Ela parecia inteligente pelo teor de suas perguntas na aula; vivida, pois já tinha morado fora do país e retornara para terminar a faculdade; ligeiramente mais velha que eu, talvez um ou dois anos; e bonita, mas nada demais, mas aquele cabelo curtinho a deixava com cara de intelectual.
Saindo da faculdade, sentamo-nos para comer um podrão nos fundos da faculdade. Conversamos sobre política, sobre a faculdade, sobre futuro e sobre a minha banda, que faria um show naquele fim de semana. Prontamente convidei-a a assistir, já cheio de intenções. Ela aceitou sem relutar.
Fiz a minha matemática: caso ela viesse sozinha, era porque estava a fim. Não haveria problema em dar-lhe um beijo depois do show e prolongar a noite em algum lugar, preferencialmente dentro do carro na Urca. Caso viesse acompanhada, havia uma chance de deixar sua companhia em casa antes de ficarmos – ou ela realmente estava a fim de assistir ao show.
Foi sozinha e minha matématica deu resultado positivo. Após o show, nos beijamos ainda na casa e fomos para o carro. Levei-a para a Urca, mas tudo correu de forma muito comportada. Apenas umas mãos (minhas) por cima da roupa e nada mais.
Na segunda-feira, nos encontramos na faculdade. Parti para dar um beijo em sua boca, mas ela apenas me ofereceu a bochecha. Pensei: "qual é o problema? Não quer mais ou não assume o que faz?" – e segui meu caminho. Algumas horas mais tarde, ao me avistar do outro lado, ela fez sinal com o dedo para eu telefonar mais tarde.
Fiquei irritado: sempre que eu ficava com alguém e queria uma continuação, fazia questão de deixar isso claro, nunca com beijinhos na bochecha. Senti-me desrespeitado com sua atitude de pedir para eu telefonar. Quer dizer que na frente dos outros não podia ficar comigo?
Já saindo da faculdade, de carro, ela me parou e veio à janela.
"E aí?", me perguntou. Respondi-lhe com a cara mais blasé: "E aí, nada!". E fui-me embora.