01 Introdução Ao Processo Civil
01 Introdução Ao Processo Civil
01 Introdução Ao Processo Civil
Fontes principais:
material do Emagis (www.emagis.com.br);
material do Legislação Destacada (www.legislacaodestacada.com.br);
caderno do Eduardo Belisário;
caderno da “Dicas de ex concurseira”.
Drive: https://drive.google.com/drive/folders/1mW1d8_vyamFGnK31m3CmbZUzJ9kqT6nw
Instagram: ojaf.magis
NEOCONSTITUCIONALISMO
Neste capítulo, há princípios e regras que demonstram claramente que o CPC foi orientado pelo neoconstitucionalismo,
com vistas a tornar a legislação processual cível mais alinhada possível aos valores constitucionais. Desta forma, a
estruturação e a interpretação das normas processuais cíveis devem ser feitas de acordo com a CF.
CPC, Art. 1º - O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme os VALORES e as NORMAS
FUNDAMENTAIS estabelecidos na Constituição da República Federativa do Brasil, observando-se as disposições
deste Código.
Dispositivo que diz uma obviedade, pois, ainda que se possa elogiá-lo por consagrar expressamente a força normativa do
texto constitucional, o seu conteúdo não traz qualquer novidade. Consagra o direito processual constitucional.
FPPC369. (arts. 1º a 12) O rol de normas fundamentais previsto no Capítulo I do Título Único do Livro I da
Parte Geral do CPC NÃO é exaustivo.
FPPC370. (arts. 1º a 12) Norma processual fundamental pode ser regra ou princípio.
CPC, Art. 8º - Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum,
resguardando e promovendo a DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA e observando a PROPORCIONALIDADE, a
RAZOABILIDADE, a LEGALIDADE, a PUBLICIDADE e a EFICIÊNCIA.
Fica evidente a constitucionalização do Direito Processual Civil – princípios extraídos dos arts. 1º e 37 da CF.
Fernando Gajardoni alerta para o impacto dessa forma de se pensar o processo civil na prática dos Tribunais
Superiores, pois, a partir do momento que se positiva no CPC normas que só existiam na Constituição Federal, opera-
se uma ampliação imediata da recorribilidade para os casos em que há violação simultânea de normas previstas tanto
na Constituição quanto no CPC, de modo que poderia haver uma dupla recorribilidade, sendo possível a interposição
tanto de Recurso Extraordinário quanto de Recurso Especial.
O professor aponta, como solução à questão, a aplicação do conteúdo da Súmula nº 636 do STF que trata da
inadmissibilidade do Recurso Extraordinário nos casos de violação reflexa da garantia constitucional. Veja:
“Súmula nº 636, STF: Não cabe recurso extraordinário por contrariedade ao princípio constitucional da
legalidade, quando a sua verificação pressuponha rever a interpretação dada a normas infraconstitucionais pela
decisão recorrida.”
SISTEMA MULTIPORTAS
CPC, Art. 3º, §1º - É permitida a arbitragem, na forma da lei (Lei 9.307/1996).
§2º O Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos conflitos.
Justiça/sistema multiportas = meios adequados para a solução de conflitos ou equivalentes jurisdicionais.
§3º A CONCILIAÇÃO, a MEDIAÇÃO e OUTROS MÉTODOS DE SOLUÇÃO CONSENSUAL DE CONFLITOS deverão
ser estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e membros do Ministério Público, inclusive no curso do
processo judicial.
FPPC371. (arts. 3, §3º, e 165). Os métodos de solução consensual de conflitos devem ser estimulados também nas
instâncias recursais.
FPPC485. (art. 3º, §§ 2º e 3º; art. 139, V; art. 509; art. 513) É cabível conciliação ou mediação no processo de
execução, no cumprimento de sentença e na liquidação de sentença, em que será admissível a apresentação de plano
de cumprimento da prestação.
FPPC573. (arts.3º,§§2ºe 3º; 334) As Fazendas Públicas devem dar publicidade às hipóteses em que seus órgãos de
Advocacia Pública estão autorizados a aceitar autocomposição.
FPPC618. (arts.3º, §§ 2º e 3º, 139, V, 166 e 168; arts. 35 e 47 da Lei nº 11.101/2005; art. 3º, caput, e §§ 1º e 2º, art. 4º,
caput e §1º, e art. 16, caput, da Lei nº 13.140/2015). A conciliação e a mediação são COMPATÍVEIS com o processo
de recuperação judicial.
MODELO COOPERATIVO
CPC, Art. 5º - Aquele que de qualquer forma participa do processo deve comportar-se de acordo com a boa-fé.
Princípio da boa-fé processual (ou boa-fé objetiva). Como já decidiu o STJ, a boa-fé objetiva se apresenta como uma
exigência de lealdade, modelo objetivo de conduta, arquétipo social que impõe o poder-dever de que cada pessoa ajuste
a própria conduta a esse modelo, agindo como agiria uma pessoa honesta, escorreita e leal. ATENÇÃO! O
descumprimento do princípio da boa-fé processual gera a aplicação de sanções, independentemente do pedido das
partes (STJ).
CPC, Art. 6º - Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável,
decisão de mérito justa e efetiva.
Consagração do princípio da cooperação: modelo de processo cooperativo (equilíbrio entre os modelos inquisitivo e o
dispositivo). Ex.: art.321 do CPC, parte final (“indicando com precisão o que deve ser corrigido ou complementado”).
Princípio da duração razoável do processo.
Princípio da primazia da decisão de mérito + princípio da efetividade do processo.
Obs.: Para Fredie Didier, os princípios do devido processo legal, da boa-fé processual e do contraditório servem de
base para o surgimento do PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO.
Cabe, inicialmente, tecer algumas considerações sobre normas e princípios. Enquanto os PRINCÍPIOS possuem um
grau de abstração maior e servem de base interpretativa para as demais normas, as REGRAS são mais específicas e
representam a depuração dos princípios.
A doutrina aponta que os 11 primeiros artigos do CPC traduzem-se em princípios norteadores, já o décimo
segundo artigo - prevê a ordem cronológica de julgamento, outra novidade no sistema -, entretanto, trata-se de uma
regra.
Dentro da classificação das normas jurídicas em COGENTES (também chamadas de normas de ordem pública; tidas
como imperativas; que não podem ser afastadas pela vontade das partes) e NÃO COGENTES (ou dispositivas; que
podem ser afastadas pela vontade das partes envolvidas), a norma processual (CPC/73) se colocava entre as
primeiras (cogentes) - salvo algumas pouquíssimas exceções (como o seu art. 333, parágrafo único, que tratava da
convenção sobre o ônus da prova).
Mas o CPC deu outra regulação ao tema. De fato, o art. 190 do Código em vigor indica que “É licito às partes
plenamente capazes estipular mudanças no procedimento para ajustá-lo às especificidades da causa e convencionar
sobre ônus, poderes, faculdades e deveres processuais, antes ou durante o processo”. Há outros dispositivos do CPC
que caminham de modo semelhante e enfocam esse poder de negociação (esse afastamento das normas cogentes):
CPC, Art. 191 - De comum acordo, o juiz e as partes podem fixar calendário para a prática dos atos processuais,
quando for o caso. (...).
CPC, Art. 471 - As partes podem, de comum acordo, escolher o perito, indicando-o mediante requerimento, desde que:
(...).
FONTES DAS NORMAS PROCESSUAIS
Constituição Federal -> É a primeira das fontes das normas processuais. Os PRINCÍPIOS do devido processo legal
(art. 5º, LIV, da CF), da ampla defesa e do contraditório (art. 5º, LV, da CF), a REGRA da motivação das decisões
judiciais (art. 93, IX, da CF) e da proibição do uso de provas ilícitas (art. 5º, LVI, da CF) são alguns dos exemplos de
normas processuais constitucionais;
Lei federal -> Consoante previsão do art. 22, I, da CF. O Código de Processo Civil entra como a fonte processual por
excelência, mas não se pode esquecer de outras leis (ditas leis extravagantes, porque estão fora do CPC), como a Lei
dos Juizados Especiais Federais (Lei 10.259/2001), a Lei da Ação Civil Pública (Lei 7.437/85), a Lei da Ação Popular
(Lei 4.717/65) e o Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/90);
Tratados internacionais -> Os tratados internacionais também entram na composição das fontes das normas
processuais, conforme os exemplos revelados pelo Pacto de São José da Costa Rica e pelo Protocolo de Las Leñas;
Precedentes dos tribunais -> Conforme o posicionamento majoritário da doutrina e tendo em vista a própria regulação
do direito positivo, que vem progressivamente caminhando para dar uma feição vinculante a certos julgados;
Negócios jurídicos -> Passaram a ser importante fonte de norma jurídica processual, na medida em que é
dado às partes promover um autorregramento da vontade;
Regimentos internos dos tribunais -> Também são fontes de normas do processo, de acordo com a autorização
conferida pelo art. 96, I, “a”, da CF. Por isso, temas como distribuição, competência e prevenção são abordados pelos
regimentos de cada tribunal, constituindo-se em regras sem as quais o procedimento dos recursos e das chamadas
ações originárias ficaria inviável;
As resoluções do Conselho Nacional de Justiça -> Art. 103,-B, § 4º, I, da CF. Esse poder normativo do CNJ
terminou por ser implicitamente reconhecido pelo STF quando do julgamento da Medida Cautelar da ADC 12 (DJ de
01º/09/2006), que tratava da constitucionalidade da Resolução antinepotismo;
Leis estaduais -> Despontam como tema interessante porque, de um lado, a regra do art. 22, I, da CF diz que compete
à União legislar sobre processo; de outro, o art. 24, XI, dessa mesma CF revela que cabe aos Estados legislar sobre
procedimentos em matéria processual. Daí haver controvérsia a respeito do alcance dessa expressão “procedimentos”,
ligada à legislação estadual:
a) uma corrente defende que cabe à União legislar sobre pressupostos processuais e condições da ação (que
seria o processo propriamente dito), ficando para os Estados tratar da forma e do encadeamento dos atos
processuais (procedimento); e
b) uma segunda corrente, que não vê diferença entre processo e procedimento, defende que a União ficaria
com as normas gerais e os Estados poderiam suprir omissões da legislação federal (com foco nas cortes estaduais,
como, por exemplo, a regulação do procedimento de revisão e de cancelamento de súmulas do Tribunal de Justiça)
Um caso à parte diz respeito ao Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal (RISTF), que, segundo a própria
jurisprudência da Corte, foi recepcionado pela CF/88 como lei formal*.
*O STF possuía essa competência legislativa atípica, de acordo com o que dispunha o art. 119, § 3º, da CF/1969.
Por sua vez, as medidas provisórias, que antes eram consideradas fontes de normas jurídicas processuais, deixaram
de sê-lo desde a Emenda Constitucional 32/2001.
CPC, Art. 12. Os juízes e os tribunais atenderão, preferencialmente, à ordem cronológica de conclusão para proferir
sentença ou acórdão. (Redação dada pela Lei nº 13.256, de 2016) (Vigência)
§1º A lista de processos aptos a julgamento deverá estar permanentemente à disposição para consulta pública em
cartório e na rede mundial de computadores.
§2º Estão excluídos da regra do caput:
I - as sentenças proferidas em audiência, homologatórias de acordo ou de improcedência liminar do pedido;
II - o julgamento de processos em bloco para aplicação de tese jurídica firmada em julgamento de casos repetitivos;
III - o julgamento de recursos repetitivos ou de incidente de resolução de demandas repetitivas;
IV - as decisões proferidas com base nos arts. 485 [EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO]
e 932 [DECISÃO MONOCRÁTICA DE RELATOR];
V - o julgamento de embargos de declaração;
VI - o julgamento de agravo interno;
VII - as preferências legais e as metas estabelecidas pelo Conselho Nacional de Justiça;
VIII - os processos criminais, nos órgãos jurisdicionais que tenham competência penal;
IX - a causa que exija urgência no julgamento, assim reconhecida por decisão fundamentada.
§3º Após elaboração de lista própria, respeitar-se-á a ordem cronológica das conclusões entre as preferências legais.
§4º Após a inclusão do processo na lista de que trata o §1º, o requerimento formulado pela parte não altera a ordem
cronológica para a decisão, exceto quando implicar a reabertura da instrução ou a conversão do julgamento em
diligência.
§5º Decidido o requerimento previsto no §4º, o processo retornará à mesma posição em que anteriormente se
encontrava na lista.
§6º Ocupará o primeiro lugar na lista prevista no §1º ou, conforme o caso, no §3º, o processo que:
I - tiver sua sentença ou acórdão anulado, salvo quando houver necessidade de realização de diligência ou de
complementação da instrução;
II - se enquadrar na hipótese do art. 1.040, inciso II .
Art. 13. A jurisdição civil será regida pelas normas processuais brasileiras, ressalvadas as disposições específicas
previstas em tratados, convenções ou acordos internacionais DE QUE O BRASIL SEJA PARTE.
Em regra, essa incorporação dá aos tratados, convenções e acordos estrangeiros status de lei ordinária, salvo no caso
do art.5º, §3º, da CF.
CPC, Art. 14 - A norma processual NÃO retroagirá e será aplicável imediatamente aos processos em curso,
respeitados os atos processuais praticados e as situações jurídicas consolidadas sob a vigência da norma revogada.
Sistema de isolamento dos atos processuais.
O mesmo raciocínio deve ser aplicado à jurisprudência dominante, porquanto fonte de direito processual civil, de modo a
evitar a aplicação retroativa do precedente. Veja: “CPC, Art. 927 (...). § 3º Na hipótese de alteração de jurisprudência
dominante do Supremo Tribunal Federal e dos tribunais superiores ou daquela oriunda de julgamento de casos
repetitivos, pode haver modulação dos efeitos da alteração no interesse social e no da SEGURANÇA JURÍDICA.”
O art.1046 também prevê a aplicação imediata das normas processuais nos processos em trâmite. “Art. 1.046. Ao entrar
em vigor este Código, suas disposições se aplicarão desde logo aos processos pendentes, ficando revogada a Lei nº
5.869, de 11 de janeiro de 1973.”
Por fim, o CPC trouxe uma disposição específica sobre a aplicação da norma no tempo quando
em jogo a produção da prova. O seu art. 1.047 dispõe que: “CPC, Art. 1.047 - As disposições de direito probatório
adotadas neste Código aplicam-se apenas às provas requeridas ou determinadas de ofício a partir da data de início de
sua vigência.”
A respeito do CPC, o STJ decidiu que ele entrou em vigor no dia 18 de março de 2016 (Enunciado Administrativo n. 1
do STJ). Com isso, essa Corte entendeu que os recursos interpostos contra decisões publicadas até 17 de março de
2016 se regem pelo CPC/1973; já os recursos interpostos contra decisões publicadas a partir de 18 de março
submetem-se ao Novo Código.
Art. 15. Na AUSÊNCIA de normas que regulem processos eleitorais, trabalhistas ou administrativos, as disposições
deste Código lhes serão aplicadas supletiva e subsidiariamente.
Na aplicação subsidiária, tem-se a integração da legislação subsidiária na legislação principal, resultando no
preenchimento de vácuos e lacunas da lei principal. Já na aplicação supletiva, as leis complementam uma a outra.