18 de dezembro de 2010

CASAMENTO

Então achei que tinha encontrado a mulher da minha vida. O que continua me impressionando é que todos a minha volta viram seus defeitos, que só fui enxergar quando tudo acabou. Pelo menos tiveram a decência de esperar o fim para conversarem a respeito.
Parecia perfeito, o namoro começou como num filme água-com-açúcar. Morávamos no mesmo prédio, ela comentou algo de que gostei no orkut, chamei-a para conversar no msn. Um clássico contemporâneo. Evoluímos bem, ela gostava de cuidar de mim e eu dela. Tínhamos tudo para dar certo.

Depois de um ano de namoro perfeito, fomos morar juntos. Alugamos um apartamento grande de dois quartos, dividíamos as despesas, mobiliamos tudo e, como era de se esperar, os problemas surgiram.

Ela me cobrava casamento. Mas não podia ser apenas um casamento. Tinha que ter anel de noivado e pedido de filme. Eu não sou exatamente um cara criativo e, para piorar, acho essa influência do cinema americano ridícula. Mas estava disposto. Só que era cedo.

Aos poucos, fui percebendo realmente os defeitos que ela já havia me mostrado, mas não consegui transpor para a relação. Em pouco tempo, eu era culpado de tudo que dava errado. Todos os dias, ouvia a clássica "Não estou reclamando, estou só falando". Eu sou um cara pragmático: me traga um problema que eu começo a pensar numa solução. Mas ela não queria soluções, queria ter razão. Eu estava vivendo o Inferno de Sartre.

Depois entendi que, quando morava com a mãe, ela tinha seu saco de pancadas particular. Quando fomos morar juntos, coube a mim esta honra. Depois de quase um ano de desgaste, nos separamos. Aquele estresse permanente havia minado o amor que eu sentia por ela (mas não o que ela sentia por mim). Ela dizia: "Eu faço dar certo", e eu retrucava: "Não quero que dê certo, preciso ficar sozinho".

Precisava de espaço. E consegui. Mas agora, não consigo ver futuro para mim em nenhum tipo de relação.

Tudo isso para dar um conselho. Vocês são felizes? Ótimo. Querem casar? Dividam a sua vida por um ano, façam um test drive. Quando um casal vai morar junto, o relacionamento muda. Mudam as pessoas também.

13 de dezembro de 2010

CRITÉRIO

Dessa vez, não foi por falta de iniciativa. Eu estava curtindo um feriadão, ainda nem tinha feito treze anos, mas mulheres ainda eram ETs para mim, algo tão distante que, por mais desejo que eu tivesse, não tinha a menor ideia do que fazer perto de uma. Eu ainda era café-com-leite.

Mas eu simplesmente não estava interessado. Conheci-a nadando na piscina do hotel; ela puxou papo. Devia ser um pouco mais velha (na época, eu não sabia fazer as perguntas certas), mas olhou muito para mim. Eu, magrelo, não achava que meu corpo poderia atraí-la. Talvez tenha me achado bonito.


Não me atraiu. Mesmo assim, o recreador armou de nos encontrarmos mais tarde para jogar cartas ou algo assim. Nos encontramos, mas não jogamos nada, passamos a tardinha conversando. Bem agradável, aliás. Ela morava numa cidade na divisa com São Paulo, estava lá com a família... não me lembro bem.

Quase duas décadas mais tarde, parei para pensar no episódio. Se fosse hoje, eu teria ficado com ela, tentado levá-la para a cama, pegado seu telefone para nunca ligar. Mas na época, por mais que eu não fosse tentar nada com ela mesmo que me atraísse, eu tinha muito mais critério. Critério, aquela coisa que começa rígida, mas vai ganhando flexibilidade com o tempo, tornando-se, vez por outra, um mínimo de auto-preservação que se confunde com nosso próprio instinto de sobrevivência.

7 de dezembro de 2010

FREIO

Esse é o lance de ser homem: passar a juventude em busca de sexo. Talvez fosse mais fácil se a vida não fosse assim, se as coisas fossem bonitinhas, boy meets girl etc. Mas boy meets girl, boy fucks girl, boy meets another girl...
Essa é a roda-viva do sexo. Quando se descobre a fórmula para conseguir sexo todos os fins de semana (e alguns bônus nos dias úteis), a gente começa a sentir tudo cada vez menos real. É quando começamos a beber até cair seguidamente, e aprendemos o macete de amanhecer sozinho para não nos assustarmos com a noite passada. A tendência da auto-destruição falar mais alto faz com que procuremos qualquer coisa para se sentir algo novo.

Nessa hora, precisamos de um freio. O mais fácil é começar um relacionamento, ainda que não se goste muito dela, ainda que nada disso seja especial. É temporário, algo para pôr a cabeça no lugar e começar tudo de novo, dessa vez mais devagar, dessa vez com menos álcool e mais critério.

No final, ela vai sofrer. Mas ela não precisa saber o cafajeste que você foi. Afinal, tudo ia acabar um dia mesmo. É só fingir que algum dia algo começou.

27 de novembro de 2010

ALGO EM COMUM

O clima era de euforia total. Depois de vinte anos, eu ia ver outro show do Paul McCartney. Me custou os olhos da cara, mas considerando que já ganhei muito dinheiro tocando as músicas do velho Macca, era o mínimo que eu poderia fazer.
Porto Alegre, minha segunda vez na cidade. Combinei com um casal de amigos de dormir a primeira noite lá para poder buscar meus ingressos. Daí para frente, era guerra total, sem lugar para dormir, no máximo uma base para tomar banho.

Um litro e meio de chope foi a conta. Encontrei um amigo e decidimos procurar uma boate (lá se chama festa, boate é puteiro) rock and roll para esquentar para o dia seguinte. O casal se dispôs a me buscar quando a festa acabasse e eu prontamente aceitei a oferta.

Achamos. O lugar tinha fama de GLS, mas não parecia nada afetado. Considerando os lugares que já frequentei no Rio, não era nada demais. Não demorou e veio a primeira música dos Beatles. A DJ caprichou: Strawberry Fields Forever, Revolution, Back in the USSR, I am the Walrus... só porrada.

Comecei a caçar. Eu havia notado duas garotas sentadas num sofá desde o início da noite. Fui puxar papo. Consegui arrastá-las para a pista e confesso que fiquei em dúvida sobre qual seria o meu alvo.

Uma delas pareceu me dar mais condição, mas após eu começar a conversa, ela saiu de perto e me deixou sozinho com a amiga. O papo evoluiu bem até que cheguei mais junto.

– Por que você não fica com a minha amiga? Ela é o maior mulherão!
– Ué, você também é.
– Ah, fala com ela vai...
– Não estou entendendo...
– É que eu não gosto de meninos!

É... pelo menos alguma coisa a gente tinha em comum.

26 de setembro de 2010

VERGONHA (parte 2)

Estávamos consideravelmente ébrios quando chegamos. Os planos incluíam uma ida à boate, mas o corpo não permitia tal peripécia, embora parecesse permitir outras. Sentamos um pouco no sofá para descansar.

Todo aquele papo de "não sei se quero alguma coisa" atrasou meu movimento. Levei alguns minutos à frente da televisão para beijá-la e confesso que não soube bem como fazer para levá-la para o quarto. Percebi que essa não seria a solução.

Resolvi tentar uma especialidade minha: a parede. Não me lembro exatamente como fomos para lá, mas a tática funcionou. Aos poucos fui tirando sua calça e, logo, encontrei-me de joelhos com a língua entre suas pernas. Virei-a de costas e tratei de tirar a minha também. Já estávamos quase lá quando... "Peraí que eu vou pegar a camisinha". Não deu para esfriar, ela já estava em posição e começamos ali mesmo. Ela chegou a pedir para eu tirar a camisinha ("deixa eu te sentir!"), mas as paranoias que seguiriam não compensavam o prazer extra.

Fomos, finalmente, para o quarto. Eu estava por baixo quando, de repente...

– Fiquei com vergonha!
– Como assim?
– Você é lindo, é gostoso, mas eu tô com vergonha...

... e entrou no banheiro. E lá estava eu, sentado nu na cama com uma ereção de dar inveja me perguntando por que diabos essas coisas acontecem comigo.

Esfriamos. Ela foi tomar banho, depois eu, ela foi fumar um cigarro e deitamos na cama. Eu estava confiante que o sexo rolaria, era só uma questão dela ficar à vontade. E rolou maravilhosamente. Novamente fui tirando sua roupa, passeando por seu corpo com minha língua até parar la embaixo. Ela já estava ansiosa por me sentir quando parei para colocar a camisinha.

Experimentamos algumas posições até chegar na sua preferida, com ela de bruços e eu por cima. Aliás, essa é uma das poucas posições em que a camisinha não atrapalha em nada.

Dormimos, acordamos com alguma ressaca e eu tinha poucas horas antes de uma viagem a trabalho. Transamos novamente e, novamente, foi fantástico. Mas ela estava muito mal da véspera e eu não podia ficar mais tempo.

Fiz o que estava ao meu alcance para curar sua ressaca. "Posso te pedir uma coisa? Posso ficar aqui mais um pouco? Não quero ficar passando mal na rua". "Você acha que eu vou te expulsar da minha casa? Fica quanto tempo precisar. Eu preciso ir, só bate a porta quando sair".

E assim fui, deixando aquela mulher alta de seios fartos e corpo maravilhoso deitada em minha cama com a certeza de que, quando nos encontrássemos novamente, o jogo não seria tão complicado como dessa vez.

29 de agosto de 2010

VERGONHA (parte 1)

A situação era complicada, mas reconheço que a responsabilidade era totalmente minha. Eu decidi organizar a festa, eu avisei a turma e recolhi o pagamento, e tinha planos que certamente conflitariam com os de outras pessoas.

As duas estavam ali. Ela levou a tiracolo o marido e os filhos, portanto, estava fora de questão, ainda que outrora isso não tivesse sido empecilho. Procurei não cruzar muito meu olhar com o seu, até porque meus sentimentos por ela ainda são tão confusos como a situação em si. Já ela estava ali, disponível e a fim. Não parava de sorrir para mim, esperando algo em retorno. Fui educado, até carinhoso e atencioso. Mas, se não conseguiu me compreender da primeira vez, não havia de fazê-lo agora.

Mas não era com elas que eu estava preocupado, ou acerca de quem eu havia criado expectativa. Havia uma outra, que chegou a me assustar quando conheci pela forma como me encarava, mas, depois de um ano, eu já solteiro, deixei o meu interesse despertar. Eu sabia que ela só se despencara para o Rio por minha causa, embora isso tivesse de ficar velado, de alguma forma.

Ela até tinha onde ficar, mas estava fugindo de seu anfitrião. Não que ele fosse tentar alguma coisa, mas mais pelo excesso de atenção que lhe dispensava. Ela pediu, ao meu ouvido, que eu a ajudasse e não a deixasse nessa situação.

O problema, caros leitores, é que minha fama de galinha se espalhou mais rapidamente pelos meus amigos do que entre vocês, que conhecem mais do que qualquer um. E lá estava eu, quando ela me chamou para conversar. Ela sabia que eu já havia transado com sua roommate, e agora descobria sobre ela apenas pelo clima da situação.

– Não quero te atrapalhar, até porque não sei se eu quero alguma coisa... e você não vai querer trocar o certo pelo duvidoso.

Acho que uma das frases que eu mais ouvi antes do sexo foi "não vou transar com você", ou "não vai acontecer nada". Isso não me preocupou, até porque, ainda que nada acontecesse, eu estaria tranquilo. Mas ela insistiu:

– Poxa, a minha amiga... e uma conhecida... o que você quer?
– Nada com elas.

Respondi-lhe que o certo não era de meu interesse, e que se ela não fosse para a minha casa, eu iria sozinho e tudo bem. Era verdade, como disse, não queria voltar àquela situação. Deixei-a à vontade para decidir o que queria da noite, mas, enquanto caminhávamos para a minha casa, percebi que aquela situação ainda me daria muito trabalho.

29 de julho de 2010

PROSTITUTO

Nos conhecemos na época em que o Fotolog estava em alta, nos idos de 2003 ou 2004. Eu era um bom fotógrafo na época, tirava fotos interessantes, e mesmo as que eu tirava de mim tinham um quê de história ou de engraçadas. Além disso, o meu endereço no fotolog era bem chamativo, as pessoas iam parar lá por acaso.

Eu acabei com um certo número de admiradoras. Poucas, mas, para quem só me conhecia por foto, era um feito. Ela era novinha, virgem, não me interessava muito, mas acabei dando um beijo só para calar a sua boca.

Mais de meia década depois, chego eu completamente bêbado na boate em pleno carnaval e esbarro com ela na pista. Não leva cinco minutos e estamos nos atracando na parede. De novo. Mas, dessa vez, a continuação foi diferente.

Fomos parar na minha casa e transamos até eu pedir arrego. Com todo aquele álcool, não conseguia gozar de jeito nenhum. Até a hora em que ela me perguntou se eu tinha tomado alguma coisa. "Álcool", respondi. Já ela, gozou até perder as forças.

Nos encontramos furtivamente algumas vezes. Ela me apelidou de "Dildo", dizia às amigas que eu era seu prostituto e assim estava bem para mim. Não havia chance de aquilo evoluir, eu não sentia nada por ela além de tesão.

Até que ela me disse que iria morar na África a título de uma ONG para a qual ela estava trabalhando. A tensão fez ela querer transar como louca, pois achava que lá não encontraria ninguém interessante. Continuei sendo seu consolo, seu puto, e me sentia bem com isso. Aliás, ela foi a única pessoa até hoje a me dizer: "Que porra gostosa que você tem!". Achei que morreria sem ouvir isso.

Mas, por sua partida, ela precisaria se desfazer de suas coisas. E uma delas era seu carro. Ela o havia comprado havia somente oito meses e tinha medo de dirigir. Resultado: só havia rodado dois mil quilômetros. Perguntou-me se eu o compraria, ela ainda estava pagando as parcelas e tal. Joguei um verde: "Me passa as prestações e entuba a entrada que eu compro". Para minha surpresa, ela topou. Quitei as prestações à vista e fiquei com o carro. Um carro zero com dez mil reais de desconto.

Não sei se ela estava brincando quando disse que eu era seu prostituto, mas acabei muito bem pago por algo como uma dezena de programas.

19 de junho de 2010

PARÂMETRO

Dessa vez eu escolhi a dedo. Ela era gordinha, nariguda e tinha o cabelo pintado de loiro. Provavelmente ia continuar sozinha, então não tinha erro: ia adorar ficar comigo. Começamos a conversar, era muito simpática e tinha um jeitinho meigo. Ficamos, apesar de eu não ter me empenhado muito. Estava me garantindo em suas características físicas não tão atraentes para ficar com ela a noite toda, sem grandes ameaças.

Nada demais, mãos bobas, no máximo, mas eu não pretendia evoluir muito a coisa nem levá-la embora dali. Até que precisei levantar para ir ao banheiro e, naturalmente, pegar outra cerveja. Quando voltei, poucos minutos depois... nada, ninguém. Voltei para a pista e, para a minha surpresa, lá estava ela conversando cheia de sorrisos com um cara dez vezes mais bonito do que eu!


Deve haver algum moral nessa história, mas tenho uma certa dificuldade em descobrir qual é.

9 de junho de 2010

ADORO!

Ela passou sorrindo, parou e olhou para mim. Era bonitinha, nada que chamasse tanta atenção, mas tinha um belo sorriso de 22 aninhos. A tira colo, a amiga feia. Eu estava numa exposição agropecuária no interior de Minas (álcool, música ruim e mulheres bonitas – ou, pelo menos, arrumadas –, para quem não sabe como funciona), já era o terceiro dia e eu ainda no zero.

Nome, de onde é, etc... eu já mencionei que sou péssimo em abordagens? Mas, é aquilo, quando uma mulher responde ao seu pior papo, é porque ela realmente está interessada. Até que começamos a achar coisas em comum:

– Musiquinha ruim, né? Mas pelo menos é animada.
– Você também acha?
– É. Eu gosto mesmo é de rock.
– Adooooooro...
– Gosto muito de Beatles...
– Adooooooro...

Bom, o assunto estava acabando e eu lhe dei logo um beijo para que não precisássemos mais falar. Estava fácil, tudo ela adorava. Ela não parecia nada bêbada, mas disse que já tinha tomado todas e eu com apenas umas duas cervejas no sangue.

A amiga, sim, parecia alucinada e só sabia falar nome de hotel do Rio de Janeiro. Acho que ela trabalhava no atendimento de alguma coisa que tinha hotéis como clientes, sei lá. Por mais que eu tentasse ficar em paz com a garota, a outra vinha falando alguma coisa para ela ou para mim. E eu havia falhado em todas as tentativas de arrumar um amigo para fazer o trabalho sujo.

A coisa começou a esquentar quando eu percebi que ela me deixaria fazer o que quisesse. Em poucos instantes, minha mão estava dentro de sua calcinha no meio de uma multidão de milhares de pessoas. "Adooooooro..." – sussurrou no meu ouvido. A tensão aumentava e eu a puxei pelo cabelo para controlar o beijo.

– Adoro que me puxe pelo cabelo, adoro sexo selvagem!
– Vamos embora daqui!
– E minha amiga?
– A gente volta!
– Ela não conhece ninguém aqui, não vou fazer isso...

Confesso que admirei sua lealdade, apesar de tudo. Até que veio a salvação: a amiga conheceu um cara que ia arrumar um baseado para a gente. Eu não estava com a menor vontade de fumar, mas qualquer pretexto era bom para um pouco de privacidade.

Fomos para uma rua sem saída que era usada como estacionamento. Ela e o cara foram para um lado, eu e a garota ficamos atrás de um carro. Lá a coisa esquentou e ela começou a me falar de suas fantasias: "Adoro correr perigo, adoro que gozem na minha boca...", até que a amiga...

– Vocês não vêm fumar?
– Depois!, respondi já sem paciência.

Abri minha calça e... "Cueca branca... adooooooro!". Ela já estava para lá de molhada e sua mão deslizava por dentro da minha cueca. Até que sua amiga...

– Vamos voltar?
– Porra, caralho, putaquepariu! – foi minha reação, mas ela não ouviu. – Sei que é sua amiga, mas ela é chata pra caralho!

Ela riu. "Só um carioca fala palavrão desse jeito". Talvez.

Pelo menos a amiga partiu. E lá estávamos, sozinhos, atrás de um carro onde dificilmente seríamos achados. Resolvi realizar uma de suas fantasias: "Posso gozar na sua boca agora...".




Preciso dizer que ela sabia o que estava fazendo. Eu a controlava pelo cabelo até achar a velocidade perfeita e o resto era com ela. Senti que ia gozar muito e achei melhor avisar, mas ela tinha experiência: conseguiu engolir tudo.

Ficamos menos de um minuto depois disso e voltamos conversando como se nada tivesse acontecido. Chegando de volta à exposição, o show já havia acabado e um DJ colocava músicas tão ruins quanto as que eu ouvira ao vivo. Encontramos a amiga empata-foda, que quis ir embora.

Ótimo, aquilo não ia evoluir mais do que isso e o auge da minha noite já havia passado. Trocamos telefone e o endereço do messenger. O olhar de admiração dela por mim não cessava, provavelmente como o meu olhar de cafajeste em relação a ela. Nos despedimos com um selinho e ela partiu.

Imaginei que, se ela tivesse topado sair de lá comigo para um motel, àquela altura eu estaria me vestindo ou pagando a conta. E concluí que, às vezes, a praticidade e a superficialidade de um boquete atrás do carro a céu aberto superam a troca intensa e complexa que o sexo representa. Adoro.

31 de maio de 2010

AMIGAS, AMIGAS... (parte 4)

Era óbvio que nos afastaríamos depois que nossa pequena história tivesse fim. O que não era óbvio era que a trilogia teria um quarto episódio.

Certo dia, fui almoçar com a minha amiga do trabalho, aquela cuja irmã me deu um beijo no Réveillon e cuja amiga me levou para São Paulo. Ela me informou que sua irmã viria para passar umas semanas no Rio e que sua amiga estava extremamente preocupada com a situação. Para mim, aquilo foi indiferente, já que sua irmã não quisera nada comigo antes mesmo.

Ledo engano. Encontrei-a novamente no almoço de aniversário de minha amiga e conversamos durante todo o tempo. Eu não parei de falar besteira e ela ria de tudo que eu dizia. Ora, não há termômetro melhor sobre o interesse de uma garota por você do que quanto você consegue fazê-la rir.

A verdadeira comemoração do aniversário foi na minha boate preferida. Como eu sugerira o lugar, entrei como VIP, sem pagar entrada, e resolvi aproveitar a economia para tomar umas vodkas extras. O problema era que eu mal havia jantado e não levou muito tempo para o álcool atingir o meu cérebro.

Na pista, eu já estava alucinado e acabei partindo para o ataque. Sentindo a oportunidade, travei a garota na parede e dei-lhe um beijo. Foi algo bem selvagem, como acontece quando bebo mais do que devo. Até que, no começo, ela correspondeu, mas acabou me surpreendendo com a seguinte frase: "Isso é muito errado..."

Não adiantou. Fiquei com ela a noite toda na boate e, mesmo passando muito mal, consegui trazê-la para minha casa. Já me sentia melhor quando estávamos na cama e, apesar de tudo que rolou, não fizemos sexo.

No dia seguinte, já recuperado, chamei-a para caminhar no Calçadão de Copacabana. Conversamos bastante sobre música, trabalho, mas não entramos em assuntos mais profundos. Quando ela aceitou vir à minha casa para assistir a um vídeo, entendi que o problema estava resolvido em sua cabeça.

Realmente vimos o filme, pelo menos até a metade, e acabamos no quarto, na cama. O sexo foi tão bom quanto o de São Paulo com sua amiga, mas, como vinha acontecendo na época, eu nunca tinha interesse em dar sequência à história.

Mantivemos um convívio próximo nos dias seguintes, mas era claro que ela não sabia como se comportar comigo. Nos despedíamos com um selinho e eu não dava nenhuma indicação de que poderia rolar algo mais.

Até que um dia, recebi um bilhete seu na porta da minha casa. Tudo muito bonitinho, revelando o carinho que sentia por mim (esse sim era recíproco), mas de tudo, apenas uma frase me chamou a atenção: "Não consigo fingir que nada aconteceu".

Nunca lhe pedi isso. Depois fiquei sabendo, por sua irmã, que ela simplesmente não me compreendeu. Levou alguns dias para achar que eu era meio louco mesmo e aceitou o fato. Mas não entendeu direito o que estava acontecendo. Não perdemos contato totalmente, afinal, para que serve o messenger? Mas decidi que, em sua volta ao Rio, não vou tentar uma segunda vez. Acho que ela já ficou confusa o suficiente sem saber o que se passava pela minha cabeça e achando que estava traindo uma amiga, ou ex-amiga, a essa altura.

Parando para analisar, foi ela quem viu primeiro e sua amiga se interpôs no caminho, não? Talvez, mas, mesmo assim, acho que entre amigos homens isso jamais aconteceria. Mas é como se diz: amigas amigas, homens à parte.

28 de abril de 2010

DELIVERY SEX

É como pizza: entregue quentinha na porta de casa. Por mais machista que isso possa soar, garanto que ela fez uma imagem semelhante de mim: é como comer fora de casa de vez em quando.

Fui assistir à banda de um amigo num festival no meio da semana. Como era de se esperar, meu precário controle sobre o álcool desconsiderou que eu deveria acordar cedo para trabalhar no dia seguinte e abri a noite com uma cerveja com cachaça1.

Daí para frente foram dois baldes de Bohemia ao longo de pouquíssimas horas de show. Eu e meus amigos da banda ficamos até sermos expulsos da casa juntamente com outro casal que estava por lá. Já no meu estado etílico natural, puxei papo com a garota (a do casal mesmo).

– Não, não somos namorados não, a gente só transa de vez em quando.

Luz verde acesa: hora de pegar o telefone. Não somente peguei seu número como tirei uma foto para, em momento de sobriedade, saber que minha percepção não estava tão ebriamente afetada.

Passaram-se dois meses e eu sequer me lembrava do episódio até que...

SMS: Duvido que vc se lembre de mim!!

Naturalmente só me lembrei por causa da foto (que não era tão ruim, afinal) e combinamos, via SMS, de sair qualquer dia. Umas duas semanas depois...

SMS: Que demora esse convite p um chopp hein!!!

Chamei-a para sair, fiquei de ligar, mas furei (por um excelente motivo, diga-se de passagem).

SMS: Qual o sabor do bolo?
– Cara, dormi direto aquele dia. Foi mal. (Mentira descarada)
– Redima-se entao.

No mesmo dia, chamei-a para a minha casa, mas ela ia sair com os amigos para Niterói. Eu estava com o pé machucado, preferi ficar de molho, mas arrisquei:

SMS: Vem pra ca na volta.
– Combinado! Te mando uma msg qdo tiver saindo!!! Bjs

A princípio, não levei muita fé. Até que, lá pelas três da manhã ela anunciou que estava indo para a minha casa.

Chegando lá, uma cerveja para quebrar o gelo (que gelo?) e um beijo cheirando a sexo no sofá. Em poucos minutos, estávamos na cama, nus, com ela me chupando com vontade. Pela circunstância da coisa, preferi não corresponder e peguei logo a camisinha.

Ela gemia e gritava como se houvesse esperado os dois meses para isso! Não demorou muito para gozar, mas eu preferi ir com mais calma. Não sou exatamente especialista em segundas vezes, então prefiro caprichar. Mas ela queria mais. Resolvi me esforçar para agradar a moça. Fui surpreendentemente bem em meu desempenho, mas só consegui gozar quando ela voltou a postar seus joelhos na altura de meus pés.

Terminamos exaustos e apagamos imediatamente, afinal já eram quase sete horas da manhã. Foi uma boa trepada2. Mas só.

De manhã, ainda ensaiei uma terceira, mas logo desisti. O tempo foi passando e nada dela acordar. Evitei levantar e ir tomar banho, eu sequer conhecia aquela garota, mal sabia o que ela fazia, não queria deixá-la sozinha na minha casa. O que ela pretendia? Passar o dia comigo?

Até que ela se mancou, colocou sua roupa e se despediu de mim, dando a entender que voltaria para mais, o que foi confirmado numa nova mensagem do celular, mas...

Sinceramente, o sexo nem foi tão bom assim e ter de esperá-la resolver ir embora me fez pensar em termos de custo-benefício: simplesmente não valeria a pena.

24 de abril de 2010

AMIGAS, AMIGAS... (parte 3)

Viagem marcada, feriadão em São Paulo. A situação era estranha: eu chegaria no aeroporto em Campinas e ela me buscaria de carro para sua casa. Nada havia acontecido além de algumas carícias discretas e emails bonitinhos.

Pelo menos eu não sou o tipo de cara com quem falta assunto numa viagem de uma hora. Eu já tinha uma ideia do que fazer para não ficar parecendo sexo por encomenda: não lhe beijaria em sua casa, o que nos levaria direto para a cama. Achei melhor sairmos e deixarmos a noite rolar.

Fomos parar num bar de metaleiros onde tocava um cover do Metallica. Pedi uma cerveja e ela, um saquê. Seria coisa de paulista? O fato é que eu ficava muito mais à vontade com um bando de metaleiros do que numa boate de mauricinhos e patricinhas, nosso destino inicial que, por sorte, estava lotado.

Pegamos nossas bebidas e logo nos beijamos. O caminho estava mais do que aberto, então não demoramos demais na boate. Voltamos para casa e começamos a nos beijar no sofá. O clima esquentou até que...

– Eu tô menstruada. Acho que nunca senti tanta vergonha em só um dia!

Levei menos de um segundo para pensar: eu estava em São Paulo, tinha ido lá só para isso. Disse: "Eu acho que hoje eu não vou dar a mínima para isso hoje".

O sexo foi ótimo. Ao tirar sua blusa, vi que seus seios eram de silicone. Nunca tinha visto assim, tão de perto. Gostei, apesar de preferi-los naturais. Nessa noite, transamos como se fosse a primeira vez de cada um, com carinho e cuidado. Ainda não estávamos totalmente à vontade.

No dia seguinte, saímos para eu conhecer a cidade, não sem uma sessão de sexo matinal. Esse, mais solto, ajudou a aumentar nossa intimidade. Depois, fizemos todos os programas possíveis de casal. Restaurante, museu, horas e horas de mãos dadas. Na volta à casa, já parecíamos namorados.

Nada como ficar abraçado no sofá vendo um filme bobo na televisão. E, à noite, mais sexo – dessa vez o pacote completo. Sua menstruação tinha acabado e eu pude mostrar no que eu era bom de verdade. Fizemos sexo sem nenhuma limitação, nenhum medo de desagradar, nenhuma trava. Foi perfeito.

No dia seguinte eu iria embora e o desapontamento estava evidente em seu rosto. Já não éramos mais tão jovens a ponto de achar que aquilo duraria para sempre e eu, certamente, não estava pronto para um relacionamento sério. Mais um dia de casal, abraços no sofá, passeios pela cidade, restaurante... e, enfim, o aeroporto. Nos despedimos com um longo beijo, sabendo que provavelmente seria o último.

Nenhum conflito, nenhum atrito, nenhuma discórdia, mesmo entre pessoas tão completamente diferentes. E eu aprendi que o tempo ideal para um relacionamento é de apenas dois dias.

1 de abril de 2010

MR. BRIGHTSIDE

Quando terminamos um relacionamento sério, sabemos o que vem pela frente. Por mais certos que estejamos em relação aos nossos sentimentos e por mais que saibamos que estaremos mais felizes sozinhos do que com aquela pessoa que já foi a coisa mais importante para você, não temos controle sobre todas as sensações que isso implica.

O amor vai embora antes do fim. Aliás, é seu prenúncio, seguido por uma longa agonia. Ao fim, segue um alívio e uma necessidade de se afastar qualquer pensamento sobre aquela pessoa.

Então ficamos sabendo que ela está com outro; ou ouvimos histórias sobre ela e algum ex-namorado. E descobrimos, da pior forma, que a sensação mais amarga é a última a ir embora: o ciúme.

24 de março de 2010

AMIGAS, AMIGAS... (parte 2)

No dia seguinte, combinei de ir à boate com minha amiga. Do esperado trio, a garota da véspera não apareceu. Minha amiga e a amiga dela já estavam lá quando eu cheguei e logo desfizemos a impressão ruim da noite anterior. Ela não era a patricinha que aparentava e comecei a prestar mais atenção. Alta, seios fartos, o que se chama de "muita mulher".
Comecei logo a beber vodca para calibrar. Dose dupla é um perigo, ainda mais quando subimos de nível e trocamos a Smirnoff pela Absolut. Adotei uma tática interessante: impressionar a ex-patricinha de seios fartos ignorando-a, mas ao mesmo tempo tratando-a muito bem. Ela acabou por deixar sua comanda e seus documentos comigo, o que significava que eu não poderia ir embora sem falar com ela antes.

Mais uma vez acabei ficando com uma garota mais ou menos (mas que, pelo menos, revelou-se boa de cama), alvo fácil, pois a amiga que estava com ela já tinha se arranjado. Aliás, eu já tinha ficado com a amiga dela uns anos antes, mas essa é outra história. Depois de decidirmos se seria "na minha casa ou na sua", procurei a dona dos documentos por toda a boate para devolvê-los.

"Já vai?", perguntou. Respondi que ia embora acompanhado. "Achei que ia embora com minha comanda. Ganhou muitos pontos comigo hoje". Entendi a mensagem.

Mais um dia, mais uma festa. Dessa vez um aniversário. O trio estava completo, mas a irmã da minha amiga mal trocou duas palavras comigo. Passei quase todo o tempo conversando com o meu novo alvo e, no final, não queríamos deixar a noite terminar. Fomos para a minha casa – eu, minha amiga e ela – e arrumamos uns jogos para passar o resto do domingo.

A certa altura, estávamos sentados no chão, acariciando um a perna do outro. Nada iria acontecer naquela noite. Apenas uma troca de endereços de email, MSN e de intenções. No final, quando elas entraram no táxi, fiquei com a sensação de algo inacabado. E eu não poderia deixar assim – nem ela.

Não tardou para que retomássemos o contato. Um dia, dois, ela em São Paulo, eu no Rio. Entre emails bonitinhos e mensagens no MSN, tomei coragem e comprei uma passagem para passar o feriado com ela. Ela precisou de mais coragem do que eu.

Nada havia acontecido ainda, mas era fácil fazer as contas: três dias em sua casa. O que isso poderia significar?

21 de março de 2010

AMIGAS, AMIGAS... (parte 1)

Dar uma festa é sempre uma maneira de aparecer positivamente. E eu sabia do trabalho que teria para acolher aquela gente toda, mas com cada um fazendo a sua parte, a mão-de-obra ficaria para o dia seguinte.

O mais importante quando se faz uma festa americana é entender que suas convidadas não fazem parte de seu alvo, mas sim suas amigas. Com cada um levando comida e bebida, as agregadas se tornam a parte mais interessante para o anfitrião, que passa a conhecê-las todas, e para os convidados, que se deparam com interessantes novidades.

Assim foi. Minha convidada chegou com a irmã e uma amiga. A amiga parecia meio patricinha, não tinha ido muito com a minha cara, o que acabou definindo o meu objetivo da noite. Mas os sinais ambíguos me confundiam – logo a mim, tão acostumado com esse jogo.

Festa de Réveillon, interlúdio: depois de muita comida e bebida, todos foram para a areia ver os fogos. No caminho, um amigo me chamou a atenção para a oportunidade: a investida parecia ter retorno certo.

Não foi bem assim: o máximo que consegui foi um beijo de virada de ano, bem sem graça, e outro quase que arrancado quando dei um jeito de ficar sozinho com ela no elevador na volta para casa.

Uma pena, mas aquele fim de semana prolongado prometia mais. Muito mais.

6 de março de 2010

BEIJO

Uma das coisas interessantes nessa vida de solteiro convicto que eu levo é a possibilidade de se conhecer diferentes mulheres. Não estou aqui falando sobre quantidade, esse tipo de contabilidade a gente faz quando acha que ainda tem algo a provar. Cada mulher é única, assim como seu beijo, mas existe um algo que costuma se repetir.

Nos últimos meses, beijei garotas de várias idades diferentes. As mais novas tinham em torno dos vinte anos. Outras eram mais da minha faixa etária, ou até um pouco mais velhas. E notei um padrão relacionado com a idade, algo que até hoje eu não tinha percebido.

As mais novas são mais ávidas, como se quisessem esgotar tudo naquele beijo. Usam dentes, lábios, língua de uma maneira que tira o fôlego. Literalmente. Querem viver tudo de uma vez: se for só um beijo, que seja o beijo. Se for só uma noite, que seja a noite. E depois a gente vê se surge algo a partir dali.


As balzaquianas são diferentes. Seu beijo é mais carinhoso e usam as mãos para sentir o rosto, os braços, e não apenas espremer um corpo contra o outro. Como se aquele momento pudesse durar para sempre, sem pressa. Mas ele acaba, sem promessas para o dia seguinte.

Não tenho, de fato, uma preferência em relação a isso. Há dias ávidos e dias de carinho. Há dias que devem durar vários dias e há dias que podem durar poucas horas. Mas, para mim, o mais importante é o momento.

24 de fevereiro de 2010

ROSTINHO COLADO

Eu tinha oito anos de idade. Era uma criança acanhada e tímida e aceitei a aventura mais pela inércia de não negar do que por minha vontade. Eu era assim, evitava dizer não para não ingressar numa discussão com argumentos complexos demais para a minha idade. Um simples "eu não quero" podia não ser suficiente.

Então fui à colônia de férias: uma semana longe dos meus pais, apenas com o meu irmão de referência – hospedado em outro alojamento – e centenas de crianças desconhecidas. Naquele ambiente, me senti mais à vontade do que imaginava, mas havia uma tensão perene, um medo do desconhecido.

Dentre as várias atividades que prepararam para as crianças, havia um baile cujo grande momento era a hora da música lenta, em que os casaizinhos dançavam de rostinho colado (era assim que a gente falava).

Havia essa garota por quem metade dos meninos era apaixonado. Além dela ser muito bonita, pelo menos conforme meu gosto na época, era muito gente boa, nada metida, muito diferente das outras garotinhas. Para a minha surpresa, na hora da música lenta, era eu quem estava perto dela. Nos olhamos e começamos a dançar. Meu coração disparou quando senti seu rosto colado no meu.

Escondi essa sensação em algum lugar durante os últimos vinte e três anos. O tempo passou e a "hora da música lenta" sumiu das danceterias e boates que frequentei enquanto crescia. Até que...

Carnaval de 2010, eu procurava uma alternativa para o samba que ouvira durante os últimos dias por horas a fio. A boate estava vazia, mas a música estava boa (na verdade, acho que éramos apenas oito pessoas na pista). Aproximei-me da uma garota mais bonita e começamos a conversar. Ela tinha só vinte anos de idade e tinha um papo gostoso. Ficamos, dançamos até que o DJ nos brindou com uma música lenta dos anos oitenta, não me lembro exatamente qual.

Colei meu rosto no dela e diminuímos o passo. Só aí lembrei da sensação da minha infância e do gosto de novidade que aquilo tinha. Então eu, com mais de três décadas de vida, me transformei numa criança de oito anos de idade e deixei aquele momento se prolongar para sempre nos três minutos de que se ocupou aquela melodia.

10 de fevereiro de 2010

LIGO OU NÃO LIGO?

O que fazemos quando não queremos perder contato com alguém que acabamos de conhecer? Duas opções: quando se está muito seguro ou se importando pouco, damos o telefone; quando não queremos perder contato de jeito nenhum (afinal, ela pode ser a pessoa da nossa vida ou apenas queremos dar sequência ao que começamos), pegamos o número. É, também tem MSN, email e tal. Mas, quando não fazemos nada disso, o que significa?

Eu estava na faculdade havia pouco tempo. Foi uma das primeiras vezes em que fui àquela boate que eu viria a frequentar por longos anos. Combinara com um amigo e, para economizar dinheiro (afinal, universitário é duro por definição), calibrei com umas doses de Absolut que meu pai havia trazido do free shop para mim. Era um garrafão de 1,75 litro, algo lindo de se ver!

Não me lembro bem se encontrei meu amigo lá dentro ou se combinamos de ir juntos. Lá dentro, mal ficamos na pista. Subimos para o segundo andar, sentamo-nos no chão e ficamos conversando. Ele logo pegou um pote metálico de bala, tipo o das pastilhas valda, e retirou de lá o primeiro baseado. Fumamos esse juntos enquanto falávamos de assuntos relativos a nossos amigos da faculdade. Foi quando percebi que tinha uma garota sentada na poltrona atrás de mim tentando prestar atenção na conversa.

Não liguei. Acendemos o segundo e o assunto se estendeu. Já no final do fino, ela interveio falando algo que não fazia sentido e ficou olhando para a minha cara. É claro que lhe dei logo um beijo antes de perguntar qualquer coisa. Fui para a poltrona e ficamos nos beijando um tempo. Minha mão, sempre esperta, logo alcançou o que queria.

Depois de algum tempo, me dei conta de que não sabia exatamente como era seu rosto. E, com o pensamento confuso pela maconha, resolvi parar e olhá-la um pouco. "Caramba! Não estou com discernimento para entender seu rosto! Não sei se é bonita, se é feia... só tenho certeza de que, se esbarrar com ela amanhã, não vou saber!", pensei.

Conversamos um pouco. Tinha nome de atriz e fazia teatro. Eu disse o que fazia e que acabado de deixar um estágio não sei onde e tal. Foi ficando tarde e eu preferi não evoluir a noite, talvez por medo de com quem iria acordar. Nos despedimos e parti para minha casa.

Uns dias depois, recebo um telefonema na minha casa:
– Adivinha quem está falando?
– Nem imagino.
– (...), lembra?
– Ah. Claro.
– E então você me disse que trabalhava em (...), resolvi ligar para lá e pegar seu telefone. Daí fiquei pensando... ligo ou não ligo, ligo ou não ligo? Acabei ligando!
– É, eu vi. (Secamente)
– Ah, então tá. Um beijo!

Que diabos ela estava pensando? Ligar para o meu antigo estágio para pegar meu número? Até porque, se eu quisesse manter contato, eu escolheria uma das opções cabíveis em vez de imaginar que passei a noite beijando uma detetive!

3 de fevereiro de 2010

A EQUAÇÃO PERFEITA

- Eu fiquei com ciúmes quando seu marido foi te buscar na festa.
- Você é muito engraçado. Você só fala isso porque está bêbado. Acha que eu podia continuar saindo contigo sabendo o que você anda fazendo por aí?
- É complicado. Quero conversar contigo direito sobre isso.
- Com ou sem álcool?
- Sem.

- Eu entrei numa fase muito aloprada. Eu sinto falta de sentir alguma coisa, de me conectar. Fui em busca de algo para sentir, vi onde ia parar. Preciso colocar um freio nisso tudo.
- ...
- O que foi?
- Estou tentando controlar a raiva que eu estou sentindo de você. Bom, vou ter tempo para isso.
- Não entendo essa sua raiva!
- Você tentou ficar com alguém da turma três dias depois de ficar comigo e ainda está tentando. Não me importa o que você faz fora daqui, mas alguém da turma?
- Com quem?
- Você sabe!
- Não faço ideia.
- A (.). Você almoçou com ela três dias depois de ficar comigo! Você tentou ficar com ela! E deu em cima dela na minha frente naquela festa!
- Almocei, como almocei com várias outras pessoas e não tentei ficar com nenhuma delas! O que você viu na festa foi um bêbado conversando. Conversei com todo o mundo assim, mas fui embora contigo. Além do mais, ela era do (..), eu não trairia um amigo.
- Mesmo assim! Como eu fui ingênua.
- Assim a equação fecha perfeitamente, não é? Você é ingênua, eu sou cafajeste, não tem erro! Fica até fácil para você. Só que as coisas não aconteceram assim. Você desistiu de sair comigo. Eu estava solteiro, você não.
- Eu sei que você tentou ficar com ela.
- Olha não sei o que a (...) te falou, mas a história é bem outra. E eu chamei várias pessoas para almoçar comigo. Aliás, a (...) é quem eu mais chamei para sair e nunca dei em cima dela.
- Ela disse que você deu em cima dela também.
- Aí é demais. Ela é do (....), não tem nada a ver comigo. Só porque eu disse que ela ficava sexy quando dançava? A gente não pode fazer um elogio...
- Mas ela falou.
- Você não acreditou em uma palavra do que eu disse, né?
- ...
- Acho que não era o momento da gente conversar.

- Eu não queria ir embora sem resolver isso.
- E resolveu?
- Não sei.

Certamente resolveu para mim. A porta agora está fechada.

11 de janeiro de 2010

PARCEIRO

Todos temos amigos loucos, daqueles que nos fazem passar por situações de grande constrangimento. Eu tinha esse amigo, que a gente jurava que não passaria dos vinte anos, mas que já chegou aos trinta. Ele era diabético, daquele tipo de ter convulsão do nada e ser necessário enfiar açúcar goela abaixo para ele voltar a si.

Houve uma época em que eu trabalhava para um agiota, fazendo uns formulários em Word para o controle interno de suas extorsões, todas dentro da lei. Mas ele era café pequeno, tinha um capitalista em Niterói que bancava seus empréstimos. Esse capitalista precisava de um programa para gerenciar seus empréstimos e o meu agiota resolveu nos colocar em contato.

Acertadas as bases, fui procurar meu amigo louco, que na época também estava morando em Niterói e que era um bom programador. Eu cruzava a poça para chegar cedo na casa dele e ia direto para o computador fazer a parte básica do programa e deixar os algoritmos mais complexos para ele.

Num desses dias, percebi que havia algo errado com ele. Não levou muito tempo, estava no chão tendo uma convulsão. Eu, na maior calma, virei-o de lado para não enrolar a língua e fui buscar o pote de açúcar. Como ele estava demorando muito para voltar e era a primeira vez que eu presenciava algo assim, fiquei preocupado, resolvi buscar ajuda.

Do lado de fora, perguntei para um morador do andar: "Sabe se tem algum médico aqui? É que meu amigo tá tendo uma convulsão". A resposta: "Cara, você tem que ver isso, o cara é seu parceiro aí, você tem que conhecer ele melhor".

Realmente, essa é a melhor explicação para um cara procurando um médico às oito da manhã para o "amigo" que está morrendo. Fiquei tão pasmo que não tive resposta – e ainda fiquei puto com o coitado agonizante por me fazer passar por aquilo. Meu "parceiro", evidentemente, acordou sem a menor ideia do que havia acontecido e seguiu sua vida normal sem saber o constrangimento que me fizera passar por quase ter morrido.

7 de janeiro de 2010

COMO UM CACHORRINHO

Isso pode até soar como uma vantagem ou um certo gabo, mas posso dizer que todos os meus relacionamentos fui eu quem terminou. Não é. Envolve um grande sofrimento e nós, homens, não somos exatamente especialistas em fazer isso. Como disse um amigo meu, "namoro não se termina, se sabota".

E, nessa sabotagem, damos sinais claros de que não estamos nem um pouco interessados na nossa contraparte, seja pela falta de atenção dispensada, seja pelo excesso de zelo provocado pela culpa que sentimos.

Nessa fase, a última antes do fim, há uma coisa que me deixa muito mal: elas passam a se comportar de forma absolutamente submissa devido ao medo de serem deixadas. E ficam tais quais um cachorrinho que se contenta com um mínimo de atenção de seu dono.

É aí que a culpa bate forte e que, normalmente, entendemos que o sofrimento delas com a expectativa do fim é pior do que o fim em si.