. Essa mudança pode ser notada, durante os períodos de observação
realizados na sala. Como exemplo, transcreve-se a situação vivida pela turma
ao longo de uma aula de ciências sobre os animais ovíparos.

Professora A: Vocês sabem me dizer o nome de algum animal que


seja ovíparo?
Aluno B: jacaré
Professora A: isso mesmo! Mais algum?
Aluno D: o coelho.
Professora A: O coelho? Mas, o coelho não bota ovo!
Aluno D: Mas como é que ele trás os ovos da Páscoa?
Professora A: O coelho faz os ovos, ele não nasce do ovo. Na
páscoa ele vai até a fábrica de chocolates dele e faz os ovos, ele não
os bota como a galinha. Entendeu?
Aluno D: Mas eu sempre achei que ele botava os ovos de páscoa!
Por que ele faz os ovos da páscoa então?
Professora A: Isso não importa agora, que tal fazermos uma
experiência com ovo de galinha, para vocês observarem como ele é
por dentro?
Aluno A: Vamos quebrar ovo!
Professora A: Não, nós não vamos quebrar ovo, vamos fazer uma
experiência para retirar a casaca do ovo, mas sem quebrá-lo, para
que vocês observem como ele é por dentro.
Aluno D: Prof, eu ainda não entendi porque o coelho não bota ovo,
se o coelho da páscoa trás ovos para nós.
Professora A: Vamos fazer a experiência, com seus amigos e outra
hora eu te explico sobre os ovos da páscoa e o coelho.

Enquanto se dirigia à mesa central para realizar a experiência, o


aluno D fala em voz baixa:

Aluno D: Sempre depois!

Nas falas, pode-se ver que a professora, não privilegia o estilo teórico,
uma vez que ela não responde com coerência as dúvidas e indagações do
130

aluno. Nessa situação, a professora não conseguiu realizar uma análise das
dúvidas levantadas pela criança, o que o deixou desconsolado, pois não
conseguiu objetivar o porquê o coelho não é um animal ovíparo.
Ainda sobre a conduta dessa professora em sala de aula, pode-se dar
como exemplo outra situação.

Em uma aula de língua portuguesa, a professora solicita que os


alunos destaquem o alfabeto móvel da cartela, para que possam
realizar uma atividade com palavras.

Aluno F: terminei
Professora A: Quem terminou espera, que vamos fazer todos juntos.
Aluno C: Eu já vou escrevendo. Essa figura aqui é UVA, e uva se
escreve com U depois V, depois A.
Aluno A: Se a profe ver você escrevendo ela vai brigar. É melhor
esperar ela fazer.
Aluno C: Ela demora muito, eu já sei fazer!
Aluno B: Espera a prof. Se não ela vai brigar!
Aluno C: Ai tá bom. Mas ela vai levar um tempão para escrever,
porque vai fazer todas as palavras no quadro, e nós vamos ter que
dizer letra por letra.Vai demorar muito!

O diálogo das crianças demonstra que mesmo sabendo o que deve ser
feito, elas esperam os comandos da professora, uma vez que estão
acostumadas com suas atitudes. Assim, preferem esperar o modo dela fazer,
para então realizar a tarefa. Situações sistemáticas dessas podem ser um dos
motivos que fazem os alunos alterarem seus estilos, pois eles passam a operar
de acordo com o que a professora espera deles, e não da forma como eles
gostariam de fazer. Isso pode se refletir nas respostas obtidas nessa segunda
aplicação, pois as situações são apresentadas para avaliar como a criança faz
certas ações no seu dia a dia, sofrendo muitas vezes interferência de adultos e
regras sociais.
A aplicação na sala B1 também ocorreu no início do mês de julho,
tendo uma alteração no tempo de aplicação, passando para uma média de 20
minutos por criança, denotando um menor período de execução da atividade.
As constatações dessa segunda aplicação com a turma B1 podem ser
observadas na tabela 12, e no gráfico 14.
131

Tabela 12-Sala B- Segunda Aplicação

Aluno Estilo Predominante % Freq.


B1 Reflexivo 50% 6
B2 Reflexivo/Progmático 67% 8
B3 Reflexivo 33% 4
B4 Ativo 50% 6
B5 Reflexivo/Teórico 67% 8
B6 Reflexivo 50% 6
B7 Teórico 33% 4
B8 Reflexivo/Teórico 67% 8
B9 Teórico 33% 4

Gráfico 13- Sala B- Segunda Aplicação

Assim como foi constatado na turma A1, o gráfico apresentado também


demonstra que ocorreram alterações de estilos de aprendizagem nos alunos na
turma B1.
Diante dos resultados, pode-se constatar que um aluno, o B7, que já se
dizia teórico, permaneceu no mesmo estilo. Outros dois, o B2 e o B5 modificam
algumas características no seu estilo de aprender, aproximando-se mais dos
estilos da professora (reflexivo e ativo).
Durante as observações nessa sala de aula e as conversas com a
professora, percebe-se que ela passa por um momento de crise frente à
132

profissão, não se envolvendo nas atividades de modo geral, cumprindo com os


conteúdos sem a preocupação de articulá-los a outras situações trazidas pelos
alunos.
A imagem geral desta turma demonstra que os alunos, na maioria,
modificaram seus estilos de aprendizagem, como na sala A. O que se nota de
diferente é que essa mudança nos estilos não está relacionada ao estilo da
professora.
Diante disso, pode-se dizer que, as crianças variam seus estilos de
aprendizagem, antes de acomodar um estilo predominante, e que a
interferência da professora, pode influenciar para que essas mudanças
ocorram dentro do seu estilo predominante, como ocorreu na sala A1. Ou
ainda, o relacionamento entre as crianças, o convívio e as trocas em sala de
aula é outro fator determinante na construção de características nas
aprendizagens.
A criança de Educação Infantil estabelece em sua escola relações, e a
partir dela surgem variantes de extrema importância: o conhecimento e as
representações que ela fará desse mundo que a envolve.
A esse respeito Kramer (2007, p. 20) afirma

Isso quer dizer que as crianças participam da construção de seu


conhecimento como sujeitos ativos, fazendo uso dos esquemas
mentais próprios a cada etapa de seu desenvolvimento.
[...] Do ponto de vista cognitivo, destacamos a necessidade de levar
sempre em consideração o fato de que a criança conhece e constrói
as noções e os conceitos à medida que age, observa e relaciona os
objetos do mundo físico. É no decorrer das atividades que realizam
que as crianças incorporam dados e relações e é enfrentando
desafios e trocando informações umas com as outras e com os
adultos que elas desenvolvem seu pensamento

Desse modo, não é apenas o professor que pode ser considerado o


“objeto” na relação epistemológica do conhecimento. As interações das
crianças entre si, os objetos pertencentes ao ambiente educativo são fontes e
fatores de transformação no modo que essas lêem e codificam as informações
do ambiente. Como exemplo dessa parceria entre as crianças, pode-se dar
como exemplo, a situação vivida durante uma aula sobre borboletas.
133

Professora B: Vocês estão vendo essa atividade, que animal vocês


vêem nela?
Aluno F: Duas borboletas!
Professora B: Isso mesmo, então cada criança vai escolher um
material para enfeitar essas borboletas. Podem buscar!
Aluno D: As duas borboletas são diferentes. Por que elas são
diferentes profe?
Professora B: Porque ninguém é igual a ninguém. Olhe para seus
amigos, tem alguém igual a você?
Aluno D: Não.
Professora B: Então, ninguém é igual!
Aluno A: O “D”, eu já vi no Discovery Kids, que existem borboletas e
mariposas. As borboletas são diferentes da mariposas, porque
geralmente elas têm cores mais claras e são menores. Acho que
essa grande aqui é mariposa e a menor é borboleta. Então pinta a
grande de cor escura e a pequena de co clara.
Aluno D: Humm, e o que mais você sabe delas?
Aluno A: Eu sei que uma gosta do dia e outra da noite, mas agora
não lembro se a mariposa gosta do dia ou da noite.
Aluno D: Vou perguntar para meu pai!

Nas falas transcritas, percebe-se que a professora explora de modo


superficial os levantamentos feitos pelas crianças, fazendo com que os próprios
alunos troquem informações entre si, o que desperto ainda mais a curiosidade
e o levantamento de hipótese infantil.
A aplicação na sala C1 ocorreu no início do segundo semestre,
conforme previamente planejado. Devido à pandemia da gripe H1N1, essa
aplicação ocorreu somente na última semana do mês de agosto, data em que
as escolas da cidade de Curitiba retornaram as aulas, perfazendo um intervalo
de três meses entre as aplicações do Inventário. O tempo de aplicação
diminuiu, passando para uma média de 25 minutos por criança.
O resultado dessa segunda aplicação pode ser observado na tabela
13, e no gráfico 15.
Tabela 13- Sala C- Segunda Aplicação

Estilo
Aluno Predominante % Freq.
C1 Ativo 50% 6
C2 Ativo/Reflexivo 67% 8
C3 Ativo/Reflexivo 67% 8
C4 Ativo 50% 6
C5 Ativo 50% 6
C6 Teórico 42% 5
C7 Ativo 42% 5
C8 Ativo 42% 5
134

Gráfico 145- Sala C- Segunda Aplicação

Nessa sala C1, também ocorreu à mudança de estilo entre a primeira e


a segunda aplicação. Como se verifica, percebe-se que os alunos alteraram
seus estilos entre a primeira e a segunda aplicação, constatando uma
predominância no estilo ativo.
Essas alterações vêm ao encontro dos estilos predominantes de
aprendizagem da professora C1, que tem o estilo ativo (45%) combinado com o
teórico (30%).
Fator surpreendente é que todos os alunos têm um dos estilos
predominantes da professora, sendo que somente os alunos C2 e C3 fazem
combinações com outros estilos.
Ao analisar o resultado dessa turma, pode-se afirmar que o estilo de
ensinar/aprender da professora, exerce influências marcantes sobre a turma,
fazendo com que todos os alunos estejam assimilando seu estilo. Pode-se dar
como exemplo, uma observação realizada durante uma gincana de dia das
crianças no pátio da escola.

Professora C: Vamos lá turma, vamos ganhar da sala da prof. A


Aluno B; Profe Pode deixar que eles não vão ganhar de nós, nós
vamos ser os primeiros.
Aluno C: Vamos ganhar, porque eu não gosto de perder.
Aluno A: Nem eu!
Professora A: Nossa, a sua sala absorve rapidamente seu jeito de
ser heim “C”.
Professora C: É que nós somos muito unidos, e não deixamos que
ninguém ganhe de nós.
135

Ao longo da gincana o aluno A, não para de perguntar o número de


vitórias. Sempre que a turma perde uma das atividades, todos
demonstram irritação.

As crianças de Educação Infantil estão no processo de experimentar o


mundo que as cercam, bem como buscam encontrar por meio das experiências
vividas o caminho pelo qual aprendem. Pozo (2004, p. 12) destaca que a
ampliação das estratégias e estilos de aprendizagem e a “nossa capacidade de
conhecer é produto das formas específicas a partir das quais aprendemos que,
por sua vez, são resultados de nossa capacidade de conhecermos nós
mesmos e, através de nós, conhecer o mundo”.
Essa constatação tem importância para as professoras de Educação
Infantil e suas práticas de sala de aula, pois, ao perceber que as crianças são
influenciadas pelos estilos de ensinar, ela, mais do que nunca, deve variar suas
práticas para possibilitar uma diversidade de caminhos na aprendizagem de
seus alunos.
Partindo desse pressuposto, tornou-se necessário apresentar esses
dados para as professoras e conversar com elas sobre seus trabalhos,
instigando-as a fazer uma reflexão metacognitiva sobre as diversas relações
que estabelecem com o conhecimento, com as didáticas de sala de aula, com
os alunos, com o planejamento, etc. Segundo Portilho (2009b, p. 135),

A metacognição exige uma reflexão contínua e progressiva do nosso


funcionamento cognitivo, isso é, de nossas estratégias e estilos de
aprendizagem. O ensino, numa perspectiva metacognitiva, solicita
que o professor ofereça oportunidades ao aluno de aplicar as
estratégias de aprendidas em situações diferentes da anterior.

A seguir apresenta-se a estrutura dessas conversas, bem como o


material entregue para as professoras para repensar seu trabalho (Apêndice 3)
e o instrumento criado para que as mesmas registrassem suas reflexões ao
longo da proposta apresentada (Apêndice 1).
136

4.2.2 Proposta para repensar o planejamento e as atitudes em sala de aula.

Considerado o momento mais decisivo e importante da pesquisa, a


apresentação dos dados obtidos durante as duas aplicações do Inventário
Portilho/Beltrami para as professoras tinha como objetivo oportunizar um
ambiente de parceria entre a pesquisadora e as professoras para ressignificar
a prática docente a partir das reflexões constatadas ao longo do processo.
A esse respeito, Portilho (2009, p. 103) esclarece que, “como
aprendentes, necessitamos olhar constantemente para nós mesmos, revisar
nossas estratégias e estilos utilizados, avaliando os resultados e o processo”. É
seguindo esse pensamento que o processo de apresentação da proposta
ocorreu, pois, como alerta Bransford, Brown, e Coocking (2007, p.300),

Os professores têm o papel decisivo de ajudar os aprendizes a


partilhar sua compreensão, tomando-a como ponto de partida,
corrigindo as concepções incoerentes, observando os aprendizes e
envolvendo-se com eles durante o processo de aprendizagem.

Completando ainda o pensamento supracitado, para que a professora


esteja habilitada a auxiliar seus alunos, ela também precisa ter a atitude de
corrigir suas práticas e concepções, percebendo-se não somente como aquela
que ensina, mas também como aquela que aprende constantemente e ao
longo de toda a vida.
A apresentação dos dados carreados ocorreu com a professora A da
sala 1 da escola particular, no dia 25 de agosto de 2009, às 15 horas.
Foi apresentada a ela uma carta (apêndice C) contendo as informações
necessárias sobre as duas aplicações, bem como uma breve explicação das
características de cada estilo de aprendizagem.
Enquanto apresentava a proposta para a professora A, a mesma
mostrou-se receptiva com a conversa.
Primeiramente, foi apresentado o cruzamento entre os estilos dos
alunos aprenderem, o estilo de aprender dela e exemplos das observações
realizadas em sua sala de aula que indicavam características do estilo de
aprender presentes na prática docente.
137

A partir dos dados, foi apresentada a professora situações de sala de


aula em que ela privilegia a observação e analise antes do início de uma tarefa
características referentes ao estilo reflexivo. Pode-se dar como exemplo
alguma falar utilizadas pela mesma:

- Observem bem antes de iniciar a tarefa, o que vocês acham que


tem que ser feito?
- Que outros caminhos nós podemos seguir?
- Alguém tem outra idéia de como resolver essa situação?
- Será que essa é a única resposta? Existe outra possibilidade?

Também se pode perceber na fala dessa professora, alguns traços do


estilo ativo; como curiosidade, incentivo a rapidez, a competição e a disposição
em ajudar.

-Turminha, hoje eu encontrei um livro bem legal sobre os


dinossauros, querem ver?
- “F”, que brinquedo é esse que você trousse hoje? O que ele faz?
Vamos mostrar para toda a turma!
- Quero ver quem termina rapidinho essa tarefa. Quem terminar
rápido e fizer certo eu dou uma bala!
- Quem terminou, ajuda quem ainda está fazendo!

Além de exemplos de fala, mostrou-se para a professora A, alguns


exemplos de conduta de aula que podem ter contribuído para as crianças
terem alterado seus estilos.

- Primeiro eu vou mostrar uma forma de realizar essa atividade, mas


não é para copiar, quero ver se você observem como a profe vai
explicar e tentam encontrar uma outra forma para fazer a atividade.
- Turma, olhem só. A profe vai fazer uma lição com vocês, mas para
fazer, temos que prestar muita, muita, muita atenção.
- Vamos aplicar essas nossas hipóteses para verificar qual é a
melhor?
- Depois nós vemos isso “C”, vamos realizar a atividade agora para
ver como vocês se saem!
- Turminha, eu trousse hoje um desafio, quero ver quem é esperto e
descobre primeiro como realizá-lo.
- Qual é a regra da sala? Quem termina antes, ajuda o colega a
terminar!

Ao longo desses apontamentos, a professora sentiu-se surpresa ao se


reconhecer dentro das características que foram apresentadas, afirmando
138

Professora A: Jesus amado! Nunca tinha notado que incentivava


tanto a competição em sala e que meu jeito de aprender estava tão
presente no meu jeito de ensinar. Como meus alunos estão
absorvendo minhas características (risos). É preciso repensar essas
coisas que você está me mostrando!

Para repensar a proposta de elaboração e execução de aula, foi


solicitado que a professora dentro dos temas abordados em sala, elaborasse
atividades que privilegiassem os 4 estilos. Dessa forma em um mesmo tema,
ela poderia selecionar 4 atividades diferentes que desse enfoque ora para um
estilo, ora para outro.
O encontro com a professora B, da sala 2, da escola particular, ocorreu
no dia 26 de agosto de 2009, às 14 horas. A mesma demonstrou-se apreensiva
com a conversa e com os exemplos apresentados advindos das observações.
Apresentou-se a professora B exemplo da sua conduta durante suas
aulas, e o modo como ela as conduz.

-Eu vou colocar a cola para vocês não lambuzarem a atividade.


- Não é para fazer isso bonitinho! Eu falei como tem que fazer!
- Bonitinha, eu falei que o sol é amarelo e não laranja.
- Olha! Eu já recortei várias palavras com “M”, é só vir aqui e pegar,
nem precisa procurar na revista!

Com esses exemplos, foi mostrado para a professora, que ela sempre
diz exatamente o que e como as crianças devem realizar as atividades, não
possibilitando outro tipo de experiência com o trabalhado realizado em sala.
Ainda, demonstrou-se que as atividades estavam sendo meramente de
registro, não levando a turma a realizar ligações dos conhecimentos com
outras áreas, ou até mesmo com situações práticas do dia a dia.
Como exemplo de suas falas, citou-se:

- Olhem como se faz!


- Eu vou recortar e vocês pegam aqui e colam na atividade.
- É só para escrever o nome do colega que está ao seu lado, copia do
crachá de nome do amigo.
- A letra “D” é a letra do dado, do dedo, de dia. Então desenha um
dedo da folha e pode entregar!
- Bonitinha, não precisa pegar a tesoura, eu já recortei várias figuras
de animais é só pegar lá na mesa e colar.
139

Durante a conversa sobre os apontamentos de sua conduta, a


professora B chegou a ficar corada e com os olhos marejados de lágrimas.
Surpreendeu-se com os dados, dizendo

Professora B: Nossa!Não havia percebido que minha insatisfação


com a profissão e com a instituição está tão marcada no meu trabalho
com as crianças. Sinto até vergonha de ver esses dados e
observações feitas por você! Acho, vou pensar muito mais do que um
planejamento, vou ter que pensar na minha postura, no meu
compromisso ético com essas crianças. Desculpe-me!

Tomar conta de uma realidade a partir do olhar do outro pode ser


doloroso e por vezes desafiador. A esse respeito, Caldeira e Parolin (2007,
p.17) afirmam

Entende-se que os professores para se prepararem para enfrentar o


desafio de provocar aprendizagens num mundo de incertezas,
necessitam ter suas mentes despertadas para a delicadeza e
amplitude das relações que educam. O desafio de compreender o ser
humano e suas peculiaridades se faz vivendo diferentes situações,
refletindo sobre elas e compartilhando suas reflexões com seus
pares.

A partir deste referencial, a conversa com a professora aconteceu no


sentido de que não é o caso de pedir desculpas, mas de privilegiar um
momento de reflexão sobre o trabalho, hábito pouco desenvolvido.
A apresentação dos dados com a professora C ocorreu no dia 1 de
setembro de 2009, às 17 horas. Seguindo o padrão dos encontros anteriores
A característica marcante do estilo ativo da professora C estava
presente em suas falas

- Galerinha, vamos nos divertir!


- Pessoal, vamos aprender a desenhar uma árvore, então cada um
escolhe uma cor e pega um pincel, vamos aprender pintando!
- Hoje quero ver quem ganha a dança das cadeiras!
- Que tal se nós fizermos a lição lá no parquinho?

Além dessas falas, pode-se observar na condução das aulas atitudes


como:
140

-Pessoal, não tem tinta roxa aqui na escola, mas como podemos
fazer uma beterraba que não seja roxa? Que tal nós fazermos a
nossa tinta roxa, misturando duas cores? A Azul e a Vermelha!!!
- Quem tem coragem de vir aqui na frente e ensinar uma música para
toda a turma?
- Vamos nos pendurar nessas árvores e fingir que somos macacos.
Só cuidado para não cair e quebrar o braço.
- Por que você está se desenhando só com a cabeça e os braços?
- Eu já te mostrei como se escreve o seu nome, porque você está
colocando as letras todas ao contrário?
-Nossa que desenho feio, pinta dentro do limite e não deixa sair esse
traçado.
- Vocês estão muito manhosos, o que é isso?
- Macacadas têm pouco pão para fazer um sanduíche duplo. O que
podemos fazer para resolver isso?

Durante a colocação de exemplos e a reflexão conjunta sobre essas


atitudes, mostrou-se para a professora, que as crianças de 3 anos, estão na
fase de desenhar figuras irradiadas e continentes. Para uma melhor
compreensão dessa teoria, levou-se para a professora, um capítulo do livro “A
criança e seu desenho” de Philippe Greig, onde continha informações
pedagógicas sobre a evolução do desenho infantil.
Um dos trechos lidos com a professora durante a reflexão foi:

Os elementos irradiados muitas vezes não têm correspondência com


nossos membros, e essas críticas mostram que uma certa projeção
do esquema corporal é igualmente esperada aqui. Constatam-se
esforços parciais nessa direção, para os membros ou para os olhos
que são introduzidos e, às vezes, designados. Esse esforço conduz,
aos 3 anos e meio em média, à figura-girino verdadeira, que
rapidamente vai enriquecendo de precisão e detalhes. (Greig, 2004,
p.36)

Ao compreender que os desenhos de seus alunos e a fase de


desenvolvimento que eles estavam estão vinculados, a professora C afirmou:

Professora C: Eu já havia ouvido falar dessas coisas na faculdade,


mas não imaginava que isso teria validade aqui. Se eu parar para
pensar, muita coisa que ignorei nas aulas, são importantes para o
que você está me trazendo aqui! Acho que vou ter que voltar a
estudar algumas coisas.

Enquanto falava isso, percebeu-se no rosto da professora que ela


estava refletindo sobre a conversa e estabelecendo conexões com os
141

conhecimentos adquiridos na sua formação. Refutando a resposta dada na


pergunta 5 da entrevista: Em que medida sua formação acadêmica ajudou e
dificultou sua atuação em sala de aula, a professora havia informado que

Professora C: Não ajudou em nada e não dificultou em nada. Na


Educação Infantil o que facilita é ter jeito com a criança, você aprende
no dia a dia...

Durante a conversa com a pesquisadora, a professora foi tomando


consciência do seu papel profissional e percebendo que trabalhar na Educação
Infantil exige muito mais do que ter jeito com as crianças. Exige reflexões
diárias, busca constante pelo conhecimento, relação entre a teoria e a prática,
adaptação e alteração de atitudes, e um processo continuo de formação.
Para repensar o planejamento e as práticas de sala de aula, deu-se um
intervalo de 2 meses para que as professoras pudessem refletir sobre a
conversa e os dados apresentados, bem como terem tempo para estabelecer a
mudança que a proposta exigia. Para este momento, foi entregue uma ficha
metacognitiva (Apêndice 1) para que as professoras pudessem anotar,
semanalmente, os aspectos que mais lhe ajudavam ou dificultavam no
trabalho, bem como quais práticas poderiam ou não ser reaproveitadas em
outras situações.

4.3 Terceiro Momento de Intervenção

O terceiro momento de intervenção ficou marcado pelas observações


de aula, bem como pela terceira etapa da aplicação do Inventário
Portilho/Beltrami nas crianças e uma conversa de encerramento e despedida
com as professoras.
142

4.3.1 Terceira Aplicação do Inventário Portilho/Beltrami.

A terceira aplicação do Inventário Portilho/Beltrami ocorreu no mês de


novembro de 2009, nas três escolas, totalizando dois meses entre a segunda e
a terceira aplicação. Esse momento tinha por objetivo verificar se as mudanças
no planejamento, na execução e na avaliação das aulas ministradas,
possibilitando um equilíbrio entre os estilos de ensinar e aprender das
professoras e alunos.
Na turma A, os resultados podem ser acompanhados na tabela 14 e no
gráfico 16.

Tabela 14- Sala A- Terceira Aplicação

Aluno Estilo Predominante % Freq.


A1 Todos 100% 12
A2 Teórico 50% 6
A3 Reflexivo 58% 7
A4 Ativo/Ref./Teórico 100% 12
A5 Ativo/Teórico 67% 8
A6 Ativo/Ref./Teórico 100% 12
A7 Reflexivo 42% 5
A8 Todos 100% 12
A9 Ativo/Ref./Teórico 100% 12

Gráfico 156- Sala A- Terceira Aplicação


143

Como pode ser observado, das nove crianças da Turma A, seis


conseguiram fazer uma combinação de mais de um estilo, sendo os alunos A1,
A4, A5, A6, A8 e A9 os representantes dessa afirmação. Os alunos A2, A3 e
A7 tiveram apena um estilo como predominante.
Nas análises realizadas, percebe-se que o estilo que menos aparece
ao longo dessa pesquisa na turma A é o estilo pragmático, confundindo-se
muitas vezes com o estilo ativo.
Segundo Portilho (2009, p. 101), as pessoas pragmáticas “são as que
tendem a colocar em prática as idéias; mostram-se impacientes até poder
aplicar o que aprenderam; têm como objetivo a funcionalidade”. E o estilo ativo
“são as pessoas que se destacam por sua vivacidade, mente aberta e gosto
por novas experiências”. Essa mistura entre os conceitos e as características
de cada estilo estiveram registradas na primeira ficha metacognitiva da
professora A. Quando perguntado, qual foi a sua dificuldade em trabalhar com
os estilos de aprender dos alunos, ela destacou

Professora A: O completo entendimento de cada estilo,


principalmente a tenuidade de características do estilo ativo e
pragmático. Para mim, as suas características estão muito próximas,
dificultando elaborar aulas diferentes que atinjam ora um ora outro.

Um exemplo dessa dificuldade foi vista em uma aula de ciências,


quando as crianças trabalharam com uma experiência com o Ovo.

Professora A: Turma, hoje vamos realizar uma experiência de


ciências, nela vamos ver como podemos fazer para retirar a casca do
ovo sem quebrá-lo. Alguém tem alguma idéia de como podemos fazer
isso?
Aluno 1: Vamos usar uma agulha e tirar o que tem dentro como se
fosse sangue!
Aluno 2: Podemos fazer um furinho bem pequeno e tirar o que tem
dentro!
Aluno 3: derrrrrr não é para quebrar a casca!
Professora: que tal colocar esse ovo dentro de um copo cheio de
vinagre e deixar lá dentro por alguns dias!!! Vamos ver o que
acontece?
Aluno 1: prof. Vamos fazer também com agulha para ver se dá
certo?
Professora: eu não tenho agulha aqui!
Aluno 1: Mas podemos trazer amanhã e tentar.
Professora: Outro dia fazemos isso! Ok?
Aluno 1: aaaaaaaa.
144

No exemplo transcrito, a professora trouxe para a sala de aula uma


situação-problema, que era ao mesmo tempo uma experiência nova para a
turma e possibilitava o levantamento de hipóteses. Entretanto, a dificuldade em
discriminar as características dos dois estilos acabou não permitindo a ela
atender as alternativas sugeridas pelos alunos, e favorecem a realização da
atividade conforme havia planejado.
Algumas hipóteses foram levantadas. Ao fazer uma análise dessa
dificuldade em realizar atividades com características pragmáticas levanta-se
como um dos aspectos, a superficialidade com que a professora trata o
conteúdo que trabalha. Quando se tem claro o sentido e a relevância do que
está sendo trabalhado, é mais fácil transformar esse conteúdo em algo
significativo para ela e para as crianças.
Outra hipótese está ligada à fragilidade das técnicas necessárias para
realizar esse trabalho. Muitas vezes, a professora não possui um aparato de
técnicas que lhe possibilite realizar certas atividades em sala de aula, como foi
no caso da experiência de ciências. Se ela não tiver uma formação adequada
para lidar com essas situações, então provavelmente irá somente tratá-las sem
o devido aprofundamento e exploração que esse tipo de tarefa necessita.
Esse último ponto salientado pode ser comprovado. Quando registrado
na ficha metacognitiva acerca do ponto de vista dela como havia sido a aula,
ela destaca

Professora A: Foi muito boa, pois pude observar que as crianças


demonstraram maior interesse.

Esse despertar do interesse das crianças foi algo positivo e uma


conquista no trabalho dessa professora. Entretanto, faltou-lhe explorar esse
interesse infantil, pois, conforme afirma Pozo (2002, p.235), “o aprendiz deve
compreender o que está fazendo e por que está fazendo, o que, por sua vez,
exigirá uma reflexão consciente, um metaconhecimento sobre os
procedimentos empregados”. Partindo desse interesse e dessas hipóteses
trabalhadas, as crianças vão sendo capazes de refletir sobre seus processos
cognitivos, o que implica, segundo Portilho e Tescarolo (2006, p.03) “considerar
o cotidiano humano imerso em uma realidade cheia de contradições, mistérios,
145

incertezas e esperanças, em um contraponto de perplexidade e admiração”. Ou


seja, é partindo das hipóteses que a professora poderá desenvolver com as
crianças estratégias metacognitivas, ensinando-as desde cedo a tomarem
consciência e terem controle dos seus processos de pensamento.
Esse desenvolver das estratégias pode ocorrer a partir do contato com
as características predominantes no seu estilo de aprendizagem. Quando a
professora reconhece que um aluno aprende melhor por um estilo, ela pode
intervir apresentando atividades que proporcionem o desenvolvimento de
características do estilo predominante, priorizando, assim, um ensino que
contemple a diversidade na hora de aprender. Se desde a tenra idade a criança
foi ensinada a pensar sobre seus processos mentais, ela estará aprendendo a
ser autora de sua aprendizagem.
O movimento de tomada de consciência por meio dos estilos de
aprendizagem ocorreu com a professora, pois, na segunda ficha metacognitiva,
ao ser questionada sobre o que mais a ajudou a atingir o objetivo esperado, ela
responde:

Professora A: Estar mais familiarizada com os diferentes estilos de


aprendizagem e assim atingir mais os alunos.

E ainda complementa essa afirmação com a resposta à pergunta o que


na sua prática de sala de aula você pode aproveitar para as próximas aulas?

Professora A: a utilização de diferentes materiais e as diferentes


formas de apresentar e realizar um mesmo tema.

Ao mesmo tempo toma consciência dos aspectos negativos dessa


mesma aula, afirmando que algumas atitudes não podem ser repetidas na
próxima vez

Professora A: Diante do erro de algumas crianças, agiria diferente.

Nessas respostas, pode-se notar o início de um trabalho consciente e


regulador que está se desenvolvendo nessa professora. Ela está adquirindo
146

consciência do seu trabalho e o reflexo que ele tem em seus alunos,


conseguindo também atingir o segundo nível das estratégias metacognitivas
que é a auto-regulação. Quando pensa nas atividades e nas tarefas propostas
à turma e no desenrolar dessas, percebendo os aspectos positivos e negativos,
as conquistas e as áreas de maior dificuldade, ela acaba por desenvolver
estratégias de controle. Esse processo a faz chegar á última estratégia
metacognitiva, a autopoiese, que está permitindo à professora fazer o processo
de feedback no seu movimento de aprendizagem/ensino, auto-organizando-se
e se retroalimentando. A esse respeito, Portilho (2009, p. 114) afirma “a
metacognição alimenta-se a partir dos efeitos que produz no próprio ambiente,
em um movimento circular aberto”.
Na turma B, os resultados podem ser acompanhados na tabela 15 e no
gráfico 17.

Tabela 15- Sala B- Terceira Aplicação

Aluno Estilo Predominante % Freq.


B1 Reflexivo 50% 6
B2 Todos 100% 12
B3 Teórico 58% 7
B4 Ativo/Teórico 83% 10
B5 Reflexivo 50% 6
B6 Reflexivo/Ativo 100% 12
B7 Ativo/Teórico 83% 10
B8 Reflexivo/Teórico 83% 10
B9 Todos 100% 12
147

Gráfico 17- Sala B- Terceira Aplicação

Como pode ser analisado, das nove crianças da Turma B, seis


conseguiram fazer uma combinação de mais de um estilo, sendo os alunos B2,
44, B6, B7, B8 e B9 os representantes dessa afirmação. Os alunos B1 e B5
tiveram apena o estilo reflexivo como predominante e o aluno B3 teve maior
destaque no estilo teórico.
Na análise da turma B, percebe-se que as variações dos estilos de
aprender dos alunos estão ligadas ao estilo de ensinar da professora, pois
somente três alunos não apresentam a influência do estilo da professora
ensinar no seu estilo de aprender. Com esse resultado, verifica-se que o modo
como a professora ensina, influencia o modo como os alunos aprendem. Essa
constatação foi possível, comparando-se o resultado da segunda com a
terceira aplicação. Na segunda aplicação, os estilos dos alunos estavam
desconexos do estilo da professora, pois ela estava apenas cumprindo um
cronograma de atividades, sem aprofundá-las, enquanto que, na terceira
aplicação, após refletir sobre as constatações feitas, a professora alterou seu
modo de dar aula, o que gerou uma aproximação dos estilos dos alunos, com
os dela.
A esse respeito, pode-se dizer que o repensar do processo pela
professora B, contribuiu para essas alterações, pois segundo ela, o que mais
lhe ajudou a atingir os objetivos esperado foi o
148

Professora B: Controle dos impulsos, empatia (compreensão do


outro), prestatividade, manifestações das emoções, olhar o outro com
um novo olhar.

Nessa perspectiva, a professora afirma que ver o outro de um modo


diferente e realmente entendê-lo, fez com que ela desenvolvesse o sentimento
de pertença ao grupo, olhando a turma de outra forma, ressignificando seu
trabalho a partir dessa nova visão.
Entretanto, ela salienta que, ao longo desse processo, encontrou
algumas dificuldades como a seguinte:

Professora B: Manifestações de opiniões, bem como pensar nos


diferentes caminhos para apresentar um mesmo tema.

Esse trabalho realizado pela professora B é o que O‟Sullivan (2004, p.


373) afirma ser necessário para superar a mera percepção cognitiva das
coisas. Para ele, é o desenvolvimento de uma “postura interior que permite
profunda compreensão relacional de tudo o que podemos experimentar dentro
e fora de nós”. Esse mudar de postura da professora a fez viver uma nova
forma de ensinar e, consequentemente aprender, fez com que ela mudasse
para melhorar sua aprendizagem.
Pode-se dar como exemplo a aula observada no final do mês de
setembro antes da terceira aplicação do Inventário Portilho/Beltrami.

Professora B: Turma, hoje eu trouxe uma caixa mágica, e dentro


dela, vamos encontrar diversos materiais e com esses materiais
teremos que descobrir o que vamos fazer.
Aluno 1: o que será que tem ali dentro?
Aluno 2: acho que são animais!
Aluno3: acho que são vários potes!
Professora B: Posso abrir a caixa?
Turma: Pode!
Aluno 4: tem muita revista, jornal e treco de mercado, o que vai dar
para fazer com isso?
Professora B: o que tem em comum nessas coisas?
Aluno 2: nada!
Professora B: Nada? Olha direito para elas!
Aluno 3: coisas escritas! Todas elas têm coisas escritas, que eu não
sei o que é.
Professora B: e o que nós usamos para escrever palavras.
Aluno 1: lápis
Professora: não eu quero dizer o que nós precisamos saber para
pode construir as palavras, as frases e os textos.
Aluno 5: escrever!
149

Professora B: Escrever o que?


Aluno 6: As letras!
Professora B: isso, nós precisamos saber as letras e como utilizá-
las, depois é só ir montando as palavras a partir das idéias e as
palavras vão formar frases e as frases vão formar textos e textos
podem formar livros, artigos de revistas, várias coisas!

Diferente do que vinha se observando nas aulas dessa professora, já


se encontra, nesse momento, uma maior interação dela com os alunos, bem
como a presença da curiosidade, do despertar das hipóteses. Essa mudança
de atitude apresenta-se também nos seus registros da ficha metacognitiva,
quando indica o que poderia aproveitar para as próximas aulas

Professora B: A formulação de perguntas, buscando informações e


confrontando idéias, e também o despertar da curiosidade da turma.

Esses momentos de tomada de consciência sobre suas atitudes em


sala de aula, a levam ao controle de suas estratégias na hora de ministrar as
aulas.
Dentro dessas descobertas, a professora afirma que a dificuldade em
trabalhar com os estilos de aprender dos alunos está focada nas

Professora B: Manifestaçôe de opiniões, nas semelhanças e


diferenças entre um estilo e outro e também na dificuldade em
elaborar atividades que possibilitem a compreensão de cada estilo.

Sobre essa questão, é oportuno dizer que ninguém nasce sabendo


lidar com os diferentes estilos de aprendizagem e suas características, mas
que o uso das estratégias metacognitivas pode ser um caminho viável para
esse despertar consciente de como se aprende. Para isso é necessário que o
professor passe a refletir sobre suas atitudes e estratégias, ajudando os alunos
a pensarem sobre como gostam de aprender, quais estratégias estão obtendo
bons resultados e aquelas que necessitam serem revistas. A esse respeito,
Portilho (2007, p. 04) afirma que “as crianças não nascem com um
conhecimento e um controle metacognitivo suficiente. É necessário ensiná-las”.
Se desde cedo formos habilitados a despertar essa consciência em
nossas crianças, então, com toda certeza, contribuiremos para a formação de
150

jovens mais centrados na compreensão; no aprender a aprender. Cordeiro


(2008, p. 03) ainda salienta que “na Educação Infantil, espera-se que os
adultos observem as crianças em atividade, e, a partir daí, planejem maneiras
de potencializar suas experiências”, a fim de promover efetivo desenvolvimento
da criança.
Na turma C, os resultados podem ser acompanhados na tabela 16 e no
gráfico 22.
Tabela 16- Sala C- Terceira Aplicação

Aluno Estilo Predominante % Freq.


C1 Ativo/Teórico/Prag. 100% 12
C2 Ativo/Ref./Teórico 100% 12
C3 Ref./Teórico/Prag. 100% 12
C4 Ativo/Reflexivo 67% 8
C5 Ativo/Teórico/Prag. 67% 8
C6 Ref./Teórico/Prag. 100% 12
C7 Ativo 42% 5
C8 Ativo 42% 5

Gráfico 18- Sala C- Terceira Aplicação

Como pode ser analisado, das nove crianças da Turma C, seis


conseguiram fazer uma combinação de mais de um estilo, sendo os alunos C1,
C2, C3, C4, C5 e C6 os representantes dessa afirmação. Os alunos C7 e C8
151

tiveram apena o estilo ativo como predominante. Para uma melhor visualização
das variações de estilos ocorridas com os alunos ao longo da pesquisa,
apresenta-se o gráfico 23.
O alto índice de estilo ativo nos alunos da sala C justifica-se por ser o
estilo predominante da professora e que se destacava em suas aulas, bem
como, pela fase de desenvolvimento em que as crianças se encontram, sendo
mais ativas naturalmente. A esse respeito Cordeiro (2008, p. 4) salienta que

... o ambiente de educação infantil proporciona situações para que as


crianças entrem em contato com as experiências-chave que
garantam uma aprendizagem ativa. Tais experiências-chave
envolvem situações de representação criativa; linguagem; iniciativa e
relações interpessoais; movimento; música; classificação; seriação;
número; espaço e tempo, que permitem o contato das crianças com o
meio e com os objetos a partir de suas experiências diretas.

Ou seja, ambiente da Educação Infantil é um excelente espaço para


proporcionar as crianças situações inovadoras, de descobertas, onde existe a
possibilidade de serem espontâneas, e participativas, que são características
marcantes do estilo ativo.
Ainda sobre essa sala, pode-se destacar a alteração de atitude da
professora frente aos conteúdos e às didáticas de sala de aula. Percebeu-se
nela, uma preocupação em contextualizar a aprendizagem da criança, bem
como uma análise mais detalhada do desenvolvimento infantil, conseguindo
cruzar os conhecimentos acadêmicos com os conhecimentos desenvolvidos na
prática de sala de aula. Tal afirmação é oriunda da resposta oferecida pela
professora C a resposta 1 da ficha metacognitiva. Quando questionada acerca
da tarefa realizada no dia o que mais a ajudou a atingir o objetivo esperado, a
mesma responde:

Professora C: O entrelaçar da teoria com a prática. Ao perceber que


as fases do desenvolvimento infantil e as características, isso tem me
ajudado a elaborar e aplicar com mais segurança meu trabalho. Ainda
percebo que a partir dessas características de desenvolvimento,
consigo elaborar atividades mais produtivas para as crianças,
aproveitando melhor a sua curiosidade e interesse.

Ao perceber a relação entre a teoria e a prática, a professora C passa a


modificar sua atitude em sala de aula, privilegiando reflexões, argumentações,
152

experimentação, disciplina e críticas. Tal afirmação pode ser verificada na


observação transcrita a seguir.

Professora C: Turminha, hoje vamos trabalhar com algumas formas.


Alguém sabe o que é isso?
Aluno 1: Uma bola!
Professora C: Tem a forma de uma bola, mas recebe outro nome!
Alguém sabe que nome é esse?
Aluno 2: Triângulo!
Professora C: Veja, a palavra triângulo tem esse nome porque a
figura que a representa têm três ângulos e eles são a distância entre
a abertura de duas retas. (mostra para as crianças a abertura
utilizando lápis de cor no chão).
Aluno 2: então esse brinquedo amarelo é um triângulo!
Professora C: Isso mesmo! E você encontra outro objeto aqui na
sala que tenha a forma de triângulo?
Aluno 2: (olha ao redor da sala e diz) O teto forma um triângulo
profe.
Professora C: Onde você está vendo um triângulo?
Aluno 2: Ali ó! E aponta com o dedo fazendo o formato do triângulo.
Professora C: Isso, e que nome recebe esse objeto que segundo
vocês se parece com uma bola?
Aluno 3: Círculo!
Professora C: Isso mesmo! E onde podemos encontrar círculos aqui
na nossa sala?
Aluno 4: Aqui prof. (levanta-se e toca o trinco da porta da sala)
Aluno 5: Aqui também tem! (mostra a roda do carrinho)
Professora C: Viu como temos circulo em vários lugares. E no nosso
corpo? Podemos encontrar círculos?
Aluno 2: Os olho!
Professora C: Os OLHOS têm a forma de círculo! Então, vamos
procurar pela escola alguns objetos que tenham formas geométricas
e trazer para a sala de aula?
Turma: vamos!

Ao analisar a observação anterior, percebe-se na professora uma


preocupação em privilegiar o estilo pragmático, quando explica sobre os
triângulos e pede para o aluno procurar pela sala outro objeto que tenha essa
forma geométrica. Essa atitude para os pragmáticos é importante uma vez que
eles gostam de aplicar o que foi aprendido. Ainda se pode ver o estilo reflexivo
sendo trabalhado quando a professora instiga a turma a observar as formas
geométricas pela escola e trazê-las para a sala de aula. Nesse mesmo pedido,
vê-se o estilo ativo se apresentando, uma vez que o estilo ativo gosta de mudar
de ambientes.
Essa atitude de trabalhar com as hipóteses das crianças, bem como
com sua curiosidade, foi uma tarefa difícil para a professora, pois segundo ela
153

a dificuldade em trabalhar com os estilos está ligado a alguns fatores, conforme


transcritos.

Professora C: senti dificuldade em trabalhar com os estilos, no


momento que tenho que lidar com as diversas opiniões em sala. Por
vezes sinto vontade de dar a resposta correta logo, e isso prejudica o
estilo reflexivo, que necessita de várias opiniões para se colocar, ou
então não possibilitar que as crianças perguntem os porquês das
coisas, o que impediria uma reflexão do estilo teórico.

Nesse depoimento, encontra-se a professora fazendo reflexões sobre


suas atitudes anteriores e como elas são difíceis de serem alteradas, mas,
mais do que isso, encontra-se a professora tomando consciência de como
ensina e buscando autorregular-se, refletindo sobre suas atitudes durante as
aulas.
Ao término dessa análise de dados, a pesquisadora retorna à escola e
apresenta as conquistas alcançadas pelas professoras. Elas demonstraram
felicidade e, acima de tudo, perceberam que o ambiente da sala de aula é um
lugar rico de possibilidades a serem exploradas como meio de manterem sua
formação sempre em contínua transformação.
Sobre a parceria desenvolvida ao longo do ano, destacaram

Professora A: Obrigada por ter me ajudado a crescer mais como


profissional esse ano. Vou buscar realizar esse trabalho nos próximos
anos, para buscar uma melhor reflexão do meu trabalho.
Professora B: Você e seu trabalho me ajudaram a encontrar um
novo sentido para minha profissão e angustias. Obrigada!
Professora C: A melhor coisa que me aconteceu nos últimos anos,
foi você ter entrado na minha sala e me feito perceber tudo aquilo que
durante anos estavam sem nexo. Não tenho palavras para te
agradecer! Você iluminou minha mente, me fazendo perceber coisas
que já existiam na minha cabeça, mas que eu não compreendia.

Para que o processo de aprendizagem ocorra de maneira efetiva,


torna-se fundamental que as professoras tenham consciência de seu trabalho e
do que ele realmente representa para a educação de nossas crianças. Ser
professora de Educação Infantil é caminhar com o aprendiz nas diversas trilhas
do aprender a aprender, é ter consciência, controle e projetos de transformação
do cotidiano da sala de aula.
154

Finalizo esse trabalho citando as palavras de Portilho e Tescarolo


(2006, p. 8)

A pergunta que não cala agora é: o que tudo isso tem a ver com a
escola? Ora, apenas pelo desenvolvimento de uma aprendizagem
transformadora, nutrida pela capacidade metarreflexiva, é que
propiciará o pensamento necessário e urgente para darmos conta do
que mais importa: a Vida como opção imprescindível para a
realização da dignidade planetária. Por isso, entendemos que a
educação não pode se limitar à crença em premissas e normas
irrefutáveis e indubitáveis de uma razão fisicalista, mas em outras
categorias mentais neurocognitivas e bioafetivas, sustentadas por
valores e princípios em nome dos quais o ser humano empreende
sua trajetória ética de discernimento e emancipação visando a um
mundo melhor.
155

5 CONSIDERAÇÕES, LIMITES E PERSPECTIVAS DO TRABALHO


REALIZADO.

Esta dissertação concentrou seus estudos na professora de Educação


Infantil, suas vivências em sala de aula, bem como a forma como age e
interage com seus alunos.
Teve ainda como ponto culminante, as reflexões que ela fez a partir
dos estilos de aprendizagem e das estratégias metacognitivas que tinham o
intuito de fazê-la repensar cotidianamente seu trabalho e o reflexo desse na
aprendizagem dos discentes.
Alguns pontos são importantes e merecem destaque.
Um aspecto limitador do trabalho foi a pouca adesão do grupo total de
professoras para realizar essa pesquisa, restringindo a amostragem a três
docentes. Outro limite encontrado foi à dificuldade em receber o consentimento
dos pais para permitirem que seus filhos fizessem parte da investigação,
reduzindo o grupo para 26 crianças.
Entretanto, destaca-se que, mesmo encontrando alguns obstáculos, a
pesquisa foi realizada com êxito, atingindo seus objetivos e apresentando
resultados relevantes para a Educação Infantil e o trabalho docente.
O primeiro fator a ser destacado, foi à identificação dos estilos de
aprendizagem predominantes dos alunos e da professora de Educação Infantil.
Essa identificação contribuiu para consolidar o andamento da pesquisa ao
longo dos três momentos de intervenção, uma vez que foi a partir da teoria dos
Estilos de Aprendizagem, que esse trabalho se fundamentou.
Pelo fato dos alunos estarem passando por uma fase em que a
influência do adulto marca o seu desenvolvimento, percebeu-se que a
aplicação do Inventário Portilho/Beltrami de Estilo de Aprendizagem em
períodos regulares do ano letivo, tem grande valia para o trabalho da
professora, uma vez que, oferece dados sobre o desenvolvimento de cada
aluno e ainda permite que, ela altere seus planejamentos e suas atitudes em
sala de aula a partir dos dados oferecidos pelo inventário.
A experiência realizada sugere que, o instrumento seja aplicado pela
professora no início de cada bimestre. Os momentos de aplicação permitem a
156

ela elaborar atividades que potencializem todos os estilos, para obter


aprendizagens mais flexíveis e significativas, bem como possibilita um controle
sobre os estilos que privilegia, a fim de encontrar um equilíbrio entre eles e sua
prática pedagógica.
Outra contribuição foi à constatação da mudança de Estilos de
Aprendizagem por parte das crianças. Isso se deve a algumas influências. Em
primeiro lugar, fatores externos à sala de aula, como pais, familiares, amigos e
ambientes educativos diversos que influenciam no gosto das crianças em
aprender. Igualmente o estilo de a professora ensinar, exerce influência direta
no estilo dos alunos aprenderem, fator comprovado durante os três momentos
de aplicação do Inventário Portilho/Beltrami de Estilos de Aprendizagem.
Com relação ao modo como a professora apresenta o conteúdo para
seus alunos, percebeu-se que o mesmo influencia diretamente os discentes a
desenvolverem características que os habilitará a reconhecer e a conviver no
mundo, gerando uma aproximação entre o estilo de ensinar da professora e o
estilo do aluno aprender. Assim, é necessário que, a professora apresente as
atividades para as crianças, explorando diferentes caminhos e não
necessariamente aquele que ela tem maior domínio ou facilidade em
apresentar. Esse movimento de ampliação de estratégias possibilita o
dinamismo do fazer de sala de aula, assim como valoriza as diferentes
maneiras de se apropriar do conhecimento e expressá-lo.
Ainda sobre o Instrumento Portilho/Beltrami, pode-se destacar que o
mesmo permite ao aluno, identificar seu modo de aprender, fazendo-o perceber
suas potencialidades e limitações frente às tarefas que realiza, auxiliando-o no
desenvolvimento da autonomia.
Além das contribuições pertinentes aos Estilos de Aprendizagem da
professora e dos alunos, podem-se destacar as ações posteriores que essas
descobertas geram, como por exemplo, o repensar do planejamento e da
execução das aulas pela professora. A experiência realizada nesta pesquisa
destaca o valor dessa ação no interior das escolas.
Receber o olhar do outro em relação ao seu trabalho e dialogar, com
fundamentação, sobre os aspectos positivos e “dificultadores”, ajuda a
professora no repensar e no refazer das práticas pedagógicas. O olhar externo
pode vir de uma colega, de uma coordenadora ou supervisora, da família ou
157

até mesmo de pesquisadores. Esse percurso solicita à tomada de consciência


do processo por parte da professora, no sentido de se autorregular e
transformar sua prática. Esse movimento sugere a participação reflexiva da
docente, para que se perceba como profissional e pesquisadora de sua
realidade, tendo como objetivo melhorar a sua prática pedagógica e
transformá-la.
Segundo Miranda (2006, p. 132)

O professor reflexivo é, pois, fundamentalmente, um professor


investigador, pois ele e só ele é capaz de examinar sua prática,
identificar seus problemas, formular hipóteses, questionar seus
valores, observar o contexto institucional e cultural ao qual pertence,
participar do desenvolvimento curricular, assumir a responsabilidade
por seu desenvolvimento profissional e fortalecer as ações em grupo.

O movimento de reflexão desenvolvido nesta pesquisa esteve baseado


nos princípios metacognitivos, uma vez que a crença de que os conhecimentos
que a professora possui podem auxiliá-la na ressignificação de sua prática.
Destaca-se ainda que, a ficha metacognitiva, elaborada nessa
dissertação, permitiu que as professoras fizessem um monitoramento ativo de
suas posturas frente ao planejamento e a execução das aulas, possibilitando
que elas pensassem sobre suas vivências ao lado dos alunos e registrassem
diversos aspectos dessa interação, gerando um movimento de regulação entre
o planejamento e a ação.
Esse processo metacognitivo a partir do instrumento desenvolvido, fez
com que elas analisassem seu modo de pensar, bem como as estratégias que
empregam para executar o planejado, permitindo assim, elaborar atividades
que privilegiassem mais de um estilo.
A ação para a tomada de consciência por parte da professora se deu a
partir de 5 movimentos, o de pensar e gerar os planejamentos, a execução do
planejado durante as aulas, a avaliação após a aplicação, a correção de ações
que não deram certo ou que devem ser aprimoradas e a regulação dessas
ações para posteriores aplicações.
Por fim, sugere-se que, para próximas pesquisas, o trabalho sobre os
Estilos de Aprendizagem e as estratégias metacognitivas seja desenvolvido
com as crianças pequenas.
158

É importante evidenciar que o ensino estratégico, isto é, a docência


voltada à aprendizagem dos alunos é um dos caminhos que possibilita às
crianças refletirem sobre seu processo de aprendizagem e a terem controle
sobre ele, oportunizando melhores resultados na vida escolar.
A junção entre a teoria dos estilos de aprendizagem e a metacognição
possibilitaram nesse trabalho a exploração de um novo caminho por parte da
professora de Educação Infantil, uma vez que apresenta uma possibilidade de
autonomia diferente na gestão do processo de ensino/aprendizagem.
159

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164

APÊNDICES
165

APÊNDICE 1

FICHA METACOGNITIVA PARA A PROFESSORA

1. Durante a realização da tarefa do dia, o que mais lhe ajudou a


atingir o objetivo esperado? Por quê?
__________________________________________________________
__________________________________________________________
__________________________________________________________
__________________________________________________________

2. Durante a realização da tarefa o que menos lhe ajudou a atingir o


objetivo esperado? Por quê?
__________________________________________________________
__________________________________________________________
__________________________________________________________
__________________________________________________________

3. Qual foi a sua dificuldade em trabalhar com os estilos de aprender


dos alunos?
__________________________________________________________
__________________________________________________________
__________________________________________________________
__________________________________________________________

4. O que, da sua prática nessa aula, você pode aproveitar para as


próximas aulas?
__________________________________________________________
__________________________________________________________
__________________________________________________________

5. Que atitudes não podem ser repetidas na próxima aula?


__________________________________________________________
__________________________________________________________
__________________________________________________________

6. No seu ponto de vista, como foi à aula de hoje? Por quê?


__________________________________________________________
__________________________________________________________
__________________________________________________________
166

APÊNDICE 2

INSTRUMENTO DE OBSERVAÇÃO DE SALA DE AULA

Escola:____________________________________Data:________________ Horário de Início_______________


Horário de Termino___________ Turma:_______ Número de Alunos:______ Número de professoras:_______
Tema da atividade:____________________________________________________________________________
Material Utilizado:_____________________________________________________________________________

Ambiente Encaminhamento Conduta da Conduta do aluno Estilo de Ensinar Observações


educativo professora Complementares
167

APÊNDICE 3

MODELO DE CARTA ENTREGUE ÀS PROFESSORAS

Curitiba, 30 de setembro de 2009.

Cara Professora,

Ao longo dos últimos cinco meses, realizei com sua turma duas
aplicações do inventário Portilho/Beltrami, que é composto de 12 perguntas,
com quatro opções de respostas referentes aos quatro Estilos de
Aprendizagem (reflexivo, ativo, teórico e pragmático), sendo mescladas e
distribuídas ao longo do instrumento.
As respostas dos alunos foram anotadas e tabuladas, a fim de
encontrar o estilo de aprendizagem predominante em cada um.
Apresento nas linhas a seguir, a característica de cada estilo e, em
seguida, mostro o que cada criança respondeu nas duas aplicações realizadas.
Solicito que após ler os resultados apresentados, você faça uma
reflexão sobre seu planejamento a fim de contemplar nele atividades que
privilegiem todos os estilos. Essa reflexão será seguida de uma ficha que
deverá ser preenchida após a elaboração e aplicação das atividades por você
propostas.

Desde já agradeço sua colaboração

Atenciosamente

Maria Gabriela Afonso


168

CARACTERÍSTICAS DOS ESTILOS DE APRENDIZAGEM PARA CRIANÇAS


SEGUNDO O INSTRUMENTO PORTILHO/BELTRAMI
• ESTILO ATIVO: a criança com características mais presentes no estilo
ativo demonstra ser alegre, comunicativa, rápida ao realizar suas tarefas ou
aquilo que lhe foi solicitado, curiosa, ou seja, gosta de descobrir novidades. Ela
também prefere diversificar o ambiente onde estuda ou brinca. Em sala de
aula, é o aluno ou aluna que, no mesmo instante que trabalha, também
conversa, não permanece por muito tempo fazendo a mesma atividade. Sua
criatividade permite fazer coisas que vão além do solicitado. A professora o (a)
identifica por ser o (a) aluno (a) que está sempre pronto a auxiliar tanto os
colegas quanto ela. Demonstra encantamento frente aos conteúdos novos,
revelando seu desejo de aprender. Nas brincadeiras com os colegas é o (a)
líder, inventa jogos e atividades, podendo ser considerado (a) o (a)
“protagonista” das situações apresentadas. Ele (a) é o (a) extrovertido (a), que
gosta de chamar a atenção dos demais. É também o (a) responsável por
conciliar as situações de conflito que surgem entre os colegas, mostrando-se
disposto (a) a ajudar.
• ESTILO REFLEXIVO: a criança que apresenta como predominante o
estilo reflexivo tem as seguintes características: primeiramente observa, analisa
o ambiente, para em seguida começar a participar dele. Em situação escolar,
especificamente, na sala de aula a professora a identifica como aquele aluno
ou aluna que primeiro espera os demais colegas falarem para depois se
colocar e tecer algum comentário ou conclusão. Essa prudência o (a) faz
considerar as alternativas antes de se expor. Portanto, pensa e analisa as
lições antes de realizá-las, e essa mesma atitude se repete no momento das
brincadeiras. Nas atividades lúdicas, nos jogos e nas brincadeiras, observa
primeiro os colegas brincarem, para depois se unir a eles. Diante de várias
opções de cores, por exemplo, primeiramente observa, pensa, para em
seguida selecionar a que mais lhe agrada. Outra característica desse estilo é a
criança detalhista: tanto ao pintar quanto ao realizar outra atividade, ela procura
caprichar e ter muito cuidado para fazer o melhor e o mais perfeito que puder.
• ESTILO TEÓRICO: quando a criança tem o predomínio no estilo de
aprendizagem teórico, em geral ela é organizada e planeja suas tarefas. Ao
lidar com o computador e video-game, nas brincadeiras com os colegas, ela já
inicia a atividade sabendo o que quer e o que vai fazer primeiro. Esse
planejamento também se estende à realização das lições, pois a criança
teórica espera as indicações dadas pela professora antes de iniciá-las. A
questão da organização pode ser identificada durante a montagem do quebra-
cabeça, quando as peças são previamente separadas por ela antes de iniciar a
brincadeira. Outra característica que indica a predominância desse estilo é o
fato de a criança querer saber os “porquês” dos fatos, buscando uma
explicação para tudo.
• ESTILO PRAGMÁTICO: o estilo pragmático pode ser identificado nas
crianças cujas atitudes são baseadas na confiança em si mesmo e na
determinação diante do que tem que ser feito. Isso implica não escutar, não
levar em consideração o que colegas comentam a respeito de suas tarefas.
Elas são decididas e práticas, o que pode ser percebido na hora da escolha
das brincadeiras, da cor para pintar um desenho, da roupa para sair. As
escolhas são realizadas de maneira rápida, objetiva e útil. Essas crianças
169

apresentam autonomia na realização das tarefas. Se surge algum problema, a


criança pragmática quer logo resolver a situação, agrada-lhe a praticidade das
coisas e as novidades que surgem nas tarefas.

RESULTADO DO ESTILO DAS CRIANÇAS NA PRIMEIRA APLICAÇÃO

Ativo Reflexivo Teórico Pragmático Todos Ativo/

Reflexivo

A1 A3 A5 A6 A9 Isadora

A2 A4 A7

2 2 1 2 1 1

RESULTADO DO ESTILO DAS CRIANÇAS NA SEGUNDA APLICAÇÃO

Ativo Reflexivo Teórico Pragmático Todos Ativo/

Reflexivo

A3 A8 A6

A1 A2

A9 A7

A4

3 4 0 0 1 0

Durante a Análise de seu estilo, ficou detectado que você é uma mescla entre
reflexivo e teórico, que segundo Portilho (2009), tem as seguintes
características:

Estilo Reflexivo: são as pessoas que utilizam a observação e a análise antes


de chegarem a alguma conclusão; gostam de valorizar todas as possibilidades
da situação antes de tomar decisões; preferem escutar mais, para depois agir,
e são mais ponderadas que os ativos.
170

Estilo Teórico: são aqueles que integram as observações dentro das teorias
lógicas e complexas; buscam a racionalidade, a objetividade e a lógica, assim
como a análise e a síntese; tendem a ser perfeccionistas.

Agora, após ler e analisar o estilo predominante de seus alunos e seu,


bem como as características que os compõem, procure refletir, sobre as
mudanças ocorridas com seus alunos ao longo dos últimos três meses.

1. Que atitudes suas podem ter contribuído para essas mudanças?


2. Quais conteúdos ministrados podem ser um reflexo dessas alterações?
3. Seu planejamento e prática de sala de aula privilegiam o entendimento
dos conteúdos por mais de um estilo?
4. Como você poderia mudar esse quadro, a fim de colaborar para que
seus alunos tenham um conjunto de estilos equilibrado?
5. Que outros fatores você atribui as mudanças de estilos de seus alunos?

Após essas reflexões, procure realizar a elaboração de seu


planejamento tendo em vista os pontos acima citados.
Nas folhas a seguir, entrego-lhe 4 fichas de análise metacognitiva,
para que durante a elaboração e a execução de seu planejamento semanal, ela
seja preenchida.
Obrigada pela sua colaboração!
171

APÊNDICE 4

ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA COM PROFESSORES (AS)

Nome:__________________________________________________________
Formação:____________________ Especialização:____________________
Ano de formação:________ Carga horária semanal:___________
Idade:_______ Local de Formação:___________________ Local de
Atuação:__________ Tempo de Atuação na Educação Infantil:__________
Tempo de atuação nessa Instituição:________________________________

1. Por que você escolheu atuar na educação infantil?


2. Quais são suas maiores facilidades para atuar nesse segmento?
3. E quais são suas maiores dificuldades?
4. Em que medida sua formação acadêmica ajudou e dificultou sua
atuação em sala de aula?
5. O que falta para melhorar sua prática? Por que?
6. O Colégio fornece programas de formação continuada? Quais?
7. Quais são os cursos de formação que você busca fazer?
8. Como você planeja suas aulas?
9. Que conteúdos você costuma ministrar?
10. Como você se percebe como profissional da Educação Infantil?
11. Como os outros lhe vêem como profissional da Educação Infantil?
172

ANEXOS
173

ANEXO A

QUESTIONÁRIO HONEY-ALONSO DE ESTILOS DE APRENDIZAGEM

Autores: CATALINA M. ALONSO; DOMINGO J. GALLEGO; PETER HONEY


Tradução e adaptação: EVELISE MARIA LABATUT PORTILHO

INSTRUÇÕES PARA RESPONDER AO QUESTIONÁRIO

Este questionário está sendo aplicado para identificar seu estilo preferido de
aprendizagem.
Não é um teste de inteligência, nem de personalidade.
Não existem respostas corretas nem erradas. Será útil na medida da
sinceridade das suas respostas.
Se seu estilo de aprendizagem está mais de acordo que em desacordo com
o item, coloque um X dentro do .
Por favor confira todos os itens.
Muito obrigada.

a) Sexo:  Masculino  Feminino


b) Idade: anos ________
c) Data: _____________

 01. Tenho fama de dizer o que penso claramente e sem rodeios.


 02. Estou seguro(a) do que é bom e do que é mau, do que está bem e do
que está mal.
 03. Muitas vezes faço sem olhar as conseqüências.
 04. Normalmente, resolvo os problemas metodicamente e passo a passo.
 05. Creio que a formalidade corta e limita a atuação espontânea das
pessoas.
 06. Me interessa saber quais são os sistemas de valores dos outros e com
que critérios atuam.
 07. Penso que agir intuitivamente pode ser sempre tão válido como atuar
reflexivamente.
 08. Creio que o mais importante é que as coisas funcionem.
 09. Procuro estar atento(a) ao que acontece aqui e agora.
174

 10. Me agrada quando tenho tempo para preparar meu trabalho e realizá-lo
com consciência.
 11. Estou seguindo, porque quero, uma ordem na alimentação, no estudo,
fazendo exercícios regularmente.
 12. Quando escuto uma nova idéia, em seguida, começo a pensar como
colocá-la em prática.
 13. Prefiro as idéias originais e novas mesmo que não sejam práticas.
 14. Admito e me ajusto às normas somente se servem para atingir meus
objetivos.
 15. Normalmente me dou bem com pessoas reflexivas, e me custa
sintonizar com pessoas demasiadamente espontâneas e imprevisíveis.
 16. Escuto com mais freqüência do que falo.
 17. Prefiro as coisas estruturadas do que as desordenadas.
 18. Quando possuo qualquer informação, trato de interpretá-la bem antes de
manifestar alguma conclusão.
 19. Antes de fazer algo, estudo com cuidado suas vantagens e
inconvenientes.
 20. Me estimula o fato de fazer algo novo e diferente.
 21. Quase sempre procuro ser coerente com meus critérios e escala de
valores. Tenho princípios e os sigo.
 22. Em uma discussão, não gosto de rodeios.
 23. Não me agrada envolvimento afetivo no ambiente de trabalho. Prefiro
manter relações distantes.
 24. Gosto mais das pessoas realistas e concretas do que as teóricas.
 25. É difícil ser criativo(a) e romper estruturas.
 26. Gosto de estar perto de pessoas espontâneas e divertidas.
 27. A maioria das vezes expresso abertamente como me sinto.
 28. Gosto de analisar e esmiuçar as coisas.
 29. Me incomoda o fato das pessoas não tomarem as coisas a sério.
 30. Me atrai experimentar e praticar as últimas técnicas e novidades.
 31. Sou cauteloso(a) na hora de tirar conclusões.
 32. Prefiro contar com o maior número de fontes de informação. Quanto
mais dados tiver reunido para refletir, melhor.
 33. Tenho tendência a ser perfeccionista.
 34. Prefiro ouvir a opinião dos outros antes de expor a minha.
 35. Gosto de levar a vida espontaneamente e não ter que planejá-la.
 36. Nas discussões gosto de observar como atuam os outros participantes.
 37. Me sinto incomodado(a) com as pessoas caladas e demasiadamente
analíticas.
 38. Julgo com freqüência as idéias dos outros, por seu valor prático.
 39. Me angustio se me obrigam a acelerar muito o trabalho para cumprir um
prazo.
 40. Nas reuniões apoio as idéias práticas e realistas.
 41. É melhor aproveitar o momento presente do que deleitar-se pensando
no passado ou no futuro.
 42. Me incomodam as pessoas que sempre desejam apressar as coisas.
 43. Apoio idéias novas e espontâneas nos grupos de discussão.
175

 44. Penso que são mais consistentes as decisões fundamentadas em uma


minuciosa análise do que as baseadas na intuição.
 45. Detecto freqüentemente a inconsistência e os pontos frágeis nas
argumentações dos outros.
 46. Creio que é preciso transpor as normas muito mais vezes do que
cumpri-las.
 47. Freqüentemente, percebo outras formas melhores e mais práticas de
fazer as coisas.
 48. No geral, falo mais do que escuto.
 49. Prefiro distanciar-me dos fatos e observá-los a partir de outras
perspectivas.
 50. Estou convencido(a) de que deve impor-se a lógica e a razão.
 51. Gosto de buscar novas experiências.
 52. Gosto de experimentar e aplicar as coisas.
 53. Penso que devemos chegar logo ao âmago, ao centro das questões.
 54. Procuro sempre chegar a conclusões e idéias claras.
 55. Prefiro discutir questões concretas e não perder tempo com falas vazias.
 56. Me incomodo quando dão explicações irrelevantes e incoerentes.
 57. Comprovo antes se as coisas funcionam realmente.
 58. Faço vários borrões antes da redação final de um trabalho.
 59. Sou consciente de que nas discussões ajudo a manter os outros
centrados nos temas, evitando divagações.
 60. Observo que, com freqüência, sou um(a) dos(as) mais objetivos e
ponderados nas discussões.
 61. Quando algo vai mal, não dou importância e trato de fazê-lo melhor.
 62. Desconsidero as idéias originais e espontâneas se não as percebo
práticas.
 63. Gosto de analisar diversas alternativas antes de tomar uma decisão.
 64. Com freqüência, olho adiante para prever o futuro.
 65. Nos debates e discussões prefiro desempenhar um papel secundário do
que ser o(a) líder ou o(a) que mais participa.
 66. Me incomodam as pessoas que não atuam com lógica.
 67. Me incomoda ter que planejar e prever as coisas.
 68. Creio que o fim justifica os meios em muitos casos.
 69. Costumo refletir sobre os assuntos e problemas.
 70. O trabalho consciente me toma de satisfação e orgulho.
 71. Diante dos acontecimentos trato de descobrir os princípios e teorias em
que se baseiam.
 72. Com o intuito de conseguir o objetivo que pretendo, sou capaz de ferir
sentimentos alheios.
 73. Não me importa fazer todo o necessário para que o meu trabalho seja
efetivado.
 74. Com freqüência, sou uma das pessoas que mais anima as festas.
 75. Me aborreço, freqüentemente, com o trabalho metódico e minucioso.
 76. As pessoas, com freqüência, crêem que sou pouco sensível a seus
sentimentos.
 77. Costumo deixar-me levar por minhas intuições.
 78. Nos trabalhos de grupo, procuro que se siga um método e uma ordem.
 79. Com freqüência, me interessa saber o que as pessoas pensam.
 80. Evito os temas subjetivos, ambíguos e pouco claros.
176

QUAL É MEU ESTILO DE APRENDIZAGEM?

1. Faça um círculo em cada número onde você marcou com um X.


2. Some o número de círculos que você marcou em cada coluna.
3. Agora veja qual é seu estilo ou estilos de aprendizagem dominantes.

ATIVO REFLEXIVO TEÓRICO PRAGMÁTICO


3 10 2 1
5 16 4 8
7 18 6 12
9 19 11 14
13 28 15 22
20 31 17 24
26 32 21 30
27 34 23 38
35 36 25 40
37 39 29 47
41 42 33 52
43 44 45 53
46 49 50 56
48 55 54 57
51 58 60 59
61 63 64 62
67 65 66 68
74 69 71 72
75 70 78 73
77 79 80 76
177

ANEXO B

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Eu __________________________________, RG nº ___________________,
diretora da Escola _________________________________, autorizo-(o/a) a
realização da pesquisa denominada: “Aprendizagem auto reguladora:
Pensar consciente da aprendizagem por cada sujeito”, cujo o objetivo é
analisar o estilo de aprender e ensinar da professora de Educação Infantil
e seus mecanismos de auto-regulação durante sua prática pedagógica de
sala de aula.
Para tanto, a pesquisadora, no próprio espaço da escola e no período
regular das aulas, observará os alunos em atividade nas diferentes áreas do
conhecimento, bem como no convívio com colegas e professores no ambiente
escolar.
Além da observação do aluno, será analisado o ambiente educativo e a
prática pedagógica das professoras alfabetizadoras.
Estou ciente de que a privacidade dos participantes será respeitada, ou
seja, o nome, ou qualquer outro dado confidencial, será mantido em sigilo. A
elaboração final dos dados será feita de maneira codificada, respeitando o
imperativo ético da confidencialidade.
O responsável pela pesquisa é a mestranda Thalita Folmann da Silva,
orientanda da professora Dra Evelise Maria Labatut Portilho, da Pontifícia
Universidade Católica do Paraná.
Li, portanto, este termo, fui orientado quanto ao teor da pesquisa acima
mencionada, compreendi a natureza e o objetivo do estudo. Concordo,
voluntariamente, na realização da pesquisa em minha escola, sabendo que não
receberei, nem pagarei nenhum valor econômico.
________________________________________
Assinatura do responsável pela escola

___________________________________
Assinatura do pesquisador responsável

Curitiba, _______ de _______________ de 2009.


178

ANEXO C

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Eu_________________________________________________________,
RG nº ________________, estou sendo convidado(a) a participar de uma
pesquisa denominada: “Aprendizagem auto reguladora: Pensar consciente
da aprendizagem por cada sujeito”, cujo o objetivo é analisar o estilo de
aprender e ensinar da professora de Educação Infantil e seus
mecanismos de auto-regulação durante sua prática pedagógica de sala de
aula.
Sei que para o avanço da pesquisa a participação de voluntários é de
fundamental importância e de que minha privacidade será respeitada, ou
seja, meu nome, ou qualquer outro dado confidencial, será mantido em
sigilo. A elaboração final dos dados será feita de maneira codificada,
respeitando o imperativo ético da confidencialidade.
Estou ciente de que posso me recusar a participar do estudo, ou retirar meu
consentimento a qualquer momento, sem precisar justificar, nem sofrer
qualquer dano.
A pesquisadora Maria Gabiela Zgoda Cordeiro Afonso é orientanda da
Profª. Evelise Maria Labatut Portilho no programa de Mestrado da Pontifícia
Universidade Católica do Paraná.
Estão garantidas todas as informações que eu queira saber antes, durante
e depois do estudo.
Li, portanto, este termo, fui orientada quanto ao teor da pesquisa acima
mencionada e compreendi a natureza e o objetivo do estudo do qual fui
convidado a participar. Concordo, voluntariamente em participar desta
pesquisa, sabendo que não receberei nem pagarei nenhum valor econômico
por minha participação.

____________________________________________
Assinatura da professora de Educação Infantil

____________________________________________
Assinatura do pesquisador

Curitiba, _______ de _______________ de 2009.


179

ANEXO D

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE ESCLARECIMENTO

Eu _______________________,RG nº ___________________,responsável
legal pelo (a) aluno (a) _________________, da Escola __________________,
autorizo-(o/a) a participar de um estudo denominado: “Aprendizagem auto-
reguladora: Pensar consciente da aprendizagem por cada sujeito”, cujo
objetivo é analisar o estilo de aprender e ensinar da professora de
Educação Infantil e seus mecanismos de auto-regulação durante sua
prática pedagógica de sala de aula.
Para tanto, os pesquisadores, no próprio espaço da escola e no período
regular das aulas, observarão o aluno em atividade nas diferentes áreas do
conhecimento, bem como no convívio com colegas e professores no ambiente
escolar.
Estou ciente de que a sua privacidade será respeitada, ou seja, seu
nome, ou qualquer outro dado confidencial, será mantido em sigilo. A
elaboração final dos dados será feita de maneira codificada, respeitando o
imperativo ético da confidencialidade.
Estou ciente também da possibilidade da recusa da participação neste
estudo, a qualquer momento, sem precisar justificar, nem sofrer qualquer dano.
O responsável pela pesquisa é a mestranda Maria Gabriela Zgôda
Cordeiro Afonso, orientanda da professora Dra Evelise Maria Labatut Portilho,
da Pontifícia Universidade Católica do Paraná.
Li, portanto, este termo, fui orientado quanto ao teor da pesquisa acima
mencionada, compreendi a natureza e o objetivo do estudo. Concordo,
voluntariamente, em sua participação nesta pesquisa, sabendo que não
receberei, nem pagarei nenhum valor econômico.

_____________________________________________________
Nome, assinatura e RG do responsável legal pelo aluno (a)

___________________________________
Assinatura da pesquisadora responsável

Curitiba, _______ de _______________ de 2009.


180

ANEXO E

Inventário PORTILHO/BELTRAMI
181
182
183
184
185
186
187
188
189
190
191
192

ANEXO F

TABELA DE ESTILOS

1 ATIVO PRAGMÁTICO REFLEXIVO TEÓRICO


2 TEÓRICO PRAGMÁTICO ATIVO REFLEXIVO
3 TEÓRICO PRAGMÁTICO ATIVO REFLEXIVO
4 ATIVO TEÓRICO REFLEXIVO PRAGMÁTICO
5 REFLEXIVO ATIVO PRAGMÁTICO TEÓRICO
6 REFLEXIVO ATIVO PRAGMÁTICO TEÓRICO
7 TEÓRICO PRAGMÁTICO ATIVO REFLEXIVO
8 TEÓRICO PRAGMÁTICO REFLEXIVO ATIVO
9 PRAGMÁTICO TEÓRICO REFLEXIVO ATIVO
10 TEÓRICO ATIVO REFLEXIVO PRAGMÁTICO
11 REFLEXIVO ATIVO PRAGMÁTICO TEÓRICO
12 PRAGMÁTICO REFLEXIVO TEÓRICO ATIVO

ALUNO: _____________________________________
PROFESSORA:_______________________________
ATIVO:_______________________________________
TEÓRICO:____________________________________
REFLEXIVO:__________________________________
PRAGMÁTICO:________________________________
ESTILO PREDOMINANTE: ______________________
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