Eu nunca fui chegado a drogas. Não experimentei ecstasy, ácido, chá... mas até que gostei quando fumei maconha pela primeira vez. Nada que se comparasse ao efeito do
álcool, mas a sensação era gostosa. Mas o interessante dessa história não é a maconha, mas as circunstâncias em que debutei na erva.
Minha primeira banda estava em vias de terminar, já que tínhamos expulsado o vocalista, que também era o compositor. O cara compunha bem, mas cantava mal e se recusava a entrar numa aula de canto. Além disso, era insuportavelmente metido (como aquela piada: quantos vocalistas são necessários para se trocar uma lâmpada? Só um, ele segura a lâmpada e espera o mundo girar em torno dele).
Bem, viajei com o baterista, sua namorada, o percussionista e alguns amigos deles para a Região dos Lagos. Era uma daquelas viagens à base de miojo e pastel de praia que hoje, sinceramente, não me vejo mais fazendo. Passávamos o dia na praia, depois ficávamos ouvindo Beatles em casa. Disse-me um amigo: "Beatlemaníaco é que nem flamenguista! Quer que todo o mundo seja também!".

Os rapazes decidiram que era meu dia de experimentar maconha. Era início de noite e acendemos um baseado. A sensação foi gostosa, mas nada muito marcante. Só a fome depois é que foi considerável. Nesse mesmo dia, comecei a reparar uns olhares vindos justamente da namorada do batera. E eu estava muito carente, ainda mais com o fim iminente da banda e sem ninguém em quem me apoiar.
No dia seguinte, preparei um daqueles macarrões prontos da Maggi. Acho que era o
al pesto, um dos meus preferidos na culinária prática. Sentei-me no sofá para comer e ela se acomodou no chão, logo abaixo de mim. Tomou o garfo da minha mão e começou a me dar a comida na boca. Entre uma garfada e outra, ela alisava minha perna, sorria... e o máximo que eu conseguia fazer para resistir era pedir socorro com os olhos para o baterista.
A essa altura, meu coração já estava disparado. Eu só pensava no quão errado seria ficar com ela, ainda que fosse depois e ele não soubesse. Mais tarde, chamei-o para conversar. "Cara, me ajuda, fala pra ela parar com isso". Ele me respondeu "Seu olhar procura o dela". "Difícil evitar, né? Me ajuda". Não discutimos, não brigamos, não abalamos nossa amizade.
Naquela mesma noite, o batera brigou com ela. Disse-lhe que aquilo, além de covarde comigo, era uma falta de respeito com ele. Eu soube porque um amigo em comum ainda estava acordado no quarto quando aconteceu.
O namoro não durou muito, nem havia como. Encontrei-a quase um ano depois andando no calçadão da praia de Copacabana. Fomos conversando até sua casa e, ao se despedir de mim, ela me deu um daqueles beijos no cantinho da boca. Deixei como estava, afinal, não valia a pena ir além disso. Nunca mais ouvi falar dela.