Casuistica Aves Rocha
Casuistica Aves Rocha
Casuistica Aves Rocha
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE
BELÉM
2017
HENRIQUE PIRAM DO COUTO ROCHA
BELÉM
2017
Rocha, Henrique Piram do Couto
Estudo retrospectivo de procedimentos cirúrgico dos animais
atendidos no ambulatório de animais silvestres e exóticos –
HOVET/UFRA no período de 2015 E 2016 / Henrique Piram do Couto
Rocha. – Belém, 2017.
52 f.
CDD – 636.089705
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE
BANCA EXAMINADORA
______________________________________________
______________________________________________
______________________________________________
A todos aqueles que direta ou indiretamente me ajudaram a chegar até aqui, meus pais Jorge e
Sonia, minha avó Iracilda por todo o suporte e amor incondicional, a professora Ana Silvia
que sempre acreditou em mim e me deu oportunidades únicas, a todos colegas, estagiários e
treinandos que acabaram se tornando amigos e por último e não menos importante a todos os
animais que tive a oportunidade de ajudar, que foram, a princípio, o motivo para escolher essa
profissão, meu muito obrigado.
DEDICATÓRIA
Dedico esse trabalho a minha querida e amada filha Luiza, cujo sorriso é meu maior
incentivo.
Sua tarefa é descobrir o seu trabalho e então,
com todo o coração, dedicar-se a ele.
– Buda
LISTA DE TABELAS
A fauna é de grande importância para a humanidade por seu notável valor ecológico,
científico, econômico e cultural. O Brasil é responsável pela gestão do maior patrimônio de
biodiversidade do mundo com aproximadamente 8.200 espécies de vertebrados, das quais 627
estão listadas como ameaçadas de extinção. A clínica médica e cirúrgica de animais selvagens
vem adquirindo crescente importância na prática veterinária moderna devido à preocupação
com a saúde desses animais. O presente trabalho teve como objetivo realizar um estudo
retrospectivo das intervenções cirúrgicas realizada nos animais atendidos no Ambulatório de
Animais Silvestres (AAS) do Hospital Veterinário Mário Dias Teixeira (HOVET) da
Universidade Federal Rural da Amazônia, analisando as fichas individuais de todos os
animais atendidos e realizando a identificação dos atendimentos com intervenção cirúrgica
para apresentar sua ocorrência e distribuição de frequência segundo a classe, ordem, espécies
acometidas, tipos de enfermidades e procedimentos realizados e assim comparar o resultado
obtido com os descritos na literatura. A realização desse estudo é importante devido ao
aumento da ocorrência dessas espécies como animais de companhia, bem como a sua
importância para a manutenção da saúde de animais silvestres cativos ou de vida livre, de
maneira que possa ser exposto a necessidade do aprimoramento profissional do Médico
Veterinário para que este esteja apto para realizar tais procedimentos, bem como, salientar a
importância da aquisição de materiais e na implementação de equipamentos adequados para o
atendimento nas mais diferentes espécies de animais silvestres e exóticos atendidos pelo
Ambulatório de Animais Silvestres com o apoio das demais áreas e especialidades que
existem no Hospital Veterinário Dr. Mário Dias Teixeira da Universidade Federal Rural da
Amazônia. No período estudado foram atendidos 522 animais silvestres e exóticos, destes 213
(41%) pertenciam a classe Mammalia, 58 (11%) pertenciam a classe Reptilia e 251 (48%)
pertenciam a classe Aves, destes atendimentos, 81 (16%) animais passaram por pelo menos
um procedimento cirúrgico, dos quais 38 (47%) em mamíferos, 18 (22%) em répteis e 25
(31%) em aves.
The fauna is of great importance for humanity for its remarkable ecological, scientific,
economic and cultural value. Brazil is responsible for managing the world's largest
biodiversity asset with approximately 8,200 species of vertebrates, of which 627 are listed as
threatened with extinction. The medical and surgical practice of wild animals has become
increasingly important in modern veterinary practice due to the concern for the health of these
animals. The aim of this study was to perform a retrospective study of the surgical
interventions performed in the animals treated at the Veterinary Hospital Ambientaria (AAS)
of the Veterinary Hospital Dr. Mário Dias Teixeira (HOVET) of the Federal Rural University
of Amazonia, analyzing the individual records of all the animals served And performing the
identification of the surgical interventions to present their occurrence and frequency
distribution according to the class, order, species affected, types of diseases and procedures
performed and thus compare the result obtained with those described in the literature. This
study is important because of the increase in the occurrence of these species as companion
animals, as well as their importance for the maintenance of the health of captive or free wild
animals, in a way that may be exposed to the need for professional improvement of the
Physician Veterinarian so that it is able to carry out such procedures, as well as to emphasize
the importance of the acquisition of materials and the implementation of appropriate
equipment for the care in the most different species of wild and exotic animals attended by the
Ambulatory of Wild Animals with the support of the others Areas and specialties that exist in
the Veterinary Hospital Mário Dias Teixeira of the Federal Rural University of the Amazon.
In the study period, 522 wild and exotic animals were considered, of which 213 (41%)
belonged to the Mammalia class, 58 (11%) belonged to the Reptilia class and 251 (48%)
belonged to the Aves class. At least one surgical procedure, of which 38 (47%) in mammals,
18 (22%) in reptiles and 25 (31%) in birds.
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................11
2 REVISÃO DE LITERATURA...........................................................................................12
2.1 Contextualização...............................................................................................................12
2.2 Mamíferos..........................................................................................................................13
2.2.1 Anatomia dos mamíferos silvestres.................................................................................14
2.2.2 Anestesia em mamíferos silvestres..................................................................................15
2.2.2.1 Felídeos.........................................................................................................................16
2.2.2.2 Canídeos........................................................................................................................17
2.2.2.3 Primatas.........................................................................................................................17
2.2.2.4 Roedores e lagomorfos..................................................................................................17
2.2.2.4 Cingulata e pilosa..........................................................................................................18
2.2.3 Particularidades cirúrgicas em mamíferos silvestres e exóticos......................................19
2.2.4 Afecções cirúrgicas em mamíferos silvestres e exóticos.................................................20
2.3 Aves....................................................................................................................................23
2.3.1 Anatomia Aves.................................................................................................................24
2.3.2 Anestesia e analgesia em aves.........................................................................................25
2.3.3 Particularidades cirúrgicas em aves.................................................................................26
2.3.4 Afecções cirúrgicas em aves............................................................................................27
2.4 Répteis................................................................................................................................29
2.4.1 Anatomia dos répteis........................................................................................................30
2.4.2 Anestesia e analgesia em répteis......................................................................................31
2.4.3 Particularidades cirúrgicas em répteis..............................................................................32
2.4.4 Afecções cirúrgicas répteis..............................................................................................33
3 METODOLOGIA..................................................................................................................3
4 RESULTADOS.....................................................................................................................35
5 DISCUSSÃO.........................................................................................................................40
6 CONCLUSÃO......................................................................................................................44
7 BIBLIOGRAFIA..................................................................................................................45
11
1 INTRODUÇÃO
Ao longo do tempo, os animais selvagens, estão se tornando mais populares como animais
de companhia, o que coloca o Médico Veterinário em uma posição importante enquanto da
orientação e esclarecimento ao proprietário sobre o correto manejo e cuidados sanitários da
espécie em questão.
2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Contextualização
Há diversos fatores que geram perdas da fauna e flora brasileira, que citado por
Segundo Catão-Dias (2003), as causas que provocam essa perda são diversas e muitas vezes
complexas, destacando-se predominantemente o desmatamento. O tráfico de animais tem
influência direta na degradação da fauna brasileira. Esse tipo de atividade gera um aumento
do número de animais silvestres em cativeiro domiciliar como animais de estimação, na
maioria das vezes ilegal, sendo considerado crime contra a fauna brasileira (IBAMA, 2015).
Esses traumas podem levar a diversas afecções e sinais clínicos como luxações e
fraturas, prostração, desidratação, anorexia devido a estresse de captura, abscessos, feridas,
déficit nutricional e septicemia (CUBAS; SILVA; CATÃO-DIAS, 2007). A consequência
disso é o aumento significativo no número de atendimentos a animais silvestres e exóticos na
rotina do médico veterinário (SCHULTE; RUPLEY, 2004).
13
O profissional dessa área pode atuar em diversas especialidades como a clínica médica
e cirúrgica, ortopedia, anestesiologia, entre outras. Além disso, pode também exercer
atividades de conservação do meio ambiente, assistência a criadouros, a medicina de animais
de zoológico e mascotes não convencionais e centros de triagens de animais silvestres
(CARDOSO et al., 2010). Consequentemente, nos últimos anos houve um 12 crescimento na
produção científica no Brasil, com destaque na medicina de animais silvestre e exóticos,
devido ao interesse de divulgação de informações por profissionais dessa área (SANTOS,
2012).
2.2 Mamíferos
Diferente do continente africano, onde os grandes mamíferos podem ser vistos nas
savanas, no Brasil a maioria é de pequeno porte e de difícil observação, vivendo camuflados
entre a vegetação com atividades principalmente durante a noite. Para se camuflar apresentam
pelos que apresentam coloração que se assemelha com o ambiente, além, da função de
termorregulação que essa estrutura apresenta. Essas estruturas estão presentes até mesmo nas
espécies cobertas com placas ósseas como os tatus e nos cetáceos durante a fase embrionária.
O tecido adiposo na região subcutânea, tem sua espessura dependendo da espécie,
apresentando função termorreguladora e de reserva de energia em tempos de escassez
(STORER; USINGER, 1974).
A característica mais notável nos mamíferos talvez seja a existência de diversos tipos
de glândulas, dando destaque para a glândula mamaria, que são constituídas por um sistema
de dutos por onde passam o leite, o qual apresenta uma proporção adequada de proteínas,
gorduras, carboidratos, vitaminas e sais minerais que proporcionam o desenvolvimento
adequado dos filhotes. Em muitas espécies de mamíferos o período de convivência com os
pais é onde ocorre aprendizagem de comportamentos que auxiliaram na sobrevivência do
individuo na fase adulta, diferenciando-se de outros vertebrados graças a complexidade e
tamanho aumentados com a evolução do sistema nervoso central (POUGH; HEISER;
McFARLAND, 1993).
A analgesia balanceada deve ser considerada para todos os pacientes, já que combina a
ação de fármacos que atuam em locais diferentes no sistema nocieptivo, podendo ser mais
eficaz e menos tóxico do que um medicamento administrado isoladamente. Em animais de
16
laboratório foi demonstrado a sinergia quando utilizados opioides, que atuam a nível do
sistema nervoso central com anti-inflamatórios não esteroidais que atuam perifericamente,
principalmente diminuindo a inflamação e a sensibilização periférica, inclusive a combinação
de opioides com anti-inflamatórios não esteroidais e/ou anestésicos locais como analgesia pré-
operatória, que bloqueia à transmissão de estímulos dolorosos para o sistema nervoso central,
reduzindo assim o potencial total para a dor e inflamação (HAWKINS; PASCOE, 2014).
2.2.2.1 Felídeos
São divididos em pequenos felídeos (animais com menos de 20kg) e grandes felídeos
(animais com mais de 20kg), a principal diferença entre os dois grupos se da pela forma de
administração do anestésico, o primeiro grupo pode ser contido com puças e luvas de couro e
a medicação é aplicada manualmente com seringas e o segundo grupo o anestésico é
arremessado a distância com dardos e bastões. A anestesia em felídeos selvagens pode ser
extrapolada de gatos domésticos, inclusive devido à características anatômicas e fisiológicas
(VILANI, 2014).
17
2.2.2.2 Canídeos
2.2.2.3 Primatas
nã ser realizado jejum alimentar. Em roedores que armazenam alimentos nas bolsas orais,
deve ser realizado o esvaziada antes da indução anestésica ou imediatamente após, a fim de
evitar aspiração. Procedimentos longos, somados a longos períodos de recuperação anestésica,
podem promover hipoglicemia, diminuindo o consumo metabólico e prolongando ainda mais
a recuperação, por isso, deve ser feito controle glicêmico trans e pós-anestésico com reposição
de glicose por via intravenosa ou intraperitoneal, ainda pode ser realizada por via oral, já que,
gotas de glicose a 50% podem ser absorvidas pela mucosa oral e são úteis em roedores
menores de 100 g. Quando procedimentos prolongados são previstos, glicose a 50% pode ser
administrada previamente por via oral, a hipotermia deve ser prevenida pelo aquecimento da
sala ou do paciente com colchões e bolsas térmicas (VILANI, 2014).
A cirurgia em animais silvestres teve seu início com a utilização de primatas não
humanos como preparação para cirurgiões humanos, ou seja, os trabalhos de pesquisa em
animais possibilitaram o conhecimento aplicado à medicina humana (BRODNER;
MARKOWITZ; LANTNER, 1987; IKAI, et al., 2005). Hoje, por motivos éticos e de bem-
estar animal, essa prática apresenta limitações legais e agora, são os primatas não-humanos
que se beneficiam das práticas e aperfeiçoamento ocorridos na cirurgia humana
(BERNADINO, 2014).
cirurgia é muito mais limitada quando comparada com as espécies domesticas, muitas vezes o
cirurgião dispõe de pouco tempo para a preparação cirúrgica (VILANI, 2014).
No pós-operatório o monitoramento contínuo pode não ser possível, uma vez que o
efeito do anestésico tenha terminado o manejo pode se tornar inviável; o monitoramento é em
grande parte realizado apenas baseando-se na simples observação do paciente, colheita de
material biológico e realização de exames diagnósticos para acompanhamento da evolução, o
que pode ser difícil ou até mesmo inviável; a colocação de protetores de ferida é mais
dificultoso devido ao comportamento selvagem e se o animal viver em agrupamentos sociais é
necessário o rápido retorno do individuo para que não ocorra rejeição pelos demais
integrantes (VILANI, 2014).
felídeo, causando focos de infecção, inviabilizando, muitas vezes, a vida do felídeo selvagem,
por isso, antes da opção pela cirurgia, deve-se avaliar a viabilidade do pós-cirúrgico. Devido à
grande sensibilidade dos felídeos selvagens a muitos patógenos comuns em animais
domésticos, as cirurgias e tratamentos realizados em instalações destinadas a animais
domésticos deve ser desestimulada (ADANIA; SILVA; FELIPPE, 2014).
2.3 Aves
Aves são animais vertebrados, emplumados e com capacidade para voo, são animais
mais primitivos que os mamíferos, apresentando aproximação aos répteis, em sua origem
evolutiva. Se evidenciam diferenças anatomo-fisiológicas quando comparadas as mamíferos
(EVANS, 1982).
Possuem pele fina, inelástica e mais delicada e possui numerosos vasos sanguíneos
como capilares e veias calibrosas (COLES, 2007). As penas primária e secundárias das asas
estão aderidas aos ossos do metacarpo e ulna respectivamente (MARTIN; RICHIE, 1994). A
cicatrização de feridas nessa classe recorre-se dos mesmos eventos que nos mamíferos
(BOWLES et al., 2006).
O sistema respiratório das aves é constituído por dois componentes que se diferem
pela função de condução do ar, com destaque aos sacos aéreos, e os de trocas gasosas. Os
sacos aéreos são extensões dos brônquios na cavidade celomática, dividindo espaço com os
órgãos internos. Dos sacos aéreos derivam divertículos que se estende pelos forames
pneumáticos da cavidade medular dos ossos adjacentes formando os ossos pneumáticos. Essa
característica leva a uma menor massa esquelética tornando os ossos mais frágeis diante de
um trauma, e propensos a desenvolver saculite, pneumonia ou asfixia em casos de exposição
dessas estruturas com o meio externo, além de contaminação com debris ou fluidos
(MARTIN; RICHIE, 1994; DYCE; SACK; WENSING, 1997; BEMMETT, 1997;).
25
Assim como a cirurgia realizada em outras classes a técnica deve ser feita de forma
asséptica, respeitando as normas para uma cirurgia limpa, além do conhecimento anatômico e
fisiológico do paciente por parte do cirurgião, devendo ser realizadas rápidas e delicadamente
quando comparadas à cirurgias realizadas em mamíferos, além da necessidade de uma boa
avaliação pré-operatória, monitoramento durante o procedimento e o acompanhamento no pós
operatório (CUBAS; GODOY, 2007). A familiarização com a anatomia é fundamental, sendo
aconselhado que o cirurgião faça treinamento das técnicas a serem trabalhadas primeiramente
em cadáveres (BENNETT; HARISSON, 1994).
Na antissepsia deve-se dar preferencia para compostos não alcoólicos como iodo-
povidona e clorexidina, e os panos de campo devem ser leve para não comprimir o animal e
dificultar sua respiração, o posicionamento da mão do cirurgião e dos instrumentais também
deve ser cuidadoso para que não dificulte a respiração (BOWLES et al., 2006; CUBAS;
GODOY, 2007).
decúbito ventral e lateral e inclinação positiva da cabeça entre 30 e 40° para evitar retorno de
fluidos esofágicos para o sistema respiratório (COLES, 2007).
Uma das afecções mais comuns em aves são as de origem ortopédica causadas por
traumas, deficiências nutricionais, infecções e distúrbios metabólicos (HELMER; REDIG,
2006).
Além da cirurgia em si, outras particularidades devem ser levadas em conta, como,
tomar cuidado na hora de arrancar as penas da asa na preparação do pré-operatório, pois elas
são fundamentais no retorno ao voo dessas aves. No caso de arrancamento será necessário
esperar até a próxima muda, o que em algumas espécies podem demorar anos (FOWLER,
2001).
28
Em alguns casos de fraturas pode haver lesão no suporte sanguíneo, além de lesão de
nervos. Há maior instabilidade nos fragmentos fraturados e em muitos casos a perfuração da
pele agrava a viabilidade do osso afetado. O tamanho dos pacientes também é um fator
limitante, técnicas utilizadas em aves grandes não são viáveis em aves menores. Existe a
necessidade de implantes menores além do alto grau de morbidade e mortalidade cirúrgica
nesses pacientes. Por esses fatores frequentemente se opta por tratamento conservativo nesses
pequenos pacientes (HELMER; REDIG, 2006).
2.4 Répteis
Existem mais de 7.000 espécies de répteis de varias formas, tamanho, fisiologia, dieta
e habitats distribuídos em quatro ordens Crocodila, representada por crocodilos, gaviais e
aligatores, Rhynchocephalia com apenas duas espécies que ocorrem na Nova Zelândia,
Squamata que representada pelos lagartos e serpentes e Testudinea representada por
tartarugas, jabutis e cágados (MADER, 2006; FOWLER, 2008).
Os répteis estão cada vez mais próximos do convívio com o ser humano, pelo seu uso
como animal de estimação, uso comercial (carne e couro), degradação de habitat, zoológicos.
30
O uso como pet teve um grande crescimento nos últimos anos, gerando assim uma demanda
cada vez maior de serviços veterinários especializados nessa classe (CAMPBELL, 2004).
A anestesia em répteis é uma área de grande obscuridade, tendo seus primeiros relatos
na década de 1930 onde foi utilizado anestesia a base de clorofórmio em uma serpente, e
posteriormente foram surgindo relatos do uso de mtoxiflurano, que proporciona tempo de
indução e retorno prolongados (BERTELSEN, 2007).
Agentes inalatórios também são utilizados para se obter plano anestésico em répteis,
sendo o isoflurano o mais utilizado, sendo relatados, entretanto, que o isoflurano pode
produzir uma redução na frequência cardíaca de 25%, além de depressão respiratória
profunda, porém apresenta bons resultados na obtenção de planos anestésicos, além de um
retorno rápido (GOULART, 2004; BERTELSEN, 2007). O uso de anestésicos locais é uma
boa opção para se melhorar a analgesia, podendo ser utilizado em associação com a anestesia
injetável ou inalatória (LONGLEY, 2008).
Na colocação de pano cirúrgico para isolamento da área cirúrgica não se deve utilizar
pinças, uma vez que répteis possuem tecido subcutâneo muito delgado, podendo assim atingir
um órgão interno. A sutura se assemelha aquela aplicada em mamíferos quando se refere aos
fios utilizados, contudo, fios absorvíveis podem demorar mais a serem absorvidos ou até
mesmo não sofrerem absorção, sendo assim, mais recomendado a utilização de fios menos
33
Muitas técnicas convencionais utilizadas nas outras classes podem ser empregadas
para os répteis, porém, existem algumas espécies com particularidades anatômicas que
necessitam de que novas técnicas sejam criadas para uma eficácia maior na estabilidade de
fraturas, como no caso dos testudines, que possuem carapaça e plastrão, com formas e
tamanhos variando de acordo com a espécie, que podem sofrer injúrias que necessitaram de
reparações. Existem na literatura diversos protocolos, procedimento, materiais e produtos
comerciais adaptados que são empregados na reparação desse tipo de fratura em testudines
34
(SANTOS et al. 2009; CUBAS; SILVA; CATÃO-DIAS, 2014). Valente et al. (2012)
utilizaram para reparação de fratura de carapaça em um tigre-d’água (Trachemys dorvignyi)
fios de aço associado a resina de polimetilmetacrilato com boa consolidação após 60 dias.
Ainda são escassos as publicações sobre essas afecções e a correção cirúrgica nessa
classe de animais, entretanto, o estudo dos reépteis vem ganhando cada vez maior importância
na Medicina Veterinária, seja pela necessidade conservacionista, seja pela procura crescente
da utilização como animais de companhia (MATIAS et al., 2006).
3 METODOLOGIA
Logo após a análise dos dados, foi estabelecida a frequência de cada variável por
período anual e no período total do estudo, de a comparar a evolução dos atendimentos dentro
do período estudado.
5 RESULTADOS
...final
Fratura/Amputação de membro ou dígito 2 6%
Fratura/Fixação óssea 1 2%
Fratura dentária/Extração dentária 1 2%
Total 38 100%
Dos 18 procedimentos cirúrgicos realizados nos répteis atendidos, dois (11%) tiveram
envolvimento ortopédico, sendo os dois procedimentos amputações de membro em duas
iguanas-verde (100%) (Iguana iguana) que tiveram fratura exposta com laceração profunda
na musculatura com comprometimento irreversível da irrigação sanguínea; três (17%) com
envolvimento misto (ortopédico e tecido mole), sendo um (33,3%) jabuti (Chelonoides spp)
com prolapso de pênis decorrente de obstrução intestinal por corpo estranho que passou pelos
procedimentos de penectomia para amputação do pênis e enterotomia para a retirada do corpo
estranho e uma (33,3%) jabuti (Chelonoides spp) com prolapso de oviduto decorrente de
retenção de ovos submetida a uma salpingostomia por celiotomia, em ambos os casos, para se
acessar a cavidade celomática os animais, foram submetidos a plastrotomia, que é a abertura
cirúrgica do plastrão que é um processo ortopédico e por último o caso de uma (33,3%)
aperema (Rhinoclemmys punctularia) que foi atropelada e apresentou politraumatismo e
exoftalmia, sendo submetida ao procedimento de osteossintese mandibular, enucleação dos
dois globos oculares e a colocação de sonda para alimentação forçada através de
esofagostomia.
Treze (72%) dos casos foram procedimentos envolvendo tecido mole, sendo eles oito
(62%) penectomias em jabutis (Chelonoides spp.), com inconclusiva causa primária do
prolapso peniano, porém, suspeitando-se de envolvimento nutricional-metabólico; três (23%)
38
...fim
Pseudoscops clamator (Coruja-orelhuda) 1 4%
Pteroglossus sp. (Araçari) 1 4%
Tyto furcata (Suindara) 1 4%
Total 25 100%
Doze (48%) dos procedimento foram realizados em tecido mole, sendo sete (58%)
debridamentos cirúrgicos de feridas, dois (18%) em galos (Gallus gallus) para remoção de
tecido necrosado em membros devido a pododermatite; três (25%) debridamento para
remoção de tecido necrosado em patágio de três garças-branca-grande (A. alba) e em uma
(8%) corujinha-do-mato (Megaschops choliba) e um (8%) debridamento de tecido
contaminado seguido de sutura em um (8%) papagaio-do-mangue (A. amazônica) atacado por
um cachorro; duas (17%) exéreses de tumor, sendo um lipoma em um papagaio-do-mangue
(A. amazônica) e remoção de múltiplos nódulos papilomatosos em uma murucututu (Pulsatrix
perspicillata); uma (8%) remoção de cisto de pena em um araçari (Pteroglossus sp.); uma
(8%) enucleação em um papagaio-do-mangue (A. amazônica) onde uma conjuntivite
bacteriana evoluiu para necrose do globo ocular, e por último uma reconstrução de ingluvio
40
em um (8%) papagaio-do-mangue (A. amazônica) que foi atacado por cachorro e teve seu
ingluvio parcialmente destruído (Tabela 6).
5 DISCUSSÃO
Essa grande ocorrência de aves registradas por diferentes autores está relacionado com
a rica auvifauna brasileira, sendo uma das maiores do mundo. A perda, degradação e
fragmentação de habitats, captura pra comércio ilegal e a caça são as principais ameaças às
aves brasileiras (MARINI; GARCIA, 2005).
Porém, no trabalho dos mesmos autores as aves são também a classe que mais foram
submetidas a procedimentos cirúrgicos, o que contraria o achado no presente trabalho, onde
os mamíferos se destacam com 38 (47%) procedimentos realizados no período, contra 25
(31%) procedimentos realizados em aves, essa discrepância pode se dar por dois motivos,
41
Neto et al. (2016) fez um estudo retrospectivo de mamíferos e répteis recebidos pelo
CETAS de Boa Vista no ano de 2015, obtendo um grande número de recebimento de
mamíferos da ordem Pilosa, que no presente trabalho, foi o mamífero selvagem que mais
passou por procedimentos cirúrgicos, com o total de atendimento de 3 individuos,
representanto um total de 8% dos mamíferos e 4% do total de atendimentos, relata que são
animais fáceis de serem encontrados nos espaços urbanos em Boa Vista e que é comum o
acidente desses como queda de postes e acidentes com a fiação elétrica, como foi determinado
a causa das afecções dos animais atendidos no Ambulatório de Animais Selvagens no
presente trabalho.
Miranda et al. (2013) que fez um levantamento também na UFBA encontrou o oposto
de Rodamilians et al. (2011), onde os lagomorfos tiveram um maior número de atendimento
quando comparado com os roedores, corroborando o encontrado no presente trabalhos, e
demonstrando uma variação do número de atendimento dessas ordens em hospitais que
42
Quanto aos répteis Rodamilans et al. (2011) no mesmo estudo demonstrou que todos
os atendimentos realizados nessa classe foram em jabutis com afecções de ordem reprodutiva
(prolapso peniano e prolapso de oviduto) e apenas um individuo iguana-verde, e Miranda et
al. (2013) encontraram que dos 89 répteis atendidos 81 eram jabutis e 4 iguanas, todos com
desordem reprodutiva, traumas e distúrbios gástricos, em ambos os trabalhos, o que se
observa é que os resultados se assemelham aos encontrados no atual trabalho, onde os jabutis
foram os que registraram número de casos (13), seguido pelas iguanas (3 casos), portanto
representando um total 88% dos répteis atendidos, e as principais afecções também são
semelhantes com nove casos de prolapso penianos em jabutis e 2 prolapsos de oviduto,
representando 52% dos procedimentos cirúrgicos realizados nos répteis e problemas
decorrentes de traumas com ou sem fratura, totalizando cinco casos ou 24% dos
procedimentos cirúrgicos nessa classe, perfazendo 76%, tanto nos trabalhos realizados pelos
autores acima citados quanto no presente, constatou-se que grande parte das afecções são
causadas por manejo inadequado, principalmente o manejo alimentar, demonstrando a
importância da aproximação desses proprietários com a conscientização ambiental para
melhorar o bem estar animal e evitar infecções e crimes ambientais.
Quanto as aves pode-se observar que 52% dos procedimentos foram de ordem
ortopédica, o que condiz com o achado por Helmer e Redig (2006), onde afirmam que injúrias
ortopédicas são frequentes em aves devido a sua anatomia, apesar de Bennett e Harrisson
(1994) terem ressaltado que cirurgias em tecido mole realizadas em aves tem aumentado
substancialmente nos últimos anos. Schimidt e Quesenberry (1997) e Reavill (2004) apontam
para um crescimento de cirurgias relacionadas com neo-formações, onde no presente trabalho
foram realizados dois procedimentos dessa ordem (8%), Altman (1999) diz que cirurgias
abdominais e torácicas, especialmente em animais muito pequenos, continuam ainda a ser um
desafio nessa classe de animais.
Burr (1987) e Forbes e Lawton (1996) em seus estudos encontraram as mesmas ordens
de aves das encontradas nesse estudo, com exceção da ordem pelecaniforme, aqui
representada pela garça-branca (Ardea alba) e o socozinho (Butorides striata), isso
provavelmente ocorreu devido a grande presença dessas espécies na região do presente
trabalho e da aproximação desses animais com o ambiente urbano somado com o hábito da
população de arremessar objetos contra esses animais com o intuito de vê-los voando.
44
A alta prevalência de rapinantes com sete indivíduos ou 28% dos casos, sendo cinco
strigiformes, e dois accipitriformes se dá pela presença abundante dessas espécies no local da
realização do estudo, com grande presença de áreas verdes, além de serem espécies que já
apresentam um certo grau de adaptação ao meio urbano.
6 CONCLUSÃO
8 BIBLIOGRAFIA
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