Direito Das Obrigacoes I Aulas Teoricas

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Direito das Obrigações I – Aulas Teóricas

04/02 – Teórica
O livro recomendado é do professor Antunes Varela porém pode ser outro.
2 testes: média entre 8-12 realiza prova oral, quem tiver mais é dispensado.
1º é online, ponderação de 20%. Vai ser de V/F, resposta multiplica e todas as
perguntas serão teórico-práticas. Data: 30/03 às 18h
2º é presencial, com 1 ou 2 casos práticos. Data: 04/05 às 18h

11/02 – Teórica
O Direito das Obrigações é um conjunto de normas jurídicas, e estas normas
regulam relações obrigacionais, de crédito, elas nascem para serem cumpridas
e o cumprimento dela extingue a obrigação. Estas relações costumam
extinguir-se.
Nesta relação costumamos ter um devedor, obrigado a cumprir, e do outro lado
um credor, com o direito de exigir a prestação.
Por regra, numa relação obrigacional, temos 2 lados: o lado ativo (credor) e o
passivo (devedor). Do lado ativo, existe um direito de crédito e do lado passivo
uma dívida, um dever de prestar.
O dever de prestar tanto pode consistir numa ação, dever de agir, ou omissão,
não fazer. Este dever de prestar distingue-se do dever jurídico, o dever jurídico
é mais amplo. O dever jurídico é uma imposição legal de fazer/não fazer, esta
imposição normalmente vem acompanhada de sanções. Enquanto que no
dever de prestar nasce por vontade das partes/do sujeito (exemplo: relações
familiares, deveres conjugais.). Neste dever, a sanção depende da vontade do
credor. Em caso de incumprimento do devedor, o credor pode perdoar a divida
ou pedir uma indemnização.

O direito de crédito vs. os direitos potestativos


No direito de crédito o credor só vê satisfeito o seu crédito se o devedor
colaborar.
No direito potestativo não precisamos da colaboração de ninguém, podemos
fazer mudanças sem a colaboração de outrem (exemplo: o divórcio).

O direito de crédito vs. os direitos familiares


Os direitos de crédito numa relação familiar estão fora do comercio jurídico e
mesmo aqueles que são pecuniários (exemplo: pensão de alimentos, não pode
ser transmitido de forma gratuita o crédito a elementos porque se trata de um
crédito estritamente pessoal e está fora do comercio jurídico).
Numa relação obrigacional comum havendo incumprimento, ou vamos pela via
judicial (execução especifica) e obriga-se o devedor a cumprir ou parte-se para
um processo executivo (indemnização) pelos danos causados.
Nas relações familiares podemos pedir uma indemnização mas não há
possibilidade de irmos por via judicial (execução especifica).
Divórcio, separação de pessoas e bens, simples separação judicial de bens,
isto são tudo sanções que são próprias às relações familiares e que não
existem nas demais relações obrigacionais.
Nas relações paterno-familiares existe ainda a sanção de os progenitores
ficarem inibidos das suas responsabilidades familiares, coisa que não acontece
nas relações obrigacionais comuns.

Relação obrigacional simples vs. relação obrigacional complexa


A relação obrigacional simples tem apenas um dever de prestar e um dever de
crédito (exemplo: se o António atropela o bernardo e este fica com múltiplas
fraturas e, assim sendo, pede uma indemnização. António terá o dever de
prestar a indeminização e o Bernardo o dever de crédito).
As relações obrigacionais complexas compreendem vários direitos subjetivos e
vários deveres de prestar, de ambos os lados, nascidos do mesmo facto
jurídico (exemplo: contrato de compra e venda, alugar um apartamento. A é
credor do preço das rendas mensais e tem o dever de ceder o gozo do
apartamento e mantê-lo até ao fim do contrato. B é credor do gozo do
apartamento e tem o dever de pagar as rendas.).

Elementos das relações obrigacionais


1º elemento: sujeito.
Temos devedor e credor, lado passivo e ativo respetivamente. O credor é titular
de um direito subjetivo, não tem forçosamente natureza patrimonial mas deve
corresponder a um interesse digno de proteção legal tal como prevê o artigo
398º nº2. O devedor está numa situação de subordinação.
Temos situações em que as relações podem ser plurais, vários credores e/ou
vários devedores. No caso de termos relações plurais o regime que se aplica é
o da conjunção mas existe outro que só se aplica por vontade das partes ou
por força da lei, nos termos do artigo 513º, que é o regime da solidariedade
(exemplo: temos 3 devedores, que são um conjunto, e devem 900€ a Daniel
que é credor. No regime da conjunção, o credor só pode exigir 300€ a cada um
deles. No regime da solidariedade, o credor pode exigir a totalidade a qualquer
um dos devedores, o que cumprisse teria um direito de regresso em relação
aos demais credores.).
As relações não plurais são as que têm apenas um credor e um devedor
(exemplo: coloquei cartazes no bairro e disse que quem encontrasse o meu cão
dava 100€. Sou devedora de 100€ e o credor ainda é indeterminado.).

2º elemento: prestação.
Existem algumas distinções:
▪ Distinção entre prestação de coisa e prestação de facto.
o Uma prestação de coisa é aquela que visa investir no controlo
material da coisa, implica uma entrega. Subdivide-se entre:
prestação de dar, prestação de restituir e prestação de prestar.
Na prestação de dar o que se tenciona é dar a coisa.
Na prestação de restituir é no fim do contrato devolver o bem.
Na prestação de prestar a entrega é um elemento essencial para
o contrato poder produzir efeitos.
A transferência da propriedade acontece por mero efeito do
contrato – artigo 408º nº1.
Obrigações de sujeito ativo indeterminado:
➔ Obrigações genéricas: artigos 539 e ss (exemplo: A vende
UM cavalo a B, mas B não sabe qual deles é).
➔ Obrigações alternativas: artigos 543 e ss (exemplo: não digo
o sexo do cavalo e fica a cargo de quem vai comprar
escolher).

o As prestações de facto implicam o exercício de uma atividade


positiva ou negativa (exemplo: pintar uma parede, construir uma
casa, celebrar contratos). Positiva, pintar uma parede. Negativa
quando não faz.
Distinguimos prestação de facto material de prestação de
prestação de facto jurídico:
Prestação de facto material implica uma ação, pintar uma casa.
Prestação de facto jurídico é celebrar contratos, imitir parecer.

▪ Distinção entre prestações instantâneas e prestações duradouras.


o Neste caso, o fator tempo é o que nos vai permitir determinar a
prestação.

o Uma prestação duradoura é uma prestação que se prolonga no


tempo. Subdivide-se em: prestações continuadas e prestações
periódicas.
Prestação periódica (exemplo: contrato de arrendamento).
Prestação continuada (exemplo: arrendamento de um
apartamento, o que cede o apartamento)

o Uma prestação instantânea é uma prestação que se esgota num


só momento. São instantâneas por natureza mas podem, por
convenção das partes, ser fracionadas.

o Em caso de incumprimento do contrato uma das hipóteses é a


resolução do contrato. Esta tem efeitos retroativos se a produção
for instantânea, mesmo que convencionada pelas partes – artigo
434º nº1
Se as prestações forem duradouras a resolução não tem efeitos
retroativos – artigo 434 nº2
(Exemplo de compra e venda a prestações: compro a vespa a
prestações de 100€ mensais. E, por alguma razão, o vendedor
decide resolver o contrato, estamos perante uma prestação
instantânea embora fracionada. Se o vendedor resolver o
contrato, ele tem de restituir as 4 prestações que já recebeu e eu
tenho de restituir a vespa, pois a resolução tem efeitos
retroativos.
No caso de um contrato de arrendamento, em que sabemos que
o lado do senhorio a prestação é continuada, e do lado do
arrendatário a prestação é periódica, se resolvermos o contrato a
resolução não tem efeitos retroativos, o senhorio não me vai
restituir as rendas pagas e eu não vou restituir o gozo da coisa
durante o tempo em que gozei da coisa).

o Contrato em prestações artigo 781º – a falta de pagamento de


uma prestação obriga ao pagamento de todas.
Compra e venda a prestações temos um regime especial que é o
do artigo 934º – a falta de pagamento de uma prestação que
exceda 1/8 do preço permite a imediata resolução do contrato.
Um dos pressupostos deste artigo é existir uma clausula de
reserva de propriedade.

o A clausula de reserva de propriedade:


Vantagem – dá a segurança de o comprador não poder vender o
objeto até ao fim do pagamento das prestações, ou seja,
podemos reaver o bem porque o comprador ainda não é o titular
do bem, não o podendo vender a terceiros. O artigo 934º surge
para proteção do vendedor.
Desvantagem – artigo 796º, risco: assumir a desvalorização/dano
sem culpa das partes (exemplo: curto circuito da vespa). Artigo
796º nº3 – quando o alienante assegura o risco.
Ou seja, o inconveniente da clausula de reserva de propriedade é
o risco, artigo 796º, quando se transfere a propriedade transfere-
se o risco para o adquirente. Mas, havendo clausula de reserva
de propriedade aplica-se o nº3 do artigo 796º, pois é uma
condição suspensiva. Durante a pendencia da condição quem
está a assumir o risco continua a ser o alienante. Devemos exigir
que o adquirente tenha um seguro contra todos os riscos para
que o risco caiba à seguradora e não ao alienante, neste tipo de
controlos.
Artigo 934º – um dos pressupostos é inserir a cláusula de reserva
de propriedade, esta faz com que o comprador não possa vender
a terceiros.
Artigo 796º nº3 – tratando-se de uma condição suspensiva (a
cláusula de reserva de propriedade é esta condição) o que prevê
é que durante a pendencia desta haja ou não a entrega do bem
ao adquirente, o risco corre por conta do alienante.
Para o professor Antunes Varela, se o bem for entregue, o risco
(durante a pendencia da condição suspensiva) transfere-se para
a esfera jurídica do adquirente. Sendo certo que, o nosso
legislador não prevê isto. Prevê que se houver condição
resolutiva então aí sim, havendo entrega transfere-se o risco, não
havendo não se transfere. Agora no que toca à condição
suspensiva, o legislador não faz distinção entre entrega e não
entrega. A professora justificaria a transferência, artigo 886º, se
se der a transferência de propriedade e entrega do bem por falta
de pagamento do preço não se pode resolver o contrato, agora,
havendo cláusula de reserva de propriedade, nós ainda não
transferimos a propriedade, então por falta de pagamento do
preço, podemos resolver o contrato. Se não se der a transferência
de propriedade, artigo 886º, por falta de pagamento do preço
permite-nos resolver o contrato, pode então significar que a
existência de cláusula de reserva de propriedade pode assumir
aqui uma natureza resolutiva. Se a mesma nos permitir resolver o
contrato, esta natureza resolutiva, voltando ao artigo 796º nº3,
havendo condição resolutiva e entrega do bem, quem corre o
risco é o adquirente.

18/02 – Teórica

▪ Distinção entre prestações divisíveis e prestações indivisíveis:


o Podem sê-lo por natureza (exemplo: divisível – dinheiro;
indivisível – um cavalo que comprei).

o Por convenção das partes – as partes podem transformar uma


prestação divisível em indivisível

o Por força da lei – há prestações em que a própria lei diz que não
se podem dividir (exemplo: terreno agrícola, prédio rústico)

o A propósito do cumprimento das prestações, o legislador impõe


uma regra, artigo 763º, o princípio da integralidade do
cumprimento, este tem de ser feito na integra (exemplo: se eu
vender 10 vacas, eu tenho de entregar as 10. Mesmo que a
quantidade pudesse ter sido dividida numa vaca mensal, sendo
compradas 10 eu tenho de entregar 10 se não o fizer há uma
violação de responsabilidade contratual e do princípio da
integralidade).

▪ Distinção entre prestações fungíveis e infungíveis:


o Prestação fungível é aquela cujo cumprimento pode ser feito pelo
devedor ou por terceiros sem que isso prejudique o credor
(exemplo: prestação de coisa, seja eu a entregar a coisa ou o
vizinho do lado não há qualquer prejuízo para o credor).

o Prestação infungível é quando o devedor é insubstituível


(exemplo: se contratar uma pessoa especifica não pode vir outra).

o As prestações de facto tanto podem ser fungíveis como


infungíveis.
Por exemplo: se eu pedir a alguém para me pintar a sala de
branco, ela não pode ser substituída? Sim, então a prestação de
facto é fungível. Agora, se eu contratar a Paula Rego para ela
retratar a turma, a prestação já é infungível porque ela tem um
traço único. Isto, do ponto de vista prático.
No caso de a prestação ser fungível haverá sempre a
possibilidade de uma execução especifica e o regime desta está
prevista nos artigos 827º e ss. Ou seja, se eu pedir a alguém para
me entregar a vespa ou pintar a sala e não cumprem com a
prestação eu posso, por via judicial, obrigá-los a cumprir ou a
contratar algum terceiro para fazê-lo.
Se a prestação for infungível (exemplo: prestação de facto), aqui
a execução especifica não será possível. O nosso legislador criou
uma figura que não é equivalente à execução especifica, é a
sanção compulsória, artigo 829º a), se a pessoa não cumprir
obrigamo-la, por via judicial, a pagar uma quantia diária até ela o
fazer mas isto não é possível em todas as situações. Por
exemplo: se a pintora não estiver inspirada para pintar, neste
caso não se pode aplicar a sanção.

o No que toca à impossibilidade de cumprimento, se a prestação for


infungível, em caso de impossibilidade de cumprimento, a
prestação extingue-se e não haverá lugar para a indemnização
porque não há culpa. No caso de uma coisa em que a entrega é
fungível mas a coisa em si é infungível, se a coisa deixar de
existir sem culpa das partes e se o risco (artigo 796º nº2) corria
por conta do vendedor e ainda não a entregou, há também uma
impossibilidade de cumprimento e a obrigação também se
extingue.
Se a prestação for fungível nunca haverá extinção da obrigação
porque outro objeto pode vir a ser substituído pelo primeiro.

3º elemento: vínculo jurídico. – Artigo 397º


O vínculo jurídico é a ligação entre os direitos de um e os deveres de outro, ou
seja, direito de crédito e o dever de prestar.

4º elemento: garantia.
A garantia de todo e qualquer credor é constituída pelo património do devedor
– garantia geral ou garantia patrimonial artigo 601º.
Existem ainda as chamadas garantias especiais, dentro destas temos:
▪ Garantias pessoais: é um terceiro que com o seu património garante o
cumprimento de uma divida alheia. Aqui temos:
• Fiança
• Subfiança
• Mandato de crédito
▪ Garantias reais: são aquelas em que um determinado bem garante o
cumprimento da obrigação, de modo que nestas temos:
• Hipoteca
• Penhor
• Direito de retenção
• Consignação de rendimentos
• Privilégios creditórios mobiliários e imobiliários

Fontes de Direito das Obrigações

Unilaterais (1)
▪ Negócios jurídicos unilateral (2)
Bilaterais (contrato)
bilateral (3)

(1) Constituído por uma declaração de vontade ou de várias no mesmo sentido


(exemplo: testamento)
(2) duas declarações de vontade mas apenas uma está vinculada à obrigação
(exemplo: doação)
(3) contrato que gera obrigações para ambas as partes (exemplo: compra e
venda)

Os contratos bilaterais não são sinónimo de contrato sinalagmático


(dependência funcional entre as prestações). Se não existir essa dependência
funcional o contrato será bilateral mas não será sinalagmático (exemplo: a
professora obriga-se a pagar um jantar a quem tiver mais de media de 17 a
DOI e a turma obriga-se a estudar 5 horas por semana. Temos obrigações de
ambos os lados mas não há sinalagma entre elas).
Os contratos unilaterais não podem ser sinalagmáticos porque não há
dependência funcional. Mas, há contratos unilaterais com sinalagma imperfeito,
ou seja, o contrato é unilateral por natureza mas surge, por alguma razão, uma
contraprestação.
(exemplo 1: mandato gratuito (artigo 1157º) – só gera obrigações para o
mandatário. No entanto, se o mandatário tiver despesas este vai ter direito ao
reembolso das mesmas. E é aqui que surge o sinalagma imperfeito).
(exemplo 2: comodato (artigo 1129º) – é um empréstimo de uma coisa, sem
retribuição. O comodante obriga-se a proporcionar ao comodatário o gozo de
uma coisa. Surge o sinalagma imperfeito porque findo o contrato, o
comodatário tem a obrigação de restituir a coisa).
(exemplo 3: se na doação existir uma obrigação também surge o sinalagma
imperfeito. Se eu doar uma casa no Alentejo mas no contrato está previsto que
o donatário tem de pagar uma reforma aos caseiros).
Temos ainda:

o Distinção entre contratos consensuais e contratos formais


Contratos consensuais – precisam de consentimento para
produzir efeitos
Contratos formais – serão aqueles em que a lei exige uma forma
especial para que as declarações de vontade possam produzir
efeitos

o Distinção entre contratos nominados e contratos inominados


Contratos nominados – têm nome na lei, muitas vezes é um
contrato tipificado (artigo
Contratos inominados – não têm nome da lei, a maior parte é um
contrato atípico (artigo 936º nº2).

o Distinção entre contratos gratuitos e contratos onerosos


Contratos gratuitos – uma das partes beneficia de uma vantagem
sem estar obrigada a uma contrapartida (unilateral)
Contratos onerosos – uma parte recebe uma vantagem e em
troca dá uma vantagem à outra parte (bilateral). Ainda podemos
distinguir:
❖ Contratos comutativos – é aquele cujas vantagens
patrimoniais já estão pré-definidas e aceites (exemplo:
compra e venda em que o B compra a A vacinas contra a
sida, assumindo que o B não consiga criar essa vacina, o
A assumiu esse risco. Se se confirmar que não protege o A
tem de pagar na mesma).

❖ Contratos aleatórios – aquele em que as vantagens


patrimoniais depende do acaso (exemplo: comprei no natal
a lotaria com um número, se ia ganhar ou não, ia depender
do acaso, da sorte ou azar).

Artigo 881º – nos termos deste, este contrato tanto pode ter
natureza aleatória como comutativa. De modo que, se tiver
natureza aleatória mesmo que o bem não exista tem de pagar o
preço, mas se tiver natureza comutativa e o bem não existir não
se paga o preço. Por exemplo: imaginemos que a professora
compra toda a produção do António por 50 mil € considerando
que a produção será de X, se a professora considerar tal o
contrato será comutativo, ou seja, se a produção for inferior a X
ela não paga. Se for aleatório, independentemente de a produção
ser inferior tem de pagar na mesma.

Costuma sair no exame: Não confundir contrato aleatório com um contrato


sujeito a uma condição seja ela suspensiva ou resolutiva. Um contrato sujeito a
uma condição é quando todos os efeitos dependem de um facto de futuro
incerto. No contrato aleatório são as vantagens que dependem de um facto de
futuro incerto.

o Distinção entre contratos mistos e união de contratos/coligação


de contratos
Contrato misto – é um contrato atípico. É um contrato constituído
por vários elementos contratuais que as partes foram buscar à lei
e que juntaram, ou então foram buscar à lei vários elementos e
criaram de raiz outros e juntaram. A grande dificuldade é saber o
regime que aplicamos ao contrato visto que ele é atípico.
Classificação dos contratos mistos:
❖ Contratos combinados – uma parte vinculada a uma
prestação contratual enquanto que a outra obriga-se a
várias prestações contratuais (exemplo: contrato alguém
por 300.000€ e a outra parte está obrigada a entregar-me
um terreno, construir uma moradia, tratar da licença de
construção, de habitação, da documentação junto da
camara, etc. De um lado temos uma prestação e do outro
temos várias).

❖ Contratos geminados ou duplos – cada parte está


vinculada a uma prestação de tipo próprio (exemplo:
celebrei um contrato em que o António vinculou-se a
trabalhar numa oficina e em contrapartida o Bernardo,
proprietário da oficina, coloca à disposição de António um
apartamento que está situado acima da oficina. De um
lado, fomos buscar um elemento ao contrato de prestação
de serviços e do outro fomos buscar um elemento ao
contrato de arrendamento. Juntamos os dois e formamos o
contrato geminado).

❖ Contratos mistos em sentido estrito – as partes celebram o


contrato tipificado na lei mas com um objetivo diferente do
contrato escolhido (exemplo: celebram um contrato de
compra e venda mas o que pretendem é uma doação).
❖ Contratos complementares – é um contrato dentro de
outro. É um contrato principal e um contrato acessório que
integra o contrato principal, formando um só, é um contrato
dentro de outro (exemplo: temos um contrato de compra e
venda com uma clausula em que o vendedor se
compromete ao transporte).

No que diz respeito ao regime a aplicar aos contratos mistos,


a doutrina criou 3 teorias:
❖ Teoria da absorção – procura-se no contrato misto o
seu elemento dominante e aplica-se ao contrato misto o
regime do seu elemento dominante. Mas esta teoria
tem inconvenientes pois, se as partes celebraram um
contrato misto foi por alguma razão, poderemos estar a
ir contra a vontade das partes ao aplicar apenas um
regime (aplica-se nos contratos complementares).

❖ Teoria da combinação – procuramos os vários


elementos do contrato e aplicamos os regimes dos
seus vários elementos. Esta teoria também tem
inconvenientes porque aplicamos de forma logica, a
cada um dos seus elementos, o seu regime próprio e
isto poderá levar a uma incompatibilidade entre regimes
(aplica-se nos contratos geminados).

❖ Teoria da analogia – há várias fases. Começa-se por


tentar saber se as partes colocaram no contrato o
regime a aplicar. Se as partes não indicaram o regime,
temos uma lacuna convencional. E quando temos uma
lacuna convencional procedemos à sua integração de
acordo com as regras do artigo 239º. Se, de acordo
com estas regras, não conseguirmos apurar o regime,
para alem da lacuna convencional temos uma lacuna
legal. E quando há uma lacuna legal o que está previsto
é esta teoria da analogia. Mas a lei não prevê casos
análogos o que nos obriga, nos termos do artigo 10º,
criar uma norma ad hoc (só se aplica em último caso).

União de contratos – são vários contratos autónomos entre si mas


que surgem ligados, não surgem isolados na prática. Se não
estiverem ligados entre eles temos de fazer essa ligação.
25/02 – Teórica
(Continuação da união de contratos)
O CC não trata da união civil porque não faz essa ligação entre
os contratos.
A vantagem de criarmos mais contratos é que a invalidade de um
contrato afeta a validade dos outros.
Há algumas distinções:
❖ Distinção entre união externa, união internas e união
alternativas
Distinção externa – não tem qualquer relevância jurídica
(exemplo: ir ao supermercado x vezes, indo buscar uma
coisa de casa vez. É indiferente celebrar apenas um
contrato (ir 1x e buscar tudo) ou vários contratos (ou ir
vários como fiz).
Distinção interna – existe a relação entre vários contratos.
Há ainda a distinção:
➔ Distinção de união processual e união não
processual
Processual – temos vários contratos ligados entre
eles com um fim comum (exemplo: celebro contrato
promessa de compra-venda de uma fração
autónoma e depois celebro o contrato de compra-
venda
Não processual – se não tiver o mesmo fim
Distinção alternativa – uma pessoa vai subordinar a
celebração de um contrato à não celebração de outro, ou
seja, hoje celebravam 2 contratos que estão pendentes por
um facto de futuro incerto (exemplo: celebro um contrato
de um T0 e um contrato de um T3 com o mesmo
comprador. O contrato do T0 só irá produzir efeitos se eu
não casar até dia 30 de Maio, caso contrário o que produz
efeitos é o do T3).

❖ Distinção entre união horizontal e união vertical


Horizontal – vários contratos com um objetivo semelhante
(exemplo: compro uma casa e compro os moveis para a
casa).
Verticais – temos um contrato dominante e depois temos o
contrato que está subordinado ao dominante. Temos uns
contratos que dependem de outros, sem um não haverá
outro. Nesta união a ligação já existe por força da lei
(exemplo: subarrendamento está dependente de um
contrato de arrendamento).
Qual é o regime jurídico que teremos de aplicar para que a invalidade de um
contrato de união poderá afetar a validade dos demais contratos de coligação?
Há autores que acham que devemos aplicar o regime do erro. Mas a doutora
não concorda pois nós quando celebrávamos um contrato não sabemos que
algum deles é invalido. Então, há quem aplique o regime de impossibilidade de
cumprimento o que leva a que a nulidade de um extinga os outros – artigo 790º
e ss. Não há indemnização porque não há culpa.

❖ Distinção entre contrato a favor de terceiros e contrato com


cláusula para pessoa a nomear
Contrato a favor de terceiros (artigo 443º e ss) – qualquer
contrato pode ser a favor de terceiros desde que seja
inserida uma clausula que o permita. Uma das partes
obriga-se a cumprir o pagamento da prestação a um
terceiro (exemplo: vendi a minha vespa verde ao António e
ele compromete-se a pagar o preço não a mim mas aos
meus filhos).
➢ Qual é a forma do contrato a favor de terceiros? A
forma depende do regime do contrato onde
inseriram a cláusula.
➢ Para que exista de verdade este contrato é
necessário que: 1º exista um contrato entre o
promitente e o promissário; 2º que existe um
terceiro; 3º é necessário que exista uma prestação
do promitente ao terceiro.
➢ Regime da cláusula: artigo 444º
➢ O terceiro beneficiário pode aceitar ou rejeitar o
benefício. A vantagem de aceitar é que… artigo
447º nº1. A rejeição (artigo 447º nº2) tem efeitos
retroativos, ou seja, é como se aquele terceiro
nunca tive adquirido… tanto a aceitação como a
rejeição deve ser dito ao promitente.
➢ O terceiro será sempre terceiro em relação aquele
contrato e não tem obrigações.
Contrato com clausula para pessoa a nomear (artigo 452º
e ss) – pode ser qualquer contrato desde que tenha uma
cláusula que o diga.
Existe:
➢ um promitens – aquele que promete
➢ um Stipulas- aquele que se reserva a faculdade de
indicar/estipular um terceiro para ocupar o seu lugar
naquele contrato
➢ um amicus – será o terceiro
➢ um amigus electus – será o terceiro após ser
nomeado
As causas que levaram para que existisse este contrato:
para evitar a dupla tributação
O professor Galvão Teles… quando se trata de um
contrato em nome próprio é em condição resolutiva e o
contrato em nome alheio, que é aquele que celebramos no
leilão, a condição deste é suspensiva.
O processo de nomeação divide-se em 2 fases:
➢ Nomeação (artigo 453º) – é feita mediante uma
nomeação por escrito dirigida ao promitente dentro
do prazo de 5 dias ou dentro do prazo
convencionado pelas partes. O efeito é que
colocamos o amigus electus na posição de stipulas
em termos retroativos (?). Para além da nomeação
é necessário que o amigus electus ratifique. Pode
ser nomeação seguida de ratificação ou nomeação
seguida de uma procuração (artigo 453º nº2).

Impugnação pauliana (artigo 610º) – relação entre B e C, B


deve a C 100 mil €. C emprestou esta quantia porque B
tinha um imóvel com esse valor. B doou o imóvel a A e C
fica prejudicado. C vai impugnar esta doação (de B a A).
Impugnando, o imóvel pode ser entregue a C para
satisfazer o seu crédito.

Teoria do terceiro cúmplice (artigo 490º) – se alguém instigou outro na violação


de um outro, esse alguém também será responsável pelo dano.
(exemplo: A e B celebraram um contrato promessa e compra e venda. A
promete vender e B promete comprar. C, primo de A, diz para A não vender a
B e vender a C por mais 5 mil €. Assim sendo, B pode exigir uma
indeminização a A de acordo com o regime de responsabilidade contratual.
Esta teoria diz que se A conseguir provar que o C o instigou, B pode também, à
luz do artigo 490º, pedir uma indemnização a C).

Regime do contrato-promessa
(artigos 410º e ss, 440º e ss, 830º, 755º nº1 alínea f)
Temos um regime até 1980
Em 1980 houve alterações
Em 1986 houve alterações

Artigo 410.º nº1 – define o contrato promessa


É um contrato pelo qual as partes se obrigam a celebrar um outro contrato, as
partes vincularam-se a que tipo de prestação? Vinculam-se a uma prestação
de facto jurídico. E neste nº1 está previsto o princípio da equiparação –
aplica-se ao contrato promessa as regras do contrato definitivo, do contrato
prometido, salvo quanto à forma, não há equiparação quanto à forma.
Uma exceção- Para a alienação ou arrendamento da casa de morada de
família é sempre necessário a autorização de ambos os conjugues
Quanto ao contrato de promessa:
Art. 219.º Liberdade de forma! Exceção → nº2 do artigo 410.º
Se a lei exigir para o contrato definitivo uma forma especial, então o contrato
promessa terá de ser celebrado por documento escrito e assinado pela parte
ou pelas partes que se vinculam.

04/03 – Teórica
Regime aplicável:
- a regra é a liberdade de forma, a exceção é o princípio da equiparação
- contratos consensuais: aplica-se a regra
- contratos formais: aplica-se o princípio

Artigo 410.º nº2: se a lei exigir para o contrato prometido uma forma especial
(escritura pública ou documento autenticado), o contrato-promessa terá de ser
celebrado por documento escrito e assinado pela(s) parte(s) que se vincula(m)
[ex: A celebra um contrato-promessa de compra e venda de um prédio rústico.
Para saber se segue o regime da liberdade de forma ou o regime do 410.º n2
tem de saber qual a forma da compra e venda. Diz o 875.º que é necessária
uma escritura pública ou um documento particular autenticado para a
celebração do contrato definitivo. Nos termos do art. 410 n2, o contrato-
promessa tem de ser celebrado por um documento escrito e assinado pela ou
pelas partes que se vinculam.]
[ex: A celebra um contrato-promessa de compra e venda da sua vespa verde.
Para saber se segue o regime da liberdade de forma ou o regime do 410.º n2
tem de saber qual a forma da compra e venda. A compra e venda de uma
vespa segue o regime da liberdade de forma pelo que o contrato-promessa
também.]

Contrato-promessa unilateral vs contrato-promessa bilateral


- unilaterais: apenas um dos promitentes se vincula à celebração do contrato
definitivo, o outro aceita mas não se vincula
[ex: Estou interessado num terreno para cultivo mas não me vinculo a comprar
porque primeiro preciso de fazer estudos ao terreno de forma a perceber se o
cultivo que quero fazer é viável. O promitente vendedor promete vender mas há
uma cláusula que me permite fazer estudos durante um mês e, se se verificar a
condição, eu promitente comprador prometo comprar. Durante aquele mês, o
promitente comprador que não se vinculou a comprar pode pagar uma quantia
para garantir que o promitente comprador não quebra a sua promessa.]
- bilaterais: ambos os promitentes se vinculam à celebração de um contrato
definitivo
Contrato-promessa com eficácia meramente obrigacional vs contrato-promessa
com eficácia real
- eficácia meramente obrigacional: é a regra, só produz efeitos entre as partes
- eficácia real, art. 413.º: produzem efeitos entre toda a gente

Até 1980 só tinha até o número 2 do artigo 410, depois foi acrescentado o nº3
que fala de formalidade (para proteção do promitente comprador).

Devemos respeitar as formalidades, do artigo 410º nº3, quando se trate:


• De um contrato-promessa oneroso
• Transmissão de direito sobre edifício (a construir, a construção ou
construído)

As formalidades são:
• O reconhecimento das assinaturas dos promitentes
• Certificação da licença de construção (para construir) ou utilização (se já
estiver construído)

Há quem diga que, faltando uma das formalidades, haverá um vicio de


forma. Há quem diga que por mútuo acordo as partes podem prescindir
destas formalidades. Há quem diga que o reconhecimento das assinaturas
é uma formalidade para proteção dos promitentes, apenas deles, de modo
que poderiam prescindir das assinaturas, considerando que não precisam
de ser protegidos, mas quanto à certificação da licença não é proteção
apenas dos próprios, mas de todos nós contra construções clandestinas,
logo não poderiam prescindir disso.

Quanto a vícios de forma:


Se as partes tiverem de respeitar o nº2 do artigo 410º, e tiverem de seguir
formalidades do nº3 do artigo 410º, se houver omissão de alguma formalidade,
ou de ambas, poderemos estar perante um vicio de forma. Qual é o regime? →
nulidade. Carateriza-se por poder ser requerida a todo o tempo, por qualquer
interessado, e é de conhecimento oficioso.
Ler a última parte do nº3 do 410.º: “contudo, o promitente que promete
transmitir ou constituir o direito só pode invocar a omissão destes requisitos
quando a mesma tenha sido culposamente causada pela outra parte”:
Como em princípio o responsável pelos vícios será o promitente vendedor, ele
não pode requerer a nulidade por isso constitui um abuso de direito, a menos
que a omissão dos requisitos tenha sido culpa do promitente comprador

A propósito dos vícios de forma do contrato promessa, o Supremo pronunciou-


se em 3 assentos:
• um assento de 28 de julho de 1994 – o supremo considera que as
omissões do art.410º nº3 não podem ser invocadas por terceiros.
• um assento de 1 de fevereiro de 1995 – o supremo decide que no caso
do art.410º nº3 a nulidade não é de conhecimento oficioso, ou seja, o
supremo está a afastar-se totalmente da nulidade.

Estaríamos aqui perante uma nulidade atípica, uma nulidade relativa.

Porque é que o Supremo toma esta decisão?


Quanto ao primeiro assento: O promitente vendedor não pode, em princípio,
requerer a nulidade do contrato. O risco seria ele não podendo, através de um
terceiro, conseguisse o que diretamente não pode fazer, ou seja, evitar um
conluio entre o promitente vendedor e um terceiro.
Quanto ao segundo assento: Se o promitente vendedor não pode, ele poderia
tentar inventar, criar, um litígio relacionado com este contrato promessa no
tribunal para obrigar o tribunal a ter conhecimento da nulidade.

Critica da professora Mónica a estes assentos:


No art 410.º nº3 encontramos alguma indicação que estamos perante um
regime atípico de nulidade? Não. Se estamos, é por causa dos assentos. Se
lermos o artigo 285.º vemos que existe possibilidade de um regime especial,
mas ele não está previsto no artigo 410.º.
O Supremo viola com estes assentos o artigo 8.º do código civil porque só cabe
ao legislador criar regimes especiais, e não ao supremo, que lhe cabe aplicar a
lei.

• Um assento de 29 de novembro de 1989 (anterior aos outros dois) – este


assento tem a ver com situações em que o contrato promessa é bilateral
mas foi apenas assinado por uma das partes ou só existe o
reconhecimento de uma assinatura. Haveria aqui vicio de forma, onde o
regime em princípio seria o da nulidade. Este assento prevê: “o contrato
promessa bilateral de compra e venda de imóvel celebrado em
documento assinado apenas por um dos contraentes é nulo mas pode
considerar-se válido como contrato promessa unilateral desde que essa
tivesse sido a vontade das partes.”
Ou seja, vamos aqui ou
para a Conversão de Antunes Varela – nulidade total e o contrato
converte-se num contrato válido
ou
vamos para a redução – nulidade parcial

Artigos 292.º e 293.º


Qual a maior diferença entre a redução e a conversão?
Tem a ver com a prova. Na conversão terei de fazer prova de facto próprio
e de facto alheio, e na redução só terei de fazer prova de facto próprio.

Aplicação do n3 do 410.º
A propósito do edifício a construir → imaginem que pretendo celebrar um
contrato promessa porque pretendo comprar um terreno junto à UPT que, de
acordo com o PDM, tem viabilidade para construção, mas pretendo apenas
cultivar leguminosas. Estamos perante um prédio urbano, o edifício não está
construído, e eu pretendo plantar leguminosas. Terei de respeitar o n2 do artigo
410.º. Será que vou ter de respeitar as formalidades do n3? Estaremos aqui
perante edifício a construir? Não. Se estivermos perante edifício a construir,
teria de haver licença de construção, e não há sequer projeto aprovado, o
vendedor está apenas a vender o terreno. Não vamos para as formalidades do
nº3 se não houver intenção de construir.
Se estivermos perante um prédio misto, urbano e rustico, ai vamos ter que
seguir as formalidades do nº3, porque tem uma parte agrícola mas também
uma parte urbana edificada.

Forma com contrato-promessa com eficácia real


Consta do artigo 413.º
Não se pode atribuir eficácia real a qualquer contrato promessa.
Só se pode atribuir eficácia real quando se trate de um contrato promessa de
bens imoveis ou moveis sujeitos a registo.
Se se pretender atribuir:
• clausula expressa atribuindo eficácia real ao contrato
• O registo
Quanto à forma está no nº2 do artigo 413.º
Vamos imaginar que pretendo celebrar um contrato promessa de compra e
venda de uma fração autónoma com eficácia real- tem de ser celebrado de que
forma? Por escritura publica ou documento particular autenticado. Acontece
que celebramos o contrato promessa por documento particular com
reconhecimento das assinaturas. Este não terá eficácia real, mas não será
nulo. Porquê? Porque vale como contrato promessa com mera eficácia
obrigacional porque respeita a forma do artigo 410.º nº2 e as formalidades do
seu número 3.

Artigos 440.º e seguintes – 440.º , 441.º e 442.º


Nota: Nunca se aplica cumulativamente o artigo 440 e o artigo 441!

440.º → dos contratos promessas toda a quantia entregue corresponde a uma


antecipação do cumprimento e só terá carater de sinal se estiver
expressamente previsto.

441.º → (contrato promessa de compra e venda, só se aplica este artigo) – a


quantia entregue, para além de ser uma antecipação do cumprimento,
presume-se que também tem caráter de sinal, ou seja, não é preciso que esteja
expressamente previsto.

Funções da quantia entregue:


1º Função: antecipação do cumprimento
2º Função: é a prova da celebração do contrato promessa
3º Função: poderá corresponder a um sinal (nos termos do 441.º)
O que é um sinal? É uma cláusula penal, e esta está prevista no artigo
810.º. É uma clausula em que as partes previamente definem o
montante da indemnização em caso de incumprimento

442.º → até 1980, havendo sinal, se houvesse incumprimento por parte do


promitente vendedor, ele tem de entregar ao promitente comprador fiel o dobro
do sinal. Se recebeu a título de sinal 10 mil euros, quando incorre em
incumprimento tem de entregar 20 mil euros. Se quem está em incumprimento
for o promitente comprador, então este fica sem o sinal entregue (dos 10 mil
euros que entregou). Nota: não há aqui nenhuma indemnização superior a
outra. O promitente vendedor devolve os 10 mil euros que não são dele, e
entrega outros 10 mil euros a título de indemnização.
Verificou-se que tínhamos empreiteiros que celebravam vários contratos
promessas de compra e venda com a entrega de um sinal e estávamos em
Portugal numa situação de grande inflação, e houve um boom no imobiliário.
Estes empreiteiros punham o sinal de 10mil euros dos contratos promessas a
render, mas como o mobiliário disparou, o que tinham prometido vender a 50
mil euros, ao fim de 3 ou 4 meses já valia muito mais, 100 mil euros. Ou seja,
acabavam por não cumprir, devolviam o sinal e vendiam os imoveis a 100 mil
euros. Ou seja, o incumprimento compensava. Como na altura não existia o
nº3 do artigo 410º, muitas vezes estes empreiteiros prometiam vender
construções clandestinas, e para não incorrer em incumprimento, tentavam a
nulidade do contrato, e nem entregavam indeminização.
Então, em 1980, criou-se neste artigo 442.º uma nova disposição:
• O valor atualizado da coisa – uma indemnização a que poderá ter direito
apenas o promitente comprador (!)
Para que este possa ter direito, em vez do dobro do sinal, o valor
atualizado da coisa, é necessário:
a) que exista sinal
b) que tenha havido tradição da coisa, ou seja, que o promitente
vendedor tenha entregado as chaves (por exemplo)
c) que tenha havido uma atualização do valor do imóvel

Como vamos calcular o valor atualizado da coisa?


Valor atual – (menos) o valor convencionado + (mais)
o sinal
(Valor 100 mil euros – 50 mil euros) + sinal de 10 mil
euros

O que aconteceu após isto? Os promitentes vendedores deixaram de efetuar a


tradição da coisa para não terem de pagar o valor atualizado da coisa
Garantia especial: se houver tradição da coisa, o promitente comprador tem
uma garantia especial, a partir do momento em que se torna credor da
devolução do sinal ou da entrega do valor atualizado da coisa, está garantido
pelo direito de retenção (art. 755.º nº1 alínea f))
Se o promitente comprador fiel optar pelo valor atualizado da coisa, estando os
pressupostos reunidos, o promitente vendedor faltoso tem um meio de defesa
para evitar o pagamento desta quantia (última parte do art. 442.º nº3):
• Pode opor-se ao exercício, oferecendo-se para cumprir – chamamos a
isto exceção de cumprimento do contrato (o que ele não fez
anteriormente, vai fazer agora, ou seja celebrar o contrato de compra e
venda, desde que não tenha até então vendido a terceiro)
“Salvo o disposto no artigo 808.º”
• O promitente vendedor pode usar este meio de defesa a menos que
estamos perante os dispostos no artigo 808.º
Este artigo prevê duas situações de incumprimento definitivo:
• 1º - haverá incumprimento definitivo quando o promitente comprador fiel
fizer a prova da perda de interesse objetiva na celebração do contrato
definitivo em data diferente daquela prevista.
Exemplo: encomendei um vestido de noiva para o meu casamento
amanhã. O vestido de noiva tinha de me ser entregue hoje, portanto. A
modista diz que só esta pronto na próxima segunda feira. Eu hoje perdi
objetivamente o interesse no vestido.
No caso de contratos promessa sobre imoveis:
Se o prazo para a celebração da escritura for um prazo imperativo
absoluto, ou seja, está previsto no contrato promessa que a escritura
tem de ser realizada no dia 27 de fevereiro, se não for realizada neste
dia o promitente comprador perde o interesse

• 2º - havia um prazo estipulado para a celebração do contrato definitivo,


mas não era um prazo imperativo, e o promitente vendedor não celebra
o contrato definitivo nessa data. Então o promitente comprador fiel
estabelece um novo prazo (prazo suplementar) para a celebração do
contrato definitivo (prazo admonitório) e o promitente vendedor volta a
não comparecer. A partir desse momento, o promitente vendedor está
perante uma situação de incumprimento definitivo, e já não se pode
oferecer para cumprir com o contrato promessa quando o promitente
comprador lhe vier exigir o valor atualizado da coisa

Há aqui uma questão!


➔ Em que momento o promitente comprador fiel pode exigir uma
indeminização a luz do artigo 442.º? poderá fazê-lo logo quando houver
mora ou terá de esperar pelo incumprimento definitivo para o fazer?
O prof Antunes varela tem uma posição: afirma que podemos acionar o art
442.º, ou seja podemos resolver tacitamente o contrato, quando existe apenas
atraso no cumprimento (simples mora). Avançou um argumento - se tivermos
de aguardar o incumprimento definitivo para exigir uma indemnização, então o
regime do art 442.º (que é um regime especial em relação ao regime especial
da responsabilidade contratual) → no regime geral da responsabilidade
contratual só podemos resolver o contrato em situações de incumprimento
definitivo, e sendo o 442.º um regime especial, então não teremos de aguardar
pelo incumprimento definitivo. Ou seja, por mero atraso do cumprimento, pode-
se resolver tacitamente o contrato, e exigir uma indemnização, seja a
devolução do sinal ou valor atualizado da coisa.
A prof acrescente outro argumento ao do Prof Antunes Varela:
Se tivéssemos de aguardar pelo incumprimento definitivo do promitente
vendedor para a acionar o regime do 442.º o que poderia acontecer é que, no
momento em que o promitente comprador viesse a exigir o valor atualizado da
coisa, o promitente vendedor, que já estava em incumprimento definitivo, não
teria o meio de defesa da exceção de cumprimento

A jurisprudência tem outra posição: os tribunais só permitem na maioria dos


casos ao promitente comprador exigir uma indemnização quando o promitente
vendedor está em incumprimento definitivo. E como é que este se explica?
Hoje em dia não há contratos promessas com tradição da coisa, ou seja, hoje
em dia não se consegue exigir o valor atualizado da coisa, de modo que eu
resolva o contrato perante a mora do promitente vendedor, ou o incumprimento
definitivo do promitente vendedor, para ele é indiferente. Se eu nunca lhe vou
exigir o valor atualizado da coisa, ele não precisa da exceção de cumprimento
do contrato.

Ainda a propósito do art 442.º


Se eventualmente não houver sinal, vamos para o regime geral da
responsabilidade contratual, e aí a indemnização vai ser calculada depois do
cálculo dos danos.

Nº3 do artigo 442.º - “em qualquer dos casos previstos no número anterior” –
sinal, dobro do sinal, valor atualizado da coisa , ou seja que pressupõe a
existência do sinal
Ou seja, perante o incumprimento (seja mora ou incumprimento definitivo) ou
exige uma indeminização à luz do art. 442.º, ou então, em alternativa, recorre à
execução especifica, prevista no artigo 830.º
De um lado, temos o art 442 que diz que havendo sinal temos a alternativa da
execução especifica.
Do outro lado, temos o art 830 nº2 que diz que o sinal afasta a possibilidade da
execução especifica.
Como se resolve esta “contradição”? Não existe contradição, o artigo 830º nº2
é uma presunção ilidível. Entende-se/ Presume-se que o sinal afasta a
execução especifica.
11/03 – Teórica
Quanto a contratos promessa de compra e venda sem eficácia real, caso o
promitente vendedor tenha vendido a terceiro, já não se pode recorrer à
execução especifica porque este já não é o titular da coisa – artigo 442.º nº1.
Há outros contratos em que não é possível a execução especifica, como o
contrato de casamento.
Como é que se afasta a presunção ilidível? → na prática, ao celebrar o
contrato-promessa, com sinal, as partes colocam uma clausula que diz respeito
ao sinal, e colocam uma segunda clausula indicando que as partes não
pretendem afastar a possibilidade de execução especifica em caso de
incumprimento contratual.

Há uma situação que foi criada em 1980 em que o regime da execução


especifica é imperativo no sentido de não poder ser afastado por
convenção das partes. Nem o sinal nem outra clausula afastará a execução
especifica
➔ Nº3 do artigo 830.º
Quando? Quando estamos no âmbito do artigo 410.º nº3, ou seja, quando as
partes tiverem celebrado um contrato promessa oneroso de transmissão de
direito real sobre edifício a construir, em construção ou construído, mesmo que
nesse contrato promessa haja sinal, o sinal não afasta a execução especifica
pelo motivo desta não poder ser afastada nestes casos por causa do nº3 do
artigo 830.º.

Se houver tradição da coisa e se o promitente comprador optar por uma


indemnização a luz do artigo 442.º, ele tem um direito de retenção, e o direito
de retenção do promitente comprador fiel está previsto no artigo 755.º nº1
alínea f)
Os pressupostos do direito de retenção estão n0 artigo 754.º (que é a regra) e
existem 3 pressupostos:
1) Ser credor
2) Estar obrigado a devolver a coisa retida
3) Que exista uma ligação direta e material entre a coisa retida e o crédito
Exemplo: entrego o meu veículo na oficina e depois tenho de pagar a
despesa, de modo que a oficina é minha credora, tem de me restituir o
automóvel, …
Quanto ao contrato promessa, o promitente comprador fiel vai exigir o dobro
do sinal. É credor do dobro do sinal. Existe uma ligação direta material entre
o dobro do sinal e a coisa? não. Este requisito em caso de contrato
promessa não está presente. Os casos do artigo 755.º são casos em que se
admite o direito de retenção mesmo não havendo este requisito do artigo
754.º.

Só terá direito de retenção o promitente comprador fiel consumidor final.


Porque é que tem sido tão discutido este direito de retenção a favor do
promitente comprador?
Imaginemos o seguinte: há 10anos atras com recurso ao crédito comprei uma
fração autónoma, e o banco exigiu uma garantia de modo que hipotecou a
fração autónoma, neste momento estou com grandes dificuldades em cumprir
com as obrigações perante o banco, de modo que corro o risco que o banco
penhoro e fique sem a fração. Então lembrei-me de celebrar hoje um contrato-
promessa de compra e venda da referida fração a favor do C, com tradição da
coisa, e o C até entrega um sinal, 50% do valor do bem. A partir do momento
em que celebro este contrato o banco não pode penhorar a coisa, só que eu
que celebrei com C tal contrato não celebro com C o contrato definitivo, de
modo que C vem exigir o dobro do sinal, e a partir do momento que C me exige
uma indemnização, nasce a favor de C um direito de retenção para garantir o
cumprimento da obrigação. Logo, passamos a ter sobre o mesmo bem duas
garantias especiais, um direito de retenção a favor de C e uma hipoteca a
favor do banco há 10 anos.
A partir do momento em que o promitente comprador passa a poder exercer
um direito de retenção, o credor hipotecário não pode executar o bem, e se
eventual o promitente comprador através do seu direito de retenção penhorar o
bem para satisfação do seu crédito, ele prevalece sobre o direito do credor
hipotecário, embora a hipoteca tenha sido constituída e registada antes da
constituição do direito de retenção. Logo o direito de retenção pode vir a
prejudicar o direito do credor hipotecário.

Só se pode atribuir eficácia real a um contrato promessa que incida sobre bem
imóvel ou movel sujeito a registo (413º).
Quando se atribui eficácia real a um contrato promessa, o promitente
comprador passa a ter um direito real de aquisição , ou seja, pode reivindicar
o bem onde ele se encontrava, de modo que vai seguir o bem. E tendo o
promitente comprador um bem real de aquisição, a execução especifica nunca
estará afastada mesmo que o promitente vendedor tenha vendido a terceiro,
pois o direito real de aquisição é mais antigo, logo prevalece.
Enquanto que um contrato promessa com mera eficácia obrigacional, mesmo
estando perante o artigo 410.º nº3 e 830.º nº3, se o bem for vendido a terceiro,
não haverá possibilidade de recorrer a execução especifica, no contrato
promessa com eficácia real não se afasta a execução especifica devido ao
promitente comprador tenha um direito real de aquisição.
No caso de um contrato promessa com mera eficácia obrigacional, se o
promitente vendedor tenha vendido a terceiro, só pode exigir uma
indeminização ao promitente vendedor faltoso e ao terceiro, através da teoria
do terceiro cúmplice, que é uma exceção a teoria da relatividade dos contratos.
O promitente comprador vai tentar provar que o terceiro adquirente tinha
conhecimento do contrato promessa e com consciência instigou o promitente
vendedor a não celebrar o contrato definitivo com o promitente comprador –
442.º e 490.º
798.º e 562.º e seguintes, vai poder também exigir uma indeminização ao
terceiro de acordo com a teoria do terceiro cúmplice, artigo 490.º

Pacto de Preferência
414.º e seguintes.
O que é? É um contrato pelo qual uma pessoa se obriga, querendo celebrar um
outro contrato, a fazê-lo preferencialmente com a outra parte do pacto,
conferindo à outra parte as mesmas condições que conferiria a um interessado
qualquer.
Temos uma terminologia especifica: o preferente e o obrigado á preferência.
O preferente é a pessoa que tem o direito de celebrar preferencialmente o
contrato; o obrigado à preferência é a pessoa que, querendo celebrar esse
contrato, o devera fazer preferencialmente a favor do preferente.
Nesta definição do 414.º o legislador parece dizer que só se podem celebrar
pactos de preferência de compra e venda → esta ideia está errada
Ex: eu hoje celebrava um pacto de preferência de compra e venda com a
professora, de modo que se eu um dia decidir vender a minha fração
autónoma, darei preferência á professora
O legislador apenas faz referência à compra e venda, mas, nos termos do
artigo 423.º, o pacto de preferência pode-se estender a outros contratos que
não a venda.
Se eu celebrar com alguém um contrato de preferência de empreitada, estou a
dizer que no dia em que eu quiser celebrar um contrato de empreitada darei
preferência àquela pessoa.
Num pacto de preferência temos um obrigado à preferência que se vincula a
preferir o outro. O preferente não está vinculado a exercer o seu direito de
preferência, não está vinculado a preferir sobre alguém, isto significa que ele
aceita o pacto, terá um direito de preferência que exerce, ou não, mais tarde. O
contrato de preferência será então um contrato unilateral.
Ex: a doutora celebrou connosco um pacto de preferência de venda fração
autónoma. Se um dia a doutora decidir vender a fração autónoma, nós
podemos decidir. Isto foi há dois anos, e hoje a doutora diz que quer vender
agora por 100 mil euros, escritura publica, pronto pagamento e transferência da
propriedade. Pergunta-nos se estamos interessados e dizemos que sim.
Estamos a exercer um direito de preferência? → não. Uma pessoa prefere
sobre alguém, sobre um terceiro, de modo que teria de haver um terceiro
interessado para estarmos a exercer o direito de preferência.

Temos duas modalidades de preferência:


Preferências legais: derivam diretamente da lei e são sempre preferências
reais, com eficácia real. Ex: o arrendatário, a fim de determinado prazo, passa
a ter uma preferência real sobre a fração autónoma; em direito das sucessões,
se um co-herdeiro decidir alienar a sua quota na herança, os demais co-
herdeiros tem uma preferência na aquisição da quota; relativamente a prédios
rústicos confinantes, se eu for proprietária de um prédio rustico e decidir vender
a terceiro, o meu vizinho tem uma preferência na aquisição do prédio rustico
por ser confinante;
Preferências convencionais: derivam de um pacto de preferência, da sua
celebração. Os pactos de preferência podem ser obrigacionais ou reais. 421.º
(remete para o 413.º).

Estes artigos 414.º e seguintes (até ao 423.º) tem a ver com pactos de
preferência, ou seja, com preferências convencionais. Este regime também se
aplica as preferências reais, com as devidas aplicações.
Forma do artigo 415.º → qual é a regra quanto á forma? É a da liberdade
forma.
O pacto de preferência só terá de ser formal se se aplicar segundo este
artigo as regras do artigo 410.º nº2.
Se estivermos perante um pacto de preferência, teremos de verificar se a lei
exige para o contrato definitivo uma forma especial. → documento escrito e
assinado pelo obrigado à preferência (pois é um contrato unilateral).
Não teremos que respeitar as formalidades do 410.º nº3 para o pacto de
preferência de uma fração autónoma? → não porque o artigo 415.º apenas
remete para o nº2 do 410.º.
Tratando-se de um pacto de preferência com eficácia real – o artigo 421.º
remete para o artigo 413.º, ou seja, só podemos atribuir eficácia real a um
pacto de preferência se ele incidir sobre um imóvel ou movel sujeito a registo
Quando se atribui eficácia real ao pacto, o pacto tem de ser assinado por
ambas as partes, porque ambas as partes decidem atribuir eficácia real ao
pacto.
Nos termos do artigo 420.º, os direitos do preferente e as obrigações do
obrigado à preferência não sejam transmissíveis, nem por mortis causa nem
em vida.
Nos contratos-promessa (art. 412.º) pode haver transmissões.

Processo de execução do pacto de preferência:


Tomei a decisão de celebrar o contrato definitivo, e nessa medida, quais são as
obrigações do preferente: artigo 416.º nº1
1º o obrigado à preferência que decidiu celebrar o contrato definitivo deverá
comunicar ao preferente o seu projeto (de venda, de empreitada, etc)
2º a lei impõe que o obrigado à preferência identifique as clausulas essenciais
do negocio jurídico que ele pretende iniciar
O preferente tem 8 dias para tomar uma decisão (prazo supletivo) ou então um
prazo mais curto ou maior caso tenham as partes convencionado um prazo
diferente desse. (416.º nº2)
Há aqui um aspeto que não está previsto neste artigo e a doutrina está dividida:
saber se não deverá também o obrigado á preferência comunicar ao preferente
a identidade do terceiro. Há quem considera que, não estando prevista a
exigência, não será exigida a identidade do terceiro; há quem defenda que, se
estiver em causa relações comerciais o obrigado a preferência deverá
comunicar a identidade do terceiro à preferência; há quem defenda que deve
ser sempre comunicado independentemente do tipo de relação pois é um
critério essencial para que o preferente possa ou não, em consciência, exercer
o seu direito de preferente
Na medida desta ultima ideia:
Ex: Numa fração autónoma, há muitos anos atras, teriam vivido uns bisavós
meus, por razoes de partilha esse imóvel saiu da família mas eu gostaria que o
bem voltasse para a família. Isto não é uma relação comercial. Se eu soubesse
a identidade de um terceiro, imaginando que seria um primo meu, eu não faria
esforços para exercer o meu direito de preferência. Mas, se o terceiro fosse um
estranho, eu já moveria mundos e fundos para exercer o meu direito de
preferência.
Há outro argumento: uma pessoa prefere sobre alguém. Se eu não souber a
identidade do terceiro, quem me garante que existe efetivamente um terceiro?
Poderia ter sido uma forma do obrigado à preferência vender-nos o bem em
certas condições.

Continuando o regime do pacto de preferência:


Estes artigos vão resolver problemas:
Artigo 417.º , artigo 418.º e artigo 419.º

Artigo 417.º → alguém tem um direito de preferência relativamente a


determinado bem, e o obrigado á preferência decide vender, arrendar, esse
bem juntamente com outros. Ex: alguém é proprietário de um prédio que esta
totalmente devoluto menos um fração, onde eu moro. O proprietário decide, em
vez de vender as frações separadas, decide vender o prédio. Coloca-se a
questão de sobre que bem é que vou exercer o meu direito de preferência. O
artigo 417.º decide que, se o obrigado a preferência (proprietário) fizer a prova
de que a venda fração a fração lhe trará graves prejuízos, venderá o conjunto e
eu terei que exercer um direito de preferência sobre o prédio, sobre o conjunto.
Se o obrigado à preferência não conseguir fazer a prova de que a venda do
prédio sem a minha fração lhe causa prejuízos, ele terá de vender a minha
fração desintegrada do todo para que eu possa exercer o meu direito de
preferência apenas sobre a minha fração.
Artigo 418.º → há um terceiro interessado em celebrar o contrato definitivo, só
que apresenta como contraprestação uma prestação infungível (ex: compra e
venda de uma fração autónoma e o terceiro está interessado em comprar a
fração autónoma pela entrega de um quadro de Picasso ou comprometendo.se
a retratar o proprietário, sendo este terceiro a Paula Rego). Coloca-se a
questão, como é que o preferente exerce o seu direito de preferência? De que
forma o artigo 418 resolve – se a prestação infungível for convertível em
dinheiro, o preferente poderá exercer o seu direito de preferência por esse
valor. Se a prestação infungível não for convertível em dinheiro então nesse
caso, em principio, o preferente perde o seu direito de preferência, a menos
que o preferente consiga fazer a prova que o obrigado à preferência e
terceiro decidiram por esta prestação infungível e não convertível em
dinheiro para afastar o direito de preferência do preferente. Provando-se, o
tribunal vai estabelecer, fixar, o valor, de modo a que o preferente possa
exercer o seu direito de preferência.
Artigo 419.º → trata-se aqui de situações em que há mais do que um preferente
sobre o mesmo bem. E isto ocorre frequentemente nas preferências legais, e
por regra os vários preferentes estão em pé de igualdade. Assim, como é que
vamos resolver um eventual conflito em que mais do que um preferente
pretende exercer o seu direito de preferência? Imaginando que o prédio não
está devoluto, todas as frações autónomas estão ocupadas. Todos os
arrendatários tem preferência na compra do prédio. Imaginemos que a maior
parte dos arrendatários preferentes não pretendem exercer o direito de
preferência, mas há dois que estão interessados. O terceiro ofereceu um
milhão, e esses dois interessados também querem. Se houver dois preferentes
interessados a preferir, vamos para uma licitação, ou seja, aquele que
oferecer mais afasta os outros.

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