
Veio a adolescência, e as coisas mudavam muito devagar. Passei a entender que a mesma imagem que eu tinha de mim era a que os outros teriam. Comecei a me esforçar para vencer aquela timidez que me fazia sentir fechado em um casulo, mas o caminho era árduo. Fiz muitos amigos, era admirado por algumas pessoas; não demorou para ganhar a fama de maluco na escola, o que me garantiu alguma popularidade. Saí da linha e fui agarrar, o que me garantiu lugar em todos as partidas. Mas quando se tratava de garotas, continuava me sentindo café-com-leite.
Passei dos dezoito, vinte, vinte e cinco... amadureci, tive relacionamentos que alternaram o melhor e o pior que a vida a dois pode oferecer, transitei do amor pleno à mais absoluta indiferença, comecei a sair sozinho e voltar acompanhado sempre que queria. Mas e daí?
Hoje ainda me sinto um pouco à parte. Em alguns momentos, me vejo como uma fraude que as pessoas simplesmente escolhem comprar. Aprendi a nem sempre me projetar como me vejo. Continuo conquistando quase tudo por que eu luto, na vida pessoal, profissional e afetiva, mas quando estou sozinho, num canto, vejo que ainda sou aquela mesma criança tímida e acanhada. Café-com-leite.