Teoria Geral Das Obrigações
Teoria Geral Das Obrigações
Teoria Geral Das Obrigações
Vínculo jurídico pelo qual uma pessoa fica adstrita a uma prestação relativamente a outra. Estabelece uma
relação de dever jurídico – direito jurídico, em que alguém (devedor) fica adstrito a outrem (credor).
Princípios
• Princípio da liberdade contratual – artigo 405 CC
Encontrámos uma restrição à regra da liberdade de celebração que advém do regime do contrato promessa:
se A e B celebram um regime de contrato promessa as partes têm em vista a celebração futura do contrato
definitivo de compra e venda; celebrado o contrato promessa de compra e venda de uma fração autónoma,
o promitente vendedor está obrigado a emitir mais tarde a declaração de venda, enquanto B, promitente
comprador está obrigado a emitir a declaração de compra. Sucede que o promitente vendedor, não emitindo
a declaração de venda está a recair num incumprimento, que pode ser temporário e ainda é possível de
realizar neste caso, ou definitivo. O incumprimento temporário dá-se por nome de mora, podendo o
promitente comprador instaurar uma ação de execução específica – artigo 830 nº1 CC – obtendo sentença
que produza a declaração negocial do faltoso.
Numa outra vertente temos a liberdade de escolher o tipo negocial – compra e venda, arrendamento,
empreitada, etc. Isto, partindo do pressuposto que estamos perante um contrato típico, ou seja, aqueles
que estão previstos na lei - podemos ter um arrendamento com opção de compra, algo que é atípico.
Por fim temos a liberdade de extinção dos contratos. Em princípio não pode ser feito unilateralmente, mas
sim por mútuo contrato, excetuando situações de incumprimento em que se pode chegar à resolução do
contrato, entre outras.
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• Princípio do ressarcimento dos danos – artigo 798º e seguintes
o Facto
o Ilícito
o Que haja culpa
o Tem que haver dano
o Nexo de causalidade entre o facto e o dano
• Princípio da restituição enriquecimento sem causa – artigo 473º CC
Só é aplicável quando faltar outro instituto que se aplique, é o instituto subsidiário. Imagine-se que
transferimos dinheiro para uma conta que não era a pretendida; este é o único instituto jurídico à disposição
para recuperar o valor.
Está na base formativa do contrato. O artigo 762º estabelece que a boa-fé ultrapassa o período formativo
do contrato e desdobra-se em diversas vertentes. Temos como exemplo também o artigo 334º CC.
O credor pode executar o património do devedor para satisfação do seu direito de crédito. Não sendo a
obrigação voluntariamente cumprida, o credor pode agir judicialmente e executar o património do devedor,
no limite, através de um título executivo.
O artigo 601º do CC estabelece que ao património corresponde todos os bens suscetíveis de penhora, sendo
o concurso detalhado no 604º CC.
O artigo 818º CC estabelece que o direito de execução pode incidir sobre bens de terceiro em certos casos:
imagine-se que A celebrou contrato de arrendamento com B e F é fiador (a fiança é uma garantia pessoal
das obrigações). O fiador responde com todo o seu património pelo cumprimento da obrigação de B – artigo
638º CC – tendo o fiador a segurança de apenas ver o seu património envolvido quando o de B não for
suficiente para o cumprimento das obrigações. Esta norma é, porém, supletiva e pode ser afastada pelas
partes.
Os contratos devem ser pontualmente cumpridos, não o sendo dá lugar a responsabilidade contratual.
O artigo 810º CC estabelece a figura da cláusula penal. Esta cláusula fixa o montante da indeminização no
caso de as partes acordarem que, consoante o tipo de incumprimento seja temporário ou definitivo, haverá
lugar ao pagamento de um montante da indeminização a pagar. Imaginemos que celebrado um contrato de
compra e venda, as partes estabelecem que o comprador se obriga a pagar as prestações e o vendedor
compromete-se a entregar o terreno em 3 meses. Caso o comprador não pague o preço e o vendedor não
entregue o terreno, e havendo cláusula penal, esta fixa o montante da indemnização a pagar sem que a
outra parte tenha de provar em tribunal os danos causados. As cláusulas penais podem ser excessivas donde,
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o artigo 812º CC procura, de acordo com a equidade, eliminar esta situação e é possível a redução desta
cláusula. Esta tem de ser alegada e invocada pelas partes pois não é conhecida oficiosamente. O negócio
usurário, presente no artigo 282º CC, legitima esta situação pois proíbe o aproveitamento de certas situações
para obter benefícios excessivos ou injustificados.
Alguém que adquire um imóvel pagará o preço correspondente a essa coisa, enquanto o vendedor terá de
transmitir o direito de propriedade.
Porém a coisa poderá ser defeituosa, o que leva ao instituto do cumprimento defeituoso das prestações
prevista nos artigos 913º e seguintes do Código Civil. Nestes casos, caso compremos, por exemplo, um
computador e este seja defeituoso temos 4 institutos de defesa: direito de reparação da coisa, substituição
da coisa, redução do preço e resolução do contrato. É necessário para a redução do preço que queiramos
ficar com a coisa defeituosa.
Direito de crédito
O objeto do direito de crédito é a prestação – artigo 397º CC.
Os direitos de crédito são direitos relativos, apenas oponíveis intra-partes. Ao contrário, os direitos reais são
direitos absolutos, direitos oponíveis erga-omnes. Sendo proprietário de um objeto essa é oponível a todos
os presentes.
Já os direitos pessoais de gozo são direitos através do quais se atribui o gozo de uma coisa a outro, ao
contrário dos direitos de crédito em sentido estrito em que algo é entregue à contraparte para ter o seu
gozo consoante o que adquiriu.
No caso de um conflito de um direito de crédito e de um direito real, sendo o direito de crédito anterior
qual a solução? Por exemplo: A celebra contrato promessa de compra e venda de um imóvel com B; surgem
apenas efeitos obrigacionais, a obrigação de emitir a declaração de venda e a obrigação de emitir a
declaração de compra, por parte do promitente vendedor e do promitente comprador respetivamente; o
proprietário do bem é A ainda pois não há lugar a efeitos reais; um mês após, A vende o bem a C passando
este a ser o proprietário do bem; deste modo temos conflito entre um direito de crédito anterior e um direito
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real. Acontece que o direito real sobressai sobre o direito de crédito. No caso de A vender um quadro a B e
posteriormente vender o mesmo quadro a C, ou seja, colocar em conflito dois direitos reais, o princípio que
rege é o do negócio primeiramente constituído.
O princípio do negócio primeiramente constituído não se aplica aos direitos de crédito. Na prática se assim
fosse, se A celebrou contrato de compra e venda com B ficando a deve-lhe 5000 euros, posteriormente
celebra contrato de prestação de serviços com C ficando a dever-lhe 3000 euros, e fica a dever a D 2000
euros, aplicando o princípio do negócio primeiramente constituído, A ficaria a dever apenas 5000 euros, o
que não se verifica. A regra é diferente nos direitos de crédito e direitos reais.
O direito de sequela é o direito que qualquer proprietário tem de perseguir a coisa que lhe sirva de garantia
onde quer que ela se encontre. Não existe no caso dos direitos de crédito.
Existem determinados direitos de crédito oponíveis a outras pessoas para além das próprias partes. Por
exemplo:
• resultante do artigo 1057º CC, no âmbito da locação, podemos ter a figura da transmissão da posição
contratual. Se A tiver uma locação com B e depois vender o imóvel a C, na sequência desta aquisição,
o novo proprietário há de passar também a ser senhorio de B, transmitindo a posição contratual, e
podendo B opor o seu direito de crédito a C.
• Noutra situação, imagine-se que A e B celebram contrato de prestação de serviços: A prestador de
serviços e B devia pagar a quantia de 10 mil euros pelos mesmos. A era credor de 10 mil euros. Sendo
titular de um direito de crédito podemos transmiti-lo a um terceiro - artigos 577º e seguintes. Deve,
para fazer efeitos, A comunicar a B – artigo 588º CC – pois até ser notificado pode-se opor a pagar. A
este dá-se o nome de contrato de cessão de crédito
Alguém que pretende segurar a própria vida, irá atribuir a um terceiro o valor desse seguro quando a parte
faleça, deste modo tendo o terceiro um direito de crédito em relação a entidade seguradora.
Espécie de direitos de crédito – direitos pessoais de gozo são direitos reais ou direitos de crédito?
Direitos pessoais de gozo
Através da entrega, a parte que recebe a coisa tem direito ao gozo da coisa. São direitos relativos, pessoais
(pois a coisa é entregue a uma determinada pessoa). Surge então a questão se estes são direitos de crédito
ou direitos reais.
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No contrato de locação - artigos 1022ºCC e seguintes
Um determinado sujeito contratante, tem o gozo da coisa por um certo período e para isso é necessário
que a mesma lhe tenha sido entregue. Segundo o artigo 1031º CC, resulta do contrato de locação a obrigação
de entregar a coisa para que o contratante possa gozar do bem.
O artigo 1037º CC, no seu nº 2 estabelece que o locatário que for incomodado ou privado do gozo da coisa
pode utilizar, mesmo contra aquele que é o proprietário da coisa, os mecanismos dos artigos 1276º e
seguintes, no âmbito da defesa da posse. O instituto da posse é privativo dos direitos reais. Por isso alguma
doutrina considera que os direitos de gozo são direitos reais, pois para a defesa dos direitos de crédito
utilizamos o instituto da posse.
A posse pressupõe o corpus (ter em posse o objeto) e o animus (a motivação de ser possuidor). Caso alguém
tenha em posse uma coisa, mas não pretenda agir como proprietário da mesma, ele não tem a posse da
coisa pois está em falta o parâmetro do animus, sendo assim um mero detentor. No caso da locação, porém,
o locatário pretende utilizar a coisa, mas não agir como proprietário, sendo um mero detentor e por isso não
estamos perante direitos reais, mas dá-se na mesma a hipótese ao locatário de se defender com os
mecanismos de detenção da posse, apesar de ser mero detentor. Em princípio só os possuidores é que
podem utilizar estes instrumentos, porém neste caso a lei, e só apenas pela lei, o mero detentor pode utilizar
os instrumentos de defesa da posse. Esses meios facultados ao possuidor são, por exemplo, se A locou a B
um imóvel e B deixou de pagar a renda e A, tendo uma chave, altera a fechadura não permitindo a entrada
de B.
Alguém, gratuitamente, irá obter o gozo do bem por um certo período, por via da entrega da coisa.
O artigo 1133º refere que o comodante deve abster-se de incomodar o livre gozo da coisa e caso isso não
aconteça, mesmo contra si, proprietário da coisa, podem ser utilizados os instrumentos de defesa da posse,
em linha com o problema dogmático da locação. Desta forma e na mesma linha do ponto anterior, muitos
consideram estes direitos reais.
Uma das partes entrega a outra uma coisa para que esta seja guardada por um certo período de tempo.
Novamente, se o depositário for privado da detenção da coisa ou perturbado nesse período pode utilizar os
instrumentos de defesa da posse – artigo 1188º nº 2 CC
Na prática:
Imaginemos que A e B celebram um contrato promessa de compra e venda. B entrega a título de sinal 70
mil euros, no pressuposto que A lhe entregue o imóvel. O que resulta de um contrato promessa são efeitos
de natureza meramente obrigacionais. Porém, neste caso, temos a entrega do imóvel no quadro do contrato
promessa, uma obrigação que não decorre diretamente do contrato promessa, mas sim algo estipulado
pelas partes segundo o princípio da liberdade contratual. Entregue o imóvel a B, significa que B é titular de
um direito pessoal de gozo.
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A, porque B lhe entregou o reforço do sinal mais tarde, altera a fechadura. Na verdade, não há uma norma
específica no âmbito do contrato promessa que resolva esta questão. B não é possuidor, pois apesar de ter
o corpus e ser detentor da coisa, não tem o animus não pretendido agir como proprietário da coisa, sendo
assim um mero detentor da coisa. A diferença entre este detentor e os outros, como um arrendatário, é que
ele estará duma realidade mais próxima de ser possuidor. Neste caso B teria direito aos instrumentos de
defesa da posse, por realidade próxima do 1137º CC.
Por outro lado, imaginemos que ocorre um contrato de locação financeira (leasing). Este é um contrato
segundo o qual alguém se obriga a proporcionar o gozo duma coisa, móvel ou imóvel, sendo essa coisa
escolhida pelo próprio locatário financeiro, e no final do prazo estabelecido o locatário financeiro pode
adquirir essa coisa locada, não sendo, porém, obrigado. O locatário é um mero detentor da coisa aquando
do gozo da mesma, porém em linha com os casos anteriores prevê-se também o uso instrumentos de defesa
da posse quando seja perturbado no gozo da coisa.
O artigo 1057º CC, estabelece que numa relação de locação, o senhorio a certa altura pode vender a
coisa a um determinado sujeito, esse vai ingressar na posição jurídica do senhorio por transmissão contratual
a terceiro. No caso do direito de crédito do arrendatário, obrigacional e não real, não tem prioridade o direito
primeiramente constituído pois isso apenas acontece nos direitos reais. Assim, o direito obrigacional de gozo
vai prevalecer pelo direito real constituído posteriormente pois ingressa na posição jurídica do novo sujeito.
Surge assim ideia de oponibilidade de um direito de obrigacional constituído previamente sobre um direito
real constituído posteriormente. Isto acontece neste direito pessoal de gozo pois está assim estabelecido na
lei. Esta é a diferença no quadro dos direitos pessoais de gozo.
Imaginemos que A deu em comodato a B um determinado imóvel. Sucede que A vendeu posteriormente
a C esse mesmo imóvel. B é titular de um direito pessoal de gozo previamente constituído, enquanto C é
titular de um direito de crédito constituído posteriormente ao direito pessoal de gozo de B. Tal como no caso
do arrendamento a posição de A é transponível para o novo adquirente? Perante a observação dos artigos
1129º a 1141º CC não há uma norma semelhante, não sendo estabelecido por lei essa proteção do comodato
e, portanto, transmitida a propriedade por parte do proprietário a terceiro, desfaz-se o direito pessoal de
gozo, apesar de serem situações similares.
O artigo 407º CC estabelece a solução no caso de incompatibilidade entre direitos pessoais de gozo. Quando
por contratos consecutivos forem constituídos direitos pessoais de gozo incompatíveis entre si, a pessoas
diferentes sobre a mesma coisa, prevalece o direito mais antigo, o primeiramente constituído.
No âmbito dos direitos reais prevalece o direito mais antigo também, daí mais uma vez que alguma doutrina
coloque os direitos pessoais de gozo como direitos reais.
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NOTA: isto não faz com que os direitos pessoais de gozo deixem de ser um direito de crédito apesar de mais
fortes e próximos dos direitos reais, até porque esta regra não é comum a todos os direitos de crédito.
Em suma, quando estão em causa dois direitos de gozo incompatíveis, só quando há uma situação registral
podemos utilizar a regra do direito primeiramente registado. Caso contrário aplicamos o direito
primeiramente constituído nos termos do artigo 407º CC.
Estes podem ser acessórios à prestação principal – aqueles que complementam a prestação principal - como
na compra e venda, por exemplo, a coisa ter de ser entregue no estado que se encontrava no tempo da
venda - artigo 872º CC - ou na venda de um automóvel entregar os documentos do carro – 872º nº 2 CC. São
deveres acessórios complementares que sem elas podemos não ter o gozo total da coisa. Neste sentido, se
observarmos o artigo 1031º CC, este enumera as obrigações do locador, tanto as principais, como, por
exemplo, a entrega da coisa, uma obrigação secundária acessória.
Temos depois os deveres secundários substitutivos da relação principal. Imagine-se que A vendedor, está
obrigado a entregar a coisa alienada a B, vendedor, num determinado dia. Não tendo sido entregue a coisa
nesse dia temos uma situação jurídica de mora ou atraso na prestação. Nesta situação causamos danos a
essa pessoa, obviamente indemnizáveis a serem provados – no âmbito da responsabilidade civil. Esta
obrigação de indemnizar pelo incumprimento por mora ou por incumprimento definitivo é substitutiva da
relação principal
Nota: existe incumprimento temporário e definitivo. O temporário denomina-se mora e sendo temporário
o cumprimento da prestação ainda é possível. Caso seja definitivo o incumprimento já não será possível.
Para passar para o estado de incumprimento definitivo temos a interpelação - interpelamos a parte para
cumprir num certo prazo e caso não o fazendo é definitivo, transformando a mora em incumprimento
definitivo.
A celebrou compra e venda com B de automóvel. A está obrigado a entregar automóvel e B obrigado a pagar
o preço em prestações - são obrigações ligadas por nexo de correspetividade. Imaginemos que o preço é
pago em 10 prestações. O automóvel foi entregue, porém, B deixou de pagar a partir da terceira prestação.
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A pode provocar a extinção do contrato de compra e venda por resolução do contrato por incumprimento
definitivo (a ver mais à frente). Extinto o contrato as consequências, em princípio, serão retroativas, devendo
ser restituído tudo aquilo que foi entregue: B está obrigado a restituir o automóvel e A a devolver as
prestações, sendo obrigações depois de extinto o contrato – são obrigações nos mesmos termos das
principais, com nexo de correspetividade, porém de liquidação contratual nestes casos. São também
obrigações no âmbito dos deveres secundários substitutivos da relação principal.
Por fim temos deveres laterais de conduta. Estes são deveres que decorrem da lei ou do artigo 772º nº 2
CC, da boa-fé. Decorrentes da lei temos o artigo 1038º CC alínea g por exemplo, em que o locatário deve
comunicar ao locador com antecedência a cedência do gozo da coisa locada a um terceiro. No caso da boa-
fé temos deveres de informação, aviso, lealdade negocial, de cuidado com a pessoa da outra parte, de
cuidado com o património da outra parte. Deles decorre sempre uma obrigação de indemnizar sendo
contrariados - caso alguém esteja a entregar um eletrodoméstico e por descuido parta algo, este é um dano
indemnizável, segundo a boa-fé.
NOTA: Enquanto nos deveres principais e secundários podemos instaurar uma ação de cumprimento, nestes
últimos apenas podemos interpor uma ação de indemnizar.
Por outro lado, temos as exceções. Podemos ter a figura de exceção de não cumprimento do contrato, no
âmbito do incumprimento temporário – artigo 428º CC. É a possibilidade de suspensão do cumprimento
daquela prestação enquanto a outra parte não cumprir a sua.
Outra exceção é a prescrição – artigo 300º e seguintes CC. Esta acontece no âmbito dos direitos subjetivos
e é o poder de exigir de outrem um comportamento; imaginemos que há uma indeminização que pode vir a
ser exigida, a parte tem 20 anos para o fazer, caso contrário esse direito prescreve (o prazo de prescrição
varia conforme a situação). Ultrapassado o prazo esse direito enfraquece e passamos a ter um poder jurídico
de pretender, o que significa que a contraparte pode defender-se invocando a prescrição.
Outra exceção é relativa ao direito de retenção, no âmbito dos artigos 754º e seguintes CC. Esta figura dá-
se quando, por exemplo, entregamos roupa numa lavandaria roupa e quando vamos recolher não temos
dinheiro para pagar o serviço prestado; neste sentido o prestador do serviço pode reter a roupa enquanto
não pagarmos.
A última exceção é o benefício da excussão previa, no âmbito da fiança. A vendeu a B e constituiu como
fiador F. F é um terceiro garante do cumprimento da obrigação, servindo de garantia todo o seu património
para o cumprimento da obrigação. A fiança é acessória e subsidiaria, pois, há uma dependência da fiança da
obrigação principal (se esta for nula a fiança também é nula, o devedor paga as prestações extingue-se a
fiança, etc) e é subsidiária pois só são executados os bens do fiador caso a parte principal não cumpra a
obrigação. Nestes casos, pode F, fiador, recusar o cumprimento da obrigação enquanto todos os bens do
devedor não tiverem sido executados.
Esta última característica pode ser afastada por vontade dar partes o que significa que as partes por clausula
contratual podem afastá-la, transformando-a em solidária, resultando de cláusula do contrato (responde ao
lado do devedor principal).
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Nota: caso uma pessoa venda o carro e entregue, e a outra parte deixe de pagar as prestações na terceira
da décima tranche, já não podemos invocar a exceção de cumprimento. A ver mais à frente.
Obrigações naturais
São aquelas que não são judicialmente exigidas e apenas há dever moral de as efetuar - artigo 402º CC (por
exemplo quando apostamos algo com alguém). Não obrigação de as efetuar, porém o sujeito realizando-a
não pode ser reavido – artigo 403º CC. Perante uma obrigação natural não se pode falar de incumprimento
tal como se ela fosse judicialmente protegida.
Prestação
Como já referido é esta o objeto dos direitos de crédito – artigo 397º CC
• Licitude
• Determinabilidade
Relativamente a esta matéria, o artigo 400º CC, no âmbito das obrigações, refere a determinação da
prestação. A determinação desta pode ser feita pelas partes ou terceiro, sempre com o princípio da equidade
presente. Podem as partes determinar alguns critérios para perceber qual o valor da prestação.
A ordem pública pode ser económica, constitucional, fiscal etc, ou seja, os princípios gerais aplicados a uma
determinada ordem jurídica.
A primeira consiste na execução de uma coisa; as de facto consistem numa conduta específica do devedor.
Esta última pode ser positiva (fazer algo) ou negativo (não fazer algo).
Na primeira podemos ter como exemplo cortar a relva e na segunda as prestações decorrentes do contrato
promessa
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Prestações fungíveis vs prestações infungíveis – artigo 767º CC
Imagine-se que A alugou o seu automóvel a B pelo prazo de um ano, sendo o aluguer pago todos os meses,
com F como fiador. B é casado com C. Aquele vinculado ao contrato é B. D, amigo de B, pagou a prestação a
A em nome de B. A deve aceitar ou pode recusar? A solução a esta pergunta tem a ver com a qualificação da
prestação como fungível ou não, e sendo esta fungível, segundo o artigo 767º CC, pode ser feita pelo devedor
ou por terceiro interessado (ou não) no cumprimento da obrigação. Assim D podia fazê-lo.
Imagine-se que A se obrigou com B a escrever um livro. A prestação é infungível e, portanto, não pode um
terceiro realizá-la.
Assim a relevância nestas questões tem que ver com quem pode realizar a prestação
NOTA: prestação infungível - nos termos da execução especifica, artigo 829º A CC, numa prestação de facto
infungível, o tribunal não pode condenar o devedor a, no caso de escrever o livro, não o fazendo
atempadamente, a pagar uma sanção pecuniária devido a atraso porque advém de qualidade artísticas.
Numa obrigação de não concorrência por exemplo, a questão seria diferente.
As prestações instantâneas são aquelas que se executam no momento, no mesmo espaço de tempo.
As prestações fracionadas são aquelas que o decurso do tempo não interfere com o valor da prestação -
contrato de compra e venda a prestações. O comprador a prestações adquire em 10 prestações e nessas 10
o preço não se alterará, tendo uma única obrigação fracionada no tempo.
O caso das prestações duradouras é aquele em que as prestações se alteram no tempo (locação por
exemplo), sendo necessário distinguir as prestações execução continuada e de execução periódica. Por
exemplo, em termos de fornecimento de energia elétrica, o prestador de serviços tem uma prestação de
execução continuada não podendo esta ser interrompida. Do beneficiário da luz, esse fica de pagar
periodicamente a prestação correspondente ao serviço efetuado, tendo prestações de execução periódica,
alterando-se a prestação conforme o mês e a utilização. Em regra, a prestação é mensal e não temos uma
única obrigação, mas sim tantas obrigações como períodos de pagamento e o tempo interfere no valor da
prestação. No caso de aluguer de veículo, o locador tem uma prestação duradoura de execução continuada.
O locatário tem uma prestação de execução periódica.
Incumprimento
O incumprimento pode ser temporário (mora) ou definitivo.
O incumprimento temporário pode gerar a exceção de não cumprimento que atua neste quadro e a nível
dos contratos bilaterais com prestações recíprocas – artigo 428º CC. Opomos a esta figura, no âmbito do
incumprimento definitivo, à resolução de contrato, não sendo uma situação similar pois tem como
consequência a cessação do contrato. No quadro do incumprimento temporário temos ainda a figura da
perda do benefício do prazo – artigo 781º CC. Em determinadas situações, como o comprador que paga em
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Teoria Geral das Obrigações
10 prestações, este beneficia dos prazos de pagamento, podendo pagar em várias prestações, não podendo
o credor exigir antes o pagamento; porém deixando de cumprir uma das prestações, em consequência, o
comprador ou outro (mutuário, locatário financeiro) perde o benefício de pagar em prazos e pode o credor
exigir todo o valor.
O artigo 934º CC coloca alguns limites à utilização desta figura, como veremos mais à frente.
Nos contratos de execução periódica, por exemplo num contrato de arrendamento para habitação, com
duração de 5 anos, o arrendatário paga renda de 500 euros por mês e incumprindo no 10º mês pode o
senhorio invocar a perda do benefício do prazo? Não, pois este instituto não é aplicável nos contratos de
prestações duradouras com natureza periódica. No quadro dos contatos de execução periódica há um nexo
correspetividade entre a obrigação de proporcionar o gozo duma coisa e o próprio pagamento e por isso não
se aplica o 781º CC, tendo várias obrigações e não uma única obrigação.
No quadro da resolução de contrato (artigos 432º e seguintes), que tem como consequência a cessação do
contrato, extinção do contrato imediatamente, quais são os efeitos dessa resolução? Segundo o artigo 434º
CC, a resolução tem efeito retroativo. Significa que no quadro da compra e venda a prestações ou contratos
com prestações instantâneas, deve ser restituído tudo aquilo que foi prestado. A entregou automóvel a B, B
pagou a A, o contrato foi realizado instantaneamente. Sendo o contrato dissolvido, há lugar a restituição
daquilo que foi prestado retroativamente. Tem aplicação nos contratos com prestações fracionadas e nas
prestações instantâneas.
Imagine-se que foi celebrado contrato de arrendamento pelo prazo de 10 anos e que o contrato foi sendo
cumprido pelas duas partes durante 8 anos. Sucede que o arrendatário deixou de pagar a renda, pelo seu
regime especial o senhorio por força do incumprimento de pagamento de renda, resolveu o contrato. Aqui
não há efeito retroativo por força do artigo 434º nº2 CC por ser um contrato de execução periódica. Aqui a
resolução não teme feito retroativo.
Contraímos empréstimo bancário para aquisição de automóvel. Pagamos ao mutuante os 10 mil euros
pedidos pelo prazo de 1 ano e pagamos 2000 euros de juros. Deste modo pagamos 12 prestações de 1000
euros. O mutuário paga o capital mais os juros. Assim, a restituição do capital mensal é uma prestação
fracionada pois não interfere o tempo no valor da prestação, porém nos juros o tempo interfere no valor da
prestação pois quanto mais meses mais juros pagava, e assim a prestação referente aos juros é uma
prestação duradoura de execução periódica, onde não se aplica o instituto de perda de benefício do prazo.
Apenas na prestação do capital se aplica a perda de benefício do prazo. Deste modo, em caso da resolução,
esta não abrange as prestações de execução duradoura.
Em suma, a prestação do banco é continuada pois obriga-se a renunciar ao capital durante aquele
determinado prazo. Os juros são pagos em forma de execução periódica. Quando o banco resolve o contrato
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já não temos de pagar mais juros (juros remuneratórios). Resolvido o contrato o banco exige 6000 euros
(relativos à perda do benefício do prazo). Não pode exigir os juros remuneratórios restantes, porque não se
aplica a retroatividade.
O vendedor celebrando contrato de compra e venda a prestações com o comprador, a lei, nos termos deste
artigo, assinala que o vendedor reserva a propriedade da coisa nos termos do artigo 409º CC porque há lugar
à entrega da mesma. Imaginemos que o comprador paga o preço da coisa a 10 prestações de 500 euros. As
consequências de falta de pagamento de uma só prestação que não exceda a oitava parte do preço não dá
lugar à resolução do contrato. Neste caso o comprador não pagou a quarta prestação, acontece que a mesma
não excede a oitava parte do preço.
Na alienação é lícito ao alienante reservar para si a propriedade da coisa té ao cumprimento total ou parcial
das obrigações ou até verificação de outro evento.
A, reservando para si a propriedade da coisa até pagamento das prestações, é proprietário da coisa, titular
de um direito real não pleno. Porém como ocorreu a entrega da coisa, B será titular do gozo da coisa, mero
detentor da coisa. Não é assim, A, detentor pleno do direito de propriedade. À medida que vai pagando,
aproxima-se B da propriedade e do direito real, só se transmitindo na última prestação. B é assim titular de
um direito de crédito com características especiais (pois o comprador irá tornar-se proprietário).
Quando ocorre um contrato de compra e venda nos termos dos artigos 879º e 408º CC, refere-se que a
transmissão da propriedade é imediata na celebração do contrato. Transmitindo-se a propriedade
transmite-se também o risco de perda ou deterioração da coisa – artigo 796º CC. Neste caso temos um
proprietário não plena, acontece que a transferência do risco de perda ou deterioração da coisa passa para
B, o comprador.
Caso numa vende a coisa entregue tenha defeito, quem corre o risco de cumprimento defeituoso do
contrato é o vendedor porque vendeu coisa defeituosa.
Aplicação dos meios de defesa da posse no regime de compra e venda a prestações – artigo 934º
Cumpridos os 3 requisitos de forma à norma ser aplicada, as normas de perda de benefício do prazo e de
resolução do contrato não serão aplicadas nos termos ditos de forma para proteger o comprador a
prestações.
Então como resolvemos o contrato? Em regra, por declaração dirigida à contraparte. Porém, se
incumprirmos uma prestação estamos apenas em mora, que não permite a resolução do contrato (proteção
do artigo 934º CC). Para que tal resolução tenha lugar, transformamos em incumprimento definitivo, através
da interpelação adominatória – artigo 808º nº 1. Requisitos:
• Intimação ao pagamento
• Deve ser fixado prazo razoável para o pagamento
• Deve existir uma culminação ao pagamento sob pena de incumprimento definitivo.
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Temos assim possibilidade de resolver o contrato no prazo curto, mas razoável caso o comprador não pague
a prestação em causa.
NOTA: Esta situação apenas é possível nos termos da reserva de propriedade e cumprindo os requisitos do
934º CC
Por outro lado, no caso de B faltar ao pagamento de duas prestações podemos resolver o contrato nos
termos gerais e não nos termos do artigo 934º CC.
Imaginemos que não houve o cumprimento de um dos requisitos do artigo 934º CC. Pode, então, o
vendedor evocar a resolução do contrato nos termos do artigo 432º CC? Não, pois há uma norma supletiva
ao 934º CC, igualmente protetora do comprador: o artigo 886º CC. Apenas não se preenchendo os requisitos
das normas destes dois artigos se pode recorrer à resolução de contrato
Nas prestações de meios, a obrigação que o devedor tem é de atuar com a diligência adequada de forma
que seja possível com isto alcançar o resultado, que, porém, não tem de obter. Acontece nas prestações de
serviços de um advogado ou médico.
Por exemplo: A, casado com B, celebra contrato promessa com C. Aquando da celebração definitiva do
contra de compra e venda, B não autoriza a venda da coisa. O que está em causa no âmbito do contrato
promessa de compra e venda, em que é necessário o consentimento de outrem, e sendo o contrato
promessa válido, B não dando o consentimento temos de ver que tipo de obrigação está em causa. Se nada
foi dito no contrato promessa há a obrigação de resultado. Se quiser acasular a sua posição, A pode expressar
isso por cláusula aposta no contrato e a sua obrigação seria de meio.
O artigo 883º CC refere que o preço pode não estar determinado no contrato de compra e venda por
vontade das partes. Se o preço não estiver fixado por entidade pública e as parte não determinarem ou
convencionado, o modo dele ser determinado é:
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Teoria Geral das Obrigações
A e B celebram um contrato promessa de compra e venda de ações sem fixação do preço. O preço seria
fixado em função da maior licitação do valor das ações. Mediante licitação específica determinavam a
posição de promitente vendedor ou promitente comprador. Como é que o preço pode ser determinado pelo
tribunal caso não houvesse preço do contrato promessa? Neste caso especial não conseguia faze lo segundo
regras de equidade.
As próprias parte devem confiar a uma delas a determinação do preço - artigo 400º CC.
Processo de individualização
O artigo 542º refere que se couber ao credor ou a terceiro a escolha, esta apenas é eficaz se for declarada
respetivamente ao devedor ou a ambas as partes, sendo.
No mesmo caso referido, imagine-se que 10 dias depois de celebrado o contrato, A separa os 400 litros de
azeite, o que significa que naquela altura foi transferida a propriedade do azeite do contrato celebrado,
mediante concentração da obrigação (caso contrário não se transfere a propriedade). Durante o processo
de individualização a propriedade ainda é de A. Quando é que se concentra a obrigação? Concentra-se,
normalmente, com o cumprimento ou entrega da coisa. É, deste modo que se transmite a propriedade e o
risco sobre a coisa.
O legislador de todo o modo consagra alguns desvios a estas regras - artigo 541. Nestas 4 situações acontece
que a concentração da obrigação antes do cumprimento da mesma:
• Quando resultar de acordo das partes – estas determinam quando se concentra a obrigação antes
do cumprimento.
• Quando o género se extinguir a ponto de restar apenas uma das coisas nele compreendidas. Se se
perder 600 litros sobram apenas os 400 litros acordados.
• Quando o credor incorrer em mora nos termos do artigo 813º CC. Imagine-se A esta obrigado a
entregar a coisa na sede do comprador. Neste caso B é credor da entrega e A devedor desta. O credor
da entrega, B, não estava para receber o azeite, por razões que lhe são imputáveis, e deste modo
incorre em mora. Quando se verifica mora do credor, não havendo entrega, concentra-se na mesma
a obrigação.
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Teoria Geral das Obrigações
• Quando as partes determinarem que o transporte é feito por terceiro, segundo o artigo 797º CC,
transmite-se o risco da perda ou deterioração da coisa durante a viagem. Assim a concentração opera
com a entrega ao transportador ou a pessoa indicada para o serviço.
O artigo 540 º CC refere que enquanto a prestação for possível em coisa do género, não fica o devedor
exonerado de cumprir com o facto de perecer com aquelas que se dizia cumprir (perdemos 400 litros
específicos de azeite que tínhamos prometido entregar, mas ainda tínhamos 600)
Na falta de determinação daquele que irá determinar a prestação a ser cumprida - número 2 do mesmo
artigo -, a escolha caberá ao devedor quanto à coisa a entregar. De todo o modo, o artigo 549º CC estabelece
que à escolha que se deve efetuar, é aplicável o disposto do artigo 542º CC, sendo possível por convenção
as partes determinar a quem compete a escolha da coisa, e tendo de ser declarada ao devedor ou a ambas
as partes para que tenha eficácia.
Poderia, no exemplo dado, entregar metade da joia e metade do quadro? Não, visto que o artigo 544º CC
estabelece a indivisibilidade das prestações
O artigo 545º CC estabelece que se uma ou mais das prestações se tornar impossível por causa não
imputável às partes, esta fica limitada às prestações possíveis
Já no caso de a impossibilidade ser imputável ao devedor, segundo o artigo 546º CC: imaginemos que A
destruiu o quadro propositadamente, se a escolha pertencer ao credor este poderá exigir uma das
prestações, podendo exigir a joia, ou pedir indemnização pelos danos provenientes de não ter sido efetuada
a prestação já pretendida (nos termos da responsabilidade civil), ou mesmo resolver o contrato havendo
lugar à restituição do que foi entregue.
Por fim, no caso de impossibilidade de alguma das prestações for imputável ao credor e a escolha a sai
pertencer, considera se cumprida a obrigação. Se a escolha couber ao devedor pode este ser indemnizado
pelos danos que haja sofrido e cumprir com a outra prestação possível – artigo 547º CC
Obrigações pecuniárias
Aquelas prestações que têm por objeto dinheiro.
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Teoria Geral das Obrigações
• De moeda com curso legal no estrangeiro (artigo 558 CC): podemos estabelecer, atualmente, que a
renda é de 500 dólares e, se nada for estipulado em sentido contrário, nada impede o devedor de
pagar com moeda com curso legal no país.
Tipos de juros:
O artigo 559º CC estabelece que os juros legais que são estipulados em portaria conjunta dos ministros da
justiça, das finanças e do plano. Está relacionada com os juros moratórios – portaria 291/2003. A taxa fixada
nesta portaria a taxa fixada em 4% sendo estes os juros moratórios decorrentes da lei O nº 2 do mesmo
artigo refere que as fixações de juros convencionados devem ser estipuladas por escrito.
A taxa de juro convencionada, no artigo 559º A CC, remete para o artigo 1146º CC, referindo-se à usura. É
havido como usurário os contratos em que se estabeleça juros convencionados acima de 3% (7%) ou 5%
(9%) acima da taxa legal, caso exista ou não garantia real. A cláusula penal, que fixa o montante da
indemnização, que é havida também como usurário quando correspondente a mais 7% (11%), caso exista
garantia ou 9% (13%) caso não exista garantia real. Se as partes estipulam uma taxa de juro de 40% ou o
montante da indeminização exceder esses números legais, reduz-se ao máximo legal possível consoante haja
ou não cláusula legal.
O artigo 560º CC refere o anatocismo: não é possível no direito civil juros sobre juros, ao contrário do direito
bancário. Para que os juros vencidos produzam outros juros tem de ser por convenção posterior ao
vencimento. Alguém empresta a outro 1000 euros. O juro fixado é de 10% (é remuneratório). Ao final de
um ano o sujeito pagaria 1100 euros. No segundo ano, se fosse possível o anatocismo, o vencimento do juro
seria por base dos 1100 euros, e então no segundo ano pagaria 1110 euros.
O artigo 561º refere a autonomia do crédito de juros. A e B celebram um mútuo com taxa de juros moratória
de 5%, equivalente a 500 euros. Podemos autonomizar a taxa de juro e ceder a um terceiro o crédito destes
juros. A prestação de juros torna-se autónoma da prestação de capital.
Obrigações Plurais
Envolve mais que um sujeito na parte do credor ou devedor ou em ambas. Por exemplo: A celebra contrato
de arrendamento para habitação com B e C. A renda não sendo paga por um deles, o que acontece? Nos
termos da lei, pode estabelecer-se o regime das obrigações solidárias – artigo 512º CC e seguintes. O artigo
513º estabelece que a solidariedade só existe quando resulta da lei ou da vontade das partes (convenção) –
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Teoria Geral das Obrigações
por exemplo os artigos 467º e 595º nº 2 CC. Caso contrário o regime é o da conjunção. O regime da conjunção
retira-se à contrariu sensu do da solidariedade pois não há regime específico na lei.
A e B celebram negócio e B deve 10 mil euros. É possível a transmissão da dívida para um terceiro, que
será o novo de devedor através de assunção de dívida. B e C permanecem solidários perante A sobre o
pagamento deste valor.
No caso concreto, B e C, cada um deles é responsável pelo pagamento na integra. A tanto podia exigir os
1000 euros a B ou a C. Porventura se B pagar extingue o efeito da prestação e nenhum deles se torna
devedor. Cabia assim a C, depois, nos termos do direito de regresso, devolver a sua parte a B. Se não
houvesse cláusula contratual neste sentido A só podia exigir 500 euros a B e 500 euros a C – regime da
conjunção.
• Passiva
• Ativa
Solidariedade entre credores, comum em contas bancárias. B, banco, celebra com A e C um contrato para
abertura de conta bancária de forma a depositar dinheiro. A e C depositam 10 mil euros, e podem retirar o
dinheiro da conta bancária a qualquer momento, estando prevista a solidariedade.
• Mista
Temos de distinguir as relações externas (entre credor e devedores) das relações internas (entre os
devedores). Quando o devedor pagar o valor ao credor temos uma relação interna entre o devedor que
cumpriu a obrigação com o credor e o outro devedor solidário. O primeiro é o credor de regresso e o outro
é o devedor de regresso.
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Teoria Geral das Obrigações
✓ Relações externas – credor A e devedores B e C.
O devedor demandado não pode opor o benefício da divisão ao credor – artigo 518º CC - ou seja, sendo ele
o demandado tem de responder por toda a obrigação, passando depois a ser o credor de regresso.
O artigo 519º CC menciona os direitos do credor: este tem direito de exigir de qualquer dos devedores toda
a prestação ou parte dela, não podendo o devedor opor-se nos termos do artigo 518º CC. A cota em princípio
é proporcional, mas não é obrigatório que seja apenas essa cota que o credor exija. Se exigir judicialmente
de um deles a totalidade da prestação fica inibido de exigir aos outros credores o valor da prestação,
podendo apenas exigir a parte que não exigiu judicialmente ao outro.
O artigo 527º CC refere que o credor pode renunciar à solidariedade face a um devedor, o que não faz cessar
em relação a todos.
O artigo 523º considera que a extinção da obrigação do devedor pode ser feita através do cumprimento
ou, de acordo com os artigos 837º e seguintes:
• Dação em cumprimento: entrega de coisa diversa ainda que de valor superior, desde que o credor
aceite. Se os devedores estiverem obrigados a entregar 1000 euros, porém lhe pagar com um quadro
que vale 1200 euros extingue-se a obrigação – artigo 837º CC.
• Consignação em depósito: B e C ficam de entregar 1000 euros, mas por culpa do credor não foi
possível; nestes casos quando o credor estiver em mora, podemos abrir uma conta bancária em
nome do credor depositando lá o valor e especificando as razões desse depósito. Satisfaz-se assim o
direito do credor – artigo 841º CC.
• Compensação – artigo 847º CC
• Novação: contrai-se nova obrigação em vez da antiga. Deve resultar de declaração expressa - artigo
859º CC. A renovação pode ser também subjetiva substituindo o credor ou o devedor.
O artigo 520º CC considera que se a prestação se considerar impossível por culpa do devedor, todos eles
são solidariamente responsáveis pelo valor da coisa destruída. Só o devedor a quem o facto é imputável
responde pela prestação dos danos que excedam esse valor - responsabilidade civil contratual – e sendo por
culpa de vário esse valor é solidário entre eles.
O artigo 514º nº 1 diz que o devedor solidário demandado pode defender-se por todos os meios
pessoalmente possíveis ou comuns a todos os devedores, podendo, portanto, invocar a exceção de não
cumprimento da obrigação.
✓ Relações internas
Imagine-se que foi um dos sujeitos que extinguiu a obrigação. O devedor que extingue a obrigação é
considerado o credor de regresso e tem direito de regresso do valor relativamente a cada um deles na sua
proporção (parte que a cada um deles compete) – artigo 524º CC.
Os codevedores podem opor aquele que satisfez a obrigação, a falta do decurso do prazo – artigo 525º CC -
tendo eles o benefício do prazo se tal acontecer e, portanto, se o sujeito pagar antes do prazo permitido não
pode exigir antes do decurso desse respetivo tempo. Pode opor também qualquer meio de defesa – negócio
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Teoria Geral das Obrigações
usurário, ser menor, erro vício, erro na declaração, ou seja, meios de defesa própria ou meios de defesa
comum
A insolvência de um dos devedores ou a impossibilidade de um dos devedores, faz com que a sua cota parte
seja repartida igualmente pelos demais – artigo 526º CC
✓ Relações externas
O artigo 528º refere que é legítimo o devedor escolher o credor solidário a quem satisfaz a obrigação,
enquanto não tiver sido citado judicialmente para cumprir perante um dos credores.
O artigo 529º estabelece que se a prestação se tornar impossível por culpa do devedor subsiste a
solidariedade aquando da indeminização dos credores. Se esta impossibilidade de prestação se dever a facto
imputável a um dos credores este último terá de indemnizar os restantes.
✓ Relações internas
O credor que foi satisfeito na parte total tem de satisfazer a cota parte dos outros credores solidários –
artigo 533º CC
Classificações
Contratos consensuais vs formais
Nos contratos consensuais vale o princípio da liberdade de forma e produzem imediatamente efeitos. Nos
contratos formais exige-se uma forma específica nos contratos – artigo 875º CC no caso da compra e venda
por exemplo.
Nos segundos a lei exige a entrega da coisa para a perfeição do contrato, são casos específicos como no
comodato por exemplo, penhor civil (artigos 669º CC). Nos outros não se exige entrega da coisa para a
perfeição do contrato.
Contrato de locação, empreitada, comodato apenas produzem efeitos obrigacionais. Nos contratos reais
temos a doação, o contrato de compra e venda.
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Teoria Geral das Obrigações
Contratos sinalagmáticos vs contratos não sinalagmáticos
Os contratos sinalagmáticos são contratos bilaterais onde existe um nexo de correspetividadde entre as
prestações das partes – arrendamento por exemplo, havendo nexo entre o gozo do imóvel e a renda paga.
Os contratos não sinalagmáticos são contratos unilaterais, como o pacto de preferência e a fiança, havendo
obrigações apenas para uma das partes.
Temos também os contratos bilaterais imperfeitos, em que geram obrigações apenas para uma das partes,
porém, eventualmente pode surgir para a outra parte
Nos primeiros há atribuições patrimoniais para ambas as partes, enquanto nos gratuitos apenas há para
uma das partes
Os contratos nominados são aqueles que têm “nome na lei” enquanto os contratos inominados não estão
regulados na lei, a lei não se refere a eles.
Os primeiros têm uma regulação própria e específica na lei. Confrontando com estes temos os contratos
sem regulamentação legal específica na lei, como por exemplo, o arrendamento com opção de compra.
O regime jurídico aplicável aos contratos legalmente atípicos - que são socialmente típicos por serem
celebrados no dia a dia - são as cláusulas apostas nesses contratos. Para saber se essas cláusulas são lícitas
aplicamos os princípios gerais de direito dos contratos. Na falta de regras específicas no contratos e regras
gerais aplicadas aos contratos, temos a possibilidade de aplicação analógica da lei mais próximas – analogia
legis.
No contrato misto temos um contrato e nos contratos coligados temos dois ou mais contratos – união de
contratos. Por exemplo, A arrenda o imóvel e aluga o imobiliário. Neste caso temos um contrato misto.
Contrato misto
• Contratos mistos combinados: contrato de arrendamento com aluguer de mobiliário/recheio, aqui
o locador tem que proporcionar o gozo de uma coisa móvel e imóvel, já o locatário tem a obrigação
de pagamento da renda
• Contratos mistos de tipo duplo: alguém dá de arrendamento um imóvel e quem toma de
arrendamento não paga a renda, corta por exemplo a relva, prestando serviços, substituindo isso a renda
• Contratos misto stripto senso (em sentido estrito): compra e venda com função mista de doação,
por exemplo vendido a um amigo mais barato
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Teoria Geral das Obrigações
• Contratos mistos complementares: compra e venda de um automóvel com a prestação
complementar de assistência pós-venda.
No exemplo dado A vai fazer duas prestações, enquanto B irá ter apenas uma prestação.
Imagine-se que B em vez de pagar renda obriga-se a prestação de serviços, enquanto A apenas provê o gozo
do imóvel. Neste caso temos contrato misto de tipo duplo pois temos dois tipos de contratos diferentes
Temos a teoria da absorção: um dos contratos absorve o outro, como o que acontece no arrendamento
com aluguer de imobiliário – artigo 1065º CC. A locação de imoveis e acessórios resume-se a uma única
renda e um contrato absorve o outro – o arrendamento absorve o aluguer aplicando-se em exclusivo as
regras do arrendamento.
Temos também a teoria da combinação: artigo 1028º nº 1: se uma ou mais coisas forem locadas para fins
diferentes (para comércio e habitação ao mesmo tempo) sem subordinação de uns ou outro, observa-se a
cada um deles o regime respetivo.
Há outra construção em que se aplica a analogia em que se aplica analogamente o regime dos contratos
As vicissitudes que ocorrem num dos negócios aplicam-se no negócio coligado. Se um deles for inválido, o
negócio com ele intimamente conexo também é inválido. Imaginemos que o vendedor utilizou dolo, o
negócio entre A e C é nulo e então mútuo entre B e C é nulo e B deixa de pagar as prestações.
Havendo cumprimento defeituoso do CCV o consumidor pode evocar a exceção de não cumprimento
resultado de um contrato distinto junto do mutuante (B) e deixar de pagar as prestações do empréstimo
tendo em conta a ligação entre os contratos. Se chegarmos a resolução do contrato de compra e venda pode
também era resolvido o contrato mútuo – artigo 18º.
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Teoria Geral das Obrigações
Classificações dos contratos promessas
Contrato promessa unilateral vs contrato promessa bilateral – artigos 410º nº 2 CC, 413º nº 2 e 411º CC
A promessa unilateral (promessa de venda, ou só promessa de compra), vincula apenas uma das partes.
Imagine-se que A, promitente vendedor, promete vender a B um terreno. Neste caso não temos promitente
comprador. A vinculasse e a certa altura B envia cheque a A no valor de 1000 euros. Temos aqui um contrato
promessa unilateral em que B não vinculado a nada, entregou uma certa garantia. O artigo 441º refere que
se presume que tem caráter de sinal toda a quantia entregue pelo promitente comprador ao promitente
vendedor, porém aqui não temos promitente comprador. Neste caso, o que temos é uma situação onde não
temos sinal pois só o promitente comprador pode entregar quantia na forma de sinal, mas temos sim um
equivalente funcional do sinal, com a aplicação da disciplina do regime do próprio contrato promessa. No
fundo, o contrato promessa unilateral, quando o promitente comprador que não prescreveu a sua posição
como promitente, isto funciona como equivalente a sinal e a partir daqui podemos aplicar todo o regime do
incumprimento do contrato promessa. Transforma o contrato promessa unilateral numa espécie de contrato
promessa bilateral (como um equivalente de regimes).
Imagine-se que A e B pretendem celebrar contrato, porém só um deles subscreveu o contrato, o promitente
comprador não fez, talvez por lapso (não assinou). Em primeiro lugar este é um contrato bilateral, algo que
anteriormente não era considerado, era considerado apenas nulo – assento 29 novembro de 1989. Este
contrato promessa bilateral de compra e venda (não subscrito) é nulo, mas o tribunal considera que um
deles subscrevendo, ele é válido transformando-se em contrato promessa unilateral em relação àquele que
o subscreveu. Com base artigos 292º e 293º discute-se a sua aplicação contra o acórdão:
• Artigo 292º CC, redução do negócio jurídico: a nulidade parcial não determina a invalidade de todo
o negócio. Neste caso o negócio foi subscrito por um dos sujeitos e de acordo com o princípio do
aproveitamento dos negócios jurídicos, significa que aproveitamos aquilo que é possível aproveitar,
a não ser que não se teria concluído sem a parte viciada, ou seja, a não ser que demonstre que se
soubesse que só um se vincularia teria subscrito o negócio. Deste modo, aquele que subscreveu o
negócio tem o ónus da prova. Difere do assento nos termos que o ónus da prova no assento está na
parte que não subscreveu
• Artigo 293º CC, conversão, menos sustentada: o negócio nulo pode converter-se num negócio de
tipo ou conteúdo diferente do qual contenha os requisitos de forma. Pode, mas não é necessário
que se converta. O negócio nulo continua a ser nulo, ao contrário da redução onde é aproveitada.
Pode converter-se quando tenha os requisitos de forma, quando o fim prosseguido pelas partes
permite pressupor que as partes tenha feito o negócio se soubessem da possibilidade, e aqui
presente o ónus da prova.
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Teoria Geral das Obrigações
Contrato promessa com eficácia obrigacional vs contrato promessa com eficácia real
Um contrato promessa somente produz efeitos obrigacionais. Apesar disso, um contrato promessa pode
sim ter eficácia obrigacional ou real, o que não significa que produza efeitos reais, de forma que nunca
transmite a propriedade por via de contrato promessa.
A norma do artigo 413º CC diz respeito à eficácia real da promessa. Temos igualmente a aplicação do
incumprimento temporário e do incumprimento definitivo: no caso de incumprimento temporário
recorremos à figura da execução específica do contrato promessa – artigo 830º CC; no âmbito de
incumprimento definitivo recorremos ao regime do sinal e abordamos o problema da resolução do contrato
– artigo 442º CC.
Imagine-se que temos contrato promessa bilateral de compra e venda. Se os efeitos são apenas
obrigacionais quais são os efeitos que decorrem desse? A, promitente vendedor obriga-se no futuro a emitir
declaração negocial de venda enquanto B, promitente comprador, obriga-se a emitir declaração negocial de
compra. Desta forma, não aparecendo o promitente vendedor no local da escritura pode o promitente
comprador instaurar ação de execução especifica devido a mora do vendedor. Desta forma pede que o
tribunal se substitua a declaração negocial do faltoso emitindo em nome do faltoso a declaração negocial.
A promessa com eficácia real, estabelecida no artigo 413º CC, estabelece 5 pressupostos cumulativos, nos
termos dos quais a promessa tem eficácia real:
A prometeu vender um terreno e B prometeu comprar, num contrato promessa sem eficácia real; A, porém,
vendeu a C o terreno em causa. A situação jurídica daquele contrato promessa faz com C seja o proprietário.
Há o incumprimento definitivo do contrato promessa. Havendo incumprimento definitivo do contrato
promessa não é possível a execução específica. Isto demonstra a fragilidade do contrato promessa com
natureza obrigacional.
Por outro lado, o contrato promessa com eficácia real é oponível erga-omnes pois tem eficácia real. Quando
C adquire de A, já sabe que existe por detrás um contrato promessa com eficácia real sujeito a registo e
passa a ser admissível a execução especifica. O valor jurídico do negócio entre A e C é válido, mas ineficaz e
B pode instaurar com sucesso uma ação de execução específica. A eficácia real não significa a totalidade da
proteção da posição jurídica de B. imagine-se que o bem é destruído ou sendo bem movel é furtado ou
roubado.
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Teoria Geral das Obrigações
Como qualificamos a posição jurídica de B? é titular de uma posição real ou de uma posição meramente
obrigacional? É apenas titular de um direito obrigacional, mas com uma força muito específica.
E havendo cotrato promessa com eficácia real e a posterior constituição daquele imóvel de um direito
pessoal de gozo (contrato de arrendamento)? A eficácia é erga omnes e, portanto, não é eficaz o direito
pessoal de gozo.
A exceção a esta regra encontra-se na matéria relativa à forma (nº 2 do 410º CC): imagine que se trata de
promessa de compra e venda de terreno; a forma do contrato definitivo é escritura pública ou documento
particular autenticado, enquanto para o contrato promessa basta contrato assinado pelas partes. Se se tratar
de promessa de arrendamento a lei exige para contrato promessa a mesma forma do contrato definitivo
(documento escrito).
A segunda exceção abrange regras que pela sua razão de ser não se estendem ao contrato promessa: por
exemplo, o artigo 879º CC, que diz respeito aos efeitos da compra e venda, estabelece a obrigação de
transmissão da propriedade da coisa, que pela sua razão de ser não é extensível ao contrato promessa, tal
como a entrega da coisa ou pagamento do preço a não ser que isso resulte de convenção do contrato
promessa.
• 1682º A CC
Imagine-se que A, casado com B em comunhão de adquiridos, pretende vender um imóvel próprio. B tem
de dar consentimento para este contrato. Porém, imagine-se que A celebrou com C contrato promessa de
compra e venda e B não interveio neste ato. O contrato promessa é valido pois A pode ainda requerer as
diligências necessárias para ter a autorização de B para a compra e venda, ao contrário do negócio definitivo
de compra e venda.
B pode não dar autorização e dessa forma não se realizará o contrato promessa. Neste sentido é necessário
que no contrato promessa exista uma cláusula dando conta desta necessidade do consentimento e assim
tornar esta numa obrigação de meios, caso contrário será uma obrigação de resultados e A entrará em
incumprimento caso B não dê o seu consentimento. Assim, A poderá impor uma cláusula onde se
compromete a realizar todas as diligencias para obter consentimento de B.
A prometeu vender a B um terreno que não era seu. Nos termos do artigo 892º CC este contrato seria nulo.
Porém este é válido pois A não chegou realmente a vender o terreno, apenas prometeu vendê-lo,
produzindo apenas efeitos obrigacionais. Esta, pela sua razão de ser não é extensível ao contrato promessa,
até porque A irá obter as diligencias necessárias para tornar o terreno seu.
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Teoria Geral das Obrigações
• Compropriedade
A e B são comproprietários de um bem. A promete vender esse bem a C. O artigo 1408º CC estabelece que
o comproprietário pode dispor da sua cota, mas não pode onerar ou alienar parte especificada do bem sem
o consentimento dos comproprietários, isto para os negócios definitivos da compra e venda, o que, porém,
não é aplicável ao contrato promessa, sendo o negócio entre A e B perfeitamente válido pois o contrato
promessa apenas produz efeitos de natureza obrigacional. Mais uma vez a promessa não afeta em nada a
propriedade de B e A poderá ainda obter as diligencias necessárias para obter o consentimento de B,
Transmissão dos direitos e obrigações das partes no contrato promessa – artigo 412º CC
O artigo 412º estabelece, no seu número 1, que os direitos e obrigações resultantes dos contratos
promessas se transmitem aos seus herdeiros desde que não sejam exclusivamente pessoais. Imaginemos
então que A faleceu, tendo feito em vida um contrato promessa com B. Se a promessa for de trabalho ou
prestação de serviços as obrigações são meramente pessoais e então por caducidade não se transmitiam os
direitos.
Por outro lado, é possível A transmitir a posição jurídica de promitente vendedor a um terceiro? O nº 2
remete para a cessão da posição contratual, artigos 424º CC e seguintes. Desde que o outro contraente
consinta nesta transmissão pode fazê-lo. Deste modo para A ceder a posição contratual a C precisa do
consentimento de B. Temos mais uma vez de olhar às cláusulas do contrato promessa.
• Substantivos:
➢ Mora de um dos promitentes.
➢ Falta de convenção que afaste a execução específica. Esta pode ser tácita, resultante do
artigo 830º nº 2 CC. A convenção é tácita se existir sinal ou ter sido fixada outra pena no caso
de não cumprimento (cláusula penal). O sinal está explicito no artigo 442º CC e estabelece
como sinal qualquer quantia entregue durante o contrato-promessa (artigo 441º CC). Do
artigo 441ºCC resulta uma presunção e pode provar-se o contrário, afastando esta
presunção. Imaginemos que aquando do contrato promessa se entrega a coisa e a outra
parte entrega parte do valor, isto significa que se está a ilidir esta cláusula, pois este valor
presume que estamos quase no cumprimento. Se aquando da entrega houver valor próximo
do total ou o total, vai-se no mesmo sentido. Se apenas fosse entregue um valor muito baixo
e/ou não houvesse entrega da coisa aí presumimos que estamos perante sinal.
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Teoria Geral das Obrigações
➢ Sempre que a isso não se oponha a natureza da obrigação principal. A natureza opõe-se à
obrigação principal no caso do contrato penhor, no mútuo, comodato, contratos que exigem
entrega da coisa. Assim, não se pode apenas por declaração do faltoso o tribunal substituir-
se ao promitente faltoso. Também nas situações da promessa ser algo pessoal, como nas
promessas de trabalho, promessas de prestações de serviço. Também quando há
necessidade de consentimento de terceiro, como nos casos em que duas pessoas sejam
casadas, à luz do 1682º do CC, tenha de haver consentimento do cônjuge e não podendo o
tribunal substituir-se a essa.
• Processual:
➢ Instaurar ação de execução específica.
• Registral:
➢ apenas para bens sujeitos a registo. O artigo 3º nº 1/a) CRPr estabelece esta situação.
Quando está em causa contrato promessa de fração autónoma é necessário que a ação de execução
específica seja registada. Desse modo, o artigo 92º do CRPr, estabelece esta inscrição provisória visto que a
ação não está ainda definitiva. O nº 11 estabelece que estas inscrições não estão sujeitas a prazo de
caducidade. Estando decidida definitivamente a decisão fica definitivo o registo com a data em causa como
a do primeiro registo. Esta é uma ação constitutiva de direito. A ação de execução especifica resultará num
título executivo usado para exigir a entrega da coisa e posterior indemnização.
Imaginemos, então, que foi celerado contrato promessa relativo a fração autónoma entre A e B a 1 de
março de 2021. A vendeu a C aquela fração autónoma a 1 de junho do mesmo ano, e C não registou a
compra. Posteriormente, B, no dia 1 de julho, instaura uma ação de execução especifica e regista-a de
imediato. De atentar que por não haver registo, B não conhecia o contrato entre A e C. Tem a ação
viabilidade? A resposta encontra-se no Acórdão 4/98 de 18 de dezembro. Apesar de haver sido registado
enquanto o direito real não foi, não pode o registo atribuir eficácia real ao direito obrigacional de B, e não
teria a ação sucesso.
Respeita 3 pressupostos:
Pode haver a não fixação de prazo razoável por, por exemplo haver a falta de alguma formalidade que atrase
bastante o cumprimento do contrato promessa. Não sendo o prazo favorável e recorrendo a outra parte ao
tribunal, o incumprimento definitivo irá ser imputado àquele que fez a interpelação admonitória.
No fim do período em causa vamos ter incumprimento definitivo, mas isso não significa resolução, não se
extinguindo o contrato. Para resolver o contrato é necessário efetuar declaração de resolução em mais uma
carta. Pode acontecer que no próprio contrato promessa se fixe uma cláusula que tenha como consequência
incumprimento definitivo e resolução do contrato caso o contrato promessa não se cumpra na data
estabelecida.
Pode suceder que haja a possibilidade de resolução convencional do contrato. No próprio contrato pode
especificar quais são as hipóteses que verificadas geram a resolução do contrato tais como passagem do
prazo.
Para a primeira é necessário que haja ligado ao prazo o mecanismo de interpelação admonitória no próprio
contrato (não sendo cumprido num certo dia gera o incumprimento definitivo). Nas segundas a
consequência será a mora.
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Teoria Geral das Obrigações
Incumprimento definitivo
Regime do sinal
O artigo 441º estabelece a presunção de que qualquer valor entrega na pendencia do contrato promessa
terá a natureza de sinal. Esta presunção é obviamente ilidível.
O artigo 442º CC, no seu nº 2, refere que quando exista sinal e o promitente vendedor incumpra na sua
promessa, pode o credor exigir o dobro do sinal. Por outro lado, se o incumprimento se dever ao comprador
pode o vendedor manter o valor do sinal.
Em alternativa, caso o incumprimento seja do vendedor e tenha havido tradição da coisa, o valor ou direito
sobre ela, pode ter ocorrido na pendencia do contrato promessa o aumento do valor do bem aquando do
incumprimento. Prevê-se, nestes casos, a indemnização atualizada, e o valor de indemnização terá em conta
a seguinte forma: o valor objetivo a coisa à data do incumprimento definitivo, deduzido o preço
convencionado, acrescendo o sinal ou a parte do preço pago. Imaginemos que o valor atribuído ao imóvel
é de 100 mil euros (preço convencionado) e houve, entretanto, aumento do valor da coisa, ascendendo a
130 mil euros; o sinal foi de 10 mil euros. Neste caso, a indemnização seria de 40 mil euros. Se seguíssemos
o regime normal não havendo tradição da coisa ou nenhum dos outros pressupostos, do dobro do sinal,
receberia apenas 20 mil euros – mecanismo do aumento do valor da coisa.
O nº 3 do mesmo artigo refere que o contraente não faltoso pode requerer em alternativa a execução
específica. Isto acontece quando a parte faltosa se oponha ao aumento do valor da coisa ou do direito
requerido pelo não faltoso, e se disponha a cumprir a promessa. É uma norma sem aplicabilidade
O nº 4 do mesmo artigo estabelece que é possível que as partes, por convenção, acrescentem ao regime do
nº 2 uma cláusula penal que acresce aos valores indemnizatórios.
Imagine-se que B entregou a título de sinal 80 mil euros. Aplicando o regime do nº 2, B teria direito a 160
mil euros. Este valor seria exagerado. Deste modo, aplicamos extensivamente o regime da cláusula penal e
reduzimos equitativamente a indemnização do sinal, nos termos do artigo 812º CC. Visto ser o sinal e a
indemnização desta excessivos, reduzir-se-á o valor da indemnização tendo em conta a equidade do caso
concreto, estipulando o tribunal o valor da indemnização.
O artigo 755º nº1/f) CC estabelece que o beneficiário da promessa de transmissão ou constituição de direito
real, que obteve a tradição da coisa, e não sendo a promessa cumprida, pode recorrer à faculdade do direito
de retenção sobre essa coisa, pelo crédito resultante do não cumprimento da obrigação. Esta situação
apenas pode ser invocada no incumprimento definitivo do contrato.
O direito de retenção visa reter a coisa até que receba o valor do crédito referente ao 442º CC; não tem em
vista a aquisição da propriedade.
O artigo 759º CC estabelece que o direito de retenção prevalece sobre a hipoteca ainda que esta tenha sido
registada anteriormente. No caso de um empreiteiro, com vista a construir um prédio a pedido do
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Teoria Geral das Obrigações
comprador, pede empréstimo a um banco para tal, ficando credor hipotecário do prédio em construção.
Hipoteca essa sujeita a registo. Recaindo o devedor em incumprimento definitivo, o construtor irá recorrer-
se do direito de retenção que se sobreporá ao direito de hipoteca do banco, protegendo esta retenção.
Imaginemos, por outro lado que é indicado à penhora um bem, no âmbito de ação executiva; esta não se
sobreporá ao direito de retenção. Porém, no âmbito da ação executiva o bem será vendido no âmbito de
obter dinheiro aos credores, e aí o direito de retenção perderá o seu valor, podendo este credor inscrever-
se em concorrência com os outros credores no âmbito da ação executiva.
No âmbito do direito de retenção ocorre entrega da coisa. Isso não significa que o detentor seja possuidor.
Para termos a posse é necessário ter o corpus e o animus e o facto de ser entregue a coisa só preenche o
pressuposto do corpus. Não está excluída, porém, a possibilidade de haver posse no contrato promessa, que
pode acontecer, por exemplo, quando o promitente comprador paga quase a totalidade do valor do contrato
final e tendo já a coisa em sua detenção, terá uma expetativa que a coisa seja sua no futuro e comportar-se-
á como proprietário. O promitente comprador não sendo possuidor pode utilizar os meios de defesa da
posse pois se compararmos a posição jurídica de um mero detentor da coisa, devido a tradição da coisa é
semelhante à do locatário, por exemplo.
Se não for adotada uma das formalidades será o contrato nulo por não se respeitar as formalidades (não a
forma), nos termos do artigo 294º CC. A legitimidade para arguir esta anulabilidade, porém, é restritiva e só
pode o promitente transmissor do promitente negócio arguir esta nulidade caso tenha sido causada
culposamente pela outra parte; assim, apenas o promitente comprador pode arguir a nulidade com base nas
formalidades. Quanto a terceiros e o próprio tribunal (conhecer da nulidade oficiosamente) pergunta-se se
podem arguir a nulidade; sobre esse assunto foram desenvolvidos dois assentos: assento 15/94 e 3/95, e
ambos reconhecem que a omissão das formalidades não pode ser reconhecida oficiosamente pelo tribunal
nem arguida por terceiros.
Em grande parte dos contratos promessa as partes colocam uma cláusula onde renunciam ao direito de
invocar a nulidade no caso de inobservância das formalidades. Essa norma será em princípio nula pois
provoca um desequilíbrio na norma, visto que é o promitente comprador quem renuncia ao seu poder e
contraria a função da norma de combate à construção legal. Considerando esta cláusula nula temos de olhar
para a realidade pós-contrato promessa. Sendo o contrato promessa celebrado com a cláusula nesse
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contrato, 2 anos volvidos a celebração do contrato promessa, não sendo realizado o contrato promessa, vem
o comprador invocar a nulidade do contrato promessa com base no incumprimento das formalidades e que
a cláusula aposta é nula. Este comportamento, e após o promitente vendedor estar em conformidade com
o contrato durante um longo período, comporta-se de forma contraditória e constitui esta ação um abuso
de direito – artigo 334º CC – pois abusa da legitimidade para arguir a nulidade.
Por fim, o artigo 830º nº 3 estabelece que a execução especifica não pode ser afastada pelas partes na
promessa a que se refere o artigo 410º nº 3 CC. De notar que um dos pressupostos para haver execução
especifica era não haver declaração tácita ou expressa que afastasse a execução especifica – artigo 830º nº
1 e 2 CC. Desta forma, o nº 3 do artigo 830º é relativo a este requisito afastando-o nas situações do artigo
410º nº 3. Há deste modo uma imperatividade de execução especifica o que significa que se houver sinal
não significa que haja declaração tácita de afastar a execução especifica, prescindindo desse requisito. Desta
forma o 830º nº 1 CC não se aplica em todos os seus pressupostos (vontade das partes em afastar a execução
específica) nas situações do artigo 410º nº 3 CC.
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