Silva, 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO

DEPARTAMENTO DE MEDICINA VETERINÁRIA

ESTÁGIO SUPERVISIONADO OBRIGATÓRIO


ÁREA: NEUROLOGIA VETERINÁRIA E CLÍNICA MÉDICA VETERINÁRIA

Izabela Ferreira e Silva

Recife, 2018
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO
DEPARTAMENTO DE MEDICINA VETERINÁRIA

RELATÓRIO DA DISCIPLINA MVE 01N.040.15-ESO


ESTÁGIO SUPERVISIONADO OBRIGATÓRIO (ESO)
TÍTULO: SHUNT PORTOSSISTÊMICO CONGÊNITO EXTRA-HEPÁTICO COMO
CAUSA DE ENCEFALOPATIA EM CÃO-RELATO DE CASO E REVISÃO
DELITERATURA

Trabalho de Conclusão de Curso realizado


como exigência para a obtenção do grau de
Bacharel em Medicina Veterinária, sob
orientação da Profª. Drª. Evilda Rodrigues
de Lima e supervisão do Prof º. Drº
Rogério Martins Amorim e da Médica
Veterinária Drª. Vilma Ferreira de
Oliveira.

Recife, 2018
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO
DEPARTAMENTO DE MEDICINA VETERINÁRIA

RELATÓRIO DA DISCIPLINA MVE 01N.040.15-ESO


ESTÁGIO SUPERVISIONADO OBRIGATÓRIO (ESO)
TÍTULO: SHUNT PORTOSSISTÊMICO CONGÊNITO EXTRA-HEPÁTICO COMO
CAUSA DE ENCEFALOPATIA EM CÃO-RELATO DE CASO E REVISÃO
DELITERATURA

Relatório elaborado por


IZABELA FERREIRA E SILVA

Aprovado em ______/_______/_______

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________
Profª. Drª. Evilda Rodrigues de Lima
Departamento de Medicina Veterinária da UFRPE

_____________________________________
Profª. Drª. Edna Michelly de Sá Santos
Departamento de Medicina Veterinária da UFRPE

_______________________________________________
Médica Veterinária Terezinha Carla Carvalho da Silva
Mestranda do Departamento de Medicina Veterinária da UFRPE

______________________________________________
Profº. Drº. Aderaldo Alexandrino de Freitas
Departamento de Medicina Veterinária da UFRPE
FOLHA DE IDENTIFICAÇÃO

Local de estágio 1: Hospital Veterinário da Faculdade de Medicina Veterinária e


Zootecnia da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, campus de
Rubião, em Botucatu-SP.
Área: Neurologia Veterinária
Carga horária cumprida: 336 horas
Período da realização do estágio: 02/04/2018 à 30/05/2018
Orientadora: Prof ª. Drª. Evilda Rodrigues de Lima
Supervisor: Profº. Drº. Rogério Martins Amorim

Local de estágio 2: Hospital Veterinário da Escola de Veterinária e Zootecnia da


Universidade Federal de Goiás, campus de Samambaia, em Goiânia-GO.
Área: Clínica e Cirurgia de Pequenos Animais
Carga horária cumprida: 160 horas
Período da realização do estágio: 07/06/2018 à 04/07/2018
Orientadora: Prof ª. Drª. Evilda Rodrigues de Lima
Supervisora: Médica Veterinária Drª. Vilma Ferreira de Oliveira
Para minha mãe, Maria do Socorro.
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente ao meuDeus, por me dar condições espirituais, mentais e


físicas e a energia vital que mantêm tudo em equilíbrio e fazem as coisas estarem em
harmonia.
A grande responsável por eu ser quem sou e estar onde estou, agradeço à minha
melhor amiga, minha mãe. Obrigada por me permitir voar tão alto, obrigada por ser
tão presente em minha vida e por ser minha mãe, agradeço eternamente por tudo. Amo
muito você!
Obrigada pai pelo seu amor e pela sua energia positiva, sempre me dizendo que tudo
iria dar certo e que eu conseguiria. Essa conquista também é sua.
Enzoco obrigada por fazer parte da nossa família! Sua alegria e sua vozinha doce em
cada telefonema e cada encontroforam muito importantes! Eu te amo!
Nati eu amo você!
Amor, obrigada por sempre acreditar em mim, pelo apoio nas horas difíceis, por torcer
para que tudo desse certo, pela paciência e pelo carinho. A vida é melhor ao seu lado!
Obrigada Kira, Rebeca, Samanta, Leleco, Nina, Antônio, Dante, Tina, Raul, Ema, Liz,
Michone e Bento por me levarem ao encontro da Medicina Veterinária e por todo
amor, apoio e gratidão. Cada um de vocês foi único! Amo vocês e sinto saudade! Aos
animais que cruzaram o meu caminho durante as aulas, estágios e projetos,
OBRIGADA, sem vocês nada seria possível e nem teria razão!
Obrigada aos grandes amigos de fora da graduação, Viviane, Avani, Nayara, Edgar,
Sandra, Roberto, Fred e aos meus queridíssimos companheirosde vida Tina, Vitor,
Júlia, Marcela!
Aos amigos que me acolheram quando cheguei a Recife, antes mesmo de me
conhecerem, Wyrlla, Larissa, Brenda, Philipe, Thiago, Du muito obrigada por estarem
por perto sempre e pelas boas risadas! Ai de mim sem vocês!
Aos meus queridos amigos da SV3- 2013.1 obrigada por me receberem, foi muito
importante pra mim! Sorte a minha ter encontrado vocês! Obrigada a cada um! Em
especial Otávio, Karol, Lara, Laís, Mariana, Carlos e Xélen!
Agradeço a Universidade Federal Rural de Pernambuco por ser o cenário dessa
realização e por ter sido minha segunda casa em Recife. Aos funcionários que zelam
pela universidade e aos técnicos que contribuem diretamente para o nosso
aprendizado, muito obrigada!
Querida professora Evilda obrigada pelo aprendizado e pelo carinho. Você é muito
especial pra mim. Obrigada por construir esse momento comigo!
Professor Alessandro, professora Glória, professor Tudury e professora Rita sem a
orientação de vocês minha graduação seria incompleta. Obrigada!
A todos os professores, de cada semestre, OBRIGADA pela humildade e alegria em
dividir o conhecimento de vocês!
Ao Kennel Club do Estado de Pernambuco tenho muito a agradecer, obrigada pelas
oportunidades e pelo grande aprendizado em todos esses anos de estágio!
Professor Rogério, professor Bruno e professor Adilson, apesar do pouco tempo de
convivência não tenho palavras pra agradecer a oportunidade de acompanhar o
trabalho de vocês, obrigada por me acolherem e pela supervisão durante o ESO.
Aos residentes e pós-graduandos que acompanhei durante o ESO, em especial os da
área de Neurologia da UNESP-BOTUCATU, um obrigada imenso. Vocês são pessoas
incríveis, que me permitiram fechar a graduação com chave de ouro.
Agradeço a todos aqueles que de alguma forma contribuíram durante estes 5 anos!

Do fundo do meu coração, obrigada queridos!


RESUMO

O Estágio Supervisionado Obrigatório teve duração de 496 horas, compreendendo o


período entre 02 de Abril e 04 de Julho e foi realizado em duas instituições sob a
orientação da Profª. Drª. Evilda Rodrigues de Lima. No Hospital Veterinário da
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Estadual Paulista
“Júlio de Mesquita Filho” o estágio foi concentrado na área de Neurologia Veterinária,
sob supervisão do Profº. Drº. Rogério Martins Amorim e no Hospital Veterinário da
Escola de Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Goiás o estágio foi na
área de Clínica Médica Veterinária sob supervisão da Médica Veterinária Drª Vilma
Ferreira de Oliveira. Nesse período as atividades desenvolvidas foram o
acompanhamento de atendimentos clínicos gerais ou especializados, como em
neurologia, oftalmologia e dermatologia; auxiliando na realização de anamnese, exame
físico, exame neurológico e coleta de amostras biológicas; além da participação em
grupos de estudos e palestras. Este relatório tem o propósito de descrever a estrutura, o
funcionamento e as atividades realizadas nos locais de estágio, expor a casuística dos
casos acompanhados e relatar um caso clínico sobre encefalopatia decorrente de shunt
portossistêmico congênito extra-hepático diagnosticado em um paciente canino, macho,
não castrado, da raça Shih-tzu com seis meses de idade, que foi atendido no Hospital
Veterinário da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” em Maio de 2018, seguido de uma revisão
de literatura sobre o tema.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Fachada da entrada na Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita


Filho”, campus de Rubião, Botucatu-SP (A). Vista aérea da Faculdade de Medicina
Veterinária e Zootecnia da UNESP (B).........................................................................21

Figura 2- Fachada da recepção do setor de Clínica Veterinária do HV-


FMVZ/UNESP................................................................................................................22

Figura 3- Recepção do setor de Clínica Veterinária do HV-FMVZ/UNESP. Sala de


Triagem de Cirurgia (A). Sala de Triagem de Clínica (B e D). Sala de Assistência Social
(C)....................................................................................................................................22

Figura 4-Sala de Emergência do HV-FMVZ/UNESP. .................................................23


Figura 5-Sala de Fluidoterapia do HV-FMVZ/UNESP................................................23

Figura 6-Salas de atendimento das especialidades (A). Sala de Dermatologia (B). Sala
de Cardiologia (C). Sala de Neurologia (D). Sala de Nefrologia (E). Sala de
Citopatologia (F)..............................................................................................................24

Figura 7-Sala de Neurologia, evidenciando as persianas na janela e porta e o carpete


antiderrapante..................................................................................................................25

Figura 8-Sistema informatizado integrado do HV- FMVZ/UNESP.............................26

Figura 9-Fachada da Escola de Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de


Goiás, campus de Samambaia em Goiânia-GO...............................................................27

Figura 10-Fachada do Hospital Veterinário da EVZ/UFG............................................28

Figura 11-Recepção do HV-EVZ/UFG (A). Guichê de atendimentos ao público


(B)....................................................................................................................................28
Figura 12-Sala de atendimentos clínicos (A). Sala de emergência (B). Enfermaria (C).
Sala de internamento comum (E) e Sala de internamento para animais com doenças
infectocontagiosas (D).....................................................................................................29

Figura 13-Sala de emergência, evidenciando a mesa central com colchonete, as baias,


as bancadas ao redor da sala, os concentradores de oxigênio (A), o carrinho de
emergência, a incubadora, o monitor multiparamétrico (C) e o cardioversor (B e
C).....................................................................................................................................30

Figura 14- Sala de internamento comum contendo três corredores com baias e solários
(A e B). Sala de internamento para animais com doença infectocontagiosa composta por
três baias de ferro e um solário (C e D)...........................................................................30

Figura 15-Sistema informatizado integrado do HV-EVZ/UFG....................................31


Figura 16-Roteiro de anamnese utilizado no HV-FMVZ/UNESP................................33

Figura 17- Roteiro de exame físico utilizado no HV-FMVZ/UNESP...........................34

Figura 18- Roteiro de exame neurológico utilizado no HV-FMVZ/UNESP.................35

Figura 19-Laboratório de Reprodução Avançada e Terapia Celular (A), destacando


câmara de fluxo laminar, banho-maria, microscópio óptico (B), estufas e centrífuga (C).
Observação das células-tronco mesenquimais cultivadas em microscópio óptico (D),
centrifugação da solução com células-tronco (E) e células-tronco prontas para o
transplante (F)..................................................................................................................36

Figura 20- Realização do exame de eletroneuromiografia (A), introdução do eletrodo


de estimulação em região proximal (B), Determinação da distância entre o eletrodo de
estimulação e o eletrodo registrador (C) e observação dos potenciais de ação
amplificados em osciloscópio (D)...................................................................................37

Figura 21-Roteiro de anamnese e exame físico utilizados no HV-EVZ/UFG..............40


Figura 22-Tipos de shunts portossistêmicos descritos em cães e gatos. Veia porta para
veia cava caudal (A); Veia porta para veia ázigos (B); Veia gástrica esquerda para veia
cava caudal (C); Veia esplênica para veia cava caudal (D); Veia gástrica esquerda,
mesentérica cranial, mesentérica caudal ou gastroduodenal para veia cava caudal (E);
Combinação das mencionadas acima (F)........................................................................44
Figura 23- Anel constritor ameróide..............................................................................56
Figura 24-Representação da fixação da banda de celofane com clips cirúrgico...........57
Figura 25-Paciente canino, raça Shih-tzu, macho, não castrado, seis meses de idade e
1,8 kg...............................................................................................................................61
Figura 26- Demonstração de interesse pela ração oferecida..........................................62
Figura 27-Teste de reflexo a ameaça visual diminuído no olho esquerdo (A) e direito
(B). Estrabismo ventral em olho direito (C)....................................................................63
Figura 28- Testesdos reflexos dos músculos bicipital (A) e tricipital (B).....................63
Figura 29- Teste de reflexo patelar (A) e teste de reflexo do músculo gastrocnêmio
(B)....................................................................................................................................64
Figura 30-Resultado do perfil bioquímico (A) e do hemograma (B). Fonte: Arquivo
pessoal (2018)..................................................................................................................65
Figura 31-Resultado da urinálise...................................................................................65
Figura 32-Paciente no dia 24 de Maio de 2018 sem sinais clínicos de encefalopatia
hepática............................................................................................................................66
LISTA DE TABELAS

Tabela 1-Quantidade de atendimentos de acompanhados por especialidade no


HVFMVZ/UNESP...........................................................................................................38
Tabela 2-Quantidade de atendimentos de acompanhados por especialidade no HV-
EVZ/UFG........................................................................................................................41
LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1-Patologias acompanhadas durante atendimento na área de Neurologia no HV-


FMVZ/UNESP.........................................................................................................38

Gráfico 2-Patologias acompanhadas durante atendimento na área de Neurologia no HV-


EVZ/UFG.................................................................................................................41
LISTA DE QUADROS

Quadro 1-Toxinas envolvidas na fisiopatologia da encefalopatia Hepática.................47


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AB Ácidos biliares
ALT Alanina aminotransferase
bpm Batimentos por minuto
EH Encealopatia hepática
ENMG Eletroneuromiografia
ESO Estágio supervisionado obrigatório
EVZ Escola de Veterinária e Zootecnia
FA Fosfatase alcalina
FMVZ Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia
GGT Gama-glutamiltransferase
HV Hospital Veterinário
HV-EVZ/UFG Hospital Veterinário da Escola de Veterinária e Zootecnia da
Universidade Federal de Goiás
HV-FMVZ/UNESP Hospital Veterinário da Faculdade de Medicina Veterinária e
Zootecnia da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”
HVP Hipoplasia da veia porta
Kg Quilograma
mg Miligrama
mg/Dl Miligrama por decilitro
mg/Kg Miligrama por quilograma
ml Mililitro
ml/Kg Mililitro por quilograma
mpm Movimentos por minuto
ºC Graus Celsius
RM Ressonância magnética
SNC Sistema nervoso central
SPS Shunt portossistêmico
SPSEH Shunt portossistêmico extra-hepático
SPSIH Shunt portossistêmico intra-hepático
TC Tomografia computadorizada
TGI Trato gastrointestinal
UFG Universidade Federal de Goiás
UNESP Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”
VHS Vertebral heartsize
SUMÁRIO

RESUMO.................……………......….................…......................……....................….8
LISTA DE FIGURAS….......…....…...............……........................….....................……9

LISTA DE TABELAS.......……....….....…………….....…..................……………..…11

LISTA DE GRÁFICOS...................................................................................................12

LISTA DE QUADROS...................................................................................................13

LISTA DE ABREVIATURAS………..…..…..…..………….………..…..….……......14

1 INTRODUÇÃO.....................................................................................................18

2 DESCRIÇÃO DAS INSTITUIÇÕES....................................................................20

2.1 Hospital Veterinário da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia


da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”...............................20

2.1.1 Estrutura.......................................................................................20

2.1.2 Funcionamento.............................................................................26

2.2 Hospital Veterinário da Escola de Veterinária e Zootecnia da


Universidade Federal de Goiás..............................................................................27

2.2.1 Estrutura.......................................................................................27

2.2.2 Funcionamento.............................................................................31

3 ATIVIDADES REALIZADAS.............................................................................31

3.1 Hospital Veterinário da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia


da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”…….……......……31

3.1.1 Casuística.....................................................................................37

3.2 Hospital Veterinário da Escola de Veterinária e Zootecnia da


Universidade Federal de Goiás ….....……….…...................................................39

3.2.1 Casuística........................................................................................40

4 REVISÃO DE LITERATURA............................................................................42

5 RELATO DE CASO............................................…...............................................…61

5.1 Discussão……………………………………...............…..........………68
5.2 Conclusão……......…………………….....………….........…….............70

6 REFERÊNCIAS..................................................................................…………...71
18

1 INTRODUÇÃO

O estágio supervisionado obrigatório (ESO) é uma disciplina formulada com


420 horas de atividades práticas, cursada no último semestre da graduação do curso de
Medicina Veterinária. Durante essa fase o discente tem a oportunidade de aplicar na
prática o conhecimento teórico adquirido durante os anos de graduação. A possibilidade
de realização do estágio em um ambiente diferente daquele em que foi desenvolvida a
graduação permite a assimilação de diferentes condutas profissionais, sendo uma fonte
importante de aprendizagem profissional e pessoal, além de propiciar o conhecimento
de um sistema educativo e realidades universitárias distintas, do ponto de vista
estrutural e organizacional.

Durante a graduação é possível ter contato com as várias áreas que compõe o
campo de atuação do médico veterinário, como por exemplo, a clínica e cirurgia,
atividades ligadas à produção de alimentos de origem animal, área de reprodução
animal, perícia criminal (CFMV, 2018), entre outras, sendo possível ao discente
experimentá-las através de estágios, construção de projetos científicos e de extensão.
Após muitas experiências, a área escolhida para realização do ESO revela, muitas vezes,
o interesse profissional do discente por algumas dessas áreas.

A Neurologia é uma área da Medicina Veterinária que se dedica a estudar as


alterações que acometem estruturas do sistema nervoso central, encéfalo e medula
espinhal e do sistema nervoso periférico, nervos e músculos, sendo pouco praticada e
explorada pelos médicos veterinários, mas que possui alta casuística na clínica. É uma
área que vem ganhando espaço, principalmente, devido à importância dos animais
dentro do contexto familiar, levando a maior exigência dos tutores por diagnósticos e
tratamentos ade0quados. Dentre os motivos que direcionaram a escolha da área desse
estágio foi a possibilidade de aplicar os conhecimentos teóricos e práticos adquiridos
durante a graduação na área de neurologia, como também, vivenciar a conduta clínica e
a realidade dos médicos veterinários nas instituições de referência.

O Hospital Veterinário da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da


Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (HV-FMVZ/UNESP) foi
escolhido por permitir a concentração do estágio na área de neurologia e também por
sua notoriedade em atendimento neurológico clínico e capacidade diagnóstica de
afecções neurológicas, por realizar exames de diagnóstico por imagem avançados como
19

a Ressonância Magnética (RM) e a Tomografia Computadorizada (TC) coordenada


pelo Profº. Drº. Rogério Martins Amorim, que atua nas áreas de Clínica Veterinária,
Neurologia Veterinária e Terapia Celular, sendo membro da diretoria da Associação
Brasileira de Neurologia Veterinária, e considerado referência em Neurologia
Veterinária.
No Hospital Veterinário da Escola de Veterinária e Zootecnia da Universidade
Federal de Goiás (HV-EVZ/UFG) ainda que o estágio tenha sido em Clínica Médica,
sendo distribuído entre várias áreas da Medicina Veterinária, e que o hospital não
possua TC ou RM, a presença de professores neurologistas renomados, o Profº. Drº.
Bruno Benetti Torres e o Profº. Drº. Adilson Donizeti Damasceno, estabeleceu a escolha
do local para realização do ESO. Dessa forma, foi possível concretizar os objetivos e
ampliar os conhecimentos adquiridos durante a fase acadêmica.
Este relatório tem como objetivo descrever a infraestrutura e casuística dos
locais onde foi realizado o ESO e as respectivas atividades exercidas, além de conter
uma revisão de literatura baseada em um caso clínico acompanhado sobre encefalopatia
relacionada a shunt portossistêmico congênito extra-hepático diagnosticado em um
paciente canino, macho, não castrado, da raça Shih-tzu com seis meses, que foi atendido
em Maio de 2018 na sala de Neurologia do HV-FMVZ/UNESP.
20

2 DESCRIÇÃO DAS INSTITUIÇÕES

O estágio foi realizado em duas instituições, a primeira foi o Hospital


Veterinário da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, em Botucatu-SP, de 02 de abril a 30 de
maio de 2018 totalizando 336 horas, na área de Neurologia Veterinária no departamento
de clínica veterinária, sob supervisão do Profº. Drº. Rogério Martins Amorim. A
segunda instituição foi o Hospital Veterinário da Escola de Veterinária e Zootecnia da
Universidade Federal de Goiás, em Goiânia-GO, onde a permanência foi do dia 07 de
junho a 04 de julho de 2018 totalizando 160 horas, na área de Clínica Médica e Cirurgia
de Pequenos Animais, sob orientação da Médica Veterinária Drª. Vilma Ferreira de
Oliveira.

2.1 Hospital Veterinário da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da


Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”.

2.1.1 Estrutura

O HV-FMVZ/UNESP está localizado na Rua Profº. Drº. Walter Maurício


Correra, s/n, no bairro de Rubião Júnior (Figura 1). É formado pelos departamentos de
Cirurgia e Anestesiologia Veterinária que oferta serviços como Acupuntura,
Anestesiologia, Cirurgia de grandes e de pequenos animais e Oftalmologia; o
departamento de Higiene Veterinária e Saúde Pública, o qual oferece serviços de
Diagnóstico Molecular e Imunodiagnóstico aplicado às enfermidades infecciosas,
Diagnóstico Bacteriológico e Micológico, Diagnóstico de Zoonoses e atendimento de
animais com enfermidades infecciosas; o departamento de Melhoramento e Nutrição
Animal, atuando em áreas de Bioclimatologia, Forragicultura e Pastagens,
Melhoramento Genético Animal, Nutrição de monogástricos e de ruminantes.

O Departamento de Produção Animal trabalha com Apicultura, Aquicultura,


Animais Silvestres, Aves de Corte e de postura, Bovinos de Corte e Leiteiros,
Bubalinos, Caprinos, Coelhos e Animais de Biotério, Equídeos, Ovinos, Suídnos e
Sericicultura. Responsável pelas áreas de Biotecnologia da Reprodução, Diagnóstico
por Imagem (ultrassonografia, radiologia, tomografia computadorizada e ressonância
magnética), Reprodução de grandes e de pequenos animais tem-se o departamento de
Reprodução Animal e Radiologia Veterinária, e por fim o departamento de Clínica
Veterinária que oferece atendimentos nas áreas de Clínica Geral de pequenos e grandes
21

animais, Cardiologia, Dermatologia, Enfermidades Parasitárias dos Animais,


Hemoterapia, Laboratório Clínico, Nefrologia, Ornitopatologia, Patologia Veterinária,
Toxicologia e Neurologia.

Figura 1- Fachada da entrada na Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita


Filho”, campus de Rubião, Botucatu-SP (A). Vista aérea da Faculdade de Medicina
Veterinária e Zootecnia da UNESP (B). Fonte: Site Leia Notícias (2018) (A) e Site
Botucatu Online (2017) (B).

O setor de clínica veterinária voltada para o atendimento de pequenos animais


(Figura 2) é formado por uma recepção composta por um hall de espera, uma sala de
arquivos, um guichê de atendimento ao público e por uma sala de assistência social.
Ainda na recepção há uma sala de triagem clínica e uma sala de triagem cirúrgica
(Figura 3). Através de um corredor tem-se acesso à sala de atendimento emergencial
(Figura 4) e à sala de fluidoterapia (Figura 5). Comporta também três salas direcionadas
ao atendimento clínico geral e as salas de atendimentos especializados de dermatologia,
cardiologia, neurologia e nefrologia, uma sala de citologia, uma sala voltada apenas
para o atendimento de felinos e a sala de dispensa de fármacos e materiais (Figura 6).
Ainda faz parte da estrutura do setor uma cozinha, sala dos residentes e algumas salas
de professores.
22

Figura 2- Fachada da recepção do setor de Clínica


Veterinária do HV-FMVZ/UNESP. Fonte: Site Jornal
Acontece Botucatu (2016).

Figura 3- Recepção do setor de Clínica Veterinária do HV-FMVZ/UNESP.


Sala de Triagem de Cirurgia (A). Sala de Triagem de Clínica (B e D). Sala de
Assistência Social (C). Fonte: Arquivo pessoal (2018).
23

Figura 4- Sala de Emergência do HV-FMVZ/UNESP. Fonte: Arquivo pessoal (2018).

Figura 5- Sala de Fluidoterapia do HV-FMVZ/UNESP. Fonte:


Arquivo pessoal (2018).
24

Figura 6- Salas de atendimento das especialidades (A). Sala de Dermatologia (B). Sala
de Cardiologia (C). Sala de Neurologia (D). Sala de Nefrologia (E). Sala de
Citopatologia (F). Fonte: Arquivo pessoal (2018).

Todas as salas de atendimento, assim como as salas de triagem, emergência e


fluidoterapia são aparelhadas com mesa, computador, cadeira, mesa de aço inox e pia;
abastecidas diariamente com esparadrapo, papel absorvente, sabão antisséptico, água
oxigenada, álcool, éter e iodo; e é realizado o descarte do material do lixo hospitalar,
comum e da caixa coletora de materiais perfurocortantes. Em algumas salas certas
mobílias e materiais específicos são necessários, como a sala de neurologia que contém
carpete antiderrapante e persiana na janela e porta, a fim de propiciar um ambiente mais
adequado para a realização do exame neurológico (Figura 7).
25

Figura 7- Sala de Neurologia, evidenciando as persianas


najanela e porta e o carpete antiderrapante. Fonte: Arquivo
pessoal (2018).

A sala de cardiologia conta com mesas específicas para realização de


ecocardiograma e eletrocardiograma, além dos aparelhos necessários para tais exames; a
sala de dermatologia compõe-se com persiana em porta e janela, para possibilitar a
observação de alterações frente à lâmpada de Wood, microscópio óptico, lâminas e
lamínulas, além dos reagentes necessários para fixação e observação das lâminas, como
álcool e hematoxilina-eosina, respectivamente. A sala de atendimento emergencial é
composta por uma mesa de reanimação, mesas de aço inox para animais em observação,
armário com fármacos e materiais, uma incubadora, acessos para oxigenioterapia e
aquecedor. Na sala de fluidoterapia há uma bancada com colchonetes e baias térreas e
suportes para fluidoterapia e micro-ondas.

Todos os departamentos do hospital veterinário possuem um sistema de dados


informatizado que mantém seus diversos serviços interligados. Nesse sistema se
preenche o histórico, anamnese, exames solicitados e prescrições, através dele também
são realizados agendamentos de consultas e exames, solicitações internas de exames e
encaminhamentos dos animais para outros setores. Assim os dados do paciente
permanecem permanentemente registrados no sistema, tornando possível acesso ao
histórico do animal e a resultados de exames realizados anteriormente (Figura 8).
26

Figura 8- Sistema informatizado integradodo Hospital Veterinário da FMVZ/UNESP.


Fonte: Arquivo pessoal (2018).

2.1.2 Funcionamento

Os atendimentos no setor de clínica veterinária não necessitam de agendamento


prévio, exceto para algumas especialidades, como cardiologia (exames pré-cirúrgicos) e
neurologia, que funciona com atendimentos de consultas agendadas pela manhã e
atendimento dos animais triados à tarde. O atendimento é feito por ordem de chegada e
durante a semana é iniciado às 8 horas e encerra-se às 18 horas, entremeado pelo
intervalo de almoço entre as 12 e às 14 horas. Nos finais de semana e feriados o
atendimento é apenas para casos emergenciais e funciona das 8 horas às 19 horas.

Ao chegar para atendimento pela primeira vez, no guichê de atendimento, o tutor


receberá uma carteira com o número de identificação do animal sendo, posteriormente,
encaminhado para a triagem. Durante a triagem um médico veterinário residente faz
uma breve anamnese e exame físico e, por fim, encaminha o paciente para o setor de
atendimento a que necessite, podendo ser cirurgia e anestesiologia, moléstias
infecciosas, oftalmologia, reprodução, emergência ou clínica geral. No entanto, os
pacientes que são atendidos como retorno ou em consultas agendadas não são triados,
assim após o atendimento no guichê podem aguardar o chamado para consulta no hall
de espera, da mesma forma os animais que chegam em quadro emergencial, estes são
encaminhados diretamente para a sala de emergência.

Atualmente os atendimentos são realizados por uma equipe formada por doze
residentes que ficam responsáveis a cada semana por uma área, desta forma um
27

residente é responsável pela triagem, dois pela sala de emergência, um por especialidade
(atendimentos de especialidades como neurologia, cardiologia e nefrologia se dão com
auxílio de pós-graduandos da área) e os demais se revezam no atendimento de casos
clínicos gerais. Os materiais e medicamentos necessários para cada paciente são
requeridos em uma ficha de solicitação e retirados na sala de dispensa de fármacos e
materiais, sendo lançados através do sistema no orçamento do paciente. Por não
oferecer plantão noturno, após as 18 horas os animais que necessitem ficar internados
são encaminhados com carta de encaminhamento para clínicas particulares.

2.2 Hospital Veterinário da Escola de Veterinária e Zootecnia da Universidade


Federal de Goiás (EVZ-UFG).

2.2.1 Estrutura

O Hospital Veterinário faz parte do prédio da Escola de Veterinária e Zootecnia


da UFG, estando localizada na Avenida Esperança, s/n, no bairro Chácaras de Recreio
Samambaia, em Goiânia–GO (Figura 9 e 10). Os serviços oferecidos são Clínica Geral
de pequenos e grandes animais, Cirurgia de pequenos e grandes Animais, Cardiologia,
Dermatologia, Oncologia, Odontologia, Ortopedia, Oftalmologia, Neurologia,
Laboratório Clínico e de Toxicologia, Urgência e Terapia Intensiva e Radiologia e
Ultrassonografia.

Figura 9- Fachada da Escola de Veterinária e Zootecnia da Universidade


Federal de Goiás, campus de Samambaia em Goiânia-GO. Fonte: Site da
Universidade Federal de Goiás (2016).
28

Figura 10- Fachada do Hospital Veterinário da EVZ/UFG. Fonte: Site Jornal UFG
(2013).

Estruturalmente o hospital compreende uma recepção (Figura 11), com um hall


de espera, um guichê de atendimento e uma tesouraria. Ao todo são sete salas para
atendimentos clínicos, uma sala de emergência, uma sala de enfermagem, uma sala de
dispensa de medicamentos e materiais, uma sala de internamento comum e uma para
casos de doenças infectocontagiosas (Figura 12). Ainda integram o hospital, um
laboratório clínico, duas salas voltadas para diagnóstico por imagem, e o setor de
cirurgia, formado por uma sala de preparação, quatro salas de cirurgia e uma sala de
recuperação pós-cirúrgica. Fazem parte do hospital também algumas salas de
professores, sala de residentes, cozinha, centro de materiais e esterilização e setores
administrativos.

Figura 11- Recepção do HV-EVZ/UFG (A). Guichê de atendimentos ao público


(B). Fonte: Arquivo pessoal (2018).
29

Figura 12- Sala de atendimentos clínicos (A). Sala de emergência (B). Enfermaria (C).
Sala de internamento comum (E) e Sala de internamento para animais com doenças
infectocontagiosas (D). Fonte: Arquivo pessoal (2018).

Entre as sete salas de atendimento clínico, uma delas é voltada apenas para área
de oncologia e outra para cardiologia, as demais salas comportam atendimentos clínicos
gerais e atendimentos especializados, variando de acordo com uma escala semanal.
Todas as salas são equipadas com mesa, computador, cadeira, mesa de aço inox e pia,
também são guarnecidas diariamente com gaze, esparadrapo, algodão, recipientes com
álcool, éter, sabão antisséptico e água oxigenada, além de serem retirados os lixos
hospitalares, comuns e a caixa para descarte de materiais perfurocortantes.

Algumas salas apresentam materiais e mobílias específicas para seus fins, dessa
forma a sala de cardiologia apresenta mesa própria para realização de ecocardiograma e
eletrocardiograma e os aparelhos necessários para tais exames, a sala de emergência é
equipada com uma mesa de aço inox com colchonete no centro e bancadas ao redor da
sala, uma incubadora, duas baias, três concentradores portáteis de oxigênio, monitor
multiparamétrico, cardioversor bifásico (Cardioversor Life 400 Plus Futura®), carrinho
de emergência preenchido com sonda endotraqueal, laringoscópio, reanimador manual,
fármacos, seringas e agulhas, e alguns armários com materiais e medicamentos (Figura
13).
30

Figura 13-Sala de emergência, evidenciando a mesa central com colchonete, as baias, as bancadas
ao redor da sala, os concentradores de oxigênio (A), o carrinho de emergência, a incubadora, o
monitor multiparamétrico (C) e o cardioversor (B e C). Fonte: Arquivo pessoal (2018).

A sala de internamento comum possui três corredores com baias suspensas e


térreas, solários, armários para armazenamento de ração, potes de água e comida,
focinheiras, colares elizabetanos, prontuários e cobertores e a sala de internamento para
animais com doença infectocontagiosa possui três baias, um solário e armários para
armazenamento de materiais de uso exclusivo do local, para minimizar o risco de
contaminação cruzada (Figura 14). Um sistema de dados informatizado permite o
preenchimento de histórico, anamnese, exames solicitados e prescrições, também
através dele são realizados agendamento de consultas e exames e solicitações internas
de exames. Assim os dados do paciente permanecem permanentemente registrados no
sistema, tornando possível acesso ao histórico do animal (Figura 15).

Figura 14- Sala de internamento comum contendo três corredores com baias
e solários (A e B). Sala de internamento para animais com doença
infectocontagiosa composta por três baias de ferro e um solário (C e D).
Fonte: Arquivo pessoal (2018).
31

Figura 15- Sistema informatizado integrado do HV-EVZ/UFG. Fonte: Arquivo pessoal


(2018).

2.2.2 Funcionamento
Os atendimentos são iniciados às 8 horas e encerrados às 18 horas, havendo
intervalo de almoço entre 12 e 14 horas. Nos finais de semanas e feriados o atendimento
é feito através de plantão apenas para emergências e acompanhamento dos animais
internos. As consultas são agendadas, exceto os retornos e emergências, entretanto são
disponibilizadas dez vagas de atendimento não agendado (cinco pela manhã e cinco à
tarde), dessa forma o animal deve passar pela triagem, aonde será avaliado quanto ao
histórico, sinais clínicos e parâmetros vitais, e as vagas são preenchidas de acordo com a
gravidade do estado clínico de cada animal triado.

Oito médicos veterinários residentes são responsáveis pelos atendimentos, sendo


uma equipe formada por quatro residentes responsáveis pelos atendimentos clínicos,
alternando semanalmente entre o atendimento de consultas agendadas e o atendimento
dos animais triados e outra equipe com quatro residentes responsáveis pelos
procedimentos cirúrgicos. No início da rotina cada residente recebe uma bandeja
preparada com seringas, agulhas, tubos para coleta de sangue de variadas composições,
luvas, entre outros materiais necessários aos atendimentos, assim conforme utiliza pode
fazer a reposição dos materiais na sala de dispensa de medicamentos e materiais.

3 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

3.1 Hospital Veterinário da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da


Universidade Estadual Paulista (FMVZ/UNESP).
32

O estágio no Hospital Veterinário da FMVZ foi concentrado na área de


Neurologia Veterinária, no departamento de Clínica Veterinária sob a supervisão do
Profº. Drº Rogério Martins Amorim e teve duração de 336 horas.

No primeiro dia de estágio houve uma recepção pela médica veterinária


residente do segundo ano, Heloísa Nóbrega, que explicou brevemente o funcionamento
do hospital e do sistema informatizado, as atividades e responsabilidades dos estagiários
de cada área e algumas normas. Para os atendimentos os estagiários deviam vestir-se
com roupas brancas e jaleco ou blusa da roupa cirúrgica, além de portar estetoscópio,
termômetro e luvas, e no caso dos estagiários de neurologia, lanterna, martelo
ortopédico e pinças, necessários para o exame neurológico. A rotina de estágio iniciava
às 8 horas, tinha um intervalo entre 12 e 14 horas, e encerrava às 18 horas (às 19 horas
no plantão), mas por vezes se estendia um pouco além.

Durante o período de estágio foram acompanhados os residentes e pós-


graduandos responsáveis pela sala de neurologia, assim a maior parte dos atendimentos
acompanhados foi referente a patologias neurológicas. Nos dias de plantão (final de
semana e feriado) ou em que não havia atendimentos agendados ou animais com
alterações neurológicas triados, pude acompanhar os atendimentos de outras áreas,
como clínica geral, cardiologia e dermatologia.

As atividades realizadas durante o estágio compreendiam a avaliação clínica


inicial do paciente e desenvolvimento de uma anamnese detalhada de acordo com o
roteiro do sistema informatizado e que possibilitasse a compreensão do motivo da
procura por atendimento neurológico especializado, dos sinais clínicos notados por ele,
e de como e quando estes se manifestavam. Em seguida, eram realizados
questionamentos sobre cada sistema orgânico do animal, a fim de abranger sinais
clínicos negligenciados pelo tutor e que poderiam estar relacionados com a queixa
principal, ou com outra disfunção concomitante. Também eram feitas perguntas sobre
doenças apresentadas antes das manifestações atuais, o ambiente e o manejo a que era
submetido e sobre possíveis contactantes.

No exame físico avaliava-se o grau de hidratação, a coloração das mucosas,


presença de linfonodos palpáveis reativos, tempo de preenchimento capilar, frequência
cardíaca e respiratória, pulso, temperatura e glicemia. Na palpação eram identificadas
alterações da cavidade abdominal como a distensão de órgãos como baço, fígado,
33

vesícula urinária ou alças intestinais, a ocorrência de edema e ascite e avaliação da


sensibilidade da região. Através da auscultação com estetoscópio eram avaliadas as
características do sistema cardíaco e respiratório, como frequência e ritmo. Os dados
reunidos eram preenchidos no prontuário do animal no sistema (Figuras 16 e 17), em
seguida participados ao residente, quando preciso as informações do caso eram
discutidas, entre o residente, pós-graduandos e estagiários. A partir daí era
acompanhada a conduta do residente que, poderia fazer mais alguns questionamentos ao
tutor e realizar seu próprio exame físico, como julgasse necessário.

Figura 16-Roteiro de anamnese utilizado no HV-FMVZ/UNESP. Fonte: Arquivo


pessoal (2018).
34

Figura 17- Roteiro de exame físico utilizado no HV-FMVZ/UNESP. Fonte:


Arquivo pessoal (2018).

Em seguida, o exame neurológico realizado pelo residente, por vezes era


permitido que os estagiários o fizessem completamente, sob supervisão. No exame
neurológico, inicialmente, o animal era deixado à vontade para reconhecer o ambiente e,
se possível, deambular por ele. Nesta etapa era avaliado nível de consciência,
comportamento, postura, marcha e tonicidade muscular, ainda com o animal no chão,
mas o manipulando, avaliava-se as reações posturais, como propriocepção e propulsão
extensora.

Em um segundo momento com o animal sobre a mesa de aço inox, eram


avaliados bilateralmente, os pares de nervos cranianos, os reflexos medulares, o tônus
da cauda, algesia epaxial (músculos espinhais, semi-espinhal, interespinhal, longo
dorsal e multífido lombar) e função urinária e de defecação. Ao término do exame era
possível definir a localização da lesão justificada pelas alterações observadas (Figura
18).
35

Figura 18- Roteiro de exame neurológico utilizado no HV-FMVZ/UNESP. Fonte:


Arquivo pessoal (2018).

Como estagiária realizava coletas de amostras biológicas, como sangue por meio
da punção da veia jugular, cefálica ou da safena medial ou lateral; e urina através de
cateterismo uretral ou cistocentese. Efetuava ainda a entrega das amostras aos devidos
laboratórios, como o Laboratório de Enfermidades Parasitárias, Laboratório Cínico
Veterinário eLaboratório de Diagnóstico de Zoonoses. Quando necessário acompanhava
tutores e pacientes aos exames de diagnóstico por imagem, como ultrassonografia,
36

ressonância magnética e radiografia, ajudando na contenção e posicionamento adequado


do animal.

Durante o estágio pude acompanhar o projeto da Médica Veterinária e


Doutoranda Suelen Berger Baldotto sobre transplante de célula-tronco mesenquimal em
cães com sequela neurológica causada por infecção pelo vírus da cinomose. No
Laboratório de Reprodução Avançada e Terapia Celular era realizado todo o
processamento das células-tronco, desde a digestão mecânica e enzimática até sua
diferenciação, caracterização e preparação para o transplante (Figura 19).

Figura 19-Laboratório de Reprodução Avançada e Terapia Celular (A), destacando


câmara de fluxo laminar, banho-maria, microscópio óptico (B), estufas e centrífuga (C).
Observação das células-tronco mesenquimais cultivadas em microscópio óptico (D),
centrifugação da solução com células-tronco (E) e células-tronco prontas para o
transplante (F). Fonte: Arquivo pessoal (2018).

Houve também a realização do exame de eletroneuromiografia (ENMG), pela


Dra. Sandra Torelli, especialista em coluna e ENMG. O exame foi realizado em um cão
com tetraplegia flácida para diferenciar o diagnóstico entre polirradiculoneurite,
botulismo e miastenia gravis (Figura 20).
37

Figura 20-Realização do exame de eletroneuromiografia (A), introdução do eletrodo de


estimulação em região proximal (B), Determinação da distância entre o eletrodo de estimulação e
o eletrodo registrador (C) e observação dos potenciais de ação amplificados em osciloscópio (D).
Fonte: Arquivo pessoal (2018).

Ocorreram de Neurologia com discussões sobre os casos clínicos atendidos, nas


terças-feiras às 19 horas, sobre coordenação do profº Rogério Martins Amorim e que
reunia os residentes dos diversos departamentos. Aconteceram algumas palestras como
o “I Miniciclo de Casos e Condutas de Rotina Clínica Médica de Pequenos Animais”,
“Mitos e Verdades na Nutrição de Cães e Gatos”, “Obesidade em Cães e Gatos”,
“Principais afecções de Caninos e Felinos Neonatos” e “Miniciclo de Terapêutica
Antimicrobiana”.

3.1.1 Casuística

Durante o estágio no HV-FMVZ/UNESP foram acompanhados 99 atendimentos,


sendo o estágio realizado unicamente na área de Neurologia, 77,78% dos atendimentos
foram neurológicos, somado aos atendimentos de emergência neurológica totalizaram
81,82%. Mas devido aos atendimentos nos plantões foram acompanhados casos de
outras áreas (Tabela 1).
38

Tabela 1-Quantidade de atendimentos de acompanhados por especialidade no


HVFMVZ/UNESP.

Nº de atendimentos
Especialidade acompanhados

Clínica Médica 11

Emergência 07

Emergência- Neurologia 04

Neurologia 77

Total 99

Crise epiléptica foi a afecção mais atendida na área de Neurologia, perfazendo


45,45% dos casos acompanhados, seguida por 14,25% de alterações neurológicas
causadas por agentes infecciosos conhecidos, como cinomose, toxoplasmose e
hemoparasitoses e 7,79% de lesões medulares (Gráfico 1). Quanto à espécie, 86
pacientes foram cães e 13gatos. Dos cães atendidos 38 eram machos e 48 fêmeas. Entre
os gatos 6 eram machos e 7 fêmeas.

Gráfico 1- Patologias acompanhadas durante atendimento na área de Neurologia no


HV-FMVZ/UNESP.
Crise Epiléptica

Causa infecciosa conhecida

Lesão medular

Cegueira súbita
2
3
3 2 Disfunção cognitiva do cão senil
1
4
1 4 35 Disfonia
1 Doença do acúmulo lisossomal

1 6 Meningoencefalite de origem
1 desconhecida
2 11
Miastenia gravis

Paralisia facial

Causa metabólica conhecida

Neoplasia

Polirradiculoneurite
39

3.2 Hospital Veterinário da Escola de Veterinária e Zootecnia da Universidade


Federal de Goiás (EVZ-UFG).

O estágio no Hospital Veterinário da EVZ foi realizado na área de Clínica


Médica Veterinária, sob a supervisão da Médica Veterinária Drª Vilma Ferreira de
Oliveira e teve duração de 160 horas.

No primeiro dia de estágio houve a recepção pelo coordenador dos estagiários


Profº. Me. Sandro de Melo Braga, o qual explicou sobre o funcionamento do hospital e
o sistema de rodízio dos estagiários nas diferentes áreas do hospital. Para os
atendimentos clínicos, acompanhamento da emergência e internamentos os estagiários
deviam vestir-se com roupas e calçados brancos e jaleco, além de portar estetoscópio,
termômetro e luvas. Na área de cirurgia a vestimenta era composta por roupa cirúrgica,
calçado de plástico estilo crocs®, touca e máscaras, além de estetoscópio e termômetro.
A rotina de estágio iniciava às 8 horas, tinha um intervalo entre 12 e 14 horas, e
encerrava às 18 horas.

A escala de rodízio organizava a distribuição semanal dos estagiários entre o


atendimento clínico, a emergência, o internamento e a cirurgia, no entanto com a
permissão do Profº. Me.Sandro de Melo Braga pude concentrar o estágio na área de
clínica, acompanhando os atendimentos clínicos, a rotina da emergência e do
internamento.

Durante o estágio houve o acompanhamento dos médicos veterinários residentes


em atendimentos clínicos gerais e na emergência, os médicos veterinários técnicos do
hospital em atendimento de oncologia, dermatologia, ortopedia e no internamento e
alguns professores em atendimentos de neurologia e oftalmologia.

As funções desempenhadas foram auxílio durante os atendimentos clínicos


através da realização da anamnese e do exame físico seguindo roteiro presente no
sistema informatizado (Figura 21), composto por avaliação do estado mental do
paciente, grau de desidratação, o tempo de preenchimento capilar, coloração das
mucosas, pulso, auscultação cardíaca e pulmonar a fim de determinar as frequências e
características dos sons auscultados, avaliação abdominal, de pele e anexos e
ponderações sobre o sistema neurológico e ortopédico. Durante os atendimentos
clínicos foram realizadas coletas de amostras biológicas para exames diagnósticos
complementares, como sangue, urina e secreção otológica.
40

Figura 21-Roteiro de anamnese e exame físico utilizados no HV-EVZ/UFG. Fonte:


Arquivo pessoal (2018).

Na emergência, como estagiária, contribui reabastecendo e organizando os


armários de fármacos e materiais, participando de procedimentos de
reanimação cardiorrespiratória, auxiliando na preparação e organização das medicações
e materiais necessários, e realizando a monitoração dos pacientes refazendo a cada hora
a avaliação dos parâmetros vitais, como temperatura, pressão, glicemia e coleta de
amostras biológicas para realização de exames.

No setor de internamento as atividades desenvolvidas foram de monitoração,


higienização e alimentação dos pacientes internos, além de organizar e identificar as
medicações diárias de cada animal, e separação destas em caixas acrílicas identificadas
com o nome do paciente. Ainda participando na contenção e posicionamento dos
pacientes durante exames de diagnóstico por imagem, como ultrassonografia e
radiografia.

Nas manhãs das sextas-feiras participava do grupo de apresentação e discussão


de casos clínicos e cirúrgicos dos residentes, com temas como “Ultrassonografia de
linfonodos mesentéricos: aspectos anatômicos” e “Diagnóstico de leptospirose”.
Também ocorreu participação em grupos de estudos que aconteciam em diferentes dias
da semana entre as 12 horas e 14 horas, como o Grupo de Estudos em Cirurgia de
Pequenos Animais, Grupo de Estudo em Felinos e Núcleo de Estudos em Neurologia
Veterinária.

3.2.1 Casuística
41

O estágio no Hospital Veterinários da EVZ/UFG foi na área de Clínica Médica e


totalizou 53 atendimentos acompanhados, destes 69,81% foi em Clínica Médica Geral,
13,21% em emergência e 16,98% em neurologia. Entre os 46 caninos atendidos 26 eram
fêmeas e 20 machos, dos 6 felinos 3 eram machos e 3 fêmeas e 1 ovino macho.

Tabela 2- Quantidade de atendimentos de acompanhados por especialidade no HV-


EVZ/UFG.

Nº de atendimentos
Especialidade acompanhados

Clínica Médica 37

Emergência 7

Neurologia 9

Total 53

Dentre os nove casos acompanhados durante os atendimentos de Neurologia no


HV-EVZ/UFG, sete deles foram referente a crises epilépticas, um caso de cinomose
acompanhado na sala de emergência, um caso de discoespondilite e um caso ortopédico
de displasia coxofemoral e luxação de patela bilateral, que foi encaminhado
erroneamente para a área de Neurologia.

Gráfico 2- Patologias acompanhadas durante atendimento na área de Neurologia no


HV-EVZ/UFG.

1
1 Crise epilética
Discoespondilite
Cinomose
7
42

4 REVISÃO DE LITERATURA

Função e Anatomia do Fígado

O fígado é a maior glândula do organismo animal e desempenha importante


função na homeostasia de vários processos biológicos. Exerce funções como
metabolismo de gorduras, carboidratos, proteínas, vitaminas e hormônios; excreção de
toxinas e fármacos; produção e eliminação de bile e filtração de múltiplas substâncias
consideradas neurotóxicas que são absorvidas através do trato gastrointestinal. Exerce
ainda funções hematopoiéticas e imunitárias, como produção de enzimas e fatores de
coagulação, armazenamento de ferro, vitaminas e glicogênio, entre outras (SISSON,
1986; WEBSTER, 2005).

Localizado na porção intratorácica da cavidade abdominal, imediatamente atrás


do diafragma, com a maior parte localizada do lado direito, o fígado divide-se em seis
lobos: medial direito, lateral direito, medial esquerdo, lateral esquerdo, quadrado e lobo
caudado, este formado pelos processos caudado e papilar. Entre os lobos quadrado e
medial direito encontra-se a vesícula biliar. A fissura transversal na superfície ventral do
fígado, chamada hilo hepático, é por onde ingressam e emergem a veia porta, a artéria
hepática, o ducto biliar principal e os vasos linfáticos (WEBSTER, 2005).

A veia porta forma-se da união das veias mesentéricas cranial e caudal e fornece
80% do sangue e 50% do oxigênio ao fígado, sendo o restante fornecido através da
artéria hepática (ETTINGER e FELDMAN, 2010; EVANS e LAHUNTA, 2013).
Confluem à veia porta a veia mesentérica cranial; os vasos mesentéricos do intestino
delgado; a veia mesentérica caudal do cólon e do reto proximal; a veia esplênica do
baço; a veia gástrica esquerda do estômago e a veia gastroduodenaldo pâncreas,
duodeno e estômago (ETTINGER e FELDMAN, 2010; JOHNSTON e TOBIAS, 2018).

Embriologia

O sistema venoso da cavidade abdominal forma-se a partir das veias umbilical,


vitelina e cardinal caudal. Os segmentos centrais dos vasos vitelinos originam um plexo
que formará os sinusóides hepáticos e o segmento cranial direito forma a porção
hepática da veia cava caudal. Posteriormente formam-se duas anastomoses entre os
segmentos caudais esquerdos e direitos das veias vitelinas, uma porção destas
anastomoses e os seus vasos vitelinos associados atrofiam e formam a veia porta
(ETTINGER e FELDMAN, 2010; JOHNSTON e TOBIAS, 2018). O par de veias
43

umbilicais que transporta sangue do alantóide para o seio venoso subdivide-se em


cranial, intermediário e caudal. Os segmentos cranial e caudal direito atrofiam enquanto
o segmento intermediário contribui para a formação dos sinusóides hepáticos
(JOHNSTON e TOBIAS, 2018; McGEADY et al., 2017).

A veia umbilical esquerda é a única que transporta sangue da placenta para o


fígado do embrião, sendo parte deste sangue oxigenado transportado para os sinusóides
hepáticos e a grande maioria levada diretamente para o coração através do ducto
venoso, que é um desvio entre a veia umbilical esquerda e o segmento cranial da veia
vitelina direita (JOHNSTON e TOBIAS, 2018; McGEADY et al., 2017). Após o
nascimento, a veia umbilical esquerda e o ducto venoso são obliterados e formam o
ligamento redondo e o ligamento venoso, respectivamente (SADLER, 2010). No tronco
embriológico, desenvolvem-se três pares de veias cardinais: cardinal caudal, subcardinal
e supracardinal. A veia cava caudal surge da atrofia e anastomose da veia vitelina
direita, das veias cardinais caudais e supracardinais. A veia ázigos, por sua vez, surge da
atrofia e anastomose das veias supracardinais (McGEADY et al., 2017).

Shunt Portossistêmico

O shunt portossistêmico (SPS) ou desvio portossistêmico é a anomalia


circulatória hepática mais comum em cães. Refere-se a uma conexão anormal entre a
circulação portal e sistêmica, desta forma, o sangue proveniente de órgãos abdominais
que deveria ser drenado pela veia porta em direção ao fígado, é desviado através de um
vaso anômalo, e flui parcialmente para outra veia de grande importância atingindo a
circulação sistêmica (FOSSUM, 2006). Deste modo, as substâncias tóxicas absorvidas
pelos intestinos e importantes substâncias hepatotróficas provenientes do pâncreas e dos
intestinos são enviadas diretamente para essa circulação, sem passar pelo fígado. Esse
decréscimo do fluxo sanguíneo hepático vai resultar em atrofia e subsequente disfunção
do fígado, diminuindo cada vez mais o metabolismo hepático das toxinas intestinais que
irão se acumular no sangue (DEWEY, 2006; BUNCH, 2010).

Classificação

O SPSpode ser congênito ou adquirido. OSPS congênitogeralmente é único, ou


seja, apenas um vaso anômalo (raramente dois ou mais) liga a circulação portal à
circulação sistêmica. Este vaso pode ser externo ao parênquima hepático, recebendo o
nome de extra-hepático (SPSEH), ou estar dentro do parênquima hepático, sendo
44

denominado intra-hepático (SPSIH), (BERENT e TOBIAS, 2009; JOHNSTON e


TOBIAS, 2018).

Inicialmente, SPSEH congênitos eram categorizados apenas em portoázigos ou


portocaval, mas a evolução de novas técnicas de diagnóstico por imagem permitiu uma
classificação mais específica (MANKIN, 2009). Assim foram descritos diversos tipos
de SPSEH congênitos (Figura 22), denominados: da veia porta para veia cava caudal, da
veia porta para veia ázigos, da veia gástrica esquerda para veia cava caudal, da veia
esplênica para veia cava caudal, da veia mesentérica cranial, caudal ou gastroduodenal
para veia cava caudal e combinações entre elas (FOSSUM et al., 2013).

Figura 22- Tipos de shunts portossistêmicos descritos em cães e gatos. Veia porta para
veia cava caudal (A); Veia porta para veia ázigos (B); Veia gástrica esquerda para veia
cava caudal (C); Veia esplênica para veia cava caudal (D); Veia gástrica esquerda,
mesentérica cranial, mesentérica caudal ou gastroduodenal para veia cava caudal (E);
Combinação das mencionadas acima (F). Fonte: Fossum et al., (2013).
45

O SPS adquirido ocorre devido uma disfunção primária que cause hipertensão portal
crônica, como fibrose do parênquima hepático e hipoplasia da veia porta (HVP). Estes
são geralmente constituídos por vasos pequenos, múltiplos e tortuosos, formando um
complexo de “válvulas de alívio” (BERENT e TOBIAS, 2009; ETTINGER e
FELDMAN, 2010; JOHNSTON e TOBIAS, 2018).

Epidemiologia

Em torno de 90% dos cães de raça grande com SPS desenvolvem o SPS
intra-hepático, enquanto 93% dos cães de raça pequena apresentamo SPS extra-hepático
(PAEPE et al., 2007). Em um estudo realizado com Yorkshire Terriers para determinar
a hereditariedade do SPS, foi encontrado que a probabilidade de um cão desta raça
transmitir aos descendentes era 35,9 vezes maior do que todas as outras raças juntas.
Supõe-se que seja porque os primeiros sofrerão de erros genéticos programados,
enquanto que os SPS em cães de raças menos predispostas serão fruto de erros
aleatórios na embriogênese. Mas esse processo da hereditariedade do SPS ainda não é
conhecido completamente (HUNT, 2004; TOBIAS e ROHRBACH, 2003; WINKLER
et al., 2003). Cães das raças Yorkshire Terrier, Maltês, Pug, Schnauzer miniatura,
Dachshund e Pastor Alemão são relatados com maior predisposição para SPS (HUNT,
2004; PAEPE et al., 2007; TOBIAS e ROHRBACH, 2003).

A idade em que aparecem os sinais clínicos varia de acordo com o tipo de SPS
apresentado. Animais com SPS congênito em sua maioria apresentam sintomatologia
antes de completarem um ano de idade, já o SPS adquirido por se desenvolver
geralmente em animais adultos os sinais clínicos serão comumente vistos na fase
adultaesenil. Grande parte dos cães com SPSIH tendem a apresentar sinais clínicos
ainda jovens, enquanto cães com SPSEH tendem a apresentar a sintomatologia já em
idade adulta, existindo casos diagnosticados em animais com 13 anos (ADAM et al.,
2012; FOSSUM et al., 2013; PAEPE et al., 2007). Em relação ao gênero, parece não
existir relação entre o desenvolvimento de SPS e o gênero do animal (PAEPE et al.,
2007).

Fisiopatologia

Devido às inúmeras funções desempenhadas pelo fígado os achados clínicos e


laboratoriais são variados (SHERDING, 2006; STURGESS, 2012). Para que o fígado
exerça corretamente a sua função é necessário que, através do fluxo sanguíneo,
46

cheguem aos hepatócitos hormônios, toxinas e outras substâncias, e em um animal com


SPS parte do fluxo portal é desviado, o que limita a função hepática. O quadro
neurológico e comportamental resultante desta alteração é chamado de síndrome de
encefalopatia hepática (EH) (HOLT, 1994).

Encefalopatia Hepática

A EH é definida como um conjunto de sinais de estado mental anormal e


alteração neurológica em cães com doença hepatobiliar grave, sendo consequência da
exposição do córtex cerebral as toxinas intestinais que não são corretamente absorvidas
e metabolizadas pelo fígado. É um distúrbio metabólico, portanto potencialmente
reversível (NELSON e COUTO, 2009). A maioria dos sinais clínicos em pacientes com
SPS é causada pela síndrome de EH, que ocorre quando há perda de mais de 70% da
função hepática. Quando o fígado perde a sua função perde a sua capacidade de síntese
e destoxificação do sangue, consequentemente acumulam-se substâncias tóxicas na
circulação sistêmica que alteram a função do sistema nervoso central (SNC). Grande
parte da patogenia da EH é desconhecida devido à sua complexidade, tanto em
Medicina Veterinária como em Medicina Humana (JOHNSTON e TOBIAS, 2018).

Existem várias substâncias cuja concentração na circulação sistêmica se


encontrará aumentada quando a função hepática estiver comprometida (Quadro 1)
(BERENT e TOBIAS, 2009; JOHNSTON e TOBIAS, 2018). Grande parte das
alterações neurológicas está ligada ao aumento da concentração de amônia na circulação
sistêmica. Produzida no trato gastrointestinal (TGI), a amônia é um produto do
metabolismo bacteriano de proteínas provenientes da alimentação, e deveria chegar ao
fígado através do sistema portal e ser metabolizada no ciclo da uréia (MONNET, 2013).
No entanto, a gravidade da EH não é proporcional aos níveis sanguíneos de amônia,
sugerindo que outros fatores e neurotoxinas também sejam importantes na sua
fisiopatologia, como o edema cerebral, elementos como zinco e manganês. As
principais lesões são geralmente associadas aos astrócitos. (BERENT e TOBIAS, 2009).

No SNC não ocorre o ciclo da uréia, desta forma os astrócitos metabolizam a


amônia através da transaminação do glutamato, produzindo glutamina pela ação da
enzima glutamina sintetase. Por sua vez, a glutamina utiliza o mesmo mecanismo de
transporte que o triptofano, desta forma, assim como em humanos, em animais com SPS
estas substâncias encontram-se aumentadas no líquido cefalorraquidiano e acredita-se
47

que contribuam para as alterações neurológicas da EH (HOLT et al., 2002; PAEPE et


al., 2007).

Quadro 1- Toxinas envolvidas na fisiopatologia da encefalopatia hepática. Fonte: Berent


e Tobias (2009).

Sabe-se que dietas com alto teor de proteína e hemorragias do trato


gastrointestinal agravam os sinais clínicos de EH, por causarem um aumento na
produção e absorção de amônia (MONNET, 2013).

Sinais Clínicos

Os sinais clínicos associados à EH são variáveis e podem ser discretos, como por
exemplo, cansaço, letargia e depressão, ou acentuados, como agressividade, sialorréia,
hiperexcitação, andar compulsivo ou em círculos, pressão da cabeça contra superfícies e
objetos, convulsões e coma (PAEPE et al., 2007). Atraso no crescimento e dificuldade
em ganhar peso comumente está presente (FOSSUM et al., 2013). Estes sinais
neurológicos podem ainda ser constantes ou intermitentes e de 30 a 50% dos animais
pioram após as refeições (BERENT e TOBIAS, 2009;FOSSUM et al., 2013;
JOHNSTON e TOBIAS, 2018).

Alguns animais apresentam disfunção urinária como estrangúria, polaquiúria,


hematúria ou disúria secundários à formação de cristais urinários de biurato de amônia
(BERENT e TOBIAS, 2009; ETTINGER e FELDMAN, 2010; PAEPE et al., 2007).Os
sinais clínicos gastrointestinais relacionados com disfunção hepática são inespecíficos,
cursando com êmese, diarréia, melena e hiporexia (PAEPE et al., 2007).
48

Sendo assim que os três sistemas mais frequentemente afetados são o SNC, o
TGI e urinário, consequentemente, os sinais de SPS resultam muitas vezes de uma
combinação de sinais neurológicos, gastrointestinais e urinários (PAEPE et al., 2007).

O SPS adquirido apresenta os sinais clínicos geralmente mais tarde, em relação


ao SPS congênito. Num estudo recente tentou-se, através da análise retrospectiva de 93
casos, avaliar se seria possível distinguir sinais clínicos entre animais com SPS
congênito e adquirido. Concluíram que em animais com SPS congênito os sinais
neurológicos eram mais frequentes, enquanto que em animais com SPS adquirido o
sinal mais frequente era ascite e perda de peso (ADAM et al., 2012). Cães com SPS
podem ter alterações de coagulação, no entanto hemorragias espontâneas são raras
(ETTINGER e FELDMAN, 2010; JOHNSTON e TOBIAS, 2018; SLATTER, 2003).

Diagnósticos Diferenciais

Os diagnósticos diferenciais que devem ser considerados em suspeita de SPS


incluem hipoglicemia, fístula arteriovenosa intra-hepática (MORGAN, 2008), doenças
que possam causar insuficiência hepática, como cirrose hepática, e doenças que cursem
com alteração neurológica, como por exemplo, hidrocefalia, epilepsia ou subluxação
atlantoaxial (FOSSUM et al., 2013; JOHNSTON e TOBIAS, 2018). Em casos de
aumento de ácidos biliares (AB) pós-prandiais é importante diferenciar displasia
microvascular hepática/HVP, hipertensão portal e SPS (ETTINGER eFELDMAN,
2010).

É necessário ainda diferenciar de outras doenças que possam originar sinais


clínicos que se assemelham com os sinais de TGI e urinário causados pelo SPS, como
parasitas do TGI, hipoadrenocorticismo, enteropatia com perda de proteína e outras
hepatopatias primárias como hepatite crônica ou leptospirose (ETTINGER e
FELDMAN, 2010; JOHNSTON e TOBIAS, 2018).

Análises Laboratoriais

A pesquisa através de análises laboratoriais éa etapa inicialpara o diagnóstico de


SPS. Hemograma, bioquímicas séricas, urinálise, AB pré e pós-prandiais e mensuração
de amônia sérica em jejum são recomendados. Recentemente, alguns veterinários
começaram também a testar a atividade da proteína C reativa (MANKIN, 2009). As
alterações laboratoriais mais consistentes em animais com SPS incluem
hipoalbuminemia, hipoglicemia, hipocolesterolemia, diminuição da concentração sérica
49

de uréia e enzimas hepáticas com atividade moderadamente elevada (MONNET, 2013).


Tipicamente, valores de fosfatase alcalina (FA) e alanina aminotransferase (ALT)
encontram-se aumentados 2 a 3 vezes acima do valor de referência máximo. Muitas
destas alterações surgem em diversas hepatopatias, e não podem ser consideradas
patognomônicas. (ADAM et al., 2012; MONNET, 2013; WILLARD e TVEDTEN,
2012).

No hemograma, 60 a 72% dos cães com SPS, apresentam microcitose associada


ou não a anemia (JOHNSTON e TOBIAS, 2018; MONNET, 2013). A patogênese exata
da anemia nestes pacientes ainda não foi descrita, mas acredita-se estar associada a
alteração no metabolismo do ferro (MANKIN, 2009). Alguns estudos relacionam a
ocorrência de leucocitose com pior prognóstico, relacionando-aa eliminação inadequada
de endotoxinas e bactérias da circulação portal (JOHNSTON e TOBIAS, 2018). Um
estudo conduzido em 2011 concluiu que não existem diferenças na contagem de
plaquetas de animais saudáveis e animais com SPS congênito (KALBANTNER,2011).

As alterações na urinálise podem incluir hipostenúria secundária à polidipsia ou


à diminuição no nível sérico de uréia, e cristalúria devido ao aumento da concentração
de amônia na urina combinado com a hiperuriacidemia, proveniente do metabolismo
deficiente de purina e pirimidina, resultando num excesso de excreção de urato e
amônia nos rins, estes compostos podem precipitar e formar cristais urinários (BERENT
e TOBIAS, 2009; ETTINGER e FELDMAN, 2010). Num estudo com 12 cães, 100%
demonstrou evidência de sinais de glomerulofibrose ou glomerulonefrite (TISDALLet
al., 1996). Esta relação entre doença hepática grave e glomerulonefrite já está
documentada na Medicina Humana (BERENT e TOBIAS, 2009).

A mensuração de AB pré e pós-prandiais é o teste de eleição para avaliar


animais com suspeita de SPS, no entanto não diferencia SPS de outras patologias
hepáticas (BROOME et al., 2004; WINKLER et al., 2003).Os AB são sintetizados no
fígado a partir do colesterol, sendo secretados, após conjugação, pelo canal biliar e
armazenados na vesícula biliar até serem liberados no duodeno, posteriormente são
reabsorvidos no íleo, transportados para o sistema venoso portal e extraídos pelos
hepatócitos para recirculação (ETTINGER e FELDMAN, 2010).Falsos positivos, com
resultados elevados e não relacionados com doença hepática, podem ocorrer em casos
de erro no intervalo de tempo de colheita das amostras, terapias com corticosteróides ou
anticonvulsivos, convulsões ou doença do TGI (ETTINGER e FELDMAN, 2010).
50

A proteína C reativa é uma proteína plasmática anticoagulante, produzida pelo


fígado, e em conjunto com outras substâncias previne o aparecimento de doenças
tromboembólicas. Quando ativada, promove fibrinólise, atua como mediador
inflamatório e inibe a apoptose. Na Medicina Humana a mensuração da proteína C
reativa é muito utilizada para a avaliação de função hepática. Em cães, esta proteína
pode ser útil para distinguir SPS congênito de HVP, uma vez que cães com SPS têm
nível de proteína C reativa significativamente mais baixa que do que cães com HVP.
Adicionalmente, animais submetidos à correção cirúrgica de SPS demonstram correções
nos valores de proteína C reativa (TOULZA et al., 2006).

Diagnóstico

Ultrassonografia abdominal

Por ser acessível e não invasivo, não sendo necessário o uso de anestésicos,
aultrassonografia abdominal é o método diagnóstico de escolha para investigação de
SPS (D´ANJOU et al. 2004; FOSSUM, 2006). A experiência do operador é muito
importantepara o correto diagnóstico, uma vez que a avaliação da vascularização
abdominal por esta técnica exige bastante prática (MANKIN, 2009). É mais útil no
diagnóstico de SPS intra-hepático do que extra-hepáticos, pois estes se tornam difíceis
de diagnosticar por geralmente ocorrerem em pacientes pequenos, com vasos de
dimensões reduzidas, e também devido à variação da localização anatômica do vaso
(ETTINGER e FELDMAN, 2010; JOHNSTON e TOBIAS, 2018).A ultrassonografia
abdominal torna-se muito útil para avaliação de alterações do sistema urinário causadas
pelo SPS (MANKIN, 2009).

Portografia mesentérica operatória

Atualmente a portografia mesentérica não é uma técnica muito utilizada devido à


disponibilidade de técnicas alternativas menos invasivas (ETTINGER e FELDMAN,
2010; MANKIN, 2009). Realiza-se através do cateterismo de uma veia mesentérica e
administrando 600 mg/kg de contraste iodado em bolus e através da fluoroscopia
registra-se o trajeto do contraste. A dose máxima de contraste iodado que pode ser
administrada é 1200mg/kg, doses superiores a essa podem causar hipotensão, arritmias,
parada cardíaca ou insuficiência renal (ETTINGER e FELDMAN, 2010; NAKAMURA
et al., 1994).
51

O seu grande benefício é a possibilidade de mensurar, simultaneamente à ligação


do SPS e a pressão portal, auxiliando em decisões transoperatórias (MANKIN, 2009).
No entanto, dependendo da posição do paciente e da localização do SPS, este pode não
ser visibilizado (BERENT e TOBIAS, 2009).

Cintilografia Portal

A cintilografia portal pode ser realizada tanto por via trans-esplênica como por
via retal, sendo técnicas não invasivas, de fácil realização e com resultados rápidos
(MORANDI et al. 2007). O procedimento pode ser realizado utilizando os radioisótopos
pertecnetato de tecnécio ou mebrofenina de tecnécio (JOHNSTON e TOBIAS, 2018). A
via trans-esplênica requer volumes menores de isótopo, sendo uma técnica mais segura
tanto para o animal como para o operador quando comparada com a via retal
(MORANDI et al., 2007; SURA et al., 2007).

Animais que são submetidos à cintilografia porto-retal precisam permanecer


isolados por 20 horas, em média, após o procedimento, enquanto que este exame por via
trans-esplênica são liberados 30 minutos após o procedimento (JOHNSTON e TOBIAS,
2018). No entanto, apesar de ter níveis de sensibilidade e especificidade mais elevados,
a via trans-esplênica oferece maior risco de complicações, como hemorragia esplênica
após a injeção, além de ser mais difícil a realização em animais pequenos (MANKIN,
2009).

Na cintilografia porto-retal o radioisótopo é administrado no cólon e em


seguida,atravésde uma câmara de raios gama, o trajeto do radiofármaco é rastreado,
sendo este primeiramenteabsorvido e drenado pelas veias do cólon para a veia
mesentérica caudal e, por fim, para a veia porta (JOHNSTON e TOBIAS, 2018).Em um
animal sem SPS o radiofármaco irá passar pelo fígado antes de atingir o coração, já no
animal com SPS o radiofármaco irá diretamente da veia porta para o coração, que é
visível na imagem 8 a 14 segundos após administração,seguindo posteriormente para o
fígado através das artérias hepáticas (ETTINGER e FELDMAN, 2010).

Na via transesplênica ocorre da mesma forma, mas é realizada através de


injeçãocom apenas 10 a 15% do volume utilizado na via retal. Em animais com SPS o
radiofármaco pode demorar 2 a 4 segundos para atingir o coração após injeção
(JOHNSTON e TOBIAS, 2018). Essa via permite distinguir SPS congênito de SPS
52

múltiplos adquiridos, além de ser possível determinar a terminação do desvio na veia


ázigos ou na veia cava caudal ou suas tributárias (SURA et al., 2007).

Tomografia Computadorizada

A angiografia por tomografia computadorizada fornece imagens detalhadas da


anatomia venosa (ZWINGENBERGER e SCHWARZ, 2004). Em humanos, este
método de diagnóstico é considerado padrão ouro para avaliação de anomalias
vasculares e em Medicina Veterinária alguns estudos em cães já comparam
favoravelmente este método a outros utilizados para o diagnóstico de SPS
(HENSELER, et al., 2001; KIM et al., 2013). Com a administração de contraste através
de uma veia periférica, obtêm-se imagens detalhadas de todo o sistema portal e
respectivos ramos (JOHNSTON e TOBIAS 2018). A utilização de TC helicoidal é
considerada superior à TC sequencial (ZWINGENBERGER et al., 2005).

São muitas as vantagens deste método, permitindo diagnóstico e planejamento


pré-cirúrgico, quando indicado, fornecendo uma excelente visão geral da anatomia do
desvio e dos vários vasos tributários que podem ser negligenciados durante o
procedimento cirúrgico (NELSON e NELSON, 2011). Esta técnica é executada de
forma rápida e fornece imagens tridimensionais, não é invasiva e permite identificação e
localização anatômica da origem e inserção do desvio. Em um estudo recente, a
angiografia por TC demonstrou ser 5,5 vezes mais eficaz em determinar a presença ou
ausência de SPS congênitos quando comparada com ultrassonografia abdominal (KIMet
al., 2013).

Ressonância magnética

Tal como na angiografia por TC, com angiografia por ressonância magnética (RM)
também é possível obter imagens tridimensionais que permitem a identificação do
desvio, a sua localização e o planejamento pré-cirúrgico. No entanto, as imagens obtidas
através de angiografia por TC helicoidal são de mais fácil interpretação, mais detalhadas
e o procedimento é mais rápido e menos dispendioso quando comparado com RM
(TOBIAS e ROHRBACH, 2003).

Tratamento

Animais diagnosticados com SPS podem receber tratamento conservador ou


cirúrgico. O tratamento conservador tem como objetivo diminuir a produção e absorção
das substâncias do TGI para a circulação sistêmica. O tratamento cirúrgico é corretivo e
53

tem como objetivo a oclusão parcial ou total permanentemente do desvio (MANKIN,


2009). O tratamento conservador em animais sintomáticos está associado a uma taxa de
mortalidade de 48%, enquanto o cirúrgico apresenta uma taxa de 10 a 12%, no entanto,
em animais assintomáticos não existe um consenso a cerca de qual o melhor tratamento
(GREENHALGH et al., 2010). O tratamento conservadordiminui os sinais clínicos
associados à doença, mas não resolve a causa de hipoperfusão hepática, por este motivo
sempre que existir a possibilidade de correção cirúrgica esta deve ser recomendada e
preferida (JOHNSTON e TOBIAS, 2018).

Tratamento conservador

O objetivo principal do tratamento conservador é identificar e corrigir os fatores


predisponentes da encefalopatia hepática, como por exemplo, diminuir absorção de
toxinas produzidas por bactérias intestinais e diminuir as lesões oxidativas dos
hepatócitos (FOSSUM et al., 2013). Sempre que um paciente apresenta sinais de EH
deve ser realizada terapia médica agressiva para estabilizar o animal e diminuir a
concentração de amônia no sangue. Deve ser realizada fluidoterapia, corrigindo
alterações metabólicas ácido-base, se presentes, devendo ser os fluidos suplementados
com glicose. A terapia para EH aguda inclui enemas de água morna, lactulose por via
oral ou retal, antibioticoterapia para redução de bactérias intestinais produtoras de
urease (metronidazol, ampicilina ou neomicina) e anticonvulsivos se necessário
(BERENT e WEISSE, 2007; BERENT e TOBIAS, 2009; FOSSUM et al., 2013;
JOHNSTON e TOBIAS, 2018).

A terapia anticonvulsiva de emergência deve ser realizada com


benzodiazepínicos, preferindo midazolam ao diazepam, uma vez que o diazepam
contém propilenoglicol que requer metabolismo hepático (BERENT e TOBIAS, 2009).
Após o controle das convulsões pode ser considerada terapia com fenobarbital, brometo
de potássio ou de sódio e levatiracetam, se necessário (BERENT e TOBIAS, 2009;
JOHNSTON e TOBIAS, 2018).

A lactulose é um dissacarídeo semissintético que pode ser administrado por via


oral ou retal, atua diminuindo a absorção de amônia no TGI. No cólon, a lactulose é
metabolizada pelas bactérias acidófilas residentes resultando na formação de ácidos
orgânicos de baixo peso molecular que acidificam o conteúdo do cólon, reduzindo
consequentemente o pH fecal, desta forma ocorre uma maior eliminação de amônia nas
fezes uma vez que favorece a conversão da amônia absorvível em um cátion de amônia
54

que não passa pela mucosa do cólon. Atua também como laxante osmótico, diminuindo
o tempo de retenção fecal (FOSSUM et al., 2013). Os efeitos secundários podem incluir
diarréia, flatulência, êmese, anorexia e aumento de perda de água e potássio pelo TGI
(FOSSUM et al., 2013; MONNET, 2013).

Animais com hemorragia, anemia grave ou tempo de coagulação aumentado


podem ser auxiliados com transfusão de eritrócitos, plasma ou sangue total. Ainda,
animais com SPS congênito têm maior predisposição para desenvolvimento de úlceras
do TGI, sendo indicado o tratamento em longo prazo com antagonistas competitivos dos
receptores de histamina, como a ranitidina, ou inibidores da bomba de prótons, como o
omeprazol (JOHNSTON e TOBIAS, 2018).

O uso de antioxidantes (d-alfa-tocoferol, a S-adenosil-L-metionina, e silibina)


pode ajudar na proteção da membrana dos hepatócitos, uma vez que estes podem sofrer
lesões oxidativas. O ácido ursodesoxicólico também pode ajudar na proteção da
membrana (FOSSUM et al., 2013). Não há registro de estudos, na Medicina Veterinária,
que comprovem a eficiência da utilização de tratamento homeopático em casos de SPS
e encefalopatia hepática. Um único relato encontrado refere que um cão diagnosticado
com SPS extra-hepático e apresentando sintomatologia de EH, após ser estabilizado
com o tratamento conservador alopático por três meses, estava há quatro anos sem
sinais clínicos de EH apenas com o tratamento homeopático com Chelidonium Majus,
Carduus Marianus e Silimarina (silibina, silidianina e silicristina) (PAIVA et al.,2013).

Nutrição

Durante anos foi considerada necessáriaa utilização de dietas com restrição total
de proteína, atualmentenovos estudos demonstram que cães em regime de dieta com
restrição moderada melhoram clinicamente quando comparados com cães em restrição
total (BELLUMORI et al., 2013; MONNET, 2013). Assim, a dieta deve ser baseada em
redução moderada de proteína, sendo preconizadoo consumo de dois gramas de proteína
por kg de peso ao dia, com proteína de alta digestibilidade (BONAGURA e TWEDT,
2009; PROOT et al., 2009). As dietas comerciais de prescrição veterinária formuladas
para doentes hepáticos são altamente recomendadas (BROOME et al., 2004;
GREENHALGH et al., 2014; TIVERS et al., 2014).

Cirúrgico
55

O objetivo principal do tratamento cirúrgico é redirecionar o fluxo sanguíneo


para o parênquima hepático (LEE et al., 2006). O SPS congênito pode ser parcial ou
totalmente encerrado utilizando suturas não absorvíveis ou atenuados gradualmente com
anel constritor ameróide, banda de celofane ou oclusor hidráulico (ADIN et al., 2006;
HUNT et al., 2004; KUMMELING et al., 2004; MEHL et al., 2005). O desvio deve ser
encerrado o mais próximo possível da sua inserção (HUNT et al., 2014; NELSON e
NELSON, 2011).

SPS múltiplos adquiridos devem ser maneados com tratamento conservador e


SPS intra-hepático pode ser resolvido com cirurgia minimamente invasiva, utilizando
técnicas como a embolização endovascular (JOHNSTON e TOBIAS, 2018).

A maioria dos animais não tolera a oclusão total repentina do desvio, sendo
preferível uma oclusão gradual, com redução de complicações pós-operatórias (LEE et
al., 2006; MONNET, 2013). Após a ligadura, a pressão portal deve ser no máximo 12 a
18mmHg, com variação máxima de 6 a 7mmHg. É importante considerar que a pressão
sanguínea pode variar com profundidade anestésica, hidratação, fase da respiração e
outros fatores sistêmicos (MANKIN, 2009).

Frequentemente animais submetidos à ligação parcial necessitam,


posteriormente, de uma segunda cirurgia para oclusão total (HOTTINGER, 1995; LEE
et al., 2006; LIPSCOMB et al., 2007; MONNET, 2013). Se uma ligadura for
extremamente exígua, existe um risco de induzir hipertensão portal, uma complicação
que pode ser fatal, por esta razão, alguns autores referem que em 61% (MEHLet al.,
2005) a 86% (KUMMELING et al., 2004; KYLES et al., 2004; WOLSCHRIJN et al.,
2000) dos casos de SPS congênito não é possível realizar ligadura total, sendo viável
apenas a ligadura parcial. A ligadura parcial tem um risco elevado de persistência ou
recorrência dos sinais clínicos (MEHL et al., 2005).

Durante a cirurgia, a pressão portal pode ser monitorada, através do cateterismo


da veia esplênica, jejunal ou veia porta para detecção de hipertensão portal. Esta
monitorização permite confirmar a identificação do desvio ou, em animais submetidos à
oclusão total ou parcial por ligadura, avaliar o grau de oclusão ou atenuação possível
(SWALEC e SMEAK, 1990). Uma vez que o SPS é considerado hereditário em várias
raças, a realização de orquiectomia ou ovariohisterectomia é aconselhada (TOBIAS e
ROHRBACH, 2003; VAN STRATEN et al., 2005).
56

Técnicas Cirúrgicas

Ligadura com fio de seda

O fio de seda é um fio de sutura de fácil manipulação, não absorvível


(MANKIN, 2009). A sutura deve ser apertada o máximo possível sem que induza
hipertensão portal (MONNET, 2013). O grau de oclusão possível, quando é utilizada
esta técnica, pode ser avaliado visualmente, procurando sinais de hipertensão portal
como cianose em intestino, aumento de movimentos peristálticos, cianose ou edema do
pâncreas ou aumento das pulsações mesentéricas (MANKIN, 2009).

As taxas de mortalidade desta técnica variam entre os 2% a 20% e taxa de


complicações 9% a 50% (ETTINGER e FELDMAN, 2010). A introdução no mercado
de dispositivos de oclusão gradual mudou radicalmente a forma como os SPS são
tratados uma vez que quando comparados com a ligadura de seda, estes dispositivos são
mais seguros, garantindo uma oclusão total do desvio (ETTINGER e FELDMAN,
2010).

Anel constritor ameróide

O anel constritor ameróide foi o primeiro dispositivo de oclusão gradual


utilizado para atenuar SPS (VOGT et al., 1996). Este dispositivo é constituído por um
anel de caseína revestido por uma bainha de aço inoxidável (Figura 23). A caseína, por
ser um material higroscópico, vai lentamente absorvendo água e dilatando, em
consequência encerra progressivamente o desvio, verificando-se uma redução no
diâmetro de 32% ao final de 6 semanas (SEREDA e ADIN, 2005). A dilatação do anel
juntamente com reação de corpo estranho com formação de tecido fibroso resulta numa
oclusão gradual do desvio (MEHL et al., 2005).

Figura 23- Anel constritor ameróide. Fonte: Site Clínica Veterinária


Puerta de Hierro (2016).
57

A escolha do tamanho do anel é baseada no diâmetro do desvio e deve,


preferencialmente, ser maior que este (JOHNSTON e TOBIAS, 2018). Em um estudo
com 206 cães foram avaliados os resultados da implantação de anel constritor
ameróide, em longo prazo, 7% destes não sobreviveram um mês, 24% continuaram a
ter um desvio e 92% não demonstraram sinais clínicos (HUNT et al., 2014).
Comparativamente com a ligadura de seda, os anéis constritores ameróides estão
associados a um tempo de cirurgia mais curto e com menos complicações (MURPHY et
al., 2001).

Ligadura com banda celofane

A ligadura com banda celofane foi reportada pela primeira vez em 1990
(HARARI et al., 1990). O vaso é isolado e envolto pela banda, prendendo-se as duas
pontas livres do celofane com clips cirúrgicos (HUNT, 2004; McALINDEN et al.,
2010) (Figura 24). Este material origina uma reação inflamatória local típica de um
corpo estranho crônico, causando fibrose e consequente encerramento gradual dos vasos
ligados ao longo de 2 a 4 semanas (JOHNSTON e TOBIAS, 2018).

Figura 24- Representação da fixação da banda de


celofane com clips cirúrgico. Fonte: Site
Cellovet™ (2018).

As bandas de celofane podem ser construídas a partir de celulose regenerada ou


pequenos pedaços de poliéster. Não estava disponível no mercadoum material
especificamente médico, sendo utilizadas bandas feitas a partir de celofane de utilização
doméstica, corretamente preparado e esterilizado para uso cirúrgico (BERENT e
58

TOBIAS, 2009; FALLS et al., 2013). Recentemente criou-se um material específico


para uso veterinário, Cellovet™.

Oclusor hidráulico

A utilização do oclusor hidráulico foi descrita pela primeira vez em 1996


(JACOBSON, 1996). Éum dispositivo formado por uma membrana de silicone
revestida de poliéster, inflável, acoplada a um cuff e que por sua vez se liga a um portal
de acesso. O cuff é suturado com fio não absorvível em volta do desvio e o portal é
colocado transcutâneo. A cada duas semanas enche-se o cuff através do portal,
utilizando soro fisiológico estéril, gradualmente até oclusão total do desvio (ADIN et
al., 2004; ADIN et al., 2006). Este dispositivo, sobretudo, é utilizado em SPS intra-
hepático sendo a sua principal desvantagem a possibilidade de ruptura. A vantagem
desse método é a possibilidade de controlar o nível de oclusão conforme o aparecimento
de sinais clínicos e variações nos exames laboratoriais (ADIN et al., 2006).

Embolização por via transjugular

A embolização de SPS intra e extra-hepáticos é realizada em cães e gatos com


auxílio de fluoroscopia (BERENT e WEISSE, 2007; GONZALO-ORDEN et al., 2000;
WEISSE et al., 2014). Esta técnica baseia-se na colocação de material trombogênico no
lúmen do desvioatravés de um cateter, causando a formação de umtromboem torno do
materiale consequente oclusão gradual do desvio (PARTINGTON et al., 1993;
SEREDA e ADIN, 2005).

Em 18% dos casos ocorre persistência dos sinais clínicos sendo necessária a
implantação de novo material trombogênico (BERENT e TOBIAS, 2009; WEISSE et
al., 2005). Este procedimento é reservado a SPS intra-hepáticos, uma vez que SPS
extra-hepáticos são encerrados por rotina com outras técnicas cirúrgicas (JOHNSTON e
TOBIAS, 2018). A maior complicação desta técnica era a migração do material
trombogênico, entretanto a taxa de ocorrência dessa complicação diminuiu
significativamente com a colocação de um stent na veia cava antes da embolização
(JOHNSTON e TOBIAS, 2018; LÉVEILLÉ et al., 2003; WEISSE et al., 2014).

Considerações pré-operatórias

Animais com score corporal muito baixo, em crises de encefalopatia hepática


ou instáveis, fundamentalmente, devem ser estabilizados antes de serem submetidos
à anestesia, e mesmo os pacientes estáveis e sem manifestaçõesimportantes devem
59

realizar o tratamento conservador por ao menos duas semanas (JOHNSTON e


TOBIAS, 2018).

Considerações pós-operatórias

No período pós-cirúrgico os pacientes deverão realizar fluidoterapia até que


estejam alerta, comendo e bebendo água (JOHNSTON e TOBIAS, 2018). As
complicações mais frequentementeapresentadas incluem hipoglicemia, hipotermia,
recuperação anestésica retardada, hemorragia, convulsões e sinais de hipertensão portal
(BERENT e TOBIAS, 2009; HOLT, 1994).

Os sinais clínicos de hipertensão portal incluem manifestações de choque


hipovolêmico, dor abdominal, distensão abdominal, êmese, diarréia e hipotermia
(JOHNSTON e TOBIAS, 2018). Em animais com hipertensão portal devem ser
investigados sinais de coagulação intravascular disseminada e hipotensão não
responsiva, nessas situações a oclusão do desvio deve ser desfeita imediatamente
(JOHNSTON e TOBIAS, 2018). Com a introdução de técnicas de oclusão gradual,
hipertensão portal fatal é muito rara (ETTINGER e FELDMAN, 2010).

O animal deve retornar após três meses para avaliação da função hepática
(FOSSUM et al. 2013). Durante esse período deve estar sob tratamento com lactulose,
antibioticoterapia e dieta hipoproteica. Na reavaliação, se a função hepática estiver
normalizada a medicação pode ser descontinuada (FOSSUM et al., 2013; JOHNSTON e
TOBIAS, 2018).

Prognóstico

Existem poucos estudos que avaliem o prognóstico de animais diagnosticados


com SPS congênitos tratados apenas com tratamento médico conservador
(JOHNSTON e TOBIAS, 2018). Um estudo avaliou 27 cães e concluiu uma média
Rde 9,9 meses desde o diagnóstico até eutanásia ou morte (WATSON e
HERRTAGE, 1998). Outro estudo mais recente avaliou outros 27 casos submetidos
apenas a tratamento conservador obteve uma média de 2,3 anos de vida após
diagnóstico comparados com 97 casos submetidos a tratamento cirúrgico cuja taxa
de mortalidade não foi possível calcular porque 78% ainda estavam vivos passados 6
anos (GREENHALGH et al., 2010).

Estes resultados são contrários ao descrito em Medicina Humana, em que o


prognóstico de tratamento conservador em longo prazo é excelente (ETTINGER e
60

FELDMAN, 2010). No geral, se prevê bons resultados em 78% a 94% dos animais
submetidos à ligadura com seda, ligadura com banda celofane ou anel constritor
ameróide em SPSEH e nota-se que os resultados são mais variáveis em cães com SPSIH
(BRIGHT et al., 2006; HUNT et al., 2004; JOHNSTON e TOBIAS, 2018).
61

5 RELATO DE CASO

No dia 18 de Maio de 2018 foi atendido na sala de Neurologia do Hospital


Veterinário da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da UNESP-Botucatu um
cão da raça Shih-tzu, macho, não castrado, seis meses de idade e 1,8 kg (Figura 25). De
acordo com o histórico o paciente foi adotado no dia 14 de Maio de 2018 e tutora refere
que desde então notou que diariamente o animal apresentava episódios com alterações
comportamentais como, andar compulsivo, andar em círculos, pressionar a cabeça
contra superfícies, esbarrar em obstáculos, salivação excessiva, desinteresse pelo
alimento e não atendia aos chamados e estímulos, ficando alheio ao ambiente. Relatou
ainda, que o animal não ganhava peso, não latia ou brincava e que já havia passado por
três tentativas de adoção anteriores, sendo devolvido em consequência do
comportamento descrito acima.

Figura 25- Paciente canino, raça Shih-tzu, macho, não castrado, seis meses de idade e
1,8 kg. Fonte: Arquivo pessoal (2018).

Na anamnese a tutora negou a ocorrência de atropelamento, queda, ou qualquer


outro traumatismo, mas não soube referir sobre acontecimentos anteriores à adoção do
animal. Foi citado que o animal apresentava cansaço e respiração ofegante durante os
episódios citados, mas que em outros momentos o animal mantinha-se em bom estado
geral. Segundo a tutora, quando adotado o animal apresentava ectoparasitose. O animal
é alimentado com a ração Golden® para filhotes e sachê de ração úmida, sendo
esporadicamente oferecida comida caseira, com arroz e carne cozida, não temperada. A
desverminação e a vacinação polivalente estavam atualizadas, mas a vacina anti-rábica
ainda não havia sido aplicada e o animal não tinha contactantes.
62

No exame físico, com o animal sobre a mesa de aço inox, foi observado que o
animal estava bem hidratado, o tempo de preenchimento capilar foi inferior a dois
segundos e as mucosas estavam normocoradas e úmidas. Durante a palpação apenas o
linfonodo submandibular esquerdo revelou-se reativo, sendo a frequência respiratória
igual a 32 mpm, a frequência cardíaca a 160 bpm, o pulso apresentava-se forte e rítmico
em relação ao ritmo cardíaco, a temperatura foi igual a 37,3° C e a glicemia 57mg/dL.
Na palpação abdominal não foi percebida nenhuma alteração.

No exame neurológico, inicialmente, foi avaliado o nível de consciência e foi


constatado que o animal estava obnubilado, apresentando diminuição da
sensopercepção, lentidão da compreensão e elaboração de respostas aos estímulos
sonoros e visuais, demonstrando um grau moderado de desorientação e sonolência, mas
mantinha a nocicepção e em dado momento demonstrou interesse pela ração oferecida
(Figura 26). Várias alterações foram observadas quanto ao comportamento do animal
que, ao ser colocado para deambular no chão, apresentou andar compulsivo, andar em
círculos no sentido anti-horário, distúrbio do sono e pressão da cabeça contra a parede,
na marcha foi percebida certa ataxia proprioceptiva nos quatro membros, mas exibia
postura e tônus muscular normal.

Figura 26- Demonstração de interesse


pela ração oferecida. Fonte: Arquivo
pessoal (2018).

Com o animal sobre a mesa foi feita a avaliação da integridade da função dos
doze pares de nervos cranianos. No teste do reflexo a ameaça visual o paciente
63

apresentou reposta diminuída em ambos os olhos, o reflexo oculovestibular estava


ausente em ambos os olhos e estrabismo foi observado apenas no olho direito, os
demais testes estavam dentro da normalidade (Figuras 27). Outro teste realizado na
avaliação neurológica foi o de reações posturais, e todas as respostas às manobras
realizadas foram consideradas ausentes neste paciente. Por fim os testes realizados para
avaliar os reflexos medulares estavam normais (Figuras 28 e 29).

Figura 27- Teste de reflexo a ameaça visual diminuído no olho


esquerdo (A) e direito (B). Estrabismo ventral em olho direito
(C). Fonte: Arquivo pessoal (2018).

Figura 28- Testes dos reflexos dos músculos bicipital (A) e


tricipital (B). Fonte: Arquivo pessoal (2018).
64

Figura 29- Teste de reflexo patelar (A) e teste de reflexo do


músculo gastrocnêmio (B). Fonte: Arquivo pessoal (2018).

Definiu-se então que a lesão estava localizada em região de córtex cerebral, com
distribuição multifocal, justificada pela evidente alteração de consciência e de
comportamento e pelas alterações de resposta a alguns testes dos nervos
cranianos.Através da anamnese, características do paciente, sinais clínicos e respostas
apresentadas frente ao exame neurológico, atribui-se, utilizando o acrônimo VITAMIN
D, como possíveis causas das alterações observadas as disfunções congênitas,
infecciosas ou metabólicas.

Após o exame neurológico procedeu-se a coleta de sangue, através da veia


jugular, para realização de hemograma, perfil bioquímico e sorologia para toxoplasmose
e neosporose, exames de triagem para pacientes neuropatas no HV-FMVZ/UNESP,
além de coleta de urina, por cistocentese, para realização de urinálise. Em seguida foi
oferecido sachê de ração úmida ao paciente e após uma hora coletou-se uma alíquota de
sangue, novamente da veia jugular, para mensuração da glicemia através de um
glicosímetro AccuCheck® Active. Durante a espera pelos resultados dos exames os
sinais clínicos do paciente se intensificaram, apresentando um quadro de hiperexcitação,
andar compulsivo e sialorréia.

No hemograma foi observada anemia normocítica e normocrômica regenerativa


e leucocitose por neutrofilia. As sorologias para toxoplasmose e neosporose
apresentaram resultados negativos. No perfil bioquímico foi visto elevação de alanina
aminotransferase (ALT) e fosfatase alcalina (FA) e diminuição de gama-
glutamiltransferase (GGT) e albumina, conforme demostrado figura (Figura 30). A
glicose sérica pós-prandial (58 mg/dL) abaixo dos valores referenciais.
65

Figura 30- Resultado do perfil bioquímico (A) e do hemograma (B). Fonte: Arquivo
pessoal (2018).

Na urinálise foi observada urina com aspecto turvo, traços de proteína, presença
de sangue oculto e de células de descamação provenientes da pelve renal e da vesícula
urinária, hemácias foram observadas de 100 a 125 vezes por campo, bactéria e
importante presença de cristais de biurato de amônia (Figura 31).

Figura 31- Resultado da urinálise. Fonte: Arquivo


pessoal (2018).
66

Com os resultados apresentados, a suspeita diagnóstica incidia sobre uma


alteração anatômica na vascularização hepática, um shunt portossistêmico, sendo
realizado o tratamento ambulatorial com realização de enema retal com lactulosea 30%
e administração endovenosa de metronidazol, sendo a dose utilizada 7,5 mg por kg e
ranitidina e buscofin®, ambos por via subcutânea, com a dose de 2 mg /kg e 25 mg/kg,
respectivamente.

Para administração em casa foi prescrito uso oral de metronidazol, omeprazol e


lactulose, nas doses de 7,5 mg/kg, 1 mg/kg e 0,3 ml/kg, respectivamente, durante vinte
dias. Além disso, foi orientada a troca da ração oferecida para o animal por uma com
menor concentração de proteínas, sendo indicada a ração Hepatic Canine® da Royal
Canin®, por fim foi agendada a realização de radiografia de região torácica e
ultrassonografia abdominal para o dia 24 de Maio de 2018, massob orientação de
retornar antes do agendamento, caso houvesse piora do quadro.

No retorno do dia 24 de Maio de 2018, o paciente apresentava-se em bom estado


geral (Figura32) e segundo relato da tutora não havia apresentado mais alterações
comportamentais, estava ativo, brincando e se alimentando bem. Foram realizados os
exames de diagnóstico por imagem e naradiografia foi visto aumento da silhueta
cardíaca, com o vertebral heart size (VHS) próximo a 12 vértebras, com abaulamento
mais evidente nas câmaras direitas, sendo sugestivo de cardiopatia, além disso, notou-se
deslocamento dorsal da região da carina traqueal, podendo ser secundário as alterações
cardíacas.

Figura 31- Paciente no dia 24 de Maio de


2018 sem sinais clínicos de encefalopatia
hepática. Fonte: Arquivo pessoal (2018).
67

Através da ultrassonografia foi visto discreta quantidade de conteúdo ecogênico


flutuante na vesícula urinária, mas com paredes regulares e normoespessas, e sem sinais
ultrassonográficos de litíase, foi observado ainda dimensões diminuídas do fígado, com
parênquima grosseiro, mas com contornos regulares, bordos definidos e ecogenicidade
preservada, quanto à arquitetura vascular hepática constatou-se assimetria no calibre dos
vasos (Aorta: 0,51 cm; Veia cava caudal: 0,89 cm; Veia porta: 0,37 cm), presença de
vaso anômalo tortuoso conectando a veia porta e a veia cava caudal, com diâmetro de
até 0,26 cm e ao exame do doppler observou-se fluxo sanguíneo irregular e turbulento.
Cita-se ainda presença de íntima quantidade de líquido livre adjacente aos rins e entre
alças intestinais. Nos demais órgãos da cavidade abdominal não foram encontradas
alterações.

Com tais resultados o paciente foi encaminhado para o setor de cirurgia de


pequenos animais a fim de realizar a cirurgia de oclusão do desvio entre a veia porta a
veia cava caudal.
68

5.1 Discussão

O diagnóstico do animal atendido foi shunt portossistêmico extra-hepático


congênito, sendo formado por um vaso anômalo entre a veia porta para veia cava caudal
(FOSSUM et al., 2013).Estandode acordo com a literatura quando cita que o SPS
congênito é mais frequentemente único, ou seja, um vaso que liga a circulação portal à
circulação sistêmica venosa (BERENT e TOBIAS, 2009; JOHNSTON e TOBIAS,
2018).

O animal atendido era da raça Shih-tzu e, de acordo com a literatura, cães de


raça pequena são acometidoscom mais frequênciapor SPS extra-hepático (PAEPE et al.,
2007). Assim como, apresentado pelo paciente, os sinais clínicos em SPS congênito
tendem a se manifestar antes que o animal complete1 ano de idade (ADAM et al., 2012;
FOSSUM et al., 2013; PAEPE et al., 2007).

A sintomatologia apresentada pelo animal condiz com as alterações descritas de


encefalopatia hepática, quanto àineficiência no crescimento e ganho de peso e alterações
de comportamentointermitentes que se intensificam após as refeições (NELSON e
COUTO, 2009; BERENT e TOBIAS, 2009; FOSSUM et al., 2013; JOHNSTON e
TOBIAS, 2018).

Ainda segundo a literatura, alguns animais apresentam disfunção no trato


urinário (BERENT e TOBIAS, 2009; ETTINGER e FELDMAN, 2010; FOSSUM et al.,
2013; PAEPE et al., 2007). Na urinálise foi visto formação de cristais de biurato de
amônia (BERENT e TOBIAS, 2009; ETTINGER e FELDMAN, 2010; WINKLER et
al., 2003), causando um processo inflamatório resultando em nefropatia e cistite, que
cursa com presença de células de descamação da pelve e da vesícula urinária, bactérias,
sangue oculto e proteína na urina. Segundo alguns autores,t há evidência de sinais de
glomerulofibrose ou glomerulonefrite associada à doença hepática grave (HUNT e
MALIK, 1996), já sendo esse achado documentado em Medicina Humana (BERENT e
TOBIAS, 2009).

Frente os sinais clínicos apresentados pelo animal as suspeitas clínicas elencadas


foram hipoglicemia (MORGAN, 2008), hidrocefalia (FOSSUM et al., 2013;
JOHNSTON e TOBIAS, 2018) e SPS. Para diferenciar tais patologias foram feitos
exames laboratoriais, e como descrito na literatura (ADAM et al., 2012; MONNET,
69

2013; WILLARD e TVEDTEN, 2012), foi encontrado hipoalbuminemia, hipoglicemia


pós-prandial e aumento de 2 à 3 vezesna atividade das enzimas hepáticas (FA e ALT).

No hemograma, observou-se anemia, comum na maior parte dos cães com SPS
(JOHNSTON e TOBIAS, 2018; MONNET, 2013). Ainda apresentou leucocitose, oque
segundo alguns estudos se relacionam a prognóstico desfavorável (JOHNSTON e
TOBIAS, 2018). Como descrito, o paciente não apresentou alteração na contagem de
plaquetas (MEYER-LINDENBERG e RISCHKE, 2011).

O diagnóstico foi concluído através do exame de ultrassonografia, sendo este


considerado aferramenta diagnóstica de escolha para investigaçãode SPS por ter
vantagens, como custo acessível e dispensar o uso de anestesia (D´ANJOUet al. 2004).
Através deste foi possível visibilizar a microhepatia e presença de um vaso anômalo
tortuoso entre a veia porta e a veia cava caudal que ao exame do doppler mostrou-se
fluxo sanguíneo irregular e turbulento.Com tais resultados o paciente foi encaminhado
para o setor de cirurgia de pequenos animais a fim de realizar a cirurgia de oclusão do
vaso anômalo que ligava a veia porta a veia cava caudal (FOSSUM, 2006).

O tratamento elaborado para o animal foi conservador e baseado na literatura,


abrangendo o uso de antibioticoterapia com metronidazol, a fim de reduzir a
concentração de bactérias intestinais (BERENT e WEISSE, 2007; BERENT e TOBIAS,
2009; FOSSUM et al., 2013; JOHNSTON e TOBIAS, 2018), lactulose por via oral ou
através de enema por via retal que reduz a absorção de amônia no TGI e atua
aumentando a concentração de água na luz intestinal, reduzindo o tempo de retenção
fecal (FOSSUM et al., 2013; MONNET, 2013).Foi prescrita ração Hepatic Canine® da
Royal Canin®(BROOME et al., 2004; GREENHALGH et al., 2014; TIVERS et al.,
2014).

Até o momento o paciente não foi submetido ao procedimento cirúrgico, pois


durante os exames pré-anestésicos foi diagnosticado babesiose, devendo ser o paciente
primeiramente tratado. Segundo descrito em estudos manter o paciente apenas com o
tratamento conservador aumenta a taxa de mortalidadeem cerca de 40% em relação ao
tratamento cirúrgico, já que não resolve as consequências da perfusão hepática
diminuída (JOHNSTON e TOBIAS, 2018). Desta forma recomenda-se, quando
possível, a realização da cirurgia de correção do SPS.
70

5.1 Conclusão

A realização do ESO se mostrou de grande importância para a minha formação


pessoal e profissional. A possibilidade de conhecer realidades diferentes da qual me
encontro inserida desde o início da graduação possibilitou o apuramento de interesses e
ampliou as opções de locais para realização de aperfeiçoamentos e especializações após
a graduação.

Através desse estágio obtive conhecimento sobre diversas patologias, em


especial na área de Neurologia. Assim, o presente relatório expos uma afecção
neurológica secundária a uma disfunção hepática, me permitindo pesquisar e entender
que mesmo sendo a doença hepatobiliar mais comum em cães, por apresentar sinais
clínicos inespecíficos, o shunt portossistêmico pode ser subdiagnosticado por não
estarmos familiarizados com as suas diferentes apresentações clínicas.

Tão importante quanto o diagnóstico é estar apto a adotar a conduta terapêutica


adequada, podendo melhorar os sinais clínicos com o uso do tratamento conservador,
mas tendo ciência que este, em longo prazo, não evita a degradação da função hepática,
sendo o tratamento cirúrgico a melhor opção tanto para SPSEH como SPSIH, até
então.Também compreendi que assim como a homeopatia, outras possibilidades de
tratamento podem ser pesquisadas, podendo ser combinadas a fim de atenuar ou
prevenir a encefalopatia hepática, que dentre as complicações causadas pelo SPSé a que
gera maiores riscos para a saúde do paciente.
71

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