Mesmo que isto seja um texto de merda.
É preciso insistir, dizia-me um passarinho hoje. É preciso, mesmo em dias cinzentos, insistir. Abraçar a frustração de não conseguir escrever. Sentarmo-nos com ela a fumar um cigarro, encará-la, deixar que nos dissolva a paciência, e vai daí escrever alguma coisa; qualquer coisa. Pode ser que daí surja zanga, mais zanga ainda, porque ao reler percebemos: "isto está mesmo uma merda!". E pega-se nessa zanga avolumada, nessa trouxa sem jeito, nesse molho de brócolos mal enjeitado, e escreve-se outra vez. Zangados e tudo; a fumegar, se for preciso.
"Tal como andar de bicicleta", dizia-me o passarinho, "se não praticas durante muito tempo, a atrapalhação não quer dizer que tenhas deixado de saber andar. Mas não convém atirares-te por uma rampa abaixo, depois de teres passado muito tempo sem andar. Começa devagarinho."
Aceita o ziguezaguear da bicicleta como teu. Como natural, e como temporário. Irrita-te com isso, se isso te fizer mexer para mudar. Mas não te zangues contigo. Não voltes costas.
Aceita o vocabulário repetido (que terror); aceita que aquela ideia brilhante se esfumou nos instantes que demoraste a conseguir parar para a anotar. Aceita que metade dos sentimentos não estão a sair, não transparecem. Aborrece. Não te acomodes, mas não risques. Lê uma vez e outra, até que a fúria te saia disparada pelos olhos e se cole ao papel. Sim, nem que seja ela, mas que alguma coisa, algum veículo, por mais ridículo que possa parecer, te ajude a chegar onde tu sabes que és capaz de chegar. E que tu, tão cheia de coisas para contar, se calhar simplesmente não sabes por onde começar.
Mesmo que acabe por sair um texto de merda, escreve.
[bem hajam os passarinhos.]
"Tal como andar de bicicleta", dizia-me o passarinho, "se não praticas durante muito tempo, a atrapalhação não quer dizer que tenhas deixado de saber andar. Mas não convém atirares-te por uma rampa abaixo, depois de teres passado muito tempo sem andar. Começa devagarinho."
Aceita o ziguezaguear da bicicleta como teu. Como natural, e como temporário. Irrita-te com isso, se isso te fizer mexer para mudar. Mas não te zangues contigo. Não voltes costas.
Aceita o vocabulário repetido (que terror); aceita que aquela ideia brilhante se esfumou nos instantes que demoraste a conseguir parar para a anotar. Aceita que metade dos sentimentos não estão a sair, não transparecem. Aborrece. Não te acomodes, mas não risques. Lê uma vez e outra, até que a fúria te saia disparada pelos olhos e se cole ao papel. Sim, nem que seja ela, mas que alguma coisa, algum veículo, por mais ridículo que possa parecer, te ajude a chegar onde tu sabes que és capaz de chegar. E que tu, tão cheia de coisas para contar, se calhar simplesmente não sabes por onde começar.
Mesmo que acabe por sair um texto de merda, escreve.
[bem hajam os passarinhos.]
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