Outono. Gratidão.
A alma vai-se condoendo com a necessidade de se recolher. O sol ainda petisca nos dias mas a sua cor vai-se amarelecendo, desbotando como um pano que se lavou muitas vezes. O Outono traz-nos isso; um lento abotoar, um avermelhar das folhas e uns rasgos de vento em dias de quarto crescente, para nos relembrar que é tempo de armazenar. As forças do ser concentram-se, atarefadas, em calcular o que é preciso para aguentar o rigor de mais um inverno. Sejamos inteligentes, diz-nos o coração, e tratemos disso agora. Para depois podermos congratular-nos à lareira, se a vida o trouxer em sorte, com as barreiras que erguemos para o frio. Carreguemo-nos de risos como se fossem cobertores, diz a criança de dentro. Vão fazer-nos falta para as brincadeiras dentro de casa. Aproveitemos ainda o chão morno e dancemos, agora, e ainda ao sol, diz o corpo. Como uma bateria solar que se carrega até transbordar, minutos antes de a luz se apagar. Vamos coleccionar mais algumas recordações dos pés solto...