Viagens dentro de mim
Sei que cheguei aqui sem nada, sem bagagens nem vestes que me cobrissem a vergonha. Exposta e à deriva, com as mãos a tapar-me em vão os segredos, sabendo que seria uma questão de momentos até que toda a minha alma fosse um espelho para o mundo... E sentei-me no canto mais perto do canto da sala, na zona mais escura, para que a penumbra me cobrisse os defeitos e as fragilidades. E esperei... esperei que a vergonha se desapegasse de mim, que os pontos fracos se fortalecessem e as memórias más se descolassem do pensamento. Rezei numa oração minha, ao Deus de todos, em que eu não acredito. Pedi-lhe um chuveiro gigante, um mar inabalável que me engolisse e na sua água levasse todos os meus pecados, tantos e tão tristes. E que no fim desse banho eu pudesse ser alguém melhor, mais grata e serena, mais estável e bonita. Deixa-me só o sorriso, Deus, nua e só de sorriso... Mas nada aconteceu. Nenhum milagre para me levantar da poeira, nenhuma novidade no meu coração. Senti que a viagem fora per...