Camila Manarin Dissertação
Camila Manarin Dissertação
Camila Manarin Dissertação
Camila Manarin
Francisco Beltrão – PR
2020
CAMILA MANARIN
Francisco Beltrão – PR
2020
Aos Coordenadores Pedagógicos:
RESUMO
ABSTRACT
This thesis is bound to the line of research Culture, Educational Processes, and
Teacher Training of the Graduation Program in Education of Francisco Beltrao
(PPGEFB), master’s degree, at the Western Paraná State University (UNIOESTE),
whose discussions concerns the investigations of the interrelationship between
culture and education, teacher training, and formal and non-formal educational
processes, in their theoretical-practical, sociopolitical, and pedagogical dimensions. It
comes from the discussions of the research group Higher Education, Training, and
Teaching Work (GESFORT), linked to the same graduation program, aiming to
analyze policies directed to the training and teaching work in different levels and
forms of teaching. Thus, the thesis’s topic relates to the teacher training with
discussions on training and the work of pedagogical coordinators and their
particularities at constituting their own professionality. The main objective is to
analyze how these pedagogical coordinators see the need for a specific knowledge
for the work in the pedagogical sector at their schools in Francisco Beltrao, a city in
the state of Parana. The methodology is based on Filho & Gamboa (2013), as a
critical-dialectical approach, which allows us to analyze the data collected in their
entirety. It uses a bibliographic and documental methodology based on the functions
of the Pedagogical Coordinator, and their developments. It also collects data via
questionnaires and semi-structured interviews answered by the pedagogical
coordinators working at the elementary schools of Francisco Beltrao. This research
relies on discussions as present in Contreras (2012) and Charlot (2013), which
discuss the teaching professionality related to the leadership of teachers, as well as
the relationships between education and politics, crucial aspects for this dissertation.
For the discussion of issues related to the work of the pedagogical coordinators and
their developments, our primary sources are ANFOPE’s documents. These show us
a theoretical struggle over the function of that worker, as well as authors grounding
the pedagogical work in schools, such as Franco (2008a, 2008b) and Libaneo (2008,
2010). Finally, Azzi (2012) and Houssaye (2004) are used as a basis for the
distinction between popular knowledge and academic knowledge, a central aspect of
our debate. In the data analysis conducted, some categories have emerged. They
are thought of as dimensions of the work developed by the pedagogical coordinators
involved in the study, with emphasis on teacher planning, emotional, and
bureaucracy dimensions. These dimensions are relevant for showing us the reality of
the work at the school’s pedagogical departments towards the training of the person
working at it, evidencing the transformations of a fragmented professional profile into
a polyvalent one, away from the unitary pedagogical worker aimed. Furthermore, the
present dissertation shows that the pedagogical coordinators interviewed sense the
need for specific knowledge and a theoretical deepening, which are essential to the
tasks they conduct. They make explicit this theoretical emptiness in the initial
training, but they do not understand the dimension of this pedagogical knowledge,
reducing their activities to experiential knowledge.
Keywords: Teacher training. Pedagogical coordinator. Teaching work. School
management. Popular and academic. Pedagogical knowledge.
.
LISTA DE FIGURAS
INTRODUÇÃO ................................................................................................ 18
1 AS MUDANÇAS NA FORMAÇÃO E NO TRABALHO DO COORDENADOR
PEDAGÓGICO NO CONTEXTO DAS POLÍTICAS NEOLIBERAIS APÓS 1990
........................................................................................................................ 30
1.1 Impactos do Neoliberalismo nas Políticas Educacionais de Formação para
a Coordenação Pedagógica .......................................................................... 33
1.2 O contexto das reformas para a formação de professores: elementos para
pensar a Coordenação Pedagógica ............................................................. 41
1.3 O Curso de Pedagogia e a formação para Coordenação Pedagógica ....... 52
2 A COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA FACE À CONSTITUIÇÃO DE UMA
PROFISSIONALIDADE DOCENTE ................................................................ 65
2.1 Quem é o Coordenador Pedagógico de acordo com a legislação? ........... 66
2.2 A Coordenação Pedagógica frente aos desafios da formação docente .... 79
2.3 A formação dos Coordenadores Pedagógicos entrevistados.................... 87
2.4 O que é coordenar o pedagógico na escola? .............................................. 95
2.5 As consequências da fragmentação teórico-prática na formação do
Coordenador Pedagógico ........................................................................... 101
3 DO SABER AO CONHECIMENTO PEDAGÓGICO: O PERFIL
PROFISSIONAL DOS COORDENADORES DAS ESCOLAS MUNICIPAIS DE
FRANCISCO BELTRÃO-PR ......................................................................... 110
3.1 Elementos formativos: do Coordenador especialista ao Coordenador
unitário ......................................................................................................... 112
3.2 O conceito de docência............................................................................... 119
3.3 Saberes pedagógicos e conhecimentos pedagógicos: o fundamento da
formação para a Coordenação Pedagógica ............................................... 128
3.4 O conceito de coordenar o pedagógico na escola para os Coordenadores
entrevistados: a construção do perfil profissional dos Coordenadores de
Francisco Beltrão-PR .................................................................................. 137
CONSIDERAÇÕES ....................................................................................... 147
REFERÊNCIAS ............................................................................................. 158
APÊNDICES .................................................................................................. 164
APÊNDICE 1 – Delineamento do quadro de coordenadores de acordo com
os critérios para entrevistas ....................................................................... 165
APÊNDICE 2 – Roteiro de perguntas realizadas nas entrevistas ............. 166
APÊNDICE 3 – Critérios para seleção dos entrevistados na pesquisa .... 167
APÊNDICE 4 – Modelo de questionário respondido pelos Coordenadores
Pedagógicos da rede municipal de Francisco Beltrão-PR ....................... 168
APÊNDICE 5 – Roteiro inicial de entrevista semiestruturada realizadas
com os Coordenadores Pedagógicos da rede municipal de Francisco
Beltrão-PR .................................................................................................... 170
ANEXO 1 – Termo de autorização para realização da pesquisa .............. 172
ANEXO 2 – Declaração de não ter iniciado a pesquisa antes da coleta de
dados ............................................................................................................ 173
ANEXO 3 – Termo de Consentimento Livre e esclarecido ....................... 174
ANEXO 4 – Termo de Ciência do responsável pelo campo de estudo .... 176
ANEXO 5 – Termo de compromisso para uso de dados em arquivos ..... 177
ANEXO 6 – Folha de rosto para pesquisas envolvendo seres humanos 178
ANEXO 7 – Declaração de autorização de divulgação da entrevista na
pesquisa ....................................................................................................... 179
ANEXO 8 – Edital n.º 10/2007 – GS/SEED. Descrição das atividades do
cargo de pedagogo para concurso público do Estado do Paraná ........... 180
INTRODUÇÃO
18
docência: contribuições para a atuação do pedagogo escolar”, que iniciaram nossas
discussões acerca do tema já durante a graduação em Pedagogia.
Na pesquisa de iniciação científica, encontramos contradições no tocante à
legislação, que culminam na organização da estrutura da formação de professores
no Brasil e, em especial, nos cursos de Pedagogia, que foram possíveis de serem
estudadas e pesquisadas com a entrada no mestrado. Foram possíveis uma vez que
a pesquisa se relaciona com as discussões do Grupo de Estudos Educação
Superior, Formação e Trabalho Docente (GESFORT), ao qual a pesquisadora está
vinculada, cujo objetivo é analisar as políticas voltadas à formação e ao trabalho
docente nos diferentes níveis e modalidades do ensino.
Outro fator que nos motivou e aproximou desta realidade vivida diz respeito
às percepções que tivemos a partir das experiências enquanto docente da escola
pública, na rede municipal de educação e muitas das inquietações percebidas e
analisadas no período da pesquisa de iniciação científica, tornaram-se presentes em
minhas vivencias diárias como professora. Observando como era conduzido o
trabalho pedagógico nas escolas do município, questões como a sobrecarga de
trabalho, a desvalorização profissional e principalmente o coordenador pedagógico
muito próximo de um profissional tarefeiro tornavam-se evidentes em nossas
discussões do dia a dia e, portanto, nos instigaram a realizar este estudo nas
Escolas Municipais de Francisco Beltrão-PR.
Dessa forma, voltamos esta pesquisa a compreender as problemáticas
referentes à formação e trabalho do Coordenador Pedagógico que atua nas
instituições públicas de Ensino Fundamental I que são as escolas municipais de
Francisco Beltrão-PR.
Partimos da premissa de que a Lei de Diretrizes e Base da Educação
Nacional (LDBEN) n.º 9394/1996 prevê, em seu artigo 64, a formação mínima
exigida para a ocupação da função de Coordenador Pedagógico, a qual apresenta a
necessidade de formação dos profissionais para atuar nas atividades de
Coordenação (cuja lei trata das antigas especializações em supervisão, inspeção,
orientação e administração das instituições de ensino). Essa formação deve ser feita
nos Cursos de Pedagogia em nível superior ou em nível de pós-graduação na área
de atuação.
19
As DCNFP, Resolução CNE/CP n.º 1, de 18 de fevereiro de 2002, as DCNCP,
Resolução CNE/CP n.º 1 de 15 de maio de 2006 e as DCNFP, Resolução n.º 2, de
1º de julho de 2015, têm tomado rumos diferentes deste propósito de formar o
profissional habilitado para atuar especificamente na gestão da escola ou formar o
docente com várias habilitações, uma vez que as diretrizes designam, aos cursos de
licenciatura, a base para a docência e suas especificidades, assim como os campos
de atuação estabelecidos ao Curso de Pedagogia.
Desse modo, as DCNFP de 2002 normatizaram, pela primeira vez, os cursos
de licenciatura no país dando abertura para que cada curso formulasse a sua própria
diretriz, de acordo com as suas especificidades. Portanto, o Curso de Pedagogia é
um dos últimos a criar a sua própria diretriz, pela sua complexidade de estruturação
frente às discussões.
As DCNCP de 2006 estabelecem uma estrutura própria para os Cursos de
Pedagogia, que são consideradas um avanço no que diz respeito à formação para a
gestão escolar e, consequentemente, as DCNFP de 2015 incluem o que nas DCNFP
de 2002 não estava previsto, como a educação a distância, por exemplo, além de
outras que não foram amplamente elencadas, como é o caso da educação inclusiva,
em que é destacada apenas no artigo 6º item II do inciso 3º, também por considerar
o contexto da época.
Nas DCNCP de 2006, o artigo 2º aponta a necessidade de habilitação em
Curso de Pedagogia para exercer a docência na educação infantil e nos anos
iniciais, além de outras áreas específicas da docência, assim como das áreas que
necessitem um conhecimento especialmente pedagógico. Esta diretriz se
implementa a partir das DCNFP de 2002 para regulamentar especialmente o curso
de licenciatura em Pedagogia, e esta, por sua vez, torna a formação em pedagogia
no entendimento do currículo de muitos cursos, a base para a docência na educação
infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Um formato muito distinto do
antigo esquema 3+1 proposto na criação do curso.
Já no que tange ao exposto nas DCNFP de 2015, destacamos o artigo 2º por
tratar, em sua particularidade, da formação de professores estabelecida
anteriormente nas diretrizes de 2002, destinando as modalidades de formação aos
“cursos de licenciatura, cursos de formação pedagógica para graduados e cursos de
segunda licenciatura) e para a formação continuada” (BRASIL, 2015, p. 1) e
20
habilitando o profissional para atuar além da Educação Infantil, anos iniciais e
médios, também na educação de jovens e adultos, na educação especial, educação
a distância, indígena e quilombola por meio de novos formatos da formação inicial
em nível superior.
Partindo do pressuposto dos aparatos legais, entende-se que as questões da
formação para a docência, que abrangem todas as habilitações, se contradizem nas
práticas legais deixando lacunas em sua materialidade, nos fazendo refletir sobre a
formação e trabalho do coordenador pedagógico, uma vez que o profissional
habilitado em pedagogia também sai habilitado para atuar na gestão escolar. Muitas
vezes uma pequena parte do currículo dos Cursos de Pedagogia destina-se a
conhecimentos de tal função, desencadeando um esvaziamento nos conteúdos
relacionados à gestão escolar. O que torna isso um problema para a formação de
professores.
Pensando nisso, realizamos um levantamento de dados a partir da plataforma
do Banco Digital de Teses e Dissertações (BDTD), para identificar quais produções
existiam sobre o tema e percebemos que uma reduzida quantidade de estudos
realizados acerca da avaliação que os coordenadores fazem sobre o seu trabalho
estava consolidada. Logo, consideramos importante desenvolver uma pesquisa que
trate com um olhar mais atento e direto dos profissionais que atuam neste campo e
discutir a necessidade de uma formação específica para a atuação na organização
do trabalho pedagógico.
Grande parte das pesquisas vinculadas à temática ocorrem de forma teórica.
Quando as pesquisas são realizadas em campo, com estudos empíricos, muitas
vezes apontam mais especificamente para questões como a de discutir a identidade
do Coordenador Pedagógico e não propriamente dos conhecimentos formativos ao
qual se destina uma parte das discussões deste estudo.
O segundo ponto que justifica nossa defesa pela pesquisa voltada para este
tema diz respeito às disputas político-ideológicas que permeiam o campo da
formação de professores desde a implementação das Diretrizes Curriculares
Nacionais (DCNs) de 2002. Estas vêm sendo reformuladas e novas diretrizes são
implementadas como as DCNCP de 2006 e as DCNFP de 2015, ambas com a
perspectiva de que a docência é entendida como base para qualquer outra atuação
nas especificidades de formação dos cursos de licenciatura.
21
O parecer emitido em 2015, que antecede as diretrizes de formação de
professores de 2015, já estabelece como ponto de reflexão o campo de disputa nos
moldes da formação profissional por diferentes visões de quem pensa a licenciatura
enquanto processo formativo, educativo e social, havendo a necessidade urgente de
se discutir e repensar tal formação destes profissionais.
Essa disputa de concepções gerou uma divisão entre os pesquisadores da
área, culminando na criação de um manifesto em defesa da formação dos
profissionais para atuar na gestão da escolar,1 estritamente nos cursos de
Pedagogia e não em qualquer licenciatura como defendem os documentos emitidos
pela Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação (ANFOPE).
O Documento Final XVII Encontro Nacional da ANFOPE de 2014 reafirma que
os profissionais formados pelos cursos de licenciatura “tenham em todos os Cursos,
uma formação que lhes propicie as condições de autonomia intelectual e para o
exercício do trabalho educativo” (ANFOPE, 2014, p. 16), constituindo, a partir das
suas revisões e discussões, a docência como base da formação.
Além disso, as DCNs de 2015 propõem que o licenciado nas áreas
específicas possa atuar na gestão escolar, uma vez que a licenciatura estruturada
com conhecimentos didáticos pedagógicos é a base para qualquer especificidade da
formação. Segundo o documento, o egresso dos cursos de licenciatura deve,
segundo o artigo 7º, atuar “no ensino, na gestão de processos educativos e na
organização e gestão de instituições básicas”. (BRASIL, 2015, p. 7).
Do mesmo modo essas premissas direcionam para a realização de uma
pesquisa com o intuito de entender as discussões neste cenário de disputas por
concepções ideológicas, partindo dos pressupostos da materialidade do trabalho do
Coordenador Pedagógico, fortalecendo as discussões teóricas e trazendo, para o
campo de conhecimento e de formação, dados reais sobre o trabalho deste
profissional que em culminem políticas de formação adequada, visando a qualidade
no ensino público.
1
De acordo com Portelinha (2015, p. 53), “A trajetória histórica permite visualizar dois projetos
distintos para a formação de professores. Um deles apregoa a defesa pela valorização e
profissionalização do magistério, considerando a universidade como lugar privilegiado com base
em uma sólida formação teórica, a pesquisa como articuladora entre teoria e prática considerando
o professor como intelectual; a descentralização do poder de decisão, interno e externo,
baseando-se nos princípios da gestão democrática; o outro, representado pelo poder político
governamental, sustenta-se em princípios neoliberais e indica uma formação aligeirada, sem
espaço para reflexão, restringindo o papel do professor ao mero executor, no qual faz da
certificação um precário processo de formação e não qualificação do trabalho docente”.
22
Por fim, o último ponto, mas não menos importante, que justifica a escolha
deste objeto de pesquisa diz respeito à função docente que exerço há alguns anos
na escola pública. Muitas vezes deparamo-nos com situações em que
coordenadores pedagógicos estão muito empenhados em buscar seu
reconhecimento profissional através dos traços do profissionalismo,2 frente às
políticas públicas que são estabelecidas para tal, para sobreviverem nesta
racionalidade que permeia o campo de atuação destes profissionais, e fica em
segundo plano a tentativa de explorar a própria profissionalidade docente. E é nesse
sentido que investigar como os coordenadores avaliam a formação específica para a
organização do trabalho pedagógico pode nos auxiliar na compreensão de nosso
objeto de estudo da pesquisa.
Essas constatações nos levaram a levantar o problema de pesquisa com a
pergunta: Como os coordenadores pedagógicos avaliam a necessidade de um
conhecimento específico para atuar na organização do trabalho pedagógico
das escolas? O objetivo geral é analisar como os coordenadores pedagógicos
avaliam a necessidade de um conhecimento específico para atuar na organização
do trabalho pedagógico nas escolas da rede municipal de Francisco Beltrão-PR.
Tendo em vista que o município de Francisco Beltrão contempla a função de
Coordenador Pedagógico disposto no atual Plano de Cargos e Carreira, Valorização
e Remuneração dos Professores da Rede Municipal de Ensino através de lei
municipal n.º 4240 de 21 de novembro de 2014, utilizam-se as escolas da rede como
lócus da pesquisa.
Estes Coordenadores são contemplados por escolas, dependendo do porte
de cada uma. Portanto faz-se necessário ressaltar que, conforme o número de
alunos por escola, existe a quantidade necessária de coordenadores, isso se
confirma de acordo com a Instrução normativa 001/2019 de Francisco Beltrão/ PR
que estabelece 40 horas de coordenação para escolas com o porte de até 249
alunos, de 250 até 399 o equivalente a 60 horas para a coordenação pedagógica, de
400 a 799 somam um total de 80 horas, de 800 a 1000 alunos o equivalente a 120
2
Por profissionalismo, destacamos o estudo de Contreras (2012, p. 66) quando afirma que “[...] o
profissionalismo consiste em manter a exclusividade do referido conhecimento como modo correto
de abordar os problemas e conflitos relativos à sua especificidade. Ao restringir o acesso, a
resolução de tais conflitos despolitiza-se, transformados que ficam em assunto de especialistas,
ocultando as opções ideológicas sobre as quais sustentam as decisões profissionais e relegando
os clientes a um papel passivo, podendo apenas acatar o ditame profissional”.
23
horas e acima de 1001 alunos a escola deve comportar um total de 160 horas
destinadas à Coordenação pedagógica, que no documento especifica- se como
“equipe pedagógica”. No entanto, vale estabelecer que algumas escolas extrapolam
a quantidade total de Coordenadores e outras mantém apenas o necessário de
acordo com a legislação municipal.
Para isso, consideramos que esta pesquisa tem como pressuposto analisar e
explicar algumas questões do campo da escola, especialmente no que diz respeito
ao trabalho do Coordenador Pedagógico que tem sua profissionalidade muito
discutida por pesquisadores, em que a formação para tal vem se constituindo num
campo de disputas teóricas sobre o tema.
Nessa perspectiva, os caminhos metodológicos do estudo pautam-se em uma
pesquisa de campo com abordagem metodológica empírico-analítica e segue uma
perspectiva crítica que, de acordo com Filho e Gamboa (2013), busca superar o
falso duelo entre quantidade e qualidade nas pesquisas em educação.
Entendemos a necessidade de coletar dados empíricos para a pesquisa em
educação visando a comprovação a partir das discussões que partem da
materialidade. Essa coleta foi no intuito de fortalecer nossas discussões teóricas,
trazendo dados que partem do próprio trabalho do Coordenador Pedagógico e,
assim, percorrer algumas categorias para discussão, de maneira a contemplar uma
argumentação crítica e sólida sobre o tema, objetivando explicar nosso problema de
pesquisa.
Portanto, utilizamos como instrumentos a análise bibliográfica e documental,
cotejadas aos dados coletados através de questionários e entrevistas
semiestruturadas com os coordenadores pedagógicos ativos que correspondem aos
critérios adotados para a seleção dos entrevistados, de acordo com o levantamento
das respostas dos questionários realizado com os coordenadores pedagógicos da
rede municipal de ensino de Francisco Beltrão-PR.
Destacamos que enviamos questionários para o levantamento de dados
(Apêndice 4) a todos os coordenadores pedagógicos das 21 escolas municipais de
ensino da rede de Francisco Beltrão cujo total são 43 coordenadores em exercício
da função. No entanto, nem todos conseguiram responder, ou ainda aceitaram fazê-
lo. Por isso, dos 43 professores em função na Coordenação Pedagógica, 39
devolveram os questionários devidamente preenchidos para complemento de dados
24
da pesquisa. O que consideramos um número expressivo, visto que foi uma
pequena parte destes profissionais que não participou.
Após a coleta de dados via questionários, percebemos alguns pontos que se
destacavam em sua maioria e, a partir disso, concomitante ao desenvolvimento da
fundamentação da pesquisa, estabelecemos o primeiro critério que seria a
importância de já ter respondido o questionário anteriormente, pois este significou
para nós um ponto de interesse também por parte dos entrevistados. O que
culminou na escolha do segundo critério para a entrevista, selecionar apenas os
coordenadores que aceitaram participar. E ressaltamos aqui a importância de
respeitar a conduta ética de uma pesquisa, sendo esta a solicitação de participação
voluntária. Já o terceiro critério foi estabelecido por poder haver certa rotatividade na
função, uma vez que esta é dinâmica e não estável, por ser considerado um cargo
de confiança pelo poder público. Então fixamos o terceiro critério em estabelecer
que só participariam da entrevista os Coordenadores que estão em pleno exercício
da função.
Por fim, o quarto critério diz respeito à seleção dos Coordenadores que
concluíram a graduação após 2006. Consideramos esta data por ser o ano de
implementação das diretrizes do Curso de Pedagogia, o que configura toda a
reestruturação dos cursos de pedagogia ao qual é a formação mínima exigida para a
atuação em qualquer área da gestão escolar, de acordo com a LDBEN n.º
9394/1996.
Em contrapartida, estabelecemos o aceite de coordenadores formados em
outras áreas, diferente da área da pedagogia, para que também pudéssemos
comparar as respostas e analisá-las de acordo com a formação, visto que ambos,
mesmo com formações diferentes, atuam na mesma função nas escolas do
município. Vale lembrar que consideramos para estes apenas a formação inicial
como critério para o convite.
Portanto, o total de coordenadores aptos a participar da entrevista seria de
21, dos 39 que responderam o questionário. No entanto, respeitando todos os
critérios estabelecidos para eleger o número de entrevistados conseguimos, um total
de 16 coordenadores que concordaram em fazer parte da pesquisa, colaborando
com as entrevistas e autorizando a devida publicação, caso necessário, das
respostas registradas durante a coleta de dados.
25
Dos demais coordenadores que estavam aptos a participar a partir destes
critérios, cinco deles não aceitaram participar e um não respondeu ao nosso contato.
Além disso, ainda havia um dos coordenadores que estaria apto a participar
da entrevista, de acordo com os critérios 1 e 4, No entanto, este não correspondia
ao terceiro critério, pois havia participado do questionário, possuía a formação a
partir de 2006, mas não estava em exercício da função devido a uma licença de
serviço, ou seja, o coordenador estava afastado de suas atividades de trabalho
tornando, assim, o número de pessoas entrevistadas para a nossa pesquisa num
total de 16 Coordenadores Pedagógicos, conforme o quadro que consta no
Apêndice 1.
Estes dados são relevantes para compreender o público participante desta
pesquisa, assim como nos fazem refletir sobre o processo de fragmentação do
trabalho no contexto neoliberal, e a forma como isso implica também e,
principalmente, na realização do trabalho pedagógico da escola, bem como na
formação dos profissionais que atuam nesta área. A importância de compreender as
questões pertinentes ao trabalho pedagógico e a especificidade da formação,
implica também em valorizar principalmente os profissionais que realizam este
trabalho diariamente. Daí a relevância em considerar uma pesquisa de campo com
bases nos estudos empírico analíticos.
Posteriormente, realizamos entrevistas com os coordenadores pedagógicos
das escolas da rede municipal de Francisco Beltrão, questionando-os sobre a
relação da formação, dos conhecimentos obtidos nesta, com a atuação na
coordenação pedagógica. Nesse sentido, estruturamos oito perguntas em forma de
roteiro para desenvolver uma conversa a fim de obter as informações necessárias
para esta pesquisa (Apêndice 2). Entendemos que a pesquisa requer a
compreensão da necessidade ou não de uma formação específica para a atuação
na coordenação pedagógica a partir da atuação dos próprios coordenadores e
fazendo a análise das mudanças nas DCNFP de 2002 para 2015, que implicam
também na organização da formação para atuar na Coordenador Pedagógica.
Instituímos como critério o ano de formação dos coordenadores, que estivesse
associado ao ano em que se instituem as diretrizes do próprio Curso de Pedagogia.
Portanto, os coordenadores solicitados a participar das entrevistas
semiestruturadas responderam aos critérios: ter participado e respondido o
26
questionário sobre a Coordenação Pedagógica; ter aceito participar da realização de
entrevistas com assinatura por escrito do Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE), concordando com todos os critérios estabelecidos neste termo;
estar no exercício da função de Coordenador Pedagógico durante o período de
realização e entrevista; ter concluída a formação inicial (graduação) em Pedagogia
após 2006 (ano de implantação das DCNCP) ou em outra área diferente da
pedagogia em qualquer ano de formação.
Inicialmente, havíamos determinado os três primeiros critérios iniciais,
conforme consta no quadro do Apêndice 1, e o quarto, sendo apenas inclusos os
coordenadores com formação em pedagogia após 2006. No entanto, havia 12
coordenadores aptos a participar, mas apenas seis aceitaram, em virtude de estar
encerrando o ano letivo e estarem sobrecarregados, o que decorreu a necessidade
de ampliarmos a faixa de amostra considerando aptos a serem entrevistados os
coordenadores que obtinham a formação em pedagogia a partir de 2006, ano de
aprovação das novas diretrizes para o curso e, concomitante, os coordenadores que
obtinham outra formação que não fosse a da área do curso de pedagogia. Sendo
assim, a faixa de amostra passou a ser de um total de 21 coordenadores, sendo que
16 participaram e responderam a entrevista desta pesquisa.
Dessa forma, a dissertação está estruturada em três capítulos articulados a
partir dos objetivos específicos. O primeiro objetivo específico busca analisar as
mudanças na formação e trabalho do Pedagogo/Coordenador Pedagógico no
contexto das políticas neoliberais após 1990, que se desdobram no primeiro capítulo
intitulado: “As mudanças na formação e trabalho do Coordenador Pedagógico no
contexto das políticas neoliberais após a década de 1990”.
Este capítulo diz respeito aos impactos do neoliberalismo nas políticas
educacionais de formação para a Coordenação Pedagógica, em que se discute, no
nível macroestrutural, como a estrutura econômica atual influencia no cenário
educativo, assim como nas reformas educacionais. Preocupa-se em trazer
argumentos para o contexto das reformas para a formação de professores para
pensar a Coordenação Pedagógica. Por fim, falamos mais especificamente das
modificações consolidadas nas reformas dos Cursos de Pedagogia e a forma como
isso reflete na formação do Coordenador Pedagógico.
27
No segundo objetivo específico da pesquisa, elencamos como fundamental
compreender os aspectos da Coordenação Pedagógica na constituição de uma
profissionalidade docente. Assim, desenvolvemos o segundo capítulo, intitulado: “A
Coordenação Pedagógica face à constituição de uma profissionalidade docente”,
que busca investigar a trajetória da atuação da Coordenação Pedagógica em
diferentes períodos e nas esferas nacional, estadual e municipal, até adentrarmos
nas discussões do nosso lócus da pesquisa, que são as Escolas de Anos Iniciais da
Rede Municipal de Ensino de Francisco Beltrão-PR.
Por fim, concluímos com o terceiro capítulo partindo do objetivo específico
que se relaciona a identificar, a partir das experiências dos Coordenadores
Pedagógicos, as relações entre o saber e o conhecimento pedagógico necessários à
função, nas atuais condições de trabalho. Para isso, intitulamos o capítulo em “Do
saber ao conhecimento pedagógico: a identidade profissional dos coordenadores
das escolas municipais de Francisco Beltrão-PR”.
Abordamos os elementos formativos acerca do Coordenador especialista ao
Coordenador unitário, referindo-se às problemáticas que contradizem a atuação do
Coordenador Pedagógico polivalente, para uma legislação documentada como
coordenador especialista ou unitário. Também tratamos do conceito de docência,
que ganha destaque para que possamos compreender as dimensões da docência e
perceber em qual concepção ela se relaciona com a formação do Coordenador
Pedagógico. Em seguida, discutimos o fundamento da formação para a
Coordenação Pedagógica, onde desvelamos, da materialidade de nosso objeto de
estudo, os dados que nos revelam o entendimento dos coordenadores entrevistados
acerca dos conhecimentos e saberes pedagógicos. Este é o elemento central de
toda nossa sustentação dos argumentos.
Na sequência , discorremos sobre a identidade pedagógica dos
coordenadores das escolas municipais de Francisco Beltrão que nos revelam
contradições decorrentes da formação e trabalho dos coordenadores pedagógicos e
que nos levam a compreender que existe uma grande lacuna na formação dos
profissionais que nesta área atuam.
Findamos este texto reafirmando que, embora as reformas educacionais para
a coordenação pedagógica apontem para mudanças consideráveis no cenário da
gestão escolar, ainda são apenas mudanças que se estruturam no papel.
28
Transformações positivas acontecem de forma compassada neste campo.
Percebemos que os Coordenadores Pedagógicos tentam a cada dia fazer o seu
melhor, mas as implicações da formação, da sobrecarga de trabalho, das estruturas
organizacionais tornam-se ainda presentes. Entendemos que grande parte das
lacunas interferem nas organizações dos cursos de formação de professores no
Brasil. Essas lacunas demandam transformações não apenas na legislação, mas
também em toda a estrutura política, administrativa e econômica da sociedade. Por
isso, é importante discutir estas questões do campo educativo e formativo do
trabalho docente sempre e quantas vezes forem necessárias, para que uma
formação humana e profissional também se efetive.
29
1 AS MUDANÇAS NA FORMAÇÃO E NO TRABALHO DO COORDENADOR
PEDAGÓGICO NO CONTEXTO DAS POLÍTICAS NEOLIBERAIS APÓS 1990
3
Entendemos por flexibilização a capacidade que a nova estrutura de trabalho no capitalismo
moderno exige dos profissionais em se adaptar e dispor das mais variadas formas de trabalho e
de preparo. Como vemos em Harvey (2013), os trabalhadores precisam estar dispostos a se
adaptar facilmente a qualquer mudança no desempenho de seu trabalho e aos locais que
necessitam de sua mão de obra.
4
Profissionalização e profissionalidade docente derivam dos estudos de Contreras (2012), que trata
de uma racionalidade técnica no trabalho docente e do professor como um intelectual reflexivo e
autônomo. Na seção seguinte, tratamos com mais detalhes esta temática.
30
conjunto da vida humana. Dependendo, ainda, da formação que
receber, terá condições de viver plenamente a sua vida, defender e
produzir vida nesta sociedade, ou transformar-se no antídoto que
vem a ser um humano com vida, com ânimo, com disposição e
alegria de viver de produzir e lutar pelos bens da vida: um “desviado”
do processo de vir a ser, candidato à possibilidade de tibieza, de
apatia e da consequente marginalização pela descrença da vida, por
não entendê-la e não conseguir “sobreviver”, muito menos viver
dignamente. (FERREIRA, 2008, p. 52).
Sabemos que, ao longo dos anos, a sociedade vem se configurando com uma
cultura de criação pautada em decorrência das demandas do trabalho. Ou seja,
conforme o tipo de trabalho que se determina, certo tipo de sociedade vai sendo
5
Entendemos por cultura o que Ferreira (2000, p. 170) diz: “A cultura é, pois, uma criação do
homem, resultante da complexidade crescente das operações de que se mostra capaz no trato
com a natureza material e da luta a que se vê obrigado para manter sua subsistência. É o
processo pelo qual o homem transforma a natureza e, através dessa transformação, constrói-se
enquanto homem”.
31
moldada e reestruturada para atender a essas demandas sociais, que hoje são
demandas do capitalismo e do liberalismo.6 Considerando o Coordenador
Pedagógico enquanto categoria de um profissional, ademais as características de
sua profissão também sofrem mudanças consideráveis. Sobre esta formação
vinculada ao caráter humano, concordamos com Ferreira (2011, p. 112) ao dizer que
6
Nossa compreensão de liberalismo assenta-se em Bianchetti (2001), que destaca os três aspectos
derivados do termo. Segundo ele, o termo liberalismo “é utilizado em três sentidos: como
concepção do mundo ou filosofia centrada no indivíduo; como teoria política que se preocupa com
as origens e a natureza do poder; como teoria econômica organizada sobre as leis do mercado e
que fundamenta as relações de produção capitalista”. (BIANCHETTI, 2001, p. 44).
32
modificações decorrentes do projeto social e de mercado, e como ele se vincula a
ressignificação da atuação do Coordenador Pedagógico na gestão escolar.
7
Entendemos trabalho como “um processo de que participam o homem e a natureza, processo em
que o ser humano, com sua própria ação, impulsiona, regula e controla seu intercâmbio material
com a natureza. Defronta-se com a natureza como uma de suas forças. Põe em movimento as
forças naturais de seu corpo – braços e pernas, cabeça e mãos –, a fim de apropriar-se dos
recursos da natureza, imprimindo-lhes forma útil à vida humana. Atuando assim sobre a natureza
externa e modificando-a, ao mesmo tempo modifica sua própria natureza. Desenvolve as
potencialidades nela adormecidas e submete ao seu domínio o jogo das forças naturais. Não se
trata aqui das formas instintivas, animais, de trabalho. Quando o trabalhador chega ao mercado
para vender sua força de trabalho, é imensa a distância histórica que medeia entre sua condição e
a do homem primitivo com sua forma ainda instintiva de trabalho. Pressupomos o trabalho sob
forma exclusivamente humana”. (MARX, 2017, p. 211).
33
do qual o sujeito transforma a natureza (e, na medida em que é uma
transformação que se realiza materialmente, trata-se de uma
transformação prática), transforma também o seu sujeito: foi através
do trabalho que, de grupos primatas, surgiram os primeiros grupos
humanos – numa espécie de salto que fez emergir um novo tipo de
ser, distinto do ser natural (orgânico e inorgânico): o ser social.
E este ser social ao qual se remete Netto (2012) é um ser humano carregado
de características, desejos e necessidades que o configuram como humano
emergente de uma sociedade capitalista. Um ser que é próprio e único, que se difere
de outros seres vivos.
Além disso, o vir a ser humano,8 conforme a autora propõe, depende deste
caráter histórico, deste homem cuja constituição e caráter devem ser pautados na
ética da humanidade e da cidadania comprometidos também com o mundo do
trabalho, mas principalmente com a formação humana.
É exatamente este caráter histórico que produz sentido social, como sujeitos
na construção da sociedade e o trabalho, que inicialmente foi configurado a partir da
existência humana como forma de suprir as suas necessidades básicas. A partir
desta linha de raciocínio, concordamos com Kuenzer (2001) quando entende que
toda atividade inerente ao trabalho humano é constituída a partir de um fim cuja
8
Expressão utilizada por Ferreira (2011) para explicar o homem em sua constituição e existência,
assim como sua caracterização enquanto ser social.
34
expectativa é a de atender às necessidades humanas sendo, este tipo de trabalho,
um trabalho qualificador. Segundo a autora,
Por outro lado, este mesmo trabalho, além de qualificador, pode ser
identificado com uma dupla face. De acordo com Kuenzer (2001), existem duas
concepções do trabalho não antagônicas, mas que se complementam e se
interpõem uma a outra cabendo formar o que a autora chama de dupla face.
Segundo ela,
35
flexibilidade dos processos de trabalho, dos produtos e padrões de
consumo. Caracteriza-se pelo surgimento de setores de produção
inteiramente novos, novas maneiras de fornecimento de serviços
financeiros, novos mercados e, sobretudo, taxas altamente
intensificadas de inovação comercial, tecnológica e organizacional.
(HARVEY, 2017, p. 140).
36
gerenciamento deste trabalho. Nas palavras de Harvey (2013), as formas como os
trabalhadores se relacionam e auxiliam uns aos outros reforçam as características
do trabalho coletivo, ou seja, são reflexos do trabalho que respaldam na vida social.
Sobre isso Harvey (2013, p. 168) ressalta que
37
mesmo tempo em que propõem modelos gerencialistas de avaliação
do sistema.
38
entre elas as políticas para a formação de professores também se configuram. No
século XX, com o advento de uma nova política econômica denominada
neoliberalismo, a intensificação do trabalho é uma característica importante no que
diz respeito às formas produtivas e os meios de produção. Segundo Harvey (2013,
p. 79-80),
9
Entre estes organismos econômicos internacionais e nacionais, destacamos o Banco Mundial, o
Fundo Monetário Internacional (FMI), a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE), a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) e outros.
39
consequências para a educação e qualificação da força de trabalho.
(FRIGOTTO, 2010, p. 151).
Por esta razão, o autor considera que esse ajuste do mercado, tanto nacional
como internacional, substanciado pela política neoliberal, ganhou apenas uma cara
nova da teoria do capital humano (FRIGOTTO, 2010) e que, no campo educativo,
não passa de um “rejuvenescer” desta teoria de um modo de produção. Este que
também é conhecido como bricolagem, conforme Ball (2001), visa a mais valia,
pautando-se num novo sistema reconhecido como acumulação flexível, que
intenciona formação de mão de obra barata, de flexibilização, enfim, da formação
humana para atender às novas revestidas demandas do mercado.
Considerando isso, enfatizamos que os cursos de formação docente, sendo
postos neste perfil mercadológico de desenvolvimento de mão de obra, se ajustam
às novas políticas educacionais reformulando suas políticas públicas alentadas pelo
neoliberalismo e organizando as estruturas de todo o sistema nacional de ensino no
intuito de responder às expectativas dos senhores do mundo.10
No campo educativo, são reformuladas as leis que regem a educação
brasileira a partir da década de 1990, tais como a reformulação da LDBEN, que
ampliou o conceito de docência conforme os indicativos do movimento dos
educadores. A consolidação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e, em
consonância a estes ajustes, as políticas de formação de professores, por meio da
implementação e depois reformulação das DCNFP e DCNCP resultaram um modelo
de um sistema de educação que vivenciamos hoje e que reflete a constituição social,
de um perfil de ser humano ao qual se adapte ao modo de produção e que esteja
preparado para atender às demandas do mercado.
Em contrapartida a estas lutas, e sempre acompanhando e debatendo novas
formas de pensar a educação e a docência, a Anfope, desde a década de 1980, vem
discutindo um propósito comum, que o de é lutar pela consolidação de uma base
comum nacional como política de organização para toda a base da docência no
país.
Por outro lado, o impacto do modo de produção capitalista na estruturação
dos sistemas educativos reflete no dia a dia do trabalho do professor, do perfil do
aluno e consequentemente na atividade diária do coordenador pedagógico, que faz
10
Termo utilizado por Frigotto (2010, p. 156) para se referir aos grandes donos do capitalismo
moderno, ou como ele mesmo chama: “ao poder de fato”.
40
também motivo de lutas constantes para a classe. Toda a estrutura social é movida
pela escola e, em concomitância, a escola é fruto de toda a demanda e organização
social.
Ferreira (2007) aponta para a importância da formação continuada para suprir
uma demanda deste mundo mercadológico e satisfazer as necessidades de uma
sociedade do conhecimento, na qual a constante evolução de novas aprendizagens
e necessidades de aperfeiçoamento profissional e de formação inicial incorporadas e
direcionadas ao trabalho do Coordenador Pedagógico são fundamentais. Segundo a
autora,
11
De acordo com Pereira (1998, p. 49), “a grande tarefa política dos anos 90 é a reforma ou a
reconstrução do Estado. Entre os anos 30 e os anos 60 deste século, o Estado foi um fator de
desenvolvimento econômico e social. Nesse período, e particularmente depois da Segunda Guerra
Mundial, assistimos a um período de prosperidade econômica e de aumento dos padrões de vida
sem precedentes na história da humanidade. A partir dos anos 70, porém, face ao seu
crescimento distorcido e ao processo de globalização, o Estado entrou em crise e se transformou
na principal causa da redução das taxas de crescimento econômico, da elevação das taxas de
desemprego e do aumento da taxa de inflação que, desde então, ocorreram em todo o mundo. A
41
acenavam muito antes para o almejo de um novo perfil de escola, de profissional e
de formação humana.
Na busca de reestruturar um Estado novo, baseado num sistema de
economia pautado na acumulação flexível, busca-se também uma reforma
educacional que contemple a constituição de um novo perfil de trabalhador para
atender às novas demandas sociais e, nesse sentido, os cursos de docência
também sofre alterações ao longo dos anos e para que possamos compreender
melhor isso.
Apesar desse período histórico ser considerado o precursor da
implementação de reformas pautadas no ideário neoliberal, precisamos entender
que as reformas são também decorrentes do movimento histórico-social no qual se
insere a organização da educação superior e nela os cursos de pedagogia. Situando
os momentos históricos, compreendemos que muito antes da década de 1990 a
Faculdade Nacional de Filosofia foi criada já no anseio de formar os profissionais
para atender às necessidades sociais vigente.
Com a divisão do trabalho e a sociedade industrializada começaram a surgir
novas exigências educativas para atender ao mercado de trabalho e, assim, a
educação e, em especial, o Curso de Pedagogia, também precisou ser modificado
uma vez que este é o curso responsável por formar o antigo técnico em educação
ou o especialista, hoje habilitado, entre outras áreas de atuação, também para a
Coordenação Pedagógica. Desse modo, apontamos o que Moraes (2003, p. 129) diz
da adaptação dos cursos às demandas de mercado:
12
Termo utilizado por Frigotto (2010) quando se refere aos países ocidentais (nos casos da América
Latina e Caribe) comparados ao nível de desenvolvimento com os países europeus.
43
ressalta os destaques de uma sociedade incerta que poderá ressentir no ensino
superior para a sociedade do século XXI, tanto no quesito de financiamento como na
tomada de decisões, e um relatório para a Organização das Nações Unidas para a
Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), da Comissão Internacional sobre
Educação para o Século XXI, conhecido como Parecer Jacques Delors, que qual
institui os quatro pilares13 para a educação básica que culminaram na transformação
e reestruturação de todas as políticas para os cursos docentes a partir de então.
Culmina numa nova política de formação que reflete em seus propósitos para as
reformas educacionais o também no Brasil.
Os documentos da Anfope, desde 1983 até hoje, merecem destaque pela
defesa dos cursos de formação de professores, as lutas constantes do movimento
em prol da classe docente e pela valorização da carreira do magistério. A entidade
sempre esteve presente nas discussões e reformulações das legislações
educacionais, defendendo os princípios e pautas de lutas. Sobre isso, trata o
documento do XIX Encontro de 2018 escrito pelo movimento sobre a trajetória de
lutas da entidade:
13
Segundo o parecer, são necessários para que o processo de aprendizagem ocorra efetivamente,
respeitar os quatro pilares de formação do educando. São eles: aprender a fazer; aprender a ser;
aprender a conhecer e aprender a viver juntos. (DELORS, 2010).
44
que vive o Brasil nos últimos anos, cenário que vem se modificando desde as
reformas econômicas e sociais da década de 1990.
Concomitante ao movimento e as novas reformulações das leis da educação
e dos projetos nacionais, legitimando a educação como um espaço de possibilidade
do crescimento econômico, as DCNCP também são reformuladas e resultam de um
campo de disputas ideológicas em que diferenças conceituais se embatem num
processo de formação. Este espaço de disputa hegemônica que se torna o campo
educativo no início do novo século abre caminhos para as disputas ideológicas que
se constituem por esta sociedade do conhecimento. Segundo Freitas (2002, p. 140),
47
modalidades e diversidades, assim como nos mais diversos cursos de licenciatura,
sendo a docência entendida como base da formação inicial. Outrora o grupo que se
opôs a essa ideia, entende que o Curso de Pedagogia tem sua especificidade em
formar o pedagogo escolar e não o docente, tendo fundamentos teóricos da
educação e as especificidades da gestão escolar como base da formação.
Em reunião para as discussões sobre a criação e implementação das novas
DCNFP, discutiu-se muito sobre quem deveria formar o professor e quem deveria
formar o especialista, ou se a formação deveria ser uma só.
Diante disso, duas propostas foram abordadas, uma que defendia a docência
como a base para qualquer outra atividade docente, cujas diretrizes se vincularam a
esta proposta, e que acredita ser necessário diferenciar a formação, uma vez que a
atividade docente é tão complexa quanto a atividade pedagógica, mas cada uma
com suas especificidades, não podendo esta ser generalizada a ponto de tornar-se
uma formação única. Sobre isso, Libâneo e Pimenta (1999, p. 240) apontam:
48
Numa proposta de reformulação das DCNFP, a ANFOPE produziu um
documento final posterior às reuniões de 2014 com o posicionamento da entidade
frente às políticas de formação de professores, sendo uma das proposições:
14
Termo muito utilizado nos fundamentos da Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2019)
como um conceito pedagógico fundamental das competências de aprendizagem.
49
específicos, também à distância, outra questão que nos chama a atenção no mesmo
documento é a expressa abaixo:
50
da sociedade. Sobre isso, reproduzimos uma ideia sustentada por Charlot (2013, p.
64):
Sobre isso, Saviani (2012) afirma que a educação é política. Ele sustenta esta
tese, pois considera que a educação está estritamente vinculada às – e é
determinada pelas – características sociais. De acordo com o autor,
51
1.3 O Curso de Pedagogia e a formação para Coordenação Pedagógica
15
De acordo com Freitas (2002, p. 137), “O debate sobre políticas de formação de professores
evoca dois movimentos que se entrelaçam de forma contraditória na realidade atual: o movimento
dos educadores e sua trajetória em prol da reformulação dos cursos de formação dos profissionais
da educação e o processo de definição das políticas públicas no campo da educação, em
particular da formação de professores”. Este movimento tem grande importância para os debates
no campo educativo, resultado das posições antagônicas a respeito da formação de professores
no Brasil.
52
competência de atuação e preparo para as áreas da administração, supervisão,
inspeção e orientação escolar deve ser feita ou em Cursos de Pedagogia, ou outra
licenciatura acrescida de uma especialização na área da Gestão Escolar.
Destacamos a necessidade de compreender a forma pelo qual foi consolidada
a sua criação, e da mesma forma perceber as reformulações que já foram feitas e
que nos permitem compreender o que hoje percebemos como profissional com
habilitações, ou com uma função que corresponde a várias competências
profissionais, tornando-se o profissional polivalente. De acordo com Silva (2011, p.
134),
54
Por hora, pode-se dizer que foi em benefício social e muito relevante para a
melhoria na qualidade e expansão do ensino público aos olhos dos discursos, mas
em suas entrelinhas o parecer tinha muito mais a dizer: demonstrava a capacidade
de reproduzir na esfera social educacional as necessidades de uma classe
dominante. Influenciados por uma ideologia dominante e com a necessidade de
reestruturar as formas novas de empregos e adequando-se às novas exigências de
mercado na lógica neoliberal, tangencia-se uma nova forma de analisar a formação
de professores nos cursos de pedagogia também, direcionando-o para formar
especialmente os técnicos em educação e valorizar a elite do saber.
No próprio documento, apresenta-se de forma explícita a necessidade de
cumprir uma exigência da legislação a partir do Decreto n.º 5540 de 28 de abril de
1968 e de atender a demanda da lógica mercantil. As mudanças nos perfis
profissionais vieram a calhar nas justificativas para a implementação do parecer.
Segundo o documento,
55
demandando profissionais com uma formação específica que seria
suprida pelo Curso de Pedagogia, então reestruturado exatamente
para atender a essa demanda. Entretanto a dupla suposição se
revelou inconsistente. Nem as funções correspondentes aos
mencionados “especialistas” estavam bem caracterizadas, nem se
poderia supor constituído um mercado de trabalho demandando
aqueles profissionais correspondentes as habilitações propostas.
56
categorização da profissão e os espaços de atuação. De acordo com Silva (2011, p.
136),
58
escolar como um todo, e essa desvalorização faz com que estes tentem se
enquadrar nas categorias de traços apontadas por Contreras (2012, p. 61):
59
que se dispõe com objetivo de tornar possível a ampliação e
desenvolvimento desse conhecimento profissional, sua flexibilidade e
profundidade. [...] Da mesma forma, ao ser o ensino uma prática
social cuja realização não depende só das decisões tomadas pelos
docentes em suas salas de aula, mas de contextos mais amplos de
influência e determinação, a competência profissional deve ser
colocada em relação com a capacidade de compreensão da forma
em que estes contextos condicionam e mediam seu exercício
profissional, bem como com a capacidade de intervenção nesses
âmbitos. (CONTRERAS, 2010, p. 93).
60
A complexidade de uma cultura se encontra não apenas em seus
processos variáveis e suas definições sociais – tradições, instituições
e formações – mas também nas inter-relações dinâmicas, em todos
os pontos do processo, de elementos historicamente variados e
variáveis. Naquilo que chamei de análise “de época”, um processo
cultural é tomado como sistema cultural, com determinadas
características dominantes; a cultura feudal ou a cultura burguesa ou
uma transição de uma para outra. Essa ênfase nos traços e
características dominantes e definidas é importante e com
frequência, na prática, efetiva.
Por fim, o autor considera como categoria emergente tudo aquilo que surge
como novo, com propósito de inovações que antes não haviam sido pensadas,
dentro de uma perspectiva de emancipação cultural dos processos sociais. Williams
(1979, p 126) escreve:
61
desenvolvimento positivo está alienado a uma esfera restrita, está a
exigência da onilateralidade, de um desenvolvimento total, completo,
multilateral, em todos os sentidos, das faculdades e das forças
produtivas, das necessidades e da capacidade da sua satisfação.
62
Com uma análise mais atenta, é possível entender, a partir da fala do
Coordenador L, que esta verticalização, tomada pelos organismos econômicos e
instâncias superiores da educação, apresenta características de uma categoria
residual. Mesmo demonstrando nos documentos oficiais, como as DCNs, um
princípio de autonomia e de gestão democrática, a Coordenação Pedagógica
apresenta-se, na prática, de forma muito engessada e hierárquica. Daí o sentido de
compreendermos o termo “mudança” que evidenciamos no título deste capítulo.
Em um segundo ponto de análise, podemos considerar residual e, neste caso
específico, as características deste profissional, como um trabalhador da categoria
semiprofissional (CONTRERAS, 2012), tendo em vista que várias mudanças foram
ocorrendo na base legal do trabalho do pedagogo, como também na história e no
reconhecimento profissional da função, dentro dos sistemas de ensino. Desse modo,
para Contreras (2012, p. 63-64), a definição de uma categoria semiprofissional
apresenta-se da seguinte forma:
64
2 A COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA FACE À CONSTITUIÇÃO DE UMA
PROFISSIONALIDADE DOCENTE
16
Na Coordenação Pedagógica, o trabalho não é uma profissão reconhecida legalmente por ser
considerada uma das funções do trabalho do professor, apesar de suas especificidades. Por isso,
os coordenadores pedagógicos da rede municipal de educação de Francisco Beltrão são todos
professores em exercício na Coordenação Pedagógica.
66
caso da rede municipal de ensino de Francisco Beltrão, no Paraná. De acordo com a
LDBEN n.º 9394/1996, no artigo 64,
Além de garantir por meio desta lei os profissionais que atuarão na gestão
escolar, mesmo que com denominações diferentes em cada região, a mesma
legislação, quanto à organização dos sistemas de ensino, contempla o seguinte:
17
Concebemos o Estado como tendo a função de representar a maior parcela das decisões dos
átomos sociais, que são os indivíduos. De acordo com Bianchetti (2001, p. 73), “[...] se a
sociedade é uma soma de átomos independentes, os objetivos sociais são o encadeamento
parcial desses átomos, onde cada um vê satisfeito seus interesses”.
67
provas para avaliação do sistema em larga escala e a proposta de
um currículo padronizado), que é a própria negação da autonomia
docente. (VIEIRA, 2009, p. 104).
68
Todavia, o respaldo da gestão democrática que é apresentado na legislação
da educação nem sempre apareceu. Ao retomar um pouco da nossa história,
percebemos que essa temática torna-se necessária após a consolidação da
Constituição de 1988 que determina como uma necessidade a participação da
sociedade nas tomadas de decisões do Estado, sendo assim, das instituições
sociais18 do Estado também.
Quando afirmamos que a questão da democratização da gestão ainda é muito
recente, nos respaldamos na análise que fazemos das legislações anteriores da
educação, tais como a LDB n.º 4024/1961 ou a lei n.º 5692/1971, as quais não
citaram em nenhum momento uma abordagem de gestão democrática, mas sim
muito reducionista, em virtude do contexto para a época também.
Não podemos ignorar que os avanços no que diz respeito à nossa legislação
educacional são extremamente recentes e, principalmente, que eles foram
modificados sempre de acordo com as necessidades sociais, econômicas e
políticas, muitas vezes bem mais com interesses econômicos.
Contudo, nas primeiras legislações a divisão do trabalho da Coordenação
Pedagógica já apareciam divididas e com poucas modificações até então. Na LDB
n.º 4024/1961, a divisão do trabalho que hoje compete à Coordenação Pedagógica
era explicitamente organizada e fragmentada, onde cada integrante da equipe
gestora da escola tinha sua função muito bem determinada. Logo, no artigo 52 da
requerida lei está presente o seguinte texto:
18
Por instituições sociais, concordamos novamente com Bianchetti (2001, p. 74), que contrapõe a
ideia neoliberal de que estas “são uma criação do homem para relacionar os interesses individuais
na forma de um somatório”. Entendemos que elas são instituições representativas do povo, da
unidade e da diversidade. Elas determinam o poder do povo por meio de suas diferentes
representações.
69
para as escolas rurais primárias poderá ser feita em estabelecimentos que lhes
prescrevem a integração no meio”. (BRASIL, 1961, p. 31).
Das especificações de cada função, apresenta-se o Título VIII para tratar “Da
Orientação Educativa e da Inspeção” com quatro artigos que dispõem das
determinações de locais de formações e especificações das funções de inspeção e
orientação educacional.
71
do mundo contemporâneo a partir da década de 1990, está no texto “O recuo da
teoria”, publicado no livro Iluminismo às avessas:
72
A legislação do Estado do Paraná permite que seja denominado como
Professor Pedagogo o profissional que atua nas funções descritas acima porque em
seu Plano de Cargos, Carreira e Valorização do Magistério contempla, no capítulo
III, que trata dos Conceitos Fundamentais, em seu artigo 4º as atribuições do
professor como também o profissional que exerce as funções de administração,
orientação e supervisão educacional, como aponta o texto:
Além disso, a mesma legislação afirma ser necessário, para exercer tais
funções, que o profissional seja habilitado com graduação em Pedagogia, uma vez
que para a docência exige-se formação em licenciatura nas áreas específicas na
qual atuará. Neste caso, o profissional responsável por desenvolver os trabalhos de
administração, orientação, planejamento e supervisão educacional precisa ter
formação específica para tal, logo, a formação em Curso de Pedagogia.
1. DO CARGO:
PROFESSOR Pedagogo do Quadro Próprio do Magistério, atuação
nos anos iniciais do Ensino Fundamental e Ensino Médio, Nível I,
Classe 1, Código PNI-1, conforme Lei Complementar n.º 103/2004,
de 15/03/2004. (PARANÁ, 2007, p. 1).
73
O fragmento acima apresenta quatro linhas para descrever o cargo ofertado
no concurso. No entanto, a descrição das atividades que competem ao cargo citado
acima compõe praticamente uma página de escritos com funções que são de
responsabilidade do pedagogo, as quais não citamos na íntegra (a descrição
completa das atribuições apresenta-se disponível no Anexo 8), mas destacamos
como principais atividades:
74
O Coordenador Pedagógico do município de Francisco Beltrão não é
profissional com concurso público próprio para a função que exerce. Neste município
quem faz o trabalho do Coordenador Pedagógico é o professor da carreira do
magistério, concursado efetivo para isso. No entanto, exerce a função gratificada
para a atuação na Coordenação Pedagógica, função esta que hoje é apresentada
como extinta do quadro de cargos e carreira do magistério municipal.
Vale acrescentar que, se por um lado no Estado do Paraná há concurso e
igualdade na carreira, no município a igualdade de condições é acrescentada com
gratificações para a função. Isso, de certa forma, legitima o entendimento de que
quem assume essa função “merece” ganhar mais. Da mesma maneira, o gerente na
empresa também ganha mais por ter suas responsabilidades. Essas equiparações
nos fazem refletir e problematizar sobre as normativas que regulamentam a função.
A escolha da Coordenação Pedagógica é feita através de instrução normativa
realizada ano a ano, para determinar as regras da escolha para o exercício da
função. Os cargos são de escolha dos diretores das unidades de ensino e
aprovados pela Secretaria Municipal de Educação e Cultura (SMEC) para,
posteriormente, ser feita a nomeação dos escolhidos pelo executivo municipal.
De acordo com a Instrução Normativa n.º 001/2019, que regulamenta a
distribuição de vagas, turmas remoções e funções das escolas e dos Centros
Municipais de Educação Infantil (CMEI) da rede de Francisco Beltrão, o item 11
estabelece que a Equipe Pedagógica deve ser escolhida da seguinte forma:
75
“Eu estou nessa função a convite da direção da escola que ao observar o meu
trabalho me fez o convite em participar da equipe e eu assumi então esse
compromisso. Acredito que estou aprendendo muito e também estou
contribuindo bastante com os professores e com a escola” (COORDENADOR
“R”, 2020).
76
constituem tais atividades, além de exigir o ingresso destes via concurso público,
que até então não foi realizado pela instituição mantenedora.
Assim, de acordo com a nova redação do Plano de Cargos e Carreira de
Valorização do Magistério do Município de Francisco Beltrão, através da alteração
da lei n.º 4260/2014 para a nova redação com a lei n.º 4551/2018, a Coordenação
Pedagógica é uma função temporária até que se faça concurso público para o cargo
de pedagogo, ao qual prevê em nova aprovação do estatuto municipal do
magistério.
A lei n.º 4552/2018 mantém as descrições da lei n.º 4260/2014 no artigo 5º,
inciso V, especificando o que é função ou atividades do magistério:
Também mantém no mesmo artigo o inciso XXI, que define o que é docência.
Dentro destas especificações dos conceitos fundamentais, apresentados neste
parágrafo, a docência é “atividade de ensino desenvolvida pelo Professor da Rede
Municipal, direcionada ao aprendizado do aluno ou da criança na regência de
classe”. (FRANCISCO BELTRÃO, 2014, p. 4). A lei n.º lei 4552/2018 altera o artigo
6º suprimindo a redação antiga que apresentava em 2014:
Depois sofre nova alteração em 2017 pela lei n.º 4530/2017 que modifica a
nomenclatura de educadores infantis para Professor da Rede Municipal/CMEI,
enquadrando-os na mesma categoria profissional, passando a ter a seguinte
redação:
Por fim, a última alteração realizada, e que é a que nos interessa destacar,
altera novamente o artigo 6º pela lei n.º 4552/2018, que, além de retornar a
nomenclatura antiga de Professores da Rede Municipal/CMEI, cria o cargo de
Pedagogo na carreira do Magistério Municipal, conforme apresentado na redação
abaixo:
78
que possam contribuir para o desenvolvimento do trabalho na Coordenação
Pedagógica.
79
faculdades / departamentos das áreas específicas e com as redes
pública e privada de ensino.
80
Em contrapartida, a ideia inicial de uma proposta de DCNFP da Educação
Básica de 2002, as DCNCP mostraram-se inovadoras e positivas perante a proposta
de formação de professores que se tinha até então. No entanto, com o intuito de
formar os professores da educação básica especialmente nos cursos de pedagogia
muitas críticas foram feitas a esse modelo de curso, resultando num campo de
disputas ideológicas por parte dos pesquisadores desta área.
Pensar a formação de professores neste formato, especialmente dos cursos
de pedagogia, fez com que o grupo de pesquisadores da ANFOPE divergissem por
questões ideológicas, uma vez que grande parte dos pesquisadores acreditava que
o Curso de Pedagogia deveria formar para todos os campos de atuação na
educação básica, modalidades e diversidades, assim como nos mais diversos
cursos de licenciatura sendo a docência entendida como base da formação inicial.
Outrora o grupo que se opôs a essa ideia entende que o Curso de Pedagogia tem
sua especificidade na formação do pedagogo para espaços escolares e não
escolares, e não o docente, tendo os fundamentos teóricos da educação e as
especificidades da gestão escolar como princípio de toda a estrutura do curso.
As DCNs de 2006 já anunciavam na contramão desta premissa, pautando
como princípio a não dissociação entre docência, pesquisa e gestão. Este princípio
vai sustentar a posterior DCNFP de 2015. A partir dessas discussões é que se
instituem as DCNFP de 2015, conforme apresentamos na seção 1.2.
Além de propor que as políticas de estado para a formação de professores
compunham esse fortalecimento dos cursos presenciais e à distância, outra questão
que nos chama a atenção ainda no mesmo documento é a expressa abaixo:
81
ser reduzido através de cursos de aproveitamento ou por formações com cargas
horárias de estágio e atividades práticas mais extensas.
Um ponto importante a ser ressaltado na instituição das DCNFP de 2015 é
que um marco legal se consolida a partir desta institucionalização, pois o documento
configura uma estrutura de ensino público no Brasil que não era contemplada até o
momento. Sobre isso, Dourado (2015, p. 307) aponta:
Além disso, uma interlocução entre os sistemas de ensino nos mais variados
níveis fez-se necessária a partir da implementação deste documento. Considerar as
DCNFP de 2015 como atraso para a formação de professores no Brasil seria
ignorância de nossa parte, haja vista que já eram necessárias, desde a instituição da
LDBEN n.º 9394/1996, uma organização e uma inter-relação destes sistemas de
ensino nos seus níveis variados, respeitando sempre a suas peculiaridades e
especificidades, mas voltada para o ensino como uma unidade brasileira colocado
também como um desafio para as estruturas políticas de nosso país. Sobre essa
questão, Dourado (2015, p. 3016) assevera:
83
DCNCP de 2006, legislação que contempla a docência, a gestão e a pesquisa na
formação.
Embora 30 coordenadores pedagógicos apresentem diploma de graduados
em Pedagogia, ainda temos oito coordenadores da rede que possuem titulação em
outras licenciaturas, dentre eles quatro possuem o curso de Normal Superior, quatro
apresentam licenciatura em geografia, e um cuja formação de nível superior não é
na área do campo educativo escolar, sendo este formado em nível superior no curso
de Economia Doméstica. Assim, os dados foram organizados, conforme o quadro
abaixo:
85
Como afirmamos acima, os coordenadores pedagógicos da rede estão na
função que hoje é considerada quadro extinto por não ser mais contemplada no
plano de cargos e carreira do município. Isso decorre porque os funcionários são
efetivos do município, contratados por uma legislação vigente, mas não estão mais
de acordo com as novas regulamentações exigidas para o cargo de professor, como
é o caso dos profissionais formados no curso de Economia Domestica que foi, por
muitos anos, um curso que pertencia as áreas das licenciaturas.
Os coordenadores que desempenham trabalho na Coordenação Pedagógica
foram nomeados por função pública por meio de portarias municipais, sendo elas
com nomeação em redação oficial conforme o texto da portaria 201 de 25 de abril de
2018 que nomeia de forma coletiva os Coordenadores Pedagógicos das escolas
municipais com redação que expressa a nominação dos listados em anexo para
exercer a “Função de Coordenador Pedagógico”. (FRANCISCO BELTRÃO, 2018b,
p. 1).
A legislação nacional da educação que fundamenta todas as outras
legislações locais prevê que os profissionais que atuam nas atividades de
administração, orientação, planejamento e supervisão educacional devem ser
formados nos Cursos de Pedagogia ou, caso este não seja obtido, que o profissional
que desempenhe estas funções possua pelo menos curso de especialização nas
áreas em que atuará.
No caso dos coordenadores das escolas municipais que não possuem
formação em pedagogia e sim em licenciatura em geografia, dois deles apresentam
a especialização em nível de pós-graduação em Supervisão Escolar, um possui a
titulação complementar em nível de pós-graduação em Gestão Escolar e um apenas
não respondeu a área em que concluiu sua especialização.
Por outro lado, dos quatro coordenadores que apresentam a formação inicial
no curso Normal Superior, apenas um deles possui especialização em Gestão
Escolar, sendo dois deles com a pós-graduação em Psicopedagogia e um em
Interdisciplinaridade, contradizendo ao que prevê a LDBEN n.º 9394/96, quando
especifica que para atuar nas funções acima citadas faz-se necessária a formação
em pedagogia ou especialização com o mesmo padrão de conteúdo da função ao
qual o profissional exercerá.
86
E o que é mais contraditório é o município conter, em seu quadro profissional,
professores, hoje, não licenciados, como é o caso da formação em Economia
Doméstica (que na implantação do curso era considerada uma licenciatura, mas
hoje já não é mais), levando em conta apenas a formação complementar em gestão
escolar, o que poderia justificar a efetivação na função.
Outro ponto importante a analisar é o tempo de atuação no cargo público de
professor, em que muitos dos coordenadores pedagógicos estão no desempenho do
cargo a mais de dez anos, mas grande parte deles está na função há menos de dez.
Apesar de a maioria dos coordenadores pedagógicos terem idade entre 30 e 50
anos, muitos estão há pouco tempo na função, o que demonstra um novo corpo
docente exercendo o trabalho pedagógico na escola, considerando que 11 deles
estão a menos de um ano no desempenho da função de Coordenador Pedagógico e
27 estão entre um e dez anos na função.
Com os resultados das entrevistas, podemos constatar também se a
renovação do quadro profissional é de grande valia ou se os conhecimentos já
adquiridos por experiência daqueles que já exercem a função há mais tempo podem
ser mais vantajosos para a escola no tocante à qualidade no ensino.
É preciso saber se a experiência na docência e na função da Coordenação
Pedagógica pode influenciar os modos de formação pautando estas como pré-
requisito para o desempenho na Coordenação Pedagógica, uma vez que se faz
necessário compreender este campo educativo, assim como sua subjetividade e os
conhecimentos que nele estão imbricados. Para que isso ocorra, na seção seguinte
discorremos sobre a formação destes coordenadores entrevistados para que
possamos então entender em quais aspectos da formação implicam no trabalho que
desenvolvem na escola.
87
meio de quadros o delineamento da pesquisa para se chegar ao público
entrevistado.
88
Quadro 5 – Modalidade de formação dos Coordenadores entrevistados
FORMAÇÃO DOS COORDENADORES ENTREVISTADOS
Pedagogia a distância 1
Geografia presencial 2
Total ?
3 1 3 1 1 2 11
1 1 1 2 5
89
um deles que não dispõe de formação no respectivo nível. Vejamos o quadro a
seguir:
90
Quadro 8 – Área de estudo de especialização dos coordenadores entrevistados
formados em pedagogia
FORMAÇÃO DOS COORDENADORES ENTREVISTADOS
Total 14 Total 8
Lembramos que na apresentação dos dados dos quadros acima, cinco dos
coordenadores entrevistados possuem mais de uma especialização. Portanto, o
número total aumenta em relação ao total de entrevistados.
A relação que fazemos é a de que é grande a procura por um curso de
especialização por parte dos entrevistados. Não levamos em conta aqui os motivos,
mas apenas o interesse em ser especialista em uma área já se torna um fator
positivo. Por outro lado, a área em que atuam não é a mesma que todos procuram
se especializar, uma vez que os dados dos quadros acima representam esta
informação. Afirmamos que é a maioria, mas não é a área ao qual se destinam
100% da formação. A busca por uma especialidade na área do desenvolvimento
psicológico, da educação especial, da formação para a primeira etapa da educação
básica, como também de outras modalidades da educação também se aplicam.
Estes indicadores não são novidades para os pesquisadores desta área, uma
vez que a exigência da LDBEN n.º 9394/1996 é a de que se obtenha o título de
graduação em Pedagogia e/ou uma graduação em outra licenciatura, desde que a
especialização seja aplicada a área da gestão escolar.
91
Observamos então no quadro seguinte, quando fazemos a relação entre os
Coordenadores que são formados em Pedagogia com a especialização ao qual
destinaram sua formação posterior e obtivemos os dados do quadro abaixo e que
respaldamos nossa análise.
Identificamos que a escolha por um curso de especialização daqueles
Coordenadores que possuem apenas um curso de pós-graduação em nível lato
sensu não foi a opção pela área da gestão escolar, e sim outras áreas também
importantes para a atuação nos mais diversos níveis do sistema de ensino. Por
conseguinte, quando analisamos os dados da formação e especialização daqueles
Coordenadores que apresentam dois ou mais cursos neste nível, a gestão escolar
torna-se uma das opções escolhidas.
Ou seja, aqueles que buscaram a gestão em sua formação buscaram também
se especializar em outras áreas da educação. Destacamos estes dados no quadro
abaixo:
Total 11
92
Assim, reiteramos a necessidade de tabular os dados sobre o tempo de
atuação dos coordenadores, tal como sistematizamos no quadro abaixo.
Organizamos o quadro de forma que pudéssemos melhor compreender quem são
os atuais Coordenadores da rede considerando a identidade do grupo de
professores que participaram da entrevista.
0 10 1
6 5 0
5 6 0
93
Quadro 11 – Tempo de atuação dos coordenadores entrevistados
formados em outras áreas
TEMPO DE ATUAÇÃO DOS COORDENADORES ENTREVISTADOS
FORMADOS EM OUTRAS ÁREAS
NA CARREIRA DOCENTE MUNICIPAL
0 0 5
1 4 0
1 3 1
Podemos avaliar que grande parte dos coordenadores que estão no exercício
da função e ao qual destinamos a entrevista são professores em sua maioria
formados a partir de 2000, e também com tempo de atuação recente na função que
exercem, e em média apresentam entre cinco e dez anos de atuação no magistério
da rede municipal.
Também identificamos que estes profissionais possuem progressão na
carreira, conforme o Plano de Cargos e Carreira do Magistério Municipal de 2014,
em 15 níveis horizontais, com avanços bienais desde que tenham atingido 80 horas
de cursos de formação em suas respectivas áreas de atuação, e também um com
avanços em classes verticais, aos quais necessitam de titulação acadêmica para
compor cada classe, sendo a classe “A” a exigência mínima da carreira, referente ao
nível de magistério e a classe “D” o máximo de progressão, referente ao nível de
mestrado. A mesma progressão vale para os docentes em função de Coordenação
Pedagógica.
O quadro de Coordenadores apresentado ao qual destinamos a realização
das nossas entrevistas evidencia-se um tanto quanto novos no quesito tempo de
serviço na função, muitos coordenadores que entraram há pouco tempo na
94
coordenação pedagógica e alguns até mesmo há pouco tempo no trabalho no
magistério municipal, o que pode gerar inovação no que diz respeito às funções que
se desempenham, como também certa insegurança em quesito de experiência.
Dessa forma, o que nos cabe analisar aqui é a identidade destes profissionais
considerando o compromisso que se estabelece ao assumir a função em uma área
da gestão escolar tão importante para o desenvolvimento dos processos educativos
e formativos. Por isso, a relevância de analisar os dados coletados nas entrevistas
para ponderar os argumentos e identificar a real identidade dos próprios
Coordenadores da rede municipal de ensino, assim como da formação que realizam.
“Então... na verdade a gente tenta fazer essa rotina semanal, nos propomos
realmente a fazer e inclusive isso foi um dos assuntos abordados na formação, a
gente tem essa necessidade de fazer essa rotina de planejamento da
coordenação, porém muitas vezes ela é interrompida, não conseguimos fazer
direito ainda, mas é um propósito nosso de fazer sim!” (COORDENADOR “F”,
2020).
A partir disso, vale ressaltar que toda instituição de ensino precisa de uma
organização e de pessoas qualificadas para o trabalho a fim de que o objetivo final
seja alcançado, neste caso, a aprendizagem dos alunos. Assim, a gestão escolar
tem um papel fundamental na construção significativa do processo de aquisição do
conhecimento. E não apenas isso. De acordo com Franco (2012, p. 120),
96
professores e seu contexto; entre teoria educacional e prática
educativa; entre o ser e o fazer educativo, num processo que seja ao
mesmo tempo formativo e emancipador, crítico e compromissado.
Por este viés, compreendemos que os espaços de disputa teórica que vêm
consolidando o atual campo da profissionalidade do Coordenador Pedagógico se
constituem a partir de disputas conflitantes também no âmbito social, que
configuram um modelo social a ser transmitido pela escola, pois, de acordo com
Charlot (2013, p. 58), “a transmissão de modelos e ideais pela educação não tem,
portanto, apenas um significado social. Ela tem igualmente um sentido político”. Por
outro lado, entendemos também que o coordenador pedagógico tem sua
profissionalidade docente colocada em xeque diante das políticas educacionais para
formação de professores. Segundo Contreras (2012, p. 82), entende-se por
profissionalidade
Além disso, vale ressaltar a forma como a legislação atual, através da Base
Comum Nacional, contempla a formação inicial necessária para atuar na docência
como supervisor escolar ou qualquer outro cargo na área da administração e gestão
da instituição de ensino, conforme o que apresenta no artigo 64° da LDBEN n.º
9394/1996, já citado na dissertação.
98
Ou seja, ainda que a lei garanta a necessidade de existir uma formação inicial
que contemple os aspectos para atuar na gestão, as DCNs se constituíram em polos
distintos do que propõe a LDBEN, constituindo a formação para a gestão escolar
num segundo plano, sendo a docência a base da formação.
Quando falamos no Coordenador Pedagógico, conforme os termos da lei n.º
9394/1996, voltamos a visão de fiscalização correspondente ao período de ditadura
militar, em que foram criados os cargos de inspeção, supervisão e orientação
educacional, para garantir que todos os agentes de ensino que atuassem na
docência ensinassem apenas aquilo que estava de acordo com os ideais da
ditadura. Assim, os cursos de formação para a docência, como o Curso de
Pedagogia, também tiveram de se adequar ao novo formato de gestão, modificando
seus componentes curriculares para contemplar as respectivas mudanças.
Numa perspectiva histórica, a formação nos cursos de pedagogia se torna
estritamente especialista pois contempla, com o parecer, a formação por
habilitações, entendendo que ao orientador lhe é oferecida disciplinas que
contemplem aspectos de orientação educacional, a inspeção é dirigida às disciplinas
que contemplem os aspectos estritamente direcionados à inspeção e fiscalização da
escola, e consequentemente, a supervisão escolar também se torna a envolver
disciplinas que correspondam aos aspectos da supervisão educacional pertinente ao
trabalho do supervisor.
Efeitos contraditórios demandaram deste modelo de formação profissional,
tendo em vista que promove a fragmentação do ensino, resultando em novas
reformulações para os cursos de pedagogia. Alçamos da ditadura militar, ao Estado
democrático de direito, ou seja, as reformulações nas leis que regulamentam a
educação já passam por renovações e aprovações e ainda se mantêm nas escolas,
os cargos de supervisores e orientadores educacionais, conforme a lei n.º
9394/1996.
Kuenzer (2006) pondera que mesmo havendo críticas a respeito da
fragmentação da formação dos profissionais para atuar na gestão escolar, existe
uma carência ao não existir, a ponto que, a partir da junção destes três tipos de
habilitações para um único profissional, surge a existência de um coordenador
polivalente, formado para atuar em vários campos da gestão da escola, com uma
99
formação multilateral, abrangendo vários aspectos e resultando também na falta de
identidade profissional de tais atuantes.
Em contrapartida a esta nova face de um profissional polivalente, Franco
(2008a) afirma que é preciso que o pedagogo escolar, que neste caso chamamos de
Coordenador Pedagógico, realize seu trabalho com o intuito de coordenar o
pedagógico na escola, e coordenar o pedagógico, aqui, refere-se principalmente a
atuar em função do ensino e aprendizagem na instituição com o proposito de buscar
sempre maior qualidade possível na efetivação deste propósito comum.
Por este motivo é que vale lembrar a importância de identificar os campos de
conhecimento específico do coordenador pedagógico, assim como a formação inicial
obtida para exercício da função, e a existência de formação continuada adequada
para que a realização do trabalho ocorra com todas as suas ambivalências, podendo
realmente consolidar a melhoria na aprendizagem escolar. Como afirma Libâneo
(2008), é preciso que o pedagogo tenha identidade própria, que ele tenha
valorização profissional, condições adequadas de trabalho para daí conseguir
realizar sua função na escola quanto à profissionalidade do Coordenador
Pedagógico enquanto profissional, cabe ir muito além dos limites dos traços de uma
profissão. De acordo com o autor,
Isso vem ao encontro do que aponta Ferreira (2006) quando expõe, em seu
texto sobre a supervisão educacional (uma das habilitações prevista no artigo 64 da
LDBEN n.º 9394/1996), em ter na função da supervisão educacional o compromisso
com a garantia de qualidade e com a formação humana, que muito se aproxima do
que trata Contreras (2012) acerca da obrigação moral, competência profissional e
compromisso com a comunidade. Segundo a autora,
100
instituições escolares, no sistema educacional brasileiro. Não se
esgota, portanto, no saber fazer bem e no saber o que ensinar, mas
no trabalho articulador e orgânico entre a verdadeira qualidade do
trabalho pedagógico que se tornará mais verdadeira em seus
compromissos humanizadores, quando expressar e servir de polo –
fonte de subsídios para novas políticas e novas formas de gestão na
intensidade espaço-temporal de transformações que a “era da
globalização” ocasionou. (FERREIRA, 2006, p. 237-238).
101
[...] outro dos temas controversos é o da paulatina perda por parte
dos professores daquelas qualidades que faziam eles profissionais,
ou ainda, a deterioração daquelas condições de trabalho nas quais
depositavam suas esperanças de alcançar tal status. É esse o
fenômeno que passou a ser chamado de processo de proletarização.
(CONTRERAS, 2012, p. 38).
103
trabalhador com mão de obra especializada que, por sua vez, podem ser vistas no
campo da formação como um novo modo de pensar e formar o perfil do trabalhador
flexível. De acordo com Vieira (2009), destacam-se sete pontos que se consideram
relevantes no processo de intensificação do trabalho. São eles:
104
Figura 2 – Implicações do processo formativo fragmentado e polivalente
Qualificação
Desqualificação
Requalificação
Essas questões que foram muito debatidas na década de 1990 hoje voltam a
ganhar espaço com as novas discussões sobre a implementação da Base Nacional
Comum Curricular (BNCC), em que se exige novamente a adequação dos cursos de
nível superior de formação dos professores para/com os princípios da Base Nacional
Comum Curricular, como propõe o documento:
108
perfil, e como eles se caracterizam a partir dos apontamentos teóricos e das práticas
expressas por eles durante as entrevistas.
109
3 DO SABER AO CONHECIMENTO PEDAGÓGICO: O PERFIL PROFISSIONAL
DOS COORDENADORES DAS ESCOLAS MUNICIPAIS DE FRANCISCO
BELTRÃO-PR
110
A mobilização dos educadores foi importante para manter vivo o
debate; para articular e socializar as exigências que se realizam em
diferentes instituições; manter a vigilância sobre as medidas de
política educacional; explicitar as aspirações, reinvindicações e
perplexidades que os assaltavam; e para buscar algum grau de
consenso sobre certos pontos que pudessem sinalizar na direção da
solução do problema. Em termos concretos emergiram do movimento
duas ideias-força. A primeira foi a de que a docência é o eixo sobre o
qual se apoia a formação do educador [...]. A segunda ideia se
expressou na “base comum nacional”. [...] Com efeito, foi se fixando
o entendimento que “base comum nacional” não coincide com a
parte comum do currículo nem com a ideia de currículo mínimo.
Seria, antes, um princípio a inspirar e orientar a organização dos
cursos de formação de educadores em todo o país.
É claro que outros modelos foram evidenciados ao longo dos anos e pelos
mais diversos cursos de formação de professores, cada qual com suas
particularidades. No entanto, as que ganharam destaque no campo institucional e de
discussões foram as apresentadas aqui.
Compreender o perfil profissional do Coordenador Pedagógico, assim como a
especificidade da formação, requer a compreensão do conceito de docência, para
chegarmos à especificidade dela desde o antigo especialista em educação, e hoje
voltada para o Coordenador Unitário e docente, pois
[...] A tese de que a formação de todo educador deve ter por base a
docência precisa ser entendida dentro de posicionamentos
localizados de intelectuais, em momentos históricos específicos da
educação brasileira. Tudo o que é histórico é mutável. Conquistas
históricas, por mais aguerridas que tenham sido, não podem ser
cristalizadas. A redução do trabalho pedagógico à docência não
pode, portanto, constituir-se em algo imutável. Nem mesmo chega a
ser uma questão de cunho epistemológico e conceitual. As novas
realidades estão exigindo um entendimento ampliado das práticas
educativas e, por consequência, da pedagogia. (LIBÂNEO, 2010, p.
12).
111
Muitos elementos serão analisados a partir das respostas dos coordenadores
entrevistados nesta pesquisa, mas grande parte deles também advém do estudo
realizado buscando a contribuição de pesquisas que tratam do tema para dialogar
com a realidade.
“[...] eu procuro ir nas salas e verificar como estão os alunos, geralmente eu olho
o caderno, peço as tabuadas, essas coisas assim... mais a leitura, escrita e
contagem que a gente prioriza na escola [...] e ver se o professor está aplicando
114
na sala o planejamento que a gente fez durante o planejamento, se ele tá
executando certinho lá na sala [...]” (COORDENADOR “G”, 2020).
“Tu vai verificando se o professor está planejando, no caderno dos alunos [...]
pra você olhar, entrar na sala [...] mas eu acho que é bom olhar o caderno, até
porque pra ver o que o aluno está registrando daquilo” (COORDENADOR “P”,
2020).
Este modelo condiz muito com a que predomina na formação de grande parte
dos coordenadores pedagógicos das escolas da rede municipal de Francisco Beltrão
que participaram dos questionários desta pesquisa. E o que nos faz pensar a esta
como um modelo de polivalência é o caráter de um único curso formar, em
concomitância, para várias áreas do trabalho educativo com um princípio formativo
voltado para a docência, conforme explicita o artigo 2º das DCNFP de 2015.
Basicamente a formação concomitante acaba por formar profissionais
polivalentes não pensando apenas nas diversas áreas do campo educativo, mas
direcionando apenas para o trabalho do próprio Coordenador Pedagógico que
anteriormente fazia-se por meio de três ou quatro funções, dependendo da
organização dos sistemas de ensino. Estas agora, com a nova reorganização das
116
diretrizes, findam por se reduzir a um único papel, em uma única função exercida
por um único profissional – o coordenador pedagógico.
Este, por sua vez, não obteve (como é o caso da maioria dos coordenadores
do município) uma formação de bacharelado em pedagogia e, sim, uma única
formação inicial que contemplasse um pouco de cada campo educativo (que
corresponde à quantidade de horas estabelecida pela matriz curricular de cada
instituição de ensino), mas que ao final faz com que permita que os pedagogos por
titulação atuem e desenvolvam um trabalho na coordenação pedagógica, muitas
vezes sem nem mesmo dominar os estudos desta área de atuação devido a
formação ser tão ampla e plurifacetada que contribui para o esvaziamento teórico-
metodológico das especificidades do campo da formação. Sobre isso, Libâneo
(2010, p. 50) aponta que
117
Figura 3 – conhecimentos obtidos na graduação ou pós-graduação dos
Coordenadores Pedagógicos entrevistados que auxiliam na função de coordenação
Feita essa constatação, não nos resta outro caminho senão, diante
do fato consumado, procurar tirar proveito da fluidez, exercitando a
flexibilidade e criatividade apregoadas. Assim procedendo,
118
poderemos, para além das diretrizes aprovadas, concentrar as
atividades do Curso de Pedagogia nos aspectos essenciais,
acolhendo os alunos e os colocando num ambiente de intenso e
exigente estímulo intelectual que os incite ao estudo aprofundado
dos clássicos da pedagogia como referência para compreender o
funcionamento da escola e intervir deliberadamente na prática
educativa desenvolvida em seu interior).
Inúmeros podem ser os motivos que derivam desta falta, mas o que nos cabe
enquanto pesquisador é discutir o conceito de docência que considera a base de
todo educador e sua dimensão, para então entender o perfil profissional dos
coordenadores pesquisados. Nesse sentido é que escrevemos a seção seguinte
para que as discussões acerca do que compreende a docência se ampliem no
universo educativo.
119
A docência constitui a base da identidade profissional de todo educador”. (ANFOPE,
1983, p. 4).
Essa posição sempre defendida pelo movimento volta a ser reafirmada no
documento final de 2018, quando debatem sobre a importância histórica da luta pela
defesa de uma Base Comum Nacional, ao qual a entidade se propõe:
“A parte das fases do desenvolvimento das crianças, porque você tem que
primeiro de tudo entender a criança, em que fase que ela está, pra você
conseguir planejar pra ela, entende? Então essa é a parte fundamental”
(COORDENADOR “G”, 2020).
19
A Diretriz Nacional de Formação de Professores que rege a formação de professores no Brasil em
vigência no momento da pesquisa é a Diretriz de 2015, mas reconhecemos a existência da
aprovação de nova Diretriz de Formação de Professores via Resolução n.º 02/2019, que culmina
em algumas consequências para a formação de professores e, principalmente, para o Curso de
Pedagogia. Esta questão não é discutida aqui, pois, até o momento da finalização desta pesquisa,
a presente diretriz ainda não foi implementada na realidade dos cursos de formação de
professores no Brasil.
124
O trabalho docente é uma práxis em que a unidade teoria e prática
se caracteriza pela ação-reflexão-ação;
O trabalho docente só pode ser compreendido se considerado no
contexto da organização escolar e da organização do trabalho no
modo de produção, no caso, o capitalista;
A compreensão do trabalho docente só pode ocorrer no processo de
elaboração de seu conceito, que emerge após o estudo de sua
gênese, de suas condições históricas gerais (o trabalho como forma
histórica) e particulares (o cotidiano da ação docente). (AZZI, 2012,
p. 43).
125
O trabalho docente constrói-se e transforma-se no cotidiano da vida
social; como prática, visa à transformação de uma realidade, a partir
das necessidades práticas do homem social. Nesse sentido, a
compreensão do trabalho docente demanda que esteja analisado
enquanto categoria geral – o trabalho – e em sua especificidade – a
docência.
126
Isso nos possibilita dizer que existe uma especificidade que é do trabalho na
coordenação pedagógica e que há saberes e conhecimentos que são necessários à
docência, mesmo em sua complexidade, conhecimentos e saberes especificamente
relacionados ao trabalho na coordenação pedagógica, a ação de coordenar o
pedagógico da escola.
E se há uma especificidade no trabalho desenvolvido pela coordenação
pedagógica ao coordenar o que chamamos de pedagógico, então há uma
especificidade de saberes e de conhecimentos que devem estar relacionados ao
desempenho desta função.
Assim, procuramos entender na seção seguinte quais os conhecimentos e
saberes são necessários para o desempenho da função do Coordenador
Pedagógico a partir do que dizem os próprios coordenadores entrevistados e do que
podemos relacionar aos estudos já existentes sobre isso. Discutimos, assim, a
definição de saber pedagógico e de conhecimento pedagógico, relacionados com a
o perfil profissional do Coordenador Pedagógico.
127
3.3 Saberes pedagógicos e conhecimentos pedagógicos: o fundamento da
formação para a Coordenação Pedagógica
Para ele, esse saber prático do pedagogo é como uma faca de dois gumes.
Ao mesmo tempo que permite considerar as relações da ação pautada na
experiência, pode reduzir o ato pedagógico a um mero saber experiencial.
Muito nos deparamos durante a análise das entrevistas em questões
pertinentes ao trabalho pedagógico voltado também aos saberes práticos
operacionais que dominam o campo pedagógico e assolam com a intensificação do
trabalho do coordenador unitário20 e polivalente.21 Podemos destacar duas falas
relevantes que nos remetem ao saber prático quando perguntamos aos
coordenadores quais conhecimentos eles julgavam necessário para atuar na
Coordenação Pedagógica. O Coordenador “E” respondeu:
20
Por coordenador unitário, entendemos conforme Kuenzer (2002, p. 69): “[...] a necessidade de
uma formação ampliada do pedagogo, como demanda do capitalismo e de sua superação, com
base nos eixos já amplamente discutidos – contextual, de fundamentação e didático/metodológico,
contemplando sempre a relação entre formação e trabalho escolar –, tomando como eixo o
trabalho pedagógico escolar e não-escolar, tal como ele se realiza na práxis pedagógica. Ou seja,
conferir caráter de unitariedade à formação como espaço separado da prática. É preciso lembrar
que a práxis pedagógica, em seu movimento, totalidade concreta, onde partes e todo se
relacionam diretamente”. Assim, compreendemos unitário no sentido indissociável do fenômeno
educativo ou do processo pedagógico.
21
Coordenador polivalente é entendido no sentido multifuncional, que exerce diversas funções ao
mesmo tempo. Multitarefas.
129
“Olha, na verdade você tem que ter a prática [...] não é bem a prática, mas é o
conhecimento amplo de tudo e, assim, da experiência [...] é a experiência e a
prática que eu tive. O conhecimento que eu adquiri em sala de aula, no tempo
que eu fiquei em sala de aula, é a experiência do todo. [...] e esses [...] anos
estão resumidos agora no trabalho que eu estou desenvolvendo. Porque não é
um conhecimento específico [...] de conteúdo [...] pra esse trabalho aqui também
é importante, mas o que é mais importante mesmo é a experiência que a gente
tem no decorrer do tempo que a gente está trabalhando” (COORDENADOR “E”,
2020).
“Eu acho que tem que primeiro ter passado por várias séries [...] porque se não é
muito fácil não ter experiência e atender atrás de uma mesa. Então, assim, que
ele tenha experiência em alfabetização, em outras séries também, mas que
tenha um conhecimento prévio e uma maturidade de não levar muito a ferro e
fogo as coisas, porque não funciona!” (COORDENADOR “A”, 2020).
130
Estes relatos são importantes para que possamos compreender que o saber
experiencial ou saber prático também está muito vinculado à realidade do trabalho
na coordenação pedagógica. A experiência do docente que o assume a função de
coordenação é considerada de extrema relevância por estes, conforme nos foi
relatado. Para eles isso faz-se necessário para que possam desenvolver um bom
trabalho em sua função. Além do saber experiencial, o segundo ponto considerado
por Houssaye (2004, p. 26) são os saberes da ação:
Nesse sentido, ele faz uma crítica à pedagogia do discurso, pois de nada vale
se não houver uma intencionalidade nele instituído, e que fortalecida pelos discursos
de grandes pedagogos pensadores é que a pedagogia fez história e se constituiu
como uma ciência.
Por fim, o autor sinaliza para a especificidade das ciências da educação
fazendo uma crítica à negação da pedagogia enquanto ciência educativa, uma vez
que a trata considerando as finalidades e os saberes para, daí, consolidar-se
enquanto ciência educativa. Isso porque é na singularidade da construção a partir
dos saberes e das verdades das ciências que a compõe:
131
Ora, não podemos limitar-nos a dizer que as ciências da educação
só existem para produzir saberes rigorosos sobre a educação, pois
esses mesmos saberes não podem ser abstratamente dissociados
das finalidades, das práticas e das técnicas. Finalidades, práticas e
saberes participam de um jogo constante, e é exatamente isso que
as ciências da educação devem pensar e produzir. Eis a
especificidade das ciências da educação: ser o espaço rigoroso em
que se organiza a confrontação dos saberes, das práticas e das
finalidades. (HOUSSAYE, 2004, p. 27-28).
“[...] Eu acredito que seja muito importante uma formação específica para
exercer essa função. Também acredito que para exercer essa função, o
professor precisa ter experiência em sala de aula, então a pessoa que exerce
essa função, além de ter esses conhecimentos específicos para a função,
também seria muito importante e necessário ter uma experiência de sala de
aula, desde pré escola, alfabetização e séries iniciais, porque essa experiência
de sala de aula que vai ajudar na hora do planejamento” (COORDENADOR “O”,
2020).
132
experiencial, ou do saber-fazer a que Houssaye (2004) refere-se. Já o conhecimento
ou a construção do conhecimento, de acordo com Azzi (2012, p. 51), “[...] requer
investigação e sistematização, desenvolvidas com base metódica”. Assim, ocorre
com o conhecimento pedagógico. Segundo a autora,
134
Categoria 3: Gestão da escola
Saber de gestão de pessoas
Ter ideias das metas que a escola ou a rede tem
Saber um pouquinho sobre a gestão escolar
Saber envolver os professores e as pessoas dentro da escola
Ter uma boa gestão de recursos humanos
A questão de gerenciar pessoas
Fonte: Elaborado pela autora.
135
Percebemos, portanto, que, de forma geral, os coordenadores pedagógicos
das escolas municipais de Francisco Beltrão compreendem a necessidade de unir a
experiência relacionada ao saber pedagógico com a demanda de obter também o
domínio da especificidade do conhecimento pedagógico, para que a práxis ocorra na
atividade pedagógica por eles desenvolvida, mesmo que o domínio da experiência
predomine. A necessidade de uma formação contínua para o aperfeiçoamento
profissional também é bem vista aos olhos dos coordenadores entrevistados,
formações que tratem de conhecimentos específicos da gestão escolar e da
coordenação pedagógica.
Quando comparamos os dois quadros, percebemos que o saber experiencial
é mais evidente nas falas dos coordenadores que são formados em outras áreas,
enquanto que é bem visto pelos coordenadores formados pelo Curso de Pedagogia.
Porém, suas respostas apresentam maior especificidade com relação aos
conhecimentos necessários elencando a experiência, mas também atrelada aos
conhecimentos que envolvem a singularidade do trabalho na coordenação
pedagógica.
De acordo com Libâneo (2010, p. 57), “em síntese, o campo do conhecimento
pedagógico corresponde ao estudo científico e filosófico da educação e aos
conhecimentos teóricos e práticos de sua aplicação”. Logo, ao avaliar as respostas
dos coordenadores, percebemos que estes julgam necessário enquanto
conhecimento muito mais aqueles que se relacionam com os conhecimentos
técnicos e práticos de sua aplicação e, principalmente, com os saberes da
experiência, do que os conhecimentos científicos e filosóficos da educação que
Libâneo (2010) aborda. Suas bases filosóficas e históricas são esquecidas ou
suprimidas para dar lugar a competências e habilidades emocionais e sociais que
ficam mais evidentes no campo de atuação.
Ainda de acordo com Libâneo (2010, p. 57-58), os conhecimentos
pedagógicos podem ser agrupados em três áreas:
136
Conhecimentos específicos da atividade propriamente pedagógica e
que constituem a referência básica do tratamento do fenômeno
educativo. Formam a outra parte do núcleo básico de formação do
pedagogo. No caso particular da pedagogia escolar refere-se a
conhecimentos teóricos e práticos que proporcionam compreensão
de conjunto da escola e do ensino e as bases teórico-práticas de
atuação profissional. Por exemplo: teoria da educação, didática,
organização escolar, política educacional, estrutura e funcionamento
do ensino etc.
Conhecimentos técnico-profissionais específicos conforme o âmbito
da atuação profissional. Por exemplo: princípios e práticas de
administração escolar, supervisão escolar, orientação educacional,
avaliação, currículo etc.
137
discussões dos coordenadores entrevistados acerca do que eles entendem, a partir
da realização da função e dos estudos que obtiveram até então, por coordenar o
pedagógico na escola em que trabalham.
De acordo com Libâneo (2017), o Coordenador Pedagógico tem sua função
determinada e especificada, assim como o professor tem a sua em sala de aula e o
diretor também tem a sua na administração da escola. De acordo com o autor,
138
Primeira dimensão:
Atividades que envolvem orientação e planejamento direto com o professor
Terceira dimensão:
Administrativa
Quarta dimensão:
Competências e habilidades emocionais e sociais
139
Quinta dimensão:
Pesquisa e produção de conhecimento
Estar sempre lendo e fazendo pesquisas; Tem que ser um conhecedor e não apenas
um figurante que só imprime atividades; Fazer leitura de vários temas; Ser
responsável pela formação de professores na escola.
Fonte: Elaborado pela autora.
Sexta dimensão:
Contexto geral da escola
140
Etimologicamente, supervisão significa “visão sobre”, e da sua
origem traz o viés da administração, que a faz ser entendida como
gerência para controlar o executado. Desta forma, quando transposta
para a educação, passou a ser exercida como função de controle no
processo educacional. Efetivamente, esta função era de controle de
uma determinada qualidade que uma determinada concepção de
ciência que orientava o projeto educativo do Estado se traduzia nas
formas e meios de fazer a educação. A partir daí que se pode aferir
seus compromissos, seus vínculos com a administração e com as
políticas públicas – o cumprimento de funções implícitas, decorrentes
da política da época, racional, funcionalista, tecnicista.
“Eu vejo assim que é um trabalho [...] não é um trabalho fácil, porque além de
trabalhar a questão pedagógica, toda escola, funcionamento de como a escola
funciona, também percebo que a gente tem que ter um conhecimento um pouco
melhor sobre a questão de gestão de pessoas, porque a gente está trabalhando
com a questão de gestão de pessoas e também a gente tem que ter [...] um foco
muito importante e até um conhecimento com relação à questão emocional!”
(COORDENADOR “P”, 2019).
141
atividades relacionadas aos alunos e pais; atividades relacionadas aos documentos;
atividades relacionadas à organização da escola; conforme visto a seguir:
Categoria 1:
Atividades relacionadas ao professor
Categoria 2:
Atividades relacionadas aos alunos e pais
142
Categoria 3:
Atividades relacionadas a questões administrativas
Categoria 4:
143
pensar sobre o esvaziamento teórico que a própria estrutura da formação de
professores no Brasil revela, assim como também a necessidade de se adequar a
um sistema que cada vez mais intensifica o trabalho em todas as vertentes
possíveis.
Desse modo, muitas atividades foram descritas pelos coordenadores com
bastante especificidade e procuramos demonstrar, o máximo possível, a realidade
do trabalhador flexível vivenciada por estes profissionais. Nesse sentido, elencamos
todos os destaques por eles realizados nos quadros anteriores acerca da função que
desempenham, o que caracteriza uma gama de atividades das mais diversas e
contundentes. Isso nos remete aos escritos de Antunes (2020, p. 145), que aponta
características desta flexibilização:
A partir disso, para que pudéssemos ter uma maior clareza da especificidade
de seu trabalho no dia a dia na função da Coordenação Pedagógica, perguntamos
aos coordenadores o que ocorria com mais frequência durante o desenvolvimento
do trabalho na coordenação pedagógica e então três respostas apareceram para
esta pergunta.
Dos 16 coordenadores entrevistados, apenas um não respondeu a este
questionamento. Um deles afirma que o que mais ocorria era o trabalho com os
144
alunos avaliados desempenhados por eles. Cinco responderam que o que mais
realizam é o auxílio pedagógico durante o planejamento dos professores, e 9
responderam que é a questão de ter de lidar com a indisciplina dos alunos. Dessa
maneira, organizamos um gráfico com estas respostas:
146
CONSIDERAÇÕES
147
Para que os resultados e as análise tivessem sentido, foi preciso discutir
alguns pontos relevantes que culminaram nestas considerações e desdobraram-se
nas discussões dos capítulos. Os mais relevantes destacaremos aqui.
Primeiramente ressaltamos a importância de compreender a trajetória do
Curso de Pedagogia desde a sua criação para que pudéssemos entender de onde
surgiu essa dicotomia entre formar o docente ou formar o bacharel. A partir das
considerações foi possível entender que essa discordância entre os pesquisadores
da área, sobre a formação de professores, deriva da origem do curso e suas
reformulações e duplas compreensões das legislações relativas à profissão docente.
Desta forma, retomando o que se estabelece nas DCNCP de 2006
compreendemos que o curso forma o profissional para atuar na Educação Infantil,
anos iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino Médio, na modalidade
Normal, e em cursos de Educação Profissional na área de serviços e apoio escolar,
bem como em outras áreas que sejam previstos conhecimentos pedagógicos. A
abrangência das áreas de formação, indicadas no perfil profissional da DCNCP,
gerou muitos questionamentos tanto dos professores formadores como dos
estudantes e egressos desse curso.
No entanto, além de compreender a pedagogia como submersa em áreas de
formação, ainda precisamos entender a sua especificidade em relação ao seu
fundamento ético científico que de acordo com Libâneo (2010, p. 33) tem sua
contribuição no desenvolvimento do ser humano como parte integrante da sociedade
e entende que a pedagogia contribui na instituição dos processos que decorrem
desta formação na organização destes processos e na proposição de significados da
ação educativa. A isso nós entendemos como fundamento da Pedagogia.
Portanto, o nosso problema de pesquisa vinculou-se às inquietações relativas
à prática profissional enquanto docente nas escolas da Rede Municipal de Ensino.
Reafirmamos a importância de discutirmos o itinerário do Curso de Pedagogia diante
das condições sociais instauradas no Brasil e consolidadas com o avanço da
tecnologia e os meios de produção. Tudo isso impulsionou novos rumos para todos
os tipos de trabalhos que se configuravam, inclusive o trabalho do professor e do
Coordenador Pedagógico. Este foi o segundo ponto importante a se destacar na
interpretação dos nossos resultados.
148
As demandas de mercado refletiram completamente na formação do
trabalhador e principalmente do profissional que frequentou ou frequenta os cursos
de formação de professores. A intensificação do trabalho propositou em formações
mais aligeiradas, menos comprometidas com o princípio da formação humana e
mais voltadas para a polivalência, para a concorrência desequilibrada em todos os
setores profissionais, e isso não foi diferente com o setor do ensino pois, conforme
afirma Laval (2004) existe um mercado que é o mercado da escola, que não passa
de um produto de uma onipresença ou, como ele afirma “efeito indireto dessa onda
neoliberal que, em toda parte, deslegitimou o voluntarismo do Estado”. (LAVAL,
2004, p. 90).
Consequentemente essa onda neoliberal modificou também a formação do
próprio Coordenador Pedagógico, que se torna mais produtivo em face de sua
intensificação no trabalho, menos reflexivo e mais determinado a agir conforme as
demandas da escola. Portanto este processo de modificações que decorrem dos
cursos de formação de professores contribuiu para que compreendêssemos como
se constituiu o profissional que atua na coordenação pedagógica.
Posteriormente, discutimos o papel do Coordenador Pedagógico diante das
legislações vigentes, a partir dos pressupostos históricos e conceituais e elencamos
as definições sobre o significado de coordenar o pedagógico na escola. De acordo
com os escritos de Franco (2008) apresentamos que o trabalho do Coordenador
pedagógico é compreendido por aquele profissional que faz a articulação entre
professores e o contexto em que estão imersos, “entre o ser e o fazer educativo,
num processo que seja ao mesmo tempo formativo e emancipador, crítico e
compromissado”. (FRANCO, 2008, p. 120). A estes profissionais designa-se a
competência de coordenar o pedagógico na escola.
Concordamos que este é um trabalho fundamental a ser desempenhado por
este profissional na coordenação pedagógica das escolas. Além disso, é importante
fortalecermos outro ponto de nossa análise nestas considerações, fazendo-se
necessário destacar conforme Franco (2008, p. 123), que os coordenadores
compreendem as atividades inerentes ao trabalho do Coordenador Pedagógico,
porém muitas vezes acabam por não conseguir efetivar suas ações intencionadas
na escola, no dia a dia de sua função. Isso ocorre na realidade pesquisada nas
escolas do município.
149
O Coordenador Pedagógico participante desta pesquisa compreende qual é
sua função, de modo geral, mas ao realizar sua rotina de trabalho, organizar suas
ações, muitas vezes não consegue desempenhar seu trabalho de acordo com aquilo
que é especifico de sua função. Isso se deve ao fato de que os coordenadores estão
enraizados ainda nas habilitações, e principalmente engessados pelo modo de
produção capitalista que sobrecarrega e assola o cenário de trabalho destes
profissionais. Percebemos isso tanto em suas falas, por meio das palavras utilizadas
em seus relatos nas entrevistas, como até mesmo nas queixas que eles
apresentavam ao nos falar sobre as atividades que desempenham na função e
sobre qual é o seu real papel.
Trazemos em nossa memória o relato do Coordenador “G” ao falar sobre a
dificuldade em organizar uma rotina e planejar as suas ações e nos diz: “_ Eu não
tenho horário para planejar o meu trabalho” (COORDENADOR “G”, 2020). Esta fala
reflete uma sobrecarga ao trabalho do Coordenador Pedagógico que se depara com
as dificuldades de suprir as demandas emergenciais do trabalho enquanto seu
propósito de desenvolver uma práxis pedagógica acaba ficando esquecido. Isso
também se deve ao fato de que, o profissional que atua na coordenação
pedagógica, não possui horas de trabalho destinadas ao planejamento de suas
ações, ou seja, não é contemplado pela hora atividade, como ocorre com os
docentes de turmas, apresenta uma sobrecarga de trabalho em função da demanda
escolar apresentando uma quantidade pequena de coordenadores para o porte de
escolas, assim como a falta de condições de trabalhos adequadas e humanizadas
para estes profissionais, dentre outras problemáticas que decorrem da
desvalorização profissional do Coordenador Pedagógico.
Ou seja, é o processo que ocorre num projeto liberal de educação, em que se
busca nos profissionais a intensificação, a requalificação, a polivalência, a
flexibilização e a proletarização para que, de acordo com as demandas do mercado,
a educação se adeque aos fatores econômicos de gerência, precarizando cada vez
mais o trabalho educativo.
Este cenário conflui com três perfis de Coordenador Pedagógico que são
abordados neste texto: o Coordenador Especialista; o Coordenador Polivalente; e o
Coordenador Unitário. Entendemos portanto, que o Coordenador Especialista é
aquele que trabalha dividindo as tarefas por áreas de habilitações, formado pelos
150
moldes dos cursos de pedagogia no esquema 3+1, ou ainda, a denominação
atribuída na própria Lei de Diretrizes e Base 9394 de 1996 em seu artigo 64 como
profissional que atua na inspeção, orientação, supervisão ou administração escolar.
Já o Coordenador Polivalente é compreendido como o profissional tarefeiro,
que “apaga incêndios na escola”, que está sobrecarregado com as demandas do
trabalho e as políticas reducionistas neoliberais. A este Coordenador atribuímos a
qualificação de polivalente, ou também como poderia ser chamado, de multitarefas.
E entendemos também que não depende apenas e unicamente deste profissional
ser ou não um tarefeiro, mas principalmente da formação que ele carrega consigo e
das condições sociais e profissionais que lhes são dadas. A esta última
consideramos o peso maior.
Ao coordenador polivalente podemos relembrar dos aspectos que interferem
na constituição de sua prática, que são os já apresentados conceitos (na imagem
dois), de flexibilização, proletarização, precarização e intensificação. Conceitos estes
correlatos as demandas capitalistas.
E, por fim, trazemos à luz o Coordenador Unitário, que é o ideário que ensejamos,
que pretendemos e lutamos para alcançar, tanto em condições de trabalho, quanto
em formação inicial e profissional. O Coordenador Unitário é aquele que possui
condições de trabalho adequadas e formação, para poder desempenhar o
“Coordenar o Pedagógico na Escola” ao que Franco (2008) atribui a propriedade de
ser o articulador no espaço educativo. E acrescentamos que além de ser o
articulador, ele precisa ter uma intencionalidade visando os fins educativos. De
acordo com Libâneo (2012, p. 420) é por meio da gestão escolar e da organização
da escola que se atinge a finalidade dos processos educativos e que delas decorrem
com a finalidade de obter cada vez mais uma qualidade no ensino e aprendizagem
dos alunos.
A esta finalidade explorada por Libâneo é que atribuímos o papel do
Coordenador Pedagógico, como o articulador do processo de ensino e
aprendizagem, entre escola e sociedade, entre emancipação dos sujeitos e projeto
político. Esta, é considerada por nós uma tarefa complexa, que exige planejamento,
intencionalidade, reflexão, e retomada de ações. Uma práxis pedagógica na
dinâmica do processo educativo.
151
Outra exposição de Franco que corrobora com a intencionalidade mencionada
acima é o que ela expressa sobre o papel do Coordenador Pedagógico -
educacional enquanto formador de professores.
E depois Franco (2002, p.99) expressa que é preciso que o coordenador
estabeleça um trabalho em síncrona com os demais pares da equipe da escola, isso
porque a partir desta sincronização apontada pela autora, permite-se que os
próprios professores avaliem as tomadas de decisões e de escolhas, não
acarretando no privilégio de uma escolha em detrimento de outra, em que o
professor e a equipe pedagógica estejam articulado no processo de ação- reflexão-
ação, que chamamos de práxis pedagógica.
E partindo destas reflexões sobre a ação de coordenar o pedagógico na
escola pautadas nas discussões que trouxemos de Franco (2002) e Libâneo (2012)
é que chegamos a compreensão de como os coordenadores avaliam a necessidade
de um conhecimento específico para atuar nesta função de coordenar o que
realmente entendem por pedagógico.
Trouxemos nesta pesquisa relatos e informações que levantamos, a partir dos
resultados dos questionários e das entrevistas que realizamos com os
coordenadores, e, muitas questões nos foram reveladas. Uma delas diz respeito ao
que ponderamos inicialmente quando falamos em que os entrevistados têm
consciência de qual seja o seu papel na escola, porém sentem-se reduzidos a não
fazê-los por motivos de demandas de tarefas que o trabalho exige. Tarefas estas
que, segundo eles são tarefas de urgência, que aparecem na rotina profissional e
que precisam ser supridas por eles.
Um segundo ponto a ser levantado é que não há na escola um profissional
que atenda as situações de indisciplina, urgência ou emergência que acontecem
com os alunos na escola, como por exemplo, em situações de acidentes ou brigas
de alunos. Este é um dos motivos que resulta na sobrecarga de trabalho do
coordenador. Trazemos o relato de um dos Coordenadores entrevistados para
corroborar com nossos argumentos:
152
pouco mais profunda que vai se tornando um pouco mais grave, [...] o que mais
toma o nosso tempo é o problema com indisciplina” (COORDENADOR I).
153
De acordo com Houssaye (2004) esse modo de compreender o saber é
conceituado por ele como um saber experiencial, em que a prática docente e a
atividade desempenhada está muito relacionada com as experiências de vida e de
trabalho, neste caso, do trabalho do professor. Outra forma de fortalecermos este
discurso é por meio do relato que trazemos do Coordenador “A”, quando
questionado sobre quais conhecimentos necessários para o desempenho da função:
“Olha, eu acho que tem que primeiro ter passado assim por várias séries. [...]
porque se não é muito fácil não ter experiência e atender atrás de uma mesa [...]
então assim, que ele tenha experiência em alfabetização, em outras séries
também mas que tenha um conhecimento prévio e uma maturidade assim de
não levar muito a ferro e fogo as coisas, porque não funciona [...]”
(COORDENADOR “A”, 2020).
154
Podemos desta forma consolidar os aspectos apontados por Houssaye (2004)
como fundamentais na construção de um saber pedagógico. Segundo o autor, o
saber pedagógico passa por cinco saberes que são ilusórios e nos fazem
questionar: será que somos realmente conhecedores de tais saberes? São eles
saber disciplinar, o saber didático, o saber das ciências da educação, o saber da
pesquisa e o saber-fazer.
Já de acordo com Azzi (2012) o saber pedagógico parte da dimensão da
experiência. Para ela “[...] o saber pedagógico é o saber que o professor constrói no
cotidiano de seu trabalho e que fundamenta sua ação docente (p. 49)”, que ao nosso
entender, muito se aproxima do saber experiencial ao qual Houssaye (2004)
apontava. Diferentemente de conhecimento pedagógico que de acordo com Azzi
(2012, p. 51) “[...] requer investigação e sistematização, desenvolvidas com base
metódica”. Portanto, para o coordenar o pedagógico na escola, apenas o saber
experiencial não é suficiente para desempenhar a práxis pedagógica.
Ou seja, por via de mão dupla, compreendemos que os coordenadores
consideram o saber experiencial como parte integrante do processo de trabalho na
coordenação pedagógica, no entanto, ressaltamos que além deste, o conhecimento
pedagógico pautado no fundamento e nos conhecimentos específicos para o
desempenho da função (tais como a construção do PPP, formas de avaliação, ter
ciência dos documentos escolares, entre outros) são de extrema importância para
que a atividade pedagógica em sua práxis desempenhada na função de
coordenação pedagógica ocorra com domínio dos conhecimentos fundamentais ao
desempenho de suas ações.
E por fim ressaltamos que além de todos elementos reveladores da pesquisa,
percebemos por meio das entrevistas, que os Coordenadores Pedagógicos não
possuem uma formação continuada específica direcionada à coordenação
pedagógica. A partir do relato de alguns coordenadores, percebemos que as
reuniões sempre foram a fim de dar recados ou orientações para as futuras ações
na escola, e, no último ano, a mantenedora ofertou uma formação não obrigatória,
para os coordenadores e diretores das instituições, a fim de discutir a formação dos
coordenadores com base nos planos de ações e relações interpessoais na escola
A falta de formação continuada de qualidade também é consequência do
desempenho profissional pautado na efetivação de tarefas. O Coordenador
155
Pedagógico precisa de formações continuadas que se discutam fundamentos e
projetos políticos para a coordenação pedagógica, para que assim entendam seu
papel e possam constituir além de uma identidade, uma profissionalidade
pedagógica.
E sobre esta busca por uma profissionalidade pedagógica Franco (2011, p.
107) assinala:
156
formação dos profissionais, não apenas do campo educativo, mas de todas as
profissões futuras.
E neste mesmo caminho compreendemos a necessidade de lutarmos contra
as demandas do capitalismo “selvagem” que nos enfraquece diariamente em termos
de esgotamento profissional, a partir desta sobrecarga de trabalho quando tenta a
todo instante extrair o máximo que pode da capacidade, intelectual, física e moral
dos seus trabalhadores. É paa isso que pesquisamos, é para isso que lutamos, para
que não sejamos escravos de nossa própria labuta, mas sejamos sim profissionais
comprometidos com uma obrigação moral, com um compromisso com a comunidade
e com extrema competência profissional, como anunciava Contreras (2012).
A qualidade do ensino por si só não se efetiva. É preciso investir em formação
humana, em formação docente, em políticas públicas e valorização profissional para
que ela de fato aconteça e que as resistências na escola, nos grupos de estudos,
pelos estudantes e demais categorias permaneçam na luta para que o
reconhecimento deste trabalhador seja fortalecido cada vez mais.
157
REFEÊNCIAS
159
FERREIRA, Naura. S.C. Gestão democrática da educação para uma formação
humana: conceitos e possibilidades. Em Aberto, Brasília, v. 17, p. 167-177, fev/jun.
2000.
FRANCO, Maria. A.R.S. Pedagogia como ciência da educação. 2 ed. São Paulo:
Cortez, 2008b.
160
FRANCO, Maria. A.R.S. Para um currículo de formação dos pedagogos: indicativos.
In: PIMENTA, Selma. G. (org.). Pedagogia e Pedagogos: Caminhos e perspectivas.
São Paulo: Cortez, 2011.
FRANCO, Maria. A.R.S. Pedagogia e prática docente. São Paulo: Cortez, 2012.
(Coleção Docência em Formação: Saberes Pedagógicos / Coordenação Selma
Garrido Pimenta).
HOUSSAYE, Jean. Manifesto a favor dos pedagogos. Porto Alegre: Artmed, 2004.
LIBÂNEO, José. C. Pedagogia e pedagogos, para quê? 12. ed. São Paulo, Cortez,
2010.
161
LIBÂNEO, José Carlos; OLIVEIRA, João Ferreira de; TOSCHI, Mirza Seabra
Educação escolar: Política, Estrutura e organização. São Paulo: Cortez, 2012.
LIBÂNEO. J.C.; PIMENTA. S.G. José Carlos Libâneo; Selma Garrido Pimenta.
Formação dos profissionais da educação: Visão crítica e perspectiva de mudança.
Educação & Sociedade, ano XX, n. 68, dezembro/1999.
NETTO, José. P. Economia política: uma introdução crítica. 8. ed. São Paulo:
Cortez, 2012. (Biblioteca Básica de Serviço Social; v. 1)
PEREIRA, L.C. Bresser. A reforma do estado dos anos 90: lógica e mecanismos de
controle. Lua Nova, São Paulo, n.º 45., 1998.
162
PINTO, Umberto. A. Graduação em Pedagogia: apontamentos para um curso de
bacharelado. In: SILVESTRE, Magali Aparecida Silvestre; PINTO, Umberto de
Andrade. Curso de Pedagogia: Avanços e limites após as Diretrizes Curriculares
Nacionais (org.). São Paulo: Cortez, 2017.
163
APÊNDICES
164
APÊNDICE 1 – Delineamento do quadro de coordenadores de acordo com os
critérios para entrevistas
COORDENADORES APTOS A PARTICIPAR DA TOTAL
ENTREVISTA
Total de coordenadores que responderam o 39
questionário
Total de Coordenadores que responderam o 18
questionário mas não correspondem aos critérios
para a entrevista
Total de Coordenadores aptos a participar da 21
entrevista de acordo com os critérios
Total de Coordenadores que participaram das 16
entrevistas
Coordenadores que não aceitaram participar da 2
entrevista
Coordenadores que não conseguimos contato 3
para entrevista
Fonte: Elaborado pela autora.
165
APÊNDICE 2 – Roteiro de perguntas realizadas nas entrevistas
166
APÊNDICE 3 – Critérios para seleção dos entrevistados na pesquisa
CRITÉRIOS
1. Tenham participado e respondido o questionário sobre a Coordenação
pedagógica.
2. Aceitarem participar da realização de entrevistas com assinatura por escrito
do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), concordando com
todos os critérios estabelecidos neste termo.
3. Que estiverem no exercício da função de Coordenador Pedagógico durante
o período de realização e entrevista.
4. Concluíram a formação inicial (graduação) em Pedagogia após o ano de
2006 (ano de implantação das Diretrizes Curriculares Nacionais para os
Cursos de Pedagogia) ou em outra área diferente da pedagogia em qualquer
ano de formação.
Fonte: Elaborado pela autora.
167
APÊNDICE 4 – Modelo de questionário respondido pelos Coordenadores
Pedagógicos da rede municipal de Francisco Beltrão-PR
168
169
APÊNDICE 5 – Roteiro inicial de entrevista semiestruturada realizadas com os
Coordenadores Pedagógicos da rede municipal de Francisco Beltrão-PR
170
ANEXOS
171
ANEXO 1 – Termo de autorização para realização da pesquisa
172
ANEXO 2 – Declaração de não ter iniciado a pesquisa antes da coleta de dados
173
ANEXO 3 – Termo de Consentimento Livre e esclarecido
174
175
ANEXO 4 – Termo de Ciência do responsável pelo campo de estudo
176
ANEXO 5 – Termo de compromisso para uso de dados em arquivos
177
ANEXO 6 – Folha de rosto para pesquisas envolvendo seres humanos
178
ANEXO 7 – Declaração de autorização de divulgação da entrevista na pesquisa
179
ANEXO 8 – Edital n.º 10/2007 – GS/SEED. Descrição das atividades do cargo de
pedagogo para concurso público do estado do Paraná
180
181